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Adelaide Adriano Mazive

Curso de Licenciatura em Agropecuária com Habilidades em Extensão Rural

Universidade Rovuma
Cabo Delgado
2022
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Índice
Introdução......................................................................................................................3

A Cultura material e imaterial.......................................................................................4

1.1. O conceito de património (i)material intangível.................................................5

2. Acerca da materialidade e imaterialidade das coisas e dos seres...........................6

Conclusão......................................................................................................................7

Referências bibliográficas.............................................................................................8
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Introdução
Os aspectos da denominada cultura material incluem tradicionalmente os artefactos, as
roupas, as casas, a tecnologia. Esta temática constitui um ramo dos estudos
antropológicos, sobretudo na perspectiva norte-americana, em que se relacionava de
forma estreita com a arqueologia. No entanto, desde a década de oitenta os aspectos
materiais da cultura, associados com estudos, entre outros, sobre o consumo, género e
emoção têm ganho uma vida nova e os “objectos” tornaram-se um campo muito
procurado de estudos. A este facto não é de esquecer o crescimento que a museologia e
a arte têm tido, nomeadamente no campo antropológico.

Oobjectivos
Objectivo geral
 Conceituar cultura material e imaterial
Objectivo específico
 Definir cultura material e cultural imaterial;
 Identificar as dimensões da cultura (i) material;
 Comentar a relação entre património, consumo e turismo.
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1. A Cultura material e imaterial

A cultura é uma característica especificamente humana que tem duas componentes:


1. Uma componente mental: produto da actividade psíquica ora nos seus aspectos
cognitivos ora nos afectivos, significados, valores e normas.
2. Uma componente material: artefactos e tecnologia.
Porém, esta divisão tem motivado alguns debates que se podem resumir na seguinte
questão: Devem os artefactos e a tecnologia ser considerados como parte da cultura?.
Alguns antropólogos como Robert Redfield, Ralph Linton, Murdock e outros têm
identificado a cultura só com os aspectos cognitivos e mentais: ideias, visão do mundo,
códigos culturais. Estes antropólogos consideram a cultura material como um produto
da cultura e não cultura em si mesma.
Esta postura é difícil de defender porque a cultura material (exemplo: os avances
tecnológicos) exercem uma influência muito grande nos aspectos cognitivos e mentais,
ao mesmo tempo que geram novos valores e crenças. A tecnologia permite que os
humanos nos adaptemos ao nosso entorno, ao mesmo tempo que os valores e as
ideologias. As catedrais medievais e as pirâmides egípcias reflectem determinados
interesses, fins e ideias da cultura na qual nascem. São a manifestação de ideias
religiosas, políticas e científicas. Os dois aspectos (materiais e não materiais) devem ser
considerados como partes integrantes da cultura, os dois estão estreitamente ligados.
Maurice Godelier (1982) chegou a afirmar que todo o material da cultura se simboliza e
que todo o simbólico da cultura se pode materializar.
Marshall Sahlins (1988) destaca como o carácter constitutivo da cultura inválida a
distinção clássica entre cultura material e imaterial, plano económico e cultural. Ele
integra os dois pólos, pois os seres humanos organizam a produção material da sua
existência física como um processo significativo que é o seu modo de vida. Todo o que
os humanos fazem está cheio de sentido e de significado. Por exemplo, cortar uma
árvore (para lenha, para construir uma canoa, para criar uma escultura, para fazer pasta
de papel) pode significar modos culturais específicos. O valor de uso não é menos
simbólico ou menos arbitrário que o valor da mercadoria. Assim o sublinha Sahlins:
“As calças são produzidas para os homens e as saias para as mulheres em virtude das
suas correlações num sistema simbólico, antes que pela natureza do objecto por se, ou
pela sua capacidade de satisfazer uma necessidade material...” (Sahlins, M.,1988 ).
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Conforme é discutido por Batalha (2005, 52-53), a cultura material emerge de novo
como uma das vertentes da definição de cultura que não pode ser analisada
isoladamente, mas não pode deixar de ser considerada na análise dos planos em que esta
se dilata: comportamentos, ideias e objectos.
Para Marconi e Presotto (1987, 179-190) a cultura material é importante, pela sua
utilização, pelas informações que contem, as relações com práticas rituais e como
demonstração de um processo tecnológico. Os aspectos da cultura material abordados
pelas autoras são sintetizados no quadro seguinte (atente-se que esta análise lista os
itens de sociedades que as autoras reputam de “simples ou agrafas”).
Citando Keesing (1957) as autoras relembram que a cultura material liga o “(…)
comportamento do indivíduo a coisas externas feitas artificialmente: os artefactos.” São
por isso também uma mostra de como o homem se articula com as matérias-primas mais
diversas e as trabalha através de inúmeras técnicas.
Os artefactos apresentam segundo as autoras (1987, 179) dois elementos essenciais:
a) Forma – aspecto exterior distinto, padronizado e reconhecido como tal, embora
possa ter acabamento simples ou requintado: machado, cesta, canoa, redes etc.
b) Função – utilidade, serventia, uso.
Mas esta abordagem da forma e função deu lugar crescentemente a uma abordagem
mais interaccionista do objecto com a pessoa. Como refere Nogueira (2002).
1.1. O conceito de património (i)material intangível
O conceito de património é uma construção social ou cultural, sujeito a uma selecção
consciente que resulta, em primeira instância, dos interesses em presença numa
determinada sociedade. Silva (s.d.), citando Ballart, 1997, refere:
O património não é só o legado que é herdado, mas o legado que, através de uma
selecção consciente, um grupo significativo da população deseja legar ao futuro. Ou
seja, existe uma escolha cultural subjacente à vontade de legar o património cultural a
gerações futuras. E existe também uma noção de posse por parte de um determinado
grupo relativamente ao legado que é colectivamente herdado.
Como afirma Ballart, a noção de património surge “quando um indivíduo ou um grupo
de indivíduos identifica como seus um objecto ou um conjunto de objectos” (Ballart,
1997: 17).

2. Acerca da materialidade e imaterialidade das coisas e dos seres


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A essência da casa sagrada Búnaque reside no facto de ela ser, para além de uma
estrutura arquitectónica dotada de simbolismo e conteúdo cosmogónico, um domicílio,
um lar. Ao contrário de muitas comunidades no mundo Austronésio (Waterson, 1993,
222) onde a Casa sagrada está desabitada ao longo do ano e só é visitada em
circunstâncias rituais como é o caso da Casa do Céu, masculina, entre os Mambai
estudados por Trauble (1986), a casa sagrada Búnaque tem como condição a
permanência no seu seio não só de estruturas e objectos rituais mas sobretudo de seres
humanos que a habitem.
A ideia de uma casa sagrada desabitada, sem humanos vivos, é a de uma casa sem
descendentes ou então de uma casa com problemas entre os seus familiares e é por isso
um índice de desunião. Há também o receio das represálias que se podem abater sobre
os membros de uma casa se esta estiver muito tempo abandonada pois isso é sinónimo
de afastamento e desprezo pelos antepassados.
A casa é também um meio privilegiado de comunicar com os antepassados. Alguns
interlocutores mais jocosos referiam-se ao hima como uma “parabólica”. Embora não
seja o único local é junto ao hima1 que se realizam as preces rituais e se deposita
ritualmente a areca e betél e a comida aquando de rituais da casa. Esta comunicação é
intermediada por um animal, o galo que transporta a palavra dos vivos aos
antepassados. O processo de divinação através das suas entranhas é ele próprio uma
reprodução do interior da casa.
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Os hima são os dois postes centrais da casa tradicional que a sustentavam. Feitos
anteriormente a 1975 de longos troncos, com as mudanças estruturais da casa passaram a ser
feitos de ramos. Há dois hima: o masculino e o feminino.
A Casa tem ainda a dimensão social resultante do facto de ser o pólo de relações sociais
essenciais e, historicamente, o elemento que cimenta as relações com as outras Casas e
sustenta a comunidade no seu todo. Da mesma maneira que é impensável a existência
de uma casa sagrada sem pessoas, também é inconcebível, na comunidade em estudo, a
inexistência de cada uma das dezoito casas que a compõem.
Neste contexto os conceitos de património material e imaterial tendem a esbater-se:
onde termina a dimensão material e começa a imaterial na organização social e na
prática ritual que lhe está associada? Podem estes conceitos de património material
alusivo à casa e património imaterial substantivo de práticas sociais e rituais ser
dissociados? No caso em apreço um anima o outro e vice-versa.
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Conclusão
Após a nossa pesquisa aferimos que a cultura material e imaterial é conjunto de
tradições praticadas por vários grupos étnicos que poder ser artefactos, a forma de
vestir. Também vimos que a definições de património material e imaterial não parecem
ter em conta as transformações ocorridas em comunidades locais afectadas por guerras e
as soluções por estas encontradas para darem significado à sua identidade. É difícil de
defender porque a cultura material (exemplo: os avances tecnológicos) exercem uma
influência muito grande nos aspectos cognitivos e mentais, ao mesmo tempo que geram
novos valores e crenças.
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Referências bibliográficas

MARTINEZ, Pe. F. Lerma. Antropologia Cultural, (Guia de estudo). Matola, 2000.


MATTA, Roberto da. Relativizando: Uma Introdução à Antropologia. São Paulo, 1981.
GOLDMAN, Lucien. A criação Cultural na Sociedade Moderna: Para uma Sociologia
da Totalidade. Lisboa, Ed. Presença, 1976.
JUNOD, Henri. Usos e Costumes dos Bantu. 2. ed. Lourenço Marques, 1974.
LANGA, Adriano. Questões Cristãs à Religião Tradicional Africana. Braga, Ed.
Franciscana, 1992.
MILLER, Daniel 2007 “Consumo como cultura material”, in Horizontes
Antropológicos, Porto Alegre, ano 13, n. 28, p. 33-63,
Murdock, George 1945 “The common denomination of cultures”, in Linton, Ralf (ed.),
The Science of Man in the World Crisis, Columbia University Press.

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