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Artigo

EXPOSIÇÃO DE PROFISSIONAIS DE CENTRO CIRÚRGICO A RISCOS


OCUPACIONAIS: REVISÃO DA LITERATURA

EXPOSURE TO OCCUPATIONAL RISKS IN SURGERY CENTER


PROFESSIONALS: LITERATURE REVIEW

Jaqueline Correia Pontes¹;


Fernanda Miranda de Oliveira1;
Mônica Santos Amaral³

RESUMO
Os profissionais do centro cirúrgico estão expostos diariamente aos riscos físicos,
químicos, mecânicos/ergonômicos e biológicos. Esses riscos são potencializados
quando é gerado um desgaste ao trabalhador pelas longas jornadas de atividades
laborais, esse desgaste pode romper a homeostase e levar ao adoecimento, ou seja,
os acidentes de trabalho. Objetivou-se Destacar os principais riscos ocupacionais que
os trabalhadores do centro cirúrgico estão expostos e quais os profissionais mais
expostos a esses riscos. O presente artigo constitui-se em uma revisão da literatura,
tratando-se de pesquisa do tipo exploratório-descritivo. Para identificação dos
estudos, foi construída uma estratégia de busca com termos oficiais e sinônimos, as
quais foram localizados através da busca na base de dados online da Biblioteca Virtual
em Saúde (BVS) e utilizados os dois seguintes grupos de descritores de saúde
(DecS): “risco and centro cirúrgico and profissional” e “Centro cirúrgico and Acidentes
de trabalho and Risco ocupacional and a exposição ocupacional”. Obteve-se como
resultado o risco biológico como que mais acomete os trabalhados do centro cirúrgico
e os trabalhadores mais expostos a esse risco é a equipe de enfermagem,
especialmente os técnicos de enfermagem e a equipe médica. Os resultados alertam
para a importância de se implementar estratégias para adoção do uso de
equipamentos de proteção individual, seguimento das normas de biossegurança, bem
como atualização para a equipe a cerca das novas tecnologias utilizadas no ambiente
de trabalho e os riscos encontrados no mesmo, visando a redução dos acidentes de
acidentes de trabalho.
Palavras chave: Risco Ocupacional. Centro Cirúrgico. Acidente de Trabalho.

ABSTRACT
The surgical center professionals are exposed daily to physical, chemical, mechanical
/ ergonomic and biological risks. These risks are potentiated when a worker's wear and
tear is generated by the long hours of work, this wear and tear can break the
¹Enfermeira, Especialista em Centro Cirúrgico, CME e RPA e Urgência e Emergência. E-mail:

jaquelinepontesibs94@hotmail.com
²Enfermeira, Especialista em Enfermagem em UTI. Mestra em Ensino na Saúde pela UFG-Faculdade
de Medicina. Enfermeira no Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo- CRER.
Docente nas faculdades UNIFAN, CGESP e Uni-Anhanguera. Preceptora de enfermagem em
residência multiprofissional em saúde funcional e reabilitação do CRER. E-mail:
fernanda01031988@hotmail.com
³Enfermeira, Especialista em Enfermagem em UTI, Urgência e Emergência e Enfermagem do
Trabalho. Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Atenção á Saúde PUC-GO. Docente
na faculdade de Inhumas FacMais, docente e coordenadora do programa de pós-graduação EAD
da Faculdade CGESP. E-mail: monicaamaral22@hotmail.com

Revista Científica FacMais, Volume. XII, Número 1. Abril. Ano 2018/1º Semestre. ISSN 2238-
8427. Artigo recebido dia 22 de setembro de 2017 e aprovado dia 22 de dezembro de 2017.
Jaqueline Correia Pontes; Fernanda Miranda de Oliveira; Mônica Santos Amaral. Exposição de
profissionais de centro cirúrgico a riscos ocupacionais: revisão da literatura

homeostasis and lead to illness, that is, accidents at work. The objective was to
highlight the main occupational risks that workers in the operating room are exposed
and which professionals are most exposed to these risks. This article is a review of the
literature, which is exploratory-descriptive research. To identify the studies, a search
strategy was constructed with official terms and synonyms, which were located through
the online search of the Virtual Health Library (VHL) and used the following two groups
of health descriptors (DecS): "Risk and surgical center and professional" and
"Surgicenters Center and Occupational Accidents and Occupational Hazard and
Occupational Exposure". As a result, the biological risk is the one that affects the
workers of the surgical center, and the workers most exposed to this risk are the
nursing staff, especially the nursing technicians and the medical staff. The results
highlight the importance of implementing strategies to adopt the use of personal
protective equipment, follow the biosafety standards, as well as update the team about
the new technologies used in the work environment and the risks found in it, aiming at
the reduction of accidents at work accidents.
Keywords: Occupational Risks. Surgical. Accidents Occupational.

1 INTRODUÇÃO

Estudos sobre a exposição de trabalhadores a riscos ocupacionais não são


um tema recente. No entanto toda avaliação sobre essa temática é precisa, visto que
a promoção de um ambiente adequado favorece a redução dos riscos ocupacionais e
um trabalhador saudável deve ser o foco de ações em saúde (FERNANDES STUMM
et al., 2013; SOUSA, 2011).
Quando é gerado um desgaste ao trabalhador pelas longas jornadas de
atividades laborais, esse desgaste pode romper a homeostase e levar ao
adoecimento, ou seja, os acidentes de trabalho. Entende-se por saúde do trabalhador
como a relação entre o trabalho e o processo saúde doença. Assim, os profissionais
da saúde em sua rotina de atividades, manuseiam materiais e artigos potencialmente
infectantes, bem como necessitam de um esforço físico e psicológico na dinâmica
equipe e paciente (LIMA, OLIVEIRA E RODRIGUES, 2011; SOUSA, 2011).
Muitas são os fatores de risco para o desgaste do profissional da saúde, a
começar pelas longas jornadas de trabalho, infraestruturas insalubres, falta de
material para o desempenho de sua função, esforço físico para manipulação dos
pacientes, condições posturais inadequadas, conflitos no ambiente de trabalho,
sentimento de insatisfação, estresse, dor associada ao esforço físico, alteração do
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ciclo circadiano pelos períodos de trabalho noturno, fadiga, improvisações de


materiais, procedimentos invasivos realizados, esses e outros fatores contribuem para
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a periculosidade do CC (FERNANDES STUMM et al., 2013; MAURO e DUARTE,


2010; MERGULHÃO et al., 2010; SOUSA, 2011).
O uso de Equipamentos de proteção individual (EPI´S) e coletiva (EPC),
juntamente com as normas regulamentadoras (NR), sendo a NR32 a exclusiva para a
categoria mencionada, normas de biossegurança, resoluções da diretoria colegiada
(RDC), legislações e a política nacional de saúde do trabalhador e da trabalhadora,
foram os avanços conseguidos para a redução da exposição dos trabalhadores ao
risco do ambiente laboral (LUCKWÜ, SILVA e ARAÚJO, 2010; MERGULHÃO et al.,
2010).
Neste sentido, os prestadores dos serviços em saúde do Centro Cirúrgico
(CC), por estarem em local do hospital que é de grande complexidade, devem estar
atentos à realização de suas tarefas, a fim de evitarem possíveis acidentes de
trabalho. Os profissionais do centro cirúrgico (CC) e central de material de
esterilização (CME) estão expostos diariamente aos riscos físicos, químicos,
mecânicos/ergonômicos e biológicos e esses estão classificados assim de acordo
com a NR9 pela portaria nº321478.

2 OBJETIVO

Destacar os principais riscos ocupacionais que os trabalhadores do centro


cirúrgico estão expostos e quais os profissionais mais expostos a esses riscos.

3 METODOLOGIA

Para buscar, com êxito, as respostas para o referido problema, bem como
a consecução dos objetivos do projeto, estabeleceu-se como caminho metodológico
a definição de tipo de pesquisa, abordagem e instrumentalização de métodos. O
presente artigo constitui-se em uma revisão da literatura, tratando-se de pesquisa do
tipo exploratório-descritivo (SOUZA et al., 2013).
Para identificação dos estudos, foi construída uma estratégia de busca com
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termos oficiais e sinônimos, as quais foram localizadas através da busca na base de


dados online da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e utilizados os dois seguintes
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grupos de descritores de saúde (DECS) primeiro grupo: Risco, Centro cirúrgico,

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Profissional, Risco ocupacional. Como mecanismo de busca: “risco and centro


cirúrgico and profissional”. E como segundo grupo os DecS: Centro cirúrgico,
Acidentes de Trabalho, Risco ocupacional e Exposição ocupacional. O mecanismo de
busca: “Centro cirúrgico and Acidentes de trabalho and Risco ocupacional and a
exposição ocupacional”.
Para a classificação, os critérios de inclusão foram textos encontrados na
BVS, disponíveis na íntegra e estudos publicados nos últimos 10 anos, ou seja, entre
2007 e 2017, nem português e como filtro as bases de dados especializadas e
nacionais, como assunto principal risco ocupacional.
Como critério de exclusão foram os artigos não relacionados ao tema.
Foram encontrados 28 artigos, e após as filtragens resultaram 7 artigos, desses
apenas 5 foram selecionados por não estarem duplicados. Foi pesquisado ainda o
segundo grupo de DecS e encontrado mais 4 artigos após a filtragem e anulação dos
artigos com fuga do tema e ou fora dos limites de data estabelecidos.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados na BVS nos últimos 10 anos apenas 28 artigos no


idioma português sobre os riscos no ambiente cirúrgico e os profissionais mais
expostos artigos. Após uma leitura exploratória destes, apenas 09 artigos foram
incluídos na pesquisa, e estes estão descritos no quadro abaixo:

QUADRO 1 Características dos principais resultados relacionados a risco e exposição de profissionais


nos artigos explorados. Goiânia-GO, 2017.
Autor (Ano) Título Principais Resultados relacionados a Profissional mais
risco exposto
MERGULHÃ Fatores de Pôde-se identificar como fator de risco Equipe de enfermagem:
O et al., risco à saúde físico no ambiente hospitalar do CC Enfermeiro, Técnico,
2010. de ruídos, vibrações, pressões anormais, Auxiliar e atendente
profissionais temperaturas, eletricidade e iluminação. (apesar de não mais
de Exposição à temperatura abaixo do existir a profissão).
enfermagem normal em locais onde a aparelhagem
relacionados assim o exige. As condições de
com a assistência aos pacientes que depende
condição de do esforço físico para transporte,
trabalho e caracterizando os riscos ergonômicos.
ergonomia. Risco biológico por contato direto e diário
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a pacientes portadores de doenças


infectocontagiosas. Exposição à drogas
anestésicas inalatória e problemas de
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saúde relacionado as mesmas como


risco químico.

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profissionais de centro cirúrgico a riscos ocupacionais: revisão da literatura

FERNANDE Qualidade de Risco ergonômico relacionado a longas Médico e Enfermeiro


S STUMM et vida de jornadas de trabalho, conflitos no
al., 2013. profissionais ambiente de trabalho entre os membros
em um centro da equipe. Sentimentos de
cirúrgico competitividade, responsabilidade e
estresse.
SILVA, Diagnósticos Os riscos encontrados no NANDA e que Técnico de enfermagem,
FONTANA E de mais interferem na saúde do trabalhador auxiliar de enfermagem e
ALMEIDA, Enfermagem da saúde foram: Risco de infecção enfermeiro.
2012. na Saúde do (agentes biológicos), risco de lesão
Trabalhador: (física) relacionada a lesão por
Estudo de perfurocortantes, Risco de lesão
caso com (química) por contato com fármacos e
Profissionais alergia ao látex, Risco de resposta
de alérgica ao látex, padrão de sono
Enfermagem perturbado e dor aguda (cefaléia, dor
lombar e articular) como risco
ergonômico que esta relacionado ao
esforço físico para com pacientes com
elevado grau de dependência..

LIMA, Exposição Risco biológico por exposição a material Enfermeiros, médicos,


OLIVEIRA E ocupacional biológico e risco mecânico (lesão por auxiliares e técnicos de
RODRIGUES por material perfuro cortante). Sendo os riscos enfermagem são os
, 2011. biológico no biológicos os mais frequentes e graves. principais. Outros
hospital Santa profissionais expostos:
Casa de Higienizadores,
Pelotas - 2004 trabalhadores da
a 2008 lavanderia, copeiros e
trabalhadores de
laboratórios.
SOUSA, Condições de
2011. trabalho de
ambiente
cirúrgico e a
saúde dos
trabalhadores
de
enfermagem.
OLIVEIRA e Acidente Risco biológico por meio de Médicos principalmente e
GONÇALVE ocupacional perfurocortantes. equipe de enfermagem.
S, 2010. por material
perfurocortant
e entre
profissionais
de saúde de
um Centro
Cirúrgico.
CAMPOS, Acidentes de Risco biológico por perfurocortantes com Médicos e auxiliares de
OLIVEIRA e trabalho X 66,67% de todos os acidentes enfermagem.
TUNES, Risco encontrados pelo reencapes de agulhas.
2011. ocupacional.
AQUINO et Centro de Risco biológico por perfurocortantes, Enfermeiros e Técnicos
al., 2014. material e risco físico por manipulação em de Enfermagem
esterilização: autoclaves com elevada temperatura,
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acidentes de risco ergonômico por movimentos


trabalho e repetitivos, manuseio de caixas e
riscos instrumentais pesados e estresse.
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ocupacionais

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Jaqueline Correia Pontes; Fernanda Miranda de Oliveira; Mônica Santos Amaral. Exposição de
profissionais de centro cirúrgico a riscos ocupacionais: revisão da literatura

LUCKWÜ, Fatores de Risco químico por contato com produtos Auxiliares de


SILVA e exposição do químicos como detergentes enzimáticos, Enfermagem e técnicos
ARAÚJO, profissional da álcool, compostos clorados, de Enfermagem.
2010. saúde às desoxidantes e lubrificantes.
substâncias
químicas
Utilizadas nos
processos de
lavagem e
desinfecção no
expurgo.

Conforme exposto, os artigos foram agrupados, analisados, revisados e as


conclusões totais foram extraídas e serão discutidas de forma sistematizada levando
em consideração os aspectos mais relevantes dessas pesquisas.

4.1 O Centro Cirúrgico e os riscos ocupacionais

O centro cirúrgico (CC) é uma unidade dentro do ambiente hospitalar


destinado à assistência para procedimento cirúrgicos de caráter eletivo, de urgência
e de emergência. Por ser um ambiente que possui altos aparatos tecnológico e
pessoal treinado, é necessária uma atenção maior por parte de seus trabalhadores,
bem como atualizações com vista a evitar os acidentes de trabalho. Um descuido, por
menor que seja na ordenação da destreza e exatidão em conjunto com o estresse do
ambiente, podem reduzir a efetividade do trabalho e favorecer o acontecimento de
acidentes de trabalho (CAMPO; OLIVEIRA e TUNES, 2011; FERNANDES STUMM et
al., 2013; MERGULHÃO et al., 2010; SOUSA, 2011).

Dentro do CC são encontrados os 4 grupos de riscos ocupacionais em que


os trabalhadores estão expostos: Risco biológico, Risco físico/mecânico, Risco
químico e Risco ergonômico. Tais riscos podem comprometer a saúde do trabalhador
e a qualidade dos serviços prestados, por esse motivo dar-se a importância a
biossegurança (LUCKWÜ, SILVA e ARAÚJO, 2010).

De todos os riscos ocupacionais que os profissionais do CC estão


expostos, os riscos biológicos são os mais frequentes e de maior gravidade, e os
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acidentes envolvendo esses riscos são caracterizados como uma emergência, pois
para alguns microrganismos é possível uma profilaxia de emergência, no entanto a
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sua eficácia reduz com o aumento do tempo (SOUSA, 2011; LIMA; OLIVEIRA e
RODRIGUES, 2011).

De acordo com Oliveira e Gonçalves (2009), a maioria dos os acidentes de


trabalhos a saúde envolvendo com exposição de material biológico, são acidentes
percutâneos e ocorrem em hospitais, e o centro Cirúrgico, principalmente devido à
elevada frequência de procedimentos invasivos, intensidade e dinâmica de trabalho.
Em análise de seu trabalho, os profissionais médicos foram os que mais sofreram
acidentes de trabalho em acidentes com perfurocortantes no centro cirúrgico do
hospital estudado, médicos (83,3%), seguido da equipe de enfermagem (13,4%) e
serviços gerais (3,3%).

Em consonância, Campos; Oliveira e Tunes (2011), identificou que dos


riscos ocupacionais que os profissionais da saúde trabalhadores do CC estão
expostos, o risco biológico foi o mais encontrado, pela exposição de ao material
biológico, representando 66,67% de todos os acidentes encontrados. O reencape de
agulhas foi o acidente mais encontrado. Em sua pesquisa ele evidenciou que os
profissionais médicos e auxiliares de enfermagem foram os mais expostos aos
acidentes.

Com relação ao expurgo na CME, os profissionais estão expostos


principalmente aos fatores de químicos diversos, a citar o detergente enzimático,
álcool a 70%, cloro e compostos clorados, desoxidantes e lubrificantes (LUCKWÜ;
SILVA; ARAÚJO, 2010).

As lesões por perfurocortantes e queimaduras por manipulação em


autoclaves devido a elevada temperatura ambiente, o manuseio de caixas com
instrumentais pesados, e movimentos repetitivos que podem desenvolver a Lesão por
movimentos repetitivos (LER/DORT), o estresse, por se necessitar de uma atenção
na manipulação de artigos, são as que mais acometem os trabalhadores de CME, o
que evidencia a necessidade de educação continuada em prol da prevenção e
redução de acidentes de trabalho (AQUINO et al., 2014).

Em razão destes riscos, é necessária uma observância maior quanto às


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normas de biossegurança que devem ser seguidas para a prevenção da saúde e


redução dos acidentes de trabalho. E ainda o profissional deve ter conhecimento e
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percepção a cerca dos riscos presentes em seu ambiente de trabalho.

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4.2 Negligência profissional e o acidente de trabalho no centro cirúrgico

Por algumas vezes o profissional é o principal responsável pelos acidentes


de trabalho ocorridos consigo, pois embora sejam disponibilizados pelo empregador
os equipamentos de proteção individual (EPI´S) necessários para sua proteção como
exigência das normas de biossegurança e a Norma Regulamentadora Nº6, estes não
são usados (MERGULHÃO et al., 2010).

As precauções-padrão são medidas de segurança que o profissional deve


tomar antes mesmo do diagnóstico do paciente, mas autoconfiança exacerbada pode
dificultar o acato às normas de biossegurança, e isto o colocam em uma situação de
risco iminente (OLIVEIRA e GONÇALVES, 2010).

4.3 Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) na Saúde do


Trabalhador do Centro Cirúrgico

A SAE é uma ferramenta de enfermagem garantida peal resolução


358/2009 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), que permite a organização
do trabalho de enfermagem na saúde. Por meio dela é possível prestar uma
assistência de qualidade e a detecção de riscos que o paciente pode estar por meio
da anamnese e diagnóstico de enfermagem.

Atrelada ao propósito de melhorar à assistência a saúde, estabelecer


diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção e segurança à saúde
de todos os prestadores de saúde, em observância a todos os riscos ocupacionais, a
Norma Regulamentadora Nº32 foi desenvolvida. Tanto a SAE e outras legislações,
resoluções e normas, como as normas de biossegurança no ambiente de trabalho,
possuem como principal finalidade, minimizar os riscos ocupacionais e
consequentemente os acidentes de trabalho (LIMA; OLIVEIRA e RODRIGUES, 2011).

Condições de trabalho insalubre e de periculosidade e escassez de


materiais para o trabalho são as principais causas de insatisfação entre os
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profissionais do centro cirúrgico, e são responsáveis pelo desgaste físico e mental.


Riscos físicos como ruídos podem incomodar de tal maneira, que se ultrapassar dos
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limites de 35 a 45 decibéis (dB) pode gerar alterações em todo o organismo, desde

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fadiga, desconforto à alterações circulatórias e surdez. Dá-se aqui a importância em


promover uma boa acústica (FERNANDES STUMM et al., 2013; MERGULHÃO et al.,
2010).

Em se tratando de SAE, Silva, Fontana e Almeida (2012), classificaram e


agruparam os diagnósticos de enfermagem relacionados à saúde de trabalhadores de
um centro cirúrgico, sendo: Risco de infecção, risco de lesão (físico), risco de lesão
química, risco de respostas ao látex, disposição para o autoconceito melhorado e risco
de tensão do papel do cuidador, padrão de sono perturbado (em profissionais de
trabalhos noturnos), fadiga, estilo de vida sedentário, nutrição desequilibrada: mais do
que as necessidades corporais, risco de constipação, dor aguda (lombar e articular),
dor aguda (cefaleia) e comportamento de busca de saúde.

Deste modo, em consonância com os autores, os riscos biológicos são os


mais frequentes nos CC, e os profissionais da equipe de enfermagem, principalmente
os técnicos de enfermagem e equipe médica são os mais expostos.

5 IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA PROFISSIONAL: EDUCAÇÃO EM SAÚDE

Este artigo corrobora a importância de ações de educação em saúde nos


serviços de saúde, aqui, em especial aos colaboradores do centro cirúrgico. Essas
ações de educação em saúde atuam na redução de agravos e refletem em aumento
da produtividade com melhora da qualidade na produtividade e devem ser foco da
gestão hospitalar, pois ônus em reabilitação de trabalhadores superam os gastos em
educação em saúde.
Investimento em aperfeiçoamento e formação profissional é uma peça
fundamental para a redução de agravos a saúde de trabalhadores, por tornar mais
seguro e confiável as ações desenvolvidas por esses profissionais. Muitos
investimentos podem ser de fácil e prática aplicação, como a revisão de protocolos,
normas institucionais e procedimento operacional padrão, mas devem ser realizados
de forma rotineira e estes devem estar disponíveis para consulta a todos os
profissionais.
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Melhorias na gestão que incentivem a participação de todos os


colaboradores, em especial atenção aos profissionais de maior risco ocupacional
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identificado. Desta forma, compreende-se que a comunicação é um fator primordial e

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um elo para o ensino, aprendizagem e promoção de educação em saúde e a mudança


e condutas para práticas seguras no ambiente de trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos resultados, pode-se concluir que o centro cirúrgico é um


ambiente hospitalar que apresenta um grande risco para o desenvolvimento de
acidentes de trabalho, pois compreende todos os riscos em um lugar. Pôde-se
observar os quatro tipos de risco ocupacional: risco físico, risco biológico, risco
químico e risco ergonômico.

De todos os riscos ocupacionais caracterizados, o mais frequente e de


maior gravidade identificado foi o risco biológico. Pela alta complexidade do centro
cirúrgico, a velocidade com que novas pesquisas são realizadas, no Brasil e no
mundo, impõe frequentes atualizações a cerca de todo aparato tecnológico a fim de
reduzir os riscos e evitar os acidentes. Essa velocidade nas mudanças tecnológicas
pode contribuir para a desatualização dos profissionais, especialmente os que se
formaram há mais tempo.

O não fornecimento dos EPI´S ou a não utilização dos destes caracteriza


uma forma de negligencia, respectivamente por parte da instituição e do prestador de
serviço. Não seguir as normas de biossegurança, pode representar risco á saúde e
gastos desnecessários com reabilitação. A educação continuada deve ser incentivada
para que a prática clínica seja baseada nas evidências científicas mais recentes.

Apesar de pequena, a quantidade de artigos encontrados foi significativa,


pois incluiu todos os artigos publicados na língua portuguesa e relacionados ao
objetivo proposto. O fato de terem sido apenas 09 artigos, resalta a importância de se
desenvolver pesquisas e publicar, isso porque a publicação gera fonte e base de
conhecimento para novas pesquisas. Apesar disto, acredita-se que os resultados
encontrados nesse estudo refletem a realidade dos riscos vivenciados pelas equipes
de centro cirúrgico.
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Considerando a velocidade com que novas pesquisas são realizadas no


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Brasil e no mundo, frequentemente novas tecnologias são elaboradas, desenvolvidas

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e implementadas, no entanto nem sempre são realizados treinamentos a todos os


profissionais do centro cirúrgico e ou com o tempo perde-se informações a cerca do
manuseio tecnológico.

A sobrecarga de trabalho pode ser também condicionante para a não


apropriação de tais conhecimentos. Ações de educação continuada devem ser
propostas para proporcionar maior segurança ao profissional, tanto a cerca das novas
tecnologias utilizadas, quanto às normas de segurança. Medidas em forma de
treinamentos coletivos também são de fundamental importância, para facilitar a
convivência e auxiliar na redução do estresse nos momentos de emergência. Como
forma de contribuir.

Todavia, a elaboração de estudos análogos a este deve ser estendida a


outros idiomas, objetivando obter uma visão internacional da exposição aos riscos
ocupacionais e os profissionais mais expostos, com vistas a trabalha com prevenção
de acidentes nesse público, e garantir uma jornada de trabalho segura e
consequentemente melhorar a qualidade da assistência prestada.

REFERÊNCIAS

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61412013000200011&lng=es&nrm=iso>. accedido en 12 sept. 2017.
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