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CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU

BACHARELADO EM DIREITO

LUCAS PEREIRA DE OLIVEIRA PINTO

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA REPETITIVA NO


ROL DO ARTIGO 1.015 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL: a natureza do agravo de
instrumento à luz da jurisprudência do STJ no RESP 1.696.396 - MT

RECIFE
2021
LUCAS PEREIRA DE OLIVEIRA PINTO

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA REPETITIVA NO


ROL DO ARTIGO 1.015 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL: a natureza do agravo de
instrumento à luz da jurisprudência do STJ no RESP 1.696.396 - MT

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como requisito parcial para conclusão do curso
de Bacharelado em Direito do Centro
Universitário Maurício de Nassau.

Orientador(a): Alberto Jonathas Maia

RECIFE
2021
CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU
BACHARELADO EM DIREITO

LUCAS PEREIRA DE OLIVEIRA PINTO

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA REPETITIVA NO


ROL DO ARTIGO 1.015 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL: a natureza do agravo de
instrumento à luz da jurisprudência do STJ no RESP 1.696.396 - MT

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como requisito parcial para conclusão do curso
de Bacharelado em Direito do Centro
Universitário Maurício de Nassau.

Aprovada em: __/__/____.

BANCA EXAMINADORA:

________________________________________________
Prof ... (Orientador ou Orientadora)

________________________________________________
Prof ... (Examinador Interno)

________________________________________________
Prof ... (Examinador Externo)
Dedico este trabalho ao meu pai, à minha
mãe e também ao meu irmão. Sem vocês
nada seria como é.
AGRADECIMENTOS

Saber reconhecer é preciso. A gratidão é a peça fundamental na construção de um


caráter reto e substancialmente feliz. Somente o indivíduo maduro sabe reconhecer a
contribuição que as outras pessoas têm no desenvolver de sua própria vida. Dito de outro
modo: é preciso ter humildade para reconhecer e lidar com o fato de que não somos
autossuficientes.
Sem dúvida alguma, este trabalho não estaria concluso se não fosse a atuação – seja
direta ou indiretamente – de algumas pessoas que me ajudaram a executá-lo de modo que fico
extremamente grato e orgulhoso de tê-lo concluído e de ter pessoas tão iluminadas ao meu
lado.
Primeiramente, quero dizer: Obrigado, Deus! Sem Ele sequer eu existiria.
[…] Nunca perseguí la gloria…

Caminante son tus huellas


el camino y nada más;
caminante, no hay camino
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino


y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino


sino estelas en la mar…

Hace algún tiempo en ese lugar


donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso [...]

Antonio Machado,
poema “Caminante, no hay camino; se hace camino al andar”.
1875 - 1939
RESUMO

É um elemento textual obrigatório que deve apresentar uma problematização, objetivos, a


metodologia e os resultados alcançados. A ABNT 6028 regulamenta as diretrizes. Geralmente
são apresentados num único parágrafo, com uma sequência de frases curtas e concisas. Utilize
o verbo na voz ativa e na terceira pessoa do singular. Utilize no mínimo 150 e no máximo
500 palavras no resumo. Abaixo do resumo deverão constar as palavras-chave. Evite o uso de
símbolos, contrações e ou até mesmo jargões que não sejam de uso corrente, apenas as utilize
se for estritamente necessário, dando em sequência seu significado.

Palavras-chave: Trabalho científico. Monografia. Pesquisa. Metodologia. Direito (Todas as


palavras são iniciadas em letras maiúsculas e separadas por pontos. Obrigatoriamente cinco
palavras chave)
ABSTRACT

It is a mandatory textual element that should present a problematization, objectives,


methodology and the results achieved. ABNT 6028 regulates the guidelines. They are usually
presented in a single paragraph, with a sequence of short and concise sentences. Use the verb
in the active voice and in the third person singular. At most, use 500 words in the abstract.
Below the summary should be the keywords. Avoid the use of symbols, contractions and even
jargon that are not commonly used, only use them if strictly necessary, giving their meaning
in sequence.

Keywords: Scientific work. Monography. Research (All words start in uppercase and
separated by periods.)

( Pode ser feito em qualquer lingua estrangeira)


COLOCAR EM CADA PÁGINA (SE HOUVER)

LISTA DE TABELAS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE ABREVIATURAS
INTRODUÇÃO

O presente trabalho, fruto da análise concisa do Recurso Especial Representativo da


Controvérsia nº 1.696.396 – MT, julgado sob o rito dos recursos repetitivos, visa compreender
e esclarecer se seria possível a impugnação imediata das decisões interlocutórias não previstas
no rol do artigo 1.015 do Código de Processo Civil, de modo a delimitar se os incisos do
referido dispositivo legal deve ser interpretado de forma unicamente taxativa, exemplificativa
ou taxativa com possibilidade de interpretação extensiva.

Para o antigo sistema de recorribilidade das decisões interlocutórias, toda decisão


interlocutória era agravável, seja na forma retida ou de instrumento, de modo que caso não o
fosse em tempo hábil sobre a decisão recairia o instituto da preclusão. Mediante essa
sistemática, a recorribilidade funcionava de forma diferente a depender de qual tipo de agravo
deveria ser utilizado – ora imediata, ora não.

O agravo retido era utilizado para toda e qualquer decisão interlocutória de primeira
instância, no entanto, o exame de tal decisão era feito posteriormente de modo que o agravo
era literalmente retido nos autos do processo, sendo reiterado apenas no momento da
apelação, independente de qual parte propusesse tal recurso (GONÇALVES, 2011).

O que se pretendia era a não incidência da preclusão sobre a respectiva matéria


atacada, da decisão. Observando pela ótica econômica o agravo retido era mais viável, uma
vez que se dispensava preparo ou outras despesas necessárias para a formação do instrumento.
Retia-se o agravo nos autos do processo por questão de economia processual, uma vez que à
matéria não recaíra prejuízo iminente ou perigo de lesão, conforme o artigo 522 do
CPC/1973, tornando-se desnecessária a imediata revisão da matéria pelo órgão superior.

A lógica funcionara de forma diferenciada para o agravo de instrumento, no entanto. A


recorribilidade, neste caso, acontecia de forma imediata, sendo o recurso interposto e
analisado pronta e diretamente pelo órgão ad quem, uma vez que o processo ainda estava
acontecendo no juízo de primeiro grau, no órgão ad quo. Desse modo, formava-se o
instrumento – com todas as provas necessárias – e dirigia-se ao órgão superior
(GONÇALVES, 2011).

O Código de Processo Civil de 1973 adotava, portanto, o agravo retido como a regra.
O agravo de instrumento, conforme o artigo 522 desse dispositivo legal, era utilizado para
casos em que fosse provável ocorrer lesão grave e de difícil reparação, com a decisão.
Com a vigência do novo Código de Processo Civil de 2015, além de outras mudanças
como as de prazo – que modificou o prazo de interposição do agravo de 10 para 15 dias,
contados em dias úteis –, o NCPC extinguiu a figura do agravo retido. Desse modo, buscou-se
dar mais celeridade ao processo, uma vez que pelo agravo de instrumento há a possibilidade
da recorribilidade imediata das decisões interlocutórias que podem causar prejuízo às partes,
tornando-se uma via rápida de solução (RODRIGUES, 2016).

Na nova sistemática, as decisões que não podem ser atacadas mediante agravo de
instrumento não precisam ser atacadas mediante agravo retido, este anteriormente utilizado
para evitar a incidência da preclusão. Tornou-se mais simples: não sendo a decisão passível de
instrumento, a preclusão é elastecida; devendo a parte esperar para poder impugnar a matéria
em preliminar de contestação ou nas contrarrazões.

Com isso, o legislador procurou mediante a criação do artigo 1.015 do CPC/2015


prevê um rol taxativo das hipóteses que comportam o agravo de instrumento, a fim de
proteger apenas as situações urgentes que não podem esperar para ser revisada num futuro
recurso de apelação, por exemplo.

Acontece que isso gera alguns conflitos práticos. Por essas razões, foi que o Superior
Tribunal de Justiça, no julgamento do tema 988, levantou algumas questões importantíssimas
para a resolução daqueles conflitos. Primeiramente, se uma interpretação meramente
taxativa/exaustiva do rol verifica-se suficiente em confronto com as normas fundamentais do
processo civil, haja vista que num mundo tão complexo e dinâmico como o nosso existem
outras questões urgentes para além do rol do artigo 1.015 do CPC.

Em segundo lugar, há a possibilidade de entender o rol do artigo 1.015 do CPC como


taxativo com possibilidades de interpretação extensiva ou analógica, mesmo em contrastes
hermenêuticos com as normas fundamentais do processo civil. Outrossim, mais uma dúvida
surge, e é esta: se neste caso continuaria a manutenção da substância dos institutos jurídicos
ontologicamente diferentes e, de outro lado, a remanescência ainda de hipóteses além do rol
do artigo.

De modo contrário, outra forma de interpretação nos é adequado analisar: A


taxatividade mitigada do rol do artigo 1.015, a qual permite e defende a interposição do
agravo de instrumento sempre que houver urgência, esta verificada pela consequência da
inutilidade do julgamento da matéria em possível recurso de apelação.
Adiantamos ao leitor que esta última forma de interpretação foi a escolhida pela
Corte do Superior Tribunal de Justiça (STJ), fixando-lhe a tese jurídica, conforme
possibilidade prevista no artigo 2036 e seguintes do CPC/2015. Para uma maior compreensão
do porquê chegou-se a esse entendimento é que este trabalho se presta. Em momento
oportuno, após uma construção mais detalhada e concisa do tema – critério imprescindível
para a compreensão geral do assunto –, voltaremos à explicação da tese firmada pelo STJ.

O objetivo deste trabalho é, portanto, analisar a natureza do rol do art. 1.015 do Novo
Código de Processo Civil e verificar a possibilidade de sua interpretação de forma
taxativamente mitigada, para se admitir ou não a interposição do agravo de instrumento contra
decisão interlocutória que verse sobre hipóteses não expressamente previstas nos incisos do
referido diploma legal, com base no REsp 1.696.396 - MT representativo da controvérsia
repetitiva, descrita no tema de nº 988 julgado pelo Superior Tribunal de Justiça.

Para tanto, é-se necessário compreender a origem do Agravo de Instrumento; analisar


a natureza do Agravo de Instrumento; compreender a evolução histórica do sistema de
recorribilidade das decisões interlocutórias por meio da aplicação do Agravo de Instrumento;
comparar as teses e entendimentos estabelecidos e debatidos anteriormente pela doutrina e
jurisprudência; identificar os critérios dos votos dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça
no julgamento do REsp 1.693.396 – MT; e demonstrar através dos argumentos dos ministros
qual a natureza do agravo de instrumento estabelecido no rol do artigo 1015 do CPC.

O objetivo desta obra não seria alcançado sem uma metologia clara e de extrema
eficácia, no entanto. Tais métodos são classificados de acordo com o nível de profundidade do
estudo, quanto ao procedimento de coleta de dados e à abordagem.

Assim, quanto ao nível, foi elaborada uma pesquisa baseada numa abordagem
exploratória, a fim de aproximar-nos do objeto do presente estudo, identificando as
características principais deste e tentando compreender sua natureza e razão de ser. Quanto à
abordagem, entendemos ser a qualitativa a mais adequada ao que se pretende neste trabalho,
uma vez que a finalidade central é compreender os elementos, sobretudo, subjetivos que
permeiam o tema, analisando diferentes pensamentos e correntes desenvolvidas sobre ele.

O método utilizado foi dedutivo-dialético, baseando-se para o desenvolvimento da


argumentação numa pesquisa bibliográfica e documental a respeito do tema.
Para que os objetivos da pesquisa sejam efetivamente alcançados, o presente trabalho
foi dividido em três capítulos consecutivos, respeitando uma lógica de divisão a partir de uma
concepção cronológica e sistemática.

Após a apresentação da introdução ao leitor, segue-se o segundo capítulo no


qual serão apresentados os sistemas de recorribilidade das decisões interlocutórias, ao passo
que serão analisados os conceitos, princípios e histórico de recorribilidade que circundam e
fazem parte ontologicamente do tema.

No terceiro capítulo, apresentar-se-á aos ao leitor a classificação doutrinária a


cerca do rol do artigo 1.015 do NCPC/2015 mediante uma análise expositiva dos votos dos
Srs. Ministros que participaram do julgamento do Recurso Especial Representativo da
Controvérsia nº 1.696.396-MT, ora instrumento de análise do presente trabalho.

Por fim e não menos importante, no quarto capítulo, ao querido leitor será
apresentada uma análise crítica sobre qual o melhor posicionamento para a interpretação da
natureza do rol do artigo 1.015 do NCPC/2015, a partir da análise dos critérios de
classificação doutrinária e jurisprudencial já debatidos em nosso ordenamento jurídico.
1 ASPECTOS GERAIS DO AGRAVO DE INSTRUMENTO
2 SISTEMA E HISTÓRICO DE RECORRIBILIDADE DAS DECISÕES
INTERLOCUTÓRIAS POR MEIO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO

O sistema de recorribilidade das decisões interlocutórias nem sempre foi do modo


como se vê atualmente em nosso ordenamento jurídico, de modo que há constantes
transformações ao logo do tempo.

Entender esse histórico de forma cronológica é, sobretudo, compreender a natureza e


essência do agravo de instrumento; isto é, quando ele foi efetivo e assertivo; e quando
fracassou – anteriormente. Por isso mostraremos a seguir o porquê dessas razões.

2.1 PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE

2.1.1 Constitucionalidade das decisões interlocutórias

2.1.2 Exceções

2.2 (IR)RECORRIBILIDADE DAS DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS

2.2.1 Origem

2.2.2 Conceito

2.2.3 Previsão Legislativa

2.3 CONCEITOS

Antes de aprofundarmos sobre o que é o agravo de instrumento e sua natureza jurídica,


cabe-nos a nós saber a que tipo de decisão esse recurso visa atacar e, por reflexo, entendendo
isso, compreenderemos efetivamente o que ele é.

No entanto, como bem esclarecido pelo professor Daniel Amorim (2018)o Agravo de
Instrumento é espécie do gênero Agravo. Este, considerado gênero recursal, comporta ainda
duas outras espécies previstas no Código de Processo civil, a saber: a) Agravo Interno ou
agravo em recurso especial e extraordinário, a depender da espécie da decisão; b) há ainda
outro tipo específico de agravo previsto no artigo 15, caput, da lei 12.016/2009 que visa atacar
a decisão monocrática do relator que suspende a eficácia da liminar ou da sentença
impugnada pelo recurso.

Nos interesse apenas saber de modo rápido que existem essas três espécies, no entanto,
é objeto de estudo deste trabalho apenas o Agravo de Instrumento. O artigo 1.015 do CPC/15
tratando acerca do agravo nos esclarece: “Cabe agravo de instrumento contra as decisões
interlocutórias”.

Segundo a lição do professor Theodoro Júnior (2016) “decisão interlocutória é o ato


judicial através do qual o magistrado soluciona explicitamente algum ponto controvertido,
sem extinguir o processo”.

No entanto, o próprio conceito de decisão interlocutória perpassa, todavia, pela


construção do conceito de sentença. O artigo 203, §1ºdo CPC 1 prevê que sentença é o
pronunciamento do juiz por meio do qual se põe fim à fase cognitiva do procedimento
comum, bem como extingue a execução.

Para o NCPC/2015, todo pronunciamento do juiz que não for sentença, será decisão
interlocutória, de acordo com o §2º do artigo 203 do NCPC 2 – ainda que resolva o mérito de
apenas parte dos pedidos, dando prosseguimento aos demais. Isso acontece devido ao previsto
no rol do artigo 1.015 do NCPC.

Diferentemente do previsto no Código de Processo Civil de 1973, que fazia a distinção


entre sentença e decisão interlocutória mediante o conteúdo daquela. À definição de sentença
previa o §1º do artigo 162 do Código de Processo Civil pretérito que era esta “o ato do juiz
que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei”; decisão
interlocutória, por sua vez, era vinculada à ideia da resolução de qualquer questão incidente
ao logo de todo o processo, de acordo com o §2º do artigo 162 do CPC/73.

Após o breve entendimento dos conceito ora apresentados, passaremos ao


aprofundamento do Agravo de Instrumento; isto é, primeiramente, compreender onde e
quando ele surgiu e como se deu o seu processo de evolução histórica.

1
Art. 203, §1º: Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o
pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do
procedimento comum, bem como extingue a execução.
2
Art. 203, §2º: Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não se
enquadre no § 1º.
2.4 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO RECURSO DE AGRAVO DE
INSTRUMENTO

Embora a temática que circunda o agravo de instrumento tenha sido debatida


recentemente pela Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça em sede de Recurso
Especial Representativo da Controvérsia Repetitiva, seu surgimento - pelo menos em moldes
diferentes dos quais conhecemos atualmente - dá-se há mais de oito séculos.

Nos ensina o saudoso professor José Carlos Barbosa Moreira (2003) que em meados
do século XII, no berço do Direito Português, as partes encaminhavam petições ao Rei a fim
de conseguir uma “carta de justiça”, que, por sua vez, subordinava-se ao exame da alegação
do requerente; isto é, se havia verdade ou não no alegado. A esse instrumento que incidia na
recorribilidade de decisões interlocutória e que, por sua vez, não atacava o mérito da questão
em análise os portugueses deram o nome de querimas ou querimônias, segundo Barbosa
Moreira (2003, p. 482/483). Com a evolução processual esse mecanismo evoluiu e a partir de
então o Rei passou a examinar aquela petição conjuntamente com a resposta do juiz que
prolatou a decisão. Não só a forma de análise mudou, como, também, seu nome: passou-se a
ser chamada de “carta testemunhável” ou “instrumento de agravo”.

Acontece que as evoluções não pararam por aí. As formas criadas para disciplinar a
recorribilidade das decisões interlocutórias foram várias. E quando dizemos “várias” não
estamos fazendo uso de hipérbole. O legislador quando das modificações ficou a tatear ora
nas variações acerca do cabimento, que variava a depender da ocasião entre mais amplo ou
mais restritivo; ora sobre a própria modalidade recursal mais adequada (agravo de petição,
agravo no auto do processo, agravo ordinário, agravo por instrumento, etc.).

Exemplo dessas legislações, apresentadas anteriormente, destacamos as seguintes:


Ordenações Manuelinas e Filipinas, Regulamento 737 de 1850, Decreto 763 de 1890 e os
códigos de processo estaduais que vigoraram entre a Constituição de 1891 e a de 1937.

Essa breve análise do histórico de recorribilidade das decisões interlocutórias ocupa as


primeiras linhas deste trabalho não por coincidência; doutro lado, assim o foi, pois é condição
precípua para o entendimento melhor do porquê o sistema de recorribilidade é aplicado e
como é aplicado atualmente.
A partir de 1939 a matéria passou a ser tratada mediante a aplicação de um código que
passou a vigorar em todo território nacional, o Código de Processo Civil de 1939, o qual
passaremos a analisar a partir de agora.

2.4.1 Código de Processo Civil de 1939

A competência para legislar sobre matéria processual nem sempre foi do jeito que está
previsto no artigo 22, inciso I da Constituição Federal da República do Brasil de 1988 3. Na
Constituição Federal de 1981, por exemplo, a competência para legislar sobre matéria
processual não era competência exclusiva da União. A União era competente, sim; mas
dividia essa competência com os Estados.

Assim, verificava-se uma Lei Federal valendo-se de tratar da matéria processual ao


mesmo tempo em que os Estados da Federação também possuíam individualmente seus
próprios códigos de processo.

Posteriormente com o advento das constituições de 1934 e 1937, passou-se a verificar


a necessidade da criação de um Código de Processo Civil que abarcasse todos os Estados da
Federação, um nacional. Desse modo, a competência para legislar passou a ser exclusiva da
União.

Foi com o Código de Processo Civil de 1939, promulgado pelo Decreto-Lei 1.608, de
18 de setembro de 1939, que percebemos uma enorme evolução no que tange ao
reconhecimento e respeito do mecanismo de satisfação coletiva e de interesses sociais,
pressuposto de um estado democrático de direito e da garantia da justiça dentro dos moldes de
igualdade.

No que diz respeito ao sistema de recorribilidade das decisões interlocutórias no


Código Civil de 1939, veja-se, por exemplo, as exposições de motivos, no Código de
Processo Civil de 1939, elaborada por Francisco Campos - neste caso, voltado mais ao que
circunda o tema do presente trabalho; isto é, no que diz respeito ao âmbito recursal:

“Aqui devem ser feitas algumas distinções que não são necessárias quando a
decisão diz respeito à simples determinação dos fatos. A primeira distinção é

3
Art. 22, I: Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual,
eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho” (BRASIL, 1988).
entre as falhas de processo que afetam materialmente os direitos das partes,
isto é, que pela sua natureza hajam influído realmente no julgamento
proferido, e aquelas que são de uma natureza menos importante ou puramente
técnica, as quais, ainda que admitidas como erros, não dão motivos razoáveis
para se acreditar que tenham impedido a parte agravada de apresentar
inteiramente o seu interesse ou que tenham influído sobre o juiz, ou o júri, no
proferir suas decisões. Manifestamente, nos argumentos em favor da
permissão de uma reforma da decisão, no caso de erros da primeira categoria,
são mais fortes que no caso dos da segunda. Permitir os recursos em todos os
casos em que se alegue estar errado o julgamento com relação à aplicação de
regras, sejam ou não tais erros de natureza a se supôr que tenham afetado o
julgamento, acarretará males desproporcionados aos benefícios que se podem
verificar em casos relativamente raros. Abre a porta ao uso do direito de
recorrer simplesmente com propósitos protelatórios, e aumenta as despesas
do pleito, o que tudo trabalha em desfavor da parte fraca”.

Como vimos da exposição de motivos, o legislador preocupou-se, naquele momento


histórico, em optar pela imediata recorribilidade das decisões que pudessem de alguma forma
colocar em risco a “saúde” do processo como um todo, mas principalmente do
pronunciamento de mérito.

Acontece que para que fosse mantida a celeridade do procedimento e o recurso não
fosse usado por muitos como meio protelatório, o legislador elaborou um rol pretensamente
exaustivo, criando-se expressamente situações que seriam capazes, por si só, de influírem no
direito das partes envolvidas e atingirem a controvérsia do caso; isto é, no que tange ao seu
julgamento.

Ou seja, o Código de 1939 estabeleceu o agravo como o recurso hábil para impugnar
as decisões interlocutórias, no casos legalmente predeterminados, excluindo, assim, a
aplicação analógica ou extensiva, quer tenha sido interposto da forma de “agravo de
instrumento (art. 842); quer na de agravo retido (art. 851)” (ASSIS, 2017).

Desse modo, foi criado o chamado agravo na modalidade instrumental, previsto para
atacar decisões que se encaixassem nas situações do artigo 842 do CPC/39 e em alguns casos
da legislação extravagante. Vide:

Art. 842. Além dos casos em que a lei expressamente o permite, dar-se-á
agravo de instrumento das decisões: (Redação dada pelo Decreto-Lei nº
4.565, de 1942).
I - que não admitirem a intervenção de terceiro na causa; (Redação dada pelo
Decreto-Lei nº 4.565, de 1942).
II - que julgarem a exceção de incompetência; (Redação dada pelo Decreto-
Lei nº 4.565, de 1942).
III - que denegarem ou concederem medidas requeridas como preparatórias
da ação; (Redação dada pelo Decreto-Lei nº 4.565, de 1942).
IV - que não concederem vista para embargos de terceiros, ou que os
julgarem; (Redação dada pelo Decreto-Lei nº 4.565, de 1942).
IV - que receberem ou rejeitarem “in limine” os embargos de terceiro.
(Redação dada pelo Decreto-Lei nº 4.672, de 1965).
V - que denegarem ou revogarem o benefício de gratuidade, (Redação dada
pelo Decreto-Lei nº 4.565, de 1942).
VI - que ordenarem a prisão; (Redação dada pelo Decreto-Lei nº 4.565, de
1942).
VII - que nomearem ou destituírem inventariante, tutor, curador,
testamenteiro ou liquidante; (Redação dada pelo Decreto-Lei nº 4.565, de
1942).
VIII - que arbitrarem, ou deixarem de arbitrar a remuneração dos liquidantes
ou a vintena dos testamenteiros; (Redação dada pelo Decreto-Lei nº 4.565, de
1942).
IX - que denegarem a apelação, inclusive de terceiro prejudicado, a julgarem
deserta, ou a relevarem da deserção; (Redação dada pelo Decreto-Lei nº
4.565, de 1942).
X - que decidirem a respeito de erro de conta ou de cálculo; (Redação dada
pelo Decreto-Lei nº 4.565, de 1942).
XI - que concederem, ou não, a adjudicação, ou a remissão de bens;
(Redação dada pelo Decreto-Lei nº 4.565, de 1942).
XII - que anularem a arrematação, adjudicação, ou remissão cujos efeitos
legais já se tenham produzido; (Redação dada pelo Decreto-Lei nº 4.565, de
1942).
XIII, que admitirem, ou não, o concurso de credores, ou ordenarem a
inclusão ou exclusão de créditos; (Redação dada pelo Decreto-Lei nº 4.565,
de 1942).
XIV - Revogado
XV - que julgarem os processos de que tratam os Títulos XV a XXII do Livro
V, ou os respectivos incidentes, ressalvadas as exceções expressas; (Redação
dada pelo Decreto-Lei nº 4.565, de 1942).
XVI - que negarem alimentos provisionais; (Redação dada pelo Decreto-Lei
nº 4.565, de 1942).
XVII - que, sem caução idônea, ou independentemente de sentença anterior,
autorizarem a entrega de dinheiro ou quaisquer outros bens, ou a alienação,
hipoteca, permuta, subrogação ou arrendamento de bens. (Redação dada pelo
Decreto-Lei nº 4.565, de 1942).

Como visto, ao Agravo de Instrumento deu-se um rol de hipóteses taxativamente


enumeradas e, embora fosse taxativo, não era exaustivo, uma vez que o próprio dispositivo
legal previa a possibilidade da aplicação do Agravo de Instrumento para casos não descritos
no rol do artigo, mas desde que estivessem previstos em lei. Nesses termos, o Agravo de
Instrumento era utilizado também como forma de evitar a preclusão da matéria, como nos
ensina Wambier Nelson (2006).

O Agravo de Instrumento à ocasião do código de processo civil de 1939 funcionava no


que tange à recorribilidade das decisões de modo imediato ao Tribunal 4. Como dito
anteriormente, o rol não era taxativamente exaustivo, de modo que se admitia seu cabimento
em outras hipóteses previstas em leis. No entanto, caso não houvesse previsão legal para o seu
cabimento, a decisão não ficava sem ser agravada.

Para os casos em que não havia previsão legal para atacar as decisões interlocutórias o
CPC/39 continha a figura do Agravo no Auto de Processo 5. Esta espécie de Agravo era
inserida nos autos do processo e lá permanecia inerte até que fosse momento oportuno para
sua análise, a saber, por ocasião doo Julgamento de Apelação. Ele também poderia ser
interposto verbalmente ou por petição, devendo ser mencionado a decisão agravada e o
porquê de sua ilegalidade6, para que o Tribunal Superior conhecesse, em sede de preliminar de
apelação7.

Tal dinâmica mostrou-se ineficiente num plano fático de aplicação jurídica da norma.
Nesse sentido foi que Alfredo Buzaid – na elaboração da exposição de motivos do Código de
Processo Civil 1973 – atentou-se ao fato de que a solução mais viável seria optar pela simples
exclusão dos pronunciamentos judiciais; isto é, tudo aquilo que não fosse sentença ou

4
Art. 845, §6º: § 6º Mantida a decisão, o escrivão remeterá o recurso à superior instância, dentro em quarenta
e oito (48) horas, ou, se for necessário tirar traslado, dentro em cinco (5) dias (BRASIL, 1939).
5
Art. 851. Caberá agravo no auto do processo das decisões: I – que julgarem improcedentes as exceções de
litispendência e coisa julgada; II – que não admitirem a prova requerida ou cercearem, de qualquer forma, a
defesa do interessado; III – que concederem, na pendência da lide, medidas preventivas; IV – que
considerarem, ou não, saneado o processo, ressalvando-se, quanto à última hipótese o disposto no art. 846.
6
O agravo no auto do processo, reduzido a termo, poderá ser interposto verbalmente ou por petição em que se
mencionem a decisão agravada e as razões de sua ilegalidade, afim de que dela conheça, como preliminar, o
Tribunal Superior, por ocasião do Julgamento da apelação (arts. 876 a 878). (BRASIL, 1939)
7
Se houver agravo no auto do processo, os juizes o decidirão preliminarmente, mandando repará-lo como
lhes parecer justo (BRASIL, 1939).
despacho, seria decisão interlocutória e, portanto, o Agravo de Instrumento seria meio eficaz
para atacar a estas, como descrito a seguir:

15. “Outro ponto é o da irrecorribilidade, em separado, das decisões


interlocutórias. A aplicação deste princípio entre nós provou que os litigantes,
impacientes de qualquer demora no julgamento do recurso, acabaram por
engendrar esdrúxulas formas de impugnação. Podem ser lembradas, a título
de exemplo, a correição parcial e o mandado de segurança. Não sendo
possível modificar a natureza das coisas, projeto preferiu admitir agravo de
instrumento de todas as decisões interlocutórias. É mais uma exceção. O
projeto a introduziu para ser fiel à realidade da prática nacional. [...] 31.
Convém, ainda, tecer alguns comentários sobre a nomenclatura do Código
vigente. Os recursos de agravo de instrumento e no auto do processo (artigos
842 e 851) se fundam num critério meramente casuístico, que não exaure a
totalidade dos casos que se apresentam na vida cotidiana dos tribunais. Daí a
razão por que o dinamismo da vida judiciária teve de suprir as lacunas da
ordem jurídica positiva, concedendo dois sucedâneos de recurso, a saber, a
correição parcial e o mandado de segurança. A experiência demonstrou que
esses dois remédios foram úteis, corrigindo injustiças ou ilegalidades
flagrantes, mas representavam uma grave deformação no sistema, pelo uso de
expedientes estranhos ao quadro de recursos”.

O código de 1973 veio para deixar claro a ineficiência do código anterior, uma vez que
para além das situações descritas neste diploma legal, existiam algumas outras passíveis de
causar dano às partes, acarretando no uso irresponsável e demasiado do Mandado de
Segurança. Não aderindo a um rol taxativo das hipóteses de agravo de instrumento, o CPC de
1973 afastou-se do princípio da irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias.

Isso fez com que todas as decisões interlocutórias pudessem ser atacadas medianta a
interposição do Agravo de Instrumento, como veremos a seguir.

2.4.2 Código de Processo Civil de 1973

Pois bem, o CPC/73 foi uma grande inovação no âmbito jurídico nacional de modo
que foi elaborado para mudar totalmente a sistemática recursal do código anterior, sobretudo
no que tange às decisões de caráter interlocutória (WAMBIER, 2005), conforme redação do
seu artigo 5228.

Durante a vigência do CPC/73 houve grandes modificações legislativas, uma delas foi
a trazida pela lei nº 9.139/95 (BRASIL, 1995), que modificou substanciosamente o recurso de
Agravo, primeiramente modificando-lhe o nome de Agravo de Instrumento para simplesmente
Agravo, seja seu processamento na forma do retido ou de instrumento.

No entanto, a maior inovação se deu não na nomenclatura, mas sim no processamento:


ficou a critério das partes interpor o recurso de Agravo contras toda decisão interlocutória,
utilizando-se do Agravo de Instrumento, Agravo Retido ou simplesmente Agravo (DIDER,
2007), devendo a parte fazer um juízo acerca da urgência decorrente do perigo de dano ou
ameaça de lesão, uma vez que em ambos os Agravos, de Instrumento ou Retido, seria possível
ocorrer a fungibilidade (WAMBIER, 2006).

Tal sistemática de escolha foi de grande prejuízo para o ordenamento pátrio, uma vez
que deixar à escolha das partes qual tipo de Agravo utilizar prejudicaria a celeridade
processual no órgão ad que.

Sendo interposto o Agravo Retido, este permanecia inerte até a apelação, momento no
qual era apresentado em sede preliminar e a parte deveria ratificar sua vontade de que o
agravo fosse efetivamente julgado. Caso não procedesse dessa forma, o Tribunal entendia que
não havia mais interesse da parte em dar prosseguimento ao recurso; isto é, uma postura de
desistência tácita.

O agravo de instrumento, no entanto, era julgado imediatamente pelo órgão ad quo;


Isto é, subia diretamente ao Tribunal para que fosse feito o reexame da matéria. O que se viu
na prática foi a escolha demasiada por esta espécie de Agravo, pois, como ficava a escolha a
critério da parte mediante uma análise de urgência, elas sempre acreditavam ser sua causa
uma “urgência”. Isso acarretou no sobrecarregamento processual nos Tribunais, impedindo e
atrapalhando o julgamento de recursos de importância maior.

Recapitulando, o Código de 1973 previa, como regra geral, o agravo de instrumento, e


como particularidade de alguns casos, o agravo retido, para impugnar as decisões
interlocutórias. No entanto, no “sistema do NCPC é um pouco diverso. Estabeleceu-se um rol

8
Artigo. 522 do Código de Processo Civil de 1973: “Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de
10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de
difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a
apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento”.
das decisões interlocutórias sujeitas à impugnação por meio de agravo de instrumento que, em
regra, não tem efeito suspensivo (NCPC, art. 1.015). Não há mais agravo retido para as
decisões não contempladas no rol da lei. A matéria, se for o caso, será impugnada, pela parte
prejudicada, por meio das razões ou contrarrazões da posterior apelação interposta contra a
sentença superveniente (art. 1.009, § 1º). Dessa forma, o novo Código valoriza o princípio da
irrecorribilidade das interlocutórias, mais do que o Código de 1973. Agora, se a matéria
incidental decidida pelo magistrado a quo não constar do rol taxativo do art. 1.015, que
autoriza a interposição de agravo de instrumento, a parte prejudicada deverá aguardar a
prolação da sentença para, em preliminar de apelação ou nas contrarrazões, requerer a sua
reforma (art. 1.009, § 1º). Vale dizer, a preclusão sobre a matéria somente ocorrerá se não for
posteriormente impugnada em preliminar de apelação ou nas contrarrazões” (HUMBERTO,
1938).

2.4.3 O Agravo de Instrumento no código de Processo Civil de 2015

Bem verdade que o Código de Processo Civil de 1973 não imperava o princípio da
irrecorribilidade das interlocutórias, como já explicado anteriormente. E, embora o princípio
da irrecorribilidade em separados das decisões interlocutórias se expresse na ausência de
efeito suspensivo, que é direta e plenamente auxiliado pela formação do Agravo de
Instrumento em autos próprios para sua tramitação, não houve, na verdade, nem uma
contribuição positiva de sua multiplicação, como nos explica o egrégio comentador do CPC
de 1973 (ASSIS, 2017): “Não se pode dizer que a multiplicação dos agravos de instrumento
haja trazido qualquer contribuição positiva”.

Tal raciocínio se baseia na vivência prática a qual tomava os tribunais. Mesmo que o
legislador não tivesse predeterminado efeito suspensivo, ocorria a suspensão do processo por
causa da proliferação do Instrumento. Na prática, o órgão a quo aguardava silenciosa e
obsequiosamente a manifestação do órgão a quem, para a decisão da matéria (ASSIS, 2017).

Para sanar esses impasses foi que o legislador do CPC de 2015 ocupou-se de tratar a
matéria ora exposta de modo contundente. Seguindo a lógica do direito português, o CPC de
2015 adotou a admissibilidade da impugnação das decisões interlocutórias, conforme redação
dada ao artigo 1.009 do CPC, de 2015. No entanto, essa impugnação; isto é, a
irrecorribilidade imediata ou em separado das decisões interlocutórias deveria ser tratada à luz
das hipóteses previstas expressamente no rol do artigo 1.015 e aos casos expressos em outras
determinações legais.

O CPC de 2015, com isso, ocupou-se de tratar de questões relevantes e idôneas que
poderiam influenciar de alguma forma o desenvolver do processo, como, por exemplo, nos
casos de tutela provisória (artigo 1.015, I) e desconsideração da personalidade jurídica (artigo
1.015, IV).

No entanto, para além dessas hipóteses, da admissibilidade da demanda proposta até o


pronunciamento de mérito pelo juiz, há outras formas de decisões interlocutórias – de
importância desigual – que influem sobre o processo. Atendo-se a isso foi que o CPC de 2015,
em seu artigo 1.009, optou por uma dinâmica diferente daquela adotada pelo CPC de 1939,
embora semelhante quanto ao fim, como nos explica o Professor Araken de Assis (2017)9:

“No tocante às decisões insuscetíveis de agravo imediato, ao


invés de torná-las passíveis de agravo retido, última forma do
agravo no auto do processo do CPC de 1939, sob pena de
preclusão, preferiu a fórmula portuguesa, facultando ao apelante
e ao apelado, nas razões ou contrarrazões do apelo (art. 1.009, §
1.°), suscitar a questão sob o título de preliminar, assegurando,
ainda, ao apelante responder as questões suscitadas nas
contrarrazões no prazo de quinze dias (art. 1.009, § 2.°)”.

Isto é, caso a decisão interlocutória não esteja dentro das hipóteses do artigo 1.015 do
CPC/2015, a parte deve aguardar – sem risco de preclusão da matéria – até a apelação,
quando deverá arguir a questão como preliminar.

O CPC de 2015 decidiu romper também com a sistemática do pretérito e antecessor


código, o de 1973, inovando o sistema recursal, com a extinção do agravo retido
(CARMONA, 2015). Com isso, o Agravo que antes passara por um juízo de valoração no que
toca ao risco de lesão grave ou de incerta reparação para ser considerado de instrumento, não
mais se limita a tal juízo. Dito de outro modo: para o atual código, o Agravo sempre será de
Instrumento.

O que antes era regra, passou a ser tratado como exceção: o CPC de 2015 adotou
como princípio orientador para tratar das decisões interlocutórias a irrecorribilidade imediata

9
DE ASSIS, Araken. MANUAL DOS RECURSOS. 8ª ed. Revista, atualizada e ampliada. 2017. Editora
revista dos Tribunais LTDA, São Paulo-SP.
das decisões, ocupando-se por estabelecer um rol de hipóteses para a interposição do agravo
de instrumento, conforme redação dada ao artigo 1.015 do CPC/2015 (CARMONA, 2015).

3 ENTENDIMENTO FIRMADO PELO STJ

3.1 ANÁLISE DOS VOTOS DOS MINISTROS (juntar com a doutrina que cada um
adotou, logo abaixo)

3.1.1 MARIA THEREZA

3.1.2 JOÃO OTÁVIO NORONHA

3.1.3 OG FERNANDES

3.2 RECURSO ESPECIAL SOB O RITO DO RECURSOS REPETITIVOS

CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOIGRÁFICAS

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Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso
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