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T
1. Introdução
Os primeiros estudos sobre a saúde dos trabalhadores, ao que se sabe, datam do século
XVI. Em 1700, Bernardino Ramazzine (1633-1714), publica o primeiro livro que é
considerado como um tratado sobre doenças ocupacionais, “De morbis artificum diatriba” (As
doenças dos trabalhadores), onde nessa obra Ramazzine descreve os riscos associados à
maioria das profissões da época, e enfatiza a necessidade das profissões desenvolvidas serem
mais conhecidas pelos médicos, e, com isso, se poder diagnosticar melhor a doença que
acometia o trabalhador. Desde então, estes estudos evoluíram, principalmente após a
Revolução Industrial, quando surgiram as primeiras leis trabalhistas visando a proteger o ser
humano de acidentes e possíveis doenças ocupacionais em suas relações de trabalho
(Waissmann & Castro, 1996).
A questão relacionada à saúde do trabalhador é de extrema relevância, e a Segurança
do Trabalho deve fazer parte do planejamento, organização, controle e execução do trabalho.
Para ser implementada, é preciso a participação de todos os trabalhadores, sem exceção; e que
tenham como meta a redução dos acidentes, eliminando perdas diversas e doenças do
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trabalho. Por ser a segurança inerente a qualquer atividade profissional, não se justifica a
ocorrência de acidentes nos ambientes de trabalho. Por mais importante e urgente que sejam
as tarefas ou qualquer situação emergencial, é extremamente necessário que sejam realizadas
e administradas sem prejuízo para o profissional ou para o ambiente interno e externo.
Segundo Laurell e Noriega (1989), a saúde dos trabalhadores, de qualquer forma, é
uma área prioritária de investigação, pois se mostra como um tema privilegiado para a
construção de um novo modo de entender e analisar a saúde-doença coletiva enquanto
processo social.
As atividades científicas na grande maioria são concebidas para atender as
necessidades do homem, sendo que a complexidade dos procedimentos, em geral, pode gerar
muitas incertezas quanto à segurança de suas aplicações, pois, quando realizadas
indevidamente, seus efeitos sobre a saúde humana, animal e, especialmente, sobre o meio
ambiente, podem ser imprevisíveis e irreversíveis. Para Roza et al (2003), atividades
insalubres são fato de, impossível eliminação; porém, existe a possibilidade da minimização e
eliminação das condições insalubres, seja em função de mudanças nos processos de trabalho,
seja pelo estabelecimento de medidas de controle individual e/ou coletivo.
Normalmente, os profissionais da área científica não estão treinados e capacitados
suficientemente para identificar outras variantes da questão da segurança do trabalho, pois
muitos agentes de riscos importantes ficam camuflados, não são percebidos e na maioria das
vezes são indutores de situações de maior complexidade para os trabalhadores. Por exemplo:
um microbiologista no laboratório, quando do desenvolvimento de uma atividade, a executa
com extrema segurança, cercando-se de todos os cuidados para não se auto contaminar
(dependendo do microorganismo, o mesmo pode gerar doenças graves) e impedir a
contaminação ambiental. Ainda no mesmo ambiente, esse mesmo microbiologista está
cercado de vários instrumentos, equipamentos e produtos químicos, que oferecem danos a sua
saúde, mas que não são considerados. Quando na necessidade em manipular um ácido forte
(extremamente corrosivo) ou algum solvente orgânico (inflamável e tóxico) ignora o quanto
esses produtos afetam a sua saúde. Além disso, pode também estar inserido num laboratório
onde as normas de segurança não são implementadas e ficar exposto a inúmeras condições
inseguras (fornecidas pelo próprio ambiente) que podem levar a situações emergenciais.
Quando se objetiva uma abordagem de assuntos ligados à biossegurança, é preciso que
fique registrado que no Brasil a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), por
intermédio da Legislação de Biossegurança estabelece as normas de segurança e mecanismos
de fiscalização do uso das técnicas de Engenharia Genética na construção, cultivo,
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2. Metodologia adotada
3. Cronologia da Biossegurança
Nos anos 70, governos e grupos de cientistas implementaram debates sobre a questão
da biossegurança, e surgem propostas que visavam as normatizações nessa área,
principalmente no que diz respeito à prevenção ou minimização da exposição dos
trabalhadores, lançando-se mão de uma infraestrutura adequada, e das medidas de segurança
biológica. Ainda nessa década, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definia a
biossegurança como: "práticas preventivas para o trabalho com agentes patogênicos para o
homem" (WHO, 1993).
Em 1974, o Centers for Disease Control (CDC) elaborou e publicou um manual sobre
classificação de agentes etiológicos com base no risco. Esse manual passou então a ser
considerado referência para algumas atividades com agentes infecciosos em laboratórios, e foi
reeditado como manual de “Biossegurança em Laboratórios Microbiológicos e Biomédicos” .
O National Institutes of Health (NIH, EUA) publicou também em 1974, o manual
“Guia de Segurança para Biorisco”. Nesse manual, é enfatizada a necessidade de controle do
bio-risco para evitar acidentes e infecções em trabalhadores de laboratório e para assegurar a
validade do trabalho de pesquisa evitando contaminações. Segundo Sant’ Ana (1996), é
também do NIH a iniciativa das primeiras diretrizes referentes a biossegurança, onde em 1976
esse instituto divulga normas de segurança laboratorial que deveriam ser obrigatoriamente
observadas pelos projetos que contassem com verbas federais.
No inicio de 1975, a Academia de Ciências dos Estados Unidos convocou cientistas
para uma reunião, onde a proposta central era a de discutir, entre outros temas, parâmetros de
contenção física e biológica e classificação das manipulações genéticas, conforme os riscos
apresentados. Neste evento, propôs-se, ainda substituir a expressão que era empregada, “Bio-
risco” pelo termo “” (Carvalho, 2003).
Até 1978, muito pouco se tinha em em legislação relativa à avaliação profissional no
Brasil, e neste ano então, o Ministério do Trabalho publicou a Portaria 3.214/78 que
estabelece, em sua Norma Regulamentadora Nº 15 (NR 15), o Limite de Tolerância, que é
definido, no item 15.1, como: a concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada
com a natureza e o tempo de exposição aos agentes que não causarão danos à saúde do
trabalhador, durante a sua vida laboral (Carvalho, 2003).
Em 1992, o Rio de Janeiro foi sede da Convenção de Biodiversidade, evento
integrante da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento
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4. R e s u l t a d o s e d i s c u s s ã o
comprometer a integridade do pessoal ali inserido, tendo em vista que além do fogo a fumaça
gerada pode levar à morte as pessoas por asfixia.
É imprescindível que em todos os laboratórios estejam disponíveis manuais de e de
operações, adaptados às suas atividades específicas, que identifiquem os possíveis riscos e
apontem as ações e práticas que os minimizem ou eliminem. Devem estar disponíveis para
todos os trabalhadores sendo ainda recomendável que haja um espaço de discussão/reflexão
sobre seu conteúdo (Marinho, 1977).
Certamente é preocupante o fato de que em muitos laboratórios, o quadro técnico é
multi-profissional, isto é, composto por profissionais com formações diferenciadas. Esse
conjunto de trabalhadores pode não apresentar a vivência e experiência requeridas no que
tange às questões relacionadas aos riscos químicos. A partir daí, tornam-se alvos fáceis da
contaminação química, o que pode acarretar prejuízos irreversíveis relacionados à saúde.
A recomendação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), estabelece que aos
Serviços Médicos de Empresas compete:
“Assegurar proteção dos trabalhadores contra todo risco que prejudique a sua
saúde e que possa resultar de seu trabalho ou das condições em que este se efetue;
Contribuir à adaptação física e mental dos trabalhadores, em particular pela adequação do
trabalho aos trabalhadores e pela sua colocação em lugares de trabalho correspondentes às
suas aptidões e Contribuir ao estabelecimento e manutenção do nível mais elevado possível
do bem-estar físico e mental dos trabalhadores”.
O avanço da ciência como um todo, principalmente no que se refere à tecnologia, a
busca constante da qualidade dos produtos finais, a necessidade de se adotar normas de
segurança nas instituições que visam à integridade física do trabalhador e do patrimônio, e o
rigor das legislações, podem vir a contribuir para a redução dos acidentes nas dependências
dos laboratórios.
Visando comentar as definições legais dos agentes potenciais de danos – riscos – à
saúde do trabalhador, citam-se os itens que seguem que fazem parte da Norma
Regulamentadora (NR 9) – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. Esta norma
Regulamentadora a obrigatoriedade da elaboração e implementação, por parte de todos os
empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, do Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, visando a prevenção da saúde e da integridade dos
trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e conseqüente controle da
ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho,
tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais.
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São considerados agentes físicos dentre outros as diversas formas de energia a que
possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, pressões anormais,
temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, iluminação, umidade
bem como o infra-som e ultra-som. Os agentes biológicos são, dentre outros: as bactérias,
fungos, rickettsia, helmintos, protozoários e vírus. Os agentes químicos são, dentre outros; as
substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória,
nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da
atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo através da pele
ou por ingestão.
Consideram-se, ainda, como riscos ambientais, para efeito das Normas
Regulamentadoras da Portaria 3.214/78, os agentes mecânicos e outras condições de
insegurança existentes nos locais de trabalho capazes de provocar lesões à integridade física
do trabalhador.
Um agente químico é caracterizado como toda a substância orgânica ou inorgânica,
natural ou sintética que, pode contaminar a atmosfera do ambiente de trabalho, bem como
acarretar danos aos trabalhadores durante a fabricação, manuseio, transporte, armazenamento
ou uso.
A inalação de vapores de solventes pode gerar efeitos tóxicos, e, ainda provocar
transtornos dos mais variados como a falta de coordenação, sonolência e isso aumentar a
possibilidade de acidentes graves. A partir daí,sugere-se que os profissionais desenvolvam
suas atividades sempre em ambientes ventilados e acompanhados de outros colegas de modo
que na eventualidade ao aparecimento de algum sintoma característico do uso do solvente,
haja intervenções imediatas. A maior parte dos solventes orgânicos além de produzirem
danos ao sistema respiratório podem produzir também lesões cutâneas em caso de contato
prolongado e rotineiras com os mesmos. A lesão na pele deve-se à capacidade que tem o
solvente de agir na camada de gordura natural ali encontrada o que acarreta os muitos efeitos
corrosivos levando à alergias (Carvalho 1999).
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dermatites, etc.
Alguns produtos químicos podem causar mutações, dentre
Óvulos, eles os que emitem radiações ionizantes (radioativos),
espermatozóides, feto césio, urânio, rádio, etc.
Fonte: Segurança Química. Risco Químico no Meio Ambiente de Trabalho 1999
Agentes Características
Partículas inertes que quando inaladas não produzem
mudanças nos tecidos pulmonares, mas causam desconforto
Incômodos
ou irritações menores. Como exemplo: o gesso, mármore,
caulim.
Causam mudanças físicas na estrutura dos pulmões com
aparecimento de nódulos e fibrose restringindo a capacidade
Fibrogênicos
de troca gasosa. Como exemplo: a sílica cristalina e o
amianto.
Partículas quimicamente ativas que irritam, inflamam e
ulceram o trato respiratório. Causam desconforto imediato.
Irritantes
Como exemplo: as névoas ácidas e alcalinas.
Produzem calafrios seguidos de febre intensa, efeitos que
podem demorar horas, após a exposição, para aparecerem.
Produtores de febre
Como exemplo: os fumos de zinco e de cobre.
Causam danos a órgãos e sistemas do corpo humano. Como
exemplo: os compostos solúveis de cádmio, chumbo,
Sistêmicos
manganês.
Podem causar reações alérgicas mesmo em pequenas
concentrações. Com exemplo tem-se o pólen, pêlos de
Alergênicos
animais, resinas, fungos, metais.
Cancerígenos Após períodos latentes podem produzir câncer. Como
l t i t t di líd
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Muitas substâncias químicas podem afetar a saúde dos profissionais quando esses
estão a frente de atividades que os obrigam à manipulação ou inalação de vapores. As muitas
substâncias químicas existentes apresentam variados efeitos tóxicos e podem afetar o
profissional promovendo lesões nas vias respiratórias, sangue, pulmões, fígado, rins e no
aparelho gastrintestinal, assim como em outros órgão e tecidos podendo gerar os mais graves
efeitos. É sabido que certas substâncias químicas podem ser agentes carcinogênicos e
teratogênicos.
Muitos países publicam listas de substâncias químicas perigosas, que mostram os
níveis máximos admissíveis. Existem também publicações de referência sobre substâncias
químicas tóxicas e perigosas e sobre riscos radiológicos.
5 . Conclusão
um responsável que conheça ou possa avaliar os riscos envolvidos em uma operação rotineira
ou emergencial. Nos laboratórios em geral, um consultor geral ou higienista deve ser indicado
para dar suporte de informações e supervisão geral e, pelo menos, analisar criticamente os
procedimentos utilizados nos como uma pessoa externa ao grupo. A experiência mostra que
esta visão dissociada do grupo de trabalho é indispensável como elemento facilitador da
análise de riscos simples que possam ser negligenciados.
Com a finalidade de se minimizar ou, até mesmo, eliminar dos ambientes de trabalho,
ou seja, dos laboratórios, a possibilidade da geração de acidentes que podem afetar
sobremaneira a saúde dos profissionais, é preciso que se identifiquem todas as atividades no
laboratório onde há o uso de produtos químicos, e a partir daí, buscar as informações
pertinentes aos produtos principalmente quanto aos riscos químicos ocupacionais a que estão
expostos os trabalhadores.
Trabalhos que para serem executados, necessitam do uso de produtos químicos devem
ser realizados dentro das mais rígidas normas de segurança, estando os executores
devidamente protegidos, além daqueles que direta ou indiretamente estejam participando na
condição de auxiliares. Os acidentes de trabalho e as doenças ocupacionais originadas pela
exposição indevida aos agentes químicos não somente acarretam danos aos trabalhadores,
como igualmente afetam financeiramente as instituições, trazendo também prejuízos aos
cofres públicos da nação quando essas são instituições públicas.
Neste sentido, conclui-se que é de extrema necessidade que se implemente, de forma
patente, diagnósticos dos riscos químicos a que estão submetidos os trabalhadores de
laboratórios, visando subsidiar os mesmos com informações importantes e necessárias para o
desenvolvimento de suas atividades, uma vez que se dá maior ênfase a questões relacionadas
aos riscos biológicos, enquanto os riscos químicos, em grande parte, são bem maiores,
principalmente quando somados aos riscos biológicos.
Outro ponto importante a considerar é o de alertar quanto aos riscos químicos, os
novos trabalhadores, principalmente os recém formados, estagiários e estudantes que
transitam por esse grandioso mundo da ciência, pois não são devidamente preparados pela
escola no decorrer da vida acadêmica. A cada ano as escolas lançam no mercado de trabalho
profissionais que não dispõem das mínimas noções básicas de segurança. Grande parte dos
acidentes que são gerados e que envolvem os profissionais inseridos em laboratórios de
instituições científicas, hospitais e universidades, é atribuída à deficiência nas informações
passadas ainda nos bancos escolares (Carvalho et al, 2001). Portanto, entende-se que a
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6. Referências Bibliográficas
HIRATA, M.H.; Mancini Filho, J. Manual de Biossegurança. São Paulo. Ed. Manole, 2002.