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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE ENFERMAGEM

REFLEXÃO TEÓRICA

GOIÂNIA-GO
2023
A realização do processamento de produtos de saúde é uma atividade de
extrema importância para o funcionamento dos serviços de saúde, esse
processamento é realizado no Centro de Material e Esterilização (CME) e engloba a
limpeza, o acondicionamento, a esterilização, a guarda e a distribuição dos artigos
odonto-médico-hospitalares. A limpeza é uma fase fundamental que define se o
processamento terá resultados eficientes ou não, pois, se a limpeza não for
realizada corretamente todos os outros processos falharam no objetivo, que é a
esterilização do produto visando a eliminação de todas as formas de vida microbiana
empregando métodos físicos, químicos ou a associação destes. Existem dois tipos,
a automatizada e a manual, esta última é a mais utilizada no Brasil e a que está
ligada diretamente à exposição de trabalhadores ao risco biológico. Essa situação
traz riscos concretos para a saúde do trabalhador como a exposição a doenças e a
agentes infecciosos, frequentemente presentes nos artigos processados, como o
HIV, a hepatite B e C, entre muitos outros.
É importante entender o porquê a limpeza manual traz um risco maior ao
trabalhador. Ela é realizada através da ação mecânica e repetitiva, essa técnica,
que, geralmente é aplicada em objetos que apresentam dobradiças, pontas,
ranhuras e faces afiadas aumenta a possibilidade de perfurações e acidentes
durante a realização do trabalho. Esse risco seria diminuído se as medidas de
segurança fossem realizadas por todos os trabalhadores da área, porém,
infelizmente não é a realidade vista dentro dos serviços de saúde. Dentre as
medidas de segurança estão as precauções padrões e o uso de EPI´s específicos,
sendo eles luvas nitrílicas, avental impermeável de manga longa, gorro, máscara,
óculos de proteção e sapatos impermeáveis, para que exista uma barreira entre os
produtos de saúde e o profissional evitando, assim, perfurações e o contato com
material biológico possivelmente infectante através de respingos. Outro fator
importante, dentro das medidas de biossegurança é a imunização dos trabalhadores
da área de saúde que está prevista apenas na NR 32 que deve ser oferecido
gratuitamente o programa de vacinação de acordo com o que é recomendado no
calendário de vacinação ocupacional para que, dessa forma, seja diminuído ou até
mesmo eliminado o risco de adquirir doenças caso ocorra um acidente ocupacional,
envolvendo material biológico. Nesse sentido, para exemplificar de maneira geral o
contexto vacinal dos trabalhadores um estudo epidemiológico sobre acidentes
envolvendo material biológico em expurgos de CME, o qual, foi realizado em cinco
hospitais de Goiânia com número de leitos igual ou superior a cem observou ao
analisar o esquema de vacinal contra a hepatite B dos 111 trabalhadores que
participaram que 83 (74,8%) trabalhadores receberam as três doses recomendadas,
enquanto os outros ou apresentavam quantidades de doses menores que o indicado
ou nunca haviam sido vacinados contra a hepatite B seis (5,4%). Outra medida de
proteção é o que fazer caso ocorra um acidente biológico é um processo com
diversas etapas entre elas a notificação do acidente de trabalho, a avaliação o tipo
de exposição, se possível avaliação sorológica da pessoa fonte ,a avaliação do
trabalhador exposto, o atendimento médico especializado em caráter de
emergência, com intervenções adequadas que iram variar de acordo com as
informações encontradas, acompanhamento e terapêutica pós exposição para
prevenção de infecções pelo HIV e hepatites B e C.
Como mencionado anteriormente, é comum a não utilização das medidas de
segurança dentro dos CME's, e constata-se diversos motivos para essa situação,
por exemplo, a falta de EPI´s que frequentemente não são disponibilizados pelos
gestores dos serviços de saúde os artigos recomendados e necessários para a
proteção dos trabalhadores dentro dos centros, disponibilizando materiais
ineficientes, a título de exemplo, está a utilização da luvas de procedimento ou a
cirúrgica no lugar das luvas nitrílicas grossas recomendadas. Um estudo verificou ao
analisar 300 luvas de procedimento/cirúrgica utilizadas por trabalhadores dentro de
um CME de um hospital de ensino de grande porte de Goiás que 135 destas
estavam perfuradas. Também foi constatado que diversos trabalhadores utilizavam
luvas sobrepostas na esperança de maior proteção, algo que ao ser analisado
mostrou que era uma técnica ineficiente pois, observou-se que em 34 de 58 havia
perfurações nas luvas externas e internas. A falta de informações também é uma
questão que influência a adoção das medidas de segurança, pois, se o trabalhador
não estiver ciente dos riscos a que está sendo exposto não verá motivos para seguir
de maneira constante e correta as normas de biossegurança recomendadas. Por
isso, é necessário dar a devida importância à educação permanente dentro dos
ambientes de trabalho, principalmente na área da saúde, local onde a
desinformação apresenta diversos riscos tanto para os trabalhadores como para os
pacientes, sendo assim, necessário a construção da percepção do risco. Ademais,
um fator que é recorrente para a não utilização dos EPI´s é o incômodo causado por
eles, o calor, a perder de parte do tato, e a falta de costume em utilizá-los
frequentemente, que em conjunto com a falta de supervisão acarreta no não uso
dessas ferramentas extremamente importantes para a segurança do trabalhador do
CME.
Em suma, está estabelecido o fato que os trabalhadores dos Centros de
Material e Esterilização (CME) estão em constante risco de acidentes e exposição a
materiais biológicos infectantes que podem causar danos à saúde. Sendo de
extrema importância a realização constante, completa e de maneira eficaz das
medidas de segurança recomendadas, e sua não utilização demonstra um desleixo
e descuido com a segurança destes indivíduos. É relevante pontuar, que, é uma
responsabilidade dos gestores e dos supervisores dos serviços de saúde a
biossegurança de seus trabalhadores e o comprimento das normas que asseguram
uma proteção maior contra os acidentes e riscos biológicos dentro do ambiente de
trabalho. Em virtude disso, é essencial o investimento de recursos na área do CME,
no que se refere a educação permanente dentro dos serviços de saúde visando a
instruir, informar e sensibilizar os trabalhadores. Também, é importante o
investimento econômico em EPI´s de qualidade e dentro dos padrões
recomendados, assim como, a substituição da limpeza manual para a limpeza
automatizada, que mesmo tento um investimento financeiro maior pode trazer
consequências positivas dentro do CME, entre elas estão a maior segurança para os
trabalhadores, a economia de tempo e insumos, e também a redução de carga
horária.
Referências bibliográficas

1. Tipple AFV, Aguliari HT, Souza ACS, Severino M, Mendonça ACC, Silveira C.
Equipamentos de proteção em centros de material e esterilização:
disponibilidade, uso e fatores intervenientes à adesão. Cienc Cuid Saude.
2007; 6(4):441-8.
2. Tipple AFV, Souza ACS, Almeida ANG, Souza SB, Siqueira KM. Acidente com
material biológico entre trabalhadores da área de expurgo em centros de
material esterilização. Acta Scientiarum. 2004; 26(2):271-8.
3. Trindade, Júnnia Pires de Amorim; Serra,Joyce Rutyelle da; Tipple, Anaclara
Ferreira Veiga. Índice de perfuração de luvas de procedimento/cirúrgica
utilizadas por trabalhadores do expurgo de um centro de material e
esterilização. Texto & Contexto-Enfermagem,v.25,2016.
4. Acidentes de Trabalho com Material Biológico.
Gov.br,2023.https://www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/regiao-sul
/hu-furg/comunicacao/noticias/acidentes-de-trabalho-com-material-biologic.
Acesso em: 14, fevereiro,2023.

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