Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Manual Prático Do Militar - Digital em PDF - 2 Edição - 2014
Manual Prático Do Militar - Digital em PDF - 2 Edição - 2014
E-MAIL: contato@diogenesadvogado.com.br
FACEBOOK: diogenesadvogado
SKYPE: advocaciadiogenesgomes
WHATZAP: 71 – 9625-8597
4 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014
MANUAL PRÁTICO
DO
MILITAR
Natal/RN
2014
DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 5
710 p.
ISBN 978-85-62862-10-6
2014/05
1. Direito Admistrativo. 2. Direito Penal. 3. Direito Administrativo. 4.
Direito Constitucional. 5. Direito Previdenciário. 6. Direito Processual.
I - Título.
CDD
344
CDU 344.1
6 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014
E-MAIL: contato@diogenesadvogado.com.br
diogenes@jaguartec.com.br
WWW.DIOGENESADVOGADO.COM.BR
OBS: Os interessados em contratar o Dr. Diógenes Gomes Vieira para palestras e aulas
de pós-graduação em Direito Militar, favor entrar em contato pelo seguinte telefone
(71) 3627-9968
DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 7
PÁGINA
EM
BRANCO
8 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014
Agradecimentos
A Olorum
À minha mãe Oxum
Ao meu pai Xangô
À minha mãe Lúcia de Oya
Obrigado.
DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 9
PÁGINA
EM
BRANCO
10 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014
Nota a 2ª edição
Após quase 5 (cinco) anos da publicação da 1ª edição do Manual Prático
do Militar, apresento-vos a 2ª edição atualizada, revisada e complementada.
Durante este intervalo publiquei 2 (dois) livros pela Juruá Editora
(www.jurua.com.br), obras inéditas e de grande importância ao Direito Militar:
COMENTÁRIOS AO ESTATUTO DOS MILITARES e CONCURSOS
PÚBLICOS MILITARES – TUTELAS DE URGÊNCIA – TEORIA E
PRÁTICA.
Não foi nada fácil chegar a 2ª edição, pois algumas autoridades militares
das Forças Armadas não gostaram da minha iniciativa de abrir os olhos dos seus
subordinados e tentaram impedir as vendas da 1ª edição, conforme foi amplamente
divulgado nos quarteis, na internet e nas redes sociais.
Ao representarem criminalmente contra este Autor perante o Ministério
Público Militar em 2010, chegaram ao absurdo de me acusarem de ter cometido
crimes militares e crime contra a Segurança Nacional (Lei 7.710/83) com a
publicação da 1ª edição do Manual Prático do Militar. Todavia, acabaram sendo
derrotados pela Democracia de nosso Brasil que não tolera mais autoritarismo
ditatorial das Forças Armadas.
O Ministério Público Militar não vislumbrou qualquer tipo penal comum
ou militar contra minha pessoa com a publicação da 1ª edição do Manual Prático
do Militar e arquivou a frágil e vergonhosa representação criminal oriunda do
Comando da Aeronáutica.
Para resumir, transcreverei trechos do despacho, datado de 04.06.2010, de
lavra do Procurador de Justiça Militar – Dr. Ricardo de Brito A. P. Freitas – que
ordenou o arquivamento das denúncias contra minha pessoa em decorrência da
publicação da 1ª edição do Manual Prático do Militar:
DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 11
Afirma o autor da notícia-crime que, da publicação do livro, haja vista seu conteúdo
e o público ao qual se destina, “podem advir males irreversíveis à Nação”, uma vez
que pode trazer risco à integridade física de militares, além de instaurar o caos no
âmbito interno, “caso os militares leiam e interpretem aquilo como verdade, sem
ousar duvidar da coerência das colocações do autor”.
Finaliza afirmando que “a repercussão negativa da referida obra poderá, se
nenhuma providência for adotada, incitar o rompimento dos Princípios da
Hierarquia e de Disciplina nos quartéis do Brasil”.
Diante de tudo isso, afirma o autor da notícia-crime, “é certo que o autor se vale
da referida obra para externar, de forma patente e notória, a intenção de ofender
e abalar o crédito das Forças Armadas, especialmente a Força Aérea, e ainda,
em tese, com que está escrito, incitar à desobediência, à indisciplina ou à prática
de crime militar” nos termos dos artigos 155 (crime e incitamento) e 219 (ofensa
às forças armadas) do Código Penal Militar, bem como da Lei nº 7.170/83 (Lei de
Segurança Nacional).
Uma breve pausa para uma reflexão: será que a 1ª edição do Manual Prático
do Militar era tão perigosa assim? Ou será que meu livro abriu os olhos dos
oprimidos pelo resquício do sistema ditatorial ainda vigente em alguns quartéis
de nosso Brasil?
Certamente, muitos leitores, principalmente os que forem da área jurídica,
devem estar pensando, no mínimo, nos seguintes incisos do art. 5º da CF/88:
A leitura da obra acostada aos autos não revela comportamento do autor do livro
que traduza incitamento à desobediência, indisciplina ou prática de crime militar.
A bem da verdade, os conselhos transcritos nos parágrafos anteriores poderiam,
perfeitamente, serem subscritos pelo Ministério Público Militar. Não é raro, de
forma alguma, que o órgão ministerial oriente oficiais – possíveis encarregados de
inquéritos policial-militares – a observar o direito do investigado a não produzir
prova contra si mesmo. No mesmo sentido, tem o Ministério Público Militar,
sempre que possível, alertado Comandantes militares acerca dos remédios legais
que podem ser utilizados contra eventuais abusos de autoridade, tudo com objetivo
puramente pedagógico e preventivo. Portanto, independentemente das motivações
profundas que movam o autor do livro em exame, tem-se que suas orientações não
discrepam daquelas fornecidas por advogados em geral aos seus constituintes e
pelo Ministério Público Militar às autoridades militares para que exerçam seu
mister nos termos do direito.
12 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014
Ademais, não se pode punir alguém – menos ainda um profissional do direito – por
estimular seus leitores, ainda que seja, na sua maioria, militares, a exercitarem o
direito de petição/representação assegurado pela Constituição da República (Artigo
5º, XXIV). Pode o militar, como qualquer cidadão, provocar o Ministério Público
em defesa dos seus direitos. Pode, igualmente, invocar a proteção jurisdicional
em defesa de sua liberdade de locomoção ou contra ato abuso em geral. Pode, por
fim, negar-se a realizar prova em seu desfavor, o que inclui manter-se em silêncio
ao ser interrogado em Juízo ou na fase pré-processual. Não existe regulamento
militar ou lei processual penal militar que possa se insurgir contra a vigência de tais
garantias em razão do princípio da hierarquia das normas, essencial à plenitude
do Estado democrático de direito.
No mesmo diapasão, não se pode censurar o bacharel e autor do livro pelo fato
dele aconselhar seus leitores a valer-se do princípio constitucional da proteção
judiciária (art. 5º, XXXV). Nenhuma lesão ou ameaça de lesão a direito pode ser
subtraído da apreciação do Poder Judiciário. Definitivamente, é preciso reiterar
que comandantes militares podem ter seus atos legitimamente questionados por
seus subordinados perante o Poder Judiciário, da mesma maneira, aliás, que os
integrantes do Ministério Público Militar e os magistrados militares. Ninguém está
acima da Constituição da República.
Isto posto, e por tudo o mais que dos autos consta, com fundamento nos dispositivos
constitucionais e legais anteriormente mencionados, o Ministério Público Militar
determina o arquivamento dos presentes autos nos termos do artigo 14, da Resolução
nº 51/CSMPM, de 29 de novembro de 2006.
Eu, praticamente, tive que reescrever o livro, conforme poderá ser observado
pelos leitores que adquiriram a 1ª edição.
Atendendo a pedidos, consta nesta edição alguns comentários sobre o Direito
Militar da Polícia Militar do Distrito Federal e de São Paulo, a fim de ser um
referencial para as Polícias e Bombeiros militares dos demais Estados.
Espero que gostem desta 2ª edição e sugiro a aquisição do meu livro
Comentários ao Estatuto dos Militares, pois é a interpretação da Lei 6.880/80
que rege o regime jurídico dos militares das Forças Armadas, sendo, inclusive,
útil aos militares das Forças Auxiliares.
O Autor
14 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014
Abreviaturas utilizadas
ADin - Ação Direta de Inconstitucionalidade
APF - Auto de Prisão em Flagrante
BANT - Base Aérea de Natal
CC - Código Civil
CD - Conselho de Disciplina
CE - Código Eleitoral
CF/88 - Constituição Federal de 1988
CINDACTA 3 - 3º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo
CJ - Conselho de Justificação
COJAER - Consultoria Jurídica-Adjunta do Comando da Aeronáutica
COMAR - Comando Aéreo Regional
CP - Código Penal
CPM - Código Penal Militar
CPP - Código de Processo Penal
CPPM - Código de Processo Penal Militar
CPC - Código de Processo Civil
DTCEA-NT - Destacamento de Tráfego e Controle do Espaço Aéreo de Natal
FONAJEF - Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais
FONAJE - Fórum Nacional de Juizados Especiais
ICA - Instrução do Comando da Aeronáutica
LC - Lei Complementar
IPM - Inquérito Policial Militar
I-16-PM - Instruções do Processo Administrativo da Polícia Militar de SP
OAB - Ordem dos Advogados do Brasil
OM - Organização Militar
MP - Medida Provisória
MPF - Ministério Público Federal
MPM - Ministério Público Militar
DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 15
16 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014
Sumário
NOTA À 2ª EDIÇÃO, 9
ABREVIATURAS UTILIZADAS, 13
DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 17
18 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014
DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 19
DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 21
22 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014
ANEXOS
BIBLIOGRAFIA, 691
DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 23
PÁGINA
EM
BRANCO
24 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014
Introdução
Caro leitor,
É uma enorme satisfação poder ter o privilégio de ter sua atenção, haja
vista seu interesse por esta Obra inédita, elaborada com base, principalmente,
em fatos reais ocorridos comigo nos anos de 2003 a 2007, quando era militar do
Comando da Aeronáutica.
Sou natural de Petrópolis/RJ, nascido em 1972, tendo ingressado na
Aeronáutica em 1989 quando tinha apenas 16 (dezesseis) anos de idade, formando-
me na Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAR) no final do ano de 1990 na
especialidade de Controle de Tráfego Aéreo.
Então, com 18 (dezoito) anos de idade era Sargento da Aeronáutica
na função de Controlador de Tráfego Aéreo, tendo iniciado minhas atividades
funcionais na Torre de Controle do Aeroporto Internacional Marechal Cunha
Machado – São Luis/MA - no início do ano de 1991, sob responsabilidade do
Destacamento de Tráfego e Controle do Espaço Aéreo de São Luís (DTCEA-SL).
Em 1998 fui transferido para o Destacamento de Tráfego e Controle
do Espaço Aéreo de Natal (DTCEA-NT), onde passei a trabalhar na Torre de
Controle do Aeroporto Augusto Severo e da Base Aérea de Natal (uma única torre
de controle: mesmos controladores e mesmas pistas de pouso e decolagem para
todas as aeronaves, sejam civis ou militares). Neste mesmo ano iniciei o Curso de
Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, tendo me formado no
final do ano de 2002. Em 2006, fui transferido ex officio, sem prévio pedido, para
o 3º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA
3), situado no Recife/PE, pois um ex-Comandante do DTCEA-NT achava que
minha presença nesta OM estava atrapalhando sua gestão.
Depois de meu filho Fábio, o Direito é minha segunda fascinação e paixão,
e por isso sempre fui dedicado aos estudos da Ciência do Direito. Todavia, conforme
meus conhecimentos jurídicos foram se acumulando, comecei a defender meus
DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 25
direitos que antes sequer os conhecia. Ocorreu, todavia, que passei a questionar,
juridicamente, alguns procedimentos irregulares que aconteciam no quartel e
principalmente no Controle de Tráfego Aéreo. Sendo que, obviamente, isso não
foi bem aceito por meus superiores hierárquicos, passando, então, a ser visto como
um problema.
Acredito que quase todos, sejam cidadãos civis ou militares, conheceram
as responsabilidades e peculiaridades da profissão de Controlador de Tráfego
Aéreo em decorrência da chamada crise aérea, iniciada no mês de setembro de
2006 com o choque de duas aeronaves, onde faleceram 154 (cento de cinquenta e
quatro) pessoas. A responsabilidade destes profissionais é tão delicada que alguns
Controladores que estavam trabalhando no dia trágico foram denunciados e estão
sendo processados por homicídio culposo, inclusive já houve condenação, porém
a sentença está em grau recursal.
Aproveito para homenagear meu colega de Turma da EEAR – Wellington
Rodrigues – ex-Presidente da Associação Brasileira dos Controladores de
Tráfego Aéreo (ABCTA) -, que com outros companheiros tiveram a coragem de
divulgar ao Brasil o perigo que é cruzar os céus deste País com a utilização de
equipamentos obsoletos, e muitas vezes, inseguros de tráfego aéreo. De uma coisa
tenho certeza por experiência própria: é comum que os superiores hierárquicos
obriguem os Controladores de Tráfego Aéreo a descumprirem as normas nacionais
e internacionais de tráfego aéreo.
Infelizmente, em decorrência da conhecida crise aérea, o Ministério Público
Militar denunciou vários Controladores de Tráfego Aéreo pelo cometimento,
em tese, de crimes militares. Mas tenho certeza de que se o Promotor Militar,
encarregado da denúncia, conhecesse realmente o que estava acontecendo com o
tráfego aéreo de nosso País, sem dúvidas, teria outro posicionamento.
No ano de 2003, após 12 (doze) anos de efetivo controle de tráfego aéreo,
decidi não aceitar mais descumprir a legislação de tráfego aéreo como queriam
meus superiores hierárquicos, pois tinha consciência das graves consequências
advindas de um acidente aéreo. E, então, resolvi sair por iniciativa própria (não
foi tão fácil) da função de Controlador de Tráfego Aéreo e assim começaram as
perseguições. E para me defender deles, utilizei os meios eficazes que conhecia, ou
seja, as armas jurídicas aprendidas no Curso de Direito, em bons livros jurídicos e
no excelente estágio realizado na Procuradoria Regional do Trabalho da 21ª Região
(Rio Grande do Norte).
Em maio de 2007 fui excluído da Aeronáutica e no mês de junho
deste mesmo ano obtive minha inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e
atualmente, possuo 03 (três) escritórios de Advocacia Militar situados no Rio
Grande do Norte, Pernambuco e Bahia, sendo que atuo em causas militares em
todo o Brasil. Em 2002 obtive aprovação no Exame de Ordem, todavia, não podia
me inscrever na Ordem dos Advogados, tornando-me, desta forma, Advogado,
posto que o art. 28, inciso VI, do Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/94) proíbe que
26 MANUAL PRÁTICO DO MILITAR - VERSÃO EM PDF - EDIÇÃO DE 2014
militares sejam Advogados. Assim, somente após voltar à condição de civil é que
pude ser Advogado.
A ideia desta Obra partiu do fato de que muitos militares desconhecem
seus direitos, ou se os conhecem, não sabem como os reivindicar e principalmente
a quem recorrer (autoridades administrativas, órgãos públicos, Poder Judiciário,
Ministério Público, etc), assim como eu também não conhecia. Então, acredito
que este livro irá beneficiar muitas pessoas, sejam civis ou militares, inclusive os
colegas Advogados que não dominam o direito administrativo militar e o penal
militar.
Nesta Obra jurídica especializada, altamente didática, procurei transcrever
dispositivos legais, doutrinas, jurisprudências e modelos práticos de peças judiciais,
a fim de facilitar o aprendizado. Utilizei uma linguagem bem simples, pois este
livro é destinado, principalmente, aos militares e demais leigos na seara jurídica.
Entretanto, quando tiver que usar termos técnicos jurídicos, farei os esclarecimentos
cabíveis em forma de rodapé. Quando iniciei o Curso de Direito, ficava incomodado
quando tinha que procurar em dicionários jurídicos os significados dos termos
jurídicos utilizados nos livros que estudava, e por isso resolvi incluir em forma
de rodapés breves explicações sobre estes termos peculiares do direito. Assim,
pretendo que o leitor não tenha a necessidade de procurar conceitos de termos
jurídicos em dicionários durante a leitura deste livro.
Decidi transcrever, durante minhas dissertações, os principais dispositivos
jurídicos pertinentes a cada capítulo e as jurisprudências correlacionadas,
objetivando facilitar o aprendizado e economizar o precioso tempo dos colegas
Advogados na elaboração de petições.
Finalizando, destaco que no ano de 2004, o então Comandante da Base
Aérea de Natal, um Coronel-Aviador, chamou-me em seu gabinete e disse: quem
manda aqui sou eu!, respondi-lhe o seguinte: estou apenas defendendo meus
direitos que estão na Constituição Federal de 1988!, ele respondeu assim: tá
tudo errado, eu sou a lei, mando aqui e pronto! Este Coronel, no final de 2005,
descobriu que acima dele existia uma Constituição, pois, por minha iniciativa foi
denunciado pelo Ministério Público Federal pela prática do crime de Abuso de
Autoridade, conforme será relatado neste livro.
Obrigado, mais uma vez por sua atenção e que Deus e meus Anjos da
Guarda me ajudem a ser o mais simples, compreensível e didático possível, a fim
de que a 2ª edição deste livro continue a ajudar muitas pessoas, principalmente
os militares, pois a Ditadura Militar ainda está viva dentro dos quartéis deste País
Democrático.
DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 27
Capítulo 1
1. Introdução
Não há melhor instrumento de coação no meio castrense do que a punição
administrativa por cometimento de transgressão disciplinar: é o temor de todo
militar desde o ingresso na carreira e é o principal instrumento da efetivação de
perseguições, sequer precisando tecer maiores comentários, pois quem é ou já foi
militar sabe do que me refiro.
Mas, por que é o melhor meio de coação? Porque o Judiciário está impedido,
constitucionalmente, de adentrar no mérito da punição disciplinar, ou seja, há
proibição constitucional implícita no sentido de que o Judiciário analise se uma
punição foi justa ou injusta1.
Este tópico permitirá entender o que é a transgressão disciplinar e como
é procedida a sua apuração no processo administrativo castrense, pois, mesmo
em sede de punição disciplinar é obrigatória a efetivação de regular processo
1
O tema será mais bem explanado quando discorrermos sobre o habeas corpus nas transgressões disciplinares.
Mas, todavia, é interessante a leitura da seguinte decisão judicial:
ADMINISTRATIVO. MILITAR. EX-CADETE DA ACADEMIA MILITAR DAS AGULHAS NEGRAS
(AMAN). ATO DE EXPULSÃO. PUNIÇÃO DISCIPLINAR DE CARÁTER REPRESSIVO. PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO REGULAR. OBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. NULIDADE.
IMPOSSIBILIDADE. DISCRICIONARIEDADE DA ADMINISTRAÇÃO. IMPROVIMENTO. I - Em ações
que versam sobre o controle jurisdicional do processo administrativo, a atuação do Poder Judiciário se limita
à análise da regularidade do procedimento, não lhe sendo permitida qualquer incursão no mérito para aferir
a conveniência e a oportunidade da decisão tomada pela autoridade administrativa. II - Na espécie, restou
devidamente provado nos autos que o ato de desligamento e de expulsão do autor da AMAN somente ocorreu
após a realização de regular sindicância, instaurada por autoridade competente, na qual foram assegurados os
direitos ao contraditório e à ampla defesa, e que a punição foi aplicada de acordo com a legislação que rege
a disciplina militar e considerando a vida acadêmica do sindicado e a gravidade dos fatos. III - Manutenção
da sentença pelos seus próprios fundamentos. Apelação improvida. (TRF5 - AC 00034524020104058100 - 4ª
Turma - Rel. Des. Federal Marco Bruno Miranda Clementino - DJE de 02.08.2012, p. 684)
2
Quanto às polícias e bombeiros militares, cada Estado possui legislação própria.
3
Há uma norma que complementa este Decreto: Portaria 782/GC3, de 10 de novembro de 2010.
4
A Portaria PMDF 484, de 12/12/2005, aprovou as instruções para a aplicação do RDE no âmbito da PMDF.
5
Art. 1°. Aplica-se à Policia Militar do Distrito Federal e ao Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal o
Regulamento Disciplinar do Exército (RDE), aprovado pelo Decreto Federal n° 4.346, de 26 de agosto de 2002.
6
Na Marinha o termo utilizado é contravenção disciplinar.
7
O Capítulo 16 trata do estudo da hierarquia das normas jurídicas no direito brasileiro.
8
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO MILITAR. (...). 1. No que diz respeito à alegação de ausência
de provas contundentes sobre a autoria e a materialidade do ilícito, descabe ao Judiciário imiscuir-se no mérito
do ato administrativo, circunscrevendo-se seu exame apenas aos aspectos da legalidade do ato. Nesse sentido,
destaco que o agravante, em suas razões recursais, não apontou nenhum vício no processo administrativo que
tenha resultado em sua exclusão das fileiras da corporação, insurgindo-se apenas quanto às questões de mérito
do ato impugnado. 2. (...). 3. Quanto à matéria referente à aplicabilidade da Súmula 56/STF, a jurisprudência
do STJ firmou que, havendo lei que determine sanção disciplinar aos militares da reserva, deve ser afastado
o disposto no referido enunciado sumular. 4. Agravo Regimental não provido. (STJ - AgRg no RMS 38.072/
PE - Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN - SEGUNDA TURMA - julgado em 28/05/2013, DJe 31/05/2013)
9
A Súmula nº 56 do STF (Militar reformado não está sujeito à pena disciplinar) é de 1963, ou seja, anterior
aos decretos disciplinares das Forças Armadas e à Lei 6.880/80, logo, está ultrapassada. Os decretos disciplinares
castrenses preveem que o militar da ativa, da reserva remunerada e reformado estão passíveis de punição disciplinar.
Pode-se destacar o art. 2º do Decreto 4.346/02 (Exército): Estão sujeitos a este Regulamento os militares do
Exército na ativa, na reserva remunerada e os reformados. O STJ já analisou a aplicabilidade desta Súmula nº
56, quando assim decidiu:
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. (...). 1. (...). 3. Havendo expressa previsão na legislação quanto
à possibilidade de aplicação de sanção disciplinar aos militares reformados, é de ser afastada a incidência
da Súmula n.º 56 do Supremo Tribunal Federal. 4. (...). (STJ - REsp 1121791/RJ - Rel. Ministra LAURITA
VAZ - QUINTA TURMA - julgado em 04/10/2011, DJe 14/10/2011)
10
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 14ª ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2002. p. 429.
11
No meio militar é muito comum que superiores, a fim de não instaurarem processos disciplinares, e por
consequência, decretarem detenções ou prisões disciplinares, darem castigos (ex.: serviços extras, trabalhos
após horário do expediente, dentre outros) informais aos militares. Ocorre que tais castigos são, na prática,
punições disciplinares, podendo, sem dúvidas, haver questionamento judicial, haja vista a ausência de prévio
processo administrativo.
12
Utilizei a palavra mera, pois é possível que o militar seja punido com advertência verbal que sequer, dependendo
do regulamento disciplinar, será anotada na sua ficha funcional.
13
Caso outro procedimento, como a sindicância militar, permitir ao militar o contraditório e a ampla defesa, não
será necessária a instauração de processo disciplinar específico para punir o militar, ou seja, a punição poderá
ser imposta nos autos da própria sindicância.
14
Será estudada no Capítulo 2.
15
Será estudado no Capítulo 3.
16
HABEAS CORPUS - ANULAÇÃO DE PUNIÇÃO DISCIPLINAR MILITAR - CABIMENTO DO HABEAS
CORPUS - INCLUSÃO DE SOLDADO DA PM EM SINDICÂNCIA DISCIPLINAR NA FASE FINAL,
SEM OPORTUNIDADE DE DEFESA PRÉVIA - OFENSA AO CONTRADITÓRIO E À AMPLA DEFESA
- CONFIGURAÇÃO - ORDEM CONCEDIDA. 1. Não obstante a restrição do art. 142, §2º, da Constituição
Federal de 1988, a impetração do habeas corpus contra punição disciplinar militar mostra-se viável quando a
impugnação se volta a questões formais e legais inerentes aos pressupostos do processo disciplinar, sem incursão
no mérito da causa. 2. Padece de nulidade absoluta a punição disciplinar imposta a policial militar incluído
tardiamente em sindicância que já se encontrava na fase final, sem que fosse garantido ao novo sindicado o
exercício pleno da ampla defesa e do contraditório, inclusive com a apresentação de defesa prévia e indicação
das provas que pretende produzir. 3. Os princípios do contraditório, da ampla defesa e instrução probatória
são garantias constitucionais inerentes a qualquer procedimento judicial e administrativo, civil ou militar, de
modo que a inobservância desses preceitos eiva de nulidade absoluta todos os efeitos dali advindos. 4. Ordem
concedida. (TJDFT - Acórdão n.265856, 20060020035659HBC, Relator JOSÉ DE AQUINO PERPÉTUO - 2ª
Turma Criminal - j. 10/08/2006 - DJU de 11.04.2007, p. 118)
17
ADMINISTRATIVO. MILITAR. (...). 2. Jurisprudência do STJ assentou entendimento de que “na sindicância
instaurada com caráter meramente investigatória ou preparatória de um processo administrativo disciplinar
é dispensável a observância das garantias do contraditório e da ampla defesa” (STJ, 3ª Seção, MS 13958/
DF, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJE 01/08/2011). 3. Instaurado, posteriormente, o procedimento
administrativo para apurar a falta cometida pelo autor, com aplicação larga dos princípios do contraditório e
da ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes revestindo o ato com a devida legalidade. 4. Ausência
de nulidade do ato administrativo, restando prejudicado o pedido de indenização por eventuais danos morais.
5. Apelação improvida. (TRF5 - AC 00032208920104058500 - 3ª Turma - Rel. Des. Federal Marcelo Navarro
- DJE de 11.04.2013, p. 425)
18
Há uma norma jurídica inferior que complementa este Decreto: Portaria 782/GC3, de 10 de novembro de 2010
(Aprova a regulamentação da sistemática de apuração de transgressão disciplinar e da aplicação da punição
disciplinar).
19
Será estudado no Capítulo 13.
20
DUPLA PUNIÇÃO DISCIPLINAR APLICADA SOBRE O MESMO FATO E SEM A OBSERVÂNCIA
DA SISTEMÁTICA DE TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR PREVISTA NO DECRETO Nº 76.322/76 E NA
PORTARIA Nº 839/GC3/2003. NEXO CAUSAL PRESENTE. 1 - (...). 4 - No que se refere aos fatos, há prova
suficiente das ilegalidades praticadas pela ré, onde o autor foi submetido a prisões administrativas irregulares,
sem a observância das determinações contidas no Dec. nº 76.322/76 e na Portaria nº 839/GC3/2003, não havendo
prova de que tenha sido instaurado procedimento administrativo disciplinar, nem tampouco lhe tenha sido
assegurado direito à ampla defesa, sendo certo que na primeira prisão não foi fornecida qualquer alimentação
ao demandante no período de intervalo de cerca de 14 horas. A dor, humilhação e vexame passados pelo Autor
ocorreram no próprio ambiente de trabalho e foram praticados por seu superior, o que torna a situação ainda
mais grave e insuportável. 5 - Tem-se como nítida a configuração do dano moral sofrido pelo autor, em virtude
das agressões sofridas no ambiente militar, sendo satisfatório o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a título de
indenização por danos morais. 6 - Apelação provida. (TRF5 - AC 200680000070782 - Desembargador Federal
Francisco Wildo - Segunda Turma – DJE de 13/01/2011, p. 323)
21
Na Aeronáutica, o prazo para a apresentação de defesa escrita é de 5 (cinco) dias úteis, conforme previsão
disposta no inciso II do art. 4º da Portaria 782/GC3, de 10.11.2010, então vejamos:
Art. 4º A sistemática de apuração de transgressão disciplinar e de aplicação de punição disciplinar deve ser
conduzida de acordo com os seguintes procedimentos:
(...)
II - a autoridade que apura a transgressão disciplinar notificará o transgressor, na presença de duas testemunhas,
preferencialmente sendo observada a ascendência hierárquica, acerca da transgressão disciplinar que lhe é
imputada e entregar-lhe-á, mediante recibo, o Formulário de Apuração de Transgressão Disciplinar (FATD),
previsto no Anexo “A” a esta Portaria, e todos os documentos que dizem respeito ao fato objeto da apuração,
concedendo-lhe o prazo de cinco dias úteis para a devolução do formulário preenchido com as justificativas ou
alegações de defesa julgadas cabíveis, contados a partir do primeiro dia útil subsequente ao recebimento; (...)
22
Não me aprofundarei nas ilegalidades e inconstitucionalidades contidas em alguns regulamentos disciplinares
militares das Forças Armadas e Auxiliares, entretanto, poderá ser objeto de um futuro livro.
23
Esta portaria foi revogada pela Portaria 782/GC3, de 10.11.2010, que está em vigor.
para o paciente, bem como remetida a este Juízo cópia integral do procedimento
disciplinar de que trata o presente habeas corpus. Oficie-se, incontinenti. Com a
remessa da cópia do procedimento administrativo ora requisitada, ao Ministério
Público Federal e voltem conclusos para sentença.
24
Desde já, esclareço que é possível que um Juiz Federal entenda que, por exemplo, o RDAER não tenha nada de
ilegal, nada de inconstitucional e nada a ser suprimido; e já outro Juiz Federal entenda contrariarmente, e assim
por diante, e isso não é nada surpreendente, pois os Juízes julgam, em regra, de acordo com seu entendimento
pessoal sobre a lide e não raras vezes até contrariamente ao texto constitucional, e é por isto que existem os
recursos judiciais.
25
Não é porque consta explicitamente em um regulamento disciplinar que o militar tem direito ao contraditório e
à ampla defesa que, na prática, tais regras constitucionais serão cumpridas. Ressalte-se que o inciso constitucional
pertinente informa o seguinte: (...) contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (...)”.
Mas por qual motivo a Lei 9.784/99 é aplicável aos Regulamentos Militares
se já existem procedimentos específicos para os procedimentos necessários à
verificação da transgressão disciplinar? É que, como dito antes, há omissões e
mesmo dispositivos não recepcionados pela CF/88, assim como dispositivos
inconstitucionais. Ocorre que 2 (dois) são os fundamentos para tal aplicabilidade
nos processos administrativos disciplinares militares: a) o art. 1º, caput, estabeleceu
que a Lei 9.784/99 discorre sobre as normas básicas a serem aplicadas no processo
administrativo e b) o art. 69 da Lei 9.784/99 previu a possibilidade de sua utilização
de forma subsidiária, então vejamos:
Art. 1º. Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo administrativo no
âmbito da Administração Federal direta e indireta, visando, em especial, à proteção
dos direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins da Administração.
Sugiro a leitura do meu livro Comentários ao Estatuto dos Militares, publicado em 2013 pela Juruá Editora,
26
27
HABEAS CORPUS - PROCESSO ADMINISTRATIVO - SERVIDOR PÚBLICO MILITAR -
CERCEAMENTO AO DIREITO DE DEFESA - DECRETO Nº 4.346/02 - CONSTITUCIONALIDADE
- IMPROVIMENTO À REMESSA OFICIAL E AO RECURSO VOLUNTÁRIO. 1. A Constituição Federal
de 1988 assegura ao indivíduo, no processo judicial e administrativo, o devido processo legal. 2. Consiste em
violação ao princípio constitucional da ampla defesa e do contraditório, o ato do sindicante que, em sede de
processo administrativo militar, indefere indevidamente a oitiva de testemunhas arroladas pelo paciente. 3.
O Decreto nº 4.346/2002 é constitucional em razão de inexistência de vício formal consoante o resultado do
julgamento da ADI 3340/DF, eis que ao referido decreto compete tão somente de especificar as transgressões
militares. 4. Recurso e remessa oficial desprovidos. (TRF3 - RSE 00134987920114036105 - 5ª Turma - Rel. Juiz
Convocado RAfael Margalho - e-DJF3 Judicial de12.06.2012)
28
Ver o Capítulo 5 sobre Representação por Abuso de Autoridade.
SÚMULA VINCULANTE nº 5
A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não
ofende a Constituição.
29
Pode parecer absurdo tal proibição, mas isso acontece e não raramente, inclusive um colega Advogado que foi
contratado para acompanhar um processo disciplinar em quartel da Aeronáutica foi, inicialmente, proibido de
ingressar na sala de audiência, somente conseguindo, após insistir e alegar que estava exercendo sua profissão.
30
Se a prisão disciplinar for considerada ilegal, a autoridade militar competente poderá ser processada e julgada
por crime de abuso de autoridade, e ainda será cabível ação de indenização por danos morais e exclusão da
punição das alterações militares (ficha funcional militar).
31
Aproveito para transcrever outra Súmula Vinculante de interesse dos militares, trata-se da Súmula Vinculante
nº 6: Não viola a Constituição o estabelecimento de remuneração inferior ao salário mínimo para as praças
prestadoras de serviço militar inicial.
32
Entendo que o § 3º é inconstitucional, todavia, não será objeto de estudo nesta obra.
33
PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO. ART. 557, § 1º, CPC. MANDADO DE SEGURANÇA.
MILITAR. PUNIÇÃO ADMINISTRATIVA. INOBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
INERENTES AO PROCESSO. NULIDADE DECLARADA. RECURSO E REMESSA OFICIAL
IMPROVIDOS. SENTENÇA MANTIDA. AGRAVO PROVIDO. 1. Habeas corpus julgado pelo Superior
Tribunal Militar. Mesmos fatos. Pedido diverso da ação mandamental. Litispendência não verificada. 2. Punição
disciplinar. Prisão. Penalidade administrativa aplicada a militar sem observância dos princípios previstos no
artigo 5º, LV, da Constituição Federal. Nulidade. Precedentes. 3. Apelação da União e remessa oficial improvidos.
Sentença que concedeu a segurança mantida. 4. Agravo provido. (TRF3 - AMS 00129554320014036100 - 5ª
Turma - Rel. Des. Federal Paulo Fontes - e-DJF3 de 10/06/2013)
34
PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. ATO DISCIPLINAR MILITAR. PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO
DA DECISÃO DE PUNIÇÃO DISCIPLINAR MILITAR ANTES DO CUMPRIMENTO DA REFERIDA
PUNIÇÃO. DIREITO À AMPLA DEFESA. HABEAS CORPUS CONCEDIDO. 1. O controle de ato
disciplinar militar pelo habeas corpus somente é vedado no seu mérito, isto é, no que se refere a sua conveniência
e oportunidade, não se aplicando a vedação quanto à análise da legalidade da punição. Precedentes
jurisprudenciais do egrégio Supremo Tribunal Federal e deste Tribunal Regional Federal. 2. No caso presente,
depreende-se não ter sido oportunizado ao paciente o direito ao pedido de reconsideração da decisão de
punição disciplinar militar antes do cumprimento da referida punição, motivo pelo qual não se pode afirmar
ter ocorrido, na hipótese, a integral observância do direito à ampla defesa do ora paciente. 3. Habeas corpus
concedido. (TRF1 – HC nº 0014211-56.2012.4.01.0000/DF - 4ª Turma - Rel. Des. Federal Ítalo Fioravanti
Sabo Mendes - e-DJF1 de 14/09/2012, p. 393)
35
Os prazos para recorrer e pedir reconsideração contra aplicação de punição disciplinar devem ser observados
nos respectivos regulamentos disciplinares ou estatutos militares.
36
HC. REEXAME NECESSÁRIO. PUNIÇÃO DISCIPLINAR MILITAR. PRÉVIO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO. VÍCIO INARREDÁVEL. Há vício inarredável no procedimento administrativo disciplinar
se não foi oportunizado a apresentação de pedido de reconsideração e recurso administrativo. A interpretação
de que o recurso deve ser providenciado após já haver iniciado o cumprimento da penalidade faz tábula rasa
do princípio da ampla defesa e está em desacordo com o próprio Regulamento Disciplinar do Exército. (TRF4
- REOCR 00032647120094047110 - 8ª Turma - Rel. Des. Federal Luiz Fernando Wowk Penteado - D.E. de
27/05/2010)
37
Um exemplo é o art. 46 do RDM:
Art. 46. Àquele a quem for imposta pena disciplinar poderá, verbalmente ou por escrito, por via hierárquica e
em termos respeitosos, recorrer à autoridade superior à que a impôs, pedindo sua anulação ou modificação,
com prévia licença da mesma autoridade.
38
O art. 45 do RDM informa o seguinte:
Art. 45. Àquele a quem for imposta pena disciplinar será facultado solicitar reconsideração da punição à
autoridade que a aplicou, devendo esta apreciar e decidir sobre a mesma dentro de oito dias úteis, contados
do recebimento do pedido.
39
Art. 69. Os processos administrativos específicos continuarão a reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes
apenas subsidiariamente os preceitos desta Lei.
40
Art. 56. Das decisões administrativas cabe recurso, em face de razões de legalidade e de mérito.
§ 1º O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a decisão, a qual, se não a reconsiderar no prazo de
cinco dias, o encaminhará à autoridade superior.
(...)
Art. 63. O militar que representar contra o superior deverá observar as seguintes
disposições:
1 - a representação deve, sempre que cabível, ser precedida de pedido de
reconsideração do ato que lhe deu motivo;
2 - a representação, na esfera disciplinar, deve ser feita no prazo máximo de 15
dias corridos, a contar da data:
a) da solução do pedido de reconsideração;
(...)
4 - a representação é dirigida à autoridade imediatamente superior àquela contra
a qual é feita;
(...)
41
HABEAS CORPUS – (...). I – O art 142, § 2º da Constituição Federa não afasta o controle judicial da
legalidade do ato administrativo, mas apenas veda sua utilização para discutir a aplicação da pena disciplinar.
I – A legalidade de imposição de punição disciplinar de prisão a militar impõe a observância do devido processo
legal administrativo, de que são corolários a ampla defesa e o contraditório. II – O ato de autoridade militar que
impõe punição disciplinar a ser cumprida antes de decorrido o prazo estabelecido no Regulamento Disciplinar
da Aeronáutica para a interposição do pedido de reconsideração e que adota procedimento impossibilitando
a indicação de testemunhas de defesa, é ilegal, por não assegurar a garantia da ampla defesa ao acusado.
IV – Remessa Ex Officio desprovida. (TRF2 - REOCR 200951510090840 - 6ª Turma Especializada - Rel. Des.
Federal Frederico Gueiros - E-DJF2R de 03.03.2010, p. 333)
42
Teve um episódio muito interessante, para não dizer covarde, acorrido comigo quando militar da Aeronáutica:
recebi a notificação do resultado de um processo disciplinar às 11 horas quando estava no meio de uma formatura
militar (um ex-Comandante da BANT mandou um Oficial colher minha assinatura em plena cerimônia militar).
Foi decretado 10 (dez) dias de detenção disciplinar, sendo que, devido ao meio expediente daquele dia, deveria
me apresentar para o cumprimento da pena às 12 horas do mesmo dia, sem tempo sequer de pegar roupas para
passar 10 (dez) dias no Hotel de Trânsito. O ordenador desta ilegalidade foi o mesmo Coronel que, por minha
iniciativa, foi denunciado pelo crime de abuso de autoridade após uma representação efetivada por mim perante
o Ministério Público Federal. Ele recebeu o troco com juros e correção monetária por toda a covardia feita
naquele dia! Quando publiquei a 1ª edição do Manual Prático do Militar em 2009, este ex-Comandante ajuizou
ação judicial com o objetivo de proibir as vendas do livro, mas, felizmente, fracassou. A derrota deste Coronel
está discorrida em detalhes na página oficial deste livro na internet: www.manualpraticodomilitar.com.br
43
Já nas Forças Auxiliares, em regra, isso não acontece. Um exemplo é a Polícia do Rio Grande do Norte, onde
se aguarda o transcurso do prazo recursal para ser executada a punição disciplinar. E, caso o militar recorra da
decisão, é aguardada a decisão definitiva para prender o militar.
44
Caso, obviamente, não estejam presentes os requisitos autorizadores da manutenção cautelar preventiva.
Mas será que é possível utilizar o parágrafo único do art. 6145 em sede
administrativa disciplinar militar? De acordo com o TRF4 a resposta é afirmativa
sob o seguinte fundamento jurídico:
PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.
HABEAS CORPUS. TRANSGRESSÃO MILITAR. PRISÃO. RECURSO
ADMINISTRATIVO RECEBIDO SÓ NO EFEITO DEVOLUTIVO.
DESRESPEITO AOS PRINCÍPIOS DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. AMPLA
DEFESA E CONTRADITÓRIO. APLICAÇÃO DA LEI Nº 9.784/99. PORTARIA.
DISPOSITIVOS LEGAIS. MENÇÃO. DESNECESSIDADE. CONCLUSÃO
DA SINDICÂNCIA. FUNDAMENTO ANTERIOR. DECLARAÇÃO
DE CONCORDÂNCIA. POSSIBILIDADE. DECRETO Nº 4.376/02.
INCONSTITUCIONALIDADE. INOCORRÊNCIA. 1. Silenciando-se o
Regulamento Geral do Exército (Decreto nº 4.346/02) a respeito dos efeitos em
que serão recebidos os recursos administrativos, a Lei nº 9.784/99, que regula os
processos administrativos no âmbito da Administração Pública Federal, serve de
orientação. 2. O ato administrativo que determina pena de prisão enquadra-se na
exceção prevista no parágrafo único do artigo 61 da Lei nº 9.784/99, devendo o
respectivo recurso administrativo ser recebido no efeito suspensivo, uma vez que
o cumprimento da pena e sua posterior decretação de ilegalidade pela instância
superior, acarreta ao indiciado um dano de difícil reparação. 3. A Sindicância
tem o papel de analisar a existência do fato e as circunstâncias em que ele ocorreu,
razão pela qual na Portaria de Instauração não é necessária a menção expressa
aos dispositivos legais supostamente infringidos pelo sindicado. 4. De acordo
com a orientação determinada pelo parágrafo 1º do art. 50 da Lei nº 9.784/99,
a conclusão da Sindicância pode servir-se de fundamento descrito em relatório
anterior, a partir da simples declaração de concordância. 5. (...). (TRF4 – RSE
nº 2005.71.10.005137-8/RS – 7ª Turma – Rel. Juiz Federal Marcelo de Nardi - j.
20.06.06 - DJU de 28.06.2006)
45
RECURSO EM HABEAS CORPUS. TRANSGRESSÃO MILITAR. PUNIÇÃO DISCIPLINAR.
REPRESENTAÇÃO. EFEITO SUSPENSIVO. POSSIBILIDADE. I - Razoável admitir-se, nos termos do
parágrafo único do art. 61 da Lei 9.748/99, o efeito suspensivo à representação interposta contra punição
disciplinar, sob pena de prejuízo advindo da prévia execução da reprimenda. II - Recurso desprovido. (TRF1 -
RSE 200735020050707 - 3ª Turma - Rel. Juiz Federal Lino Osvaldo Serra Sousa (Conv.) - e-DJF1 de 12.12.2008,
p. 106)
46
PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. REEXAME NECESSÁRIO. TRANSGRESSÃO
MILITAR. PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. INOBSERVÂNCIA. (...). A
observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa, na apuração de transgressões disciplinares
e na aplicação das respectivas punições, é direito do militar, conforme previsto no referido Decreto. Sendo a
sanção disciplinar publicada no Boletim Interno Reservado e no dia seguinte o paciente recolhido à prisão,
sem que tivesse oportunidade de recorrer na esfera disciplinar, verifica-se a ilegalidade do ato impugnado
pela inobservância dos princípios do contraditório e da ampla defesa. (...). (TRF4 - REEXAME NECESSÁRIO
CRIMINAL nº 2009.71.00.029011-3 - 7ª Turma, Rel. Des. Federal MÁRCIO ANTÔNIO ROCH - D.E. 26.11.2010)
Tenho uma sugestão aos militares: parta do princípio de que você será
punido e prepare47 o pedido de reconsideração, requerendo que seja dado efeito
suspensivo ao mesmo, nos termos do art. 61 da Lei 9.784/99 e insira na petição a
jurisprudência acima transcrita.
Mas aí você poderá perguntar? Mas como fazer um pedido de reconsideração
sem saber a decisão final? Dá para fazer, claro que com certa dificuldade, porém,
bastará dizer que discorda da decisão punitiva e que requer a reforma da mesma.
Se for deferida a suspensão da execução da pena enquanto não analisado o pedido
de reconsideração, você terá tempo para preparar, se for o caso, um habeas corpus.
Mas e se após a oposição do pedido de reconsideração, a autoridade militar
negar o efeito suspensivo e executar a punição? Então, você terá uma grande
chance de conseguir um habeas corpus e a autoridade militar terá uma grande
oportunidade de ser processada civil, administrativamente e penalmente por abuso
de autoridade se a prisão executada for considerada ilegal pelo Poder Judiciário.
O § 1º do art. 46 do RDM é explícito ao informar que o recurso deverá ser
interposto após o cumprimento da punição, ou seja, a punição é executada antes
mesmo do início do prazo recursal, então vejamos:
Art. 46. Àquele a quem for imposta pena disciplinar poderá, verbalmente ou por
escrito, por via hierárquica e em termos respeitosos, recorrer à autoridade superior
à que a impôs, pedindo sua anulação ou modificação, com prévia licença da mesma
autoridade.
§ 1º O recurso deve ser interposto após o cumprimento da pena e dentro do prazo
de oito dias úteis.
(...)
47
Poderá fazer também o seguinte: faça uma procuração com poderes especiais e com firma reconhecida para
alguém, dando-lhe poderes para protocolar o pedido de reconsideração ou recurso em seu favor. Esta pessoa
de habeas corpus contra a punição disciplinar militar (art. 142, § 2º), excluindo,
da apreciação do Poder Judiciário, o mérito do ato administrativo punitivo
(conveniência e oportunidade). Entretanto, é admitida a impetração do writ, para
afastar vícios de legalidade, competência e forma do ato. II - Hipótese em que
impetrante não logrou demonstrar que o processo administrativo disciplinar foi
conduzido sem observância das normas regulamentadoras do procedimento ou
com ofensa ao princípio do contraditório. III - O art. 46, § 1º, do Regulamento
Disciplinar da Marinha - que exige o prévio cumprimento da pena como
condição para a interposição de recurso - não foi recepcionado pela Constituição
Federal, por afrontar os princípios constitucionais do devido processo legal, do
contraditório e da ampla defesa, previstos no art. 5º, LV, da CF/88, que visam
assegurar a paridade de armas entre os litigantes. IV - Remessa oficial improvida.
(TRF1 – REO 0004758-11.2011.4.01.3900/PA - 3ª Turma - Rel. Des. Federal
Assusete Magalhães - e-DJF1 de 30.03.2012, p. 305)
48
PENAL E PROCESSUAL PENAL. SENTENÇA CONCESSIVA DE ORDEM DE HABEAS CORPUS.
REEXAME NECESSÁRIO. [...] PENALIDADE DE PRISÃO. IMEDIATO CUMPRIMENTO.
IMPOSSIBILIDADE. [...] 8. Nessa perspectiva, a abertura de prazo recursal após o início do cumprimento
da penalidade de prisão disciplinar é interpretação que esvazia o sentido da previsão de existência do próprio
recurso, porquanto resultaria absolutamente ineficaz sua interposição quando já preso o militar, considerando,
no caso concreto, a irreversibilidade dos efeitos da punição imposta, devendo ser mantida, no ponto, a
sentença atacada. (TRF4 - RSE nº 5000877-60.2012.404.7120 - 8ª Turma - Rel. Des. Federal VICTOR LUIZ
DOS SANTOS LAUS - j. 04.09.2012).
49
Artigo 57. O pedido de reconsideração de ato é recurso interposto, mediante parte ou ofício, à autoridade que
praticou, ou aprovou, o ato disciplinar que se reputa irregular, ofensivo, injusto ou ilegal, para que o reexamine.
(...)
§ 2º O pedido de reconsideração de ato, que tem efeito suspensivo, deve ser apresentado no prazo máximo de
5 (cinco) dias, a contar da data em que o militar do Estado tomar ciência do ato que o motivou.
50
Artigo 58. O recurso hierárquico, interposto por uma única vez, terá efeito suspensivo e será redigido sob
a forma de parte ou ofício e endereçado diretamente à autoridade imediatamente superior àquela que não
reconsiderou o ato tido por irregular, ofensivo, injusto ou ilegal.
Capítulo 2
Sindicância Militar:
Breves Comentários
2. Introdução. 2.1. Conceito, finalidade e natureza jurídica. 2.2. Contraditório
e ampla defesa constitucional. 2.3. Direito constitucional de permanecer em
silêncio. 2.4. Resultado da sindicância e processo administrativo disciplinar.
2.5. Transformação da sindicância em inquérito policial militar.
2. Introdução
Acredito ser interessante tecer alguns comentários sobre a sindicância militar,
em virtude de que, dependendo da sua conclusão, será possível a instauração51 de
IPM, caso o sindicante ou a autoridade delegante52 vislumbre indícios de crime
militar.
Para se ter ideia do que estou falando, citarei um exemplo ocorrido com
um grande amigo militar da Aeronáutica do Recife: em virtude de denúncia53 de
um civil contra ele em 2007, foi instaurada sindicância militar, a fim de investigar
supostos atos ilícitos praticados pelo militar. Ao final da sindicância, o sindicante
entendeu haver indícios de crime militar, e em decorrência do seu relatório foi
instaurado IPM.
51
PROCESSO CIVIL E MILITAR – (...). I – A conclusão da sindicância apurou suficientes elementos que
autorizaram a indiciação do impetrante por delito militar, em face a ter ele molestado sexualmente menor
de onze anos. II – Sindicância originou a instauração do Inquérito Penal Militar nº 5/01, que concluiu pelo
indiciamento do impetrante por prática dos crimes militares tipificados nos arts. 233 e 236 do Código Penal
Militar, opinião corroborada pelo Ministério Público vinculado à instituição, que reconheceu indícios de autoria
e materialidade dos crimes apontados, oferecendo denúncia contra o impetrante, instaurando-se a ação criminal
distribuída sob o nº 4/01 -9, em trâmite na 6ª Auditoria da 1ª Circunscrição Judiciária Militar. (...). (TRF2 - AMS
200202010290600 - 1ª Turma - Des. Federal Julieta Lídia Luns - DJU de 25/10/2004, p. 131)
52
Em regra, não é a maior autoridade militar da OM que atua como sindicante, esta função é delegada pelo mesmo
aos seus subordinados, todavia, esta autoridade pode ter conclusão diferente do sindicante, conforme se poderá
observar na leitura das normas internas de cada Força Armada sobre sindicância. É que, em regra, o sindicante
faz o relatório com a sua conclusão, mas a autoridade delegante poderá discordar do entendimento do sindicante.
53
(...). 1. A denúncia anônima acerca de irregularidade cometida por servidor público, tomadas as devidas
cautelas, deve ser investigada, uma vez que constitui dever funcional da autoridade responsável zelar pelos
princípios da legalidade e moralidade administrativas, tendo em vista o interesse público. 2.(...). (TRF5 - AG
200605000655343 2ª Turma - Rel. Desembargador Federal Luiz Alberto Gurgel de Faria - DJ de 13.02.2008,
p. 2183)
4.2.1 A autoridade competente para decidir sobre a sindicância será sempre aquela
que a instaurou, devendo fazer publicar a solução em Bol Intr ostensivo ou sigiloso,
conforme o caso, e definir o local onde a mesma será arquivada.
4.2.2 A solução da sindicância deverá ser explícita, clara, coerente, com a indicação
dos fatos, e necessariamente fundamentada.
54
Portaria 545/GC3, de 17 de maio de 2006. Foi elaborada com a contribuição do COJAER (Consultoria Jurídica-
Adjunta do Comando da Aeronáutica).
55
Ver tópico 3.2.5.
Art. 397. Se o procurador, sem prejuízo da diligência a que se refere o art. 26, n°
I, entender que os autos do inquérito ou as peças de informação não ministram os
elementos indispensáveis ao oferecimento da denúncia, requererá ao auditor que
os mande arquivar. Se este concordar com o pedido, determinará o arquivamento;
se dele discordar, remeterá os autos ao procurador-geral.
1.2.11 SINDICÂNCIA
No âmbito do COMAER, é o procedimento sumário, formal e escrito, de caráter
meramente investigatório, utilizado para a apuração de fatos ou ocorrências
anômalas que não constituam crime, as quais, caso confirmadas poderão ensejar
a abertura do competente processo.
1.2.12 SINDICANTE
Encarregado da sindicância por determinação de autoridade instauradora.
1.2.13 TESTEMUNHA
Pessoa que atesta a veracidade de um ato ou que presta esclarecimentos a cerca
de fatos que são perguntados, afirmando-os ou negando-os.
56
Em 2004, quando era militar, fui submetido a uma sindicância militar que foi instaurada em virtude da
impugnação de minha candidatura às eleições municipais de 2004. Para mais informações sobre este caso, ver
Capítulo 15.
57
Não existe uma norma única às Forças Armadas disciplinando a sindicância, assim, cada Força Armada possui
legislação específica.
58
No âmbito da Aeronáutica, pelo menos, é possível que o sindicante seja Oficial ou Graduado, dependendo do
caso concreto.
59
Obviamente, somente constará o nome do sindicado na portaria se já for do conhecimento da Administração
Castrense. A sindicância poderá ser instaurada sem que se saiba quem é o investigado (sindicado).
60
No entendimento do STF, é permitido o contraditório diferido no inquérito policial, conforme ensinamento
contido na seguinte decisão do TRF2:
APELAÇÃO. ADMINISTRATIVO. MILITAR. REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS. PROCESSO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA
RESPEITADOS. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO DANO. IMPROVIMENTO. 1. O cerne da questão
consiste na anulação de sanções administrativas de Cabo da Marinha e, em razão disso, a condenação da União
Federal à reparação por danos morais e materiais, decorrente da alegada nulidade da sindicância instaurada,
por afronta aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. 2. A jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal consagrou o entendimento do cabimento do contraditório diferido no inquérito policial
- a faculdade de o réu impugnar a perícia, requerer novos exames ou pedir esclarecimentos aos peritos,
consubstancia o contraditório. 3. O recurso não traz novos argumentos além daqueles já deduzidos - aliás,
consubstancia-se em mera cópia de termos da petição inicial - que não são capazes, por si só, de proporcionar
a reforma da bem lançada sentença proferida pelo Juízo a quo. 4. O apelante pleiteia ressarcimento por danos
morais, em decorrência de peculiaridades da vida castrense as quais tinha pleno conhecimento dos regulamentos
militares. 5. Em face dos argumentos acima deduzidos, conclui-se que a pretensão autoral é improcedente,
seja por ter a Administração agido em exercício regular de direito, seja pela ausência de qualquer prejuízo ao
apelante, prejuízo esse que é pressuposto do dano. 6. Apelação improvida. (TRF2 - AC 200651010148358 - 6ª
Turma Especializada - Rel. Des. Federal Guilherme Calmon Nogueira - E-DJF2R de 26.11.2010, p. 230)
61
Digo isso com base no item 2.9.3 da ICA 111-2, que prevê a oportunização de oferecimento de testemunhas
pelo sindicado, entretanto, tal permissão não significa que os direitos constitucionais ao contraditório e à ampla
defesa serão exercitados pelo sindicado. Diferentemente, todavia, é a norma do Exército sobre sindicância, onde
tais princípios estão inseridos no procedimento investigatório, conforme discriminado nos arts. 15 e 16 da Portaria
793, de 28 de dezembro de 2011 (IG 10-11).
62
HABEAS CORPUS. DENÚNCIA. AUSÊNCIA DE IPM. PROVAS EMPRESTADAS DE
SINDICÂNCIA. POSSIBILIDADE. Pedido de habeas corpus para desconstituir decisão judicial de
recebimento da denúncia, sob o fundamento de inexistência de IPM que dê suporte à Acusação. I - O
Inquérito é procedimento meramente administrativo e informativo para a formação da opinio delicti do
titular da ação penal, sendo até mesmo dispensável nos termos do artigo 28, alínea ‘a’, do CPPM. II -
Possibilidade de aproveitamento de provas indiciárias colhidas em diligências realizadas na Sindicância
instaurada por requisição do MPM, nos termos do art. 33, § 2º, do CPPM, e convertida em IPM, em
face da presença de crime militar, em tese, sendo ratificados os atos antes praticados pelo mesmo oficial
investigante. III - Segundo remansosa jurisprudência de nossos Tribunais, as eventuais irregularidades
do inquérito não afetam a ação penal. Habeas Corpus conhecido e ordem denegada, por falta de amparo
legal. Decisão unânime. (STM – HC 2002.01.033715-6 - Rel. Min. José Coêlho Ferreira - Decisão:
30/04/2002 29/05/2002)
63
Isso não ocorre, em regra, em sede de IPM.
64
Portaria 793, de 28 de dezembro de 2011.
65
O inciso I do art 19 da IG 10-11 assim dispõe:
Art. 19 - Os participantes da sindicância são:
I - autoridade nomeante: militar competente instaurador da sindicância;
66
O inciso 19 do Anexo I do RDE prevê que o militar estará passível de punição disciplinar quando trabalhar
mal, intencionalmente ou por falta de atenção, em qualquer serviço ou instrução.
67
O inciso 78 do Anexo I do RDE normatiza que o militar estará passível de punição disciplinar quando entrar
ou permanecer em dependência da OM onde sua presença não seja permitida.
68
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR MILITAR. REINTEGRAÇÃO. MINISTÉRIO DA AERONÁUTICA.
REVISÃO OU ANULAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO. LEI 9.754/99. NECESSIDADE DE RESPEITO
AO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DOS EFEITOS DE
SINDICÂNCIA A QUEM DELA NÃO PARTICIPOU. 1. A revisão ou anulação de ato administrativo, posta
pelo artigo 53, da Lei n. 9.754, de 29 de fevereiro de 1.999, não desconsidera a necessidade de se observar, além
dos direitos adquiridos, o devido processo legal, aí compreendido o respeito ao contraditório e à ampla defesa.
2. Como se verifica da situação de fato posta nos autos, em razão de conduta irregular de militar responsável
pela seleção dos recrutas, foram todos eles punidos de modo reflexo, sem que tivessem oportunidade de infirmar
as conclusões da comissão de sindicância. 3. Os autores não podem sofrer os efeitos de decisão administrativa
tirada em sindicância instaurada contra um militar da ativa dado que dela não participaram. 4. (...). (TRF3
- APELREEX 00028404020004036118 - 1ª Turma - Rel. Juiz Wilson Zauhy (Conv.) - e-DJF3 de 20.10.2011)
69
ADMINISTRATIVO. PUNIÇÃO DISCIPLINAR. INOBSERVÂNCIA DA GARANTIA CONSTITUCIONAL
DA AMPLA DEFESA. NULIDADE. Ofende o princípio do devido processo legal e da ampla defesa, garantia
constitucional insculpida no art. 5.º, LV, a punição imposta com base em sindicância meramente apuratória,
na qual se buscou elucidação de fatos e indicação de culpados, sem oportunidade para que o servidor pudesse
apresentar defesa. (TJDFT - Acórdão n.108551, APC3969396 - Relator Carmelita Brasil - 4ª Turma Cível - j.
15.06.98 - DJU de 07.10.1998, p. 75)
70
ADMINISTRATIVO. MILITAR. ANULAÇÃO DE SINDICANCIA. CUMPRIMENTO DO DEVIDO
PROCESSO LEGAL. DESOBEDIENCIA A ORDEM SUPERIOR CONFIGURADA. AUSÊNCIA DE DANO
MORAL. 1. (...). 2. Jurisprudência do STJ assentou entendimento de que “na sindicância instaurada com caráter
meramente investigatória ou preparatória de um processo administrativo disciplinar é dispensável a observância
das garantias do contraditório e da ampla defesa” (STJ, 3ª Seção, MS 13958/DF, rel. Min. Maria Thereza de
Assis Moura, DJE 01/08/2011). 3. Instaurado, posteriormente, o procedimento administrativo para apurar a
falta cometida pelo autor, com aplicação larga dos princípios do contraditório e da ampla defesa, com os meios
e recursos a ela inerentes revestindo o ato com a devida legalidade. 4. (...). (TRF5 - AC 00032208920104058500
- 3ª Turma - Rel. Des. Federal Marcelo Navarro - DJE de 11.04.2013, p. 425)
71
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. MILITAR TEMPORARIO EXCLUIDO DAS FILEIRAS DO
EXERCITO A BEM DA DISCIPLINA. A constituição assenta que “aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e
recurso a ela inerentes” (art-5, inc-55). Na sindicância realizada que culminou com a exclusão do militar das
fileiras do Exército, não foi oportunizada defesa ao acusado, pelo que o procedimento é nulo de pleno direito.
Remessa oficial desprovida. (TRF5 – AMS nº 9504110436/RS – 4ª Turma – Rel. Des. Federal João Surreaux
Chaga - j. 29.08.95 - DJ de 18.10.1995, p. 71.564)
72
Ver Capítulo 5.
73
Não ostentando a condição formal de indiciado.
74
A testemunha que no processo administrativo falsear a verdade, negar-se a falar ou omitir a verdade estará, em
tese, praticando o delito penal militar previsto no art. 346 do CPM:
Art. 346. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade, como testemunha, perito, tradutor ou intérprete,
em inquérito policial, processo administrativo ou judicial, militar:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
Aumento de pena
§ 1º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado mediante suborno.
Retratação
§ 2º O fato deixa de ser punível, se, antes da sentença o agente se retrata ou declara a verdade.
75
O mais prudente é estar acompanhado de um Advogado.
76
O sindicado (investigado) tem o direito a permanecer em silêncio, já a testemunha tem a obrigação de depor
sobre os fatos investigados na sindicância. Segue abaixo uma interessante decisão do TRF5:
PENAL. FALSO TESTEMUNHO. AUSÊNCIA DE DOLO. ABSOLVIÇÃO. 1. O crime de falso testemunho
(art. 342 do CP) exige a vontade livre e consciente do agente em fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade,
não sendo admitido na modalidade culposa. 2. Caso em que restou comprovado, pelos elementos probatórios
acostados aos autos, que a declaração prestada pelo acusado, perante a Comissão de Processo Disciplinar
instaurado contra servidor da FUNASA, na condição de testemunha, embora tachada de falsa, decorreu de
equívoco de sua parte, estando desprovida de qualquer intenção de macular a verdade dos fatos apurados no
referido processo administrativo. 3. Diante da ausência de dolo na conduta do réu, impõe-se o reconhecimento
da correção do decreto absolutório. 4. Apelação improvida. (TRF5 - ACR 200680000000718 - Rel. Des. Federal
Ivan Lira de Carvalho - Terceira Turma - DJE de 13.02.2012, p. 88)
77
Foi orientado a não responder nenhuma pergunta sobre o objeto da investigação, e felizmente, a sindicância foi
arquivada. Informo que a sindicância foi iniciada em virtude de um ofício enviado por um Coronel da Reserva
que queria que ele fosse punido disciplinarmente com nítido objetivo de perseguição e vingança.
78
Conforme dissertado anteriormente, se na sindicância for permitido ao militar o direito ao contraditório e à
ampla defesa, nos termos constitucionais, não será necessário a instauração de processo disciplinar específico
para punir o militar pelo cometimento de transgressão disciplinar sobre fatos investigados nesta sindicância.
79
O prazo para a conclusão da sindicância vai depender da norma de cada Força Armada ou cada Força Auxiliar
de cada Estado. Ex.: Aeronáutica: 15 (quinze) dias e Exército: 30 (trinta) dias.
80
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO - (...) - SERVIDOR PÚBLICO MILITAR - TRANSGRESSÃO
DISCIPLINAR DE MILITAR - INOBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO
CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA - AGRAVO LEGAL IMPROVIDO. 1. O autor foi nomeado
para apurar, através de sindicância, fatos ocorridos no 4° Esquadrão de Fuzileiros Blindados referentes ao
uso de entorpecentes por parte de soldados da referida unidade militar, sendo que, no decorrer da sindicância,
vislumbrou-se uma possível participação de oficiais e de sargentos na distribuição de entorpecentes no
aquartelamento do 20° Regimento de Cavalaria Blindado. 2. Após a participação em tais investigações, afirmou
o autor que passou a sofrer “perseguição” em virtude das informações apuradas, o que acarretou evidente
prejuízo a sua vida funcional. 3. É certo que a singularidade da carreira militar mereceu da lei a autorização
para que infrações dos servidores públicos militares fossem averiguadas mediante meios sumários; mas meios
sumários não têm qualquer semelhança com ausência de exercício do direito de defesa. 4. (...). 5. No âmbito
do processo disciplinar, mesmo que sumário como ocorre entre os militares, o acusado tem o direito de saber
o motivo pelo qual está sendo processado, o de responder a acusação e o de indicar e produzir as provas que
entender pertinentes, ou seja, tem o direito de se defender previamente antes de qualquer decisão que venha a
prejudicá-lo. 6. Mesmo havendo a necessidade de procedimentos sumários para manter-se o controle hierárquico,
os institutos do contraditório e da ampla defesa devem ser sempre respeitados. 7. In casu não foram obedecidos os
princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa na aplicação “mais do que sumária” das punições;
ou seja, o autor foi várias vezes punido sem lhe ter sido assegurada oportunidade de defesa. 8. Recurso adesivo
improvido no tocante ao pedido de indenização. (..). (TRF3 - AC 00037203719964036000 - 1ª Turma - Des.
Federal Johonsom Di Salvo - e-DJF3 de 18.02.2011, p. 213)
81
HABEAS CORPUS. FALSA COMUNICAÇÃO DE CRIMES. O simples indiciamento em Inquérito Policial
Militar, oriundo de Sindicância, não constitui constrangimento ilegal a ser corrigido por Habeas Corpus.
Somente quando a atipicidade ou a ilegitimidade passiva do indiciado se mostrarem inequívocas, admite-se
tal possibilidade, consoante construção jurisprudencial e doutrinária. Ordem denegada por falta de amparo
legal. Decisão unânime. (STM – HC 2004.01.033902-7 - Rel. Min. Marcus Herndl - Decisão: 25/05/2004
Publicação: 28/06/2004)
Capítulo 3
3. Introdução
Este capítulo é muito interessante, em virtude de que a quase totalidade dos
militares desconhece como são os procedimentos do auto de prisão em flagrante
(APF) e do inquérito policial militar (IPM).
O CPPM dispõe sobre como estes procedimentos policiais deverão ser
realizados, no entanto, há normas internas castrenses específicas sobre o APF e
IPM, e neste capítulo, a título de exemplificação, farei alguns comentários sobre
as normas internas do Comando da Aeronáutica.
O APF e o IPM poderão resultar na efetivação de denúncia por parte do
MPM e se recebida pelo Juiz-Auditor, o militar será processado e julgado perante
a Justiça Militar.
SÚMULA VINCULANTE nº 11
Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga
ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de
terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade
disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do
ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
Prisão em flagrante é um ato administrativo, como deixa entrever o art. 30184, uma
medida cautelar de natureza processual que dispensa ordem escrita e é prevista
expressamente pela Constituição Federal (art. 5º, LXI).
Em sentido jurídico, flagrante é uma qualidade do delito, é o delito que está sendo
cometido, praticado, é o ilícito patente, irrecuperável, insofismável, que permite a
prisão do seu autor, sem mandado, por ser considerado a “certeza visual do crime”.
82
Caso a prisão em flagrante seja ilegal, caberá ao Advogado efetivar pedido de relaxamento de prisão ao Juiz-
Auditor competente. Se for militar das Forças Armadas, sendo negado, caberá habeas corpus ao STM, e este,
também, negando, caberá a interposição de recurso ordinário no habeas corpus para o STF. Em sendo a prisão
em flagrante legal, o Advogado poderá requerer liberdade provisória ao Juiz-Auditor, e caso seja indeferida e
decretada a prisão preventiva, caberá pedido ao magistrado militar de revogação desta ou impetração direta de
habeas corpus perante o STM, e sendo negado, caberá recurso ordinário para o STF. Não me aprofundarei sobre o
estudo dos instrumentos jurídicos cabíveis para obter a liberdade do preso por flagrante delito ou em decorrência
da decretação da prisão preventiva, pois foge ao objeto de nosso estudo. Porém, certamente, será matéria a ser
discutida em futuro livro sobre processo penal militar.
83
MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de processo penal interpretado. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2000. p. 636.
84
Refere-se ao Código de Processo Penal Comum.
85
Conhecido como flagrante próprio.
86
Também chamado de flagrante próprio.
87
Denominado de flagrante impróprio ou quase-flagrante.
88
É o flagrante presumido.
89
Permanente é o crime que tem sua consumação prolongada no tempo, podendo-se citar como exemplo o delito
de extorsão mediante sequestro. Enquanto este crime estiver em andamento, presente estará a flagrância delituosa.
O militar desertor, enquanto não capturado, está em contínuo estado de flagrância, conforme entendimento do
STM e do TJMMG:
HABEAS CORPUS. BUSCA PREVENTIVA PARA LIVRAR O PACIENTE DE PRISÃO COMO DESERTOR.
PETIÇÃO DESCABIDA. ORDEM DENEGADA. Além de ser delito propriamente militar, a deserção se
classifica como crime permanente, mantendo-se, então, o trânsfuga em contínuo estado de flagrante delito,
situação determinante, “ex vi legis”, que se veja preso o desertor e mantido em custódia preventiva à disposição
da Justiça Militar. Inteligência dos Arts. 243 e 452 do CPPM. Sustentação de tese que, “in concreto”, não
oferece quaisquer razões para salvaguardar o Paciente dos efeitos da IPD lavrada contra si. “Writ” conhecido
e denegado por falta de amparo legal. Decisão por unanimidade. (STM – HC 2007.01.034308-3 – Rel. Min.
José Alfredo Lourenço dos Santos – j. 08.05.07 DJ de 05.06.2007)
90
HABEAS CORPUS. PORTE DE ENTORPECENTES EM ÁREA SOB ADMINISTRAÇÃO MILITAR.
PRISÃO CAUTELAR: EXCESSO DE PRAZO. A manutenção da prisão em flagrante, enquanto medida de
natureza cautelar, não pode ser utilizada como antecipação da pena ou ultrapassar os limites previstos no art.
20 do CPPM, somente se justificando em casos excepcionais, quando a liberdade do Acusado puder interferir,
de qualquer forma, no andamento do processo. Ordem concedida. Decisão unânime. (STM – HC 0000185-
65.2011.7.00.0000 - Rel. Min. Artur Vidigal de Oliveira – j. 17.04.12 – Dje de 15.05.2012)
Deve-se entender que o “logo após” do dispositivo é o tempo que ocorre entre a
prática do delito e a colheita de informações a respeito da identificação do autor,
que passa a ser imediatamente perseguido após essa rápida investigação realizada
por policiais ou particulares. Por isso, tem-se entendido que não importa se a
perseguição é iniciada por pessoas que se encontravam no local ou pela polícia,
diante de comunicação telefônica ou radiofônica. Deve-se ter em conta, porém,
que tal situação não se confunde com uma demorada investigação a respeito dos
fatos. Iniciada a perseguição logo após o crime, sendo ela incessante nos termos
legais (art. 290, § 1º), não importa o tempo decorrido entre o momento do crime
e a prisão do seu autor. Tem-se admitido pacificamente que esse tempo poder ser
de várias horas, ou mesmo de dias.
91
Há um mito urbano de que uma pessoa poderá livrar o flagrante se não for presa após 24 (vinte e quatro)
horas depois do cometimento do delito. Isso é completamente incorreto. Assim, por exemplo, caso uma pessoa
cometa um delito e fique escondida por mais de 24 horas com o objetivo de livrar o flagrante, e a polícia esteja
em sua procura (perseguição) e venha a lhe capturar, restará configurado o flagrante delito, nos termos da letra
c do art. 244. O que importa é que a polícia permaneça em perseguição contínua. No texto legal penal, seja no
comum (CP 306) ou militar (CPM 247), o prazo de 24 horas é para a entrega da nota de culpa à pessoa presa em
flagrante delito, onde constará o motivo da prisão, o nome do condutor e os nomes das testemunhas.
92
MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de processo penal interpretado. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2000. p. 640.
para a decretação da prisão em flagrante não basta que o auto de prisão esteja
revestido de todas as formalidades legais, é necessário que satisfaça os requisitos
objetivos e subjetivos autorizadores da decretação da prisão preventiva. Ordem
concedida para anular o Auto de Prisão em Flagrante lavrado contra o Paciente.
Decisão unânime. (STM – HC nº 2003.01.033815-2/RS – Rel. Min. Marcos Augusto
Leal de Azevedo - j. 24.06.03, DJ de 07.08.2003)
93
Um exemplo: acontece um roubo em determinado local, sem que se saiba quem seja o autor do delito, entretanto,
ocorre de o assaltante ser surpreendido numa blitz com o material do crime. Neste caso, poderá ser considerado
suspeito, e caso no decorrer dos procedimentos preliminares da polícia, for constatado que foi o autor do delito,
será preso em flagrante presumido.
2 - A expressão “logo após” não indica prazo certo, devendo ser compreendida
com alguma elasticidade, examinado o requisito temporal caso a caso. 3 - O
indeferimento da liberdade provisória deve ser fundamentado em fatos concretos e
não simplesmente na gravidade do crime, pois esta já está subsumida no próprio tipo
legal. 4 - Fica prejudicado o exame do excesso de prazo para formação da culpa, se
reconhecida a ausência de fundamentação do despacho e do acórdão denegatório
da liberdade provisória, com conseqüente alvará de soltura. 5 - Ordem concedida,
com expedição de alvará de soltura. (STJ - HC nº 75.114/MT - Rel. Ministra JANE
SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG) - QUINTA TURMA -
julgado em 29/08/2007, DJ 01/10/2007 p. 317)
94
PROCESSUAL PENAL E PENAL: HABEAS CORPUS. SITUAÇÃO DE FLAGRANTE
CONFIGURADA. FLAGRANTE PRESUMIDO. HIPÓTESE PREVISTA NO ARTIGO 302 DO CPP.
ARTIGOS 33 E 35 DA LEI 11.343/06. INDÍCIOS DE AUTORIA E MATERIALIDADE. REQUISITOS
DO ARTIGO 312 DO CPP. NECESSIDADE DEMONSTRADA. DECISÃO FUNDAMENTADA.
EXCESSO DE PRAZO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. MATÉRIA DE PROVA. VIA INADEQUADA.
I - O auto de prisão em flagrante demonstra a materialidade delitiva. Há fortes indícios da autoria e o laudo
preliminar de constatação de substância entorpecente comprova que a substância apreendida era cocaína.
II - O estado de flagrância caracteriza-se não somente quando alguém é surpreendido cometendo a infração
penal, mas, também, quando acaba de cometê-la, ou ainda, quando é perseguido logo após o cometimento
do crime, bem como na circunstância de ser encontrado, em seguida, com instrumentos, armas, objetos
ou papéis que façam presumir ser ele o autor da infração. Trata-se da chamada flagrância presumida.
III - A expressão “acaba de cometê-la”, empregada no flagrante próprio, significa imediatamente após
o cometimento do crime; “logo após”, no flagrante impróprio, compreende um lapso temporal maior; e,
finalmente, o “logo depois”, do flagrante presumido, engloba um espaço de tempo maior ainda.” IV - Em
que pese não ter sido encontrado portando os instrumentos ou objetos do crime, a presunção se estabeleceu
no instante em que a autoridade policial obteve a confirmação de que de fato havia substância entorpecente
na aeronave pilotada pelo paciente. (...) (TRF3 - HC 00158014820114030000 2ª Turma – Rel. Des. Federal
Cecília Mello - e-DJF3 de 22.09.2011, p. 153)
SÚMULA nº 145
Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a
sua consumação.
95
Diferente é o flagrante esperado, onde não há qualquer preparação do local do crime e nem mesmo o induzimento
à prática delituosa, ocorrendo, apenas, que o autor do delito é aguardado pelas autoridades policiais.
96
De acordo com o STJ, a apresentação voluntária não impede a prisão preventiva quando presentes os requisitos
legais. (STJ – HC nº 75.438/SP – 5ª Turma – Rel. Min. Napoleão Nunes Maia, j. 26.06.07, DJ de 06.08.2007,
pág. 578)
Entretanto, caso o autor do delito se entregue à polícia, sem que tenha havia
perseguição logo após a prática delituosa, não será legal a prisão em flagrante,
conforme decisão do STJ com citação de precedente do STF:
97
DESERÇÃO. APRESENTAÇÃO VOLUNTÁRIA. ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DA
PRISÃO PROCESSUAL. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. INEXISTÊNCIA.
FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO DA CUSTÓDIA PROVISÓRIA. PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA.
SÚMULA 10 DO STM. A hermenêutica constitucional exige interpretação uniforme de seus dispositivos, de modo
a impedir o conflito entre eles. É inconcebível o raciocínio de ser a prisão do desertor, prevista no artigo 452 do
CPPM, contrária aos preceitos garantidores da liberdade individual quando a própria Constituição excepciona
a detenção do desertor, conforme frisado no mencionado inciso LXI do artigo 5º. A Constituição estabeleceu
limites à liberdade e à intimidade do cidadão, a ponto de admitir, dentre outros, a prisão em flagrante, a quebra
dos sigilos bancário e de correspondência e a detenção de militares incursos em crime propriamente militar, no
caso a deserção. Esse preceito vem corroborado pelos artigos 452 e 453 do CPPM, os quais autorizam a prisão
do desertor capturado ou que se apresente voluntariamente. Ordem denegada. Decisão unânime. (STM – HC
0000018-77.2013.7.00.0000 - Rel. Min. William de Oliveira Barros – j. 25.02.13 – Dje de 08.03.2013)
98
HABEAS CORPUS. TESTEMUNHA. POSSIBILIDADE DE PERMANECER EM SILÊNCIO. DIREITO À
NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO. CONCESSÃO DA ORDEM. Paciente arrolado como testemunha em processo
criminal no qual figurou, inicialmente, como acusado, e, a posteriori, foi dele excluído porque reconhecida em
seu favor a extinção da punibilidade pelo advento da prescrição da pretensão punitiva. O exercício do direito
à não autoincriminação não se restringe ao interrogatório de pessoa formalmente acusada. O nemo tenetur se
detegere protege com idêntica amplitude e espectro a testemunha, porquanto seu escopo é impedir a facilitação
da própria condenação pela inquirição ou produção de provas contra si. Ordem concedida. Decisão majoritária.
(STM - HC 0000016-10.2013.7.00.0000 - Rel. Min. Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha – j. 28.02.13
– Dje de 15.03.2013)
99
O Decreto 678, de 06 de novembro de 1992, foi a norma que promulgou esta Convenção, podendo-se destacar
seu art. 1º
Art. 1° A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), celebrada em São
José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, apensa por cópia ao presente decreto, deverá ser cumprida
tão inteiramente como nela se contém.
100
Para melhor compreensão deste tópico, interessante ler a ICA 111-3 do Comando da Aeronáutica que trata do
APF no âmbito do Aeronáutica. (Portaria 887/GC3, de 02 de agosto de 2005).
Lavratura do auto
Art. 245. Apresentado o preso ao comandante ou ao oficial de dia, de serviço ou
de quarto, ou autoridade correspondente, ou à autoridade judiciária, será, por
qualquer deles, ouvido o condutor e as testemunhas que o acompanharem, bem
como inquirido o indiciado sobre a imputação que lhe é feita, e especialmente
sobre o lugar e hora em que o fato aconteceu, lavrando-se de tudo auto, que será
por todos assinado.
§ 1º Em se tratando de menor inimputável, será apresentado, imediatamente, ao
juiz de menores.
Ausência de testemunhas
§ 2º A falta de testemunhas não impedirá o auto de prisão em flagrante, que será
assinado por duas pessoas, pelo menos, que hajam testemunhado a apresentação
do preso.
Recusa ou impossibilidade de assinatura do auto
§ 3º Quando a pessoa conduzida se recusar a assinar, não souber ou não puder
fazê-lo, o auto será assinado por duas testemunhas, que lhe tenham ouvido a leitura
na presença do indiciado, do condutor e das testemunhas do fato delituoso.
Designação de escrivão
§ 4º Sendo o auto presidido por autoridade militar, designará esta, para exercer as
funções de escrivão, um capitão, capitão-tenente, primeiro ou segundo-tenente, se o
indiciado for oficial. Nos demais casos, poderá designar um subtenente, suboficial
ou sargento.
Falta ou impedimento de escrivão
§ 5º Na falta ou impedimento de escrivão ou das pessoas referidas no parágrafo
anterior, a autoridade designará, para lavrar o auto, qualquer pessoa idônea, que,
para esse fim, prestará o compromisso legal.
Recolhimento à prisão. Diligências
Art. 246. Se das respostas resultarem fundadas suspeitas contra a pessoa conduzida,
a autoridade mandará recolhê-la à prisão, procedendo-se, imediatamente, se for o
caso, a exame de corpo de delito, à busca e apreensão dos instrumentos do crime
e a qualquer outra diligência necessária ao seu esclarecimento.
Nota de culpa
Art. 247. Dentro em vinte e quatro horas após a prisão, será dada ao preso nota
de culpa assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor
e os das testemunhas.
Recibo da nota de culpa
§ 1º Da nota de culpa o preso passará recibo que será assinado por duas
testemunhas, quando ele não souber, não puder ou não quiser assinar.
Relaxamento da prisão
§ 2º Se, ao contrário da hipótese prevista no art. 246, a autoridade militar ou
judiciária verificar a manifesta inexistência de infração penal militar ou a não
participação da pessoa conduzida, relaxará a prisão. Em se tratando de infração
penal comum, remeterá o preso à autoridade civil competente.
Em relação ao art. 251, tem-se por cabível tecer comentários sobre o prazo
para a remessa do APF, isto porque, não raras vezes, a autoridade policial militar
não cumpre o prazo fixado neste dispositivo, o que, sem dúvidas, irá contribuir
significativamente para a demora na soltura do preso mediante o pedido de liberdade
provisória101. Em decorrência desta demora, a Procuradoria da Justiça Militar de
Pernambuco fez a seguinte recomendação102 às autoridades policiais militares (LC
75/93, inciso XX, art. 6º) vinculadas à jurisdição da Auditoria da 7ª Circunscrição
da Justiça Militar da União (Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte):
Recomendo, nos termos do artigo 6º, inciso XX da Lei Complementar n.75 que, tão
logo lavrado, o APF deverá ser remetido à justiça militar, sendo enviada cópia dos
documentos comprobatórios da legalidade da prisão (o que inclui o próprio APF,
evidentemente) ao Ministério Público Militar, o que poderá ser feito, até mesmo,
por FAX. As comunicações previstas no artigo 10 da Lei Complementar n.75 e
Artigo 5º, inciso LXII da Constituição devem ser feitas imediata e diretamente ao
Ministério Público Militar e à Justiça Militar – isto é, a ambos – independentemente
de quaisquer comunicações a outros órgãos, militares ou não. O prazo de cinco
dias mencionado no artigo 251 do CPM é relativo, apenas, aos casos em que há
necessidade de diligências – incluídos exames, perícias e outros – e sem prejuízo
da remessa imediata de cópia do APF e outros documentos, mencionada acima.
101
Isso porque o Juiz-Auditor somente poderá analisar o pedido de liberdade provisória quando estiver de posse
do APF. E ainda, tem-se, em regra, que o Juiz-Auditor, antes de decidir sobre a liberdade provisória, enviará o
APF ao MPM, a fim de que este ofereça parecer sobre o pedido de liberdade provisória. Ressalte-se, todavia,
que o Juiz-Auditor está autorizado a decretar a liberdade provisória do flagranteado sem prévia ouvida do MPM,
assim como relaxar a prisão, caso seja ilegal.
102
Ofício __ /2003 – PJM/Recife/PE (Circular) de 10 de outubro de 2003.
Art. 9º O inquérito policial militar é a apuração sumária de fato, que, nos termos
legais, configure crime militar, e de sua autoria. Tem o caráter de instrução
provisória, cuja finalidade precípua é a de ministrar elementos necessários à
propositura da ação penal.
Parágrafo único. São, porém, efetivamente instrutórios110 da ação penal os exames,
perícias e avaliações realizados regularmente no curso do inquérito, por peritos
idôneos e com obediência às formalidades previstas neste Código.
108
Casos de liberdade provisória
Art. 270. O indiciado ou acusado livrar-se-á solto no caso de infração a que não for cominada pena privativa
de liberdade.
Parágrafo único. Poderá livrar-se solto:
a) no caso de infração culposa, salvo se compreendida entre as previstas no Livro I, Título I, da Parte Especial,
do Código Penal Militar;
b) no caso de infração punida com pena de detenção não superior a dois anos, salvo as previstas nos arts. 157,
160, 161, 162, 163, 164, 166, 173, 176, 177, 178, 187, 192, 235, 299 e 302, do Código Penal Militar.
109
HABEAS CORPUS. (...). I - O Decreto de prisão preventiva foi fundada na alínea “e” do art. 255 do CPPM,
asseverando a autoridade apontada como coatora que o caso exigia a manutenção das normas ou princípios de
hierarquia e disciplina militares, os quais poderiam ficar ameaçados ou atingidos com a liberdade do Paciente,
tudo em virtude do requerimento do Órgão ministerial, que, por sua vez, considerou que a não submissão do
Paciente à inspeção de saúde, necessária ao seu licenciamento, poderia se amoldar em tese ao crime descrito
no art. 163 do CPM. Em atuação subsequente, a mesma autoridade judicial, apreciando o pedido de liberdade
provisória formulada pela Defesa do Paciente, não só manteve a Decisão ora atacada, como também inovou
na fundamentação do Decisum ao acrescentar as alíneas “b” e “d” do art. 255 do CPPM, sem deduzir ou
demonstrar qualquer conduta do Paciente tendente a se furtar à aplicação da lei penal militar. II - Não tem
suporte constitucional a arguição da Procuradoria-Geral da Justiça Militar no sentido de inibir a concessão da
liberdade provisória ao Paciente que responde, em tese, pelo crime capitulado no art. 163 do CPM, consoante
a vedação contida no art. 270, parágrafo único, alínea “b”, do CPPM, uma vez que tal dispositivo não foi
recepcionado pela Constituição da República Federativa do Brasil, ante o conteúdo dos preceitos insculpidos
no art. 5º, incisos LIV e LXVI, da referida Carta. Ordem de habeas corpus concedida para tornar a liminar
definitiva. Decisão unânime. (STM – HC 0000158-82.2011.7.00.0000 - Rel. Min. José Coêlho Ferreira – j.
16.11.11 – Dje de 16.12.2011)
110
Significa que, caso sejam seguidas as formalidades da lei, os exames, perícias e avaliações realizadas no IPM
não serão renovadas (não serão realizados novamente) em juízo, assim, tais atos terão as mesmas validades
das provas produzidas em juízo. Por isso, os defensores deverão verificar se tais atos efetivados no IPM foram
realizados de acordo com a lei, pois caso contrário, estarão passíveis de serem anulados.
Art. 27. Se, por si só, for suficiente para a elucidação do fato e sua autoria, o auto
de flagrante delito constituirá o inquérito, dispensando outras diligências, salvo o
exame de corpo de delito no crime que deixe vestígios, a identificação da coisa e
a sua avaliação, quando o seu valor influir na aplicação da pena. A remessa dos
autos, com breve relatório da autoridade policial militar, far-se-á sem demora ao
juiz competente, nos termos do art. 20.
111
O inquérito será iniciado mediante a instauração de portaria pela autoridade policial militar, podendo, inclusive,
ser iniciado a requerimento da parte ofendida, nos termos do art. 10 do CPPM. Ou seja, um militar, por exemplo,
sentindo-se vitimado por um crime militar cometido por outro militar, poderá requerer, via cadeia de comando,
que a autoridade policial militar, em regra, o Comandante da OM, instaure IPM.
Art. 28. O inquérito poderá ser dispensado, sem prejuízo de diligência requisitada
pelo Ministério Público:
a) quando o fato e sua autoria já estiverem esclarecidos por documentos ou outras
provas materiais;
b) nos crimes contra a honra, quando decorrerem de escrito ou publicação, cujo
autor esteja identificado;
c) nos crimes previstos nos arts. 341 e 349 do Código Penal Militar.
Requisitos da denúncia
Art. 77. A denúncia conterá:
a) a designação do juiz a que se dirigir;
112
Porém, ressalte-se, não é obrigatória a instauração de IPM para o oferecimento da denúncia, nos termos do
art. 28 do CPPM.
113
Para denunciar bastam indícios (in dubio pro societate), porém para condenar não bastam indícios, mas sim
provas suficientes da materialidade e da autoria. Pois, no processo penal militar ou comum vige a regra de que
só se condena com prova suficiente da materialidade e da autoria. Na dúvida, restará a absolvição (in dubio pro
reo) por falta de provas suficientes para uma condenação.
114
HABEAS CORPUS - TRANCAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL - ANÁLISE PROBATÓRIA -
IMPOSSIBILIDADE PELA VIA ELEITA - ORDEM DENEGADA, AD REFERENDUM - HOMOLOGAÇÃO.
O trancamento de Inquérito policial é medida excepcional, só sendo justificado, quando ausentes indícios mínimos
de autoria e materialidade, ou então, quando extinta a punibilidade, o que não é o caso. Impossível a análise
probatória na estreita via do habeas corpus. Denega-se a presente ordem. (TJMMG - HC 1654 - Processo n.
37.739/3ª AJME – Rel. Juiz Cel PM Sócrates Edgard dos Anjos – j. 10.08.10 – DJ de 19.08.2010)
Não me aprofundarei sobre a denúncia do MPM e seu recebimento, e nem sobre a instrução processual criminal
115
militar, pois fogem do objetivo deste livro, entretanto, certamente, será objeto de um próximo livro.
Art. 24. A autoridade militar não poderá mandar arquivar autos de inquérito,
embora conclusivo da inexistência de crime ou de inimputabilidade do indiciado.
116
Se o indiciado for Oficial-General, os autos seguirão para o STM com base no art. 6º, inciso I, letra “a”, da
Lei 8.457/92.
117
O inciso I do art. 30 da Lei 8.457/92 assim prescreve:
Art. 30. Compete ao Juiz-Auditor:
I - decidir sobre recebimento de denúncia, pedido de arquivamento, de devolução de inquérito e representação;
(...)
118
CORREIÇÃO PARCIAL. ESTELIONATO. ARQUIVAMENTO DE INQUÉRITO POLICIAL MILITAR.
PRELIMINARES. NÃO CONHECIMENTO. OFENSA AO PRINCÍPIO ACUSATÓRIO. LEGITIMIDADE
DO JUIZ-AUDITOR CORREGEDOR. REJEIÇÃO. NECESSIDADE DE INTIMAÇÃO DA DEFESA.
AUSÊNCIA DE LIDE. ARQUIVAMENTO COMO ATO ADMINISTRATIVO. INEXISTÊNCIA DE
CONTRADITÓRIO A RESPEITAR. REJEIÇÃO. DECISÃO DE ARQUIVAMENTO. AUSÊNCIA DE
DOLO. ATIPICIDADE. MANTENÇA. (...). No mérito, aferida prima facie a ausência do dolo inerente à
caracterização do estelionato (provou-se que o indiciado comunicou o óbito da ex-pensionista ao Setor de
Inativos e Pensionistas do Exército e, portanto, não tentou ludibriar a fonte pagadora), então afastada estará a
tipicidade da conduta e crime algum haverá para apurar. Decisão de arquivamento mantida. Correição Parcial
indeferida, por maioria. (STM – HC 0000306-36.2011.7.01.0301/DF - Rel. Min. Luis Carlos Gomes Mattos – j.
02.05.12 – Dje de 15.06.2012)
119
Está previsto na letra c do art. 14 da Lei 8.457/92 que o Juiz-Auditor Corregedor da Justiça Militar da União
poderá requerer Correição Parcial perante o STM quando vislumbrar arquivamento irregular de autos de IPM.
Sugiro a leitura de artigo de minha autoria publicado na Revista dos Tribunais (v. 101, n. 921, jul. 2012, pág. 533):
Correição Parcial a pedido do Juiz-Auditor Corregedor da Justiça Militar da União em decorrência de suposto
arquivamento irregular de autos de Inquérito Policial Militar por Juiz-Auditor Substituto de Primeira Instância.
MIGUEL, Cláudio Amin e COLDIBELLI, Nelson. Elementos de Direito Processual Penal Militar. 3ª ed.
121
122
Não é necessário, ressalte-se, esgotar a esfera administrativa policial, pode-se requerer tal pedido diretamente
ao MPM, pois se trata do direito constitucional de petição aos órgãos públicos.
123
Ofício 63/09 – ContProc – PJM/PE de 21 de maio de 2009.
Enunciado nº 24
A notitia criminis anônima é apta a desencadear investigação penal sempre que
contiver elementos concretos que apontem para a ocorrência de crime. (Sessão
464ª, de 15.04.2009)
AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. 1. O Inquérito Policial Militar tem caráter de instrução provisória
e serve para embasar a Denúncia a ser oferecida pelo MPM, sendo os exames e perícias também instrutórios
quando realizados nessa fase preparatória. Inocorrência de cerceamento de defesa. 2. A Defesa tem direito de
conhecer os elementos de informação constante nos autos do IPM. Ordem parcialmente concedida.(STM – HC
0000103-63.2013.7.00.0000/AM - Rel. Min. Artur Vidigal de Oliveira – j. 01.07.13 – Dje de 06.08.2013)
125
APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA - LICENCIAMENTO DE MILITAR DAS FILEIRAS
DA CORPORAÇÃO - ENVOLVIMENTO EM ACIDENTE DE TRÂNSITO, DANDO AZO A PUNIÇÃO
PRISIONAL - NOVO APENAMENTO MOTIVADO POR DECLARAÇÕES NÃO VERDADEIRAS,
PRESTADAS EM PROCESSO ADMINISTRATIVO - CUSTAS. 1. Tendo sido o militar punido mediante
prisão por falta cometida, não pode, pelo mesmo fato, receber nova punição. 2. Faltar com a verdade em
processo administrativo ou criminal em que a parte se veja envolvida, não constitui infração punível, uma vez
que ninguém é obrigado a auto acusar-se. 3. Ao declinar os motivos do licenciamento do apelado, vincula-se
a autoridade aos motivos declarados. 4. O Distrito Federal está isento do pagamento de custas. 5. Apelação
conhecida e parcialemnte provida. Unânime. (TJDFT - Acórdão n.99678, APC4016196, Relator: JÚLIO DE
OLIVEIRA, Relator Designado:JOSE DILERMANDO MEIRELES, Revisor: JOSE DILERMANDO MEIRELES,
5ª Turma Cível, Data de Julgamento: 08/09/1997, Publicado no DJU SECAO 3: 12/11/1997. Pág.: 27)
126
Excetuando-se qualquer fato que lhe possa incriminar. Eis uma decisão sobre esta exceção na seguinte ementa
do STM: Recurso em Sentido Estrito. Falso testemunho. Auto-incriminação. Não responde pelo crime previsto
no artigo 346 do CPM quem, na condição de testemunha, presta depoimento inverídico sobre fato que poderia
acarretar-lhe responsabilidade penal. Aplica-se, “in casu”, o princípio da inexigibilidade de conduta diversa.
Recurso ministerial improvido. Decisão unânime. (STM – Recurso Criminal nº 2002.01.007020-1/RJ – Rel. Min.
Valdésio Guilherme de Figueiredo - j. 29.10.02 - DJ de 27.11.2002)
127
APELAÇÃO CRIMINAL - FALSO TESTEMUNHO - COMPROVAÇÃO DA CONDUTA IMPUTADA
- CONFISSÃO DO ACUSADO - APRESENTAÇÃO PELO APELANTE DE VERSÕES DIFERENTES
SOBRE FATO OCORRIDO - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA - RECURSO DESPROVIDO. O conjunto
probatório dos autos é harmônico. A conduta imputada ao acusado está comprovada, conforme a sua própria
confissão, em interrogatório judicial. Na comparação entre ambas as declarações prestadas pelo apelante,
percebe-se nitidamente que ele deu versões divergentes sobre os fatos ocorridos. Incidiu na prática do delito
previsto no art. 346 do CPM, não tendo sustentação a tese apresentada pela Defesa, que não encontrou respaldo
probatório nos autos. Negado provimento ao recurso. (TJMMG – Apelação Criminal 2.756 - Processo n. 0000180-
74.2009.9.13.0003 – Rel. Juiz Cel PM Rúbio Paulino Coelho – j. 26.04.11 – DJ de 04.05.2011)
O crime de falso testemunho é formal, bastando para a sua configuração a simples potencialidade do dano
para com a administração da Justiça. - A retratação só produz efeitos se ocorrer antes da sentença e no mesmo
processo em que for prestado o depoimento falso. - Policial Militar que, participando de uma ocorrência policial,
é arrolado como testemunha de um fato delituoso, não poderá mentir, ou seja, prestar falso testemunho, mesmo
por amizade ou solidariedade a colega, pois estará, fatalmente, incurso nas sanções do art. 346 do CPM, que são
rigorosas. (TJMMG – Apelação Criminal 2.052 - Processo nº 13.716/2ªAJME – Rel. Juiz Cel PM Jair Cançado
Coutinho – j. 09.10.97 – DJ de 07.11.1997)
Aumento de pena
§ 1º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado mediante suborno.
Retratação
§ 2º O fato deixa de ser punível, se, antes da sentença o agente se retrata ou declara
a verdade.
Art. 305. Antes de iniciar o interrogatório, o juiz observará ao acusado que, embora
não esteja obrigado a responder às perguntas que lhe forem formuladas, o seu
silêncio poderá ser interpretado em prejuízo da própria defesa.
Perguntas não respondidas
Parágrafo único. Consignar-se-ão as perguntas que o acusado deixar de responder
e as razões que invocar para não fazê-lo.
Esta última parte do caput, destacado em negrito, não foi recepcionada128 pela
CF/88, pois contraria os princípios básicos constitucionais, assim como também,
o inciso LXIII.
O STF assim discorreu sobre o direito constitucional ao silêncio em sede
de inquérito policial ou processo judicial:
128
APELAÇÃO. LESÃO CORPORAL. REVOGAÇÃO DO ART. 305 DO CPPM EM FACE DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, DE 1988. EFEITO INTER PARTES. POSSIBILIDADE. PRESCRIÇÃO.
OCORRÊNCIA CORRÉUS MENORES. A prescrição foi verificada quanto aos corréus menores à época do
fato delituoso. Tendo em vista a incompatibilidade com os ditames constitucionais, declara-se a revogação
do art. 305 do Código de Processo Penal Militar pela Constituição Federal, pois o silêncio do acusado,
por ocasião do interrogatório, não pode, em nenhuma hipótese, ser interpretado em seu prejuízo, a teor
do disposto no art. 5º, LXIII, da Lei Maior. Efeito inter partes. A doutrina e a jurisprudência entendem
que há de ser considerada como causa interruptiva, para o cálculo da prescrição, não a data constante
da Sentença em si, mas a de sua publicação. Mantida a condenação do réu maior por ocasião do crime,
restando provada autoria e materialidade acerca do cometimento de lesões corporais. Concessão de sursis.
- PRELIMINARES ACOLHIDAS. - APELO PARCIALMENTE PROVIDO. - DECISÃO UNÂNIME. (STM
- Apelação Criminal 0000032-66.2006.7.01.0101 (2008.01.050993-3)/RJ - Min. Rel. Maria Elizabeth
Guimarães Teixeira Rocha – j. 09.12.09 – Dj de 16.12.2009)
Para um militar ser encarregado de um IPM bastará, em regra, que seja Oficial, não precisa ser Bacharel em
129
Direito, nem ter nível superior e sequer é necessário possuir o antigo 2º grau.
numa sindicância na Base Aérea de Natal. Na verdade, ele caiu numa armadilha,
e fui contratado para resolver o problema. Após ouvir de meu cliente o relato dos
fatos, percebi que o mesmo não havia cometido nenhuma transgressão disciplinar
e muito menos crime militar. Então, disse-lhe o seguinte: você não vai responder
nenhuma pergunta, com exceção dos seus dados pessoais e profissionais. Quando
lhe perguntarem sobre os fatos investigados, diga o seguinte: por orientação de
meu Advogado, com base na Constituição Federal e no entendimento do STF,
reservo-me no direito de permanecer calado!.
Leitores, aconteceu o seguinte: a autoridade militar – Tenente - levantou da
cadeira atônita, parecia desesperada, feição de raiva, algo impressionante, e disse
em tom alto o seguinte em nossa direção: o que é isso!? Então, como Advogado
tive que intervir130 e lhe informei que meu cliente tinha o direito de permanecer
em silêncio.
Foi algo muito, digamos, hilário! O resultado da sindicância foi que meu
cliente não respondeu nenhuma pergunta sobre o fato investigado e, ao final, não
encontraram nada contra ele e os autos foram arquivados.
Em regra, não permito que meus clientes-militares submetidos à sindicância
e IPM maliciosos, respondam as perguntas dos Oficiais responsáveis. Dependendo
do caso concreto, o direito ao silêncio é uma técnica de defesa importantíssima, seja
para obter um pedido131 de arquivamento por parte do MPM ou para a preparação da
defesa judicial do militar. Pois, ressalte-se, o IPM serve para dar subsídios ao MPM
para denunciar o indiciado, e por isso, entendo que dependendo do caso concreto
o ideal é o militar manter-se em silêncio. Assim, caso o militar seja denunciado e
em seguida a denúncia seja recebida pelo Juiz-Auditor, o Advogado poderá efetuar
uma melhor defesa, haja vista que ainda não haverá o depoimento do acusado.
Por vezes, acontece de o Juiz-Auditor perguntar ao acusado no interrogatório
judicial o motivo132 porque este não quis responder às perguntas do encarregado
do IPM. Todavia, é importante ratificar, mais uma vez, que o silêncio é um direito
constitucional e não poderá ser utilizado em desfavor do acusado na Justiça Militar.
3.2.6. Art. 16 do CPPM: sigilo do inquérito policial militar
O art. 16 do CPPM prevê o seguinte:
130
No IPM, a função do Advogado é impedir ilegalidades, não podendo interferir nos depoimentos, seja do
investigado ou das testemunhas, posto que, como já dito, é um procedimento inquisitorial, não há contraditório
e nem ampla defesa.
131
Como disse antes, fui submetido, quando militar, a 2 (dois) IPMs e em ambos exerci o direito de permanecer
calado, tendo o MPM requerido o pedido de arquivamento de ambos, sendo tais pedidos deferidos pela Justiça
Militar da União.
132
Aos meus clientes, antes do início do interrogatório, oriento-lhes, caso seja feita esta pergunta pelo Juiz-Auditor,
que respondam que foi orientação do Advogado. Obviamente, dirão isto se, realmente, foram orientados pelo
Advogado a se calarem no interrogatório policial militar. A boa-fé e a verdade são obrigações do Advogado.
Sigilo do inquérito
Art. 16. O inquérito é sigiloso, mas seu encarregado pode permitir que dele tome
conhecimento o advogado do indiciado.
SÚMULA VINCULANTE nº 14
É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos
de prova que, já documentados135 em procedimento investigatório realizado por
órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito
de defesa.
Desta forma, tem-se que o art. 16 em questão não foi totalmente recepcionado
pela CF/88.
135
Ou seja, o Advogado somente terá acesso às investigações já documentadas nos autos do IPM. Contudo, tal
prerrogativa não se estende aos atos que por sua própria natureza não dispensam a mitigação da publicidade,
como por exemplos, futuras interceptações telefônicas, dados relativos a outros indiciados, investigações em
andamento, etc.
ser estabelecida por lei. 4. Recurso especial improvido. (STJ - Resp nº 73.851/MT
- Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA - julgado em 08/11/2005,
DJ 21/11/2005, pág. 187)
Destarte, os dois dispositivos estão revogados pelo art. 136, § 3º, inc. IV, da
Constituição Federal, que, ao tratar do estado de defesa e do estado de sítio, dispõe:
“é vedada a incomunicabilidade do preso”. Como diz Júlio Fabbrini Mirabete,
lembrando Tourinho Filho, “sendo proibida a incomunicabilidade nas situações
excepcionais, em que o Governo deve tomar medidas enérgicas para preservar a
ordem pública e a paz social, podendo por isso restringir direitos, com maior razão
não se pode permiti-la em situação de normalidade” (1997:63). Esta também é a
posição de Célio Lobão Ferreira (2000:28).
136
Ofício 16/09 – Dil/LAG, de 07.05.2009.
137
ASSIS, Jorge Cesar de. Direito Militar. Aspectos penais, processuais penais e administrativos. Curitiba:
Juruá, 2008. p. 65-66.
138
LOBÃO, Célio. Direito processual penal militar. São Paulo: Método, 2009. p. 63.
O caput do art. 18 não foi recepcionado totalmente pela CF/88, pois a prisão
de qualquer pessoa se restringirá às hipóteses previstas no LXI do art. 5º:
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. 3ª ed. Brasília: Brasília Jurídica, 2006. p. 84.
139
DETENÇÃO NO CURSO DE IPM, COM BASE NO ART. 18, DO CPPM. Inaplicabilidade, ‘in casu’,por
140
não se configurar crime propriamente militar, inteligência do art. 5º, LXI, da Constituição Federal. Posterior
decretação de prisão preventiva, sanando irregularidade da detenção e causando a perda do objeto do pedido.
Habeas corpus conhecido e denegado. Decisão uniforme. (STM – HC 1992.01.032818-1/AM - Rel. Min. Wilberto
142
AILTON, Soares. O Regulamento Disciplinar da Polícia Militar do Estado de São Paulo comentado: lei
complementar nº 893, de 9-3.2001. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 165.
143
LOBÃO, Célio. Direito processual penal militar. São Paulo: Método, 2009. p. 63.
144
Aprovado pela Portaria 183/COJAER, de 12 de fevereiro de 1980.
145
Recomendação 16/2004/PJM/Bagé/RS. Ressalte-se que o Ministério Público é o órgão fiscalizador das
atividades policias nas Forças Armadas e Auxiliares. O art. 117, inciso II, da Lei 75/93 prevê que caberá ao MPM
o controle externo da atividade da Polícia Judiciária Militar.
O que poderá, então, ser feito caso um militar seja detido por decreto
(mandado de prisão) do encarregado do IPM, nos termos do art. 18 do CPPM?
Para responder esta pergunta, necessário, primeiro, a transcrição dos incisos LXV
e LXVI do art. 5º da CF/88:
militares, todavia, não fez esta ressalva no inciso LXVI, logo, a princípio, aplica-
se o instituto da liberdade provisória aos delitos propriamente militares. Porém,
confesso que a concessão de liberdade provisória relativa à detenção prevista no
art. 18 seria, na prática, desconsiderar a intenção deste dispositivo: prisão para
averiguações policiais.
149
HABEAS CORPUS - PRISÃO PREVENTIVA - IPM. Pedido ponderando, em liminar, pela liberdade dos
indiciados presos, preventivamente, e, no mérito, a confirmação da liberdade provisória, sob a alegação de
estarem sofrendo constrangimento ilegal, visto residirem no distrito da culpa vinham comparecendo à Unidade,
não possuem maus antecedentes, além de não terem qualquer dado negativo em seu desfavor. Prisão preventiva
decretada, a requerimento do Encarregado do IPM, com fulcro no artigo 254, alíneas “a” e “b”, c/c o artigo
255, alíneas “c” e “e”, ambos do CPPM. Pleito liminar indeferido, visto que, tendo íntima conexão com o
mérito do writ, não enseja a convicção da existência de ilegalidade ou abuso de poder por parte da autoridade
judiciária indigitada como coatora. Configurada a necessidade da custódia cautelar pelos indícios suficientes
de autoria do fato delituoso, cuja apuração, em Juízo, poderia ser prejudicada, devido a periculosidade de cada
um dos indiciados e, também, para garantir a manutenção das normas de hierarquia e disciplina militar, cuja
liberdade dos Pacientes poderia prejudicar. Inexistência de ilegalidade ou abuso de poder na custódia provisória
a ser parada por esta via judicial. Ordem denegada. Decisão unânime. (STM – HC 2003.01.033842-0/RJ - Rel.
Min. Marcus Herndl – j. 23.09.03 – Dj de 17.10.2003)
150
Este artigo prevê a possibilidade do encarregado do IPM requerer a prisão preventiva.
Casos de decretação
Art. 255. A prisão preventiva, além dos requisitos do artigo anterior, deverá fundar-
se em um dos seguintes casos:
a) garantia da ordem pública;
b) conveniência da instrução criminal;
c) periculosidade do indiciado ou acusado;
d) segurança da aplicação da lei penal militar;
e) exigência da manutenção das normas ou princípios de hierarquia e disciplina
militares, quando ficarem ameaçados ou atingidos com a liberdade do indiciado
ou acusado.
151
Concessão do benefício da menagem. Entendido ser adequado o Decisum da 1ª Instância pela concessão
da menagem, no quartel do 6º Comando Aéreo Regional, com fulcro no art. 263 do CPPM. Inocorrência de
constrangimento ilegal por parte do Juízo da Auditoria da 11ª CJM. Ordem denegada. Decisão unânime. (STM
– HC 0000157-63.2012.7.00.0000/DF - Rel. Min. Raymundo Nonato de Cerqueira Filho – j. 09.10.12 - Dje
de 23.10.2012)
Capítulo 4
4. Introdução
Durante os últimos anos de minha carreira militar, vários foram os habeas
corpus ou writ152 por mim impetrados contra punições disciplinares ilegais e
arbitrárias, sendo que em muitos obtive vitória. Ocorreu, entretanto, que um deles
acabou por atingir um Coronel da Força Aérea Brasileira – Comandante de uma
152
Writ é uma expressão inglesa utilizada no direito brasileiro, comumente, para identificar o mandado de
segurança, o habeas corpus e o habeas data.
Base Aérea – que foi processado153 pelo crime de abuso de autoridade por ter me
prendido ilegalmente com 06 (seis) dias de prisão disciplinar, e acabou aceitando
cumprir um acordo criminal proposto pelo MPF a fim de não correr o risco de ser
condenado criminalmente.
No decorrer deste tópico citarei exemplos práticos, demonstrando, inclusive,
decisões judiciais, ressaltando que não pretendo ofender qualquer militar das Forças
Armadas ou mesmo a Instituição. Meu objetivo é unicamente dar esclarecimentos
aos militares, estudantes e Advogados sobre o instituto do habeas corpus nas
transgressões disciplinares militares, e nada melhor do que estudar um assunto
com exemplos práticos que funcionaram comigo quando militar da Aeronáutica.
Alguns militares poderão, desde já, estar fazendo o seguinte questionamento:
mas isso não vai me queimar, não vai atrapalhar minha carreira, não vou ser
perseguido se impetrar um habeas corpus contra meu superior hierárquico, etc,
etc??? É possível sim!!! Assim como será possível, também, que este superior
hierárquico tenha grandes dores de cabeça154 com um processo criminal por abuso
de autoridade: isso acaba com a carreira de qualquer Oficial, ainda mais quando
desejam passar do posto de Coronel.
Porém, existe um meio do militar ficar imune às perseguições, pelo menos
na teoria, pois qualquer pessoa pode impetrar habeas corpus em favor de um
militar preso ou na iminência de ser preso disciplinarmente: esposa, filho, amigo,
primo ou desconhecido (isso mesmo, até pessoas estranhas: não há necessidade
de procuração para terceiros impetrarem habeas corpus).
A prisão disciplinar ilegal, arbitrária ou abusiva pode gerar, pelo menos, 02
(duas) consequências que serão discorridas no decorrer deste tema: a) a autoridade
militar que abusou de sua autoridade, agindo ilegalmente, quando ordenou e/
ou executou a prisão disciplinar do militar estará passível de ser processada155 e
condenada por crime156 de abuso de autoridade157 e b) o militar preso ilegalmente
poderá receber indenização158 por danos morais na Justiça Federal (Forças Armadas)
ou Estadual (Policiais e Bombeiros Militares).
153
Para obter mais informações sobre este caso, favor acessar www.manualpraticodomilitar.com.br.
154
É possível até mesmo a perda do posto.
155
Prevê o art. 41 do Estatuto dos Militares: Art. 41. Cabe ao militar a responsabilidade integral pelas decisões
que tomar, pelas ordens que emitir e pelos atos que pratica.
156
PENAL - “HABEAS CORPUS”- AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. Não comete crime de abuso de autoridade
o militar que, seguindo estritamente o determinado pelas normas disciplinares da corporação aplica pena
prisional a subordinado, afirmando-o desertor. (...). (TRF2 - HC 9902141447 – 4ª Turma - Rel. Des. Federal
Guilherme Couto – j. 26.05.1999)
157
O art. 147 do Regimento Interno do TRF5 assim dispõe:
Art. 147. Ordenada a soltura do paciente, em virtude de habeas corpus, a autoridade que, por má-fé ou evidente
abuso de poder, tiver determinado a coação, será condenada nas custas, remetendo-se ao Ministério Público
Federal traslado das peças que instruíram o processo para a verificação da ocorrência de crime.
158
Ver acórdão do TRF5 nos autos da Apelação Cível nº 2004800000444400 (4ª Turma - Rel. Des. Federal Ivan
Lira de Carvalho - DJ de 28.05.2009)
Pretendo que, após a leitura deste capítulo, qualquer pessoa, civil ou militar,
possa elaborar e ajuizar uma ação de habeas corpus perante o Poder Judiciário.
E, como sempre, utilizarei a linguagem mais simples possível e caso tenha que
utilizar termos técnicos, farei esclarecimentos: este livro é dirigido, especialmente
para leigos (militares e civis) e não voltado exclusivamente para a seara acadêmica,
logo a linguagem tem que ser simples e será este meu objetivo. Não discorrerei
sobre o histórico do instituto do habeas corpus, como origem, desenvolvimento
e teorias, por exemplos, pois este livro é, conforme o título, um manual prático.
Todavia, caso o leitor queira se aprofundar no tema, bastará recorrer aos livros
disponíveis em livrarias ou bibliotecas públicas.
E por último uma reflexão: já pararam para pensar porque a Aeronáutica,
Exército e Marinha não divulgam nos Boletins Oficiais a íntegra das decisões
judiciais que favorecem os militares? Mas, entretanto, já repararam que quando a
decisão é desfavorável ao militar, divulgam a íntegra da mesma?
159
A transgressão disciplinar é um delito administrativo.
160
Crime Militar é o delito penal especial definido no Código Penal Militar de 1969. (Elaborado pelos Ministros
da Aeronáutica, Exército e Marinha em pleno auge máximo da Ditadura Militar, assim como seu Código de
Processo Penal Militar, sendo um Código muito severo).
161
LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. 3ª ed. Brasília: Brasília Jurídica , 2006. p. 56.
162
Acusado, civil, denunciado pela ocorrência do crime de “estelionato previdenciário”. Previsão legal em Lei
Ordinária - Decreto-Lei nº 1.001/69. Recepção pela Lei Maior. Jurisprudência da Suprema Corte não vincula
julgados porventura existentes nesta Corte Superior de Justiça, excepcionando a hipótese de súmula vinculante e
quando não observados os requisitos legais. Pacto de São José da Costa Rica incorporado em nosso ordenamento
jurídico em 1992, com regras de caráter geral que não se sobrepõem a regras de natureza específica. Julgamento
de civis por magistrado civil na esfera da Justiça Militar da União. Entendimento que não foi alcançado pela
Emenda Constitucional nº 45/2004. (...). (STM – HC 0000175-84.2012.7.00.0000/CE - Rel. Min. Carlos Alberto
Marques Soares - j. 10.12.03 - Dje de 18.02.2003)
163
Na Justiça Militar dos Estados e do DF não é possível processar e julgar civis, conforme CF/88.
164
Marinha: Decreto 88.545/83 - Exército: Decreto 4.346/02 - Aeronáutica: Decreto 76.322/75.
165
I. Tratando-se, em princípio, de delito de desobediência à ordem judicial possivelmente praticado por
funcionário público federal no exercício de suas funções e com estas relacionado, sobressai a competência da
Justiça Federal para o seu processo e julgamento. II. In casu, o Coronel não estava desempenhando função militar,
mas agindo na condição de funcionário público federal e no interesse do patrimônio da União. III. A natureza
militar do delito, nos termos do art. 9º, inc. II, alíneas b e c, do CPM, só se evidencia na hipótese de delito de
desobediência à decisão emanada da Justiça Militar, sendo que, in casu, configura-se, em princípio, o delito
previsto no art. 22, parágrafo único, da Lei nº 5.478/68. IV. Conflito conhecido para declarar a competência do
Juízo Federal da 2ª Vara Criminal da Seção Judiciária do Estado do Rio Grande do Sul, o Suscitado. (STJ - CC
28.573/RS, Rel. Ministro GILSON DIPP, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 11/10/2000, DJ 30/10/2000, p. 122)
166
O Advogado poderá ser contratado para acompanhar todo o processo administrativo disciplinar, a fim de
acompanhar o depoimento do militar, requerer diligências, cópias dos autos, arrolar testemunhas, elabor a defesa
técnica, interpor recursos, etc.
Ou seja, não é cabível questionar se a punição foi justa ou injusta: isso não é
possível, pois é matéria atinente somente à Administração Castrense, é uma questão
discricionária das Forças Armadas e das Forças Auxiliares (Polícia e Bombeiros
Militares).
Celso Antônio Bandeira de Mello167 assim conceitua o que seja um ato
discricionário:
Atos “discricionários”, pelo contrário, seriam os que a Administração pratica
com certa margem de liberdade de avaliação ou decisão segundo critérios de
conveniência e oportunidade formulados por ela mesma, ainda que adstrita à lei
reguladora da expedição deles.
Mas, então, o que isso tudo quer dizer? Significa que o superior hierárquico
detém poderes168 discricionários para avaliar a transgressão disciplinar e poder
167
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 14ª ed. São Paulo: Malheiros,
2002. p. 380.
168
ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO. MILITAR. ATO DE PUNIÇÃO DISCIPLINAR (TRANSGRESSÃO).
ANULAÇÃO. IMPOSSÍBILDIADE. AUSÊNCIA DE DESVIO DE FINALIDADE. LEGALIDADE. PODER
DISCRICIONÁRIO DA ADMINISTRAÇÃO CASTRENSE. DANOS MORAIS. NÃO OCORRÊNCIA.
PRIMAZIA DA HIERARQUIA E DA DISCIPLINA. IMPROVIMENTO. 1. Em ações que versam sobre
o controle jurisdicional do processo administrativo, a atuação do Poder Judiciário se limita à análise da
regularidade do procedimento, não lhe sendo permitida qualquer incursão no mérito para aferir a conveniência
e a oportunidade da decisão tomada pela autoridade administrativa. 2. (...). (TRF5 - AC 200984000098236 – 4ª
Turma - Rel. Des. Federal Marco Bruno Miranda Clementino - DJE de 02.08.2012, p.687)
Art. 34. Nenhuma punição será imposta sem ser ouvido o transgressor e sem estarem
os fatos devidamente apurados.
(...)
5 - Os detidos para averiguações podem ser mantidos incomunicáveis para
interrogatório da autoridade a cuja disposição se achem. A cessação da
incomunicabilidade depende da ultimação das averiguações procedidas com a
máxima urgência, não podendo, de qualquer forma, o período de incomunicabilidade
ser superior a quatro dias.
169
Quando citar a palavra norma neste livro, estarei me referindo, genericamente, a qualquer portaria, decreto,
lei ordinária, lei complementar, CF/88, tratado internacional, etc.
170
E estará, também, cometendo o delito de abuso de autoridade contra o exercício profissional da Advocacia,
nos termos do art. 2º, letra a, da Lei 4.898/65.
Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na
iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo
nos casos de punição disciplinar.
175
Contraditório aqui, significa, resumidamente, o direito de se defender de uma acusação antes de sofrer uma
punição.
176
Já a ampla defesa, sinteticamente, é o direito de permitir ao acusado utilizar todos os meios legais que dispuser
com o fim de provar sua inocência por meio de provas testemunhais, documentais, depoimento pessoal, etc.
Por isso que, caso seja indeferido o pedido do militar de apresentação (arrolamento) de testemunha para provar
sua inocência, é motivo suficiente de impetração de habeas corpus, pois tal ato além de ilegal é, sobretudo,
inconstitucional.
177
Direito material é o direito objetivo que vem estabelecer a substância, a matéria da norma agendi, fonte
geradora e assegurada de todo direito. E assim se diz para se contrapor ao direito formal (processual), que vem
instituir o processo ou forma de proteger tal direito objetivo (exemplo: o cidadão possui o direito de petição
aos órgãos públicos). Já o direito processual (formal) se denomina como todo complexo de regras instituídas
pelo Poder Público no sentido de determinar a forma por que serão os direitos protegidos pelo Poder Judiciário.
178
A Lei 9.784/99 (Regula o processo administrativo no âmbito federal) tem aplicação, em determinadas situações
(subsidiariamente, por exemplo), nos processos administrativos disciplinares.
179
O CPPM dispõe sobre o remédio heróico a partir do art. 466.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 138-140.
180
Aqui, o termo exaustiva significa dizer que é possível que haja a configuração de uma prisão ilegal em hipótese
181
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais
e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
(...)
§ 2º Não caberá “habeas-corpus” em relação a punições disciplinares militares;
(...)
Art. 466. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado
de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou
abuso de poder.
Exceção
Parágrafo único. Excetuam-se, todavia, os casos em que a ameaça ou a coação
resultar:
a) de punição aplicada de acordo com os Regulamentos Disciplinares das Forças
Armadas;
182
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. DECISÃO DO RELATOR, DENEGATÓRIA DE
SEGUIMENTO AO PEDIDO. PUNIÇÃO DISCIPLINAR JÁ EXTINTA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 695/
STF. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INADMISSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE.
CONVERSÃO EM AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DESPROVIDO. 1. Não cabem embargos de declaração
contra decisão do relator, denegatória de seguimento a pedido manifestamente incabível. Conhecimento do pedido
como agravo regimental. 2. O pedido formulado na inicial do recurso ordinário em habeas corpus não é de ser
conhecido. Não há como discutir a legalidade de punição disciplinar já extinta. Incidência da Súmula 695/STF
(“Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de liberdade”). 3. Agravo regimental desprovido.
(STF - RHC 90134 ED, Relator(a): Min. CARLOS BRITTO, Primeira Turma, julgado em 17/06/2008, DJe-108
DIVULG 10-06-2009 PUBLIC 12-06-2009 EMENT VOL-02364-01 PP-00070)
183
Súmula nº 695: Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de liberdade.
184
Tratava-se de habeas corpus impetrado em desfavor do Comandante do 7º Batalhão de Infantaria Blindado.
186
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. CARREIRA MILITAR. DISCRICIONARIEDADE.
ARBITRARIEDADE. DISTINÇÃO. REPRESÁLIA A DECISÃO JUDICIAL. 1. Desnecessário a qualquer
cidadão, na defesa de seus direitos, esgotar a via administrativa, ainda mais quando os ditos direitos continuem
sendo malferidos de forma ilegal e abusiva, correndo riscos de perseguições, humilhações e toda sorte de
pressões para não ingressar na Justiça. 2. A “disponibilidade” no meio militar é considerada a UTI entre a
vida e a morte na caserna. É uma das mais humilhantes punições que um Oficial Superior pode receber. É o
prenúncio do fim da carreira. Caracterizado que a medida, de caráter indisfarçavelmente punitivo, traduziu
efetiva represália a uma decisão judicial, materializa-se na espécie a ilegalidade, o excesso de poder e o desvio
de finalidade a viciar o ato administrativo. 3. A harmonia prevista na Constituição Federal, como regra de
convivência entre os Poderes, não significa a obediência aos caprichos de algum Rei-Sol, mas à vontade da
Lei, cuja interpretação foi outorgada, em caráter definitivo, ao Poder Judiciário. 4. Não há possibilidade de
confronto real entre o ingresso em juízo e os valores relativos à disciplina e hierarquia, pois que constitucional
a garantia de acesso ao Judiciário. Desse modo, as exonerações naquele fato alicerçadas têm como respaldo
apenas insana retaliação, o que implica em classificar-se o ato como arbitrário e, por isso, ilegal. 5. O ato
discricionário tem por base o interesse público, que não se confunde com interesses subjetivos ou de política
subalterna de autoridades ou de seus correligionários, réus em ação popular intentada pelos impetrantes. Apelo
improvido. Unânime. (TJDFT - Acórdão n.100072 - APC4037996 - Relator: VALTER XAVIER, Revisor: SANDRA
DE SANTI - 1ª Turma Cível, j. 28.08.1997, DJU de 19.11.1997, p. 28)
187
Diz-se que não foi recepcionado, pois a CF/88 é posterior à Lei 6.880/80, logo não é correto dizer-se que o §
3º foi revogado, sequer tacitamente. Assim, o termo técnico correto é dizer que o § 3º não foi recepcionado pela
CF/88, pois aquela é norma incompatível com o Texto Maior de 1988.
188
DECISÃO ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL– PEDIDO
LIMINAR – ANALOGIA – ARTIGO 12 DA LEI Nº 9.868/1999. 1. O Gabinete prestou a seguintes informações:
A Procuradoria Geral da República formalizou, com pedido de concessão de liminar, arguição de descumprimento
de preceito fundamental em face do artigo 51, § 3º, da Lei nº 6.880, de 1980 – Estatuto dos Militares. O preceito
impugnado estabelece como requisitos para o ajuizamento de ação judicial pelo militar o esgotamento prévio
da esfera administrativa e a comunicação antecipada ao superior hierárquico. O ministro Gilmar Mendes,
no exercício da Presidência, observou o artigo 5º, § 2º, da Lei nº 9.882, de 1999, solicitando informações. A
Presidência da República e a Advocacia-Geral da União informam a edição do Parecer nº 121/CONJUR-2005,
da Consultoria Jurídica do Ministério da Defesa, aprovado em caráter normativo pelo respectivo Ministro
de Estado. Com isso, a norma questionada deixou de ser aplicada aos membros das Forças Armadas, ante a
conclusão administrativa de ausência de compatibilidade entre o dispositivo e o princípio da inafastabilidade de
acesso à jurisdição. 2. Tem-se admitido que algumas regras versadas na Lei nº 9.868, de 1999, a qual dispõe sobre
o processo e julgamento da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade
perante o Supremo Tribunal Federal, sejam aplicadas analogicamente ao procedimento previsto para a arguição
de descumprimento fundamental. Na espécie, a racionalidade e a organicidade próprias ao Direito direcionam
ao julgamento definitivo, no que se homenageia a economia processual. 3. Aciono o disposto no artigo 12 da
Lei nº 9.868, de 1999. Providenciem as informações, a manifestação do Advogado-Geral da União e o parecer
da Procuradoria Geral da República sobre o mérito do pedido formulado. 4. (...). (STF - ADPF 181, Relator(a):
Min. MARCO AURÉLIO, julgado em 11/06/2012, DJe-122 DIVULG 21/06/2012 PUBLIC 22/06/2012)
189
Da mesma forma, obviamente, não é necessário informar previamente à autoridade superior que será impetrado
um habeas corpus, ou mesmo que ajuizará qualquer outro tipo de ação judicial para reivindicar quaisquer direitos.
190
ATO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR MILITAR. PRISÃO DISCIPLINAR. CONTROLE JUDICIAL.
ILEGALIDADE RECONHECIDA. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. A conduta do autor foi punida
por violar dispositivo do regulamento Disciplinar do Exército (Decreto 90.608/94), segundo o qual transgride
o regime militar aquele que recorre ao Judiciário sem esgotar os recursos administrativos. Reconhecida a
ilegalidade do dispositivo. O direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade
ou abuso de poder é constitucionalmente protegido e garantido a todos os brasileiros, nos termos do art. 5º,
XXXIV da Constituição Militar. A validade do ato está vinculada aos motivos indicados como seu fundamento,
de sorte que, o erro quanto ao motivo implica a nulidade do ato administrativo. Ora, se o ato administrativo
teve por fundamento a infração ao disposto no número 15 do Anexo I, do Regulamento Disciplinar do Exército,
e a União suscita “equívoco” quanto ao dispositivo violado, correta a sentença que reconheceu a nulidade da
punição disciplinar e determinou a sua exclusão dos registros funcionais do autor. Reconhecida a ilegalidade da
sua prisão, o autor faz jus ao ressarcimento pelos danos morais experimentados. A revisão do valor arbitrado
pelo juízo a quo deve se limitar às hipóteses em que haja evidente exagero ou manifesta irrisão na fixação, o
que violaria os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Valor da indenização reduzido. Preliminar
rejeitada. Remessa oficial e apelação da União parcialmente providas, para reduzir o valor da indenização.
Termo a quo dos juros de mora alterado, de ofício. (TRF3 - APELREEX 00000531419994036105 – 1ª Turma –
Rel. Des. Federal José Lunardelli, - e-DJF3 de 05.12.2011)
Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos
em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a
competência da Justiça Militar.
191
A identificação da autoridade coatora será discorrida em tópico 4.9.2, pois é de suma importância para o
processamento e julgamento do habeas corpus.
192
Na Justiça Militar da União, somente o STM é competente para processar e julgar habeas corpus, ou seja,
nem o Juiz-Auditor e nem tampouco os Conselhos de Justiça das Auditorias Militares possuem tal competência,
conforme se pode observar na leitura da letra c do inciso I do art. 6º da Lei 8.457/1992.
193
O civil pode prender um militar que estiver em flagrante delito.
194
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA ENTRE AS TURMAS ESPECIALIZADAS. HÁBEAS
CORPUS PREVENTIVO. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO MILITAR. I – (...). II – A Remessa
Necessária em Habeas Corpus contra punição por transgressão disciplinar que não constitui crime é de
competência da Turma Especializada em matéria administrativa, uma vez que a punição disciplinar por
transgressão militar tem natureza jurídica de ato administrativo. III – (...). IV - Registre-se, ademais, que as
Turmas Especializadas em Direito Administrativo já vêm conhecendo os referidos habeas corpus. V – Conflito
de Competência procedente para declarar competente a MM. 5ª Turma Especializada. (TRF2 – REOCR
200951014901500 - 5ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal Reis Fried - E-DJF2R de 09.06.2011, p. 4)
195
Tramita no Congresso Nacional proposta de emenda constitucional – PEC nº 358/2005 - com o objetivo de
alterar o art. 124. A nova redação seria a seguinte: À justiça militar da União compete processar e julgar os crime
militares definidos em lei bem como exercer o controle jurisdicional sobre as punições disciplinares aplicadas
aos membros das forças armadas.
logo, tal encargo é da Justiça Federal. Ademais, a ausência de previsão nesta lei
decorre do fato de que o caput está restrito aos crimes militares. Entretanto, se a
autoridade coatora for um dos Comandantes196 da Marinha, Exército ou Aeronáutica,
caberá ao STJ197 processar e julgar o habeas corpus, conforme disposto no art.
105, I, letra c da CF/88. Logo, resumidamente, pode-se afirmar que se a autoridade
coatora no habeas corpus não for um dos Comandantes das Forças Armadas, a
competência para processar e julgar o writ relacionado à punição disciplinar será
dos Juízes Federais de 1ª instância.
Entretanto, embora a CF/88 e a Lei 8.457/92 não tenham conferido
competência ao STM para processar e julgar habeas corpus contra punições
disciplinares, este Tribunal tem conhecido e julgado o writ. Eis uma de muitas
decisões em que foi conhecida198 a impetração:
196
Se um dos Comandantes figurar como paciente no habeas corpus, a competência para processar e julgar o
writ será do STF, conforme previsão disposta na letra d do inciso I do art. 102 da CF/88:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:(...)
d) o “habeas-corpus”, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de
segurança e o “habeas-data” contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e
do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo
Tribunal Federal; (...).
197
HABEAS CORPUS. HIPÓTESES DE CABIMENTO. LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO. RECURSO
EM SENTIDO ESTRITO. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. QUESTÕES QUE ENSEJAM O REEXAME
DE MATÉRIA DECIDIDA PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. ANÁLISE DE FATOS E PROVAS.
INVIABILIDADE. ILEGALIDADE MANIFESTA. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO. 1. Além do
papel principal desta Corte, que é a função uniformizadora da jurisprudência nacional, com o estabelecimento
da correta interpretação das normas infraconstitucionais (art. 105, inciso III), por meio do recurso especial,
destaca-se o habeas corpus originário cabível sempre que “o coator ou paciente for qualquer das pessoas
mencionadas na alínea ‘a’, ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou
Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral” ( art.
105, inciso I, alínea “c”). 2. Estando a liberdade ameaçada ou concretamente coarctada (não se admitindo
mera conjetura prospectiva) e figurando o paciente ou órgão coator inseridos no rol competencial delineado
pela Constituição, será cabível habeas corpus originário dirigido a este Tribunal Superior. 3. Nos últimos anos,
assistiu-se a um aumento vertiginoso no número de habeas corpus que aportaram neste Tribunal, inclusive
como sucedâneos de recursos (apelação, agravo em execução, recurso em sentido estrito etc), fruto inegável da
abrangência que se conferiu a esta ação-garantia destinada precipuamente à tutela da liberdade de locomoção.
(...) 9. Impetração não conhecida. (STJ - HC 122.296/MG - Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA,
julgado em 16/10/2012, DJe 31/10/2012)
198
Quando o STM diz que o habeas corpus foi conhecido, significa dizer que se considerou, também, competente
para processar e julgar a writ.
199
O instituto do habeas data é muito interessante e de grande valia para reivindicar direitos perante o Judiciário
(ver capítulo 8).
200
Por exemplo: quando se ajuíza uma ação por danos morais, paga-se custas processuais, a não ser que
seja deferido o pedido de gratuidade judicial, nos termos da Lei 1.060/50. No habeas corpus não se pagará
Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor
ou de outrem, bem como pelo Ministério Público.
202
No ordenamento jurídico brasileiro significa a pessoa que está sofrendo constrangimento ilegal ou na sua
iminência. Exemplo: será paciente o militar que estiver preso ou na iminência de ser preso.
203
Impetrante é o autor da petição do habeas corpus, aquele que assina a peça, e como dito, o impetrante poderá
ser o próprio paciente. Não há qualquer impedimento legal de que o paciente também assine a petição inicial
juntamente com o impetrante.
204
PROCESSUAL PENAL E PENAL. RECURSO EM HABEAS-CORPUS. PROCURAÇÃO.
DESNECESSIDADE. DENUNCIA. ADITAMENTO BASEADO EM MERA SUPOSIÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO. I - a ação de habeas-corpus, pela sua importancia, inclusive
com sede constitucional, pode ser ajuizada por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem (art. 654, caput,
cpp). Quem tem legitimidade para propor a ação tambem tem legitimidade recursal. Logo, não precisaria de
outorga de procuração para agir. II - o aditamento a denúncia, fundamentado em mera suposição, atenta contra
o status libertatis da paciente. E, portanto, abusivo. III - Recurso provido. (STJ - RHC 1787/PE, Rel. Ministro
ADHEMAR MACIEL, SEXTA TURMA, julgado em 14/12/1992, DJ 01/03/1993, p. 2540)
205
Uma associação, sindicato, uma empresa, um partido político, dentre outras pessoas jurídicas, podem impetrar
o writ em favor de qualquer pessoa física. Aliás, o próprio Ministério Público pode impetrar o writ constitucional.
Mirabete206 discorre muito bem sobre o tema, logo cabível transcrever seus
ensinamentos na íntegra:
206
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2000. p. 1460.
207
Ou seja, se um civil, por exemplo, for preso por suposto cometimento de homicídio, qualquer cidadão, sendo
ou não Advogado, poderá peticionar para o Poder Judiciário, a fim de solicitar que o paciente seja libertado.
208
O Advogado quando impetra habeas corpus em favor de um cliente não necessita de procuração para que a
petição seja conhecida (aceita), a fim de que, posteriormente, o writ seja processado e julgado.
209
O paciente não está obrigado a assinar a petição do writ, embora, caso queira, não haja qualquer problema
em que assine.
210
Imaginem se a sociedade detivesse conhecimento para elaborar um habeas corpus contra prisões ilegais.
Certamente, muitas ilegalidades cometidas por policiais, delegados e militares seriam cessadas no menor prazo
possível e a um baixo custo (sem necessidade de contratação de Advogado). E certamente estas autoridades
ficariam mais apreensivas ao prender cidadãos ilegalmente ou com abuso de autoridade, o que não é incomum,
e, como será demonstrado neste capítulo, a prisão ilegal sujeita o coator a responder um processo criminal por
abuso de poder.
211
Importante, entretanto, esclarecer que não é obrigatório citar na petição inicial do writ que este é preventivo ou
repressivo, pois tal omissão não impedirá o conhecimento do mesmo pelo Judiciário. Como dito, a ação de habeas
corpus é bem informal, não se prendendo à forma, importando o conteúdo, a fim de que se permita ao magistrado
verificar se há ou não ilegalidade na ameaça (preventivo) ou na restrição (repressivo) do direito de liberdade.
212
Na petição inicial do writ preventivo, no tópico PEDIDO da inicial, será requerida a expedição de alvará de
salvo-conduto em favor do paciente. Já na petição do writ liberatório, será solicitado a expedição de alvará de
soltura para o paciente.
O habeas corpus deverá ser impetrado contra o ato do coator, que poderá ser
tanto autoridade (delegado de polícia, promotor de justiça, juiz de direito, tribunal,
etc) como particular. No primeiro caso, nas hipóteses de ilegalidade e abuso de
poder, enquanto no segundo caso, somente nas hipóteses de ilegalidade. Por
213
Se a autoridade militar coatora descumprir a ordem judicial, estará passível de ser processada e julgada por
crime de desobediência, previsto no art. 330 do Código Penal.
214
Observa-se neste Salvo Conduto, que o Juiz Federal faz a ressalva de que a autoridade coatora poderia
instaurar novo processo administrativo disciplinar, caso, contudo, respeitasse a legislação. Então, como já dito
anteriormente, em havendo ferimento pela autoridade militar de alguma norma jurídica (lei, decreto, portaria,
etc) é possível questionar atos administrativos eivados de ilegalidade através do habeas corpus.
215
Ressalte-se que se o impetrante não informar na inicial qual a espécie do habeas corpus, tal omissão em nada
irá prejudicar o writ, pois caberá ao magistrado verificar se é o caso de preventivo ou liberatório.
216
MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 144.
217
Há regulamentos, como da Aeronáutica, prevendo que a primeira prisão de militar deverá ser decretada pelo
Comandante da Organização Militar.
218
Tal dificuldade poderá ser enfrentada pelo próprio magistrado, pois oportuno ressaltar, que é possível que um
magistrado em início de carreira não conheça adequadamente a utilização do writ nas punições administrativas
disciplinares. E isso já aconteceu comigo em 2004, quando um Juiz Federal entendeu que não era cabível o writ
para questionar a legalidade de punição disciplinar.
CPC. 3. Precedentes das egrégias 1ª e 3ª Seção, e 1ª, 2ª, 5ª e 6ª Turmas desta Corte
Superior. 4. Recurso provido. Baixa dos autos ao egrégio Tribunal de origem para
que prossiga no julgamento da ação, com o exame das demais questões. (STJ –
ROMS nº 20422/RN – Primeira Turma – Rel. Min. José Delgado, j. 13.09.05, DJ
de 10.10.2005, pág. 221)
A ação de habeas corpus – que possui rito sumaríssimo – não comporta, em função
de sua própria natureza processual, maior dilação probatória, eis que ao impetrante
compete, na realidade – sem prejuízo da complementação instrutória ministrada
pelo órgão coator -, subsidiar, com elementos documentais pré-constituídos, o
conhecimento da causa pelo Poder Judiciário. A utilização adequada do remédio
constitucional do habeas corpus impõe, em consequência, seja o writ instruído,
ordinariamente, com documentos suficientes e necessários à análise da pretensão
de direito material nele reduzida. (JSTF 161/311).
O STJ segue tal posicionamento, conforme se pode verificar na leitura das
seguintes decisões:
221
Ou seja, não admite, em regra, dilação probatória, isto é, que sejam realizadas provas após sua impetração,
como, exemplo, a prova testemunhal.
222
Digo em regra, porque poderá ocorrer, por exemplo, de a autoridade coatora estar de posse de documentos
necessários à prova da prisão ilegal e ter se negado a fornecer ao militar, logo, será possível requerer tais
documentos ao magistrado para serem juntados posteriormente aos autos.
228
Competência originária, neste caso, em resumo, quer dizer que o habeas corpus será iniciado, impetrado,
diretamente no Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Este exemplo foi apenas didático, pois os tribunais
regionais federais não possuem competência para conhecer de habeas corpus contra punições disciplinares de
militares das Forças Armadas, ressaltando-se que sua atuação é apenas em grau recursal (recurso em sentido estrito).
229
O ideal é ligar antes para o órgão do Judiciário para saber sobre os procedimentos para impetrar habeas
corpus fora do expediente.
230
Nos sites do Poder Judiciário costuma-se ser disponibilizado a tabela mensal e/ou anual dos plantões com o
nome do magistrado de plantão. Ressalte-se que cada Estado poderá ter seu próprio procedimento para a equipe
de plantão.
231
É possível enviar as petições via correio, sendo que no endereçamento deverá ser escrito, também, o seguinte:
“SETOR DE PROTOCOLO - PETIÇÃO DE HABEAS CORPUS”. Pode-se, também, enviar via fax, contanto
que em seguida sejam enviadas via correio ou protocoladas pessoalmente as petições e documentos originais,
devendo, obrigatoriamente, chegar ao Fórum no prazo de até 05 (cinco) dias contados do dia seguinte ao envio do
FAX, conforme previsão contida na Lei 9.800/99, sob pena de não conhecimento do writ. Por isso, é ideal mandar
via SEDEX. Em fevereiro de 2009 fui contratado por um militar da Base Aérea de Santa Cruz (Rio de Janeiro)
para impetrar um habeas corpus contra o respectivo Comandante. Enviei via FAX no sábado e os originais na
segunda-feira, via SEDEX, tendo sido aceito o pedido via fac-símile e concedida liminar, impedindo-se, assim,
a prisão do paciente. Já é possível a impetração de habeas corpus via internet pelo processo judicial eletrônico,
todavia, ainda não foi implantado em todo o Poder Judiciário, logo, sugiro que seja verificado no site oficial do
respectivo órgão judicial se este sistema está disponível.
232
Sugiro a leitura do capítulo 9 quando trata do local da impetração de mandado de segurança.
233
Autos, tecnicamente falando, são os documentos constantes do processo, ou seja, as folhas, fotos, dentre
outros, que compõem o caderno processual.
234
Liminar é, neste caso em discussão, a antecipação da sentença de habeas corpus e costuma ocorrer quando o
magistrado verifica, de forma sumária, que há ilegalidade ou abuso de poder e perigo na demora do processamento
e julgamento do writ (periculum in mora e fumus boni iuris). Vejamos o seguinte exemplo: no dia da impetração
do writ é iniciada a execução da pena disciplinar de 10 (dez) dias em desfavor de um militar: se o magistrado
não deferir a liminar, certamente, o militar cumprirá toda a punição antes de proferida a sentença.
235
APELAÇÃO CRIMINAL. MILITAR. PUNIÇÃO DISCIPLINAR. HABEAS CORPUS. DEFERIMENTO DE
LIMINAR. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM EXAME DO MÉRITO. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE
INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. NULIDADE DA SENTENÇA. I - Não poderia o Magistrado
a quo ter-se furtado de examinar o mérito do habeas corpus em tela, quando a decisão proferida em sede
liminar não encerra em si juízo definitivo, a despeito da satisfação prática do interesse, ou seja, não esvazia o
objeto da impetração - declaração de nulidade da punição disciplinar imputada ao paciente - razão pela qual
o processo não poderia ter sido extinto sem julgamento do mérito. II - O fato de o Ministério Público Federal
não ter sido chamado a intervir nos autos do remédio heróico, já seria suficiente para anular a sentença, com
fulcro no art. 127 da Constituição Federal. III - Apelações providas. (TRF1 - ACR 0000844-23.2007.4.01.3400
– 3ª Turma - Rel. Desembargador Federal Cândido Ribeiro, Rel.conv. Juiz Federal Lino Osvaldo Serra Sousa
(conv.) - e-DJF1 p.225 de 28.03.2008)
236
Parecer é o documento jurídico onde, por exemplo, o Procurador da República (Ministério Público Federal)
ou o Promotor de Justiça (Ministério Público Estadual) irá dar sua opinião jurídica sobre o pedido de habeas
corpus, pronunciando-se sobre a concessão ou denegação da ordem. Este parecer não vincula o magistrado, ou
seja, este poderá decidir em desacordo com o entendimento do Ministério Público.
237
Como se pode perceber, em não sendo concedida a liminar em sede de habeas corpus preventivo, poderá ocorrer
de a sentença concessiva do writ ser imprestável ao paciente caso já tenha cumprido toda a punição disciplinar.
238
Porém cabível esclarecer que os sites oficiais do Poder Judiciário, em regra, não servem como instrumentos
de comunicações oficiais dos despachos ou das decisões judiciais, pois na prática, funcionam como uma ajuda
informal aos jurisdicionados.
Se não for concedida a liminar para impedir ou sustar a prisão, poderá ocorrer
de o habeas corpus ser julgado após o cumprimento da pena disciplinar, e neste
caso o writ seja considerado prejudicado239.
Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor
ou de outrem, bem como pelo Ministério Público.
§ 1º. A petição de habeas corpus conterá:
a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coação e
o de quem exercer a violência, coação ou ameaça;
b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaça de
coação, as razões em que funda o seu temor;
c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não
puder escrever, e a designação das respectivas residências.
(...)
Há um detalhe muito relevante neste inciso II, quando prevê que e, quando
possível, a prova documental dos fatos alegados. Digo importante, porque embora
não seja obrigatória a comprovação por documentos do ato dito ilegal, ocorre que
em sendo possível juntar documentos à petição inicial, estes poderão comprovar,
239
Este termo, em outras palavras, quer dizer o seguinte: não adianta mais julgar o writ, em virtude de que o
paciente já cumpriu toda a punição disciplinar, logo não há mais restrição ilegal de liberdade (ou seja, o Judiciário
não vai se pronunciar, pelo menos nos autos do habeas corpus, se a prisão disciplinar foi ou não ilegal). Porém,
futuramente, o militar poderá requerer a anulação da punição através de um mandado de segurança (o prazo para
impetração é de até 120 dias a contar do ato ilegal) ou ação ordinária. Podemos citar como exemplo a seguinte
decisão do STJ:
HABEAS CORPUS. PENA DISCIPLINAR. Inexistindo ameaça ou coação à liberdade de locomoção, do
paciente, ante o exaurimento da punição disciplinar, desapareceu o pressuposto do habeas corpus, previsto
no texto constitucional (art. 5., lv, da constituição). Precedentes jurisprudenciais. Habeas corpus julgado
prejudicado. (STJ – HC nº 1.001/DF, Rel. Ministro ASSIS TOLEDO, TERCEIRA SECAO, julgado em 20/02/1992,
DJ 09/03/1992, pág. 2.531)
por si sós240, a prisão ilegal ou sua iminência. Além de que tais documentos poderão
contribuir, significativamente, para a concessão de liminar e para a sentença
concessiva do writ, conforme já comentado anteriormente.
A título didático, confeccionei 04 (quatro) modelos bem simples de petições
iniciais de habeas corpus, sendo as 02 (duas) primeiras impetradas perante a
Justiça Federal de Primeira Instância (Juiz Federal), sendo que estas podem ser
utilizadas, também, como modelos para a Justiça Estadual (Auditoria Militar), a
terceira perante o STM e a última junto ao STJ:
Art. 83. Suspendem-se as atividades judicantes do Tribunal nos feriados, nas férias
coletivas e nos dias em que o Tribunal o determinar.
240
A primeira atitude do magistrado ao receber a petição inicial do writ será verificar se existe prova documental
dos fatos alegados. Verificando que existe prova suficiente e concluindo pela ilegalidade será possível que
conceda a ordem liminarmente. Todavia, caso não disponha de documentos suficientes, irá intimar (notificar) a
autoridade coatora para que preste as informações (defesa) e somente após irá decidir sobre pedido liminar, ou
então, decidir, após o parecer ministerial, o mérito definitivo do habeas corpus.
241
Liminar no writ é uma decisão anterior ao julgamento do mérito, visando, precipuamente, preservar o direito
de ir e vir do paciente até o julgamento do writ, seja preventivo ou liberatório.
Art. 201. O relator requisitará informações do apontado coator, no prazo que fixar,
podendo, ainda:
I - nomear advogado para acompanhar e defender oralmente o pedido, se o
impetrante não for bacharel em Direito;
II - ordenar diligências necessárias à instrução do pedido;
III - se convier ouvir o paciente, determinar sua apresentação à sessão de
julgamento;
IV - no habeas corpus preventivo, expedir salvo-conduto em favor do paciente, até
decisão do feito, se houver grave risco de consumar-se a violência.
MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 144-145.
247
Em regra, os magistrados federais e estaduais verificam em primeiro lugar se há perigo da demora, para
248
somente após verificar se existe a fumaça do bom direito. E quando não vislumbram o primeiro, costumam não
Por isso, sugiro que sempre seja requerida liminar no habeas corpus, seja
ele preventivo ou repressivo, mesmo que o impetrante não consiga identificar o
periculum in mora e fumus boni iuris, posto que como já dito, o magistrado ao ler
a petição irá verificar se existem ou não os requisitos mínimos necessários para a
concessão de liminar.
Importante informar que a liminar deferida é provisória, podendo ser
revogada250, inclusive, na sentença, caso o magistrado decida pela denegação da
ordem.
250
PROCESSUAL PENAL. SENTENÇA DENEGATÓRIA DE HABEAS CORPUS. CASSAÇÃO DE
LIMINAR. PRISÃO DISCIPLINAR MILITAR. SUSPEIÇÃO DO JUÍZO. 1. A liminar concedida está sujeita
a confirmação (ou não) quando do julgamento do mérito do habeas corpus. Todas as decisões liminares são
interinas e dependem de futura confirmação. É irrelevante que a liminar seja de outro magistrado, pois o que
se considera é o juízo; não a pessoa física do juiz. Inexiste ilegalidade na revogação da medida quando da
prolação da sentença. 2. A eventual suspeição do juiz, sendo o caso, deve ser discutida em expediente próprio
(art. 98 - CPP), não podendo ser discutida no âmbito do habeas corpus. Correta a sentença que, examinando
o procedimento da prisão disciplinar militar, denegou a ordem da habeas corpus, nos termos do art. 142 da
Constituição. 3. Recurso em sentido estrito desprovido. (TRF1 - RSE 0007859-27.2009.4.01.3900 – 4ª Turma
- Rel. Desembargador Federal Olindo Menezes - e-DJF1 p.17 de 31.05.2013)
251
Denegação é o termo utilizado no dispositivo da sentença que julga improcedente o pedido de habeas corpus.
252
RECURSO EM HABEAS CORPUS - PRISÃO DISCIPLINAR MILITAR - INICIAL INDEFERIDA -
CABIMENTO DA VIA ELEITA PARA SE APRECIAR EVENTUAL VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA
AMPLA DEFESA E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL - RECURSO PROVIDO. 1. O § 2º do art. 142 da
Constituição tem sido interpretado como proibição do exame do mérito da pena disciplinar militar, não, porém,
da legalidade dos seus aspectos extrínsecos, notadamente da observância do devido processo legal e do princípio
da ampla defesa. 2. Em tema de liberdade física e da correspondente garantia constitucional não é possível
o indeferimento liminar de inicial porque traduz obstáculo inaceitável ao acesso ao Poder Judiciário, única
via capaz de assegurá-la no regime de Estado de Direito. 3. Peças liberadas pelo Relator em 28/08/2001 para
publicação do acórdão. (TRF1 - RCHC 0008783-64.2001.4.01.3400 / DF - Rel. JUIZ LUCIANO TOLENTINO
AMARAL, TERCEIRA TURMA, DJ p.173 de 28.09.2001)
253
Capacidade postulatória no ordenamento jurídico brasileiro é a capacidade técnica-jurídica conferida pela Lei
8.906/94 aos Advogados inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil, a fim de que tenham permissão legal para
praticarem atos processuais em juízo.
254
O STJ, os TRFs, TJs e os magistrados em geral não estão obrigados a seguir o entendimento jurídico do STF,
a não ser em casos específicos, como por exemplo, súmulas vinculantes e decisões em Ações Declaratórias ou
Diretas de Inconstitucionalidade. Assim, quando o próprio leigo decidir interpor recurso em habeas corpus no
tribunal, é oportuno citar algum precedente jurisprudencial do STF que informe a desnecessidade da intervenção
de Advogado no recurso, ou seja, capacidade postulatória, para assim, quem sabe, o tribunal ou magistrado seguir
o entendimento da Maior Corte de Justiça de nosso País.
260
PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. MILITAR. PRISÃO DISCIPLINAR.
DENEGAÇÃO EM 1ª GRAU. PERDA DE OBJETO. Prejudicado o exame do presente recurso, por perda de
objeto, porque as questões nele ventiladas já foram examinadas por ocasião por julgamento do habeas corpus
substitutivo impetrado nesta Corte pelo recorrente, após a decisão que indeferiu a liminar do writ em 1ª grau,
tendo já sido cumprida integralmente a prisão disciplinar questionada. (TRF4 - RSE 2008.71.08.008690-4 – 7ª
Turma - Relator Néfi Cordeiro - Dj de. 15.04.2009)
PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS CONTRA INDEFERIMENTO DE LIMINAR.
ILEGALIDADE. NÃO COMPROVAÇÃO. INADMISSIBILIDADE. O habeas corpus não é admitido contra
denegações de liminar por juízo inferior, salvo quando clara a ilegalidade da decisão, o que não se configura
na hipótese. (TRF4 - HC 2005.04.01.041065-8 – 7ª Turma - Relator Néfi Cordeiro - DJ de 16.11.2005)
261
O indeferimento de liminar no habeas corpus de competência originária dos tribunais é contornável mediante
agravo regimental/interno quando houver previsão no respectivo regimento interno.
262
PROCESSUAL PENAL. (...). O indeferimento da petição inicial de habeas corpus equivale à denegação
da ordem, para fins do disposto no art 581, X do CPP (Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão,
despacho ou sentença: X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus;), pois conota rejeição, in limine,
do pedido, total como previsto no art. 663 do Digesto Processual. Iniciado o inquérito policial por requisição
do Ministério Público, este, e não a autoridade que preside o procedimento investigatório, é que vem a ser parte
impetrada em habeas corpus que objetiva o trancamento da fase inquisitorial, acarretando a competência do
respectivo Tribunal Federal para processar e julgar o wtrit. Mera intimação para prestação de esclarecimentos
em delegacia de polícia não configura ausência de justa causa apta a trancar inquérito policial. (TRF2 – Recurso
Criminal 200002010227588 – 4ª Turma – Rel. Des. Fernando Marques– DJU de 03.07.2001)
263
Na dúvida sobre qual o nome do recurso cabível a ser interposto, sugiro que conste apenas a forma genérica
“RECURSO” na petição recursal.
264
PROCESSO PENAL - (...). 3. O referido artigo 581 do Código de Processo Penal prevê que caberá recurso
em sentido estrito da decisão, despacho ou sentença que “conceder ou negar a ordem de habeas corpus”. Ora,
o indeferimento liminar da inicial - como aqui ocorrido - em nada se confunde com a concessão ou denegação
da ordem de habeas corpus. 4. Não cabe ao juiz criar novas hipóteses de cabimento para o recurso em sentido
estrito, alargando a enumeração taxativa do artigo 581 do CPP, sob pena de se tornar indevidamente legislador
positivo. Por conta disso, não é possível aplicar o artigo 581, cujas hipóteses são numerus clausus. Aliás, é
jurisprudência desta Turma que as decisões que admitem recursos em sentido estrito são numerus clausus, não
sendo possível a aplicação de analogia, interpretação analógica ou extensiva. 5. Ademais, no caso em concreto,
não é possível a aplicação do princípio da fungibilidade, dado o caráter grosseiro do erro ocorrido. 6. Recurso
não conhecido. (TRF3 - PRIMEIRA TURMA, RSE 0007536-51.2005.4.03.6181 - Rel. Desembargador Federal
Johonsom Di Salvo – j. em 16.10.07 - DJU de 04.12.2007)
265
PROCESSUAL PENAL. (...) 2. Tratando-se de decisão não arrolada no artigo 581 do Código de Processo
Penal e não encerrando a relação processual, incabíveis são os recursos em sentido estrito e de apelação,
devendo, nesse caso, ser a mesma impugnada por habeas corpus ou mandado de segurança. 3. Recurso
improvido. (TRF1 - RCCR 0049092-64.2000.4.01.3400 – 4ª Turma - Rel. Juiz Mário César Ribeiro - DJ de
23.04.2001)
266
Art. 258. A parte que se considerar agravada por decisão do Presidente da Corte Especial, de Seção, de
Turma ou de relator, poderá requerer, dentro de cinco dias, a apresentação do feito em mesa, para que a Corte
Especial, a Seção ou a Turma sobre ela se pronuncie, confi rmando-a ou reformando-a.
267
SÚMULA nº 691 do STF: Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de “Habeas Corpus”
impetrado contra decisão do Relator que, em “Habeas Corpus” requerido a Tribunal Superior, indefere a liminar.
268
Prequestionamento, em síntese, é a obrigatoriedade de que a matéria jurídica a ser analisada pelo STJ ou
STF tenha sido explicitamente analisada na instância anterior.
269
Repercussão geral, de índole constitucional, é exigida, exclusivamente, para o recurso extraordinário no STF.
O recurso extraordinário somente será analisado se a matéria objeto do mesmo tiver repercussão geral, ou seja,
resumindo, puder surtir efeitos sobre a coletividade, não sendo, em síntese, uma questão de repercussão individual.
É obrigatória a fundamentação deste requisito pelo Advogado por meio de preliminar (o Advogado vai ter que
convencer o Ministro-Relator do STF de que há repercussão geral no Recurso Extraordinário), sob pena de não
conhecimento do recurso. O objetivo da inclusão deste requisito foi diminuir os processos no STF. O art. 322 do
Regimento Interno do STF assim define a repercussão geral: Art. 322. O Tribunal recusará recurso extraordinário
cuja questão constitucional não oferecer repercussão geral, nos termos deste capítulo. Parágrafo único. Para
efeito da repercussão geral, será considerada a existência, ou não, de questões que, relevantes do ponto de vista
econômico, político, social ou jurídico, ultrapassem os interesses subjetivos das partes.
270
Em um dos muitos habeas corpus que impetrei quando militar da ativa, um deles chegou ao STF, pois a União
Federal recorreu de todas as decisões em que eu era beneficiado com alvará de salvo conduto; e no ano de 2008 foi
julgado pelo STF que não conheceu do recurso extraordinário interposto pela União, ou seja, o STF não aceitou
o recurso, mantendo-se, assim, a decisão de primeira instância que me concedeu a ordem de habeas corpus.
271
PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HABEAS CORPUS. ORDEM.
CONCESSÃO. ILEGITIMIDADE DA UNIÃO. 1. A União (Advocacia-Geral) não tem legitimidade para
interpor recurso de decisão que concede ordem de habeas corpus, haja vista ser atribuição do Ministério
Público Federal. 2. Recurso em sentido estrito não conhecido. (TRF1 - RSE 0015801-87.2011.4.01.3400 – 3ª
Turma - Rel. Desembargador Federal Tourinho Neto - e-DJF1 de 08.06.2012)
272
Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser interpostos,
de ofício, pelo juiz:
I - da sentença que conceder habeas corpus;(...)
273
Art. 653. Ordenada a soltura do paciente em virtude de habeas corpus, será condenada nas custas a autoridade
que, por má-fé ou evidente abuso de poder, tiver determinado a coação.
Parágrafo único. Neste caso, será remetida ao Ministério Público cópia das peças necessárias para ser
promovida a responsabilidade da autoridade.
274
Art. 195. Ordenada a soltura do paciente, em virtude de habeas corpus, a autoridade que, por má-fé ou
evidente abuso de poder, tiver determinado a coação, será condenada nas custas, remetendo-se ao Ministério
Público traslado das peças necessárias à apuração de sua responsabilidade penal.
275
Art. 205. Ordenada a soltura do paciente, em virtude de habeas corpus, a autoridade que, por má-fé ou
evidente abuso de poder, tiver determinado a coação, será condenada nas custas, remetendo-se ao Ministério
Público traslado das peças necessárias à propositura da ação penal.
276
O artigo cita o Ministério Público que neste caso é o detentor exclusivo da ação penal. Entretanto, ressalte-se
que o próprio impetrante ou paciente, ou mesmo terceiros podem, mediante representação criminal dirigida ao
Ministério Público, solicitar que este efetue a denúncia por crime de abuso de autoridade para o início da ação
penal (ver Capítulo 5).
277
RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. (...). POSSIBILIDADE DE EVENTUAL
COMETIMENTO DE CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE. (...). III - De fato, em se tratando de eventual
prática de delito de abuso de autoridade cometido por policiais militares, é competente para julgamento a
Justiça Comum, conforme o comando contido no enunciado da Súmula nº 172/STJ (“O abuso de autoridade
cometido em serviço, por policial militar, deve ser julgado pela Justiça Comum.”). In casu, restou evidenciada a
incompetência do Juízo Militar acerca da homologação de arquivamento de inquérito policial quanto ao delito
de abuso de autoridade. IV - Na hipótese, portanto, restando consignado na sindicância para apuração de
infração disciplinar militar a existência de indícios da prática de crime de abuso de autoridade, não poderia o
Juízo Auditor Militar determinar o arquivamento do inquérito policial militar, tornando-se imperioso o envio dos
autos da sindicância ao Juízo comum competente, a fim de que o órgão ministerial possa analisar a ocorrência
ou não do delito previsto na Lei 4.898/65, qual seja, o abuso de autoridade. Recurso provido. (STJ - RMS 24.328/
PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, DJe 10/03/2008)
SÚMULA nº 172
Compete à Justiça comum processar e julgar militar por crime de abuso de
autoridade, ainda que praticado em serviço.
Porém, surge uma questão para análise sobre esta Súmula 172: ela é aplicável
quando os militares cometem o abuso de autoridade em quaisquer situações ou
somente quando o delito ocorre fora do exercício da atividade militar? Só há uma
resposta plausível, haja vista a fundamentação quanto ao princípio da reserva legal
mencionado no penúltimo parágrafo: aplica-se em quaisquer situações279.
Logo, em sendo praticado o delito de abuso de autoridade por militar das
Forças Armadas, será competente a Justiça Federal Comum e não a Justiça Militar
Federal para o processamento e julgamento da Ação Penal Pública. Se for praticado
por militares da Polícia Militar e Bombeiros será competente a Justiça Estadual
Comum e não a Justiça Militar Estadual.
Importante destacar fato ocorrido comigo quando era militar, onde um
Coronel foi investigado e processado perante a Justiça Federal Criminal, tendo,
antes, sido investigado pelo Ministério Público Federal após efetivação de
representação criminal formulada por mim e tal episódio foi divulgado por Jornal
de grande circulação de Natal/RN. Consta na matéria jornalística que a soltura
foi mediante habeas corpus, onde o Juiz Federal Walter Nunes concluiu pela
ilegalidade da prisão.
Em consequência da concessão do habeas corpus por um Juiz Federal e
da representação criminal efetivada por mim perante o MPF, o Procurador da
República Dr. Marcelo Alves Dias de Souza apresentou denúncia contra o Coronel,
sendo esta recebida pelo Juiz Federal Walter Nunes e assim instaurada a competente
Ação Penal Pública pelo cometimento do crime de abuso de autoridade. Tanto o
MPF quanto o Judiciário Federal do Rio Grande do Norte entenderam que era
possível a transação penal280 para delitos de abuso de autoridade. Logo, a autoridade
coatora militar foi beneficiada, e obviamente, concordou com a proposta do MPF,
278
PROCESSUAL PENAL - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PARA JULGAR CRIME DE
ABUSO DE AUTORIDADE PRATICADO POR MILITAR CONTRA OUTRO MILITAR EM ÁREA DE
ADMINISTRAÇÃO MILITAR. 1. Se a denúncia descreve fato que, em tese, constitui o crime de abuso de
autoridade previsto no art. 4, “b”, da Lei nº 4898/65, e não faz referência a qualquer outro fato que pudesse
atrair a competência da Justiça Castrense, compete à Justiça Federal, nos termos do enunciado da Súmula nº
172 do e. Superior Tribunal de Justiça, o respectivo processo e julgamento, ainda que a infração tenha sido
praticada por militar em serviço. 2. Inexistência de constrangimento ilegal fundado na incompetência da Justiça
Federal. (TRF2 – HC 200102010179367 – 3ª Turma - Rel. Des. Federal Frederico Gueiros – j. 07.08.01 – DJU
de 13.11.2001)
279
Um exemplo aconteceu comigo quando era militar da Aeronáutica: um Coronel me prendeu ilegalmente e
foi denunciado à Justiça Federal Comum pelo Ministério Público Federal pelo crime de abuso de autoridade,
previsto na Lei nº 4.898/65.
280
Ver tópico 5.7.
a fim de que não fosse julgada e condenada por penas privativas de liberdade ou
restritivas de direitos.
O Coronel participou da audiência criminal281 mesmo estando na reserva
remunerada, ou seja, não há como fugir da aplicação da lei penal pelo simples
fato de estar na inatividade (aposentadoria militar). Ressalte-se que o Coronel, em
audiência criminal, aceitou todos os termos do acordo criminal e certamente, se
tivesse permanecido na ativa, tomaria mais cuidado ao prender outros militares.
Sem dúvidas tal acordo criminal282 foi um grande negócio para o Coronel, e é
uma prova para todos os militares de que os superiores hierárquicos que abusam
de sua autoridade podem ser punidos criminalmente.
Seria muito interessante se todos os superiores hierárquicos tivessem a
consciência de que podem ser processados da mesma forma que este Coronel,
pois assim, quem sabe passariam a cumprir com mais atenção a CF/88 e demais
normas infraconstitucionais.
281
A audiência ocorreu no Município onde o militar da reserva fixou residência por meio de carta precatória, embora
o processo criminal tenha sido instaurado em Natal/RN. E claro que o acusado teve que contratar Advogado e
cumprir todo o acordo criminal firmado com o Ministério Público.
282
O que aconteceria se o Coronel não tivesse aceitado o acordo? Provavelmente seria condenado por crime de
abuso de autoridade.
283
Ver tópico 12.4.
4.13. Conclusão
Como visto no decorrer de toda explanação, o habeas corpus é um
instrumento jurídico de vital importância para qualquer pessoa do povo e muito
simples de ser elaborado, assim como é fácil a impetração perante o Poder
Judiciário.
Espero ter conseguido utilizar uma linguagem mais simples possível, a fim
de que qualquer pessoa e principalmente os militares detenham conhecimentos
suficientes para confeccionarem e impetrarem o writ contra abusos e ilegalidades
cometidas por superiores hierárquicos nas transgressões disciplinares.
PÁGINA
EM
BRANCO
Capítulo 5
5. Introdução
Primeiramente, antes de adentrar neste estudo, informo que em 2006 efetivei
uma representação por abuso de autoridade contra um ex-Comandante da Base
Aérea de Natal (Coronel Aviador). Este Coronel foi denunciado pelo MPF, tendo
a Justiça Federal acatado a denúncia e iniciado um processo judicial contra este
militar pelo delito de abuso de autoridade.
Este capítulo é interessante porque será demonstrado um meio eficiente de
punir superiores hierárquicos que abusam de suas autoridades contra subordinados
no meio castrense. A procedência de uma representação por abuso de autoridade
contra superior hierárquico pode destruir sua carreira militar.
Mas o que é abuso de autoridade? Como identificar um delito deste tipo? Por
que a Justiça Militar não é competente para julgar militares que cometem abusos de
autoridade? Quais as penalidades? Como confeccionar uma representação? Como e
onde dar entrada com a representação criminal? Há necessidade de esgotamento da
via administrativa para somente após efetivar a representação criminal? É preciso
informar previamente à respectiva Força Armada ou Auxiliar que irá fazer uma
representação contra superior hierárquico perante o Ministério Público?
Esclareça-se, desde já, que o art. 5º da Lei 4.898/65 (Abuso de Autoridade)
informa que o ato abusivo sujeitará o autor à sanção administrativa, civil e penal.
A Lei 4.898/65 informa em seus arts. 3º e 4º quais são os atos que configuram
abuso de autoridade, então vejamos:
284
Será discorrida no Capítulo 12.
285
As normas do CPC são aplicáveis à ação civil (art. 11 da Lei 4.898/65).
286
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Forense: Rio de Janeiro, 1998. p-07.
287
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo
em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;
Apenas a título de informaçao, segue abaixo uma interessante decisão sobre inviolabilidade de PNR de militar:
ADMINISTRATIVO - PROCESSUAL CIVIL - IMÓVEL FUNCIONAL OCUPADO POR MILITAR
- RETOMADA - ARTIGO 17 DA LEI 8.025/90 - NECESSIDADE DE INTERVENÇÃO DO PODER
JUDICIÁRIO - PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL. 1. A regra insculpida no artigo 17 da Lei 8.025/90, que prevê
a possibilidade de imissão sumária da União na posse de imóvel funcional, na hipótese de ocupação irregular, é
norma de direito processual, que tem por destinatário o magistrado. Refere-se à possibilidade de imissão initio
litis, em juízo sumário, dispensada a cognição exauriente. Não prescinde da intervenção do Poder Judiciário e
não autoriza a retomada manu militari. 2. Tratando-se de imóvel em que tem domicílio o impetrante, goza ele,
ainda, de proteção constitucional específica, uma vez que a Carta Magna, desde que não se trate de flagrante
delito, desastre ou prestação de socorro, expressamente exige a necessidade de ordem judicial para ingresso na
casa, qualificada como asilo inviolável do indivíduo. 3. Remessa desprovida. Sentença mantida. (TRF1 - REO
9401193053- 3 Turma - Rel. Juíza Sônia Diniz Viana (CONV.) - DJ de 03.03.2000)
288
Os arts. 149 e 150 dispõem sobre os casos em que a reunião de militares poderá ensejar delitos penais militares,
então vejamos essas normas penais militares:
Motim
Art. 149. Reunirem-se militares ou assemelhados:
I - agindo contra a ordem recebida de superior, ou negando-se a cumpri-la;
II - recusando obediência a superior, quando estejam agindo sem ordem ou praticando violência;
III - assentindo em recusa conjunta de obediência, ou em resistência ou violência, em comum, contra superior;
IV - ocupando quartel, fortaleza, arsenal, fábrica ou estabelecimento militar, ou dependência de qualquer deles,
hangar, aeródromo ou aeronave, navio ou viatura militar, ou utilizando-se de qualquer daqueles locais ou meios
de transporte, para ação militar, ou prática de violência, em desobediência a ordem superior ou em detrimento
da ordem ou da disciplina militar:
Pena - reclusão, de quatro a oito anos, com aumento de um terço para os cabeças.
Revolta
Parágrafo único. Se os agentes estavam armados:
Pena - reclusão, de oito a vinte anos, com aumento de um terço para os cabeças.
Organização de grupo para a prática de violência
Art. 150. Reunirem-se dois ou mais militares ou assemelhados, com armamento ou material bélico, de propriedade
militar, praticando violência à pessoa ou à coisa pública ou particular em lugar sujeito ou não à Administração
Militar:
Pena - reclusão, de quatro a oito anos.
289
A página da internet http://jusmilitar.blogspot.com possui algumas matérias sobre esses acampamentos. É um
site muito interessante e abrangente e sugiro uma visita.
292
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. DESCABIMENTO. RECENTE
ORIENTAÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR.
ABUSO DE AUTORIDADE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM. TRANSAÇÃO PENAL. COISA
JULGADA. LESÃO CORPORAL LEVE (ART. 209 DO CPM). DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO.
INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO PRINCÍPIO DA COISA JULGADA E DO NE BIS IN IDEM.
INTELIGÊNCIA DAS SÚMULAS 90 E 172 DO STJ. WRIT NÃO CONHECIDO. 1. Buscando dar efetividade
às normas previstas no artigo 102, inciso II, alínea “a”, da Constituição Federal, e aos artigos 30 a 32, ambos
da Lei n.º 8.038/90, a mais recente jurisprudência do Supremo Tribunal Federal passou a não mais admitir
o manejo do habeas corpus em substituição a recursos ordinários (apelação, agravo em execução, recurso
especial), tampouco como sucedâneo de revisão criminal. 2. O Superior Tribunal de Justiça, alinhando-se à
nova jurisprudência da Colenda Corte, passou também a restringir as hipóteses de cabimento do habeas corpus,
não admitindo que o remédio constitucional seja utilizado em substituição do recurso cabível. 3. A transação
penal efetivada no Juízo Comum, relativa ao crime de abuso de autoridade, não impede a ação penal militar
quanto ao delito do art. 209 do CPM. 4. Com efeito, porquanto inafastável a regra da competência absoluta em
razão da matéria, o processamento da causa exige o julgamento em apartado dos delitos, sendo essa, portanto,
uma das exceções à regra do simultaneus processus (art. 79, inciso I, do CPP), não havendo que se falar em
ofensa aos princípios da intangibilidade da coisa julgada e do ne bis in idem. (Inteligência das Súmulas 90
e 172 do STJ). 5. Habeas Corpus não conhecido. (STJ - HC 135.760/RS, Rel. Ministro CAMPOS MARQUES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PR), QUINTA TURMA, julgado em 19/02/2013, DJe 22/02/2013)
293
Súmula nº 90 do STJ: Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática
do crime militar, e a comum pela prática do crime comum simultâneo àquele.
294
O ideal é o militar impetrar o habeas corpus, a fim de obter um alvará de soltura e sendo concedido, ficará
mais fácil convencer o Ministério Público da prisão ilegal. Todavia, caso não seja possível a impetração do writ,
cabível, após o cumprimento da punição, impetrar um mandado de segurança ou ação ordinária a fim de anular
a punição tida por ilegal. E quando o Judiciário se pronunciar favoravelmente, também, será mais fácil efetivar
a representação por abuso de autoridade. Os únicos problemas são: a) a prescrição da pretensão punitiva do
crime de abuso de autoridade: 2 (dois) anos e b) a decadência do direito de representação: 6 (seis) meses. Ver
tópicos 5.5 e 5.9.
Verifica-se, aqui, que se trata de prisão exalarada com afronta aos ditames
imperativos da legalidade pela autoridade coatora, apenas, e tão-somente, pelo
fato de o paciente, no seu legítimo direito de ação constitucionalmente assegurado,
ter acionado, via representação, o Ministério Público, a quem compete a defesa da
ordem pública, do regime democrático e dos direitos homogêneos e transindividuais,
por isso mesmo, pode-se concluir que, nada obstante a dicção normativa do art.
5º, inciso XXXV, refira-se expressamente à inafastabilidade dos órgãos Judiciários,
o Ministério Público legitimado para propor a ação por ato de improbidade
administrativa, representa, nessa condição, não apenas a pessoa que subscreveu
o pedido de representação, como também a coletividade de um modo geral.
O caso sub examine traz à mente lição carregada de sabedoria, ministrada por
IHERING, no “Livro a luta pelo Direito”: “Quando o arbítrio e a ilegalidade se
aventuram audaciosamente a levantar a cabeça, é sempre um sinal certo de que
aqueles que tinham por missão defender a lei não cumpriram o seu dever”.
295
Foi concedido alvará de soltura no 2º dia de prisão disciplinar.
296
Atualmente está em vigor a Lei 8.112/90.
297
No âmbito do MPF é chamado de procedimento investigatório criminal.
298
Porém, ratifique-se que o MP não está vinculado à representação, podendo efetivar a denúncia sem a iniciativa
da vítima.
299
CRIME - DECADÊNCIA - EXAME NO VEÍCULO - PERITO OFICIAL - AMEAÇA - NECESSIDADE DE
ÂNIMO CALMO - ABUSO DE AUTORIDADE - DESVIO DE FINALIDADE - CARACTERIZAÇÃO. Se a
representação feita após os seis (6) meses da data do crime foi mera ratificação de outra feita tempestivamente,
não há falar em falta de condição de procedibilidade para a ação penal. Da mesma forma, não procede a
alegação de nulidade do exame pericial, porque a necessidade do laudo ser assinado por 2 peritos refere-se
apenas aos trabalhos elaborados por peritos leigos: em se tratando de perito oficial basta a assinatura de um
só (STF 562/428). Para que se configure o crime de ameaça é necessário que o mal anunciado seja injusto.
Policial Federal que se vale de sua condição para satisfazer interesse próprio, em flagrante desvio de finalidade,
lesando a honra de pessoa natural ou jurídica, pratica o crime de abuso de autoridade, previsto no art. 4°, h, da
Lei n° 4.898/65. (TRF4 - ACR 200004010891160 – 1ª Turma – Rel. Des. Federal AMIR JOSÉ FINOCCHIARO
SARTI - DJ de 27.06.2001)
PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. QUEIXA CRIME. AÇÃO PÚBLICA
SUBSIDIÁRIA. MINISTÉRIO PÚBLICO. INÉRCIA. POSSIBILIDADE. CORTE SUPREMA.
PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS. 1. O Supremo Tribunal Federal, em julgamento similar, entendeu
que a omissão do Ministério Público Federal, provocado oportuna e previamente para instaurar a ação penal
por meio de representação, justifica o recebimento da queixa crime subsidiária oferecida pelo ofendido, já que,
em se caracterizando como ação penal privada subsidiária não ocorreu a decadência. 2. Omitindo-se o órgão
ministerial em ofertar denúncia, requerer diligências ou requerer o arquivamento como é o caso, exsurge o direito
do particular legitimado para a causa dar início à ação penal subsidiária. 3. Recurso provido. (TRF5 - RCCR
9905489959 – 1ª Turma - Desembargador Federal Castro Meira - DJ de 08.05.2000)
Qual é esse prazo? Deveria ser o previsto no art. 13, anteriormente transcrito -
48 (quarenta e oito) horas - todavia, este prazo está em desuso pelo Poder Judiciário,
conforme já decido pelo STJ:
subsidiária.
Art. 100. A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara
privativa do ofendido.
§ 1º A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a
lei o exige, de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça.
§ 2º A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do ofendido ou de
quem tenha qualidade para representá-lo.
§ 3º A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação pública, se
o Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal.
§ 4º No caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente por decisão
judicial, o direito de oferecer queixa ou de prosseguir na ação passa ao cônjuge,
ascendente, descendente ou irmão.
Assim, não havendo prazo definido em lei, entendo que é razoável se aguardar
2 (dois) meses da efetivação da representação ao Ministério Público. Esse meu
entendimento tem como suporte jurídico o fato de que os prazos de decadência
e de prescrição são pequenos: a) o prazo decadencial da vítima para efetivar a
representação é de 6 (seis) meses e b) o prazo de prescrição da pretensão punitiva
303
“HABEAS CORPUS” - AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA - AUSÊNCIA DOS
REQUISITOS PARA O SEU AJUIZAMENTO – ADOÇÃO DA TÉCNICA DA MOTIVAÇÃO “PER
RELATIONEM” – LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL - PEDIDO DEFERIDO. - O ajuizamento da
ação penal privada subsidiária da pública pressupõe a completa inércia do Ministério Público, que se abstém,
no prazo legal, (a) de oferecer denúncia, ou (b) de requerer o arquivamento do inquérito policial ou das peças
de informação, ou, ainda, (c) de requisitar novas (e indispensáveis) diligências investigatórias à autoridade
policial. Precedentes. - O Supremo Tribunal Federal tem enfatizado que, arquivado o inquérito policial, por
decisão judicial, a pedido do Ministério Público, não cabe a ação penal subsidiária. Precedentes. Doutrina.
(STF - HC 74276, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Primeira Turma, julgado em 03/09/1996, DJe-037
DIVULG 23-02-2011 PUBLIC 24-02-2011 EMENT VOL-02470-01 PP-00081)
304
É obrigatória a participação de Advogado.
305
Aplica-se o Código Penal subsidiariamente à lei de abuso de autoridade.
306
O problema é o previsto no art. 13.
é de apenas 2 (dois) anos, acabando, não raro, por beneficiar307 autoridades que
abusam de seu poder.
307
PENAL - PROCESSUAL PENAL - HABEAS CORPUS - ABUSO DE AUTORIDADE - ART. 6°, § 3°, B, DA
LEI 4.898/65 - PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA - EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE - ORDEM
CONCEDIDA. I - Por ocasião do julgamento do HC 44792-25.2010.4.01.0000/RR, esta Turma determinou o
desmembramento das investigações, no que se refere aos delitos de ameaça, injúria e constrangimento ilegal, e
a sua remessa à Justiça Militar, prosseguindo-se o Inquérito Policial quanto ao crime de abuso de autoridade.
II - O prazo prescricional do crime capitulado no art. 6°, § 3°, b, da Lei 4.898/65 (abuso de autoridade), pela
pena em abstrato, é de 02 (dois) anos, nos termos do art. 109, VI, do CP, na redação vigente à época dos fatos,
anterior à alteração promovida pela Lei 12.234/10. II - Portanto, considerando-se que, entre a data do fato
(12/06/2009) e a presente data, transcorreram mais de 02 (dois) anos, sem que a denúncia tenha sido recebida,
evidencia-se a ocorrência da extinção da punibilidade, pela prescrição da pretensão punitiva, pela pena em
abstrato, com fundamento no art. 109, VI, c/c 111, I, do CP. III - Ordem concedida, nos termos do voto do Relator.
(TRF1 – HC 0058731-38.2011.4.01.0000/RR – 3ª Turma – Rel. JUIZ FEDERAL MURILO FERNANDES DE
ALMEIDA (CONV.) – j. 07.05.12 - e-DJF1 de 18/05/2012 PAGINA: 879)
308
Art. 1º. São instituídos os Juizados Especiais Cíveis e Criminais da Justiça Federal, aos quais se aplica, no
que não conflitar com esta Lei, o disposto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.
309
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as
contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou
não com multa.
310
Art. 2º. Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e julgar os feitos de competência da Justiça
Federal relativos às infrações de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência.
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrente da aplicação
das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição dos
danos civis.
311
Prevista no art. 89 da Lei 9.099/95.
Art. 8º. A sanção aplicada será anotada na ficha funcional da autoridade civil ou
militar.
PÁGINA
EM
BRANCO
Capítulo 6
6. Introdução
Este Capítulo será dirigido, exclusivamente, para as situações em que
autoridades militares cometem atos de improbidade administrativa previstos na
Lei 8.429/92. O objetivo será demonstrar em que tipos de situações poderão estar
sendo praticados atos de improbidade e como levar estes fatos ao conhecimento da
respectiva Força Armada ou do Ministério Público. Em 2005, quando era militar
da Aeronáutica, fiz uma representação por improbidade administrativa contra uma
autoridade militar, e devido a minha iniciativa, prendeu-me disciplinarmente pelo
simples fato de ter efetivado uma representação ao MPF. Ocorre, entretanto, que é
ilegal prender o militar pelo motivo de ter exercido o direito de petição previsto na
CF/88. Em virtude desta tamanha ilegalidade, esta autoridade militar, que à época
era Comandante da BANT, foi denunciado pelo MPF pelo cometimento do crime
de abuso de autoridade previsto na Lei 4.898/65.
O militar poderá efetivar representações ao Ministério Público para que
este investigue a prática de atos de improbidade administrativa praticados por
autoridades militares das Forças Armadas e Auxiliares.
316
Esta lei foi publicada no Diário Oficial da União em 02.08.2013, logo, estará em vigor a partir de fevereiro
de 2014, haja vista a previsão contida no art. 31: Esta Lei entra em vigor 180 (cento e oitenta) dias após a data
de sua publicação.
317
Art. 30. A aplicação das sanções previstas nesta Lei não afeta os processos de responsabilização e aplicação
de penalidades decorrentes de:
I - ato de improbidade administrativa nos termos da Lei no 8.429, de 2 de junho de 1992; e
(...)
318
SILVA, De Plácido. Vocabulário Jurídico. 15ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p.416.
Art. 4°. Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar
pela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade
e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos.
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário
qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial,
desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das
entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio
particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize
bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou
regulamentares aplicáveis à espécie;
III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente despersonalizado, ainda que
de fins educativos ou assistências, bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio
de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das
formalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;
IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bem integrante do
patrimônio de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta lei, ou ainda a
prestação de serviço por parte delas, por preço inferior ao de mercado;
Art. 319. Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra expressa disposição
319
de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Enganam-se aqueles cidadãos civis que acreditam que não existe corrupção
nas Forças Armadas.
Quanto aos demais incisos do art. 11, entendo desnecessários quaisquer
apontamentos, pois são bem esclarecedores.
320
De acordo com o § 1º do art. 17 da Lei de Improbidade são proibidas a transação, acordo ou conciliação nas
ações de improbidade administrativa. Tanto o Ministério Público quanto a pessoa jurídica interessada poderão
ser partes ativas na ação civil de improbidade, ou seja, podem ajuizar a ação. Caso o Ministério Público não seja
autor da ação, será, obrigatoriamente, fiscal da mesma, sendo obrigatória a intimação do mesmo para participar
da lide de improbidade, nos termos do § 4º do art. 17.
Até por meio de lei se tentou blindar os detentores de foro privilegiado na ação de improbidade, todavia, o
321
STF, por meio da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.797/DF, julgou-a procedente para declarar a Lei
10.628/02 (alterava o art. 84 do CPP) inconstitucional, decidindo-se que não havia foro privilegiado para os
agentes públicos processados por atos de improbidade administrativa.
Precedentes do Tribunal Pleno desta Suprema Corte (Rcl 2138, Rel. Min. NELSON
JOBIM, Relator para acórdão Min. GILMAR MENDES, DJe-070 18-04-2008;
Pet AgR 4089, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJe-022 PUBLIC 01-02-2013; Pet
4076 AgR, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, DJe-162 PUBLIC 14-12-2007;
Pet 4071 AgR, Rel. Min. EROS GRAU, DJe-227 PUBLIC 28-11-2008; Pet 4074
AgR, Rel. Min. CEZAR PELUSO, DJe-117 PUBLIC 27-06-2008; Pet 4099 AgR,
Rel. Min. GILMAR MENDES, DJe-084 PUBLIC 08-05-2009; Pet 4092 AgR, Rel.
Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, DJe-186 PUBLIC 02-10-2009). Agravo
regimental conhecido e não provido. (STF - Pet 4314 AgR-segundo, Relator(a): Min.
ROSA WEBER, Tribunal Pleno, julgado em 19/06/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe-159 DIVULG 14-08-2013 PUBLIC 15-08-2013)
322
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
FEDERAL DE 1º GRAU. CUMULAÇÃO DE PEDIDOS DIVERSOS CONTRA RÉUS DIFERENTES.
IMPOSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE DANO AO ERÁRIO. ATO DE IMPROBIDADE. INEXISTÊNCIA
DE MÁ-FÉ OU DOLO. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. SENTENÇA
MANTIDA, POR FUNDAMENTOS DIVERSOS. 1. Tratando-se de ação civil pública por improbidade
administrativa, esta deve ser ajuizada perante magistrado de primeiro grau, independentemente de eventual
foro por prerrogativa de função, em correlata ação criminal. 2. Ademais, o caso não importa em perda de cargo
público de réu com foro privilegiado, em instância criminal. 3. Outrossim, a ação tem entre os réus ex-Presidente
do Banco Central do Brasil e os fatos relacionam-se a período anterior à lei 11036/2004 que atribuiu status de
ministro ao presidente da autarquia, não podendo a lei ser aplicada retroativamente. 4. Incompetência da justiça
federal de primeira instância que se rejeita. 5. É inviável a cumulação de pedidos diversos face a réus diferentes,
em ação de improbidade administrativa e ação civil pública para reparação de danos a investidores privados. 6.
Mostra-se inadequada a ação de improbidade para a reparação, às custas do patrimônio de empresa pública, de
prejuízos causados a investidores privados. 7. Apenas e quando a irregularidade administrativa é coadjuvada
pela má-fé, pelo dolo, hipótese não demonstrada na peça inicial e que não se pode apreender do contexto dos
fatos narrados, é que se pode cogitar de ato de improbidade. 8. Sentença que extinguiu o processo sem resolução
do mérito que se mantém, por fundamentos diversos. 9. Apelação improvida. (TRF1 - AC 200234000330930 - 3ª
Turma – Rel. Juiz Federal Renato Martins Prates (CONV.) - e-DJF1 de 07.06.2013)
Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previstas nesta lei podem
ser propostas:
I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão
ou de função de confiança;
II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas disciplinares
puníveis com demissão a bem do serviço público, nos casos de exercício de cargo
efetivo ou emprego.
323
ADMINISTRATIVO. (...). PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. DECRETO 20.910/32.
INAPLICABILIDADE. COMANDANTE-GERAL DA POLÍCIA MILITAR. COMPETÊNCIA PARA A
PRÁTICA DE ATOS DE EXCLUSÃO. PRECEDENTES. RECURSO IMPROVIDO. 1. Havendo regular
intimação do advogado constituído pelo acusado, que participou de todas as fases do processo disciplinar,
peticionando e ofertando razões finais, não há cerceamento de defesa. 2. O Decreto 20.910/32 regula a prescrição
do direito de ação contra a Fazenda Pública, e não a prescrição da pretensão punitiva do Estado. 3. A arguição
de ocorrência de prescrição foi afastada pela autoridade julgadora com base no Decreto Estadual 3.639, de
19/8/75, que dispõe sobre o Conselho de Disciplina no âmbito da Polícia Militar do Estado de Pernambuco.
Segundo consta dos autos, mencionado diploma prevê, em seu art. 17, que, em relação aos ilícitos cometidos
pelo recorrente, a pretensão punitiva prescreve em 6 (seis) anos. (...). (STJ - RMS 20606/PE, Rel. Ministro
ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 03/04/2007, DJ 07/05/2007, p. 336)
324
Art. 18. Prescrevem em 6 (seis) anos, computados na data em que foram praticados, os casos previstos nesta Lei.
O art. 19326 da Lei 8.429/92, bem antes da alteração do art. 339327 do CP, já
considerava crime a representação quando o autor da mesma sabia da inocência
do representado, então vejamos:
Art. 19. Constitui crime a representação por ato de improbidade contra agente
público ou terceiro beneficiário, quando o autor da denúncia o sabe inocente.
Pena: detenção de seis a dez meses e multa.
Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante está sujeito a indenizar o
denunciado pelos danos materiais, morais ou à imagem que houver provocado.
325
Art . 17. Prescrevem em 6 (seis) anos, computados da data em que foram praticados, os casos previstos
neste decreto.
326
O caput do art. 19 foi revogado tacitamente pela nova redação dada ao art. 339 do CP pela Lei 10.028/00, haja
vista que lhe deu maior abrangência, todavia, continua em vigor, obviamente, o parágrafo único.
327
Eis a redação original do caput do art. 339: Dar causa a instauração de investigação policial ou de processo
judicial contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente.
328
Não aconselho a nenhum militar fazer isso, mas sim representar diretamente ao Ministério Público.
329
Não é obrigatório que a representação seja realizada, primeiramente, perante a autoridade administrativa
competente, ou seja, pode-se fazer a representação diretamente ao Ministério Público.
Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta lei, o Ministério Público, de
ofício, a requerimento de autoridade administrativa ou mediante representação
formulada de acordo com o disposto no art. 14, poderá requisitar a instauração
de inquérito policial ou procedimento administrativo.
330
Significa dizer que a representação poderá ser oral (tipo um boletim de ocorrência na delegacia) perante o
órgão competente da administração pública ou junto ao Ministério Público, onde o servidor responsável por
receber o comunicado reduzirá a termo o relato do representante.
331
O militar não poderá representar diretamente à autoridade superior, sob pena de cometimento, em tese, de
transgressão disciplinar. Embora o art. 14 da lei de improbidade não explicite que em sendo o representante
um militar, este deverá obedecer a cadeia de comando, é prudente assim fazer, pois no meio castrense, é regra
básica o envio de documentos via cadeia hierárquica de comando. Obviamente que um civil poderá dirigir a
representação diretamente à autoridade administrativa competente.
332
Exemplificando: a nível de Aeronáutica, tem-se que uma representação administrativa por ato de improbidade em
desfavor do Comandante da Base Aérea do Recife, efetivada por um militar, deverá ser dirigida ao Comandante do
COMAR 2 (2º Comando Aéreo Regional). Isso porque a BARF é subordinada administrativamente ao COMAR2.
A representação formal ou oral deverá ser efetivada perante o órgão do Ministério Público com jurisdição no
335
Capítulo 7
7. Introdução
Durante os 18 (dezoito) anos de serviço à Aeronáutica, vi muita coisa
irregular, assim como os leitores militares também já viram. Por isso, entendi
oportuno tecer breves comentários sobre como levar ao conhecimento do Tribunal
de Contas tais irregularidades administrativas praticadas no âmbito das Forças
Armadas e Auxiliares.
Discorrerei sobre como constatar uma irregularidade e, principalmente, de
que forma elaborar e efetivar uma denúncia perante o Tribunal de Contas da União
(TCU). As anotações referentes ao TCU336 neste capítulo poderão ser aplicadas
com adaptações nas denúncias aos Tribunais de Contas Estaduais337 e do Distrito
Federal, observando-se as respectivas legislações338.
336
O art. 75 da CF/88 (que trata do TCU) dispõe que: As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que
couber, à organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal,
bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.
337
Prestação de contas de adiantamento concedido para pagamento de diárias de diligências dos Oficiais,
alunos Oficiais e Praças na operação na cidade de Campos do Jordão - Academia de Polícia Militar do Barro
Branco – APMBB – Secretaria de Estado da Segurança Pública, no período de junho a julho de 2000. Recurso
Ordinário interposto contra a sentença publicada no D.O.E. de 07-07-07, que julgou irregular a prestação de
contas, nos termos do artigo 33, inciso III, alíneas “b”, “c” e “d” da Lei Complementar 709/93, determinando
ao responsável, a devolução da importância apurada, com juros de mora e atualização monetária. (TCE-SP –
Processo nº 014824/026/05 – 1ª Câmara – Rel. Conselheiro Edgard Camargo – j. 02.12.08 – DOE de 18.12.2008)
338
Observar a Constituição e as leis pertinentes do respectivo Estado ou DF.
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o
auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
As Forças Armadas integram a estrutura da União (administração direta),
assim, os atos administrativos de lavra de seus agentes públicos, sejam militares
ou civis, estão sujeitos ao controle externo do TCU.
A competência339 do TCU está discriminada nos 11 (onze) incisos do art.
71, sendo oportuno transcrevê-los na íntegra:
339
PESSOAL. PENSÃO INDENIZATÓRIA JUDICIAL TEMPORÁRIA. COMPETÊNCIA DO TCU NÃO
ALCANÇA O REGISTRO DE ATOS DE NATUREZA INDENIZATÓRIA DECORRENTES DE DECISÃO
JUDICIAL. PRECEDENTE. COMUNICAÇÃO À INTERESSADA. A competência do Tribunal de Contas da
União não abrange o registro de atos, de natureza indenizatória, decorrentes de decisão, que fixou, no âmbito
do poder jurisdicional, a responsabilidade objetiva do Estado. (TCU – Processo nº 002.610/2013-2 – Acórdão
nº 378/13 – 2ª Câmara – Min. Relator Marcos Bemquerer, DOU de 02.07.2013)
340
Não é um órgão do Poder Judiciário, mas sim do Poder Legislativo.
341
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Conhecendo o Tribunal. 4ª ed. Brasília: TCU, Secretaria-Geral da
Presidência, 2008. p. 14-15.
A Lei 8.443/92 dispõe sobre a Lei Orgânica do TCU, sendo que seus arts.
53 a 55 regulam o objeto deste capítulo: a denúncia.
342
PESSOAL. REFORMA. MILITAR REFORMADO POR INCAPACIDADE DEFINITIVA PARA O
EXERCÍCIO DE QUALQUER TRABALHO. UTILIZAÇÃO IRREGULAR DE BASE DE CÁLCULO DE
PROVENTOS CORRESPONDENTE A DOIS POSTOS HIERARQUICAMENTE SUPERIORES AO POSTO
QUE O MILITAR POSSUÍA NA ATIVA. ILEGALIDADE DA CONCESSÃO DE REFORMA. NEGATIVA
DE REGISTRO DO ATO CONCESSÓRIO. APLICAÇÃO DA SÚMULA/TCU N. 106. DETERMINAÇÕES.
O militar da ativa ou da reserva remunerada, julgado incapaz definitivamente pelos motivos constantes dos
incisos II, III e IV do art. 108 da Lei n. 6.880/1980 (Estatuto dos Militares), será reformado com a remuneração
calculada com base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediatamente superior ao que possuía na
ativa, segundo disposições do art. 110, § 1º, da mencionada Lei. (TCU – Processo nº 015.388/2013-1 – Acórdão
nº 4481/13 – 2ª Câmara – Min. Relator Marcos Bemquerer, DOU de 30.07.2013)
343
DENÚNCIA ANÔNIMA. DILIGÊNCIAS E INVESTIGAÇÕES CONDUZIDAS PELA UNIDADE
TÉCNICA. CONHECIMENTO COMO REPRESENTAÇÃO DE UNIDADE TÉCNICA. PENSÃO MILITAR
INSTITUÍDA POR GENERAL, FALECIDO AOS 99 ANOS. ADOÇÃO DA NETA, ÓRFÃ DE PAI, POR MEIO
DE ESCRITURA PÚBLICA. QUANDO ESTA TINHA 24 ANOS E O MILITAR REFORMADO, 91. POSTERIOR
CASAMENTO DO INSTITUIDOR, QUANDO JÁ CONTAVA COM 97 ANOS. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS PARA
COMPROVAR A INCAPACIDADE DO MILITAR, QUE NÃO SE ENCONTRAVA INTERDITADO. ACÓRDÃO
1.282/2003-1ª CÂMARA, MANTIDO INTEGRALMENTE PELO STF. SIMULAÇÃO. POSSIBILIDADE DE REVER
O ATO A QUALQUER TEMPO. A REVISÃO DE OFÍCIO PARA JULGAR ILEGAL O ATO DE ALTERAÇÃO
QUE PROMOVEU A INCLUSÃO DA BENEFICIÁRIA. EXISTÊNCIA DE DECISÃO JUDICIAL, PENDENTE
DE EXAME NO STJ, QUE CONCEDE O BENEFÍCIO INTEGRALMENTE PARA A VIÚVA. PROCEDÊNCIA
PARCIAL. ENCAMINHAMENTO DE CÓPIAS. É passível de revisão de ofício a qualquer tempo benefício
previdenciário resultante de ato jurídico praticado mediante simulação. (TCU – Processo nº 014.264/2007-8 –
Acórdão nº 1817/13 – Plenário – Min. Relator Benjamim Zymler, DOU de 17.07.2013)
344
A última alteração foi efetivada pela Resolução-TCU nº 246, de 30 de novembro de 2011.
345
Isso foi, infelizmente, um retrocesso na legislação, pois sem dúvidas, inibe que servidores públicos civis e
militares denunciem, por exemplo, as irregularidades nas licitações e a má-utilização ou desvio do dinheiro público.
de 2011:
O dispositivo anterior (revogado) previa o seguinte: § 1º Ao decidir, caberá ao Tribunal manter ou não o sigilo
346
Decisão
O Tribunal Pleno, diante das razões expostas pelo Relator, decide, nos termos dos
arts. 1º, XVI, 53, 54 e 55 da Lei nº 8.443/92: 1) arquivar o presente processo; 2)
retirar o caráter de sigiloso que o reveste; 3) solicitar ao Diretor de Auditoria do
Ministério do Exército que remeta a Tomada de Contas Especial instaurada na 1ª/1º
Batalhão de Engenharia de Construção, pela Portaria nº 05 - SEF, de 23.08.92,
tão logo seja concluída; e 4) comunicar ao interessado o teor da presente decisão.
(TCU – Denúncia – Acórdão nº 256/1992 – Plenário – Rel. Min. Marcos Vinícius
Vilaça, j. 25.11.92, DOU de 08.12.1992, pág. 16.929)
347
Por indício, podemos extrair o conceito disposto no CPPM: Art. 382. Indício é a circunstância ou fato conhecido
e provado, de que se induz a existência de outra circunstância ou fato, de que não se tem prova.
348
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Conhecendo o Tribunal. 4ª ed. Brasília: TCU, Secretaria-Geral da
Presidência, 2008. p. 23-24.
349
Caso o TCU se interesse em fazer uma investigação sobre a denúncia, certamente, de posse da fotocópia
de documento comprovando a irregularidade, ordenará que o agente responsável entregue o original ou cópia
autenticada.
350
Eis outro instrumento importantíssimo disponível às associações de militares para conter irregularidades e
ilegalidades praticadas pelos superiores hierárquicos.
Capítulo 8
8. Introdução
O estudo do habeas data351 e da ação de exibição de documento é muito
aplicável às Forças Armadas e Auxiliares em virtude de que, não raro, a
Administração Castrense impõe vários empecilhos à obtenção352 de documentos
por parte dos subordinados.
Quando era militar da ativa da Aeronáutica, utilizei este instrumento jurídico
para obter os documentos que instruíram os autos administrativos de minha
movimentação de localidade (transferência) ex officio de Natal/RN para Recife/
PE. Ocorreu que o ex-Comandante do DTCEA-NT se negou a me entregar os
referidos documentos de meu interesse e, ainda, recusou-se a me informar qual
era o motivo da movimentação de localidade.
Vejamos a íntegra da sentença concessiva do habeas data em desfavor do
ex-Comandante do DTCEA-NT:
351
No livro de Jônatas Milhomens (Manual Prático do Advogado – Editora Forense: Rio de Janeiro, 1998 – 12ª
edição – página 221) consta a seguinte informação sobre habeas data: O primeiro habeas data concedido no
país foi patrocinado pelo advogado Joaquim Portes de Cerqueira César, em favor de Idibal Alniei da Fivela,
teatrólogo, autor, diretor de espetáculos e também advogado – segundo informa o causídico em “A Garantia
Constitucional do Habeas Data” (in RF, vol. 310. p. 39, nº III). O primeiro caminho trilhado pela magistratura
brasileira, para adequação processual do habeas data, foi o mandado de segurança, seu irmão gêmeo.
352
Neste estudo, irei me restringir à utilização do habeas data para a obtenção de documentos negados pela
Administração Castrense.
HABEAS DATA
PROCESSO Nº: 2006.84.00.003277-7
IMPETRANTE: DIÓGENES GOMES VIEIRA
ADVOGADO: Dr. FRANCISCO LOURENÇO JÚNIOR
IMPETRADO: COMANDANTE DO DESTACAMENTO DE CONTROLE DO
ESPAÇO AÉREO DE NATAL - DTCEA/NT
SENTENÇA
Vistos etc.
Natal/RN, 21 de junho de 2006.
Não há custos com o Poder Judiciário para a impetração do habeas data, conforme previsto no inciso LXXVII
353
do art. 5º da CF/88: são gratuitas as ações de “habeas-corpus” e “habeas-data”, e, na forma da lei, os atos
necessários ao exercício da cidadania.
Art. 284. Verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos exigidos
nos arts. 282 e 283, ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar
o julgamento de mérito, determinará que o autor a emende, ou a complete, no
prazo de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição
inicial.
Art. 285. Estando em termos a petição inicial, o juiz a despachará, ordenando a
citação do réu, para responder; do mandado constará que, não sendo contestada
a ação, se presumirão aceitos pelo réu, como verdadeiros, os fatos articulados
pelo autor.
Art. 285-A359. Quando a matéria controvertida for unicamente de direito e no juízo
já houver sido proferida sentença de total improcedência em outros casos idênticos,
poderá ser dispensada a citação e proferida sentença, reproduzindo-se o teor da
anteriormente prolatada.
359
Incluído pela Lei 11.277/06.
§ 1º. Se o autor apelar, é facultado ao juiz decidir, no prazo de 5 (cinco) dias, não
manter a sentença e determinar o prosseguimento da ação.
§ 2º. Caso seja mantida a sentença, será ordenada a citação do réu para responder
ao recurso.
Art. 285-B360. Nos litígios que tenham por objeto obrigações decorrentes de
empréstimo, financiamento ou arrendamento mercantil, o autor deverá discriminar
na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende
controverter, quantificando o valor incontroverso.
Parágrafo único. O valor incontroverso deverá continuar sendo pago no tempo
e modo contratados.
360
Incluído pela Lei 12.810/13.
SÚMULA nº 02
Não cabe o habeas data (CF, art. 5º., LVIII, letra “a”) se não houve recusa de
informações por parte da autoridade administrativa.
Por isso é importantíssimo que o militar faça por escrito361, via documento
oficial, todos os seus pedidos362, pois, assim, estará produzindo provas que poderão
ser utilizadas num futuro habeas data. Ademais, é interessante constar, por exemplo,
na parte363 s/nº ou requerimento, a norma que fundamenta o direito de todo cidadão,
mesmo militar364, de obter documentos ou informações de seu interesse pessoal.
Esta norma é a própria CF/88, onde constam nos incisos XXXIII e XXXIV
do art. 5º os seguintes direitos:
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no
prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra
ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal;
Sugiro, desta forma, por exemplo, que sempre seja incluído no final do
pedido formal (parte s/nº, requerimento, etc) o seguinte: Requer com base nos
incisos XXXIII e XXXIV, letras a e b, do art. 5º da CF/88.
O TRF1 já decidiu que, em caso de omissão, não é necessária a prova da
omissão por escrito, mas sim que tenha sido extrapolado o prazo para a resposta,
então vejamos:
CONSTITUCIONAL. HABEAS-DATA. CONSTITUIÇÃO, ART. 5º, LXXII.
LEI 9.507, DE 12.11.1997. RECUSA DE INFORMAÇÕES POR PARTE
DA AUTORIDADE ADMINISTRATIVA. A recusa por parte da autoridade
administrativa ao acesso às informações não precisa ser por escrito, basta o decurso
do prazo, sem decisão. (TRF1 – RHD nº 200234000000900/DF – 2ª Turma – Rel.
Des. Federal Assusete Magalhães - j. 11.03.03 - DJ de 25.03.2003, p. 33)
361
Este é um termo utilizado pelos militares.
362
E, lembre-se, tudo deve ser feito pela cadeia de comando, pois sua inobservância poderá resultar em transgressão
disciplinar.
363
É a mais utilizada na Aeronáutica.
364
Utilizei este termo, pois o militar não é visto dentro dos quartéis pelos seus superiores hierárquicos como um
cidadão com direitos como qualquer civil. Aos Advogados faço um alerta: todas as petições dirigidas aos quartéis
devem ser bem fundamentadas, com transcrições de dispositivos de leis, decretos, portarias, etc, e se possível
com jurisprudência. Pode até parecer um exagero, mas não é mesmo, pois há um grande desconhecimento do
ordenamento jurídico brasileiro pelos administradores militares.
365
O estudo sobre provas pré-constituídas está disposto no Capítulo 9.
Abaixo decisão judicial sobre a necessidade de provas pré-constituídas no habeas data:
DIREITO CONSTITUCIONAL - HABEAS DATA - EXCLUSÃO DO NOME DO IMPETRANTE DO
CADASTRO DA JUNTA COMERCIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO - JUCESP - INADEQUAÇÃO DA
VIA ELEITA - APELO IMPROVIDO. I - Os documentos colacionados aos autos demonstram que o impetrante
manteve vínculo empregatício com a empresa e também consta como sócio desta mesma empresa; inegável a
necessidade de produção de provas tendentes a afirmar as alegações do impetrante, o que deve ser feito pelas
vias ordinárias, porquanto inexiste espaço para dilação probatória em sede de habeas data. II - Apelação
improvida. (TRF3 - AHD 00088678220084036110 – 1ª Turma – Des. Federal Johonsom Di Salvo - e-DJF3 de
02.09.2009, p. 240)
Assim, pode-se definir o habeas data como o direito que assiste a todas as pessoas
de solicitar judicialmente a exibição dos registros públicos ou privados, nos quais
366
Para um melhor aprofundamento no estudo jurídico dos concursos públicos militares, sugiro a aquisição do
meu livro Concursos Públicos Militares – Tutelas de Urgência – Teoria e Prática, publicado pela Juruá Editora
em 2013. Neste livro ensino a elaborar petições iniciais de várias ações judicias (ex.: mandado de segurança) e
recursos (ex.: agravo de instrumento) para os tribunais.
367
VIEIRA, Diógenes Gomes. Concursos Públicos Militares – Tutelas de Urgência – Teoria e Prática. Curitiba:
Juruá, 2013. p. 309-311.
estejam incluídos seus dados pessoais, para que deles se tome conhecimento e se
necessário for, sejam retificados os dados inexatos ou obsoletos ou que impliquem
em discriminação.
Com base nas normas que tratam do habeas data e com suporte nos ensinamentos
de Ellen Gracie e Alexandre de Moraes, sou da opinião jurídica de que não é
cabível o habeas data para obtenção de provas em concursos públicos. As normas
são muito claras ao afirmar que este remédio constitucional visa a obtenção de
informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registro ou banco de
dados de entidades governamentais ou de caráter público, possibilitando, se for
o caso, as devidas correções, e, certamente, provas de concurso público não se
enquadram na essência do habeas data.
Entretanto, há algumas decisões judiciais aceitando o habeas data para obtenção
de provas de concursos públicos, podendo-se citar as seguintes:
Pessoal (Dirap). Segue abaixo decisão do TRF1 em que foi permitido ao militar
obter suas FAGs368:
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. PROCESSO CIVIL. HABEAS
DATA. MILITAR. INFORMAÇÕES RELATIVAS AO IMPETRANTE. DIREITO
CONSTITUCIONALMENTE ASSEGURADO. 1. A Constituição Federal assegura
aos indivíduos o conhecimento de informações de seu interesse pessoal constante
em órgãos públicos. 2. Evidente o interesse do impetrante em ter conhecimento
das avaliações e respectivas menções constantes de suas Fichas de Avaliação de
Graduados, em poder do Comando Geral da Aeronáutica. 3. A possível retificação
de dados pretendida pelo impetrante, se for o caso, deve ser objeto de outro processo,
ante a impossibilidade de concessão da ordem de habeas data de forma condicional.
4. (...) (TRF1 - AC 200334000104067 – 1ª Turma Suplementar - Rel. Juiz Federal
Mark Yshida Brandão - e-DJF1de 07.10.2011, p. 785)
368
Há, entretanto, magistrados que entendem que as FAGs são documentos sigilosos e de interesse exclusivo da
Força Armada, não sendo cabível, consequentemente, sua obtenção mediante habeas data, podendo-se citar a
seguinte decisão do TRF2:
HABEAS DATA. MILITAR. FICHAS DE AVALIAÇÃO DE GRADUADO. 1. O habeas data, contemplado no
inc. LXXII do art. 5º da CF e regulado pela Lei nº 9.507/97, destina-se a assegurar o conhecimento de informações
relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais
ou de caráter público, possibilitando, ainda, a retificação de dados pessoais. 2. Não devem ser fornecidas ao
militar as Fichas de Avaliação de Graduado - FAG, documentos de uso privativo da Comissão de Promoções
de Graduados, sendo, por isso, sigilosos, o que não enseja, portanto, a impetração de habeas data. Precedente
do STJ: HD 56. 3. Apelação provida. (TRF2 - APELRE 201051010065810 – 5ª Turma Especializada – Rel. Des.
Federal Luiz Paulo S. Araujo Filho - E-DJF2R de 01.08.2011, p. 75)
369
O estudo sobre a teoria de encampação está disposto no Capítulo 9.
pelos quais, segundo alega, teria sofrido prejuízos tanto morais como materiais.
4. Habeas data deferido em parte. (STJ - HD nº 84/DF, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/09/2006, DJ
30/10/2006, pág. 236)
Nem todas as Constituições Estaduais conferem competência ao Tribunal de Justiça para o processo e julgamento
370
Os requisitos da petição inicial são os previstos nos arts. 282 a 285 do CPC,
conforme disposição expressa contida no art. 8º da lei do habeas data.
O caput do art. 10 informa que, desde logo, o magistrado indeferirá a inicial,
todavia, não há qualquer óbice a que seja oportunizado ao impetrante o prazo para
emendar372 a inicial (art. 284373 do CPC).
371
Se a parte passiva no habeas data for, por exemplo, a União Federal, então o writ poderá ser impetrado nos
lugares previstos no art. 109 da CF/88:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:(...)
§ 2º - As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o
autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa,
ou, ainda, no Distrito Federal.(...)
372
PROCESSUAL CIVIL - INDEFERIMENTO DA INICIAL - FALTA DE COMPROVAÇÃO DA
LEGITIMIDADE DE REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL - ART 284, C/C 0 ART 267, I E IV 1. 0 habeas
data é instrumento, com sede na Constituição Federal, que exige, como condição de sua procedibilidade, o
esgotamento da via administrativa. 2. Se a Autora, regularmente intimada, deixa de emendar a inicial, quer seja
no plano da regularização de sua representação processual, quer seja no âmbito da condição indispensável ao
manejo do habeas data, há que ser indeferida a inicial, com a consequente extinção do feito sem julgamento do
mérito. (TRF2 – 3ª Turma - AHD 199902010464417 – Rel. Des. Federal Frederico Gueiros - DJU de 13.11.2001)
373
Art. 284. Verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos exigidos nos arts. 282 e 283, ou
que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor
a emende, ou a complete, no prazo de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no
prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;
374
Para um melhor aprofundamento no estudo da apelação, sugiro a aquisição do meu livro Concursos Públicos
Militares – Tutelas de Urgência – Teoria e Prática, publicado pela Juruá Editora em 2013, pois há um capítulo
específico sobre o recurso de apelação cível.
375
Este inciso foi regulado pela Lei 12.527/11.
O art. 333, inciso II, do CPC prevê que o ônus da prova é de quem, dentre
outros, alegar a existência de fato impeditivo ao direito do autor da ação judicial,
então vejamos:
376
O impetrado neste habeas data foi o Presidente da Comissão de Promoção de Oficiais da Aeronáutica.
377
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 1996. p. 162.
Logo, tem-se que o militar, em regra, poderá utilizar o habeas data sempre
que pretender obter documentos ou informações funcionais a seu respeito, mesmo
que a Força Armada ou Auxiliar insira os famosos e muitas vezes desnecessários
carimbos com os dizeres: CONFIDENCIAL ou RESERVADO.
378
O STJ entende que é possível a utilização do mandado de segurança ou do habeas corpus, conforme decisão
contida nos autos do HC nº 97.622/MA (6ª Turma – Rel. Min. Paulo Gallotti - j. 19.02.09 - Dje de 16.03.2009).
379
Nos termos do art. 19 da lei do habeas data, os processos deste writ terão prioridade sobre todos os atos
judiciais, excetuando-se o habeas corpus e o mandado de segurança.
Art. 11. Feita a notificação, o serventuário em cujo cartório corra o feito, juntará
aos autos cópia autêntica do ofício endereçado ao coator, bem como a prova da
sua entrega a este ou da recusa, seja de recebê-lo, seja de dar recibo.
Art. 12. Findo o prazo a que se refere o art. 9°, e ouvido o representante do Ministério
Público dentro de cinco dias, os autos serão conclusos ao juiz para decisão a ser
proferida em cinco dias.
Art. 13. Na decisão, se julgar procedente o pedido, o juiz marcará data e horário
para que o coator:
I - apresente ao impetrante as informações a seu respeito, constantes de registros
ou bancos de dadas; ou
II - apresente em juízo a prova da retificação ou da anotação feita nos assentamentos
do impetrante.
Os arts. 355 a 363 e 381 e 382, que tratam da exibição incidental na fase
probatória do processo de cognição, assim dispõem:
Art. 355. O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa, que se ache
em seu poder.
Art. 356. O pedido formulado pela parte conterá:
I - a individuação, tão completa quanto possível, do documento ou da coisa;
II - a finalidade da prova, indicando os fatos que se relacionam com o documento
ou a coisa;
III - as circunstâncias em que se funda o requerente para afirmar que o documento
ou a coisa existe e se acha em poder da parte contrária.
Art. 357. O requerido dará a sua resposta nos 5 (cinco) dias subsequentes à sua
intimação. Se afirmar que não possui o documento ou a coisa, o juiz permitirá que o
requerente prove, por qualquer meio, que a declaração não corresponde à verdade.
Art. 358. O juiz não admitirá a recusa:
I - se o requerido tiver obrigação legal de exibir;
II - se o requerido aludiu ao documento ou à coisa, no processo, com o intuito de
constituir prova;
III - se o documento, por seu conteúdo, for comum às partes.
Art. 359. Ao decidir o pedido, o juiz admitirá como verdadeiros os fatos que, por
meio do documento ou da coisa, a parte pretendia provar:
I - se o requerido não efetuar a exibição, nem fizer qualquer declaração no prazo
do art. 357;
384
No Projeto do Novo CPC, a exibição de documentos está delineada nos arts. 382 até 390.
385
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. MEDIDA DE
NATUREZA SATISFATIVA. PROPOSITURA DE AÇÃO PRINCIPAL. DESNECESSIDADE. 1. A ação
cautelar de exibição é satisfativa, não garantindo eficácia de suposto provimento jurisdicional a ser buscado
em outra ação. Exibidos os documentos, pode haver o desinteresse da parte em interpor o feito principal, por
constatar que não porta o direito que antes suspeitava ostentar. 2. O direito subjetivo específico da cautelar
de exibição é o de ver. Assim, entendendo o Juízo que a parte requerente é possuidora de tal direito, a ponto de
determinar a exibição, é decorrência lógica que julgue a medida procedente. 3. Recurso especial conhecido,
mas improvido. (STJ - REsp 244517/RN, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA,
DJ 19/09/2005, p. 243)
386
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. PRÉVIO
REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. PRESSUPOSTO PROCESSUAL DA AÇÃO CAUTELAR. 1. O
direito de ação está previsto na Constituição Federal (art. 5º, XXXV) e esta não faz qualquer restrição referente
à necessidade de prévio requerimento administrativo. Além disso, no caso dos autos, resta demonstrada a
formulação de prévio pedido na via administrativa. 2. Tratando-se de ação cautelar de exibição de documentos,
cujo provimento perseguido é de natureza satisfativa, desnecessário o implemento da exigência dos artigos
801, III, e 806 do CPC. (TRF4 - AG 200904000348070 – 3ª Turma – Rel. Des. Federal João Pedro Gebran
Neto - D.E. de 17.03.2010)
PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado
em 19/05/2011, DJe 27/06/2011)
389
O pedido cautelar exibitório de documento poderá ser realizado, em determinados casos, na própria petição
inicial de uma ação ordinária. Caso seja possível elaborar a inicial da ação ordinária sem um documento, por
exemplo, o autor poderá requerer ao magistrado que determine a parte ré ou terceiro a exibição (entrega) do
documento ou da coisa necessária ao deslinde da ação judicial. Tal pedido poderá ser feito, em regra, em qualquer
espécie de ação judicial. Quando era militar, utilizei a exibitória, e no meu caso prático específico (sentença
transcrita posteriormente), eu tinha que obter previamente um documento mediante ação exibitória, pois necessitava
verificar seu conteúdo, a fim de elaborar a petição inicial da ação ordinária. Logo, tem-se que o art. 355 poderá
ser utilizado para o ajuizamento de ação cautelar de exibição ou incidentalmente dentre os pedidos da petição
inicial ou no decorrer da instrução processual.
390
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processo civil – Processo de execução e cumprimento
de sentença, processo cautelar e tutela de urgência. 42ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 666-667.
391
AÇÃO ORDINÁRIA. COBRANÇA DE MULTA FIXADA EM AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE
DOCUMENTOS. CARÁTER SATISFATIVO DA MEDIDA. Tratando-se de medida cautelar de exibição, na
qual a tutela é satisfativa, sua eficácia esgota-se com a efetiva exibição, restando, pois, mitigada a exigência
do art. 806 do CPC. (TRF4 - AC 200371030024012 – 4ª Turma – Rel. Des. Federal Valdemar Capeletti – DJ
de 14.11.2006, p. 806)
Procedência do pedido.
01. Trata-se de Ação Cautelar de Exibição de Documentos, com pedido de
liminar, promovida pela parte autora acima mencionada contra a UNIÃO, em que
aquela postula que a ré seja compelida a trazer a juízo os documentos que elenca.
02. Foi concedida a liminar pleiteada (fl. 39/40).
03. A UNIÃO, em obediência à decisão concessiva da liminar, trouxe aos autos
os documentos em questão. A ré não contestou o pedido e requereu a extinção do
processo, alegando a perda de objeto.
04. É o relatório.
05. Como visto, houve no presente caso o reconhecimento jurídico do pedido,
pois a UNIÃO não contestou o pleito formulado, tendo sido exibidos, efetivamente,
os documentos cuja exibição se pleiteava na inicial.
SÚMULA nº 372
Na ação de exibição de documentos, não cabe a aplicação de multa cominatória393.
392
AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATOS. FASE DE CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA. ORDEM INCIDENTAL DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. MULTA. NÃO CABIMENTO.
1. Não cabe aplicação de multa em caso de descumprimento de ordem incidental de exibição de documento
ou coisa prevista nos arts. 355 a 363 do CPC, porquanto já preveem especificamente tais dispositivos legais a
presunção ficta em caso de recusa considerada ilegítima. 2. Extensão do entendimento contido na Súmula STJ/372
às determinações incidentais de exibição de documento no processo, casos em que deverá ser observada a regra
prevista no art. 359 do CPC. 3. Agravo Regimental improvido. (STJ - AgRg no REsp 1284422/SP, Rel. Ministro
SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/10/2012, DJe 05/11/2012)
393
É uma multa a ser aplicada à parte contrária caso não cumpra uma ordem judicial no prazo estipulado pela
autoridade judicial.
394
APELAÇÃO CÍVEL. PREVIDENCIÁRIO. MEDIDA CAUTELAR PARA EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS.
FUMUS BONI IURIS. PERICULUM IN MORA. 1. A exibição de coisa ou documento em juízo pode se dar
incidentalmente, no curso do processo (arts. 355 a 359 do CPC), através de ação própria movida por uma das
partes de processo pendente, em face de terceiro (arts. 360 a 362) ou por meio de ação cautelar, preparatória
ou incidental (arts. 844 e 845). 2. (...). (TRF2 - AC 200851018153765 – 2ª Turma Especializada – Rel. Des.
Federal Liliane Roriz - E-DJF2R de 10.11.2010, p. 247)
PÁGINA
EM
BRANCO
Capítulo 9
Mandado de Segurança:
Utilização pelos Militares
9. Introdução. 9.1. O que é o mandado de segurança? 9.2. Direito líquido e
certo e provas pré-constituídas. 9.3. Proibições expressas de concessão de
mandado de segurança. 9.4. Prazo para impetração e espécies de mandado
de segurança. 9.4.1. Mandado de segurança preventivo. 9.4.2. Mandado de
segurança repressivo. 9.5. Mandado de segurança coletivo. 9.6. Legitimidade
ativa: impetrante. 9.7. Legitimidade passiva: impetrado. 9.8. Litisconsorte
passivo necessário. 9.9. Competência do Poder Judiciário e lugar da
impetração. 9.10. Liminar em sede de mandado de segurança. 9.11. Recursos
cabíveis. 9.11.1. Indeferimento de liminar. 9.11.2. Indeferimento da inicial
e concessão ou denegação da ordem. 9.12. Por que, às vezes, não é ideal a
utilização do mandado de segurança. 9.12.1. Falta de documentos necessários
à comprovação da ilegalidade e lugar da impetração. 9.12.2. Pressupostos
rigorosos do mandado de segurança.
9. Introdução
Este capítulo é destinado ao estudo da utilização do mandado de segurança
pelos militares das Forças Armadas e Auxiliares, objetivando-se discorrer sobre
um estudo prático e objetivo do tema, deixando de lado o histórico e as teorias
acadêmicas relativas ao writ395.
Nos quartéis é muito comum a expressão: basta entrar com um mandado
de segurança! Palavras geralmente ditas nas conversas entre militares quando da
discussão, por exemplo, de reivindicação de direitos supostamente infringidos pela
Administração Castrense.
Ocorre, entretanto, que o mandado de segurança possui várias peculiaridades
distintas de, por exemplo, uma ação ordinária, desde prazos para impetração
(ajuizamento) até pressupostos necessários indispensáveis para a obtenção do
conhecimento e da concessão da segurança.
395
Assim como no habeas corpus, é utilizado, também, o termo writ para designar o mandado de segurança.
396
AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO ADMINISTRATIVA DO
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. 1. Legitimidade da associação. 2. Concurso da magistratura. Revisão
ou arredondamento de notas. Ausência de direito líquido e certo. Impossibilidade de dilação probatória em
mandado de segurança. Agravo regimental ao qual se nega provimento. (STF - MS 26303 AgR, Relator(a):
Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 17/11/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-235 DIVULG
12-12-2011 PUBLIC 13-12-2011)
397
Salvo quando a autoridade coatora detiver foro privilegiado em razão de sua categoria hierárquica funcional.
398
PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. (...) 1. Em mandado de
segurança, o prazo para a manifestação do Ministério Público como custos legis (art. 12 da Lei 12.016/09)
não tem a mesma natureza dos prazos das partes, denominados próprios, cujo descumprimento acarreta a
preclusão (art. 183 do CPC). Trata-se de prazo que, embora improrrogável, é impróprio, semelhante aos do juiz
e seus auxiliares, a significar que a extemporaneidade da apresentação do parecer não o invalida, nem inibe
o julgamento da demanda. (...)” (STJ - RMS 32.880/SP, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 20/09/2011, DJe 26/09/2011)
399
O Ministério Público verificará no caso concreto se há interesse público primário que justifique a sua
intervenção como fiscal da lei. Se não vislumbrar interesse público, poderá deixar de oferecer parecer sobre o
mérito da segurança.
400
Art. 12. Findo o prazo a que se refere o inciso I do caput do art. 7º desta Lei, o juiz ouvirá o representante
do Ministério Público, que opinará, dentro do prazo improrrogável de 10 (dez) dias. Parágrafo único. Com
ou sem o parecer do Ministério Público, os autos serão conclusos ao juiz, para a decisão, a qual deverá ser
necessariamente proferida em 30 (trinta) dias.
401
Em 2013, a Juruá Editora lançou livro de minha autoria – Concursos Públicos Militares – Tutelas de Urgência
– Teoria e Prática – onde disserto sobre o uso do mandado de segurança em sede de concursos públicos.
402
CONSTITUCIONAL - PROCESSUAL CIVIL - ADMINISTRATIVO - MANDADO DE SEGURANÇA -
HABEAS DATA. I - Se a pretensão deduzida é o conhecimento ou retificação de dados que constem a respeito
do impetrante, junto à repartição pública apontada, a hipótese seria de habeas data e não de mandado de
segurança. II - Correto o indeferimento da petição inicial (arts. 267, I e 295 do CPC). III - Negado provimento
à apelação, para manter íntegra a sentença de primeiro grau. (TRF1 – AMS nº 9401036730/DF – 2ª Turma – Rel.
Des. Carlos Fernando Mathias - j. 03.09.96 - DJ de 11.11.1996, p. 85.865)
403
O mandado de segurança possui índole mandamental, ou seja, é emanada uma ordem para a autoridade coatora
fazer ou deixar de fazer alguma coisa, assim como, por exemplo, na ação de obrigação de fazer contra a União
Federal. Por isso, nas sentenças de mandado de segurança, costuma-se consignar: CONCEDO A SEGURANÇA
ou CONCEDO A ORDEM.
404
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 1996. p. 163.
Art. 1º. Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,
não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com
abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo
receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais
forem as funções que exerça.
Direito líquido e certo é o que resulta de fato certo, ou seja, é aquele capaz de ser
comprovado, de plano, por documentação inequívoca. Note-se que o direito é sempre
líquido e certo. A caracterização de imprecisão e incerteza recai sobre os fatos, que
necessitam de comprovação. Importante notar que está englobado na conceituação
de direito líquido e certo o fato que para tornar-se incontroverso necessite somente
de adequada interpretação do direito, não havendo possibilidade de o juiz denegá-
405
É ação civil de rito sumário especial, embora seja utilizada, também, em matéria penal.
406
Admissibilidade é o ato do magistrado em admitir (aceitar) a petição inicial, a fim de que, posteriormente, possa-
se analisar o mérito da ação, julgando procedente (concessão da ordem) ou improcedente (denegação da ordem).
407
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 166.
408
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. DILAÇÃO PROBATÓRIA.
IMPOSSIBILIDADE. ALEGAÇÕES NÃO PROVADAS. INVIABILIDADE DA CONCESSÃO DA ORDEM. -
O mandado de segurança não comporta dilação probatória e requer prova robusta do direito vindicado, condição
que não se satisfaz com meras alegações das partes. Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no RMS 33.698/
DF, Rel. Ministro CÉSAR ASFOR ROCHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 29/05/2012, DJe 06/06/2012)
409
MANDADO DE SEGURANÇA. LIMINAR. ADMINISTRATIVO. MILITAR. PRETERIÇÃO EM
TRANSFERÊNCIA DE SEDE. INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. ATO DISCRICIONÁRIO. 1. A
característica principal da carreira militar é a movimentação por interesse da Administração, estando adequado
o entendimento que o servidor não possui, em princípio, direito em ser movimentado segundo os seus interesses,
pois tem o dever, em regra, de se dirigir ao local indicado como mais conveniente para o exercício de suas funções.
Tal presunção, todavia, pode ser afastada desde que comprovado concretamente a ilegalidade ou arbítrio do ato
de transferência. 2. Consoante entendimento do E. STJ, “inexistindo indícios de eventual desvio de finalidade, a
movimentação promovida pela autoridade dita coatora, que tem respaldo na legislação, traduz-se em exercício
regular do poder discricionário da Administração Pública”, precedente: ROMS 200901765706. 3. Agravo de
instrumento provido. (TRF2 - AG 201202010036451 – 7ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal Luiz Paulo
da Silva Araújo Filho - E-DJF2R de 28.06.2012)
certo deverão acompanhar a petição inicial, a fim de que os fatos alegados pelo
impetrante restem, indubitavelmente, comprovados. Se o direito líquido e certo
depender de comprovação posterior a sua impetração, excetuando-se o previsto
no § 1º do art. 6º da Lei 12.016/09, não será cabível o mandado de segurança.
A título de exemplo, quais seriam os documentos a serem juntados à inicial
da ação mandamental de um militar que alega que foi, ilegalmente, movimentado
ex officio para outra localidade em preterição a militar mais moderno? Pelo menos,
além dos obrigatórios410, os seguintes: a) a prova de que foi movimentado; b) a
prova de que havia outro militar mais moderno que deveria ser movimentado em
seu lugar; e c) a citação ou juntada das normas legais castrenses que regulamentam
as movimentações dos militares da respectiva Força Armada ou Auxiliar. Neste
caso hipotético, caso o magistrado verifique que a autoridade coatora movimentou o
militar em desacordo com as normas castrenses, ser-lhe-á concedida411 a segurança,
decretando-se, consequentemente, a anulação ou retificação da movimentação do
militar mais antigo.
Todavia, poderá ocorrer de o impetrante não dispor (não teve acesso) de
documento essencial para a prova do direito líquido e certo, sendo possível, então,
requerê-lo com base no § 1º do art. 6º da Lei 12.016/09 (semelhante ao parágrafo
único412 do art. 6º da revogada Lei 1.533/51), em caso de enquadramento em uma
das situações previstas no dispositivo, assim descrito:
413
O art. 8º da Lei nº 9.507/97 prevê a exigência da prova da recusa ou omissão de informações:
Art. 8°. A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a 285 do Código de Processo Civil, será
apresentada em duas vias, e os documentos que instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia na segunda.
Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão;
II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem decisão; ou
III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso de mais de quinze dias
sem decisão.
de que seja demonstrado o direito líquido e certo, é prudente utilizar outra ação
judicial, como, por exemplo, a ação ordinária414 com pedido de antecipação de
tutela415.
Ademais, de acordo com o § 5º416 do art. 6º da Lei 12.016/09, o mandado
de segurança será denegado nos casos previstos no art. 267 do CPC.
A sentença proferida na ação mandamental é recorrível mediante apelação417,
conforme previsão expressa no art. 14 da referida Lei, assim dispondo:
414
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. MILITAR
REFORMADO. INDENIZAÇÃO DE FÉRIAS NÃO GOZADAS POR NECESSIDADE DE SERVIÇO. FATO
CONTROVERTIDO. DILAÇÃO PROBATÓRIA. DESCABIMENTO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.
1. O mandado de segurança é ação constitucional de curso sumário que exige prova pré-constituída do direito
líquido e certo tido como violado, não admitindo dilação probatória. 2. Mantem-se a extinção sem julgamento
de mérito do mandamus em que não resta comprovado de plano e de modo inequívoco o direito líquido e certo,
ressalvando-se a via ordinária, hábil à sua cabal demonstração. 3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(STJ - AgRg no RMS 28.815/MS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,DJe
06/06/2012)
415
Para melhor aprofundamento sobre a ação ordinária com pedido de antecipação de tutela, sugiro a leitura
do capítulo específico sobre este tema no meu livro – Concursos Públicos Militares – Tutelas de Urgência –
Teoria e Prática – publicado pela Juruá Editora em 2013.
416
§ 5º. Denega-se o mandado de segurança nos casos previstos pelo art. 267 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro
de 1973 - Código de Processo Civil.
417
Em sendo denegada a ordem após o deferimento de liminar para prosseguimento em concurso público, é
possível restabelecer a liminar em sede recursal.
418
PROCESSO CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. AUXÍLIO-FARDAMENTO. VERBA
INDENIZATÓRIA EM PARCELA ÚNICA. PRETENSÃO SUBSTITUTIVA DE COBRANÇA. NÃO
CABIMENTO. DENEGAÇÃO DA SEGURANÇA. 1. O Apelado pretende receber, através deste mandado
de segurança, valores que lhe entende devidos a título de auxílio-fardamento em função de furto de peças de
uniforme militar, atacando o ato administrativo que indeferiu esse benefício. 2. (...). 4. Provimento da apelação e
da remessa oficial para reformar a sentença apelada, denegando a segurança postulada em face da inadequação
da via processual eleita. (TRF5 - AMS 200384000147087 – 1ª Turma - Rel. Des. Federal Emiliano Zapata
Leitão - DJE de 08.10.2009)
Art. 18. Das decisões em mandado de segurança proferidas em única instância pelos
tribunais cabe recurso especial e extraordinário, nos casos legalmente previstos,
e recurso ordinário, quando a ordem for denegada.
Art. 19. A sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança, sem decidir
o mérito, não impedirá que o requerente, por ação própria, pleiteie os seus direitos
e os respectivos efeitos patrimoniais.
419
Súmula nº 269: o mandado de segurança não é substituto de ação de cobrança.
420
Súmula nº 271: concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais em relação a período
pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria.
421
Os arts. 539 e 540 do CPC tratam do recurso ordinário:
Art. 539. Serão julgados em recurso ordinário:
I - pelo Supremo Tribunal Federal, os mandados de segurança, os habeas data e os mandados de injunção
decididos em única instância pelos Tribunais superiores, quando denegatória a decisão;
II - pelo Superior Tribunal de Justiça:
a) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais
dos Estados e do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão;
b) as causas em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo internacional e, do outro,
Município ou pessoa residente ou domiciliada no País.
Parágrafo único. Nas causas referidas no inciso II, alínea b, caberá agravo das decisões interlocutórias.
Art. 540. Aos recursos mencionados no artigo anterior aplica-se, quanto aos requisitos de admissibilidade e
ao procedimento no juízo de origem, o disposto nos Capítulos II e III deste Título, observando-se, no Supremo
Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, o disposto nos seus regimentos internos.
422
(...). III - Ocorrência da decadência no caso dos autos, na medida em que a data da publicação do Edital de
Abertura nº 001/2009 se deu em 11.9.2009, data esta em que ocorreu a ciência do ato hostilizado, e a presente
impetração só foi efetivada em 13/7/2010, muito tempo além dos cento e vinte dias previstos na legislação de
regência, no caso, o artigo 23 da Lei nº 12.016/2009. Restando resguardado o acesso através das vias ordinárias,
conforme o disposto no artigo 19 da mesma Lei do Mandado de Segurança. IV - Apelação improvida.” (TRF5 -
AC 00049158720104058400 – 4ª Turma – Rel. Des. Federal Margarida Cantarelli - DJE de 03.02.2011, p. 577)
423
Art. 19. A sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança, sem decidir o mérito, não impedirá
que o requerente, por ação própria, pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais.
424
ADMINISTRATIVO. MILITAR REFORMADO. AUXÍLIO-INVALIDEZ. RESTABELECIMENTO
DO BENEFÍCIO. IMPOSSIBILIDADE. REQUISITOS NÃO IMPLEMENTADOS. MANDADO
DE SEGURANÇA. AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. DILAÇÃO PROBATÓRIA.
INADMISSIBILIDADE. SENTENÇA MANTIDA. 1. O cerne da lide radica em desvelar se é devido o
restabelecimento do auxílio-invalidez ao militar reformado portador de espondilite anquilosante. 2. O art. 1º da
Lei nº 11.421/2006 consigna como requisitos à concessão do auxílio-invalidez, além da incapacidade permanente,
a necessidade de internação especializada ou de assistência/cuidados permanentes de enfermagem, a ser
atestada por Junta Militar de Saúde. 3. No caso dos autos, após a realização de inspeção de saúde, por Médico
Perito da Guarnição, concluiu-se que o militar não mais necessitava de cuidados permanentes de enfermagem
ou hospitalização, embora reconhecida sua invalidez, suspendendo-se o benefício. 4. Com efeito, a doença
incapacitante do autor, por si só, não enseja a concessão do auxílio-invalidez, eis que devem ser preenchidas
as exigências legais previstas na Lei nº 11.421/2006 para tanto, o que não ocorreu no caso em tela, tendo em
vista que não restou comprovada a necessidade de assistência ou cuidados permanentes de enfermagem. 5.
Ressalte-se que apenas uma perícia médica judicial poderá infirmar a presunção de legitimidade e veracidade
do ato administrativo de suspensão do benefício, afigurando-se incabível o uso da via mandamental, haja vista
a necessidade de dilação probatória. 6. É pressuposto do mandado de segurança a existência de direito líquido
e certo. O direito invocado, para ser amparável por mandado de segurança, há de vir expresso em norma
legal e trazer em si todos os requisitos e condições de sua aplicação. Desacompanhada a inicial da prova pré-
constituída dos fatos em que se lastreia a impetração, não há que se falar em direito líquido e certo. 7. Apelação
improvida. (TRF5 - AC 00011789420104058200 – 1ª Turma – Rel. Des. Federal Francisco Cavalcanti - DJE
de 03.04.2012, p. 231)
Este parágrafo não será objeto de estudo neste livro, todavia, caso o leitor
queira se aprofundar no tema em relação à nomeação em concurso público de
candidato sub judice, sugiro a aquisição do meu livro Concursos Públicos Militares
– Tutelas de Urgência – Teoria e Prática425, onde teço comentários sobre o meu
entendimento no sentido de que a nomeação após a conclusão do curso de formação
por candidato sub judice não se enquadra neste dispositivo e nem nas proibições
previstas na Lei 9.494/97.
O inciso I assim dispõe:
Art. 5º. Não se concederá mandado de segurança quando se tratar:
I - de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo,
independentemente de caução;
prevê que o militar somente poderá utilizar a via judicial após esgotada a esfera
administrativa, todavia, esta norma não429 foi recepcionada pela CF/88, pois afronta
o inciso XXXV do art. 5º.
Na verdade o texto do inciso I foi mal escrito430, pois, numa primeira leitura,
pode-se entender que, se houver previsão de recurso administrativo com efeito
suspensivo contra ato supostamente ilegal, seria incabível a segurança, exigindo,
consequentemente, o esgotamento da esfera administrativa.
O STF - Guardião da CF/88 - pronunciou-se, em decisão recente de 05.06.2012,
que o inciso I do art. 5º deve ser interpretado no sentido de que não será concedida
a segurança quando houver pendência de julgamento de recurso administrativo
com efeito suspensivo, então vejamos:
MANDADO DE SEGURANÇA. CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO
PÚBLICO. CONTROLE DE LEGALIDADE DE ATO PRATICADO PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO DE RONDÔNIA. CONCURSO PÚBLICO. EXAME
PSICOTÉCNICO. PREVISÃO EM LEI. CRITÉRIOS OBJETIVOS. ORDEM
DENEGADA. I – O art. 5º, I, da Lei 12.016/2009 não configura uma condição
de procedibilidade, mas tão somente uma causa impeditiva de que se utilize
simultaneamente o recurso administrativo com efeito suspensivo e o mandamus.
II – A questão da legalidade do exame psicotécnico nos concursos públicos
reveste-se de relevância jurídica e ultrapassa os interesses subjetivos da causa.
III – A exigência de exame psicotécnico, como requisito ou condição necessária
ao acesso a determinados cargos públicos, somente é possível, nos termos da
Constituição Federal, se houver lei em sentido material que expressamente o
autorize, além de previsão no edital do certame. IV – É necessário um grau
mínimo de objetividade e de publicidade dos critérios que nortearão a avaliação
psicotécnica. A ausência desses requisitos torna o ato ilegítimo, por não possibilitar
o acesso à tutela jurisdicional para a verificação de lesão de direito individual pelo
429
SERVIDOR MILITAR. PUNIÇÃO DISCIPLINAR. EXAURIMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA NÃO
RECEPCIONADA PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. APELAÇÃO IMPROVIDA. 1 - O autor,
militar da Força Aérea Brasileira, foi punido disciplinarmente em duas ocasiões, pelos seguintes motivos: a
primeira punição, consistente em prisão por 10 dias, ocorreu porque teria proposto ação judicial para que
cessasse desconto de taxa que considerou ser indevida, antes de exaurir a via administrativa; a segunda punição,
consistente em prisão por 4 dias, ocorreu porque teria se ausentado do PARMARF, sem autorização de seu
superior hierárquico, quando cumpria a primeira punição. 2 - Com o advento da Constituição Federal de 1988
o prévio esgotamento da via administrativa para a propositura de demanda em face da Administração Pública
restou expurgado do ordenamento jurídico pátrio em razão da norma constante do art.5°, inciso XXXV, da
Magna Carta. 3 - Nula, nessas condições, a primeira punição imposta ao autor, afigurando-se igualmente nula,
por conseguinte, a segunda punição, vez que decorrente daquela outra. 4 - Apelação improvida. (TRF3 - AC
00015124120014036118 - Rel. Juiz Convocado Paulo Conrado - e-DJF3 de 01.02.2011, p. 69)
430
O legislador pecou ao manter a redação original da revogada Lei 1.533/51, em que seu inciso I do art. 5º
previa o seguinte:
Art. 5º - Não se dará mandado de segurança quando se tratar:
I - de ato de que caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independente de caução.
(...)
EFEITO SUSPENSIVO. Assim se diz de todo ato ou de toda causa que venha
produzir a suspensão do que se estava fazendo ou se pretendia fazer. Geralmente, é
431
Sobre a parte final deste inciso (independente de caução), o STJ possui a Súmula nº 373, assim prevendo: “É
ilegítima a exigência de depósito prévio para admissibilidade de recurso administrativo.”.
432
Súmula nº 429 do STF: a existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não impede o uso do
mandado de segurança contra omissão da autoridade.
433
CONSTITUCIONAL. PROCESSO CIVIL. AGRAVO EM MANDADO DE SEGURANÇA. NÃO
CABIMENTO. DECISÃO DA QUAL CABE AGRAVO DE INSTRUMENTO. SÚMULA 267/STF. 1. (...). 2. A
inovação trazida no inciso II, do artigo 5º, da Lei 12.016/2009, não socorre a agravante, pois, para o agravo de
instrumento existe previsão legal de concessão de efeito suspensivo (artigo 527, III, CPC). 3. Deve der preservada
a natureza e a função do mandado de segurança, remédio heróico, previsto na Constituição Federal, e criado para
situações excepcionais. 4. Não se pode admitir que a parte interessada, ao seu alvitre, escolha o instrumento que
lhe seja mais conveniente: recurso ou mandado de segurança. 5. As alterações introduzidas na sistemática dos
recursos de agravo de instrumento e da apelação, por meio das Leis 9.139/1995 e 10.352/2001, acabaram por
proporcionar às partes remédio jurídico tão ou mais célere quanto a via do mandado de segurança. 6. Somente
será cabível o mandado de segurança quando se tratar de decisão teratológica, de ato flagrantemente eivado de
ilegalidade ou abuso de poder. 7. Agravo não provido. (TRF3 - MS 00057779620084036100 – 2ª Seção – Rel.
Des. Federal Márcio Moraes - e-DJF3 de 16.06.2011)
434
1. O mandado de segurança não é sucedâneo de ação rescisória, daí porque não é cabível para desconstituir
ato judicial transitado em julgado. Essa vedação foi expressamente consignada no art. 5º, III, da Lei 12.016/09 e
na Súmula 268/STF. 2. (...). (STJ - AgRg no RMS 36.510/SP, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA,
julgado em 15/05/2012, DJe 24/05/2012)
435
SILVA, De Plácido. Vocabulário Jurídico. 15ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 295.
a expressão usada para indicar um dos efeitos da apelação, quando todo processo
da ação se paralisa, não se dando começo à execução, até que se decida o recurso
interposto, pela instância superior, a quem se devolveu o conhecimento da causa.
Em regra, em matéria processual, os recursos somente têm efeito suspensivo, quando
expressamente determinado por lei.
SÚMULA nº 267
Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou
correição.
436
1. De acordo com o artigo 5º, inciso II, da Lei nº 12.016/2009 não se concederá mandado de segurança quando
se tratar de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo. 2. O Supremo Tribunal Federal também
firmou entendimento no sentido de que não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso
ou correição (Súmula nº 267). (...). 4. Somente é cabível mandado de segurança contra atos judiciais quando
restar comprovada a ineficácia do recurso para a proteção do direito líquido e certo do impetrante, desde que
manifesta a ilegalidade do ato ou abuso, devendo a impetração ficar adstrita aos casos excepcionais, sob pena
de um alargamento indevido da utilização da via estreita do writ. 5. Agravo regimental improvido. (TRF3 - MS
00306730520104030000 – 1ª Seção – Rel. Des. Federal Vesna Kolmar - e-DJF3 de 23.12.2010, p. 1)
437
O estudo deste recurso cível está disposto no meu livro Concursos Públicos Militares – Tutelas de
Urgência – Teoria e Prática.
438
RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO JUDICIAL QUE DECRETA
DESERÇÃO POR FALTA DE RECURSO POR FALTA DE COMPROVAÇÃO DE PREPARO. NÃO
INTERPOSIÇÃO DO RECURSO CABÍVEL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 267 DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. Mandado de segurança impetrado contra ato jurisdicional. Ausência de configuração de ilegalidade
ou abuso de poder. Descabimento. Precedentes. Recurso ordinário em mandado de segurança ao qual se nega
provimento. (STF - RMS 31621, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma, julgado em 19/03/2013,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-066 DIVULG 10-04-2013 PUBLIC 11-04-2013)
439
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. ATO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR. AUTORIDADE INCOMPETENTE. FORMALIDADE ESSENCIAL. INOBSERVÂNCIA.
CONTRARIEDADE AO ART. 5.º, INCISO III, DA LEI N.º 1.533/51. 1. Não cabe o argumento de violação
ao art. 5.º, inciso III, da Lei n.º 1.533/51, pois restou evidenciado na decisão proferida pelo Tribunal de origem
que o ato administrativo que concluiu pela exclusão do militar não preservou as formalidades essenciais e foi
emanado de autoridade incompetente. 2. Agravo regimental desprovido. (STJ - AgRg no REsp nº 924.818/AL,
Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 07/10/2008, DJe 03/11/2008)
440
Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em julgado.
441
O trânsito em julgado ocorre após o transcurso do prazo para a interposição dos recursos cabíveis ou quando
não houver mais recursos previstos no ordenamento jurídico.
442
Art. 495. O direito de propor ação rescisória se extingue em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado
da decisão. (CPC)
443
Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
I - se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;
II - proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente;
III - resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de colusão entre as partes, a fim
de fraudar a lei;
IV - ofender a coisa julgada;
V - violar literal disposição de lei;
VI - se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja provada na própria
ação rescisória;
VII - depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer
uso, capaz, por si só, de Ihe assegurar pronunciamento favorável;
VIII - houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em que se baseou a sentença;
IX - fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da causa;
§ 1º. Há erro, quando a sentença admitir um fato inexistente, ou quando considerar inexistente um fato
efetivamente ocorrido.
§ 2º. É indispensável, num como noutro caso, que não tenha havido controvérsia, nem pronunciamento judicial
sobre o fato.
444
Há decisões judiciais entendendo que o recurso administrativo em caso de punições disciplinares possui
efeito suspensivo, aplicando-se a exceção prevista no parágrafo único do art. 61 da Lei 9.784/99. Sobre efeito
suspensivo sugiro a leitura do tópico 1.3 deste livro. Há dicas neste tópico sobre como obter o efeito suspensivo
ao recurso administrativo disciplinar.
445
CONSTITUCIONAL. DETENÇÃO EM FACE DE TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR. INDEFERIMENTO
DA INICIAL. ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. PREVISÃO DE EXAME DA LEGALIDADE DO ATO
VIA HABEAS CORPUS. VIA MANDAMENTAL ADEQUADA PARA ANULAR ATO ADMINISTRATIVO
COMPLEXO. 1. A restrição contida no artigo 142, § 2º da Constituição Federal (Não caberá habeas corpus
em relação a punições disciplinares militares) se refere tão somente ao mérito da punição disciplinar, não
afastando a possibilidade do exame da legalidade do ato atacado. 2. O impetrante sofreu pena de detenção em
razão de transgressão disciplinar. Requer a anulação do ato que resultou na pena de detenção por 06 (seis)
dias. A anulação do referido ato não se limita ao aspecto ambulatorial, mas engloba as demais consequências
de ordem funcional, razão pela qual é adequada a via do mandado de segurança. 3. Não estando a causa
madura, impõe-se a anulação da sentença para o regular processamento da ação mandamental, colhendo-se as
informações da autoridade apontada coatora. (TRF1 - AMS 200241000042494 – 2ª Turma Suplementar – Rel.
Juíza Federal Rosimayre Goncalves de Carvalho - e-DJF1 de 01.02.2012, p. 536)
446
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL. MILITAR. PUNIÇÃO DISCIPLINAR.
‘HABEAS CORPUS’ E MANDADO DE SEGURANÇA. CABIMENTO. 1. Incabimento de mandado de
segurança, utilizado no objetivo de obter efeito de ‘habeas corpus’, para impedir punição disciplinar (grifo
meu). 2. Inocorrência de contradição ou de omissão. 3. Embargos de declaração a que se nega provimento.
(TRF4 – EAGRMS nº 9204233460/RS – 1ª Turma - Rel. Des. Federal Ellen Gracie - j. 11.03.93 - DJ de 05.05.1993,
p. 16.167)
MANDADO DE SEGURANÇA. SUSPENSÃO DA APLICAÇÃO DE PUNIÇÃO DISCIPLINAR MILITAR.
PRISÃO DISCIPLINAR. 1. Mandado de segurança impetrado por servidor militar federal visando a suspensão
da aplicação da pena de prisão disciplinar. 2. É o ‘habeas corpus’, e não o mandado de segurança, o meio
próprio para a garantia da liberdade de locomoção. Se vedado o ‘habeas corpus’ perante a justiça militar
(artigo-142, parágrafo-02, da constituição federal), não pode o mandado de segurança impetrado perante a
justiça federal servir-lhe de sucedâneo, pois que isso importaria em afrontar a proibição constitucional. (TRF4 –
AGMS nº 9204233460/RS – 1ª Turma - Rel. Des. Federal Ellen Gracie, j. 17.09.92 - DJ de 04.11.1992, p. 35.415)
MANDADO DE SEGURANÇA. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. MILITAR.
APLICAÇÃO DE PENA DISCIPLINAR. Não pode o mandado de segurança ser utilizado para tratar de matéria
veiculada por Habeas Corpus. Agravo regimental improvido. (TRF5 – AGA nº 60071-01/PE – 4ª Turma - Rel.
Des. Marcelo Navarro - j. 25.01.05 - DJ de 23.03.2005, p. 320)
447
Este writ foi utilizado para conceder a liberdade de um militar preso disciplinarmente, todavia, não é o
instrumento adequado, mas sim o habeas corpus. Ademais, sem dúvidas, os pressupostos necessários à concessão
do habeas corpus são muito menos rigorosos do que no mandado de segurança.
449
São dias corridos e não úteis.
450
Há, entretanto, atos administrativos que não são publicados nos boletins internos, mas sim, diretamente aos
interessados, por meio de notificações, comunicações ou intimações pessoais.
451
MANDADO DE SEGURANÇA. PRAZO PARA IMPETRAÇÃO. DECADÊNCIA. DIREITO LÍQUIDO
E CERTO. INEXISTÊNCIA. 1. O prazo para impetrar mandado de segurança e de 120 (cento e vinte) dias,
contados da ciência do ato impugnado, in casu, regularmente publicado no boletim interno da Polícia Militar
do Estado do Rio de Janeiro. 2. A inabilitação ao quadro de acesso aos postos superiores da PM, por ato
da comissão de promoções de oficiais, não e ato susceptível de confronto na estreita vai do writ, porquanto
as afirmações dos fatos não se apresentam “como induvidosas independentemente de instrução”. 3. Recurso
conhecido e improvido. (STJ - RMS 4.300/RJ, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, SEXTA TURMA, julgado
em 19/11/1996, DJ 16/12/1996)
452
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
MANDADO DE SEGURANÇA. POLICIAL MILITAR EXCLUÍDO. PENSÃO. ART. 535, INCISOS I E II,
DO CPC. VIOLAÇÃO. INEXISTÊNCIA. PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE DIREITO E DECADÊNCIA.
NÃO INCIDÊNCIA. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL AUTÔNOMO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO
NÃO ADMITIDO. INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO. SÚMULA
Nº 126/STJ. APLICAÇÃO. 1. Não ocorreu contrariedade ao art. 535, II, do Código de Processo Civil, pois o
Tribunal de origem analisou, de forma fundamentada, toda a matéria que lhe fora devolvida. Cumpre destacar
que o Julgador não está obrigado a discorrer sobre todas as questões suscitadas em juízo, quando já tenha
encontrado motivo suficiente para proferir a decisão. 2. Não há falar em prescrição do fundo de direito ou em
transcurso do prazo decadencial para a impetração do mandado de segurança, quando a parte se insurge
contra suposto ato omissivo da Administração. 3. O acórdão decidiu a controvérsia com base em fundamentos
de índole constitucional e infraconstitucional, contudo, a parte interessada não comprovou a interposição de
agravo —na forma instrumental, porquanto anterior à vigência da Lei nº 12.322/2010 —contra a decisão que
inadmitiu o recurso extraordinário, o que atrai a incidência da Súmula 126/STJ. Precedentes. 4. Agravo regimental
a que se nega provimento. (STJ - AgRg no REsp 1086504/MS, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA,
julgado em 02/04/2013, DJe 16/04/2013)
459
O inciso IV do § 3º do art. 142 da CF/88 prevê o seguinte: ao militar são proibidas a sindicalização e a greve.
460
A União (Comando do Exército) ajuizou ações contra a APEB para fechar as portas desta associação, sendo
que a 4ª Turma do TRF5 entendeu pela ilicitude (considerada sindicato) da APEB/RN (Apelação Cível 509995 -
200784000094477) e APEB/CE (Apelação Cível Apelação Cível 526690 - 200781000171349), diferentemente,
todavia, ocorreu com a 4ª Turma do TRF4, pois este tribunal entendeu pela licitude (não considerada sindicato)
da APEB/PR (Apelação Cível 0000215-80.2008.404.7005).
461
O ajuizamento de mandado de segurança coletivo por entidade de classe não impede ao militar, isoladamente,
o exercício do direito subjetivo de postular, por via de writ individual, o resguardo do seu direito líquido e certo,
lesado ou ameaçado de lesão por ato de autoridade, não ocorrendo, na hipótese, os efeitos da litispendência (ajuizar
ação idêntica à outra proposta anteriormente), conforme disposição expressa do § 1º do art. 22 da Lei 12.016/09.
462
MANDADO DE SEGURANÇA – ASSISTÊNCIA – IMPROPRIEDADE. Impetrado mandado de segurança
coletivo, descabe admitir, como terceiros interessados, os substituídos. (STF - MS 26794 AgR, Relator(a): Min.
MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 23/05/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-148 DIVULG
31-07-2013 PUBLIC 01-08-2013)
A G R AV O R E G I M E N TA L N O R E C U R S O E X T R A O R D I N Á R I O .
CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO.
ASSOCIAÇÃO. LEGITIMIDADE ATIVA. AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DOS
ASSOCIADOS. RELAÇÃO NOMINAL. DESNECESSIDADE. PRECEDENTES.
1. É pacífica a jurisprudência desta Corte de que as associações, quando impetram
mandado de segurança coletivo em favor de seus filiados, atuam como substitutos
processuais, não dependendo, para legitimar sua atuação em Juízo, de autorização
expressa de seus associados, nem de que a relação nominal desses acompanhe
a inicial do mandamus, consoante firmado no julgamento do MS nº 23.769/BA,
Tribunal Pleno, Relatora a Ministra Ellen Gracie. 2. Agravo regimental não
provido. (STF - RE 501953 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira
Turma, julgado em 20/03/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-081 DIVULG
25-04-2012 PUBLIC 26-04-2012)
SÚMULA nº 629
A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor
dos associados independe da autorização destes.
SÚMULA nº 630
A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança ainda quando
a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria.
pois a assistência médica e hospitalar prestada pelo SUS já é prevista no art. 196
da Constituição Federal como direito de todos. 3) Muitos associados da impetrante
ajuizaram ações individuais para o reconhecimento do direito aos benefícios
previstos no art. 53 do ADCT/88, mas nem todos tiveram a pretensão satisfeita,
pois, embora em muitos casos tenham servido às Forças Armadas durante o período
do Segundo Conflito Mundial, não chegaram a preencher os requisitos legais para
serem considerados ex-combatentes para os efeitos do art. 53 do ADCT/88, pois
não comprovaram a efetiva participação em operações bélicas durante a Segunda
Guerra Mundial, seja no combate em solo italiano ou, pelo menos, no patrulhamento
do litoral brasileiro. 4) A sentença deve ser parcialmente reformada, de modo que
a segurança seja concedida, em parte, apenas para assegurar a assistência médico-
hospitalar gratuita nas organizações militares de saúde aos ex-combatentes que
tenham essa condição expressamente reconhecida pela Corporação Militar a que
pertenciam ou por decisão judicial definitiva. Os demais associados e os que não são
dependentes do ex-combatente não têm direito. 5)Remessa necessária e apelações
parcialmente providas. (TRF2 – AMS nº 45.003/RJ – 5ª Turma Especializada - Rel.
Des. Federal Antônio Cruz Netto - j. 30.07.08 - DJ de 08.08.2008, p. 378)
463
Este é um grande poder conferido às associações de âmbito nacional. Caso uma dessas seja composta por
militares, por exemplo, poderá questionar no STF, mediante ADin, uma norma jurídica inconstitucional que fere
direitos dos militares. Certamente, muitas associações não tem noção do grande poder que é ter legitimidade
para ajuizar uma ADin.
Art. 2º. No mandado de segurança coletivo e na ação civil pública, a liminar será
concedida, quando cabível, após a audiência do representante judicial da pessoa
jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de setenta e duas
horas.
464
Ou seja, resumindo, a associação de âmbito nacional somente poderá questionar, via ADin, normas que possam
ter algum relacionamento com os fins sociais previstos no seu Estatuto. Um exemplo: se uma associação não
visar dentre seus fins a preservação do meio ambiente, em regra, não poderá questionar a constitucionalidade de
uma lei relacionada ao meio ambiente. No próximo rodapé está consignada a exigência da pertinência temática.
465
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DAS PROFISSÕES
LIBERAIS - CNPL. FALTA DE LEGITIMIDADE ATIVA. - Na ADI 1.792, a mesma Confederação Nacional
das Profissões Liberais - CNPL não teve reconhecida sua legitimidade para propô-la por falta de pertinência
temática entre a matéria disciplinada nos dispositivos então impugnados e os objetivos institucionais específicos
dela, por se ter entendido que os notários e registradores não podem enquadrar-se no conceito de profissionais
liberais. - Sendo a pertinência temática requisito implícito da legitimação, entre outros, das Confederações e
entidades de classe, e requisito que não decorreu de disposição legal, mas da interpretação que esta Corte fez
diretamente do texto constitucional, esse requisito persiste não obstante ter sido vetado o parágrafo único do
artigo 2º da Lei 9.868, de 10.11.99. É de aplicar-se, portanto, no caso, o precedente acima referido. Ação direta
de inconstitucionalidade não conhecida. (STF – ADI nº 2482, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Tribunal
Pleno, julgado em 02/10/2002, DJ 25-04-2003 PP-00032 EMENT VOL-02107-01 PP-00168)
466
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (...). 1. Caracterização da ABIMAQ como entidade
de classe de âmbito nacional. O novo estatuto social prevê que a associação é composta apenas por entidades
singulares de natureza empresarial, com classe econômica bem definida, não mais restando caracterizada a
heterogeneidade de sua composição, que impedira o conhecimento da ADI nº 1.804/RS. Prova, nos autos,
da composição associativa ampla, estando presente a associação em mais de nove estados da federação.
Cumprimento da exigência da pertinência temática, ante a existência de correlação entre o objeto do pedido
de declaração de inconstitucionalidade e os objetivos institucionais da associação. 2. (...). Ação direta julgada
procedente. (STF - ADI 3702, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 01/06/2011, DJe-
166 DIVULG 29-08-2011 PUBLIC 30-08-2011 EMENT VOL-02576-01 PP-00078)
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (...). 2. Lei federal nº 8.663, de 14 de junho de 1993, que
revogou o Decreto-Lei nº 869, de 12.12.1969, que estabelecia a inclusão da Educação Moral e Cívica como
disciplina obrigatória nas escolas do País. 3. Inexiste prova da existência e funcionamento em outros Estados
da entidade requerente. Exigência de organização da entidade em, no mínimo, nove Estados da Federação,
conforme jurisprudência desta Corte. ADINs nºs 386 e 79. 4. Ação direta de inconstitucionalidade não conhecida,
por falta de legitimidade ativa da autora, prejudicado o pedido cautelar. (STF – ADI nº 912, Relator(a): Min.
NÉRI DA SILVEIRA, Tribunal Pleno, julgado em 04/08/1993, DJ 21-09-2001 PP-00041 EMENT VOL-02044-
01 PP-00022)
467
Dispõe sobre a concessão de medidas cautelares contra atos do Poder Público e dá outras providências.
Tanto pode ser pessoa física como jurídica, nacional ou estrangeira, domiciliada
ou não em nosso País, além das universalidades reconhecidas por lei (espólio,
massa falida, por exemplo) e também os órgãos públicos despersonalizados, mas
dotados de capacidade processual (chefia do Poder Executivo, Mesas do Congresso,
Senado, Câmara, Assembléias, Ministério Público, por exemplo). O que se exige é
que o impetrante tenha o direito invocado, e que este direito esteja sob a jurisdição
da Justiça brasileira.
Logo, tem-se que tanto o militar quanto a associação de classe, por exemplo,
são partes legítimas para figurarem como impetrantes na segurança.
9.7. Legitimidade passiva: impetrado
Não houve muito o que se dizer sobre a legitimidade ativa, pois não há
dificuldade sobre o tema. Diferentemente, entretanto, ocorre em relação ao estudo
da legitimidade passiva, pois se deve ter muita cautela ao designar a autoridade
coatora. Não raro, vários mandados de segurança são extintos sem resolução do
mérito devido ao fato de que foi erroneamente apontado o legitimado passivo
(autoridade coatora ou impetrado).
468
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 1996. p. 166-167.
§ 3º. Considera-se autoridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado
ou da qual emane a ordem para a sua prática.
SÚMULA nº 510
Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela
cabe o mandado de segurança ou medida judicial.
469
Art. 1º. Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas
corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica
sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam
quais forem as funções que exerça.
470
MANDADO DE SEGURANÇA. PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA. DESACOLHIMENTO.
MILITARES. PRAÇA ESPECIAL. REQUERIMENTO DE LICENÇA FORMULADO LOGO APÓS A
CONCLUSÃO DA ACADEMIA DA FORÇA AÉREA. DEFERIMENTO CONDICIONADO À PRÉVIA
INDENIZAÇÃO DOS VALORES GASTOS COM A FORMAÇÃO DO IMPETRANTE. POSSIBILIDADE
DE RESSARCIMENTO AO ERÁRIO POR MEIOS PROCESSUAIS PRÓPRIOS E EFICAZES. 1. No
caso, observa-se que o Comandante do CATRE foi mero executor da ordem proferida pelo Comandante
da Aeronáutica, o qual, portanto, possui legitimidade para atuar no pólo passivo do presente mandado de
segurança. Precedentes. 2. No mérito, entende-se que o deferimento de licenciamento do serviço ativo formulado
pelo impetrante não poderia estar condicionado ao prévio pagamento de valor indenizatório (...). 5. Segurança
concedida, a fim de reconhecer o direito do impetrante de obter o licenciamento desvinculado da prévia
indenização, a qual encontra foro judicial próprio para a sua exigibilidade. (STJ - MS 14.830/DF, Rel. Ministro
OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/03/2012, DJe 28/03/2012)
Ressalte-se que o art. 6º da Lei 12.016/09 exige que conste na petição inicial a pessoa jurídica a qual a autoridade
471
267, inc. VI, do Código de Processo Civil). (STJ - MS 12.931/DF, Rel. Ministro
OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/05/2013, DJe 31/05/2013)
472
A título de informação, o § 4º (vetado) do art. 6º da Lei 12.016/09 previa o seguinte:
§ 4º. Suscitada a ilegitimidade pela autoridade coatora, o impetrante poderá emendar a inicial no prazo de 10
(dez) dias, observado o prazo decadencial.
Na mensagem 642/09, consta a razão do veto ao § 4º:
A redação conferida ao dispositivo durante o trâmite legislativo permite a interpretação de que devem ser efetuadas
no correr do prazo decadencial de 120 dias eventuais emendas à petição inicial com vistas a corrigir a autoridade
impetrada. Tal entendimento prejudica a utilização do remédio constitucional, em especial, ao se considerar que
a autoridade responsável pelo ato ou omissão impugnados nem sempre é evidente ao cidadão comum.
473
PROCESSO CIVIL. (...) 3. A indicação errônea da autoridade coatora conduz à extinção do processo,
sem exame do mérito, pois não é dado ao Juiz, de ofício, proceder à sua substituição, nem, tampouco, facultar
a emenda da inicial, uma vez que a correta indicação da autoridade coatora é requisito imprescindível para
a fixação da competência do órgão julgador. Precedentes do STJ e desta Corte. 4. Apelação do Impetrante
desprovida. (TRF2 - AMS 200234000078201 – 5ª Turma – Rel. Juiz Federal Renato Martins Prates (CONV.) -
e-DJF1 de 09.07.2010, p. 133)
PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. AUTORIDADE IMPETRADA. LEGITIMIDADE
PASSIVA. 1. Em mandado de segurança, a legitimidade passiva da autoridade impetrada é aferida de acordo
com a possibilidade que ela detém de rever o ato acoimado de ilegal, omisso ou praticado com abuso de poder. 2.
Inocorreu apreciação do pedido, formulado em tempo hábil, de emenda da inicial para a correção do polo passivo,
com a indicação da autoridade coatora legitimada. 3. A indicação equivocada da autoridade coatora não acarreta
necessariamente a extinção do feito sem julgamento do mérito, devendo o Juiz determinar a emenda da inicial
ou, ainda, corrigir de ofício a impetração na hipótese de erro escusável. (TRF4 - AC 00043415420094047001
– 2ª Turma – Rel. Des. Federal Luciane Amaral Corrêa Münch - D.E. de 22.04.2010)
MANDADO DE SEGURANÇA (...). 1. Em sede de mandado de segurança, a indicação equivocada em relação
à autoridade coatora configura ilegitimidade passiva ad causam, com a conseguinte extinção do feito, sem
apreciação do mérito, nos termos do art. 267, VI do CPC. 2. (...). 4. Comprovada a errônea indicação pelo
impetrante da autoridade coatora, quando da apresentação da exordial do writ, pertinente a extinção do feito, sem
julgamento do mérito, por haver restado configurada a ilegitimidade passiva ad causam. 5. Apelação improvida.
(TRF5 - AC 00075247020104058100 – 2ª Turma – Rel. Des. Federal Francisco Wildo - DJE de 31.03.2011, p. 208)
474
(...) TEORIA DA ENCAMPAÇÃO. INAPLICABILIDADE. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO
HIERÁRQUICA. ILEGITIMIDADE PASSIVA. AGRAVO DESPROVIDO. (...). III – Além da manifestação
acerca do mérito do mandamus por parte da autoridade apontada coatora, exige-se, para fins de aplicação da
“teoria da encampação”, vínculo hierárquico imediato entre aquela autoridade e a que deveria, efetivamente,
ter figurado no feito. (...). (STJ - AgRg no RMS 24.116/AM, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA,
julgado em 08/05/2008, DJe 02/06/2008)
475
Se a autoridade designada na inicial for de hierarquia funcional inferior à correta autoridade coatora, não é
permitida a aplicação da teoria da encampação, conforme entendimento do STJ:
(...). ERRÔNEA INDICAÇÃO DA AUTORIDADE COATORA. EMENDA À INICIAL. IMPOSSIBILIDADE.
EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO. Inviabilidade de “encampação” de
competência superior por autoridade hierarquicamente inferior. precedentes. recurso ordinário a que se nega
provimento. (STJ - RMS 31.795/MT, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, DJe
08/06/2010)
476
MANDADO DE SEGURANÇA (...). 5 - Nas informações que foram prestadas, a autoridade indicada como
coatora não defendeu a prática do ato impugnado, limitando-se a arguir sua ilegitimidade passiva, circunstância
que impede a aplicação da chamada “teoria da encampação”. 6. Ordem denegada (art. 6º, §5º, da Lei n.º
12.016/2009), sem julgamento de mérito (art. 267, VI, CPC), cassada a liminar deferida. (STJ - MS 11.801/
DF, Rel. Ministro HAROLDO RODRIGUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE), TERCEIRA
SEÇÃO, DJe 10/05/2010)
477
Se o magistrado acolher a preliminar, a autoridade incorreta será excluída da lide e o processo será extinto
sem resolução do mérito.
478
É a defesa do impetrado (autoridade coatora apontada na inicial).
479
Entendo, particularmente, respeitando entendimento contrário, que se a incorreta autoridade coatora arguir
sua ilegitimidade e, mesmo assim, adentrar no mérito, não seria caso de aplicação da encampação, posto que a
autoridade estaria, a princípio, ingressando no mérito apenas como precaução em caso de o magistrado não acolher
a preliminar. Se o magistrado acolhe a preliminar de ilegitimidade, não há porque analisar o mérito contido nas
informações. Todavia, não é este o entendimento do STJ, pois afirma que se houver pedidos de ilegitimidade e,
também, de denegação da segurança deverá ser aplicada esta teoria, conforme se depreende da seguinte decisão:
ADMINISTRATIVO. (...). 1. A Teoria da Encampação somente pode ser aplicada quando, a despeito da indicação
errônea da autoridade apontada como coatora, esta, ao prestar informações e sendo hierarquicamente superior,
não se limita a alegar sua ilegitimidade, mas também defende o mérito do ato impugnado, encampando-o e, por
via de consequência, tornando-se legitimada para figurar no polo passivo da ação mandamental. (...). (STJ - AgRg
no REsp 1178187/RO, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 28/06/2011, DJe 01/08/2011)
480
MANDADO DE SEGURANÇA. INDICAÇÃO EQUIVOCADA DA AUTORIDADE COATORA.
ALTERAÇÃO DO ÓRGÃO JULGADOR. TEORIA DA ENCAMPAÇÃO. INAPLICABILIDADE. I - Inaplicável
a Teoria da Encampação quando a retificação da autoridade coatora importa em alteração quanto ao órgão
julgador do mandado de segurança (RMS nº 31.915/MT, Rel. Min. ELIANA CALMON, DJe de 20/08/2010).
II - (...). (STJ - AgRg no REsp 1201293/DF, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 27/03/2012, DJe 13/04/2012)
481
De Plácido e Silva assim informa: A competência judiciária é aquela em que se funda, ou de que se gera
o poder de julgar, dando, assim, autoridade jurisdicional ao juiz ou ao tribunal para que possa conhecer o
processo, instruindo-o e o julgando.
Art. 46. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto,
ativa ou passivamente, quando:
I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide;
II - os direitos ou as obrigações derivarem do mesmo fundamento de fato ou de
direito;
III - entre as causas houver conexão pelo objeto ou pela causa de pedir;
IV - ocorrer afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de direito.
Parágrafo único. O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número
de litigantes, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a
defesa. O pedido de limitação interrompe o prazo para resposta, que recomeça da
intimação da decisão.
Art. 47. Há litisconsórcio necessário, quando, por disposição de lei ou pela natureza
da relação jurídica, o juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme para todas
as partes; caso em que a eficácia da sentença dependerá da citação de todos os
litisconsortes no processo.
Parágrafo único. O juiz ordenará ao autor que promova a citação de todos os
litisconsortes necessários, dentro do prazo que assinar, sob pena de declarar
extinto o processo.
Art. 48. Salvo disposição em contrário, os litisconsortes serão considerados, em
suas relações com a parte adversa, como litigantes distintos; os atos e as omissões
de um não prejudicarão nem beneficiarão os outros.
Art. 49. Cada litisconsorte tem o direito de promover o andamento do processo e
todos devem ser intimados dos respectivos atos.
484
PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. EXAME DE
ADMISSÃO AO ESTÁGIO DE ADAPTAÇÃO DE OFICIAIS TEMPORÁRIOS DA AERONÁUTICA.
DESCLASSIFICAÇÃO DO CANDIDATO APROVADO EM 8º LUGAR. PROMOÇÃO DA CITAÇÃO
DOS CANDIDATOS APROVADOS EM POSIÇÃO INFERIOR PARA COMPOR A LIDE NA CONDIÇÃO
DE LITISCONSORTES PASSIVOS NECESSÁRIOS. ART. 47 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA ACOLHIDA. APELAÇÃO A QUE SE DÁ PROVIMENTO.
I - Necessários o reconhecimento da nulidade da sentença proferida nos autos e a remessa dos autos à origem
para que candidatos classificados em posição inferior à da impetrante sejam incluídos na lide na condição de
litisconsortes passivos necessários, após a intimação da impetrante para a promoção das respectivas citações.
II - Nos termos do disposto no art. 47 do Código de Processo Civil, há litisconsórcio passivo necessário quando,
por disposição de lei ou pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme para
todas as partes; caso em que a eficácia da sentença dependerá da citação de todos os litisconsortes no processo.
III - Hipótese dos autos em que o não provimento do recurso de apelação e a consequente manutenção da sentença
concessiva da segurança modificarão a ordem de classificação dos candidatos aprovados no certame, de modo
que indispensáveis as respectivas citações. IV - Sentença anulada, mantidos, porém, os efeitos da decisão liminar.
Apelação a que se dá provimento. (TRF1 - AMS 200938000179470 – 6ª Turma – Rel. Des. Federal Jirair Aram
Meguerian - e-DJF1 de 30.04.2012, p 134)
Desta forma, tendo sido impetrado, por exemplo, mandado de segurança por
1 (um) militar que questionou a ilegalidade485 de determinado ato administrativo
castrense, outros prejudicados pelo mesmo ato poderão optar em ingressar na lide
na condição de litisconsorte ativo facultativo, observando-se as exigências legais.
O mandado de segurança é dirigido contra ato ilegal ou com abuso de
poder de autoridade pública, logo, a princípio, poder-se-ia vislumbrar sobre a
necessidade de que o respectivo ente público detentor de personalidade jurídica
fosse considerado litisconsorte passivo necessário, todavia, tal possibilidade já
havia sido descartada pela jurisprudência486 antes mesmo da publicação da Lei
12.016/09. Todavia, caberá ao impetrante informar na petição inicial qual a pessoa
jurídica vinculada à autoridade coatora, a fim de ser notificada por iniciativa do
magistrado, conforme disposições expressas no art. 6º487 e inciso II do art. 7º da
Lei 12.016/09.
Dependendo do objetivo do writ, será obrigatório o pedido488 do impetrante
para a citação de todos os litisconsortes489 ativos ou passivos necessários.
485
Pode-se citar, a título de exemplo, as reivindicações sobre remuneração, proventos e vantagens, onde será
possível o ingresso de outros militares na condição de litisconsorte ativo facultativo.
486
RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO. MILITARES.
VENCIMENTOS. CITAÇÃO DO ESTADO. LITISCONSORTE. DESNECESSIDADE. LEGITIMIDADE DA
ASSOCIAÇÃO IMPETRANTE. SÚMULA 266/STF. NÃO INCIDÊNCIA. DECISÃO “ULTRA PETITA”.
FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. Segundo inúmeros precedentes desta Corte, “No mandado de segurança,
a pessoa jurídica de direito público não é considerada litisconsorte passiva necessária da autoridade coatora,
pois esta age na qualidade de substituta processual daquela...” (RESP 94.243/PA, DJ 01.02.99, Rel. Min. Edson
Vidigal). A respectiva Associação tem legitimidade para impetrar ação mandamental com vistas à proteção de
direito líquido e certo de seus associados. Precedentes. Não se trata de impetração contra lei em tese, pretendendo,
a impetrante, a reposição salarial dos respectivos militares. Não houve o prequestionamento acerca da questão
arguida no especial sobre a decisão ser “ultra petita”. Recurso desprovido. (STJ - REsp 137.884/TO, Rel.
Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, QUINTA TURMA, DJ 24/04/2000, p. 66)
487
Art. 6º. A petição inicial, que deverá preencher os requisitos estabelecidos pela lei processual, será apresentada
em 2 (duas) vias com os documentos que instruírem a primeira reproduzidos na segunda e indicará, além da
autoridade coatora, a pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce atribuições.
488
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
LITISCONSORTE NECESSÁRIO. CITAÇÃO. DESÍDIA DOS IMPETRANTES. EXTINÇÃO DO
PROCESSO. 1. Reconhecida a existência de litisconsórcio necessário pela Corte de origem em decisão que
não fora objeto de impugnação, e não providenciado o ato citatório pelos impetrantes, é de rigor a extinção do
processo sem resolução do mérito com supedâneo no art. 47 do CPC. 2. (...). (STJ - AgRg no RMS 39.040/TO,
Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 11/12/2012, DJe 14/12/2012)
489
DIREITO ADMINISTRATIVO. (...). LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO.
SENTENÇA ANULADA. I - A atual beneficiária da pensão postulada pelo Recorrido deve compor a lide na
qualidade de litisconsorte passivo necessário, uma vez que o valor de sua pensão será reduzido, afetando em
seu poder aquisitivo. II - Configurada a hipótese prevista no art. 47 do CPC, e não tendo sido citados todos os
litisconsortes, impõe-se a anulação da sentença, sob pena de afronta ao princípio do contraditório e ampla defesa.
III - Recurso provido. (TRF1 - Processo 175708820064013 - 1ª Turma Recursal – Rel. Juiz Julier Sebastião da
Silva – DJMT de 06.11.2008)
Art. 47. Há litisconsórcio necessário, quando, por disposição de lei ou pela natureza
da relação jurídica, o juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme para todas
as partes; caso em que a eficácia da sentença dependerá da citação de todos os
litisconsortes no processo.
Parágrafo único. O juiz ordenará ao autor que promova a citação de todos os
litisconsortes necessários, dentro do prazo que assinar, sob pena de declarar
extinto o processo.
490
Extingue-se o processo de mandado de segurança se o impetrante não promove, no prazo assinado, a citação
do litisconsorte passivo necessário.
491
MACHADO, Antônio Cláudio da Costa. Código de processo civil interpretado: artigo por artigo, parágrafo
por parágrafo. 9ª ed. São Paulo: Manole, 2010. p. 117.
492
A competência em sede de mandado de segurança não é definida pela natureza do ato impugnado.
493
Competência absoluta.
494
Competência territorial.
495
A sede atual do Comando do Exército é em Brasília/DF, porém, apenas a título argumentativo, se por acaso fosse
modificada para Anápolis/GO, o mandado de segurança continuaria a ser da competência do STJ (Brasília/DF).
496
Assim dispõe o art. 2º da Lei 12.016/09:
Art. 2º. Considerar-se-á federal a autoridade coatora se as consequências de ordem patrimonial do ato contra
o qual se requer o mandado houverem de ser suportadas pela União ou entidade por ela controlada.
497
Competência territorial do Juízo Federal da sede funcional da autoridade coatora.
498
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. MANDADO DE SEGURANÇA. INQUÉRITO POLICIAL.
AUTORIDADE POLICIAL FEDERAL COATORA COM SEDE EM SALVADOR/BA. I - A competência
para processar e julgar mandado de segurança firma-se pela sede da autoridade coatora e sua categoria
funcional. Precedentes. II - Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 17ª Vara da
Seção Judiciária da Bahia, o Suscitado. (TRF1 - CC 200801000173858 – 2ª Seção – Rel. Des. Federal Cândido
Ribeiro - e-DJF1 de 17.11.2008, p. 10)
MANDADO DE SEGURANÇA. COMPETÊNCIA. CONCURSO PÚBLICO. POLICIAL RODOVIÁRIO
FEDERAL. 1. A competência absoluta, em mandado de segurança, é fixada em razão da sede e da categoria
funcional da autoridade apontada como coatora. Impetrado o mandado de segurança contra ato do Sr. Diretor-
Geral do Departamento de Polícia Rodoviária Federal, cuja sede é Brasília, a competência para processar e
julgar a ação é da Seção Judiciária do Distrito Federal. 2. Agravo desprovido. (TRF1 - AG 200201000306209
– 6ª Turma – Rel. Juiz Federal Hamilton de Sá Dantas (CONV.) - DJ de 15.08.2005, p. 75)
499
PROCESSUAL CIVIL - CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA EM MANDADO DE SEGURANÇA
- COMPETÊNCIA FIXADA PELA SEDE DA AUTORIDADE COATORA DE HIERARQUIA SUPERIOR.
1. A competência para processar e julgar o Mandado de Segurança define-se em razão da categoria funcional
da autoridade coatora e do local de sua sede. 2. Existindo mais de uma autoridade coatora, a competência
será fixada tendo como parâmetro a sede da autoridade com maior categoria funcional. 2. Conflito conhecido.
Declarada a competência do Juízo da 2ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Juiz de Fora/MG. 4. Peças
liberadas pelo Relator em 15/08/2001 para publicação do acórdão. (TRF1 - CC 199901000898589 – 2ª Seção
– Rel. Juiz Luciano Tolentino Amaral – DJ de 18.09.2001, p. 63)
500
MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. REFORMA. MILITAR. CÁLCULO DOS
PROVENTOS. PROCESSUAL CIVIL. COMANDANTE DA AERONÁUTICA. ILEGITIMIDADE PASSIVA
AD CAUSAM. TEORIA DA ENCAMPAÇÃO. NÃO INCIDÊNCIA. 1. Patente a ilegitimidade passiva do
Comandante da Aeronáutica pois o ato de reforma foi expedido pelo Vice-Diretor de Administração de Pessoal,
mediante delegação de competência. Incidência do comando inserido no artigo 14, § 3º, da Lei n.º 9.784/1999 e
do enunciado de n.º 510 da Súmula do Supremo Tribunal Federal. 2. Nos termos do enunciado nº 510 da Súmula
do Supremo Tribunal Federal, “praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra
ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial.” 3. A autoridade que praticou o ato não consta do rol
taxativo de que cuida o art. 105, inciso I, alínea ‘b’, da Constituição Federal, fugindo o exame da legalidade
de seus atos à competência originária desta Corte. Precedentes. 4. A mera defesa do ato não faz incidir, de per
si, a teoria da encampação. 5. Denegação da ordem (Art. 6º, §5º, da Lei n.º 12.016/2009), sem julgamento do
mérito (art. 267, VI, CPC). (STJ - MS 10884/DF, Rel. Ministro HAROLDO RODRIGUES (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/CE), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 23/09/2009, DJe 01/10/2009)
Logo, tem-se que quando um ato administrativo ilegal for praticado pelo
Comandante Geral da Polícia Militar do Estado de Goiás, será competente504 o
501
RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA.
AUTORIDADE COATORA NÃO ELENCADA NA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL COMO DE FORO
PRIVILEGIADO. RESOLUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE SUPLANTAR REGRA CONSTITUCIONAL.
INCOMPETÊNCIA. NULIDADE DA DECISÃO. O Comandante da Polícia Militar do Estado não está
elencado no discutido dispositivo constitucional estadual para fins de foro privilegiado, não podendo somente
uma Resolução interna assim determinar. Arts. 93 e 111 do CPC. Nulidade da decisão. Recurso provido. (STJ
- REsp 243.804/PA, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 03/10/2002,
DJ 04/11/2002, p. 225)
502
A letra b do inciso VI do art. 21 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Ceará assim dispõe:
Art. 21. Compete ao Tribunal Pleno:
(...)
VI - processar e julgar:
(...)
b) os mandados de segurança e os habeas data contra atos do Governador do Estado, da Mesa e da Presidência da
Assembléia Legislativa, do próprio Tribunal ou de algum de seus órgãos, dos Secretários de Estado, do Presidente
do Tribunal de Contas do Estado, do Presidente do Tribunal de Contas dos Municípios, do Procurador-Geral
da Justiça, do Procurador-Geral do Estado, do Chefe da Casa Militar, do Chefe do Gabinete do Governador,
do Comandante-Geral da Polícia Militar, do Comandante Geral do Corpo de Bombeiros Militar e de quaisquer
outras autoridades equiparadas, na forma da lei;
(...)
503
A competência da Justiça Estadual é residual em relação aos demais órgãos do Judiciário.
504
MANDADO DE SEGURANÇA. ATO DO COMANDANTE GERAL DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO
DE GOIÁS. COMPETÊNCIA ORIGINARIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (EC Nº 46/2010). POLICIAL
MILITAR. NÃO INCLUSÃO NO QUADRO DE ACESSO A PROMOÇÃO. VIOLAÇÃO A DIREITO LÍQUIDO
E CERTO. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. PROCESSOS CRIMINAIS
SUB JUDICE. PREVISÃO LEGAL. LEI Nº 15.704/06. OFENSA AO ART. 5º, LVII DA CONSTITUIÇÃO.
INEXISTÊNCIA. SEGURANÇA DENEGADA. 1. A Emenda Constitucional nº 46/2010 estabelece a
competência do Tribunal de Justiça para Julgamento de mandado de segurança contra ato do Comandante Geral
da Policia Militar. 2. In casu, inexiste violação ao princípio da presunção de inocência, insculpido no artigo
5º, inciso LVII, da Constituição Federal, relativamente ao fato da legislação ordinária não permitir a inclusão
de oficial militar no quadro de acesso à promoção, em razão de denúncia em processo criminal. SEGURANÇA
DENEGADA. (TJGO - MANDADO DE SEGURANÇA 314137-39.2010.8.09.0000 - 3ª CÂMARA CÍVEL - Rel.
Des. Stenka I. Neto - Dje de 12.07.2011)
A título de exemplo, pode-se citar o caso do candidato sub judice que concluiu
o curso de formação militar mediante antecipação de tutela e que não foi nomeado509
ao respectivo cargo, impetrando, então, mandado de segurança com pedido liminar
para o fim de ser nomeado. Tanto o pedido liminar quanto o meritório objetivaram
a nomeação no cargo militar, logo, trata-se de liminar mandamental satisfativa.
Retornando, agora, ao primeiro questionamento, entendo que o inciso III
possui natureza eminentemente cautelar510, podendo, entretanto, dependendo do
caso concreto511, ter natureza satisfativa512, conforme restou demonstrado, inclusive,
com os exemplos citados nos parágrafos anteriores.
O pedido liminar, em regra, deverá ser requerido na petição inicial do
mandado de segurança, haja vista, principalmente, a previsão contida no inciso
III do art. 7º da Lei 12.016/09, então vejamos:
509
A controvérsia jurisprudencial sobre a nomeação mediante tutela precária e temporária está discorrida no
Capítulo I do Título IV do meu livro Concursos Públicos Militares – Tutelas de Urgência – Teoria e Prática.
510
PROCESSO CIVIL - MEDIDA LIMINAR EM MANDADO DE SEGURANÇA - CONCESSÃO - LIVRE
CONVENCIMENTO DO JUIZ - INEXISTÊNCIA DE ILEGALIDADE OU ABUSO DE PODER. I – (...).
II - Ressalvado, portanto, situações muito peculiares, o deferimento ou o indeferimento de Medida Liminar em
Mandado de Segurança depende, sobretudo, do livre convencimento do magistrado, até porque o objeto último
da proteção cautelar, ínsita na medida liminar do mandamus é a denominada inteireza da sentença meritória que
será, em última análise, de sua exclusiva lavra, com a expressa consignação fundamentada de seu pensamento
jurídico a respeito do tema, e com a derivada e correspondente responsabilidade quanto à sua plena e futura
efetividade. III – (...). (TRF2 - AG 200902010037146 – 7ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal Reis Friede
- DJU de 26.06.2009)
511
Exemplo: evitar o perecimento do direito material.
512
ADMINISTRATIVO. TESTE DE ADMISSÃO. CURSO DE LÍNGUAS. ISENÇÃO DE TAXA DE
INSCRIÇÃO. LIMINAR SATISFATIVA CONFIRMADA NA SENTENÇA. PRETENSÃO SATISFEITA.
TEORIA DO FATO CONSUMADO. IRREVERSIBILIDADE. 1. No caso em apreço, em se tratando de liminar
satisfativa concedida em mandado de segurança, confirmada pela sentença, para autorizar a participação de
candidato em concurso público sem o prévio recolhimento de taxa de inscrição, é de se considerar o exaurimento
da matéria em sede de exame jurisdicional. 2. (...). (TRF5 - REO 00139639720104058100 – 2ª Turma - Rel.
Des. Federal Francisco Barros Dias - DJE de 07.07.2011, p. 691)
Quando o caput do art. 7º e a parte inicial do seu inciso III informam que
Ao despachar a inicial, o juiz ordenará que se suspenda o ato que deu motivo ao
pedido, está-se, na prática, falando em deferimento de liminar.
Ressalte-se que todos os parágrafos deste art. 7º se referem a liminar, logo,
conclui-se que o momento adequado para formular pedido liminar é na petição
inicial. Todavia, em casos especiais, não há qualquer empecilho legal a que o pedido
liminar513 seja realizado posteriormente à impetração, pois não se estará alterando
a fundamentação jurídica à causa de pedir e/ou o pedido meritório contidos na
petição inicial do mandado de segurança.
Não há previsão legal explícita permitindo a concessão de liminar de ofício pelo
magistrado em mandado de segurança, ou seja, sem prévio pedido do impetrante.
Ademais, numa leitura interpretativa do inciso III do art. 7º, em especial a segunda
parte sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o
objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica, pode-se presumir que
não é permitido o deferimento liminar de ofício com suporte neste inciso III. Isto
porque se assim se pensar, ocorreria de o magistrado deferir a liminar ex officio
e, se entender cabível, exigir que o impetrante, por exemplo, preste caução, sem
que este tenha dado motivo para tanto (sem pedido liminar).
José Herval Sampaio Júnior514 assim afirma sobre este tema:
Destarte, como não existe previsão expressa na Lei nº 12.016/09 – nem tampouco
sistematicamente – que autorize a concessão de liminares ex officio, não se afigura
viável – para não aberrar do sistema – que o magistrado arrede da providência
estritamente requerida pelo impetrante, pena de agir ultra petita.
513
O iminente perigo poderá surgir após a impetração da segurança, principalmente, quando houver demasia
demora nos procedimentos do mandado de segurança.
514
SAMPAIO JÚNIOR, José Herval. Tutelas de urgência: sistematização das liminares. São Paulo: Atlas,
2011. p. 167.
515
MANDADO DE SEGURANÇA (...). 1. A concessão de medida liminar no âmbito do writ of mandamus
pressupõe o atendimento dos requisitos constantes do artigo 7º, inciso III, da Lei n. 12.016/09, quais sejam, se
há relevância no fundamento invocado e se do ato impugnado pode resultar a ineficácia da medida, caso seja
deferida apenas ao final, o que implica, de todo o modo, sindicar acerca do fumus boni iuris e do periculum in
mora. (...). (STJ - AgRg no MS 16.075/DF, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado
Entendo que o periculum in mora neste inciso III não possui a mesma
intensidade do periculum in mora contido no inciso I do art. 273 do CPC, por
isso, particularmente, designo-o de periculum in mora iminente.
Chamo-o de iminente pelo fato de que se não for concedida a liminar520,
haverá, potencialmente, o perecimento do direito líquido e certo do impetrante.
Logo, faz-se urgente a concessão de medida judicial com o objetivo de prevenir
potencial prejuízo521 irreparável ou de difícil reparação ao direito do jurisdicionado,
que suportará caso tenha que aguardar os trâmites processuais normais.
9.11. Recursos cabíveis
9.11.1. Indeferimento da liminar
Caberá a interposição de agravo de instrumento522 contra a decisão que
indeferir o pedido liminar na segurança, conforme previsão contida no § 1º523 do
519
Apenas a título argumentativo, importa mencionar que uma das exigências para a concessão de antecipação
de tutela é a prova inequívoca, sendo necessária para que o magistrado se convença da verossimilhança das
alegações do autor da ação.
520
Se concedida pelo magistrado de primeiro grau, poderá ser cassada (suspensa a execução) por meio de pedido
de suspensão ao presidente do tribunal competente, conforme previsão disposta no art. 15 da Lei 12.016/09.
521
MANDADO DE SEGURANÇA (...). 4. Na Lei n. 12.016/2009 não há vedação ao deferimento de liminar
pelo fato de ser satisfativa. Há situações em que a tutela jurisdicional, ainda que liminar, esgota a pretensão.
5. Se há risco de perecimento do direito material e, consequentemente, de imprestabilidade da tutela judicial, a
liminar, mesmo que satisfativa, deve ser deferida, porquanto sua finalidade é evitar “a ineficácia da medida, caso
seja finalmente deferida”. (...). 16. Relevantes os fundamentos da impetração e evidente o risco de ineficácia do
provimento se deferido somente a final, é caso de deferimento de liminar. Reforma, pois, da decisão agravada,
com efeito ativo, para que se proceda à habilitação da impetrante/agravante. 17. (...). (TRF1 – AGMS 0071957-
47.2010.4.01.0000 – 5ª Turma - Rel. Des. Federal João Batista Moreira - e-DJF1 de 01.07.2011)
522
O estudo completo do agravo de instrumento está disposto no meu livro Concursos Públicos Militares –
Tutelas de Urgência – Teoria e Prática.
523
§ 1º. Da decisão do juiz de primeiro grau que conceder ou denegar a liminar caberá agravo de instrumento,
observado o disposto na Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.
Art. 10. A inicial será desde logo indeferida, por decisão motivada, quando não
for o caso de mandado de segurança ou lhe faltar algum dos requisitos legais ou
quando decorrido o prazo legal para a impetração.
§ 1º. Do indeferimento da inicial pelo juiz de primeiro grau caberá apelação
e, quando a competência para o julgamento do mandado de segurança couber
originariamente a um dos tribunais, do ato do relator caberá agravo para o órgão
competente do tribunal que integre.
§ 2º. O ingresso de litisconsorte ativo não será admitido após o despacho da
petição inicial.
524
Art. 16. Nos casos de competência originária dos tribunais, caberá ao relator a instrução do processo, sendo
assegurada a defesa oral na sessão do julgamento.
Parágrafo único. Da decisão do relator que conceder ou denegar a medida liminar caberá agravo ao órgão
competente do tribunal que integre.
525
Art. 25. Não cabem, no processo de mandado de segurança, a interposição de embargos infringentes e
a condenação ao pagamento dos honorários advocatícios, sem prejuízo da aplicação de sanções no caso de
litigância de má-fé.
526
Em sendo denegada a ordem após o deferimento de liminar, é possível restabelecer a liminar em sede recursal.
527
Ou seja, a sentença deverá, obrigatoriamente, ser reexaminada pela instância superior.
528
RECURSO EXTRAORDINÁRIO – MATÉRIA FÁTICA E LEGAL. O recurso extraordinário não é meio
próprio ao revolvimento da prova, também não servindo à interpretação de normas estritamente legais. (STF -
RE 640861 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 06/08/2013, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-164 DIVULG 21-08-2013 PUBLIC 22-08-2013)
529
O recurso ordinário possui natureza jurídica parecida com a apelação, não possuindo requisitos especiais
para sua admissibilidade, diferentemente ocorre com o recurso especial e extraordinário. A título de exemplos,
vejamos as normas pertinentes ao STF e STJ quanto ao recurso ordinário:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
(...)
II - julgar, em recurso ordinário:
a) o “habeas-corpus”, o mandado de segurança, o “habeas-data” e o mandado de injunção decididos em única
instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão;
(...)
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
II - julgar, em recurso ordinário:(...)
b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais
dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão;
(...)
530
(...). MANDADO DE SEGURANÇA ORIGINÁRIO DE TRIBUNAL DE SEGUNDO GRAU.
CONCESSÃO PARCIAL DA SEGURANÇA. RECURSO INTERPOSTO CONTRA A PARTE DENEGADA.
INCONFORMISMO QUE DEVE SER MANIFESTADO VIA RECURSO ORDINÁRIO. PRINCÍPIO DA
FUNGIBILIDADE. INAPLICABILIDADE. SÚMULA 272/STF (POR ANALOGIA). 1. O recurso especial
foi interposto em face de acórdão proferido em sede de mandado de segurança de competência originária
do Tribunal de Justiça. Nessa hipótese, o inconformismo, no que se refere à denegação da segurança, deve
ser manifestado por meio de recurso ordinário (e não recurso especial), não sendo aplicável o princípio da
fungibilidade. Aplica-se, por analogia, o disposto na Súmula 272/STF, in verbis: “Não se admite como ordinário
recurso extraordinário de decisão denegatória de mandado de segurança”. 2. Agravo regimental não provido.
(STJ - AgRg no AREsp 275.157/MS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 20/06/2013, DJe 28/06/2013)
PROCESSO CIVIL. RECURSOS. MANDADO DE SEGURANÇA. INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO
INICIAL. O acórdão que indefere petição inicial de mandado de segurança deve ser atacado por recurso
ordinário, e não por recurso especial. Agravo regimental desprovido. (STJ - AgRg no AREsp 93.780/RJ, Rel.
Ministro ARI PARGENDLER, PRIMEIRA TURMA, julgado em 06/11/2012, DJe 13/11/2012)
Significa, resumidamente, que a liminar ou a sentença continuará a surtir efeitos jurídicos, mesmo tendo sido
531
c) ao sigilo da correspondência;
d) à liberdade de consciência e de crença;
e) ao livre exercício do culto religioso;
f) à liberdade de associação;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;
h) ao direito de reunião;
i) à incolumidade física do indivíduo;
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.
Porém, há ainda outro ponto que pode ser decisivo para se utilizar, por
exemplo, ação ordinária ao invés de mandado de segurança: é que, como estudado
no tópico 9.9, a petição inicial deverá ser protocolada na localidade do órgão
judiciário detentor de competência para processar e julgar o writ. Caso, por
exemplo, um militar da Aeronáutica sirva em Manaus/AM e pretenda questionar,
mediante mandado de segurança, a negativa da Força Armada em proceder a
sua promoção, não será competente a Justiça Federal do Amazonas. Ocorrerá,
neste caso, que a impetração deverá ser protocolada na Justiça Federal do Rio de
Janeiro, haja vista que a autoridade coatora é o Diretor da DIRAP (Diretoria de
Administração de Pessoal) com exercício funcional no Rio de Janeiro/RJ.
9.12.2. Pressupostos rigorosos do mandado de segurança
No decorrer deste capítulo foi discorrido sobre o direito líquido e certo
e a prova pré-constituída, onde se verificou a rigorosidade dos pressupostos
autorizadores da admissibilidade do mandado de segurança. E, sobretudo, restou
esclarecido sobre a impossibilidade de dilação probatória durante a instrução
processual da segurança, salvo a previsão contida no § 1º do art. 6º da Lei 12.016/09.
Sem dúvidas, os trâmites formais do mandado de segurança são mais rápidos,
por exemplo, que os da ação ordinária (procedimento ordinário).
534
Um exemplo é o pedido de liminar para a matrícula em curso de formação quando o militar é preterido em
concurso interno.
535
O art. 397 do CPC assim dispõe:
Art. 397. É lícito às partes, em qualquer tempo, juntar aos autos documentos novos, quando destinados a fazer
prova de fatos ocorridos depois dos articulados, ou para contrapô-los aos que foram produzidos nos autos.
536
Isso significa a necessidade de mais uma ação judicial e, a princípio, mais gastos com o Poder Judiciário e
em honorários com o Advogado.
Capítulo 10
10. Introdução
O estudo sobre a reforma em decorrência da incapacidade definitiva do
militar é de suma importância, haja vista que, não raramente, a Força Armada e
Auxiliar protelam ao máximo a concessão da reforma, fazendo com que o militar
tenha que requerer a reforma pela via judicial.
Também, não raramente, observa-se no meio castrense evidentes casos de
militares que precisam ser reformados por incapacidade definitiva537, porém, talvez
por mágica, ocorre, por vezes, de o militar, doente e incapacitado, que está próximo
da reserva remunerada ou do licenciamento, receber parecer favorável (Apto) da
Junta Regular de Saúde e não ser reformado.
Assim, sentindo-se prejudicados e, frequentemente, humilhados, muitos
militares, ou melhor, alguns538 reivindicam a reforma perante o Poder Judiciário.
537
Na legislação militar não se usa o termo invalidez permanente, mas sim incapacidade definitiva.
538
Retifiquei, propositalmente, muitos para alguns, em virtude de que grande parte dos militares não tem
conhecimento da legislação pertinente à reforma militar, e principalmente dos casos previstos para reforma, por
isso este tema é muito importante.
Por isso, resolvi discorrer sobre o tema desde a 1ª edição deste livro, a fim
de fazer esclarecimentos importantes sobre a reforma539 militar por incapacidade
definitiva (invalidez540 permanente).
Nesta 2ª edição, assim como na 1ª edição, vou dissertar somente sobre a
reforma por incapacidade definitiva, todavia, quem desejar se aprofundar sobre o
instituto da reforma, sugiro a aquisição do meu livro Comentários ao Estatuto
dos Militares, pois nele consta o estudo interpretativo completo sobre a reforma
militar, que, inclusive, foi utilizado neste capítulo.
Os militares das Forças Auxiliares deverão aplicar os ensinamentos contidos
neste capítulo com adaptações às respectivas legislações. Dependendo da legislação
previdenciária estadual ou distrital, poderá haver grandes diferenças em relação
aos militares das Forças Armadas. A título de exemplo, o sistema previdenciário541
castrense de Pernambuco, ao contrário da Lei 6.880/80, prevê que o militar
539
Este capítulo foi embasado com suporte na legislação militar federal das Forças Armadas, todavia, quanto às
legislações estaduais da polícia e bombeiros militares, os interessados deverão verificar as respectivas legislações
para fazerem as devidas adaptações.
540
O Estatuto dos Militares das Forças Armadas quando menciona o termo inválido nas hipóteses de reforma
está se referindo à incapacidade total e permanente para qualquer trabalho, seja atividade militar ou extra-militar
(laboral civil).
541
AGRAVO. DECISÃO TERMINATIVA. ADMINISTRATIVO. POLICIAL MILITAR. PROMOÇÃO À
GRADUAÇÃO SUPERIOR. QUÍNTUPLA PROMOÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA Nº. 51 DO
STF. AUXÍLIO INVALIDEZ. FALTA DE DEMONSTRAÇÃO DE QUE NECESSITA DE CUIDADOS
PERMANENTES DE HOSPITALIZAÇÃO OU ENFERMAGEM. ADICIONAL DE INATIVIDADE.
EXTINÇÃO. AUSÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO A REGIME JURÍDICO. RECURSO DESPROVIDO.
1. (...). 2. O autor, que era Soldado da Polícia Militar em atividade, quando passou para a inatividade, foi
reformado na graduação de Cabo PM de forma correta, pois é esta a graduação imediatamente superior à de
Soldado. 3. Para a promoção, além da exigência do tempo de serviço e na graduação, exige-se a participação
em curso que habilite o militar para a patente superior, além de outros dispostos nos incisos III, IV e III
supratranscritos. Compulsando os autos, não há prova de que o militar tenha participado de qualquer curso e
nem que tenha preenchido quaisquer dos outros requisitos exigidos em lei para a promoção, trazendo ele, tão
somente, a alegação de que estava no posto há tempo suficiente para ter direito à patente superior. 4. Assim,
tendo o recorrente preenchido tão somente o requisito temporal, não possui direito à promoção em tela. Os
julgados deste Egrégio Tribunal de Justiça são no sentido de que o cômputo do tempo de serviço, por si só, não
é suficiente para a promoção dos militares ao posto superior. 5. A Súmula nº. 359 do Supremo Tribunal Federal
dispõe que: “ressalvada a revisão prevista em lei, os proventos da inatividade regulam-se pela lei vigente ao
tempo em que o militar, ou servidor civil, reuniu os requisitos necessários”. O autor foi posto na inatividade
em 2006, tendo a sua reforma baseada na Lei Complementar nº. 59/2004, o que não merece reforma, posto
que o Estado aplicou a legislação vigente, que prevê que, o militar, ao passar para a inatividade, terá os seus
proventos calculados com base na patente superior à que ocupava em atividade. 6. No presente caso, o que
pleiteia a apelante é a promoção à patente de 2º tenente, o que seria provocar uma “quíntupla” promoção, já
que a graduação imediatamente à sua é a de Cabo e não a de 2º tenente, como se depreende do artigo 14 do
Estatuto dos Policiais Militares de Pernambuco, o qual dispõe o escalonamento vertical da seguinte forma: Cabo
PM ? 3º Sargento PM ? 2º Sargento PM ? 1º Sargento PM ? Subtenente PM ? Segundo- tenente PM. 7. A Súmula
nº. 51 do Supremo Tribunal Federal tem o intuito de definir que as legislações estaduais somente podem prever
duas promoções na passagem para a inatividade. Ocorre que, a legislação estadual, como já dito anteriormente,
só prevê, através da EC 59/2004, que o militar, ao entrar para a reserva, só tem direito à promoção ao posto
imediatamente superior ao que ocupava na atividade. 8. (...). 14. Ante todo o exposto, o militar recorrente não
tem direito à promoção à patente de 2º tenente, nem à percepção do adicional de inatividade e nem ao auxílio
invalidez. 15. Recurso desprovido, devendo ser mantida a sentença de 1º grau. (TJPE – Agravo 0021900-
74.2012.8.17.0000 - 1ª Câmara de Direito Público – Relator Des. Erik de Sousa Dantas Simões – j. 27.11.2012)
É a Lei 6.880/80 que prevê, no âmbito das Forças Armadas, a reforma militar
por incapacidade definitiva ou reforma motivada pela agregação superior a 2 (dois)
anos quando julgado incapaz temporariamente, conforme previsões dispostas nos
seus incisos II e III do art. 106, assim descritos:
Art. 106. A reforma ex officio será aplicada ao militar que:
(...)
II - for julgado incapaz, definitivamente, para o serviço ativo das Forças Armadas;
III - estiver agregado por mais de 2 (dois) anos por ter sido julgado incapaz,
temporariamente, mediante homologação de Junta Superior de Saúde, ainda que
se trate de moléstia curável;
(...)
§ 1°. A agregação de militar nos casos dos itens I, II, III e IV é contada a partir do
primeiro dia após os respectivos prazos e enquanto durar o evento.
(...)
Art. 84. O militar agregado ficará adido, para efeito de alterações e remuneração,
à organização militar que lhe for designada, continuando a figurar no respectivo
registro, sem número, no lugar que até então ocupava.
Conclui-se, então, que na prática, não são 2 (dois) anos para reforma, mas
sim 3545 (três) anos (1 ano de tratamento contínuo para ser agregado, ou seja, neste
período, permanecerá na ativa e mais 2 anos de agregação para ser reformado,
isto é, permanecerá na inatividade temporária neste lapso temporal).
A título didático, vejamos a seguinte tabela, partindo da premissa de que a
Força Armada considerou o militar incapacitado temporariamente em 01.01.2000:
Ou seja, se o militar não for agregado, nos termos do inciso I do art. 82,
não sendo afastado do serviço ativo, não poderá, em tese, ser reformado com
base no inciso III do art. 106. Por isso é importantíssimo que os militares fiquem
atentos quando estiverem incapacitados temporariamente. Isto porque, caso seja
considerado incapaz temporariamente pela Junta de Saúde, depois de transcorridos
mais de 1 (um) ano contínuo de tratamento546, e a respectiva Força Armada não
efetuar a agregação do militar, este deverá fazer um requerimento, solicitando ser
agregado com base no inciso I do art. 82.
O que se pode fazer se a Administração Castrense não se pronunciar ou
indeferir o pedido de agregação? O militar, então, poderá ajuizar, por exemplo, um
mandado de segurança547, ação ordinária ou ação de obrigação de fazer548, a fim
de que a autoridade coatora ou a União, respectivamente, seja obrigada a cumprir
o inciso I do art. 82.
Entretanto, caso o militar seja agregado (inciso I do art. 82) e sua saúde seja
restabelecida antes de ultrapassados 2 (dois) anos de agregação, será revertido549,
nos termos do art. 86, retornando as suas atividades militares (reversão ao serviço
ativo):
546
Poderá ocorrer, por exemplo, de a Administração Castrense conceder dispensas médicas totais do serviço
de 30 (trinta) em 30 (trinta) dias por longos períodos. Se essas dispensas forem sucessivas e se somadas
ultrapassarem 1 (um) ano, o militar poderá ser agregado, nos termos do inciso I do art. 82, caso seja julgado
incapaz temporariamente pela Junta de Saúde. Desta forma, caso as dispensas médicas sejam consecutivas por
mais de 1 (um) ano, o militar poderá requerer inspeção de saúde para fins de agregação. Caso seu pedido de
inspeção não seja atendido, será possível o ajuizamento de ação judicial.
547
O estudo do mandado de segurança está dissertado no Capítulo 9.
548
A ação judicial com natureza obrigacional de fazer está prevista no art. 461 e seguintes do CPC.
549
ADMINISTRATIVO. MILITAR REFORMADO POR INCAPACIDADE PARA O SERVIÇO ATIVO
MILITAR (SAM), (...). 1 - Ação em que militar com estabilidade assegurada, e reformado ex-officio por
incapacidade para o serviço ativo militar (SAM), busca provar que não está incapaz e tenta reverter sua reforma
para retornar ao serviço ativo. 2 - Caso em que o militar sofreu acidente em serviço quando contava com cerca
de 10 anos de tempo de atividade militar, tendo sido instaurado Atestado de Origem, e desde a data do acidente
vem se submetendo a diversos tratamentos ambulatoriais e medicamentosos, além de diversas fisioterapias,
hidroterapia e tratamento com acupuntura ao longo dos anos. Durante esse período, esteve de licenças médicas
alternadas e, a partir de 28.09.2006 as licenças se repetiram continuamente, havendo apenas novos atestados
que renovaram os anteriores. 3 - Foi considerado agregado em 2007 e, em 14 de setembro de 2009, considerado
pela Junta Médica da Marinha, incapaz definitivamente para o serviço ativo militar, por sofrer de transtornos
de discos lombares e de outros discos intervertebrais com radiculopatia (CID10:M51.1). 4 - Ficou provado nos
autos, através de diversos relatórios e atestados médicos, - lavrados antes da reforma -, que ele obteve melhora
nos seus sintomas, estando apto para retornar às suas atividades laborais. 5 - Tendo havido o reconhecimento
médico de que houve melhora na condição patológica do apelante, com o mesmo podendo realizar atividade física
de corrida moderada, conclui-se que não existe incapacidade laboral para as atividades militares. 6 - Inexiste
amparo para o argumento de que o tempo em que ficou afastado por recomendação médica é suficiente para tornar
o militar agregado e o reformá-lo por incapacidade para as atividades militares, inclusive, quando há previsão
legal de reversão do militar agregado, após cessado o motivo que determinou a agregação. 7 - Conclusão pelo
não reconhecimento da incapacidade definitiva do autor para as atividades laborais na caserna e, sendo ele
militar com estabilidade e tendo mais de 20 anos de serviço militar, determina-se a anulação do ato de reforma
ex-officio (Portaria nº 194/CPesFN, de 26.02.2010), com sua consequente reintegração no serviço ativo, pagando-
se sua remuneração e acréscimos desde a data de sua reforma, (...). (TRF5 - AC 00026138520104058400 – 2ª
Turma - Rel. Des. Federal Francisco Wildo - DJE de 31.01.2013, p. 576)
Art. 86. Reversão é o ato pelo qual o militar agregado retorna ao respectivo Corpo,
Quadro, Arma ou Serviço tão logo cesse o motivo que determinou sua agregação,
voltando a ocupar o lugar que lhe competir na respectiva escala numérica, na
primeira vaga que ocorrer, observado o disposto no § 3° do artigo 100.
550
Foi alterado pela Lei 12.670/12 que incluiu a doença esclerose múltipla.
I - a concessão de:
(...)
c) reforma militar, na forma do disposto no art. 108, inciso V, da Lei nº 6.880, de
9 de dezembro de 1980;
(...)
§ 2º. Os militares julgados incapazes por um dos motivos constantes do item V deste
artigo somente poderão ser reformados após a homologação, por Junta Superior de
551
Estas doenças já estavam previstas na Lei 5.774/71 que foi revogada pela Lei 6.880/80.
552
No Exército, a Junta Superior de Saúde é denominada Junta de Inspeção de Saúde de Recurso (JISR), conforme
se verifica na leitura do tópico 15.1.2 do Volume I das Normas Técnicas sobre Perícias Médicas no Exército,
então vejamos:
15.1.2 – COMPETÊNCIA E APLICAÇÃO
15.1.2.1 – PELAS JISR
A homologação de ato pericial por JISR, quando determinada em lei, deverá ser procedida mediante revisão
dos pareceres registrados nas cópias de atas exaradas em primeira instância e pela análise da
documentação contida no processo. Os atos periciais passíveis de homologação obrigatória por AMP de
instância superior são os originados de inspeções de saúde para fim de:
a. concessão de reforma por doença capitulada em lei prevista no Inciso V, do Art. 108, da Lei 6.880, de 9 Dez
1980 (tuberculose ativa, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e
incapacitante, cardiopatia grave, mal de Parkinson, pênfigo, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave
e SIDA/AIDS);
b. concessão de reforma de acordo com o Inciso III, do Art. 106, da Lei 6.880, de 9 Dez 1980 (estiver agregado
por mais de 2 (dois) anos por ter sido julgado incapaz, temporariamente, mediante homologação de Junta
Superior de Saúde, ainda que se trate de moléstia curável);
c. melhoria de pensão militar conforme previsto no parágrafo único do Art. 2º do Decreto nº 79.917, de 08 de
julho de 1977;
d. LTSP superior a 120 (cento e vinte dias) para Servidores Civis; e
e. concessão ou revisão do auxílio invalidez.
Compete às Regiões Militares providenciar remeter às JISR, no prazo máximo de 08 (oito) dias, os atos periciais
passíveis de homologação por JISR.
Art. 436. O juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua convicção
com outros elementos ou fatos provados nos autos.
555
ADMINISTRATIVO. MILITAR. REFORMA. DOENÇA. RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO COM O
SERVIÇO. CABIMENTO. DANO MORAL. TREINAMENTO DE GUERRA. SOBREVIVÊNCIA NA SELVA.
SEVÍCIAS. NÃO COMPROVAÇÃO. INDENIZAÇÃO. DESCABIMENTO. I – A prova colhida em audiência
indica ter sido o autor submetido a práticas sui generis por seus superiores hierárquicos quando em treinamento
de sobrevivência na selva na AMAN, com submissão a “pau-de-arara”, “pau argentino”, mergulhos em rio à noite
no inverno, ingestão de líquidos e alimentos repulsivos, entre outras atividades, resultando razoável o raciocínio
empreendido pelo eminente magistrado a quo, de que a doença que acomete o autor possui relação de causa
e efeito com o serviço ativo militar. II – De fato, a perícia informa que a diabetes mellitus, embora decorrente
de predisposição genética, pode advir de fatores emocionais, eclodindo eventualmente a partir de momentos de
traumas ou de intenso sofrimento. Portanto, ainda que latente a doença no organismo do autor, pode-se conceber
que acabou vencendo-o no exato instante que tais práticas lhe foram dispensadas. III – Embora a experiência
comum indique que o diabetes, num primeiro momento, não traz invalidez ao doente, há conhecidos casos em
que a doença evolui de forma rápida, comprometendo a visão e a atividade renal e gerando hipertensão arterial
e alterações neurológicas, fulminando, com isso, em caráter definitivo a capacidade laborativa do portador do
mal. IV – Dispõe o CPC, em seu art. 436, que o juiz não está adstrito ao laudo pericial, podendo formar a sua
convicção com outros elementos ou fatos provados nos autos. Assim, válida se afigura a conclusão quanto à
incapacidade laborativa do autor para todo e qualquer serviço, lastreada em outros elementos de prova trazidos
aos autos, somados à constatação física realizada pelo julgador em audiência. V – Mostra-se de difícil precisão
a linha que divide o treinamento válido para sobrevivência na selva da prática puramente sádica ou cruel,
imposta com o exclusivo fim de humilhar o treinando. (...). (TRF2 – Apelação Cível nº 200102010398260 – 5ª
Turma Especializada – Rel. Des. Federal Mauro Luis Rocha Lopes - j. 06.08.08 - DJU de 10.11.2008, p. 108)
556
Este militar não estava legalmente agregado, por consequência, não estava, legalmente, na inatividade (mesmo
que temporária). Todavia, em decorrência do fato de que a Aeronáutica o afastou totalmente do trabalho após 1
ano de tratamento (não ia trabalhar), passou, na prática, a estar na inatividade de fato.
557
A Portaria Normativa Nº 1174/MD, de 06 de Setembro de 2006, do Ministério da Defesa, em seu tópico 11.1
esclarece que: A espondilite anquilosante, inadequadamente denominada de espondiloartrose anquilosante nos
textos legais, é uma doença inflamatória de etiologia desconhecida, que afeta principalmente as articulações
sacroilíacas, interapofisárias e costovertebrais, os discos intervertebrais e o tecido conjuntivo frouxo que circunda
os corpos vertebrais, entre estes e os ligamentos da coluna.
portanto, bastante clara: foi no exercício do serviço militar que a saúde começou a
apresentar problemas, que se acentuaram. A dúvida de ter sido a moléstia causada
ou não pelo serviço militar, ou de ter causa multifatorial e que, provavelmente,
tendo como origem sua predisposição constitucional, não podendo atribuir a doença
às tarefas desempenhadas pelo militar em questão, é matéria a ser examinada
na instrução, mercê de perícia médica, ante o quadro documental e testemunhal
já colhido. Enquanto isso, não pode o agravado ser simplesmente desligado do
serviço militar, enquanto, na via judicial, a sua pretensão, de obter a reforma, f.
42, se processa, principalmente levando em conta a eclosão do problema enquanto
estava em plena atividade. Daí o caráter acautelatório da medida. O r. decisório
atacado, neste sentido, não merece nenhum reparo. Por este entender, indefiro o
pedido de efeito suspensivo558. Intimar a parte agravada, na forma do inciso V do
art. 527 do CPC, para responder em 10 (dez) dias. P.I. Recife (PE), 18 de março
de 2009. Desembargador Federal Vladimir Souza Carvalho. Relator.
Art. 15. O emprego das Forças Armadas na defesa da Pátria e na garantia dos
poderes constitucionais, da lei e da ordem, e na participação em operações de paz,
é de responsabilidade do Presidente da República, que determinará ao Ministro de
Estado da Defesa a ativação de órgãos operacionais, observada a seguinte forma
de subordinação:
I - ao Comandante Supremo, por intermédio do Ministro de Estado da Defesa,
no caso de Comandos conjuntos, compostos por meios adjudicados pelas Forças
Armadas e, quando necessário, por outros órgãos; (Redação dada pela Lei
Complementar nº 136, de 2010).
II - diretamente ao Ministro de Estado da Defesa, para fim de adestramento, em
operações conjuntas, ou por ocasião da participação brasileira em operações de
paz; (Redação dada pela Lei Complementar nº 136, de 2010).
III - diretamente ao respectivo Comandante da Força, respeitada a direção superior
do Ministro de Estado da Defesa, no caso de emprego isolado de meios de uma
única Força.
560
DIREITO ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. MILITAR. ART. 535, II, DO CPC.
AFRONTA. INDICAÇÃO GENÉRICA. DEFICIÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF.
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULAS 282/STF E 211/STJ. EX-COMBATENTE FERIDO
EM COMBATE. REFORMA NA GRADUAÇÃO DE SEGUNDO-SARGENTO COM PROVENTOS DE
SEGUNDO-TENENTE. POSSIBILIDADE. LEIS 5.315/67 E 8.059/92. INAPLICABILIDADE. AÇÃO
AJUIZADA APÓS A EDIÇÃO DA MP 2.185/01. JUROS MORATÓRIOS. 6% AO ANO. RECURSO
ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO EM PARTE. 1. A indicação genérica de ofensa ao art. 535 do CPC,
sem particularizar qual foi a suposta omissão não sanada pelo Tribunal a quo, apesar da oposição de embargos
declaratórios, implica deficiência de fundamentação. Incidência da Súmula 284/STF. 2. A teor da pacífica e
numerosa jurisprudência, para a abertura da via especial, requer-se o prequestionamento, ainda que implícito,
da matéria infraconstitucional. Hipótese em que a Corte de origem não emitiu nenhum juízo de valor acerca do
art. 2º da LICC, restando ausente seu necessário prequestionamento. Súmulas 282/STF e 211/STJ. 3. O militar
considerado incapaz em consequência de ferimentos sofridos quando participou da Força Expedicionária
Brasileira – FEB faz jus à promoção ao posto imediato ao que tinha quando foi ferido, e à reforma com vencimentos
do posto de Segundo-Tenente, ou, se mais benéfico, do posto a que ele faz jus na inatividade. Inteligência do
Decreto-Lei 8.795/46 e da Lei 8.237/91. 4. No pagamento de parcelas atrasadas de caráter alimentar, desde que
ajuizada a demanda após a vigência da MP 2.180-35/01, incidem juros moratórios de 6% ao ano. 5. Recurso
especial conhecido e provido em parte. (STJ - REsp 870874/RS, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA,
QUINTA TURMA, julgado em 27/03/2008, DJe 02/06/2008)
Art. 1º. O militar que, em pleno serviço ativo, vier a falecer em consequência de
ferimentos recebidos em campanha ou na manutenção da ordem pública, ou em
virtude de acidente em serviço será considerado promovido ao posto ou graduação
imediata, na data do falecimento.
561
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 15ª ed. São Paulo: Forense, 1998. p. 307.
562
O militar que está fazendo, por exemplo, atividades de educação física no quartel durante o expediente e sofre
acidente, ficando incapaz definitivamente para o serviço militar, será reformado, pois aconteceu um acidente
em serviço.
563
Os arts. 3º e 4º da Portaria 1.270/GC3, de 03 de novembro de 2005 (RCA 34-1), do Comando da Aeronáutica
esclarecem o que é escala de serviço ou serviço de escala:
Art. 3º. Serviço de Escala é aquele, publicado em Boletim Interno (Bol Int) da OM, atribuído, periodicamente,
a determinado militar ou grupo de militares, bem como a servidor civil ou grupo de servidores civis,
independentemente das atribuições normais permanentes que lhes couberem.
§ 1º. Os serviços a que se refere o caput deste artigo têm duração de 24 horas e as equipes ficam baseadas na
OM ou em outras áreas determinadas pelo Comandante, Chefe ou Diretor.
§ 2º. Os serviços de natureza técnica, cujas especificidades, desgaste físico e emocional, possam provocar
perda de rendimento ou aumento na margem de erros dos componentes da equipe, e que apresentem necessidade
de implantação de escalas diferenciadas, obedecerão regras emanadas dos Órgãos Centrais dos Sistemas.
Art. 4º. As OM mantêm os Serviços de Escala de acordo com suas necessidades, possibilidades e peculiaridades,
obedecidas as prescrições constantes deste Regulamento.
564
Sugiro a leitura da Portaria 016-DGP, de 07 de março de 2001, do Comando do Exército, sobre as Normas
Regularas do Acidente em Serviço.
565
Atualmente aplica-se o art. 31 da Lei 6.880/80, assim descrito:
Art. 31. Os deveres militares emanam de um conjunto de vínculos racionais, bem como morais, que ligam o
militar à Pátria e ao seu serviço, e compreendem, essencialmente:
I - a dedicação e a fidelidade à Pátria, cuja honra, integridade e instituições devem ser defendidas mesmo com
o sacrifício da própria vida;
II - o culto aos Símbolos Nacionais;
III - a probidade e a lealdade em todas as circunstâncias;
IV - a disciplina e o respeito à hierarquia;
V - o rigoroso cumprimento das obrigações e das ordens; e
VI - a obrigação de tratar o subordinado dignamente e com urbanidade.
566
Se o autor sofreu acidente de serviço na caserna, faz ele jus à reintegração como agregado, independentemente
da sua capacidade laborativa, para receber tratamento médico adequado até sua total cura ou posterior reforma.
(TRF4 – Apelação Cível nº 50021897820104047108 – 3ª Turma – Rel. Des. Maria Lúcia Luz Leiria - j. 16.05.12
- D.E. de 17.05.2012)
567
CONSTITUCIONAL (...) 1. A simples indicação, pela parte autora, do perito do juízo para funcionar
como seu assistente não nulifica o laudo, especialmente porque o pedido não foi deferido e nem a parte ré
desincumbiu-se de infirmar as conclusões do expert. 2. Comprovado por laudos médicos, perícia oficial e por
prova testemunhal o nexo de causalidade entre a invalidez permanente para o serviço militar e o acidente de
serviço, o militar deve ser reformado e não licenciado do serviço ativo. 3. O militar incapacitado definitivamente
para o serviço militar, por acidente de serviço, art. 106, III, da Lei 6880/1980, deve ser reformado, fazendo jus
ao cálculo dos proventos com base na remuneração do posto ou graduação que ocupava na ativa. 4. Somente
nos casos de incapacidade permanente para qualquer tipo de atividade é que o militar acidentado em serviço
tem seus proventos calculados com base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato ao que possuir
ou que possuía na ativa. 5. O atestado de origem faz prova inconteste do fato danoso à saúde do militar, porém
sua inexistência pode ser suprida por qualquer modalidade de prova admitida em direito. 6. Apelação da União
e remessa oficial não providas. (TRF1 – Apelação Cível nº 200042000001173 – 1ª Turma – Rel. Des. Federal
Carlos Olavo - j. 05.10.09 - e-DJF1 de 02.03.2010, p. 20)
§ 2º. Não se aplica o disposto neste artigo quando o acidente for resultado de crime,
transgressão disciplinar, imprudência569 ou desídia do militar acidentado ou de
subordinado seu, com sua aquiescência. Os casos previstos neste parágrafo serão
comprovados em Inquérito Policial Militar570, instaurado nos termos do art. 9º do
568
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO: REFORMA DE MILITAR. ACIDENTE EM SERVIÇO.
ATESTADO DE ORIGEM. ARTIGOS 108 A 111 DA LEI 6.880/80. INVALIDEZ TOTAL E DEFINITIVA
NÃO CONFIGURADA. I - Não é qualquer acidente em serviço que faz gerar o direito à reforma do militar
ativo. Apesar de ter sido vitimado de acidente em serviço quando era militar da ativa, o licenciamento do autor
se deu por término do tempo de serviço militar, precedido de inspeção de saúde que o considerou apto para
ser licenciado. II - A reforma do militar na graduação de 3º Sargento, como pleiteado pelo autor, decorre de
previsão expressa da Lei 6.880/80, tendo como exigência de passagem para a reserva remunerada, ter sido o
militar considerado incapaz definitivamente para o serviço do exército, por homologação da Junta Superior de
Saúde (artigos 108 a 110 da Lei 6.880/80). III - O Atestado de Origem é tão somente documento administrativo
interno, utilizado para comprovação de acidentes ocorridos em consequência de ato de serviço, que pudessem
resultar em incapacidade física, temporária ou definitiva, dos militares do Exército, não se prestando, pois, a
propagar os efeitos de um acidente ocorrido há mais de vinte anos, como elemento hábil a reclamar a reforma
do autor, porquanto seu licenciamento se deu por término de cumprimento do serviço militar. IV - Apelação
improvida. Agravo retido não conhecido. (TRF3 – Apelação Cível nº 200403990160870 – 2ª Turma – Rel. Juíza
Federal Cecília Mello - j. 18.04.06 - DJU de 05.05.2006, p. 754)
569
ADMINISTRATIVO. MILITAR. PROMOÇÃO POST MORTEM. ACIDENTE EM SERVIÇO. LEI Nº
5.195/66, ART. 1º. DECRETO Nº 57.272/65, ART. 1º, “F”, § 2º. 1. O art. 1º da Lei nº 5.195/66 estabelece que
os militares que vierem a falecer em consequência de acidente em serviço serão considerado promovido ao
posto ou graduação imediata, na data do falecimento. 2. É considerado acidente em serviço aquele ocorrido no
deslocamento do militar entre a sua residência e o quartel, desde que não tenha sido provocado por imprudência
da vítima. (Decreto nº 57.272/65, art. 1º, alínea “f” e § 2º) 3. Tendo ocorrido o acidente por imperícia da vítima,
faz jus à promoção post mortem e os dependentes ao pensionamento previsto em lei. 4. Apelação e remessa oficial
não providas. (TRF1 – Apelação em Mandado de Segurança nº 199901000722877 – 2ª Turma Suplementar – Rel.
Juiz Federal convocado Miguel Ângelo de Alvarenga Lopes - j. 16.03.05 - DJ de 07.04.2005, p. 133)
570
ADMINISTRATIVO - MILITAR – PENSÃO - ACIDENTE EM SERVIÇO - DESCARACTERIZAÇÃO -
IMPRUDÊNCIA - PROMOÇÃO POST MORTEM – DESCABIMENTO. 1 - Conforme preceituado na legislação
castrense, o falecimento do militar, em decorrência de acidente em serviço, pode ensejar a sua promoção post
mortem, ao posto ou graduação imediata, mas desde que este acidente não for resultado de crime, transgressão
disciplinar, imprudência ou dessídia do militar acidentado ou de subordinado seu, com sua aquiescência. 2 -
Há que se indeferir pedido de promoção post mortem, se o acidente que vitimou o militar, como apurado na
conclusão do Inquérito Policial Militar, decorreu de sua própria imprudência, descaracterizando aquele como
sendo “em serviço”, para os efeitos previstos na legislação em vigor relativa às Forças Armadas. 3 - Recurso
improvido. Sentença mantida. (TRF2 – Apelação Cível nº 200351010105504 – 6ª Turma Especializada – Rel.
Des. Federal Frederico Gueiros - j. 20.07.09 - DJU de 31.07.2009, p. 98)
Decreto-lei nº 1.002, de 21 de outubro de 1969, ou, quando não for caso dele, em
sindicância571, para esse fim mandada instaurar, com observância das formalidades
daquele. (Redação dada pelo Decreto nº 90.900, de 525.1985)
571
ADMINISTRATIVO – MILITAR – REFORMA – ACIDENTE EM SERVIÇO – SINDICÂNCIA - ART. 106,
III, DA LEI N. 6.880/80. I – Da Sindicância constata-se que o fato se caracteriza como acidente em serviço, visto
que o referido militar se encontrava em atividade de instrução, não havendo indícios de imperícia, imprudência,
crime ou transgressão disciplinar. II – Do laudo pericial do Juízo e do relatório médico militar, elaborado
aproximadamente três anos após o acidente, conclui-se que o autor, depois do seu desligamento do serviço
militar, ainda apresenta um quadro clínico indefinido, com necessidade de continuação do tratamento médico,
com incapacidade temporária para as atividades militares e civis, devendo se sujeitar a novas cirurgias, em razão
do acidente sofrido durante a prestação do serviço militar, devendo ser reformado com base no art.106, III, da
Lei n. 6.880/80. III – Apelação provida para condenar a União a reformar o autor, na graduação de soldado,
com a respectiva remuneração, pagando os atrasados desde o seu desligamento, monetariamente corrigidos
e juros moratórios de 0,5% ao mês, estes a contar da citação, e ao pagamento de honorários advocatícios
correspondentes a 5% (cinco) sobre o valor da condenação. (TRF2 – Apelação Cível nº 200751100057619 – 8ª
Turma Especializada - j. 13.07.10 - e-DJF2R de 29.07.2010, p. 162)
572
ADMINISTRATIVO. (...). 4 - Nada obsta a postulação do direito invocado na inicial em sede de mandado
de segurança, considerando a inexistência de controvérsia quanto à ocorrência do acidente automobilístico e
ao resultado dos laudos elaborados pelos médicos da Administração, como consignado na sentença recorrida,
restando a ser dirimida tão-somente a matéria de direito. 5 - Restou comprovado nos autos que o impetrante,
engajado como soldado pelo Exército, se envolveu em acidente de trânsito do qual resultaram lesões, enquanto
realizava serviço militar, havendo relação de causa e efeito entre o acidente sofrido e as condições mórbidas
diagnosticadas posteriormente, tendo sido considerado incapaz para exercer a atividade militar, conquanto
apto para realização de atividades civis. Essa foi a conclusão da última inspeção de saúde, realizada em
27/08/2001 (fl. 155), que assim consignou: “DIAGNÓSTICO: SÍNDROME ORGÂNICA PÓS-TRAUMÁTICA,
F07.2 (CID 10, 1995). NÃO É ALIENAÇÃO MENTAL. PARECER: INCAPAZ DEFINITIVAMENTE PARA O
SERVIÇO DO EXÉRCITO. NÃO É INVÁLIDO. HÁ RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO ENTRE O ACIDENTE
SOFRIDO E AS CONDIÇÕES MÓRBIDAS ATUAIS. O ATESTADO DE ORIGEM NÃO PREENCHE AS
FORMALIDADES LEGAIS EXIGIDAS NAS IRDSO (IR 30-34)”. 6 - Segundo o posicionamento desta Corte, o
Estatuto dos Militares (Lei nº 6.880/80), ao se referir a acidente de serviço, não traz qualquer distinção entre
os casos em que o acidentado haja concorrido, de alguma forma, para a sua verificação, e assim sendo, não
poderia o Decreto nº 57.272/65 fazê-lo sem extrapolar os limites estabelecidos pelo legislador (v.g., EIAC nº
2001.01.00.015085-5/DF, TRF-1ª Região, 1ª Seção, Rel. Des. Federal Antônio Sávio de Oliveira Chaves, DJ de
09/10/2003, p. 3; AC nº 91.01.01618-0/DF, TRF-1ª Região, 2ª Turma, Rel. Des. Federal Carlos Moreira Alves,
DJ de 06/12/1999, p. 139). 7 - Saliente-se que no processo penal militar instaurado contra o impetrante pela
suposta prática de crime de dano culposo foi declarada extinta a punibilidade em relação ao fato imputado
ao mesmo, tendo em vista a ocorrência da prescrição da pretensão punitiva. 8 - “Nos termos da Lei 6.880/80,
reconhecida a incapacidade do recorrido para a vida militar, em razão de acidente de serviço, sua reforma se
dará no mesmo grau hierárquico que ocupava enquanto na ativa, independentemente de seu tempo de serviço,
sendo despiciendo, em tal situação, que a incapacidade seja para todo e qualquer trabalho” (REsp 692.246/RJ,
STJ, 5ª Turma, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, DJ de 28.05.2007, p. 390). 9 - (...). (TRF1 – Apelação em
Mandado de Segurança nº 200133000226509 – 1ª Turma – Rel. Juíza Federal convocada Sônia Diniz Viana - j.
23.01.08 - e-DJF1 de 04.03.2008, p. 106)
573
ADMINISTRATIVO. MILITAR. REFORMA. ACIDENTE EM SERVIÇO. CARACTERIZAÇÃO. ART.
108, INCISO III, DA LEI N.º 6.880/80. REGULAMENTAÇÃO PELO DECRETO N.º 57.272/65. CULPA DO
MILITAR. ACIDENTE EM SERVIÇO AFASTADO. 1. Não extrapola os limites fixados pela Lei n.º 6.880/80,
considerada norma de caráter geral, a definição de “acidente em serviço”, prevista no art. 1º, § 2º, do Decreto
n.º 57.272/65, por constituir norma específica. Precedente. 2. Sendo incontroverso nos autos que o militar agiu
com imprudência e negligência no manuseio da arma, descumprindo as normas de serviço e segurança, resta
descaracterizado o “acidente em serviço”, capaz de determinar a sua reforma com base nos arts. 108, inciso
III, c.c art. 109, ambos da Lei n.º 6.880/80. 3. Recurso especial conhecido e provido. (STJ - REsp 616356/RJ,
Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 22/05/2007, DJ 29/06/2007 p. 692)
574
ADMINISTRATIVO. MILITAR. ACIDENTE EM SERVIÇO. DESCARACTERIZAÇÃO, NO CASO.
CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA. LEI Nº 6.880/80, ARTIGOS 108, III E 111. INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. DESCABIMENTO. I – O autor sofreu “impotência funcional em grau moderado aos movimentos
do joelho direito” em acidente que resultou exclusivamente de sua imprudência e imperícia, ao assumir o risco
de conduzir uma motocicleta sem habilitação. Em casos como este o acidente resta descaracterizado como
“em serviço”, embora tenha ocorrido no trajeto de casa para o Hospital Central do Exército, onde o autor
prestava serviço como recepcionista. II – Não se classificando o acidente como “em serviço”, o autor somente
seria beneficiado pelo disposto no art. 111 da Lei 6.880/80 se tivesse estabilidade assegurada (inciso I) ou se
estivesse inválido (inciso II). Não tendo ocorrido a primeira hipótese, eis que a permanência dele no Exército não
chegou a 5 (cinco) anos, e não tendo sido comprovada a sua invalidez, eis que sequer demonstrou interesse em
comparecer à perícia médica, não tem direito de receber proventos, nem mesmo do posto que ocupava (soldado).
III – Ainda que o autor possuísse habilitação para conduzir motocicletas e o seu acidente, em consequência,
pudesse ser considerado como “em serviço”, a concessão de reforma, ainda que na mesma graduação, não lhe
estaria assegurada, pois não são todos os acidentes em serviço que ensejam a reforma, mas apenas aqueles
que invalidam o militar para os atos da vida civil (reforma na graduação superior) ou, no mínimo, que, embora
não o invalidem, reduzam significativamente a sua capacidade laborativa (reforma na mesma graduação).
IV - Inexistindo qualquer ilegalidade no ato de licenciamento do autor, não merece prosperar o seu pedido
de indenização por danos morais. V – Remessa necessária e apelação providas. Recurso adesivo improvido.
(TRF2 – Apelação Cível nº 200451010171566 – 5ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal Antônio Cruz Netto
j. 03.09.08 - DJU de 21.10.2008, p. 162)
575
Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou,
ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano: Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Art. 1º. O militar que, em pleno serviço ativo, vier a falecer em consequência de
ferimentos recebidos em campanha ou na manutenção da ordem pública, ou em
virtude de acidente em serviço será considerado promovido ao posto ou graduação
imediata, na data do falecimento.
576
ADMINISTRATIVO. MILITAR. REFORMA. ACIDENTE EM SERVIÇO. DESLOCAMENTO DO
QUARTEL PARA A RESIDÊNCIA. ATROPELAMENTO. SINDICÂNCIA. IMPRUDÊNCIA DO MILITAR. -
Acidente em serviço, para os efeitos previstos na legislação em vigor, com relação às Forças Armadas, é também
aquele que ocorre quando do deslocamento do militar da ativa de sua residência para o local de trabalho e
vice-versa, nos termos do art. 1º do Decreto 57.272/65. - No caso, o atropelamento ocorreu por volta de 18h
20 min, quando, ao término do expediente, o militar, uniformizado, deixava o quartel, dirigindo-se para sua
residência, enquadrando-se tal situação, a princípio, na mens legis que regula a proteção ao militar quando de
seu deslocamento em razão do serviço. - Segundo a reza do § 2º do retrocitado art. 1º do Decreto 57.272/65, “Não
se aplica o disposto neste artigo quando o acidente for resultado de crime, transgressão militar, imprudência
ou desídia do militar acidentado ou de subordinado seu, com sua aquiescência” - Em interrogatório, afirma
o sindicado que “antes de fazer a travessia da Avenida João XXIII, em direção ao ponto do ônibus, notou que
a condução que utilizava para dirigir-se a sua residência se aproximava, sendo assim olhou para a direita e
no momento em que ia olhar para a esquerda, já havia começado a atravessar a Avenida, momento no qual
chocou-se com a lateral direita do veículo em questão”. - Constatada a culpa exclusiva da vítima pelo ocorrido,
descaracterizado está o acidente em serviço, nos termos da legislação de regência. (TRF2 – Apelação Cível
nº 199951010086735 – 6ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal Fernando Marques, j. 01.06.05 - DJU de
18.07.2005, p. 165)
O inciso IV trata da doença profissional, haja vista sua aquisição com relação
de causa e efeito a condições inerentes ao serviço, logo, importante a seguinte
conceituação fornecida, também, por De Plácido e Silva:
577
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 15ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 287.
578
É termo utilizado no direito do trabalho, não sendo, tecnicamente, nomenclatura correta para o direito
administrativo estatutário militar.
579
ADMINISTRATIVO. MILITAR. REFORMA. PROVA, ART. 130 DO CPC. ADMISSIBILIDADE. 1 – O
pedido de anulação do ato de desincorporação e concessão de reforma, feito por militar, com fundamento em
incapacidade para os atos da vida civil, decorrente de doença mental, não pode prescindir da realização de
prova pericial. 2 – Autor interditado, representado por sua curadora e sob o pálio da assistência judiciária que
protestou, na inicial, pela realização da prova pericial, nela não insistindo quando ouvido para especificar as
provas. Situação de vulnerabilidade. Incidência do art. 130 do Código de Processo Civil, que confere ao Juízo
o poder de ordenar, de ofício, a realização desta prova, visto que lhe cabe determinar as provas necessárias à
instrução do processo. 3 – Insubsistência da sentença que não acolhe a procedência do pedido sob o fundamento
de insuficiência de prova. 4 – Recurso provido. (TRF2 – Apelação Cível nº 9602435097 – 2ª Turma – Rel. Des.
Federal Luiz Antônio Soares - j. 30.05.00 - DJU de 08.08.2000)
deverá ser reformado com base no inciso IV. Ressaltando-se que a comprovação
de que o militar está enquadrado no inciso IV deverá ser comprovada pelos
procedimentos previstos no § 1º do art. 108.
O inciso VI do art. 108 é o mais temido no meio castrense das Forças Armadas,
pois, dependendo do caso concreto, poderá resultar em redução de proventos do
militar reformado. É prudente estudar este inciso VI em 2 (duas) partes, a fim de
melhor compreensão: a) acidente fora do serviço, ou seja, sem relação de causa
e efeito com o serviço e b) doença, moléstia ou enfermidade, sem relação de
causa e efeito com o serviço.
O inciso III do art. 108 trata do acidente em serviço, onde há, inclusive, o
Decreto 57.272/65, fazendo a identificação dos acidentes considerados em serviço;
já o inciso VI do art. 108 se refere ao acidente ocorrido fora das hipóteses previstas
no citado Decreto, ou seja, acidente sem qualquer relação com o serviço militar.
Exemplificando: o militar que sofre um acidente de carro no trajeto de sua
residência para o quartel é em serviço, porém, se esse acidente ocorrer no percurso
da residência do militar até a faculdade será sem relação de causa e efeito com o
serviço, ou seja, fora580 do serviço.
A importância desta distinção está diretamente ligada ao art. 111 da Lei
6.880/80, pois o possível direito à reforma e os valores dos proventos dependerão
da espécie do acidente (em ou fora de serviço). É possível que o militar seja
considerado incapaz definitivamente em decorrência de um acidente fora do serviço
e não581 seja reformado.
580
ADMINISTRATIVO – (...). 1 - Nos termos do art.1º, “f” do Decreto n. 57.272/1965 é considerado acidente
em serviço aquele ocorrido no deslocamento entre a residência e a unidade militar e vice-versa, todavia, o
documento de fls. 55 atesta que o acidente sofrido pelo militar não ocorreu em serviço, pois, em que pese o
autor “ter partido do quartel por estar saindo de serviço, não se encontrava mais no trajeto de sua residência,
tendo ido ao banco e parado para assistir a uma partida de futebol antes de reiniciar o deslocamento no qual
aconteceu a colisão”, restando afastada a aplicação do art. 108, III, da Lei n. 6.880/80. 2 - As provas produzidas
nos autos não demonstram que do acidente automobilístico sofrido pelo autor resultaram sequelas que o
tornaram permanentemente incapaz para toda e qualquer atividade laborativa, sem poder prover os meios para
sua subsistência, o que lhe proporcionaria a reforma com base no art. 108, VI, c/c o art. 111, inciso II, ambos
da Lei 6.880/80, não lhe servindo o fato de ter sido considerado incapaz para o serviço militar, visto que não
é militar com estabilidade assegurada, na forma exigida pelo art. 111, inciso I, da Lei 6.880/80. 3 – Apelação
desprovida. (TRF2 – Apelação Cível nº 200651010083972 – 8ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal Marcelo
Pereira - j. 12.08.09 - DJU de 18.08.2009)
581
ADMINISTRATIVO. (...). 2. Trata-se, na hipótese, de militar temporário, incorporado nas fileiras do Exército
em 18/03/96 e licenciado em junho de 2005. 3. O autor não logrou comprovar a ocorrência de acidente em serviço.
Não cabe à Administração Pública se responsabilizar por qualquer acidente que o militar temporário venha a
sofrer fora do local de trabalho. 4. Tendo em vista não se tratar de acidente em serviço, para que a pretensão
almejada nos presentes autos seja satisfeita - passagem para a reforma remunerada, por lesão sem relação de
causa e efeito com o serviço - necessário que o autor, seja militar estável ou que tal lesão tenha acarretado
incapacidade definitiva para todo e qualquer trabalho - condições legais que não se adequam ao caso concreto
(art. 108, inc. VI c/c art. 110, ambos da Lei n. 6.880/80) - o que não é o caso. 5. Recurso do autor improvido.
Remessa necessária e recurso voluntário da União Federal providos. Reforma da sentença. Improcedência do
pedido. Inversão dos ônus sucumbenciais. (TRF2 – Apelação Cível nº 200551010243831 – 6ª Turma Especializada
– Rel. Des. Federal Guilherme Calmon Nogueira da Gama - j. 12.07.2010 - e-DJF2R de 05.08.2010, p. 72)
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais
e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
(...)
VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII, XII, XVII, XVIII, XIX
e XXV e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV; (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 18, de 1998)
(...)
O inciso XIII585 do art. 7º da CF/88, conforme se observa na leitura do inciso
VIII acima transcrito, não foi inserido nos direitos constitucionais do militar.
Os servidores públicos da União foram contemplados com o inciso XIII,
conforme se observa na leitura do § 3º586 do art. 39 da CF/88.
O caput do art. 19 da Lei 8.112/90 (Regime Jurídico dos Servidores Públicos)
assim dispõe sobre a carga horária mínima e máxima, então vejamos:
585
Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição
social:
(...)
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada
a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; (vide
Decreto-Lei nº 5.452, de 1943)
(...)
586
§ 3º. Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV,
XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando
a natureza do cargo o exigir.
587
Art. 73. O serviço extraordinário será remunerado com acréscimo de 50% (cinquenta por cento) em relação
à hora normal de trabalho.
588
Art. 74. Somente será permitido serviço extraordinário para atender a situações excepcionais e temporárias,
respeitado o limite máximo de 2 (duas) horas por jornada.
589
DIREITO ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. MILITAR. DOENÇA INCAPACITANTE.
ECLOSÃO DURANTE SERVIÇO MILITAR. RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO. INEXISTÊNCIA. 1. O
militar acometido de doença, moléstia ou enfermidade incapacitante, cuja eclosão se deu no período de prestação
do serviço, faz jus à reforma, independentemente da existência de relação de causa e efeito entre a doença e a
atividade desenvolvida, nos termos do art. 108, VI, c/c o art. 111, II, da Lei 6.880/1980. Precedentes do STJ. 2.
Agravo Regimental não provido. (STJ - AgRg no Ag 1415367/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 27/09/2011, DJe 03/10/2011)
DIREITO ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. MILITAR. MATÉRIA CONSTITUCIONAL.
EXAME. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA.
SÚMULAS 282/STF E 211/STJ. CORREÇÃO MONETÁRIA. FIXAÇÃO A PARTIR DO VENCIMENTO
DE CADA PARCELA. DOENÇA MENTAL INCAPACITANTE. ECLOSÃO DURANTE O SERVIÇO
MILITAR. RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO. INEXISTÊNCIA. REFORMA COM VENCIMENTOS
CALCULADOS NA GRADUAÇÃO OCUPADA NO SERVIÇO ATIVO. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-
PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO. SÚMULA
83/STJ. RECURSOS ESPECIAIS CONHECIDOS E IMPROVIDOS. (...) 3. O Superior Tribunal de Justiça
já se posicionou no sentido de que o militar acometido de doença, moléstia ou enfermidade incapacitante, cuja
eclosão se deu no período de prestação do serviço, faz jus à reforma, independentemente da existência de relação
de causa e efeito entre a doença e a atividade desenvolvida, nos termos do art. 108, VI, c/c o 111, II, da Lei
6.880/80. 4. Tendo a Turma Julgadora firmado a compreensão no sentido de que a doença mental que acomete
o autor seria pré-existente ao serviço militar, com o qual não guardaria nenhuma relação de causa e efeito, e,
ainda, que não haveria elementos suficientes para esclarecer a etiologia da moléstia oftalmológica do autor,
porquanto não se trataria de catarata ou descolamento de retina, rever tal entendimento demandaria o reexame
de matéria fático-probatória, o que atrai o óbice da Súmula 7/STJ. (...) (STJ - REsp 886.204/SC, Rel. Ministro
ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 29/11/2007, DJ 07/02/2008 p. 1)
590
ADMINISTRATIVO. MILITAR. DOENÇA MENTAL. LICENCIAMENTO. ANTECIPAÇÃO DA TUTELA.
REINTEGRAÇÃO AO EXÉRCITO BRASILEIRO. REINCLUSÃO NA FOLHA DE PAGAMENTO.
TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO. 1. “O Superior Tribunal de Justiça já se posicionou no sentido de que o
militar acometido de doença, moléstia ou enfermidade incapacitante, cuja eclosão se deu no período de prestação
do serviço, faz jus à reforma, independentemente da existência de relação de causa e efeito entre a doença e
a atividade desenvolvida, nos termos do art. 108, VI, c/c o art. 111, II, da Lei 6.880/80.” (REsp 886204/SC,
5ª Turma, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJ de 07/02/2008. 2. Agravo de instrumento desprovido. (TRF1 –
Agravo de Instrumento nº 200601000081324 – 2ª Turma – Rel. Juíza Federal convocada Solange Salgado da
Silva Ramos de Vasconcelos - j. 07.07.10 - e-DJF1 de 29.07.2010, p. 73)
591
ADMINISTRATIVO. MILITAR TEMPORÁRIO. ACIDENTE SEM RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO
COM O SERVIÇO MILITAR. INCAPACIDADE DEFINITIVA PARA A ATIVIDADE CASTRENSE. LESÃO
OFTAMOLÓGICA. PERÍCIA JUDICIAL. DIREITO À REFORMA. ARTIGOS 106, 108 E 109 DA LEI Nº
6.880/80. APLICAÇÃO DO ART. 20, PARÁGRAFO 4º DO CPC. JUROS DE MORA. I - O instituto da reforma
do militar está disciplinado na Lei 6.880/80, prevendo o art. 106, entre uma de suas hipóteses configuradoras,
o caso em que o militar for julgado incapaz, definitivamente, para o serviço ativo das Forças Armadas. II - É
firme o entendimento das Cortes Superiores que o militar considerado incapaz, definitivamente, para o serviço
ativo castrense, em decorrência de moléstia eclodida no período da prestação do serviço, faz jus à reforma
independentemente da existência de relação de causa e efeito entre a doença e a atividade desenvolvida. III -
Hipótese em que se reconhece o direito do autor, militar temporário, a ser reformado, em virtude de ter sofrido
acidente que o tornou incapaz definitivamente para o serviço militar, conforme atestam laudos médicos periciais.
IV - Se a incapacidade definitiva que acomete o autor não tem relação de causa e efeito com o serviço, a reforma
de ser calculada com base na remuneração da graduação que ocupava ao tempo do licenciamento, porquanto
se lhe aplica os termos do art. 111, inciso II, da Lei nº 6.880/80. V - As diferenças devidas devem ser corrigidas
monetariamente e acrescidas de juros de mora, nos termos do art. 1º-F da Lei 9.494/97 e, posteriormente, a
partir da data de sua vigência, nos termos da redação dada pela Lei nº 11.960/2009. VI - Apelação da parte
autora e da União improvidas. Remessa oficial tida por interposta parcialmente provida, apenas para esclarecer
que os juros de mora deverão incidir, a contar da citação, no percentual de 0,5% ao mês, nos termos da MP nº
2.180-35/01, até o advento da Lei nº 11.960/2009, quando passarão a incidir na forma prevista no art. 1º-F da
Lei nº 9.494/97 com a redação dada pela nova Lei. (TRF5 - Apelação Cível nº 473874/PE - 4 Turma - REl. Des.
FEDERAL EDÍLSON NOBRE - j. 28.02.12 - Dje de 01.03.2012)
ADMINISTRATIVO. MILITAR TEMPORÁRIO. GRAVES LESÕES NOS JOELHOS SURGIDAS AO
TEMPO EM QUE ESTEVE INCORPORADO. DIREITO À REINTEGRAÇÃO COMO ADIDO. ART. 430,
PARÁGRAFO 1º, DA SEÇÃO III, DO REGULAMENTO INTERNO E DOS SERVIÇOS GERAIS, DE
16/08/2002V. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CABIMENTO. 1 - A concessão de reforma ‘ex officio’
não implica em que a incapacidade resulte, necessariamente, de acidente ou doença com relação de causa, e
efeito com o serviço, sendo suficiente para caracterizar o nexo de causalidade que a doença tenha se manifestado
durante a prestação do serviço militar. (REsp 279343/RJ, 6ª Turma, Decisão: 25/11/2003, DJU: 02/02/2004,
pág. 371, Relator Min. Hamilton Carvalhido). 2 - Apelado portador de grave lesão no joelho, sofrida ao tempo
em que esteve incorporado ao Serviço Militar, encontrando-se temporariamente incapaz de exercer qualquer
atividade laboral, fazendo jus à reintegração ao serviço militar, na condição de “adido”, com o fim de que lhe
seja oferecida assistência médico-hospitalar, inclusive fisioterapia, para que haja uma recuperação pronta, e
definitiva. 3 - Anulação do ato que o licenciou de ofício, que se impõe, devendo o Exército promover o retorno
do Apelado ao serviço ativo, com o pagamento dos soldos atrasados desde o momento da desincorporação,
monetariamente corrigido, e adicionados dos juros de mora de 1% ao mês, eis que se está a cogitar de verba
de natureza eminentemente alimentar 4 - (...). 6 - Apelação e Remessa Necessária, providas em parte, apenas
para ajusta o valor da indenização por danos morais em R$ 3.000,00 (três mil Reais). (TRF5 – Apelação Cível
nº 200680000039660 – 3ª Turma – Rel. Des. Federal Geraldo Apoliano - j. 20.08.09 - DJ de 14.09.2009, p. 219)
592
ADMINISTRATIVO. MILITAR. REFORMA. DOENÇA DE EALES NO OLHO DIREITO. AUSÊNCIA
DE RELAÇÃO DE CAUSALIDADE ENTRE A DOENÇA E O SERVIÇO MILITAR. INVALIDEZ NÃO
COMPROVADA. LEI Nº 6.880/80. I - O autor, impugnando o seu ato de licenciamento, requereu sua reforma
por invalidez, sob a alegação de ter sofrido perda da visão do olho direito, por ter sido acometido de Doença
de Eales. II - A prova pericial concluiu que a doença adquirida pelo autor não tem relação de causalidade com
o serviço militar. III - A alegação de invalidez não pode ser acolhida, pois, tendo o autor uma perfeita visão no
olho esquerdo, muitas são as tarefas que pode realizar, até mesmo no serviço militar, e muito mais na vida civil,
sendo cediço que este tribunal, em diversos julgamentos, tem decidido por não considerar inválido até mesmo
o militar que ficou cego de um olho (AC nº 221781/RJ, Relatora: Juíza Federal Convocada Simone Schreiber).
IV - O fato de a doença aparecer durante o período em que o militar prestou serviço não implica na obrigação
da União em reformá-lo, pois, tratando-se de doença sem relação de causa e efeito com o serviço militar e não
compreendida entre as exceções previstas no inciso V, do art. 108, da Lei nº 6.880/80, somente caberia a reforma
se o militar ficasse impossibilitado para todo e qualquer trabalho, o que não ocorreu com o autor. V - Apelação
improvida. (TRF2 – Apelação Cível nº 200451010085224 – 5ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal Luiz
Paulo S. A. Filho - j. 08.09.10 - e-DJF2R de 17.09.2010, p. 302)
593
ADMINISTRATIVO – MILITAR - INDENIZAÇÃO. REINTEGRAÇÃO E REFORMA - ENFERMIDADE
ADQUIRIDA DURANTE A PRESTAÇÃO DE SERVIÇO MILITAR. CAUSALIDADE NÃO COMPROVADA.
INCAPACIDADE TOTAL E DEFINITIVA NÃO DEMONSTRADA. ARTIGO 110, CAPUT E § 1º DA LEI
N. 6.880/80. 1. Todo o corpo probatório demonstra que o autor sofreu e sofre apenas incapacidade laboral
relativa e temporária, passível de cura por tratamento médico oferecido pela corporação, decorrente de doença
degenerativa, sem relação com o serviço militar. 2. O laudo pericial apontou como diagnóstico a presença de
discopatia degenerativa e protrusão discal lombar, afastando o nexo causal com o serviço militar, e redução
parcial e temporária da capacidade laboral. Foram respondidos quesitos suplementares, esclarecendo-se que o
autor tem temporária limitação para atividades que “necessitem esforço físico constante, movimentos repetitivos,
deambulação e ortostatismo prolongado”, passíveis de tratamento, sendo portanto temporária. 3. Quando a
reforma se der pelo motivo descrito no art. 108, inciso VI, da Lei n.º 6.880/80, só há direito à remuneração
quando o militar tiver direito à estabilidade ou quando a incapacidade laboral for definitiva e absoluta, isto é,
para quaisquer atividades laborais, inclusive as civis. E, neste caso, a remuneração levará em conta o posto
que ocupava na ativa, e não o subsequente 4. O autor sequer foi reformado, mas licenciado quando do término
do período máximo de permanência, sendo portanto considerado apto inclusive para o serviço militar, a
despeito de afastamentos temporários por motivo de saúde. 5. Apelação improvida. (TRF3 – Apelação Cível nº
200161040012808 – 2ª Turma – Rel. Juiz Federal Henrique Herkenhoff - j. 04.03.08 - DJU de 14.03.2008, p. 385)
594
ADMINISTRATIVO. MILITAR. PEDIDO DE REFORMA. HIPERTIREOIDISMO. ENFERMIDADE
SEM RELAÇÃO DE CAUSA E EFEITO COM A ATIVIDADE MILITAR. INCAPACIDADE APENAS
PARA O SERVIÇO MILITAR, ESTANDO O APELANTE APTO PARA OS DEMAIS TRABALHOS. NÃO
PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS CONTIDOS NO ART. 111 DO ESTATUTO DOS MILITARES (LEI
Nº 6.880/80). PRECEDENTES DESTA CORTE. - Apelação conhecida e desprovida. (TRF4 - Apelação Cível
nº 200271120020120 – 3ª Turma – Rel. Des. Federal Carlos Eduardo Thompson Flores Lens - j. 15.12.05 - DJ
de 10.05.2006, p. 706)
595
ADMINISTRATIVO - PROCESSUAL CIVIL - MILITAR - PENSÃO ESPECIAL DE EX-COMBATENTE -
LEI 5.315/67 - ART. 53 DO ADCT DA CF/88 - IMPOSSIBILIDADE - AUSÊNCIA DE PROVA INEQUÍVOCA
DE PARTICIPAÇÃO EM MISSÃO DE PATRULHAMENTO E VIGILÂNCIA NO LITORAL BRASILEIRO
- AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR - INOCORRÊNCIA - DUPLICIDADE DE APELAÇÕES -
PRECLUSÃO CONSUMATIVA. 1. É desnecessário o esgotamento da via administrativa para postular a tutela
jurisdicional, sob pena de violação do art. 5º, LV, da Constituição Federal, garantidor do acesso à Justiça.
Precedentes 2. De acordo com a Súmula nº 213, do extinto Tribunal Federal de Recursos o exaurimento da via
administrativa não é condição para a propositura de ação de natureza previdenciária. 3. O sistema processual em
vigor veda que a mesma parte interponha uma mesma espécie de recurso duas vezes contra a mesma decisão, sob
pena de se configurar preclusão consumativa. 4. Conforme entendimento desta Turma Especializada, a simples
viagem de marítimos, como tripulantes, nas embarcações brasileiras em zonas de ataques submarinos, durante
o período da Segunda Guerra Mundial, não pode ser equiparada às missões de patrulhamento e vigilância, a
que se referem os julgados do Col. STJ, para fins de percepção do benefício especial previsto na Lei nº 5.315/67
e no artigo 53 do ADCT. 5. Descabe a concessão da pensão especial prevista no artigo 53 do ADCT, se não
restou demonstrada nos autos a efetiva participação do falecido marido da Autora em operações de guerra, e
tendo em vista a própria certidão expedida pela Diretoria de Portos e Costas, afirmando que o de cujus é ex-
combatente conforme definido pelo Art. 2º da Lei 5698, de 31/08/71, e apenas para os efeitos exclusivos desta
Lei, (...)–, ou seja, para fins exclusivamente previdenciários. 6. Apelação cível de fls. 151/168 não conhecida.
Recurso da União Federal de fls. 169/177 e remessa necessária parcialmente providas. Reforma da sentença.
Improcedência do pedido. Revogada a antecipação dos efeitos da tutela deferida. Condenação da Autora em
honorários advocatícios na base de 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa, com a ressalva do artigo 12
da Lei nº 1.060/50, em face da gratuidade de justiça deferida. (TRF2 - APELRE 200651100067414 – 6ª Turma
Especializada – Rel. Des. Federal Frederico Gueiros - E-DJF2R de 21.12.2011, p.54)
596
SÚMULA nº 44: Para a propositura de ações de natureza previdenciária é desnecessário o exaurimento
das vias administrativas.
597
SÚMULA nº 9: Em matéria previdenciária, torna-se desnecessário o prévio exaurimento da via administrativa,
como condição de ajuizamento da ação.
598
Art. 109. O militar da ativa julgado incapaz definitivamente por um dos motivos constantes dos itens I, II, III,
IV e V do artigo anterior será reformado com qualquer tempo de serviço.
599
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. SERVIDOR PÚBLICO MILITAR. CEGUEIRA MONOCULAR. FATO OCORRIDO DURANTE
O SERVIÇO MILITAR. REFORMA. POSSIBILIDADE. PRECEDENTE. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Nos
termos do art. 108, V, c.c. 109 da Lei 6.880/80, o militar acometido de cegueira, ainda que monocular, durante
o serviço castrense fará jus à reforma, independentemente de ele integrar o quadro de carreira ou temporário,
da existência de nexo de causalidade ou, ainda, do tempo de serviço até então prestado. Precedente: AgRg no
REsp 1.245.319/RJ, de minha relatoria, Primeira Turma, DJe 10/5/12. 2. Hipótese em que o Tribunal de origem
reconheceu que o autor, ora recorrido, foi acometido de cegueira do olho direito durante a prestação do serviço
castrense, encontrando-se definitivamente inválido para o serviço militar. 3. Agravo regimental não provido.
(STJ - AgRg no AREsp 195.551/RN, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 28/05/2013, DJe 04/06/2013)
10.2.3. Reforma com base nos incisos III, IV e V do art. 108 quando
impossibilitado total e permanentemente para qualquer trabalho
(invalidez)
Quando o militar for reformado com base nos incisos III ao V do art. 108
e for considerado inválido, perceberá proventos calculados com base no soldo
correspondente a grau hierárquico imediato.
O art. 94 do Decreto 4.307/02 (Regulamento da Medida Provisória 2.215-
10/01) prevê que a reforma do militar inválido com suporte nos incisos III a V do
art. 108 resultará nos seguintes proventos aos militares:
Art. 94. O militar considerado inválido, nos casos previstos nos incisos III a V do
art. 108 da Lei no 6.880, de 1980, será reformado com proventos calculados com
base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato ao que faria jus na
inatividade, até o limite estabelecido no parágrafo único do art. 152 da mesma Lei.
Este dispositivo, quando menciona inválido, está se referindo à incapacidade
total e permanente do militar para qualquer trabalho. Esta norma se relaciona à
previsão contida no § 1º do art. 110, então vejamos:
Art. 110. O militar da ativa ou da reserva remunerada, julgado incapaz
definitivamente por um dos motivos constantes dos incisos I e II do art. 108, será
Art. 111. O militar da ativa julgado incapaz definitivamente por um dos motivos
constantes do item VI do artigo 108 será reformado:
I - com remuneração proporcional ao tempo de serviço, se oficial ou praça com
estabilidade assegurada; e
II - com remuneração calculada com base no soldo integral do posto ou graduação,
desde que, com qualquer tempo de serviço, seja considerado inválido, isto é,
impossibilitado total e permanentemente para qualquer trabalho.
602
Quando o Juiz Federal (nas ações relacionadas às Forças Armadas) nomeia um perito oficial para verificar a
capacidade laborativa de um militar que reivindica a reforma, abre-se prazo para o autor-militar e o réu (União)
oferecerem quesitos (perguntas) a serem respondidas pelo mesmo, a fim de que, ao final, o magistrado decida a lide.
605
ADMINISTRATIVO (...). 1. O acórdão hostilizado solucionou a quaestio juris de maneira clara e coerente,
apresentando todas as razões que firmaram o seu convencimento. 2. Esta Corte Superior de Justiça possui
entendimento uniforme no sentido de que a estabilidade decenal, de que trata o art. 50, inciso IV, alínea a, da Lei
n.º 6.880/80, é dirigida apenas aos praças e, portanto, não aplicável aos oficiais militares. 3. Recurso especial
conhecido e parcialmente provido. (STJ - REsp 780.489/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA,
julgado em 16/04/2009, DJe 18/05/2009)
606
ADMINISTRATIVO. MILITAR. OFICIAL TEMPORÁRIO DO EXÉRCITO. ACIDENTE EM SERVIÇO
COMPROVADO. INCAPACIDADE TEMPORÁRIA PARA ATIVIDADES CASTRENSES. REFORMA.
IMPOSSIBILIDADE. NÃO É INCAPAZ DEFINITIVAMENTE. RESERVISTA. 1. (...). 3. O Estatuto dos
militares dispõe que a passagem do militar à situação de inatividade mediante reforma ex officio é aplicada,
dentre outras hipóteses, àquele que, em tempo de paz, for julgado incapaz definitivamente para o serviço ativo
das Forças Armadas (art. 106, inc. II), em decorrência de acidente em serviço ou de enfermidade adquirida
em tempo de paz, com relação de causa e efeito a condições inerentes ao serviço (art. 108, incisos III e IV). 4.
Não comprovada, portanto, a incapacidade definitiva para o serviço militar em decorrência de doença com
relação de causa e efeito com as condições inerentes ao serviço (art. 108, inc. IV, da Lei nº 6.880/80), não há
ilegalidade no ato que licenciou o Apelante do serviço ativo - cuja permanência no serviço ativo está adstrito ao
poder discricionário da Administração Pública. (...). (TRF2 – Apelação Cível nº 199651010785405 – 6ª Turma
Especializada – Rel. Des. Federal Guilherme Calmon Nogueira - j. 25.05.09 - DJU de 03.06.2009, p. 222)
607
§ 2º. Os militares de carreira são os da ativa que, no desempenho voluntário e permanente do serviço militar,
tenham vitaliciedade assegurada ou presumida.
608
Também se aplica aos Oficiais temporários o previsto no art. 109 da Lei 6.880/80:
Art. 109. O militar da ativa julgado incapaz definitivamente por um dos motivos constantes dos itens I, II, III,
IV e V do artigo anterior será reformado com qualquer tempo de serviço.
10.3. Auxílio-invalidez
Desde já, esclareça-se que o fato de o militar ser reformado, por si só, não
induz no recebimento do auxílio-invalidez, conforme será verificado ao analisarmos
a Lei 11.421/06.
A Medida Provisória (MP) 2.215-10/2001, que revogou a anterior Lei612 da
Remuneração dos Militares (LRM), prevê em seu art. 3º, inciso XV, o auxílio-
invalidez:
612
Lei 8.237/91.
Essas 7,5 (sete vírgula cinco) cotas equivalem a 25% (vinte e cinco por
cento) do soldo, porém, em sendo menor que R$ 1.520,00 (mil e quinhentos e
vinte reais), este será o valor pago.
613
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. POLICIAL MILITAR REFORMADO. AUXÍLIO-INVALIDEZ. PRESTAÇÃO DE TRATO
SUCESSIVO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 85/STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. É assente
a orientação jurisprudencial de que o benefício de auxílio-invalidez caracteriza-se como prestação de trato
sucessivo, uma vez que o seu não pagamento renova-se mês a mês, o que atrai a incidência da Súmula 85 do STJ.
Precedentes. 2. Agravo Regimental do ESTADO DO CEARÁ desprovido. (STJ - AgRg no AREsp 183.492/CE,
Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/04/2013, DJe 22/04/2013)
614
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. MILITAR REFORMADO.
SUSPENSÃO TEMPORÁRIA AUXÍLIO-INVALIDEZ. PEDIDO DE RESTABELECIMENTO.
ILEGITIMIDADE PASSIVA DO MINISTRO DA DEFESA. 1. A ação mandamental exige a demonstração, de
plano, da existência do ato ilegal ou abusivo atribuído à autoridade impetrada. Na espécie, contudo, a petição
inicial não atribui tal prática ao Ministro da Defesa nem a qualquer outra autoridade mencionada no art. 105,
inc. I, “b”, da Constituição Federal. 2. A impetração, na verdade, volta-se contra a suspensão temporária do
auxílio-invalidez de militar, levado a efeito pelo órgão responsável pelo pagamento de pessoal do Exército, em
decorrência do laudo emitido pela Junta de Inspeção de Saúde da Guarnição de São Paulo, que, nos termos do
disposto no art. 1º da Lei n. 11.421/2006, concluiu “que o inativo não mais necessita de cuidados permanentes
de enfermagem ou hospitalização”. 3. Segurança denegada, sem resolução de mérito, em razão da ilegitimidade
passiva da autoridade apontada como coatora (arts. 6º, § 5º, da Lei n. 12.016/2009, e 267, inc. VI, do Código
de Processo Civil). (STJ - MS 12.931/DF, Rel. Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
22/05/2013, DJe 31/05/2013)
615
ADMINISTRATIVO. MILITAR REFORMADO. AUXÍLIO-INVALIDEZ. LEI. 11.421/06. SUSPENSÃO
DO BENEFÍCIO. CABIMENTO. AUSENTES AS CONDIÇÕES PARA A PERCEPÇÃO DA VANTAGEM.
DIREITO ADQUIRIDO. INEXISTÊNCIA. JUROS DE MORA. PRECEDENTES. 1. Tem direito à percepção
do auxílio-invalidez apenas o militar reformado que necessite da assistência permanente para execução de
suas atividades cotidianas básicas, o que não foi comprovado no presente caso. 2. É firme o entendimento deste
Tribunal de que não há Direito Adquirido a regime jurídico. Inexistência de violação a direito adquirido e à
garantia constitucional da irredutibilidade de vencimentos. (Precedente: AC404068/RN, DESEMBARGADOR
FEDERAL LUIZ ALBERTO GURGEL DE FARIA, Segunda Turma, JULGAMENTO: 01/07/2008, PUBLICAÇÃO:
DJ 08/08/2008). 3. Apelação do particular não provida. (TRF5 - AC 200982000073170 – 3ª Turma – Rel. Des.
Federal Marcelo Navarro – DJE de 22.11.2012, p. 429)
621
A Lei, em seu cabeçalho, fala em antecipação de tutela, todavia, a abrangência é maior, pois tal restrição contida
nesta Lei se refere qualquer medida judicial de natureza cautelar ou liminar que for concedida até o momento do
trânsito em julgado de uma sentença definitiva.
622
AÇÃO DIRETA DE CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 1º DA LEI N 9.494, DE 10.09.1997, QUE
DISCIPLINA A APLICAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. MEDIDA
CAUTELAR: CABIMENTO E ESPÉCIE, NA A.D.C. REQUISITOS PARA SUA CONCESSÃO. 1. Dispõe o art.
1º da Lei nº 9.494, de 10.09.1997: “Art. 1º. Aplica-se à tutela antecipada prevista nos arts. 273 e 461 do Código
de Processo Civil, o disposto nos arts 5º e seu parágrafo único e art. 7º da Lei nº 4.348, de 26 de junho de 1964,
no art. 1º e seu § 4º da Lei nº 5.021, de 09 de junho de 1966, e nos arts. 1º, 3º e 4º da Lei nº 8.437, de 30 de junho
de 1992.” 2. Algumas instâncias ordinárias da Justiça Federal têm deferido tutela antecipada contra a Fazenda
Pública, argumentando com a inconstitucionalidade de tal norma. Outras instâncias igualmente ordinárias e
até uma Superior - o S.T.J. - a têm indeferido, reputando constitucional o dispositivo em questão. 3. Diante
desse quadro, é admissível Ação Direta de Constitucionalidade, de que trata a 2ª parte do inciso I do art. 102
da C.F., para que o Supremo Tribunal Federal dirima a controvérsia sobre a questão prejudicial constitucional.
Precedente: A.D.C. n 1. Art. 265, IV, do Código de Processo Civil. 4. As decisões definitivas de mérito, proferidas
pelo Supremo Tribunal Federal, nas Ações Declaratórias de Constitucionalidade de lei ou ato normativo federal,
produzem eficácia contra todos e até efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário
e ao Poder Executivo, nos termos do art. 102, § 2º, da C.F. 5. Em Ação dessa natureza, pode a Corte conceder
medida cautelar que assegure, temporariamente, tal força e eficácia à futura decisão de mérito. E assim é, mesmo
sem expressa previsão constitucional de medida cautelar na A.D.C., pois o poder de acautelar é imanente ao
de julgar. Precedente do S.T.F.: RTJ-76/342. 6. Há plausibilidade jurídica na arguição de constitucionalidade,
constante da inicial (“fumus boni iuris”). Precedente: ADIMC - 1.576-1. 7. Está igualmente atendido o requisito
do “periculum in mora”, em face da alta conveniência da Administração Pública, pressionada por liminares que,
apesar do disposto na norma impugnada, determinam a incorporação imediata de acréscimos de vencimentos, na
folha de pagamento de grande número de servidores e até o pagamento imediato de diferenças atrasadas. E tudo
sem o precatório exigido pelo art. 100 da Constituição Federal, e, ainda, sob as ameaças noticiadas na inicial e
demonstradas com os documentos que a instruíram. 8. Medida cautelar deferida, em parte, por maioria de votos,
para se suspender, “ex nunc”, e com efeito vinculante, até o julgamento final da ação, a concessão de tutela
antecipada contra a Fazenda Pública, que tenha por pressuposto a constitucionalidade ou inconstitucionalidade
do art. 1º da Lei nº 9.494, de 10.09.97, sustando-se, igualmente “ex nunc”, os efeitos futuros das decisões já
proferidas, nesse sentido. (STF - ADC 4 MC, Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em
11/02/1998, DJ 21-05-1999 PP-00002 EMENT VOL-01951-01 PP-00001)
623
Não foi publicado o acórdão e nem a ementa até a data do fechamento deste livro.
624
Há decisões judiciais aceitando a reintegração mediante ação cautelar. Todavia, não discorrei sobre a utilização
desta ação, mas tão-somente afirmarei que, dependendo do caso concreto, é possível ajuizar uma cautelar para
reintegração, onde o objetivo é obter a reintegração mais facilmente, haja vista que a cautelar possui pressupostos
de concessão mais simples do que seria numa ação ordinária com pedido de antecipação de tutela. O que não é
permitido é a cautelar satisfativa de reintegração.
630
O COMANDANTE DO PESSOAL DE FUZILEIROS NAVAIS, no uso da subdelegação de competência
que lhe confere o contido na alínea i do inciso IX e incisos XVII do art. 3º, da Portaria nº 73 de 29 de julho de
2010, do Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, resolve:
Nº - 276 - Art. 1º Alterar a fundamentação legal da reforma do 1ºSG-Refº-FN-MU 85.9560.07 (nome excluído
intencionalmente), reformado pela Portaria nº 588, de 17 de maio de 2007, deste Comando, publicada no Diário
Oficial da União nº 99, datado de 24 de maio de 2007. A referida reforma passa a ser nos termos do inciso II
do art. 104, inciso II do art. 106, inciso IV do art. 108 e art. 109 da Lei nº 6.880 de 09 de dezembro de 1980,
combinado com os incisos I, II, III, IV, e inciso I do § 1º do art. 10 e art. 30, da Medida Provisória nº 2.215-10,
de 31 de agosto de 2001, regulamentada pelo Decreto nº 4.307, de 18 de julho de 2002, em conformidade com o
Termo de Inspeção de Saúde nº 009.000.29567, datado de 17 de dezembro de 2009, da Junta Superior de Saúde
do Comando do 1º Distrito Naval.
Art. 2º Esta Portaria entra em vigor na presente data.
V. Alte (FN) MARCO ANTÔNIO CORRÊA GUIMARÃES. (Publicado no DOU nº 54, de 22.03.2010 – Sessão
2 – Página 5)
631
ADMINISTRATIVO. REFORMA DE MILITAR. (...)A. 1. A invalidez total e permanente do autor, conforme
o laudo de inspeção de saúde expedido por junta da Diretoria de Saúde da Marinha decorre de neoplasia
maligna (adenocarcinoma de próstata), que permite a revisão de sua reforma, mesmo encontrando-se na
reserva remunerada, para o grau hierárquico imediatamente superior, nos termos do Memorando nº 12/2006 do
Comandante da Marinha. Precedente jurisprudencial. 2. Reduzo a condenação para o pagamento dos valores a
partir do Memorando nº 12/2006, o que faço pela remessa obrigatória. 3. Honorários advocatícios reduzidos para
10% (dez por cento) sobre o valor da condenação. Apelação parcialmente provida. (TRF5 – Apelação Cível nº
200682000039871 – 1ª Turma – Rel. Des. Federal José Maria Lucena - j. 25.02.10 - DJE de 12.03.2010, p. 145)
632
ADMINISTRATIVO. MILITAR. MELHORIA DE REFORMA. AGRAVAMENTO DE DOENÇA QUE TEVE
INÍCIO NO SERVIÇO MILITAR. (...). I - Há que ser afastada a prescrição do fundo de direito, pois, tratando-
se de doença que progrediu no tempo a ponto de tornar o militar incapacitado para todo o tipo de trabalho, não
é a data da reforma o termo inicial para a contagem do prazo prescricional para o ajuizamento de ação com
vistas a sua melhoria, mas sim a data em que ele ficou inválido. II - Apelação provida. (TRF2 – Apelação Cível
nº 200851010093172 – 5ª Turma – Rel. Des. Federal Luiz Paulo S. Filho - E-DJF2R de 26.05.2010, p. 247)
A título de exemplo, tem-se o tópico 6.10 das Normas Técnicas sobre Perícias
Médicas no Exército633 (NTPMEx) que trata da melhoria de reforma, informando
sobre os seguintes procedimentos a serem executados:
6.10 – MELHORIA DE REFORMA
6.10.1 – DEFINIÇÃO
Inspeção de saúde (IS) para melhoria de reforma é a perícia médica eventual na
qual é verificado se o militar reformado por incapacidade física é inválido por um
dos casos previstos nos itens III, IV e V do art 108 da Lei nº 6.880/80.
6.10.2 – PADRÕES E CRITÉRIOS
a. O requerimento do interessado ou seu representante legal e a determinação
para a realização da IS devem especificar claramente a finalidade e seu respectivo
amparo legal.
b. O AMP deverá proceder ao exame clínico do inspecionado, solicitando exames
complementares e laudos especializados subsidiários de caráter plenamente
indispensáveis, de modo a evidenciar claramente se as suas condições psicofísicas
preenchem os requisitos de enquadramento na legislação do benefício solicitado.
c. A incapacidade provocada por doenças especificadas em legislação deverá ser
avaliada de acordo com o Volume XIV destas Normas.
6.10.3 – COMPETÊNCIA
São competentes para a realização desta inspeção de saúde, em primeira instância,
os MPGu.
6.10.4 – FORMAS DE CONCLUSÃO PERICIAL
a. “Apto para o serviço do Exército”;
b. “Incapaz, definitivamente, para o serviço do Exército. Não é inválido”;
c. “Incapaz definitivamente para o serviço do Exército. É inválido.
d. Quando o AMP atestar a invalidez do inspecionado deverá complementar o
parecer com uma das seguintes assertivas:
I – “Necessita (Não necessita) de internação especializada”;
II – “Necessita (Não necessita) de assistência direta e permanente ao paciente”;
III – “Necessita (Não necessita) de cuidados permanentes de enfermagem”; e
IV – “Necessita (Não necessita) de internação especializada e/ou assistência direta
e permanente ao paciente e/ou cuidados permanentes de enfermagem”.
6.10.5 – OBSERVAÇÕES
Quando o AMP concluir pela incapacidade do inspecionado deverá fazer constar
no campo “Observações” da AIS, a seguinte expressão: “A incapacidade ou a
invalidez do inspecionado se enquadra no inciso ____ do Art. 108, da Lei 6.880,
de 09 Dez 80”.
O enquadramento supracitado refere-se aos seguintes incisos do Art. 108, da Lei
6.880/80:
a. O inciso I – ferimento recebido em campanha ou na manutenção da ordem
pública;
b. O inciso II – enfermidade contraída em campanha ou na manutenção da ordem
pública, ou enfermidade cuja causa eficiente decorra de uma dessas situações;
633
Aprovadas pela Portaria Nº 247-DGP, de 07 OUT 09, e alteradas pelas Portarias nº 133-DGP, de 29 JUN 10,
nº 211-DGP, de 6 OUT 10, nº 067-DGP de 11 MAIO 11, nº 181-DGP, de 5 DEZ 11 e nº 067-DGP, de 30 ABR 12.
Capítulo 11
Juizados Especiais:
Breves Apontamentos
11. Introdução. 11.1. Juizados Especiais dos Estados e do Distrito Federal.
11.1.1. Juizado Especial Cível. 11.1.1.1. Competência. 11.1.1.2.
Legitimados, representantes e tutelas de urgência. 11.1.1.3. Recursos
cabíveis. 11.1.2. Juizado Especial Criminal. 11.1.3. Juizado Especial
da Fazenda Pública. 11.1.3.1. Competência. 11.1.3.2. Legitimados,
representantes e prazos. 11.1.3.3. Tutelas de Urgência, documentos em posse
da ré e exame técnico. 11.1.3.4. Recursos cabíveis. 11.2. Juizado Especial
Federal. 11.2.1. Juizado Especial Federal Criminal. 11.2.2. Juizado Especial
Federal Cível. 11.2.2.1. Competência. 11.2.2.2. Legitimados, representantes
e prazos. 11.2.2.3. Documentos em posse da parte ré e exames técnicos.
11.2.2.4. Medidas cautelares e antecipação de tutela. 11.2.2.5. Recursos
cabíveis.
11. Introdução
Em virtude de que nos Juizados Especiais635 não é necessário, em regra636, a
intervenção do Advogado, entendi oportuno fazer alguns637 comentários sobre esta
Justiça Especializada, a fim de permitir que militares a utilizem sem a necessidade
de contratação de Advogado.
Obviamente, o ideal é contratar um Advogado para pleitear direitos junto
ao Juizado Estadual ou Federal, haja vista que é um profissional capacitado e que,
sem dúvidas, poderá fazer a diferença na obtenção do direito do militar.
635
ENUNCIADO Nº 01 – FONAJE (Fórum Nacional de Juizados Especiais): O exercício do direito de ação
no Juizado Especial Cível é facultativo para o autor.
636
Há exceções em que é necessária a intervenção do Advogado, conforme será informado no decorrer deste
capítulo.
637
Não irei dissertar sobre todos os artigos das leis que disciplinam os Juizados Especiais, apenas tecerei
comentários sobre o que entendo mais importante para que o militar tenha uma noção básica sobre os Juizados,
a fim de que, querendo, ajuíze ações judiciais. Aliás, para falar sobre todos os dispositivos destas leis, eu teria
que escrever um livro específico sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, e no momento, não tenho esta
pretensão, pois ainda há muito assunto para ser escrito sobre o Direito Militar.
642
Art. 8º. Não poderão ser partes, no processo instituído por esta Lei, o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas
de direito público, as empresas públicas da União, a massa falida e o insolvente civil.
643
ENUNCIADO Nº 134 – FONAJE: As inovações introduzidas pelo artigo 5º da Lei 12.153/09 não são
aplicáveis aos Juizados Especiais Cíveis (Lei 9.099/95).
651
ENUNCIADO Nº 148 – FONAJE: Inexistindo interesse de incapazes, o Espólio pode ser parte nos Juizados
Especiais Cíveis.
652
Art. 10. As partes poderão designar, por escrito, representantes para a causa, advogado ou não.
653
ENUNCIADO Nº 157 – FONAJE: O disposto no artigo 294 do CPC não possui aplicabilidade nos Juizados
Especiais Cíveis, o que confere ao autor a possibilidade de aditar seu pedido até o momento da AIJ (ou fase
658
ENUNCIADO 26 – FONAJE: São cabíveis a tutela acautelatória e a antecipatória nos Juizados Especiais
Cíveis.
659
A nomenclatura mais utilizada na prática forense é recurso inominado, sendo absolutamente incorreto
chamá-lo de apelação cível.
660
Não é obrigatória a apresentação de resposta escrita (contra-razões) e sua falta não significará que você perderá
a causa, porém, é interessante a apresentação das contra-razões, posto que poderá contribuir para a manutenção
da sentença em seu favor.
661
ENUNCIADO Nº 63 – FONAJE: Contra decisões das Turmas Recursais são cabíveis somente os embargos
declaratórios e o Recurso Extraordinário.
662
ENUNCIADO Nº 80 – FONAJE: O recurso Inominado será julgado deserto quando não houver o
recolhimento integral do preparo e sua respectiva comprovação pela parte, no prazo de 48 horas, não admitida
a complementação intempestiva (art. 42, § 1º, da Lei 9.099/1995).
663
Parágrafo único. O preparo do recurso, na forma do § 1º do art. 42 desta Lei, compreenderá todas as
despesas processuais, inclusive aquelas dispensadas em primeiro grau de jurisdição, ressalvada a hipótese de
assistência judiciária gratuita.
664
ENUNCIADO Nº 115 – FONAJE: Indeferida a concessão do benefício da gratuidade da justiça requerido
em sede de recurso, conceder-se-á o prazo de 48 horas para o preparo.
ENUNCIADO Nº 116 – FONAJE: O Juiz poderá, de ofício, exigir que a parte comprove a insuficiência de
recursos para obter a concessão do benefício da gratuidade da justiça (art. 5º, LXXIV, da CF), uma vez que a
afirmação da pobreza goza apenas de presunção relativa de veracidade.
665
Não se aplica o § 2º do art. 41 da Lei 9.099/95 nos embargos declaratórios contra a sentença, sendo necessária,
entretanto, a representação por Advogado em grau recursal.
666
TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. (...). EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS, PARA
SANAR A OMISSÃO VERIFICADA. NO MÉRITO, NEGA-SE PROVIMENTO AO RECURSO ESPECIAL.
1. Os Embargos de Declaração configuram lídimo meio de correção e integração da decisão judicial, que
transcendem sua noção pura quando permitem a alteração substancial do julgado; consiste, neste caso, em
instrumento hábil a suprir omissões do Órgão Julgador, revestindo-se, portanto, de autêntico recurso. 2. (...).
(STJ - EDcl nos EDcl no AgRg nos EDcl nos EDcl no REsp 670.776/CE, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES
MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 13/08/2013, DJe 30/08/2013)
667
ENUNCIADO Nº 15 – FONAJE: Nos Juizados Especiais não é cabível o recurso de agravo, exceto nas
hipóteses dos artigos 544 e 557 do CPC.
ENUNCIADO Nº 102 – FONAJE: O relator, nas Turmas Recursais Cíveis, em decisão monocrática, poderá
negar seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em desacordo com
Súmula ou jurisprudência dominante das Turmas Recursais ou de Tribunal Superior, cabendo recurso interno
para a Turma Recursal, no prazo de cinco dias.
668
ENUNCIADO Nº 88 – FONAJE: Não cabe recurso adesivo em sede de Juizado Especial, por falta de
expressa previsão legal.
669
A título de exemplo, vejamos a previsão disposta no Regimento Interno das Turmas Recursais dos Juizados
Especiais do Distrito Federal:
Art. 13. Compete à Turma Recursal:
(...)
II - processar e julgar originariamente:
(...)
c) mandado de segurança contra decisões monocráticas em matérias cível e criminal dos Juizados Especiais
Cíveis, Criminais e da Fazenda Pública;
(...)
670
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. MANUTENÇÃO DOS
FUNDAMENTOS DA SENTENÇA COM BASE NO ART. 46 DA LEI 9.099/95. POSSIBILIDADE.
ALEGAÇÃO DE OFENSA AO DEVIDO PROCESSO LEGAL, AO CONTRADITÓRIO E À AMPLA DEFESA.
EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA NÃO ENSEJA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL NÃO CONFIGURADA. ACÓRDÃO RECORRIDO DISPONIBILIZADO
EM 16.8.2012. Não importa ausência de motivação, a adoção dos fundamentos da sentença recorrida pela Turma
Recursal, em conformidade com o disposto no art. 46 da Lei 9.099/95. O exame da alegada ofensa ao art. 5º,
XXXV, e LV, da Constituição Federal, dependeria de prévia análise da legislação infraconstitucional aplicada à
espécie, o que refoge à competência jurisdicional extraordinária, prevista no art. 102 da Constituição Federal.
Inexiste violação do artigo 93, IX, da CF/88. O Supremo Tribunal Federal entende que o referido dispositivo
constitucional exige que o órgão jurisdicional explicite as razões do seu convencimento, dispensando o exame
detalhado de cada argumento suscitado pela parte. Agravo regimental conhecido e não provido. (STF - ARE 736290
AgR, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 25/06/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe-160 DIVULG 15-08-2013 PUBLIC 16-08-2013)
671
SÚMULA Nº 640 DO STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro
grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal.
672
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
(...)
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a
decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.
(...)
Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e
leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações
penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência.
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do
júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão
os institutos da transação penal e da composição dos danos civis.
673
Art. 544. Não admitido o recurso extraordinário ou o recurso especial, caberá agravo nos próprios autos,
no prazo de 10 (dez) dias.
§ 1º. O agravante deverá interpor um agravo para cada recurso não admitido.
§ 2º. A petição de agravo será dirigida à presidência do tribunal de origem, não dependendo do pagamento
de custas e despesas postais. O agravado será intimado, de imediato, para no prazo de 10 (dez) dias oferecer
resposta, podendo instruí-la com cópias das peças que entender conveniente. Em seguida, subirá o agravo ao
tribunal superior, onde será processado na forma regimental.
§ 3º. O agravado será intimado, de imediato, para no prazo de 10 (dez) dias oferecer resposta. Em seguida, os
autos serão remetidos à superior instância, observando-se o disposto no art. 543 deste Código e, no que couber,
na Lei no 11.672, de 8 de maio de 2008.
§ 4º. No Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justiça, o julgamento do agravo obedecerá ao
disposto no respectivo regimento interno, podendo o relator:
I - não conhecer do agravo manifestamente inadmissível ou que não tenha atacado especificamente os fundamentos
da decisão agravada;
II - conhecer do agravo para:
a) negar-lhe provimento, se correta a decisão que não admitiu o recurso;
b) negar seguimento ao recurso manifestamente inadmissível, prejudicado ou em confronto com súmula ou
jurisprudência dominante no tribunal;
c) dar provimento ao recurso, se o acórdão recorrido estiver em confronto com súmula ou jurisprudência
dominante no tribunal.
674
SÚMULA Nº 727 DO STF: Não pode o magistrado deixar de encaminhar ao Supremo Tribunal Federal o
agravo de instrumento interposto da decisão que não admite recurso extraordinário, ainda que referente a causa
instaurada no âmbito dos Juizados Especiais.
Observação sobre esta súmula: o nome do recurso não é mais agravo de instrumento, a partir da alteração feita
no art. 544 do CPC pela Lei 12.322/10, passou a ser denominado de agravo nos próprios autos.
675
ENUNCIADO Nº 84 – FONAJE: Compete ao Presidente da Turma Recursal o juízo de admissibilidade do
Recurso Extraordinário, salvo disposição em contrário.
676
O art. 61 foi alterado pela mesma Lei 11.313/06, que aumentou a pena máxima de 1 (um) para 2 (dois) anos.
A expressão obiter dictum refere-se a trechos de uma decisão judicial que não determinam a sua conclusão,
677
ou seja, são meras observações ou opiniões do julgador que extrapolaram o objeto do processo e, portanto, não
poderão ser consideradas nas razões de decidir. No julgamento do citado habeas corpus, este tinha por objetivo
questionar a inconstitucionalidade do art. 95-A da Lei 9.099/95 em relação a um militar condenado por deserção.
Porém, surgiu durante os debates a questão do civil que comete crime militar, e alguns Ministros fizeram a
observação de que o art. 95-A não se aplicaria a este civil e, por isso, fez-se a observação na ementa: obiter dictum.
678
Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas com
base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
§ 1º. Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além do que vier a ser fixado
em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica
dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos
governadores.
§ 2º. Aos pensionistas dos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios aplica-se o que for fixado
em lei específica do respectivo ente estatal. (CF/88)
679
ENUNCIADO Nº 09 DA FAZENDA PÚBLICA – FONAJE: Nas comarcas onde não houver Juizado
Especial da Fazenda Pública ou juizados adjuntos instalados, as ações serão propostas perante as Varas comuns
que detêm competência para processar os feitos de interesse da Fazenda Pública ou perante aquelas designadas
pelo Tribunal de Justiça, observando-se o procedimento previsto na Lei 12.153/09.
ENUNCIADO Nº 11 DA FAZENDA PÚBLICA – FONAJE: As causas de maior complexidade probatória,
por importem dificuldades para assegurar o contraditório e a ampla defesa, afastam a competência do Juizado
da Fazenda Pública.
680
SÚMULA nº 376: Compete à turma recursal processar e julgar o mandado de segurança contra ato de
juizado especial.
681
DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. POLICIAL
MILITAR. LICENCIAMENTO. ATO NÃO ENQUADRADO NAS HIPÓTESES PREVISTAS NO ART. 125,
§ 4º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. COMPETÊNCIA. VARA DA FAZENDA PÚBLICA. I - Preceitua
o § 4º, do art. 125 da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda Constitucional nº 45/2004 que
“compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos
em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima
for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação
das praças”. II - Tratando-se de ação não relacionada com nenhuma das hipóteses previstas no mencionado
dispositivo constitucional, compete à Vara da Fazenda Pública processar e julgar a demanda. III - (...). (TJDFT -
Acórdão 694819, 20130020088808AGI – 6ª Turma Cível – Rel. Des. José Divino de Oliveira – DJE de 23.07.2013)
682
AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. ANULAÇÃO DE ATO DE LICENCIAMENTO
DE POLICIAL MILITAR. TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA MILITAR.
ARTIGO 125, § 4º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 01. Com a reforma do Poder Judiciário, introduzida pela
EC 45/2004, que deu nova redação ao § 4º do art. 125 da Constituição Federal, foi ampliada a competência da
Justiça Militar, que passou a ser competente para processar e julgar as ações judiciais contra atos disciplinares
militares. 02. Desse modo, ainda que o demandante não tenha a pretensão de discutir os fundamentos de sua
exclusão da corporação, a incompetência de quem decretou o ato é suficiente para fixar a competência da
Justiça Militar, isso pois eventual procedência do pedido afastará a própria sanção disciplinar, além do que
a ação judicial proposta visa na verdade combater o ato de indisciplina praticado. 03. Recurso conhecido e
improvido. Decisão mantida. (TJDFT - Acórdão 357174 – Agravo de Instrumento 20090020021255AGI – 4ª
Turma Cível - Rel. Des. João Batista Teixeira – DJE de 20.05.2009)
683
Nas Varas das Auditorias Militares.
684
§ 4º. Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares
definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando
a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da
graduação das praças.
685
§ 5º. Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares
cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça,
sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares.
deferida693 de ofício pelo magistrado, ou seja, sem prévio pedido das partes, então
vejamos:
Art. 3º. O juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir quaisquer
providências cautelares e antecipatórias no curso do processo, para evitar dano
de difícil ou de incerta reparação.
693
ENUNCIADO Nº 05 DA FAZENDA PÚBLICA - FONAJE: É de 10 dias o prazo de recurso contra decisão
que deferir tutela antecipada em face da Fazenda Pública.
694
PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CAUTELAR. DECLINATÓRIA DE
COMPETÊNCIA. JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL. VARA DA
FAZENDA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL. CRITÉRIO DE COMPETÊNCIA. PROVA PERICIAL. 1.
No processo de origem, requereu a parte autora a atribuição de efeito suspensivo ao recurso interposto na seara
administrativa, de modo que lhe fosse assegurado o exercício do contraditório e da ampla defesa, antes de ser
reformado por incapacidade para o serviço policial militar. 2. A dinâmica esposada em nada se relaciona com a
necessidade de eventual produção de prova pericial, elemento tido como motivador do presente conflito negativo
de competência. 3. Por fim, a eventual necessidade de produção de prova pericial não bastaria para afastar
a competência do juizado, haja vista o disposto no artigo 10 da Lei 12.153/09, que dispõe sobre os Juizados
Especiais da Fazenda Pública. 4. Declarou-se competente o juízo suscitante. (TJDFT - Acórdão 514602, Conflito
de Competência 20110020068658 - 1ª Câmara Cível – Rel. Juiz Rostirola - j. 20.06.11 – DJE de 24.06.2011)
695
Art. 11. Nas causas de que trata esta Lei, não haverá reexame necessário.
Art. 4º. Exceto nos casos do art. 3º, somente será admitido recurso contra a
sentença.
696
JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA DECISÃO
MONOCRÁTICA QUE INDEFERIU A ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA. AÇÃO REVISIONAL
DE CONTRATOS. EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS CONTRAÍDOS DE FORMA ESPONTÂNEA E
VOLUNTÁRIA. DÉBITO EM CONTA CORRENTE QUE NÃO SE SUJEITA AO LIMITE DE 30% (TRINTA
POR CENTO) DA MARGEM CONSIGNÁVEL. PRINCÍPIO DO “PACTA SUNT SERVANDA”. AGRAVO
IMPROVIDO. 1. Os descontos em conta corrente de parcelas de empréstimo voluntariamente contratados não se
submetem ao limite de 30% (trinta por cento) para as consignações em folha de pagamento, vez que o correntista
é livre para dispor de seus rendimentos da forma que melhor lhe aprouver, sem limitações. 2. O agravante tinha
pleno conhecimento de que, após contratar sucessivos empréstimos com o agravado, comprometeria mais que 30%
de seus rendimentos, não podendo agora negar-se à cumprir sua parte no contrato válido. Portanto, inexistindo
previsão legal que restrinja os descontos autorizados pelo correntista, e/ou abusividade e ilegalidade por parte da
instituição financeira, deve-se manter o acordado em respeito ao princípio do “pacta sunt servanda”. 3. Agravo
de Instrumento conhecido e improvido. (3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal - Acórdão
607736 – Agravo de instrumento 20120020086099 – Relatora Juíza Leila Cury – j. 31.07.12 - DJE de 06.08.2012)
697
Comentários à natureza jurídica dos embargos declaratórios foram realizados no estudo do subtópico 11.1.1.3.
698
Art. 21. O recurso extraordinário, para os efeitos desta Lei, será processado e julgado segundo o estabelecido
no art. 19, além da observância das normas do Regimento.
699
SÚMULA Nº 640 DO STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro
grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal.
700
SÚMULA Nº 727 DO STF: Não pode o magistrado deixar de encaminhar ao Supremo Tribunal Federal o
agravo de instrumento interposto da decisão que não admite recurso extraordinário, ainda que referente a causa
instaurada no âmbito dos Juizados Especiais.
701
Art. 18. Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei quando houver divergência entre decisões
proferidas por Turmas Recursais sobre questões de direito material.
§ 1º. O pedido fundado em divergência entre Turmas do mesmo Estado será julgado em reunião conjunta das
Turmas em conflito, sob a presidência de desembargador indicado pelo Tribunal de Justiça.
§ 2º. No caso do § 1º, a reunião de juízes domiciliados em cidades diversas poderá ser feita por meio eletrônico.
§ 3º. Quando as Turmas de diferentes Estados derem a lei federal interpretações divergentes, ou quando a decisão
proferida estiver em contrariedade com súmula do Superior Tribunal de Justiça, o pedido será por este julgado.
702
PROCESSUAL CIVIL. RECLAMAÇÃO. DECISÃO PROFERIDA NO ÂMBITO DO JUIZADO
ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA. DISCIPLINA ESPECÍFICA PELO ART. 18 DA LEI 12.153/2009.
INAPLICABILIDADE DA RESOLUÇÃO STJ 12/2009. 1. A Seção de Direito Público do STJ entende que o art.
18 da Lei 12.153/2009 é norma especial que prevê o “pedido de uniformização de interpretação de lei quando
houver divergência entre decisões proferidas por Turmas Recursais sobre questões de direito material”, no âmbito
do Juizado Especial da Fazenda Pública. 2. Nessa circunstância, é incabível a Reclamação disciplinada pela
Resolução 12/2009. 3. Agravo Regimental não provido. (STJ - AgRg na Rcl 8.308/SP, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/08/2013, DJe 18/09/2013)
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. DECISÃO DE TURMA RECURSAL
DO JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA (LEI 12.153/2009). REGIME PRÓPRIO DE SOLUÇÃO
DE DIVERGÊNCIA PREVISTO PELOS ARTS. 18 E 19 DA LEI. NÃO CABIMENTO DA RECLAMAÇÃO
PREVISTA NA RESOLUÇÃO 12/2009 DO STJ. PRECEDENTE DA PRIMEIRA SEÇÃO. 1. Hipótese de
reclamação ajuizada contra acórdão proferido pela Terceira Turma da Fazenda Pública do Colégio Recursal
de São Paulo, que determinou a devolução apenas das contribuições compulsórias destinadas ao custeio de
convênio de saúde, recolhidas após a citação. l2. A Primeira Seção pacificou a orientação de que havendo
procedimento legal específico de uniformização jurisprudencial no âmbito das Turmas Recursais em causas de
interesse da Fazenda Pública, o qual prevê meio próprio de impugnação (artigos 18 e 19 da Lei 12.153/2009),
não é cabível o ajuizamento da reclamação prevista na Resolução 12/2009 do STJ (RCDESP na RCL 8617-
SP, Relator: Ministro Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, DJ 29/8/2012 e RCDESP na Rcl 8.718/SP,
Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, DJe 29/08/2012). 3. Agravo regimental não provido.
(STJ - RCDESP na Rcl 8.963/SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
24/10/2012, DJe 30/10/2012)
703
Esta espécie de reclamação está regulada pela Resolução nº 12/99 do STJ, sendo oportuna a transcrição do
seu art. 1º:
Art. 1º. As reclamações destinadas a dirimir divergência entre acórdão prolatado por turma recursal estadual
e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, suas súmulas ou orientações decorrentes do julgamento de
recursos especiais processados na forma do art. 543-C do Código de Processo Civil serão oferecidas no prazo
de quinze dias, contados da ciência, pela parte, da decisão impugnada, independentemente de preparo.
§ 1º. A petição inicial será dirigida ao Presidente deste Tribunal e distribuída a relator integrante da seção
competente, que procederá ao juízo prévio de admissibilidade.
§ 2º. O relator decidirá de plano reclamação manifestamente inadmissível, improcedente ou prejudicada, em
conformidade ou dissonância com decisão proferida em reclamação anterior de conteúdo equivalente.
Art. 1º. São instituídos os Juizados Especiais Cíveis e Criminais da Justiça Federal,
aos quais se aplica, no que não conflitar com esta Lei, o disposto na Lei no 9.099,
de 26 de setembro de 1995.
704
O caput e o parágrafo único do art. 2º originário previam o seguinte:
Art. 2º. Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e julgar os feitos de competência da Justiça
Federal relativos às infrações de menor potencial ofensivo.
Parágrafo único. Consideram-se infrações de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, os crimes a
que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, ou multa.
705
Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar.
Art. 3º. Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar
causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos,
bem como executar as suas sentenças.
ENUNCIADO Nº 17 – FONAJEF
Não cabe renúncia sobre parcelas vincendas para fins de fixação de competência
nos Juizados Especiais Federais.
ENUNCIADO Nº 48 – FONAJEF
Havendo prestação vencida, o conceito de valor da causa para fins de competência
do Juizado Especial Federal é estabelecido pelo art. 260 do CPC.
706
Vejamos o inciso I do art. 109 da CF/88:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de
autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça
Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
ENUNCIADO Nº 67 - FONAJEF708
O caput do artigo 9º da Lei n. 9.099/1995 não se aplica subsidiariamente no âmbito
dos Juizados Especiais Federais, visto que o artigo 10 da Lei n. 10.259/2001
disciplinou a questão de forma exaustiva.
ENUNCIADO Nº 21 – FONAJEF
As pessoas físicas, jurídicas, de direito privado ou de direito público estadual ou
municipal podem figurar no pólo passivo, no caso de litisconsórcio necessário.
707
ENUNCIADO Nº 05 - TURMA RECURSAL DA JFRN: No Juizado Especial Federal não se aplica a
assistência obrigatória prevista na Lei nº 9.099/95 para as demandas de valor superior a vinte salários mínimos,
cabendo ao Juiz alertar as partes sobre a conveniência do patrocínio, quando a causa recomendar.
708
Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais é um evento anual realizado pela Associação dos Juízes
Federais, onde são discutidas questões controvertidas ligadas aos Juizados Especiais Federais.
709
ADMINISTRATIVO. (...). LITISCONSÓRCIO ATIVO FACULTATIVO. VALOR DA CAUSA INFERIOR
A SESSENTA SALÁRIOS MÍNIMOS PARA CADA AUTOR. COMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUIZADO
ESPECIAL FEDERAL. I - No caso de litisconsórcio ativo facultativo, deve ser considerado o valor de cada
autor individualmente. Em sendo menor que sessenta salários mínimos a competência para julgar será dos
juizados especiais. II - A parte não pode ser prejudicada em razão de particularidade da organização judiciária,
(processos virtuais nos juizados), face o disposto no artigo 219, caput e parágrafo 1º do CPC. Sentença anulada,
devendo os autos serem remetidos a um dos juizados especiais federais para processamento e apreciação do
mérito da causa. III - Apelação e remessa oficial providas. (TRF5 – ApelReex nº 4630/PB – 4ª Turma – Rel. Des.
Federal Margarida Cantarelli - DJ de 08.05.2009)
710
Art. 46. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando:
I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide;
II - os direitos ou as obrigações derivarem do mesmo fundamento de fato ou de direito;
III - entre as causas houver conexão pelo objeto ou pela causa de pedir;
IV - ocorrer afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de direito.
Parágrafo único. O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes, quando este
comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa. O pedido de limitação interrompe o prazo para
resposta, que recomeça da intimação da decisão.
ENUNCIADO Nº 55 – FONAJEF
A nulidade do processo por ausência de citação do réu ou litisconsorte necessário
pode ser declarada de ofício pelo juiz nos próprios autos do processo, em qualquer
fase, ou mediante provocação das partes, por simples petição.
711
§ 3º. No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua competência é absoluta.
712
ENUNCIADO Nº 24 – FONAJEF: Reconhecida a incompetência do Juizado Especial Federal, é cabível
a extinção do processo, sem julgamento de mérito, nos termos do art. 1º da Lei n. 10.259/2001 e do art. 51, III,
da Lei n. 9.099/95, não havendo nisso afronta ao art. 12, § 2º, da Lei 11.419/06.
713
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou
residente no País;
III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional;
(...)
XI - a disputa sobre direito s indígenas.
SÚMULA Nº 376
Compete à turma recursal processar e julgar o mandado de segurança contra ato
de juizado especial.
ENUNCIADO Nº 88 – FONAJEF
É admissível MS para Turma Recursal de ato jurisdicional que cause gravame e
não haja recurso.
ENUNCIADO Nº 09 – FONAJEF
Além das exceções constantes do § 1º do artigo 3º da Lei n. 10.259, não se incluem
na competência dos Juizados Especiais Federais, os procedimentos especiais
previstos no Código de Processo Civil, salvo quando possível a adequação ao rito
da Lei n. 10.259/2001.
A TNU possui enunciado sobre o art. 12 desta Lei que trata das perícias
complexas ou onerosas em sede de Juizados715 Especiais Federais, então vejamos:
ENUNCIADO Nº 91 – FONAJEF
Os Juizados Especiais Federais são incompetentes para julgar causas que
demandem perícias complexas ou onerosas que não se enquadrem no conceito de
exame técnico (art. 12 da lei n. 10.259/2001).
714
Os procedimentos especiais estão dispostos no Título IV do CPC (art. 890 e seguintes) e podemos citar os
seguintes: ação de consignação em pagamento, ação de depósito, ação de anulação ou substituição de títulos ao
portador, ação de prestação de contas, embargos de terceiro, inventário e partilha, dentre outros.
715
ENUNCIADO Nº 44 – FONAJEF: Não cabe ação rescisória no Juizado Especial Federal. O artigo 59 da
Lei n 9.099/95 está em consonância com os princípios do sistema processual dos Juizados Especiais, aplicando-
se também aos Juizados Especiais Federais.
716
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 14ª ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2002. p. 339-340.
O Juizado717 Especial será competente718 para processar e julgar esta lide, haja
vista que o ato administrativo que reformou o militar tem natureza previdenciária719.
Importante consignar que não é necessário o esgotamento720 da esfera
administrativa para o ajuizamento de ação previdenciária, pois não há previsão na
Lei 10.259/01, inclusive o TRF3 possui súmula721 sobre este tema.
717
DIREITO ADMINISTRATIVO. MILITAR. REFORMA. DEPRESSÃO. ENFERMIDADE ADQUIRIDA
DURANTE PRESTAÇÃO DO SERVIÇO MILITAR. REMUNERAÇÃO DO GRAU IMEDIATAMENTE
SUPERIOR AO QUE OCUPAVA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA PARCIAL. IMPROVIMENTO DO
RECURSO. - A incapacidade definitiva do militar pode sobrevir em consequência, dentre outras causas, de
moléstia ou enfermidade adquirida em tempo de paz, com relação de causa e efeito a condições inerentes
ao serviço, tuberculose ativa, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira, lepra, paralisia irreversível e
incapacitante, cardiopatia grave, mal de Parkinson, pênfigo, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave e
outras moléstias que a lei indicar com base nas conclusões da medicina especializada; ou acidente ou doença,
moléstia ou enfermidade, sem relação de causa e efeito com o serviço. - Hipótese em que o laudo judicial consignou
a incapacidade definitiva da autora para o exercício das atividades militares, restando também consignado nos
autos o parecer médico formulado por assistente técnico (anexos 64/66), por meio do qual foi atestado que a
recorrida está incapacitada total, permanente e profissionalmente para atividade laborativa; assim, de acordo
com o conjunto probatório carreado ao feito, em conjunto com a prova oral colhida, é de se conceder a reforma
da autora nos termos fixados na sentença. - Ressalte-se que o militar da ativa ou da reserva remunerada, quando
julgado incapaz definitivamente em face de patologia adquirida na época em que se encontrava na ativa, faz
jus à reforma com remuneração correspondente ao grau hierárquico imediato ao que possuía na ativa. - Sendo
assim, estando comprovado nos autos que a autora foi acometida de depressão quando se encontrava no exercício
de suas atividades castrenses, é de se deferir a sua reforma com a remuneração calculada com base no soldo
correspondente ao grau hierárquico imediato ao que possuir ou que possuía na ativa (arts. 108 e 110 da Lei
nº 6.880/80). - (...). (Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária de Natal – Recurso
Inominado 0501724-74.2010.4.05.8400 – 1ª Turma – Rel. Juiz Federal Janilson Bezerra de Siqueira, j. 25.02.2011)
718
Se o valor da causa não ultrapassar 60 (sessenta) salários mínimos.
719
ADMINISTRATIVO. (...). MEDIDA PROVISÓRIA 2131. ALÍQUOTA DE 7,5%. LEGALIDADE.
SENTENÇA IMPROCEDENTE. RECURSO IMPROVIDO. - A parte autora pretende que o desconto de
7,5% para o pagamento de pensão militar seja realizado apenas sobre os valores que ultrapassem o teto de
benefícios previstos pelo Regime Geral da Previdência Social e, ainda, a repetição do indébito referente aos
valores indevidamente descontados a este título. - O Regime Geral da Previdência Social não se aplica aos
militares, os quais possuem regime previdenciário próprio, consubstanciado na Lei 3.765/60. - O art. 3º da Lei
3.765/60 já previa a contribuição para a pensão militar por todos os militares, ativos e inativos, cujo valor foi
alterado pelas legislações posteriores, dentre elas a Medida Provisória nº 2.131/2000, que majorou a alíquota
para 7,5%, a incidir sobre os proventos dos inativos. - Legalidade da majoração do percentual de contribuição
de pensão militar, em face da perfeita adequação às disposições da Lei 3.765/60 (STJ, Primeira Seção, MS
7842). - Ademais, a contribuição possui natureza securital e não previdenciária, uma vez que se destina,
exclusivamente, ao pagamento de pensões e não de soldo militar por ocasião de sua reforma. - Recurso da parte
autora improvido. (Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária de Natal – Recurso
Inominado 0500286-42.2012.4.05.8400 – 3ª Turma – Rel. Juiz Federal Vinícius Costa Vidor – j. 23.02.2012)
720
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR IDADE. TRABALHADORA RURAL. PRÉVIO
REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. DESNECESSIDADE. 1. Segundo a reiterada jurisprudência
desta Corte, a propositura de ação objetivando a concessão de benefício previdenciário independe de prévio
requerimento administrativo. 2. Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no REsp 1145184/PR, Rel. Ministro
JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 21/06/2011, DJe 01/08/2011)
721
SÚMULA Nº 09: Em matéria previdenciária, torna-se desnecessário o prévio exaurimento da via
administrativa, como condição de ajuizamento da ação.
722
ENUNCIADO Nº 29 – TURMA RECURSAL FEDERAL DE MINAIS GERAIS: É desnecessário o
prévio requerimento administrativo para o ajuizamento de demanda na qual se pleiteia a concessão de benefício
previdenciário ou assistencial.
723
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. REMESSA NECESSÁRIA E APELAÇÃO CÍVEL. PENSÃO
DE EX-COMBATENTE. ART. 53 DO ADCT. 1. Trata-se de apelação cível interposta pela UNIÃO FEDERAL
em razão de sentença que julgou procedente o pedido, para “condenar a UNIÃO FEDERAL a conceder ao
Autor, de imediato, a pensão especial de que trata o inciso II do art. 53 do ADCT da Constituição Federal, bem
como ao pagamento das pensões vencidas, respeitando-se a prescrição daquelas alusivas ao período anterior
à 29/08/2001”. E, “acrescidos juros de mora, calculados pela taxa Selic e incidentes a partir da citação na
presente demanda (27/09/2006), nos termos do art. 406 Código Civil c/c Lei nº 9.250/95.”, conforme sentença
que acolheu os embargos de declaração. 2. A hipótese não versa sobre uma das excludentes previstas nos §§ 2º
e 3º, do art. 475, do Código de Processo Civil, razão pela qual a remessa deverá ser conhecida. 3. A ausência
de requerimento administrativo não implica em falta de interesse de agir. A parte não é legalmente obrigada
a provocar ou esgotar a esfera administrativa para postular em juízo. Ao contrário, a apreciação do Poder
Judiciário é uma garantia prevista no inciso XXXV, do artigo 5º, da Constituição Federal. 4. A qualidade de
ex-combatente, para fim de recebimento de pensão especial prevista no art. 53 do ADCT, depende de comprovação
de que tenha participado efetivamente de operações bélicas, durante a Segunda Guerra Mundial, e, em caso de
militar, haja sido licenciado do serviço ativo e retornado à vida civil efetivamente (art. 1º, da Lei n.º 5.315/67).
5. Na hipótese em comento, para fazer jus à pensão especial prevista no art. 53 do ADCT, é imprescindível que
o autor comprove que participou de operações bélicas na Segunda Guerra Mundial como integrante da Força
Expedicionária Brasileira ou como integrante da guarnição de ilhas oceânicas ou de unidades que se deslocaram
de suas sedes para o cumprimento de missões de vigilância e segurança de litoral, através da documentação
referida no art. 1º, § 2º, “a”, da Lei nº 5.315/67, o que não se verifica no presente caso. 6. Remessa necessária
e apelação conhecidas e providas. (TRF2 - AC 200650010085449 – 7ª Turma Especializada - Rel. Des. Federal
José Antônio Lisboa Neiva - E-DJF2R de 29.11.2010)
724
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. PREVIDENCIÁRIO. PRÉVIA POSTULAÇÃO
ADMINISTRATIVA COMO CONDIÇÃO DE POSTULAÇÃO JUDICIAL RELATIVA A BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. EXISTÊNCIA. Está caracterizada a repercussão geral da
controvérsia acerca da existência de prévia postulação perante a administração para defesa de direito ligado à
concessão ou revisão de benefício previdenciário como condição para busca de tutela jurisdicional de idêntico
direito. (STF - RE 631240 RG, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, julgado em 09/12/2010, DJe-072 DIVULG
14-04-2011 PUBLIC 15-04-2011 EMENT VOL-02504-01 PP-00206 )
725
Os Enunciados nº 77 e 78 do FONAJEF, elaborados em 2006, exigem o prévio requerimento administrativo
para o ajuizamento de benefício da seguridade social, conforme se pode observar nas respectivas leituras:
ENUNCIADO Nº 77: O ajuizamento da ação de concessão de benefício da seguridade social reclama prévio
requerimento administrativo.
ENUNCIADO Nº 78: O ajuizamento da ação revisional de benefício da seguridade social que não envolva
matéria de fato dispensa o prévio requerimento administrativo.
Enunciado nº 82 – FONAJEF
O espólio pode ser parte autora nos juizados especiais cíveis federais.
732
ENUNCIADO Nº 14 – FONAJEF: Nos Juizados Especiais Federais, não é cabível a intervenção de terceiros
ou a assistência.
733
Art. 56 do CPC:
Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu, poderá, até ser
proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos.
734
Art. 62 do CPC:
Aquele que detiver a coisa em nome alheio, sendo-lhe demandada em nome próprio, deverá nomear à autoria
o proprietário ou o possuidor.
735
Art. 70 do CPC:
A denunciação da lide é obrigatória:
I - ao alienante, na ação em que terceiro reivindica a coisa, cujo domínio foi transferido à parte, a fim de que
esta possa exercer o direito que da evicção Ihe resulta;
II - ao proprietário ou ao possuidor indireto quando, por força de obrigação ou direito, em casos como o do
usufrutuário, do credor pignoratício, do locatário, o réu, citado em nome próprio, exerça a posse direta da
coisa demandada;
III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que
perder a demanda.
736
Art. 77 do CPC:
É admissível o chamamento ao processo:
I - do devedor, na ação em que o fiador for réu;
II - dos outros fiadores, quando para a ação for citado apenas um deles;
III - de todos os devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns deles, parcial ou totalmente,
a dívida comum.
737
Art. 50 do CPC:
Pendendo uma causa entre duas ou mais pessoas, o terceiro, que tiver interesse jurídico em que a sentença seja
favorável a uma delas, poderá intervir no processo para assisti-la.
Parágrafo único. A assistência tem lugar em qualquer dos tipos de procedimento e em todos os graus da
jurisdição; mas o assistente recebe o processo no estado em que se encontra.
738
Em resumo, significa a soma ou a totalidade de bens deixados por uma pessoa após o seu falecimento.
Art. 3º. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
I - os menores de dezesseis anos;
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário
discernimento para a prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
Art. 10. As partes poderão designar, por escrito, representantes para a causa,
advogado ou não.
Entretanto, este representante, caso não seja Advogado, não deverá atuar
de forma habitual e com fins econômicos:
ENUNCIADO Nº 83 – FONAJEF
O art. 10, caput, da Lei n. 10.259/2001 não autoriza a representação das partes
por não-advogados de forma habitual e com fins econômicos.
739
Bastará uma procuração especial particular (não precisa ser pública) com reconhecimento da firma do autor em
Cartório, devendo constar poderes para representá-lo junto ao Juizado Especial Federal. Assim, o representante
poderá realizar quaisquer atos inerentes à atuação do autor no processo.
740
Art. 188 do CPC: Computar-se-á em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer quando a
parte for a Fazenda Pública ou o Ministério Público.
741
Art. 9º. Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas
de direito público, inclusive a interposição de recursos, devendo a citação para audiência de conciliação ser
efetuada com antecedência mínima de trinta dias.
Art. 4º. O Juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir medidas
cautelares no curso do processo, para evitar dano de difícil reparação.
744
A Lei 8.437/92 dispõe sobre a concessão de medidas cautelares contra atos do Poder Público, inclusive
discorrendo sobre as hipóteses em que não serão concedidas.
745
ENUNCIADO Nº 89 – FONAJEF: Não cabe processo cautelar autônomo, preventivo ou incidental, no
âmbito dos Juizados Especiais Federais.
746
PROCESSUAL CIVIL. TUTELA ANTECIPADA. APOSENTADORIA POR IDADE. POSSIBILIDADE.
RECURSO DESPROVIDO. 1 - Nada impede a concessão da tutela antecipada nos processos de competência
dos Juizados Especiais Federais, mesmo que não tenha sido referida expressamente tal modalidade de tutela
de urgência no art. 4º da Lei nº 10.259/2001. 2 - A concessão da tutela antecipada contra a Fazenda Pública
só é vedada nos casos de aumento de remuneração ou equiparação de vantagens de Servidores Públicos.
3 - O direito à aposentadoria não está condicionado à manutenção da qualidade de segurado. 4 - Em se
tratando de verba alimentícia, exsurge atual o receio de dano irreparável ou de difícil reparação, sendo que
a irreversibilidade da medida deve ser entendida com temperamentos, e, nesse caso concreto, vem, antes, em
benefício do Autor. É certo que um dos fundamentos da Federação é a dignidade da pessoa humana, como se vê
no art. 1º da Constituição da República e, assim sendo, é razoável que se possibilite ao Recorrido, desde logo,
o acesso ao indispensável para sua sobrevivência, não se podendo exigir a prestação de caução. 5 - Negado
provimento ao Recurso. (TNU –Processo nº 200338007030655/MG – 1ª Turma Recursal/MG – Rel. Sônia Diniz
Viana - j. 27.03.03 - DJMG de 05.04.2003)
RECURSO INOMINADO. ART. 4º e 5º DA LEI 10.259/01. DECISÃO INDEFERITÓRIA DE ANTECIPAÇÃO
DOS EFEITOS DA TUTELA. NÃO-CABIMENTO. FALTA DE PRESSUPOSTO INTRÍNSECO DE
ADMISSIBILIDADE. RECURSO NÃO-CONHECIDO. 1. É juridicamente possível conceder antecipação
dos efeitos da tutela nas demandas ajuizadas perante o juizado especial federal. Entendem-se como \”medidas
cautelares\” do art. 4º da Lei 10.259/01 todas as medidas de urgência. 2. Não é cabível recurso contra a decisão
que indefere a antecipação dos efeitos da tutela, mas somente contra a decisão deferitória, a teor do art. 5º
da Lei 10.259/01. (TNU – Processo nº 200239007050453/PA – 1ª Turma Recursal/PA – Rel. Gláucio Ferreira
Maciel - j. 19.03.03)
747
Há Juizados Federais que não o denominam de agravo de instrumento, mas de recurso inominado, podendo-se
citar o seguinte enunciado:
ENUNCIADO Nº 13 - TURMA RECURSAL FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE: Os recursos
inominados contra decisões cautelares e tutelas antecipatórias nos Juizados Especiais serão interpostos
diretamente na Turma Recursal.
Art. 5º. Exceto nos casos do art. 4º, somente será admitido recurso de sentença
definitiva.
748
Ao invés do nome agravo de instrumento, o recurso também é conhecido como recurso da cautelar ou recurso
da antecipação de tutela.
O art. 38 do Regimento Interno das Turmas Recursais Federais do Rio de Janeiro utiliza, somente, a palavra
agravo, então vejamos:
Art. 38. O agravo contra decisão de Juizado Especial Federal que defere ou indefere medida cautelar ou
antecipatória dos efeitos da tutela deve ser interposto no prazo de 10 (dez) dias contados da intimação da decisão
e atender aos requisitos dos arts. 524 e 525 do Código de Processo Civil.
749
ENUNCIADO Nº 107 – FONAJEF: Fora das hipóteses do artigo 4º da Lei 10.259/2001, a impugnação de
decisões interlocutórias proferidas antes da sentença deverá ser feita no recurso desta (art. 41 da Lei nº 9.099/95).
750
Na prática forense é mais conhecido como recurso inominado.
ENUNCIADO Nº 61 – FONAJEF: O recurso será recebido no duplo efeito, salvo em caso de antecipação de
tutela ou medida cautelar de urgência.
751
ENUNCIADO Nº 100 – FONAJEF: No âmbito dos Juizados Especiais Federais, a Turma Recursal poderá
conhecer diretamente das questões não examinadas na sentença que acolheu prescrição ou decadência, estando
o processo em condições de imediato julgamento.
ENUNCIADO Nº 54 – FONAJEF: O artigo 515 e parágrafos do CPC interpretam-se ampliativamente no âmbito
das Turmas Recursais, em face dos princípios que orientam o microssistema dos Juizados Especiais Federais.
ENUNCIADO Nº 60 – FONAJEF: A matéria não apreciada na sentença, mas veiculada na inicial, pode ser
conhecida no recurso inominado, mesmo não havendo a oposição de embargos de declaração.
752
NÃO CABIMENTO DE RECURSO CONTRA DECISÃO QUE NÃO ADMITIU O RECURSO
INTERPOSTO. DECISÃO IRRECORRÍVEL. (TR4 - 4ª Turma Recursal - SP - Processo 00213971220124039301
– Rel Juiz Federal André Wasilewski Duszczak - e-DJF3 de 12.07.2012)
753
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO IRRECORRÍVEL DE
JUIZ DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL. CABIMENTO. CUSTAS DE PREPARO. PRAZO PARA
RECOLHIMENTO E JUNTADA AOS AUTOS. 1. É cabível a impetração de mandado de segurança contra
decisão irrecorrível de Juiz singular do Juizado Especial Federal. 2. Precedente: STJ, REsp RMS 17.113/MG. 3.
Nos juizados especiais federais, tanto o recolhimento das custas de preparo a que aduz o artigo 1º, da Resolução
n.º 373/2009, do Conselho da Justiça Federal da 3ª Região, quanto a sua comprovação em juízo, devem ocorrer
no prazo de quarenta e oito horas seguintes à interposição do recurso inominado. 4. Inteligência dos artigos 511
do Código de Processo Civil e artigo 42, § 1º, da Lei n.º 9.099/1995 c/c o artigo 1º, da Lei n.º 10.259/2001. 5. A
expressão quando exigido pela legislação pertinente, contida no artigo 511, caput, do Código de Processo Civil,
aplicado subsidiariamente, refere-se às custas, e não à comprovação do seu recolhimento, que deve ser feito
de modo explícito, ou seja, por meio da juntada das guias comprobatórias perante o juízo, no prazo assinalado
pela legislação especial. 6. Precedentes: STJ, EREsp 488.674/MA; AgRg no Ag 1.351.531/MG. 7. Ordem de
segurança denegada. (TR5 - 5ª Turma Recursal - SP - Processo 00353911020124039301 – Rel. Juiz Federal
Omar Chamon - e-DJF3 de 17.04.2013)
754
Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:
I - quando o juiz indeferir a petição inicial;
II - quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes;
III - quando, por não promover os atos e diligências que Ihe competir, o autor abandonar a causa por mais de
30 (trinta) dias;
IV - quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do
processo;
V - quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada;
Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das
partes e o interesse processual;
VII - pela convenção de arbitragem;
VIII - quando o autor desistir da ação;
IX - quando a ação for considerada intransmissível por disposição legal;
X - quando ocorrer confusão entre autor e réu;
XI - nos demais casos prescritos neste Código.
(...)
755
O art. 34 do Regimento Interno das Turmas Recursais do RJ prevê o seguinte:
Art. 34. Não cabe recurso de sentença que não aprecia o mérito em sede de Juizado Especial Federal, salvo
quando o seu não conhecimento acarretar negativa de jurisdição.
756
LOAS. AMPARO SOCIAL AO PORTADOR de DEFICIÊNCIA. PERÍCIA. AUSÊNCIA. EXTINÇÃO DO
PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. LEI 9.099/95. 1. Nos termos do art. 55, I, da Lei 9.099/95,
extingue-se o processo sem resolução do mérito quando o autor deixar de comparecer a qualquer das audiências
do processo. 2. Caso em que a parte autora, após 03 (três) meses do não-comparecimento à perícia designada,
requer a apresentação de justificativa do não-comparecimento e a designação de nova data para a realização
de perícia médica, quando os autos já estavam conclusos para sentença. 3. Sentença mantida pelos próprios
fundamentos. 4. Sem custas. Sem condenação em honorários advocatícios porque não houve resistência à
pretensão recursal. (TR1 - 1ª Turma Recursal - TO - Processo 101335920084014 - Rel. Juiz Cleberson José
Rocha - DJTO de 18.05.2009)
757
O recurso adesivo está previsto no art. 500 do CPC, onde em sendo vencidos autor e réu, ao recurso interposto
por qualquer deles poderá aderir (recurso adesivo) a outra parte.
758
Isto quer dizer que não será obrigatório que a instância superior, no caso, as Turmas Recursais, ratifiquem as
sentenças proferidas pelos Juízes Federais de primeira instância.
759
Art. 475. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo
tribunal, a sentença:
I - proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município, e as respectivas autarquias e fundações
de direito público;
(...)
§ 2º. Não se aplica o disposto neste artigo sempre que a condenação, ou o direito controvertido, for de valor certo
não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos, bem como no caso de procedência dos embargos do devedor
na execução de dívida ativa do mesmo valor.
§ 3º. Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em jurisprudência do
plenário do Supremo Tribunal Federal ou em súmula deste Tribunal ou do tribunal superior competente.
760
ENUNCIADO Nº 108 – FONAJEF: Não cabe recurso para impugnar decisões que apreciem questões
ocorridas após o trânsito em julgado.
761
Art. 48. Caberão embargos de declaração quando, na sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição,
omissão ou dúvida.
Parágrafo único. Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.
Art. 49. Os embargos de declaração serão interpostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados
da ciência da decisão.
Art. 50. Quando interpostos contra sentença, os embargos de declaração suspenderão o prazo para recurso.
768
O art. 44 do Regimento Interno das Turmas Recursais Federais do Rio de Janeiro assim dispõe:
Art 44. A parte que se considerar agravada por decisão do Presidente do Plenário,
de Turma ou por decisão monocrática de Relator, poderá requerer, dentro de 5 (cinco) dias, a apresentação do
feito em mesa, para que o Plenário ou a Turma, conforme o caso, sobre ela se pronuncie, confirmando-a ou
reformando-a.
Parágrafo único. Não cabe agravo regimental da decisão que:
I - inadmite recursos extraordinário e especial e pedidos de uniformização de jurisprudência regional ou nacional;
(...)
Art. 15. O recurso extraordinário, para os efeitos desta Lei, será processado e
julgado segundo o estabelecido nos §§ 4º a 9º do art. 14, além da observância das
normas do Regimento.
769
SÚMULA Nº 640 DO STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro
grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal.
770
ENUNCIADO Nº 110 – FONAJEF: A competência das turmas recursais reunidas, onde houver, deve ser
limitada à deliberação acerca de enunciados das turmas recursais das respectivas seções judiciárias.
771
SÚMULA Nº 727 DO STF: Não pode o magistrado deixar de encaminhar ao Supremo Tribunal Federal o
agravo de instrumento interposto da decisão que não admite recurso extraordinário, ainda que referente a causa
instaurada no âmbito dos Juizados Especiais.
O Art. 37 do Regimento Interno da TNU assim dispõe:
Art. 37. O recurso extraordinário em matéria constitucional de repercussão geral poderá ser interposto perante o
Presidente da Turma Nacional de Uniformização, que deliberará sobre sua admissibilidade, observado o disposto
na Constituição, na lei processual e no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.
Parágrafo único. Admitido o recurso, os autos serão encaminhados ao Supremo Tribunal Federal; inadmitido,
pode a parte, no prazo e forma legais, apresentar agravo de instrumento.
772
ENUNCIADO Nº 43 – FONAJEF: É adequada a limitação dos incidentes de uniformização às questões
de direito material.
773
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. UTILIZAÇÃO COMO
SUCEDÂNEO DE RECURSO. INSURGÊNCIA CONTRA DECISÃO DE TURMA RECURSAL DE JUIZADO
ESPECIAL FEDERAL. NÃO CABIMENTO. LEI 10.259/01. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Apresenta-se
incabível reclamação contra acórdão de turma recursal de juizado especial federal, com a finalidade de discutir
contrariedade à jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Há previsão legal de pedido de uniformização
de interpretação de lei federal quando houver divergência entre decisões sobre questões de direito proferidas
por turmas recursais. Se as turmas integrarem a mesma região, o pedido será julgado em reunião conjunta dos
órgãos fracionários em conflito, sob a presidência do juiz coordenador. Se entre turmas de regiões distintas,
a questão será dirimida pela Turma Nacional de Uniformização - TNU. Tão somente se a orientação adotada
pela TNU contrariar súmula ou jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça, caberá pedido a este
dirigido. Inteligência do art. 14 da Lei 10.259/01. (...). (STJ - AgRg na Rcl 5.510/DF, Rel. Ministro ARNALDO
ESTEVES LIMA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 08/06/2011, DJe 17/06/2011)
774
§ 2º. Inadmitido o incidente, a parte poderá requerer, nos próprios autos, no prazo de dez dias, que o feito
seja remetido ao Superior Tribunal de Justiça.
Capítulo 12
12. Introdução
Em virtude da pouca doutrina relacionada ao dano moral sofrido pelos
militares no âmbito da Administração Militar, entendi interessante discorrer sobre
o tema, mesmo de forma superficial.
Não adentrarei no histórico do dano moral, nem nas várias teorias acadêmicas,
pois serei prático, assim como em todos os capítulos desta obra jurídica.
Durante minha carreira militar ajuizei 2 (duas) ações de indenização
por danos morais decorrentes de punições disciplinares ilegais. Em uma das
contestações (defesa) da União (Aeronáutica) foi alegado por um Advogado da
União que o militar não está passível de sofrer danos morais775 na atividade776
775
ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. PRESCRIÇÃO. As ações de
indenização por danos morais em face de tortura praticadas por agentes do Estado durante o regime militar
são imprescritíveis. Agravo regimental desprovido. (STJ - AgRg no Resp 1301122/RJ, Rel. Ministro ARI
PARGENDLER, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/09/2013, DJe 25/09/2013)
776
ADMINISTRATIVO. (...) MILITAR. ESQUIZOFRENIA PARANÓIDE. INCAPACIDADE ABSOLUTA.
RESERVA REMUNERADA NO GRAU IMEDIATAMENTE SUPERIOR. INDENIZAÇÃO POR DANO
MORAL. DECISÃO EMBARGADA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INEXISTÊNCIA.
RECONHECIDO O NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE O ACIDENTE EM SERVIÇO E INCAPACIDADE
LABORATIVA. IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/
STJ. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. POSSIBILIDADE (...). 3. Nos termos da reiterada jurisprudência
do STJ, “É cabível a indenização por dano moral sofrido por servidor militar em razão de sequelas decorrentes
de acidente em serviço”. (...) (STJ - EDcl nos EDcl nos EDcl no AgRg nos EDcl no Ag 1187847/RJ, Rel. Ministro
MOURA RIBEIRO, QUINTA TURMA, julgado em 05/09/2013, DJe 10/09/2013)
militar devido ao seu preparo para a guerra. Certamente, além de tal afirmação
ser absurda, este Advogado jamais foi militar e, talvez, nunca tenha colocado os
pés num quartel do Brasil.
Pretendo discorrer sobre o dano moral com base na CF/88, no Código Civil
e na jurisprudência de nossos tribunais, enfocando, especialmente, sua aplicação
no meio militar.
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
(...)
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização
por dano material, moral ou à imagem;
(...)
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete
ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente
de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem.
SÚMULA nº 37
São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do
mesmo fato.
SÚMULA nº 326
Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao
postulado na inicial não implica sucumbência recíproca.
SÚMULA nº 362
A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data
do arbitramento.
DANO MORAL. Assim de diz da ofensa ou violação que não vem ferir os bens
patrimoniais, propriamente ditos, de uma pessoa, mas os seus bens de ordem moral,
tais sejam os que se referem à sua liberdade, à sua honra, à sua pessoa ou à sua
família. Em princípio, o dano moral se funda no fato ilícito; é extracontratual,
resultante do quase-delito ou do delito, conforme o fato é culposo ou doloso. Mas
a indenização dele decorrente implica necessariamente a evidência de uma perda
efetiva, consequente da ofensa moral, ou dos lucros cessantes que advieram do
fato ilícito.
777
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 77.
778
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 15ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 239.
Todavia, o ato ilícito, que gerará a indenização por danos morais, será
aquele que objetivamente tenha sido capaz de acarretar a dor, o sofrimento, a
humilhação, a tristeza ou o desprezo, ou seja, qualquer lesão aos sentimentos
íntimos juridicamente protegidos da pessoa humana.
Se o ato ilícito tiver natureza criminal e já houver sido confirmado no juízo
criminal, bastará juntar a respectiva sentença ou acórdão à petição inicial da ação
de indenização, conforme se pode afirmar com a leitura do art. 935 do CC:
Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo
questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando
estas questões se acharem decididas no juízo criminal.
Não é qualquer ato irregular praticado pela autoridade militar que resultará
na indenização por danos morais, sendo absolutamente necessário demonstrar
a sua ilicitude, ou seja, deve-se provar a prática do ato ilícito, seja por meio de
documentos ou testemunhas.
RSTJ 137/486:
A indenização por danos morais... Ademais, deve ela contribuir para desestimular
o ofensor a repetir o ato, inibindo sua conduta antijurídica.
Súmula nº 498 do STJ: Não incide imposto de renda sobre a indenização por danos morais.
779
A modificação do quantum arbitrado a título de danos morais somente é admitida, em sede de recurso especial,
780
na hipótese de fixação em valor irrisório ou abusivo, inocorrentes no caso sub judice. (STJ - REsp nº 996.056/
SC, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 28/04/2009, DJe 27/05/2009)
título de danos morais fora dos padrões da razoabilidade, qual seja, R$ 20.000,00,
o que impõe sua redução para R$ 5.000,00, eis que o evento danoso se restringe
apenas à inobservância das formalidades previstas na aplicação da sanção e não
ao mérito da transgressão. 5. Manutenção da verba honorária fixada em 10%
sobre a condenação, eis que o arbitramento do dano moral em montante inferior ao
pleiteado na exordial não configura sucumbência recíproca (Súmula 326 do STJ).
6. Correção monetária calculada conforme o Manual de Cálculos do Conselho da
Justiça Federal. Juros de mora: 1% (um por cento) ao mês. 7. Apelação parcialmente
provida. (TRF5 – Apelação Cível nº 403.974/RN – 1ª Turma – Rel. Des. Federal
Francisco Wildo - j. 25.01.07 - DJ de 14.02.2007)
781
Ressalte-se que, embora a CF/88 e o CC prevejam o direito de regresso dos entes públicos contra os agentes
causadores do ilícito, a Advocacia da União não costuma utilizar tais mecanismos de coibição e penalização
contra as autoridades militares.
782
A vítima gravou a conversa que foi degravada pela Polícia Federal, conforme se observa na leitura do seguinte
trecho do respectivo acórdão: É de ressaltar que a discussão foi gravada pelo requerente, e, posteriormente
degravada pela Polícia Federal, e, instaurado processo administrativo (sindicância), para apurar o ocorrido.
783
A Polícia Federal instaurou inquérito policial e concluiu que este Tenente havia cometido o crime de abuso
de autoridade, pois assim consta no respectivo acórdão: Já a Superintendência Regional da Polícia Federal em
Rio Grande do Norte, em seu procedimento policial visando apurar possível responsabilidade criminal do 1º
Ten. (nome excluído intencionalmente), concluiu que houve abuso de autoridade, conforme previsão do art. 171
do Decreto Lei nº 1.001/69, do militar graduado em relação ao subalterno, por esse último não ter realizado os
serviços de desentupição do banheiro durante o serviço, obrigando-o a “dobrar”o plantão, ofendendo-o ainda
com palavras (fls. 22/38).
784
Vejamos o seguinte trecho do respectivo acórdão: É que além do 1º Tenente (nome excluído intencionalmente)
ter reprimido de forma excessiva o autor, que não pertencia a sua Cia, fazendo-o “dobrar de serviço”de 24
horas, ofendeu-o com palavras “SOLDADO 666 –DEMÔNIO”.
(STJ - REsp 1211562/RJ, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/05/2013,
785
DJe 21/05/2013)
786
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR MILITAR. PENALIDADE ADMINISTRATIVA. DESCABIMENTO
DE REVISÃO PELO JUDICIÁRIO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. MAJORAÇÃO DO VALOR.
SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. 1. Como bem posto pela sentença “a penalidade de licenciamento e exclusão
aplicada ao autor se deu num contexto mais amplo, não no sentido de mera punição disciplinar, mas como
prerrogativa da organização militar de excluir de seus quadros indivíduo que se mostrar indigno de pertencer
às Forças Armadas”. 2. A interpretação dada pela sentença aos arts. 26 e 27 do RDAer também não merece
reparos, na medida em que “os dispositivos regulamentares acima estabelecem o critério de “inconveniência
para a Aeronáutica” como elemento justificador do licenciamento do militar sem estabilidade, critério este,
evidentemente, de caráter subjetivo, da competência exclusiva da autoridade militar, não cabendo ao Poder
Judiciário substituí-la em tal mister”. 3. Quanto à indenização por dano moral, o montante fixado, no entanto,
mostra-se irrisório, devendo ser majorado para R$ 1.000,00 (mil reais) por dia de encarceramento indevido.
4. Apelações do Autor, da União e remessa oficial parcialmente providas. Sucumbência recíproca. (TRF3 - AC
00445446819924036100 - Rel. Juiz Convocado Wilson Zauhy - e-DJF3 de 20.06.2011)
787
O Código Civil dispõe de um capítulo exclusivo sobre indenização (arts. 944 a 954).
Art. 954. A indenização por ofensa à liberdade pessoal consistirá no pagamento das
perdas e danos que sobrevierem ao ofendido, e se este não puder provar prejuízo,
tem aplicação o disposto no parágrafo único do artigo antecedente.
Parágrafo único. Consideram-se ofensivos da liberdade pessoal:
I - o cárcere privado;
II - a prisão por queixa ou denúncia falsa e de má-fé;
III - a prisão ilegal.
788
Súmula nº 387 do STJ: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.
Súmula nº 420 do STJ: Incabível, em embargos de divergência, discutir o valor de indenização por danos
789
morais.
790
(TRF2 – Apelação Cível nº 382.783/ES – 5ª Turma Especializada - j. 03.10.07 - DJU de 15.10.2007)
Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis
por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado
direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa
ou dolo.
791
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de
autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça
Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
(...)
792
ADMINISTRATIVO. MILITAR. ACIDENTE DE TRÂNSITO. RESPONSABILIDADE DO AGENTE
PÚBLICO. DIREITO DE REGRESSO. CULPA DO MILITAR COMPROVADA ATRAVÉS DE LAUDO
PERICIAL. - Nos termos do artigo 37, parágrafo 6º, da CF/88, a responsabilidade civil do agente público
causador do dano é subjetiva, dependendo, dessa forma, da comprovação de que agiu com culpa ou dolo. - In
casu, restou devidamente comprovado, através de laudo técnico-pericial, que o servidor militar agiu com culpa,
elemento indispensável à caracterização da responsabilidade civil, devendo, portanto, ressarcir o erário dos
eventuais prejuízos causados pela sua ação. - Apelo improvido. (TRF5 - AC 200405000030838 – 1ª Turma – Rel.
Des. Federal Francisco Wildo - DJ de 18.01.2005)
793
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 14ª ed. São Paulo: Malheiros,
2001. p. 847.
800
Está em tramitação na Câmara dos Deputados, desde 2005, o Projeto de Emenda Constitucional nº 358/2005
que, dentre outras alterações, pretende modificar o art. 124 da CF/88, a fim de que este dispositivo passe a ser
o seguinte:
Art. 124. À Justiça Militar da União compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei, bem como
exercer o controle jurisdicional sobre as punições disciplinares aplicadas aos membros das Forças Armadas.
801
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUIZADO ESPECIAL FEDERAL E JUÍZO FEDERAL.
ADMINISTRATIVO. MILITAR. PROMOÇÃO. PRETENSÃO DE EQUIPARAÇÃO COM QUADRO
FEMININO DA AERONÁUTICA. PORTARIA Nº 120/GM3 DE 1984. Se a pretensão do autor é de revisão
de atos administrativos, com possibilidade de anulação ou cancelamento, incide o art. 3°, § 1°, inciso III, da
Lei n° 10.259/2001 dos Juizados Especiais. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal
da 1ª Vara da Seção Judiciária do Estado de Roraima. (STJ – CC 48.047/RR, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO
DA FONSECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 10/08/2005, DJ 14/09/2005, p. 191)
PÁGINA
EM
BRANCO
Capítulo 13
Conselho de Disciplina:
Exclusão ou Reforma e Consequências
Jurídicas
13. Introdução. 13.1. O que é o conselho de disciplina? 13.2. Submissão
ao conselho de disciplina. 13.3. Instauração e formação do conselho
de disciplina. 13.4. Fases do conselho de disciplina. 13.4.1. Libelo acusatório
e interrogatório do acusado. 13.4.2. Razões escritas e produção de prova.
13.4.3. Testemunhas de acusação e de defesa. 13.4.4. Alegações escritas
ou razões finais. 13.4.5. Relatório dos membros do conselho e decisão da
autoridade nomeante: exclusão ou reforma. 13.5. Recurso e prazo. 13.6.
Militar julgado culpado (exclusão ou reforma): efeitos jurídicos. 13.7.
Prescrição administrativa. 13.8. Como anular um conselho de disciplina:
impossibilidade de se questionar o mérito (oportunidade e conveniência).
13. Introdução
Não poderia deixar de tecer comentários sobre o Conselho de Disciplina
(CD), pois foi em decorrência de um CD que fui excluído do Comando da
Aeronáutica em 2007. E sou muito grato à Aeronáutica por ter me excluído, pois
me concedeu a felicidade de exercer a Advocacia e de escrever meu primeiro livro
jurídico em 2009.
Durante meus 18 (dezoito) anos de Aeronáutica, tive 2 (duas) grandes
alegrias dentro desta Força Armada: o dia em que ingressei e o dia em que fui
excluído, e talvez este último tenha sido o mais desejável e emocionante.
Desde 2002 havia sido aprovado na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
e estava, apenas, aguardando alguns acontecimentos, a fim de poder exercer a
Advocacia. E como a aprovação na Ordem tem validade indeterminada, assim que
fui excluído da Aeronáutica, fiz meu requerimento para a inscrição nos quadros da
OAB. Em exatos 34 (trinta e quatro) dias após a exclusão da Aeronáutica, obtive
a Carteira da OAB, permitindo-me Advogar em todo o Brasil.
Conheci o CD na prática como militar-acusado e como Advogado de
militares submetidos ao CD, e por conhecer esses 2 (dois) lados, é minha obrigação
dissertar sobre este tema.
4.2 - CONCEITO
O CD é um processo disciplinar de caráter administrativo, independente de ação
penal, podendo, entretanto, tornar-se peça a ser utilizada na instrução de processo
criminal na Justiça Militar, caso as acusações provadas e consideradas procedentes
constituam ilícito penal militar. O CD é previsto no Dec nº 71.500/1972, sendo
aplicadas, subsidiariamente, as disposições do Código de Processo Penal Militar
(CPPM).
4.3 - PROPÓSITO
O CD é destinado a julgar a capacidade dos Guardas-Marinha e das praças
com estabilidade assegurada para a permanência na ativa, como também das
802
ADMINISTRATIVO. MILITAR. EXPULSÃO DE CABO DAS FILEIRAS DA MARINHA A BEM DA
DISCIPLINA. PEDIDO DE ANULAÇÃO DO ATO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE ENFERMIDADE
QUE JUSTIFICASSE AS FALTAS DISCIPLINARES COMETIDAS. IMPOSSIBILIDADE DE CONCESSÃO
DE REFORMA. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR REGULAR. OPORTUNIDADE DE
DEFESA. RECURSO IMPROVIDO. 1. O Autor foi submetido a Conselho de Disciplina por ter apresentado no
decurso de sua carreira conduta irregular, sofrendo diversas punições, tendo cumprido, no ano de 1998, cinquenta
dias de prisão rigorosa e perdido um total de cento e vinte pontos, quando bastariam apenas 30 dias daquele
tipo de prisão, num espaço de um ano, e 90 pontos perdidos para que fosse instaurado aquele procedimento. 2.
Alegação do Autor de que tais transgressões disciplinares teriam sido ocasionadas por enfermidade que se lhe
instalou à época, diagnosticada como Transtorno de Ajustamento. Sustenta ainda ser dependente químico, o que
corroboraria também para as atitudes indevidas. 3. Em Inspeções de Saúde realizadas ao longo do período de
prestação do serviço militar o Autor obteve sempre laudo de ?Apto? para o serviço. Até mesmo quando levantada
pela Marinha a hipótese diagnóstica de Reação de Ajustamento ou mesmo diante da alegada dependência química
defendida pelo Autor, apresentava-se ele sempre lúcido, orientado, com pensamento coerente e sem sintomas
psicóticos, não havendo prejuízo da capacidade de entendimento e de auto-determinação, encontrando-se apto
a responder por seus atos e desenvolver atividades produtivas. Em perícia médica realizada a cargo do Juízo
não foi verificada qualquer patologia psiquiátrica no periciado. 4. Encontra-se sobejamente comprovada a
inexistência de qualquer incapacidade atual ou remota que possa garantir ao Autor a anulação de sua exclusão
a bem da disciplina ou a concessão da reforma pretendida. 5. É princípio basilar de Direito Processual que ao
Autor cabe a comprovação do fato constitutivo do direito alegado, nos termos do art. 333, I, do CPC, ônus do
qual o ex-militar não conseguiu se desincumbir, não havendo como o Juízo trabalhar à base de suposições. 6.
Despicienda a tese do Autor de que não lhe foi ofertada oportunidade de defesa, eis que sua exclusão das Forças
Armadas resultou de instauração de processo administrativo disciplinar regular, em que foi informado de que
poderia comparecer acompanhado de Oficial defensor, tendo tomado ciência de todos os atos do processo e dele
participado ativamente. 7. Recurso improvido. (TRF2 - AC 200151010030398 – 5ª Turma Especializada – Rel.
Des. Federal Guilherme Diefenthaeler - E-DJF2R de 10.07.2013)
803
ADMINISTRATIVO. POLICIAL MILITAR. EXCLUSÃO DA CORPORAÇÃO. SESSÃO SECRETA DE
JULGAMENTO DO CONSELHO DE DISCIPLINA. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DO ACUSADO E DE SEU
DEFENSOR. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. 1. Segundo
entendimento desta Corte, é ilegal a ausência de intimação do acusado e de seu defensor para acompanhamento
da sessão secreta do Conselho de Disciplina que deliberou sobre a exclusão daquele dos quadros da Polícia
Militar, em razão dos princípios do contraditório e da ampla defesa, assegurados pela Constituição Federal.
Precedentes. 2. Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no RMS 25.414/PB, Rel. Ministro JORGE MUSSI,
QUINTA TURMA, DJe 06/09/2012)
804
Em 02.08.2013 foi publicada a Lei 12.848/13, alterando a Lei 12.505/11, que concede anistia aos policiais
e bombeiros militares dos Estados de Alagoas, da Bahia, do Ceará, de Mato Grosso, de Minas Gerais, de
Pernambuco, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Norte, de Rondônia, de Roraima, de Santa Catarina, de Sergipe
e do Tocantins e do Distrito Federal punidos por participar de movimentos reivindicatórios, para acrescentar os
Estados de Goiás, do Maranhão, da Paraíba e do Piauí. Vejamos o teor da Lei 12.848/13:
Art. 1º. A ementa e o art. 1º da Lei nº 12.505, de 11 de outubro de 2011, passam a vigorar com a seguinte redação:
“Concede anistia aos policiais e bombeiros militares dos Estados de Alagoas, de Goiás, do Maranhão, de Minas
Gerais, da Paraíba, do Piauí, do Rio de Janeiro, de Rondônia, de Sergipe, da Bahia, do Ceará, de Mato Grosso,
de Pernambuco, do Rio Grande do Norte, de Roraima, de Santa Catarina e do Tocantins e do Distrito Federal
punidos por participar de movimentos reivindicatórios.”
“Art. 1º. É concedida anistia aos policiais e bombeiros militares que participaram de movimentos reivindicatórios
por melhorias de vencimentos e condições de trabalho ocorridos:
I - entre o dia 1º de janeiro de 1997 e a publicação desta Lei nos Estados de Alagoas, de Goiás, do Maranhão,
de Minas Gerais, da Paraíba, do Piauí, do Rio de Janeiro, de Rondônia e de Sergipe;
II - entre a data de publicação da Lei nº 12.191, de 13 de janeiro de 2010, e a data de publicação desta Lei nos
Estados da Bahia, do Ceará, de Mato Grosso, de Pernambuco, do Rio Grande do Norte, de Roraima, de Santa
Catarina e do Tocantins e do Distrito Federal.” (NR)
Art. 2º. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
805
Importante esclarecer que há legislações previdenciárias que não conferem o direito dos beneficiários à pensão
militar em caso de exclusão a bem da disciplina do Policial e Bombeiro Militar, seja por meio do Conselho de
Disciplina ou por condenação penal transitada em julgado a pena superior a 2 (dois) anos de restritiva de liberdade.
(ex.: O Estado do Rio Grande do Norte revogou tal benefício aos beneficiários do militar em 2005, ou seja, o
Policial Militar do RN que for excluído a bem da disciplina, além de não receber quaisquer indenizações, não
deixará pensões militares aos seus beneficiários).
TÍTULO III
DO CONSELHO DE DISCIPLINA
CAPÍTULO I
DA COMPOSIÇÃO
Art. 27. O Conselho de Disciplina será composto por 3 (três) membros.
§ 1º. Ao membro mais antigo, no mínimo um oficial intermediário, caberá a
presidência dos trabalhos e, ao mais moderno, o encargo de escrivão.
§ 2º. Poderá ser nomeado, como membro do Conselho de Disciplina, subtenente ou
primeiro-sargento, circunstância em que a praça exercerá o encargo de escrivão.
§ 3º. O Conselho de Disciplina funcionará com a totalidade de seus membros.
CAPÍTULO II
DO JULGAMENTO E DO RELATÓRIO
Art. 28. Realizadas todas as diligências, bem como juntada aos autos a defesa final,
o Conselho de Disciplina reunir-se-á para a sessão de julgamento.
§ 1º. O acusado e seu defensor serão notificados, com antecedência mínima de 2
(dois) dias úteis, para comparecerem à sessão de julgamento.
§ 2º. Após a deliberação acerca de todas as provas constantes dos autos, bem como
análise das peças de defesa apresentadas, o Conselho de Justificação deverá julgar:
I - se é procedente a acusação, bem como se é acusado capaz de permanecer na
ativa ou na situação em que se encontra na inatividade;
II - no caso do inciso V do art. 5º desta lei, levados em consideração os preceitos
da aplicação da pena, se é o acusado capaz de permanecer na ativa ou na situação
em que se encontra na inatividade.
§ 3º. A decisão do Conselho de Justificação é tomada por maioria de votos de seus
membros.
§ 4º. Todos os membros devem justificar seu voto por escrito.
§ 5º. A sessão de julgamento antecede a feitura do relatório.
Art. 29. Elaborado o relatório, com termo de encerramento, o presidente remete o
processo ao Comandante-Geral.
CAPÍTULO III
DA SOLUÇÃO
Art. 30. Recebidos os autos do Conselho de Disciplina, o Comandante-Geral,
motivadamente, solucionará, determinando:
I - o arquivamento do processo, se não julga o militar estadual culpado;
II - a aplicação de sanção disciplinar, se considera o acusado culpado das acusações
imputadas, no todo ou em parte;
III - a exclusão a bem da disciplina, se julgar o militar estadual culpado das
acusações imputadas e incapaz de permanecer na ativa ou na situação em que se
encontra na inatividade;
IV - a remessa do processo ao Juízo competente, se considera infração penal a
razão pela qual o acusado foi julgado culpado;
806
O art. 49 da Lei 6.880/80 assim dispõe:
Art. 49. O Guarda-Marinha, o Aspirante-a-Oficial e as praças com estabilidade assegurada, presumivelmente
incapazes de permanecerem como militares da ativa, serão submetidos a Conselho de Disciplina e afastados
das atividades que estiverem exercendo, na forma da regulamentação específica.
§ 1º. O Conselho de Disciplina obedecerá a normas comuns às três Forças Armadas.
§ 2º. Compete aos Ministros das Forças Singulares julgar, em última instância, os processos oriundos dos
Conselhos de Disciplina convocados no âmbito das respectivas Forças Armadas.
§ 3º. A Conselho de Disciplina poderá, também, ser submetida a praça na reserva remunerada ou reformada,
presumivelmente incapaz de permanecer na situação de inatividade em que se encontra.
810
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MILITAR TEMPORÁRIO. DIREITO
DE PERMANÊNCIA NA ATIVIDADE APÓS CUMPRIDO O PRAZO DE INCORPORAÇÃO. ALEGAÇÃO
DE VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. INOCORRÊNCIA.
1. O acórdão recorrido está em sintonia com a jurisprudência deste tribunal no sentido de que, tratando-se de
militares do quadro de temporários, admitidos por prazo limitado, não há que se falar em direito de permanência
ou em estabilidade após cumprido o prazo de incorporação. Agravo regimental provido. (STF - RE 383879
AgR, Relator(a): Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em 17/06/2008, DJe-142 DIVULG 31-07-2008
PUBLIC 01-08-2008 EMENT VOL-02326-06 PP-01126)
811
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO REGIMENTAL. PEDIDO DE LIMINAR. MEDIDA CAUTELAR.
EFEITO SUSPENSIVO AO RECURSO ESPECIAL, AINDA EM TRÂMITE NO TRIBUNAL A QUO. MILITAR
TEMPORÁRIO. AERONÁUTICA. DECÊNIO LEGAL. EFETIVO EXERCÍCIO. LICENCIAMENTO. ATO
DISCRICIONÁRIO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. ESTABILIDADE. REINTEGRAÇÃO POR FORÇA
DE LIMINAR. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO. RECONSIDERAÇÃO DA DECISÃO. DEFERIMENTO
DA LIMINAR. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. A decisão ora agravada se
mostra em sintonia com a orientação traçada pela egrégia Terceira Seção do STJ no julgamento dos Embargos
de Divergência no Recurso Especial nº 565.638/RJ, em que se assegurou ao praça militar temporário o direito
à estabilidade profissional, quando ultrapassar o decênio legal de efetivo serviço castrense por força de decisão
liminar, comprovado nos autos o lapso temporal exigido, a teor do disposto no art. 50, inc. IV, alínea ‘a’ da
Lei nº 6.880/1980. 2. No presente caso, o decurso de prazo relativo ao decênio legal e o perigo na demora da
prestação jurisdicional, advindo do sério risco à digna sobrevivência de sua família, autorizaram o deferimento
da liminar requerida. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ - AgRg no AgRg na MC 15.894/RJ,
Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP), SEXTA TURMA, julgado
em 17/11/2009, DJe 07/12/2009)
poderá ser processado e julgado pela própria Força Armada e/ou pelo STM,
conforme previsões dispostas nos arts. 13817 e 14818 da referida Lei.
Da leitura dos arts. 1º e 2º do Decreto 71.500/72 extrai-se, resumidamente,
que estarão submetidos ao CD os militares da ativa, da reserva819 remunerada e os
reformados820, quando cometerem atos que, supostamente, os incapacitem para se
manterem na atividade ou se inativos, de permanecerem na reserva ou reforma.
817
Art. 13. Recebidos os autos do processo do Conselho de Justificação, o Ministro Militar, dentro do prazo de
20 (vinte) dias, aceitando ou não seu julgamento e, neste último caso, justificando os motivos de seu despacho,
determina:
I - o arquivamento do processo, se considera procedente a justificação;
II - a aplicação de pena disciplinar se considera contravenção ou transgressão disciplinar a razão pela qual
o oficial foi julgado culpado;
III - na forma do Estatuto dos Militares, e conforme o caso, a transferência do acusado para a reserva remunerada
ou os atos necessários a sua efetivação pelo Presidente da República, se o oficial foi considerado não habilitado
para o acesso em caráter definitivo;
IV - a remessa do processo ao auditor competente, se considera crime a razão pela qual o oficial foi considerado
culpado;
V - a remessa do processo ao Superior Tribunal Militar:
a) se a razão pela qual o oficial foi julgado culpado está previsto nos itens I, III e V do artigo 2º; ou
b) se, pelo crime cometido prevista nos itens IV do artigo 2º o oficial foi julgado incapaz de permanecer na
ativa ou na inatividade.
Parágrafo único. O despacho que julgou procedente a justificação deve ser publicado oficialmente e transcrito
nos assentamentos do oficial, se este é ativa.
818
Art. 14. É da competência do Superior Tribunal Militar julgar, em instância única, os processos oriundos de
Conselhos de Justificação, a ele remetidos por Ministro Militar.
819
ADMINISTRATIVO. MILITAR INATIVO. EXCLUSÃO A BEM DA DISCIPLINA. DECRETO N.
71.500/72. DEVIDO PROCESSO LEGAL. ART. 50, LV, CR/88. 1. Aos militares inativos também se aplicam as
regras disciplinares previstas na Lei nº 6.880/80, a teor da regra contida em seu art. 49, § 3º. Assim, a exclusão
a bem da disciplina será aplicada ao militar na reserva remunerada pelo Conselho de Disciplina, nos termos
do art. 125, III, da Lei nº 6.880/80. 2. Na origem, o Apelante objetivou a declaração judicial de nulidade da
medida administrativa de expulsão contra ele decretada por Comissão de Disciplina. No entanto, observa-se
dos autos que foram respeitadas todas as garantias constitucionais correlacionadas ao devido processo legal
(ampla defesa e contraditório), bem como a regularidade processual, nos termos da legislação de regência
específica, notadamente o Decreto nº 71.500/72. Conforme bem consignou o juízo de primeiro grau de jurisdição,
no processo administrativo subjacente não há qualquer violação às normas constitucionais, e os documentos
constantes dos autos servem como fundamento para a decisão administrativa questionada. 3. Apelo conhecido
e desprovido. (TRF2 - AC 200202010238170 – 7ª Turma Especializada - Rel. Des. Federal Theophilo Miguel
- DJU – de 23.07.2009)
820
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. ANÁLISE DE DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS.
IMPOSSIBILIDADE NA VIA DO ESPECIAL. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 535, INCISO II, DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. OMISSÃO NÃO CONFIGURADA. MILITAR REFORMADO. PRÁTICA
DE CONDUTAS TIPIFICADAS COMO CRIME APÓS A REFORMA. SUBMISSÃO A CONSELHO DE
DISCIPLINA. EXCLUSÃO DAS FILEIRAS DAS FORÇAS ARMADAS. POSSIBILIDADE. 1. A via especial,
destinada à uniformização da interpretação da legislação infraconstitucional, não se presta à análise de possível
violação a dispositivos da Constituição da República. 2. O acórdão hostilizado solucionou a quaestio juris de
maneira clara e coerente, apresentando todas as razões que firmaram o seu convencimento. 3. Havendo expressa
previsão na legislação quanto à possibilidade de aplicação de sanção disciplinar aos militares reformados, é de
ser afastada a incidência da Súmula n.º 56 do Supremo Tribunal Federal. 4. A prática de condutas que afetem
o dever, o pundonor e o decoro militar é passível de acarretar, para o militar, a declaração de incapacidade
quanto à permanência nas fileiras das Forças Armadas, inclusive quando já tenha sido reformado. 5. Recurso
especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, desprovido. (STJ - REsp 1121791/RJ, Rel. Ministra LAURITA
VAZ, QUINTA TURMA, DJe 14/10/2011)
O art. 31 desta mesma Lei menciona alguns dos deveres dos militares das
Forças Armadas:
Art. 31. Os deveres militares emanam de um conjunto de vínculos racionais, bem
como morais, que ligam o militar à Pátria e ao seu serviço, e compreendem,
essencialmente:
I - a dedicação e a fidelidade à Pátria, cuja honra, integridade e instituições devem
ser defendidas mesmo com o sacrifício da própria vida;
II - o culto aos Símbolos Nacionais;
III - a probidade e a lealdade em todas as circunstâncias;
IV - a disciplina e o respeito à hierarquia;
V - o rigoroso cumprimento das obrigações e das ordens; e
VI - a obrigação de tratar o subordinado dignamente e com urbanidade.
821
APELAÇÃO. PROCESSO ADMINISTRATIVO MILITAR. EXCLUSÃO DO MILITAR A BEM DA
DISCIPLINA. INSTAURAÇÃO EX OFFICIO DO CONSELHO DE DISCIPLINA. ART. 145, INC. II, §
1º DO DEC. Nº 881/93. MILITAR INABILITADO PARA O ACESSO. BIS IN IDEM. INOCORRÊNCIA.
LEGITIMIDADE DO CONSELHO DE DISCIPLINA PARA AFERIR A INCAPACIDADE DO MILITAR.
ART. 1º DO DEC. Nº 71.500/72. EXAME DA CONDUTA DO MILITAR DESDE QUE INGRESSOU NO
SERVIÇO MILITAR. IMPROVIMENTO. 1. Foi instaurado “ex officio” o Conselho de Disciplina em virtude
do apelante ter sido considerado inabilitado para o acesso, nos termos do art. 145, inc. II, § 1º do Dec. nº 881/93,
e não em respeito a fatos passados já devidamente julgados. 2. Conforme o art. 1º do Dec. nº 71.500/72, tem o
Conselho de Disciplina competência para aferir a incapacidade do militar. A natureza de tal exame é amplo,
abarcando a conduta do militar desde que ingressou no Serviço Militar, não se prescindindo, destarte, da análise
do histórico militar. 3. Inocorrência de “bis in idem”, porquanto o Conselho de Disciplina não foi instaurado
para julgar fatos já punidos, mas para determinar a capacidade ou não do apelante de permanecer na ativa, em
virtude de fato novo, a saber, ter sido considerado inabilitado para o acesso. 4. Apelação improvida. (TRF4 - AC
2001.72.00.003145-7 – 4ª Turma - Relator Des. Federal Joel Ilan Paciornik - DJ de 11.12.2002)
822
MANDADO DE SEGURANÇA. MILITAR. (...). 1. Na espécie, pelo compulsar dos autos, verifica-se que,
em todas as sindicâncias abertas para o fim de apurar condutas perpetradas pelo recorrente, lhe foi garantido
e respeitado o direito à ampla defesa e contraditório, plenamente exercido por meio de seu representante legal.
Tanto assim que o acórdão recorrido foi claro ao expor que ao recorrente “foi-lhe oportunizado o exercício do
contraditório e da ampla defesa, tendo o impetrante apresentado suas razões de defesa (fls. 114/140), refutando
todas as acusações que lhe foram atribuídas, chegando, inclusive, a pleitear a reconsideração da decisão que
o excluiu da corporação (fls. 190/200). Logo, não há cerceamento de defesa capaz de macular o processo
administrativo disciplinar ora discutido” (e-STJ fls. 375/376). Ademais, o STJ já firmou entendimento segundo
o qual somente se declara nulidade de processo administrativo quando for evidente o prejuízo à defesa, o que
não ocorreu no caso. 2. Somente repercutem na esfera administrativa as decisões proferidas na instância judicial
penal em que se conclua, definitivamente, pela inexistência do fato ou pela negativa de autoria, o que não ocorre
na hipótese em apreço. 3. Ademais, no caso, a instauração de inúmeras sindicâncias contra o recorrido, à
conclusão de que teriam sido violados diversos preceitos de ordem ética, moral e atentatória ao pundonor
militar, foram fundamentais para à submissão ao Conselho de Disciplina. Portanto, a exclusão do militar não
se deu tão-somente em decorrência da prática de lesão corporal, mas considerou-se, fundamentalmente, seu
comportamento verificado ao longo do exercício de suas funções consubstanciados nas inúmeras sindicâncias
apontadas em sua extensa folha funcional (fls. 108/114). 4. Recurso ordinário não provido. (STJ - RMS 33609/
GO, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe 13/04/2011)
não há legislação específica definindo quais sejam tais atos ditos desonrosos, ou
seja, na prática poderá ser qualquer coisa.
Entretanto, no ano de 2002, foi promulgado o Decreto 4.346/02 (Regulamento
Disciplinar do Exército), onde se tentou esclarecer esta omissão legislativa do
Decreto 71.500/72, todavia, permaneceu a subjetividade, então vejamos:
estes militares pelo Ministério Público Federal. Ou seja, estes clientes foram
submetidos, concomitantemente, a processo criminal, disciplinar e cível pelo
mesmo fato delituoso.
Tratava-se da prática, em tese, de furto de combustível de aeronaves militares
estacionadas em pátio militar de uma base aérea.
O Promotor Militar, que os denunciou por crime militar, enviou à autoridade
militar competente um ofício para o fim de que fosse instaurado um CD para tais
militares. O Comandante da Unidade Militar instaurou o CD828 mediante portaria,
a fim de que fosse verificada a capacidade dos mesmos de permanecerem na ativa,
em virtude da prática do ato supostamente criminoso, ainda em discussão na
Justiça Militar. O Promotor também enviou ofício ao Ministério Público Federal
informando sobre a prática, em tese, de improbidade administrativa pelo mesmo
fato criminoso e disciplinar.
É incontestável que as esferas administrativa, criminal e cível são
independentes829, mas vejamos alguns questionamentos jurídicos plausíveis que
podem sustentar sobre a ilegalidade da abertura de CD antecipado: a) se os militares
forem absolvidos ou condenados no CD antecipado, poder-se-á descumprir830 o art.
2º, inciso III, do Decreto 71.500/72, caso sejam condenados à pena privativa de
828
Na Aeronáutica o CD é regulado pela ICA 111-4 (Conselho de Disciplina no âmbito do Comando da Aeronáutica)
aprovada pela Portaria nº 235/GC3, de 04 de abril de 2007.
829
RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. COTEJO
ANALÍTICO. INEXISTÊNCIA. SIMILITUDE FÁTICA. DEMISSÃO. SENTENÇA PENAL ABSOLUTÓRIA.
FALTA RESIDUAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO. SÚMULA 18/STF. PRESCRIÇÃO. TERMO A QUO.
SÚMULA 07/STJ. PUBLICAÇÃO. ATO DEMISSÓRIO. 1. Não se conhece do recurso especial, com base no
art. 105, inciso III, alínea “c”, da CF, quando o recorrente não realiza o cotejo analítico entre acórdãos que
guardem similitude fática, nos termos dos artigos 541, parágrafo único, do Código de Processo Civil, e 255,
§ 1º, “a”, e § 2º, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. Precedentes. 2. O Tribunal de origem
constatou a existência de falta residual não englobada inteiramente pela absolvição penal superveniente,
razão pela qual considerou a data em que foi publicado o ato demissório como o termo a quo para a contagem
do lapso prescricional, e não a data em que publicada a sentença absolutória, para fins de reintegração do
militar. 3. Prevalece no direito brasileiro a regra da independência das instâncias penal, civil e disciplinar,
ressalvadas algumas exceções, v.g, em que a decisão proferida no juízo penal fará coisa julgada na seara cível
e administrativa. 4. Neste sentido, a responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso de
absolvição criminal que negue a existência do fato ou sua autoria, nos termos do art. 126 da Lei n.º 8.112/90,
exceto se verificada falta disciplinar residual, não englobada pela sentença penal absolutória. Inteligência da
Súmula 18/STF. 5. (...). (STJ - REsp 1199083/SP, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado
em 24/08/2010, DJe 08/09/2010)
830
No âmbito da Aeronáutica, a título de exemplo, a letra d do inciso 2.1.1 da ICA 111-4 (Conselho de Disciplina)
informa que a instauração do CD será efetivada após o trânsito em julgado da sentença condenatória inferior a 2
(dois) anos. Esta norma interna castrense é decorrente do inciso III do art. 2º do Decreto 71.500/72: condenado
por crime de natureza dolosa, não previsto na legislação especial concernente à segurança do Estado, em
tribunal civil ou militar, a pena restritiva de liberdade individual até 2 (dois) anos, tão logo transite em julgado
a sentença. Concluiu-se, então, que o Administrador Militar estará obrigado a cumprir o inciso III do art. 2º
deste Decreto, porém o CD contra meus clientes foi antecipado, já havendo, inclusive, uma decisão transitada
em julgado na esfera administrativa disciplinar no sentido das absolvições. Na minha opinião jurídica instaurar
CD antecipado por fato idêntico discutido na Justiça Militar é ilegal, pois contraria o próprio Decreto do CD,
logo, o princípio da independência das instâncias deve, neste caso específico, ser aplicado em harmonia com os
princípios da legalidade e da razoabilidade.
831
Súmula nº 19 do STF: É inadmissível segunda punição de servidor público, baseada no mesmo processo
em que se fundou a primeira.
832
O CD possui natureza jurídica de processo administrativo disciplinar.
833
DIREITO ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. POLICIAL MILITAR. MANDADO DE
SEGURANÇA. INFRAÇÃO DISCIPLINAR. EXPULSÃO. ABSOLVIÇÃO NO PROCESSO CRIMINAL
POR AUSÊNCIA DE PROVA. ART. 439, “C”, DO CPPM. INDEPENDÊNCIA DAS ESFERAS PENAL E
ADMINISTRATIVA. PRECEDENTES DO STJ. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. As esferas
criminal e administrativa são independentes, estando a Administração vinculada apenas à decisão do juízo
criminal que negar a existência do fato ou a autoria do crime. Precedentes do STJ. 2. A absolvição na esfera
penal fundada na alínea “c” do art. 439 do CPPM (“não existir prova de ter o acusado concorrido para a
infração penal”) não é capaz de desconstituir a punição administrativa aplicada em virtude do cometimento
de infração disciplinar. 3. (...). (STJ - REsp 1028436/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA
TURMA, DJe 03/11/2010)
834
Apenas a título de esclarecimento, pode o leitor se perguntar: foi ajuizada alguma ação para anular a portaria que
instaurou o CD? A resposta é negativa e tal inércia teve objetivo técnico de defesa, haja vista que eles poderiam
ser absolvidos no CD. Todavia, caso fossem condenados, aí sim, seria ajuizada ação anulatória. Ademais, não
ajuizei ação antes da decisão final do CD em virtude de que conheço a reação dos Oficiais em relação a uma ação
judicial. Entendi sensato não atacar o CD, pois seus membros poderiam prejudicar meus clientes no momento
do julgamento pelo simples fato de haver uma ação judicial em andamento. Se meus clientes tivessem sido
condenados no CD, sem dúvidas, o Judiciário, através de ação ordinária, iria decidir se é ou não legal instaurar
um CD antecipado. Porém, felizmente, os meus clientes foram absolvidos por unanimidade de votos dos membros
do CD e, ressalte-se, ainda, que não houve qualquer imputação do cometimento de transgressões disciplinares.
835
Neste sentido há decisão mais recente do STF em sede de repercussão geral:
SERVIDOR PÚBLICO. POLICIAL MILITAR. PROCESSO ADMINISTRATIVO. FALTA DISCIPLINAR.
EXCLUSÃO DA CORPORAÇÃO. Ação penal em curso, para apurar a mesma conduta. Possibilidade.
Independência relativa das instâncias jurisdicional e administrativa. Precedentes do Pleno do STF. Repercussão
geral reconhecida. Jurisprudência reafirmada. Recurso extraordinário a que se nega provimento. Apresenta
repercussão geral o recurso que versa sobre a possibilidade de exclusão, em processo administrativo, de policial
militar que comete faltas disciplinares, independentemente do curso de ação penal instaurada em razão da
mesma conduta. (STF - ARE 691306 RG, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, julgado em 23/08/2012, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-178 DIVULG 10-09-2012 PUBLIC 11-09-2012)
O CPM, em seu art. 98, inciso IV, informa que em havendo condenação é
possível a exclusão das Forças Armadas como pena acessória:
Art. 98. São penas acessórias:
(...)
IV - a exclusão das forças armadas;
(...)
838
A identificação dos militares considerados Praças comuns e especiais está discriminada no quadro em anexo
ao art. 16 da Lei 6.880/80.
839
Agravo Regimental no Agravo no Recurso Extraordinário 723596, julgado em 13/08/2013, publicado no
DJe-171 de 30.08.2013.
840
APELAÇÃO. CONCUSSÃO. Preliminar de nulidade por ausência de exame de corpo de delito rejeitada
à unanimidade, haja vista não se constituir em ausência de laudo, mas arguição de defeito, já preclusa, de
degravação de conversa por dois oficiais peritos da Marinha. Objeção que não se sustenta pois a degravação é
mera peça auxiliar à gravação em áudio juntada aos autos, da qual não se contestou a autenticidade. O crime de
concussão difere do crime de corrupção passiva pelo fato de que, naquela infração, a ação do servidor público
impõe ao seu interlocutor o receio de uma represália, no caso dos autos, ser alocado em departamento cujas
condições de trabalho seriam as piores da unidade militar. Aumento na pena de 2/3 (dois terços) em razão da
continuidade delitiva, plenamente legítima devido ao número elevado de vítimas lesadas, enquanto lotados os
agentes no Departamento Pessoal da Marinha. É inexorável a exclusão da Força quando aplicada pena privativa
de liberdade superior a 2 (dois) anos à praça, não se cogitando em “reformatio in pejus” quando o tribunal
repara a sentença condenatória que não a explicitou, haja vista a sua natureza jurídica de pena acessória.
Preliminar rejeitada. Por unanimidade. Apelo conhecido e desprovido. Por maioria. APELAÇÃO. CONCUSSÃO.
Preliminar de nulidade por ausência de exame de corpo de delito rejeitada à unanimidade, haja vista não se
constituir em ausência de laudo, mas arguição de defeito, já preclusa, de degravação de conversa por dois
oficiais peritos da Marinha. Objeção que não se sustenta pois a degravação é mera peça auxiliar à gravação
em áudio juntada aos autos, da qual não se contestou a autenticidade. O crime de concussão difere do crime de
corrupção passiva pelo fato de que, naquela infração, a ação do servidor público impõe ao seu interlocutor o
receio de uma represália, no caso dos autos, ser alocado em departamento cujas condições de trabalho seriam as
piores da unidade militar. Aumento na pena de 2/3 (dois terços) em razão da continuidade delitiva, plenamente
legítima devido ao número elevado de vítimas lesadas, enquanto lotados os agentes no Departamento Pessoal
da Marinha. É inexorável a exclusão da Força quando aplicada pena privativa de liberdade superior a 2 (dois)
anos à praça, não se cogitando em “reformatio in pejus” quando o tribunal repara a sentença condenatória que
não a explicitou, haja vista a sua natureza jurídica de pena acessória. Preliminar rejeitada. Por unanimidade.
Apelo conhecido e desprovido. Por maioria. (STM – Apelação Criminal nº 0000053-44.2008.7.01.0401/RJ - Rel.
Min. Marcos Martins Torres – j. 27.08.13 - DJe de 02.10.2013)
841
Se a condenação da Praça das Forças Auxiliares for decorrente de crimes comuns, ou seja, não previstos no
CPM, não se aplicará a previsão do § 4º do art. 125 da CF/88, podendo-se citar, a título de exemplo, a seguinte
decisão do STJ:
HABEAS CORPUS. POLICIAL MILITAR CONDENADO POR HOMICÍDIO SIMPLES CONSUMADO
E TENTADO. PERDA DO CARGO DECRETADA COMO EFEITO SECUNDÁRIO DA SENTENÇA.
POSSIBILIDADE. CRIME COMUM. DESNECESSIDADE DE PROCEDIMENTO ESPECÍFICO.
EXIGÊNCIA APENAS NOS CASOS DE CRIMES MILITARES. DENEGAÇÃO DA ORDEM. 1. A perda
do posto e da patente dos oficiais, bem como da graduação das praças da corporação militar, por decisão do
tribunal competente, mediante procedimento específico, nos termos do artigo 125, § 4º, da Constituição Federal,
só é aplicável quando se tratar de crime militar. 2. Nas condenações de policiais militares ocorridas na Justiça
Comum, compete ao juiz prolator do édito condenatório, ou ao respectivo Tribunal, no julgamento da apelação,
decretar a perda da função pública. 3. No caso dos autos, o paciente foi condenado por crime doloso contra a
vida, nas modalidades tentada e consumada, praticado contra civis, ou seja, por delito comum, de forma que
inexiste qualquer nulidade na imposição da perda do cargo público que ocupava pelo Tribunal de Justiça do
Estado de Mato Grosso do Sul, por ocasião do julgamento de apelação interposta pelo Ministério Público. 4.
Ordem denegada. (STJ - HC 144.441/MS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, DJe 30/08/2010)
842
Nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul o Tribunal competente será o respectivo Tribunal
de Justiça Militar, já noutros, os respectivos Tribunais de Justiça.
843
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ADMINISTRATIVO.
MILITAR. CONDENAÇÃO CRIMINAL. EXCLUSÃO DA CORPORAÇÃO. ATO DO COMANDANTE
GERAL. AUSÊNCIA DE PROCESSO ESPECÍFICO QUE PROPICIASSE AO PRAÇA O EXERCÍCIO
DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. 1. A perda da graduação das praças das polícias militares,
subordina-se à decisão do Tribunal competente, mediante procedimento específico. (...). (STF - ARE 643815
AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 26/06/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-
159 DIVULG 13-08-2012 PUBLIC 14-08-2012)
844
AGRAVO REGIMENTAL (...). 2. A Corte de origem concluiu, com base na legislação local e nos fatos e nas
provas dos autos, que não houve violação dos princípios da ampla defesa e do contraditório, uma vez que no
procedimento administrativo disciplinar foi oportunizada defesa ao ora agravante, sendo que a pena de demissão
foi aplicada dentro dos ditames legais e de forma fundamentada. 3. Inadmissível em recurso extraordinário a
análise da legislação local e o reexame de fatos e provas dos autos. Incidência das Súmulas nºs 280 e 279/STF.
4. O art. 125, § 4º, da Constituição Federal somente se aplica quando a perda da graduação for pena acessória
de sanção criminal aplicada em processo penal, e não, como no caso dos autos, quando o Comando-Geral da
Polícia aplicar a pena de demissão após apuração de falta grave em processo administrativo disciplinar. 5.
Agravo regimental não provido. (STF - ARE 725639 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma,
julgado em 04/06/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-165 DIVULG 22-08-2013 PUBLIC 23-08-2013)
§ 4º. Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados,
nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares
militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao
tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da
graduação das praças.
845
Suspensão condicional da pena significa, em síntese, a suspensão da execução da pena restritiva de liberdade,
ou seja, o condenado não será preso, ficará sob observação do Poder Judiciário por determinado tempo, sendo que
depois de transcorrido este lapso temporal e cumpridas todas as exigências legais, será extinta a pena condenatória.
846
Competência e condições para a concessão do benefício
Art. 606. O Conselho de Justiça, o Auditor ou o Tribunal poderão suspender, por tempo não inferior a 2 (dois)
anos nem superior a 6 (seis) anos, a execução da pena privativa da liberdade que não exceda a 2 (dois) anos,
desde que:
a) não tenha o sentenciado sofrido, no País ou no estrangeiro, condenação irrecorrível por outro crime a pena
privativa da liberdade, salvo o disposto no § 1º do art. 71 do Código Penal Militar;
b) os antecedentes e a personalidade do sentenciado, os motivos e as circunstâncias do crime, bem como sua
conduta posterior, autorizem a presunção de que não tornará a delinquir.
Restrições
Parágrafo único. A suspensão não se estende às penas de reforma, suspensão do exercício do posto, graduação
ou função, ou à pena acessória, nem exclui a medida de segurança não detentiva.
847
Art. 696. O juiz poderá suspender, por tempo não inferior a 2 (dois) nem superior a 6 (seis) anos, a execução
das penas de reclusão e de detenção que não excedam a 2 (dois) anos, ou, por tempo não inferior a 1 (um) nem
superior a 3 (três) anos, a execução da pena de prisão simples, desde que o sentenciado:
I - não haja sofrido, no País ou no estrangeiro, condenação irrecorrível por outro crime a pena privativa da
liberdade, salvo o disposto no parágrafo único do art. 46 do Código Penal;
II - os antecedentes e a personalidade do sentenciado, os motivos e as circunstâncias do crime autorizem a
presunção de que não tornará a delinquir.
Parágrafo único. Processado o beneficiário por outro crime ou contravenção, considerar-se-á prorrogado o
prazo da suspensão da pena até o julgamento definitivo.
848
I. Sursis: denegação fundada nos antecedentes do condenado, que elidiriam a presunção de que não voltaria
a delinquir: impossibilidade de rever em habeas corpus esse prognóstico. II. Sursis: sendo forma de execução
penal, posto sem privação da liberdade, impede, enquanto não extinta a pena, a transferência para a reserva
remunerada (L. 6880/80 - Est. dos Militares -, art. 97, § 4º). (STF HC 80203, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA
PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 19/09/2000, DJ 13-10-2000 PP-00011 EMENT VOL-02008-03 PP-
00493)
849
Enquanto o militar das Forças Armadas estiver no período de sursis, indiciado (respondendo) em inquérito
ou processo criminal de qualquer jurisdição, não poderá ser transferido, a pedido, para a reserva remunerada,
nos termos do § 4º do art. 97 da Lei 6.880/80.
Art. 27. Fica cancelado, junto ao Ofício Civil e ao Tribunal Superior Eleitoral,
o registro do partido que, na forma de seu estatuto, se dissolva, se incorpore ou
venha a se fundir a outro.
Art. 28. O Tribunal Superior Eleitoral, após trânsito em julgado de decisão,
determina o cancelamento do registro civil e do estatuto do partido contra o qual
fique provado:
I - ter recebido ou estar recebendo recursos financeiros de procedência estrangeira;
II - estar subordinado a entidade ou governo estrangeiros;
III - não ter prestado, nos termos desta Lei, as devidas contas à Justiça Eleitoral;
IV - que mantém organização paramilitar.
§ 1º. A decisão judicial a que se refere este artigo deve ser precedida de processo
regular, que assegure ampla defesa.
§ 2º. O processo de cancelamento é iniciado pelo Tribunal à vista de denúncia de
qualquer eleitor, de representante de partido, ou de representação do Procurador-
Geral Eleitoral.
(...)
V – o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos políticos;
850
É a Lei 7.170/83 que trata da segurança nacional, sendo que à época da promulgação do Decreto 71.500/72
estava em vigor o Decreto-Lei 898/69.
851
Em 2004, quando procurei um partido político para me lançar candidato a vereador pelo Município de Natal/
RN, o Presidente do partido insistiu em que eu participasse da Diretoria, haja vista que eu era Bacharel em
Direito. E, embora, tivesse anseio por tal cargo, não pude aceitá-lo, pois, por ser militar da ativa, todos os meus
atos partidários seriam nulos e, certamente, acabaria por prejudicar o partido político.
852
Escrevi poderão em virtude de que os atos serão nulos se houver alguma notícia de inelegibilidade ou pedido de
impugnação (ver Capítulo 15), a fim de que o Judiciário possa decretar a nulidade destes atos. Ou seja, se ninguém
questionar a legalidade dos atos partidários praticados por este militar da ativa, ocorrerá tudo tranquilamente.
853
Paramilitar: ver tópico 14.2.
por si só, seja membro de uma associação que venha a ser suspensa ou dissolvida
por decisão judicial, será submetido ao CD? A resposta é negativa, pois este inciso
XVII revogou tacitamente a palavra associação contida no parágrafo único do art.
2º deste Decreto.
Os Oficiais das Forças Armadas e Auxiliares têm pavor das Associações854
de Classe compostas por militares, pois, inegavelmente, tais instituições privadas
fortalecem a classe militar. Um exemplo do poder de uma associação está disposto
no § 2º do art. 74 da CF/88:
Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma
integrada, sistema de controle interno com a finalidade de:
(...)
§ 2º. Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima
para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal
de Contas da União.
854
Aprofundarei o estudo das Associações de Classe no Capítulo 14.
855
A instauração e nomeação dos membros do CD é efetivada mediante portaria.
856
De acordo com o art. 4, § 2º, do Decreto 71.500/72, não poderão participar do CD aqueles Oficiais que tenham
particular interesse na decisão do CD e os Oficiais que tenham entre si, com o acusador ou com o acusado,
parentesco consanguíneo ou afim, na linha reta ou até quarto grau de consaguinidade colateral ou de natureza civil.
Não poderão, também, participar os Oficiais que formularam as acusações que resultaram na instauração do CD.
4.9 - IMPEDIMENTOS
Não podem fazer parte do Conselho:
a) o oficial que formulou a acusação;
b) oficiais que tenham entre si, com o acusador ou com o acusado parentesco
consanguíneo ou afim, na linha reta ou até o 4° grau de consanguinidade colateral
ou de natureza civil;
c) oficiais que tenham particular interesse nas decisões do Conselho; e
d) oficiais que não tenham asseguradas suas permanências definitivas no Serviço
Ativo da Marinha (SAM).
857
Esta característica pode levar muitas vezes a que todo o CD seja nulo por falhas processuais graves, o que
não é raro. Costumo dizer aos meus clientes o seguinte: se bacharéis do Curso de Direito (Juízes, Promotores,
Delegados, Advogados, dentre outros) cometem falhas processuais grosseiras que podem levar um processo a ser
nulo, imaginem o que Oficiais sem qualquer noção básica de direito podem causar ao CD? Certa vez, quando era
militar, um Oficial que foi nomeado encarregado de um IPM, pediu-me orientações sobre alguns procedimentos,
dizendo que não sabia nada de lei. Então lhe perguntei: mas no curso de formação de oficiais não há disciplina
sobre direito? Respondeu-me: tem, mas é tão pouca que não serve para nada!
858
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO – MILITAR – PROCESSO DISCIPLINAR – VIOLAÇÃO
AO PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL – CLÁUSULA PÉTREA - NULIDADE DO ATO
ADMINISTRATIVO. O desligamento de militar das fileiras da Aeronáutica, a bem da disciplina, exige a
apuração da suposta falta através de regular procedimento administrativo, com observância aos princípios
do contraditório e ampla defesa (art. 5º , LV). Também o princípio do julgador imparcial é aplicável aos feitos
administrativos, e não pode aquele que é testemunha de acusação, no caso a autoridade coatora, dar a palavra
determinante sobre o veredito do militar acusado, aprovando ou não o parecer do Conselho de Disciplina.
Sentença confirmada. Recurso desprovido. (TRF2 - APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA nº 22142/
RJ – Rel. Juiz Guilherme Couto - j. 07.05.02 - DJ de 07.05.02, p. 357)
Então, dou a seguinte dica: caso um militar seja submetido a um CD, antes
da audiência para interrogatório, requeira por escrito o direito de ter acesso e retirar
cópias dos autos e principalmente do libelo acusatório, informando que tal medida
permitirá o exercício constitucional da ampla defesa. E, caso o Presidente do CD
indefira o pedido, tal ilegalidade poderá servir futuramente para a anulação do CD
mediante ação judicial.
Os leitores, talvez, estejam se perguntado: o autor deste livro, quando era
militar e foi submetido ao CD, após ser negado o direito de conhecer, previamente
ao interrogatório, o libelo acusatório, ajuizou alguma ação judicial para anular o
CD? A resposta é negativa e o motivo foi o seguinte: eu não tinha nenhum interesse
em permanecer na Aeronáutica, pois caso fosse excluído, meus beneficiários
previdenciários receberiam pensão militar equivalente à minha remuneração
integral e eu poderia exercer a Advocacia. E foi exatamente isso que ocorreu, e
sem dúvidas, minha exclusão foi uma benção e não uma punição.
O interrogatório, seja em âmbito penal, cível ou administrativo, é um meio de
defesa e em determinadas situações a principal e única oportunidade do acusado se
defender pessoalmente perante o magistrado ou à autoridade administrativa. Assim,
o militar-acusado no CD deve estar muito bem preparado física e psicologicamente
para prestar seu depoimento. Não é possível a intervenção de terceiros nas respostas,
assim como também não será permitido, em regra, que o Advogado faça perguntas
ao acusado para melhor esclarecer suas respostas sobre as perguntas de iniciativa
do Presidente do CD. É claro que nas razões escritas o Advogado irá fazer a defesa
do militar-acusado, podendo, obviamente, complementar e corrigir eventuais falhas
ou omissões no depoimento do mesmo, todavia, o ideal é que o interrogatório seja
perfeito. Sempre digo aos meus clientes que serão interrogados na Justiça Militar
ou em CD que a possível absolvição deles começa no interrogatório e que eu não
poderei, a princípio, interferir.
O Decreto 71.500/72 prevê em seu art. 16 o seguinte:
Art. 16. Aplicam-se a este Decreto, subsidiariamente860, as normas do Código de
Processo Penal Militar.
860
Significa dizer que em havendo omissão neste Decreto de algum procedimento (prazos, depoimentos, produção
de provas, etc) necessário para o regular trâmite do processo administrativo disciplinar (CD), aplicar-se-á as
regras processuais contidas no Código de Processo Penal Militar - CPPM. Ou seja, utilizar-se-á o CPPM para
complementar o Decreto.
Art. 305. Antes de iniciar o interrogatório, o juiz observará ao acusado que, embora
não esteja obrigado a responder às perguntas que lhe forem formuladas, o seu
silêncio poderá ser interpretado em prejuízo da própria defesa.
Perguntas não respondidas
Parágrafo único. Consignar-se-ão as perguntas que o acusado deixar de responder
e as razões que invocar para não fazê-lo.
Para aqueles leitores que conhecem a CF/88, observa-se o absurdo deste ato
do Presidente do CD, posto que tal parte final do caput do art. 305 está revogada
tacitamente em virtude da não recepcionalidade862 pela norma constitucional
vigente.
O CPP também continha tal dispositivo não recepcionado, porém, o legislador
fez as devidas correções em 2003, conforme se pode observar, respectivamente,
na leitura do antigo e do novo art. 186:
861
Foi instaurado um único CD para os 02 (dois) militares, todavia, os interrogatórios são separados, pois um não
pode ouvir o depoimento do outro, assim como previsto no art. 304 do CPPM (aplicado de forma subsidiária).
862
Quando uma norma jurídica anterior à promulgação da Constituição Federal não é compatível com a nova
ordem constitucional, diz-se que a norma não foi recepcionada pela Constituição vigente. Inconstitucionalidade,
em síntese, é norma contrária e posterior à promulgação da Constituição Federal.
863
ADMINISTRATIVO - MILITAR - SARGENTO DAAERONÁUTICA - TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES
- DESRESPEITO À HIERARQUIA E À DISCIPLINA CONFIGURADO - DESLIGAMENTO DA FAB –
LEGALIDADE. 1. O Estatuto dos Militares é expresso em regular as obrigações, direitos e deveres, além das
prerrogativas dos membros das Forças Armadas, estas organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob
a autoridade suprema do Presidente da República, e dentro dos limites da lei. 2. Nos casos de descumprimento
dos deveres previstos na legislação militar e, bem assim, daqueles constantes dos regulamentos específicos de
cada Força, além da responsabilidade funcional, pecuniária, disciplinar ou penal, a que o militar estará sujeito,
à Administração será também permitido, na apuração de tais medidas, decidir pela incompatibilidade do militar
para exercer as funções a ele inerentes. 3. Não há ilegalidade no ato de exclusão do Impetrante da Força Aérea
Brasileira, na medida em que o procedimento administrativo adotado pela Administração Castrense, através dos
quais foram aplicadas diversas punições disciplinares ao militar, obedeceu à forma prevista em lei, respeitando
o contraditório e a ampla defesa, estes consubstanciados pela interposição de recurso administrativo junto
ao Comandante da Aeronáutica, que, em segunda instância, manteve a decisão do Conselho de Disciplina. 4.
Inexistência de prova quanto às alegações de perseguição por parte dos superiores hierárquicos. 5. Apelação
desprovida. Sentença confirmada. (TRF2 - AMS 200651010122990 – 6ª Turma Especializada - Rel. Des. Federal
Frederico Gueiros - E-DJF2R de 14.09.2010)
(com a redação dada pela Lei nº 10.792/03) tem o condão de substituir a regra
do artigo 303 do Código de Processo Penal Militar. Não substitui e nem poderia
fazê-lo, pois embora a legislação comum tenha aplicação subsidiária na Justiça
Castrense, a lei específica tem autonomia e prevalência sobre a ordinária.
Indeferida a Correição Parcial, mantendo-se a decisão hostilizada. Decisão
majoritária. (STM – Correição Parcial nº 2005.01.001888-6/PE – Rel. Min. Flávio
Lencastre - j. 19.04.05 - DJ de 03.06.2005)
Art. 9º. Ao acusado é assegurada ampla defesa, tendo ele, após o interrogatório,
prazo de 5 (cinco) dias para oferecer suas razões por escrito, devendo o Conselho
de Disciplina fornecer-lhe o libelo acusatório, onde se contenham com minúcias o
relato dos fatos e a descrição dos atos que lhe são imputados.
pode-se, desde já, surgir uma pergunta: após a instrução processual administrativa,
ou seja, realizados todos os depoimentos e diligências, se houver, abrir-se-á prazo
para oferecimento de alegações finais? O Decreto 71.500/72 não prevê alegações
finais866! Será possível complementar as razões escritas (defesa prévia) após o
término da instrução processual? Pelo princípio da ampla defesa e aplicando-se o
art. 16 do Decreto, entendo cabível o oferecimento de alegações escritas (finais),
nos termos do caput art. 428 do CPPM:
O art. 427 citado no art. 428, refere-se ao prazo para requerimentos, como
por exemplo, de diligências, após o depoimento da última testemunha da defesa,
então vejamos o caput:
866
Quando fui submetido a CD, não me foi oportunizado apresentar alegações finais, todavia, como já dito, não
questionei tal fato na Justiça, pois o CD para mim foi um grande presente.
867
O art. 427 é, em regra, utilizado para requerer diligências com base em fatos ocorridos durante a instrução
processual, porém, ressalte-se, é possível fazer requerimentos de diligências do início ao fim da instrução
processual.
868
ADMINISTRATIVO – MILITAR – REFORMA – CONSELHO DE DISCIPLINA – CERCEAMENTO DO
DIREITO DE DEFESA. Entendo, data vênia, que o juiz a quo decidiu em consonância com o entendimento
jurisprudencial, no sentido de que o ato que deu origem a reforma do Autor, não atendeu as garantias legais e
constitucionais, e que o mesmo não pode se defender adequadamente, condenando a União Federal a reintegrá-lo
aos quadros da Marinha de Guerra, na graduação em que se encontrava à época de sua reforma pelo conselho
Disciplinar. Apelação da União Federal, Remessa Oficial e Recurso Adesivo improvidos. (TRF2 – Apelação
Cível nº 9802415715/ES – 3ª Turma – Rel. Juiz Francisco Pizzolante - j. 27.05.03 - DJ de 13.08.2003, p. 27)
869
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO MILITAR. EXCLUSÃO A BEM DA DISCIPLINA.
RELATÓRIO DO CONSELHO DE DISCIPLINA. PROVAS NOS AUTOS CONTUNDENTES EM SENTIDO
CONTRÁRIO AO ADOTADO PELO CONSELHO. ANULAÇÃO DO RELATÓRIO. REINTEGRAÇÃO.
1. “Ao Judiciário cabe examinar ato disciplinar apenas sob o prisma de sua idoneidade, sua motivação, não
se permitindo discussão sobre se determinada sanção é justa ou injusta; adequada ou inadequada, desde que
motivada e em conformidade com a apuração dos fatos” (STJ, REsp 67.075/DF, Relator Ministro José Delgado,
DJ de 03/03/97). 2. Os elementos dos autos permitem inferir que o entendimento a que chegou o Conselho de
Disciplina em muito se divorciou das provas constantes nos autos, sendo possível concluir que o resultado
encontrado não condiz de maneira nenhuma com os fatos que deveriam ter norteado o Relatório, ficando este
anulado, bem como seus efeitos. 3. Ônus de sucumbência invertidos. Isenta a Ré do ressarcimento das custas, por
litigar a parte autora sob o pálio da gratuidade judiciária. 4. Apelação provida. 5. Sentença reformada. (TRF1 -
AC 200339000077913 – 2ª Turma – Rel. Des. Federal Neuza Maria Alves da Silva, TRF1 - e-DJF1 de 05.11.2009)
Art. 295. É admissível, nos termos deste Código, qualquer espécie de prova, desde
que não atente contra a moral, a saúde ou a segurança individual ou coletiva, ou
contra a hierarquia ou a disciplina militares.
870
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL - AÇÃO ANULATÓRIA – (...). 1. Se, de um lado, como é fato
legislado (art. 130 e art. 131 do CPC), o julgador pode determinar a produção de provas, no intento de formar
sua convicção (livre, mas racional), por outro, não menos certo que elas deverão ser “necessárias à instrução
do processo”, indeferindo-se aquelas que forem inócuas, desinfluentes ou que já tenham sido, ainda que de
outra forma, apresentadas. 2. A ampla defesa, cuja maior expressão é o direito à produção de prova, se exerce
nos limites da própria lei e, portanto, por ela é condicionada. Porque direito absoluto nenhum há, o pedido de
produção de provas pode, à luz da situação fática e a juízo do julgador, que dela é destinatário, ser indeferido,
sem que se caracterize cerceamento de defesa, tanto mais se ausentes “argumentos precisos e contundentes” a
justificá-la (REsp nº 443.173/SC). 3. Se o autor pretende a oitiva de testemunhas, deve enumerá-las e indicar
precisamente (não de forma genérica) o que se pretende provar com cada uma delas 4. Agravo de instrumento
não provido. 5. Peças liberadas pelo Relator, em Brasília, 23 de julho de 2013. , para publicação do acórdão.
(TRF1 – AG 0025221-63.2013.4.01.0000/MG - 7ª Turma - Rel. Juiz Federal Rafael Paulo Soares Pinto (CONV.)
- e-DJF1 de 02.08.2013, p. 278)
Habeas Corpus. Processo Penal Militar. Art. 417, §§ 2º e 3º do CPPM. Sua não
recepção pela atual Constituição Federal. Ofensa aos princípios da isonomia e
da ampla defesa. Direito do acusado de arrolar igual número de testemunhas
facultado ao Ministério Público pelo art. 77, h do CPPM, sem limite quanto às
informantes (grifo meu). Excesso de prazo. Não configuração. Responsabilidade
pela demora atribuída ao réu. Precedentes: RHC nº 57.443 e HC nº 67.214.
Habeas corpus concedido em parte. (STF - HC Nº 80.855, Relator(a): Min. ELLEN
GRACIE, Primeira Turma, julgado em 09/10/2001, DJ 01-08-2003 PP-00120
EMENT VOL-02117-41 PP-08952)
Requisitos da denúncia
Art. 77. A denúncia conterá:
(...)
h) o rol das testemunhas, em número não superior a seis, com a indicação da sua
profissão e residência; e o das informantes com a mesma indicação.
(...)
871
Célio Lobão (LOBÃO, Célio. Direito processual penal militar. São Paulo: Método, 2009. p-365) dá a
seguinte conceituação: Informante é a testemunha que não está incluída dentre as dispensadas de depor, mas
não lhe será deferido compromisso, pelas ligações de parentesco, amizade, afetividade com o acusado, ou com
o ofendido ou a que tiver interesse direto no resultado do processo.
Art. 356. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além
das indicadas pelas partes.
Testemunhas referidas
§ 1º. Se ao juiz parecer conveniente, ainda que não haja requerimento das partes,
serão ouvidas as pessoas a que as testemunhas se referirem.
(...)
872
OITIVA DE TESTEMUNHAS REFERIDAS. I - Segundo o Magistério de Júlio Fabbrini Mirabete:”Podem
ser ouvidas outras testemunhas; são as referidas pelas que já depuseram, se ao Juiz parecer conveniente ......
Pode a parte requerer a oitiva da testemunha referida, cabendo ao Juiz deferir o pedido, ou não (R 567/459).
....”. II - No caso concreto, Defesa arrolou, como referidas, duas testemunhas, que não foram referidas pelas
que depuseram. III - Pedido de Correição Parcial indeferido para, mantido o Despacho atacado, determinar-se
o prosseguimento do Feito. IV - Decisão uniforme. (STM – Correição Parcial 2000.01.001717-0/RJ - Rel. Min.
José Sampaio Maia – j. 13.06.00 – DJ de 14.07.2000)
873
Não raramente, na prática, o interrogante é o Presidente do CD.
874
§ 1º O membro mais antigo do Conselho de Disciplina, no mínimo um oficial intermediário, é o presidente;
o que lhe segue em antiguidade é o interrogante e relator, e o mais moderno, o escrivão.
Art. 10. O Conselho de Disciplina pode inquirir o acusador ou receber, por escrito,
seus esclarecimentos, ouvindo, posteriormente, a respeito, o acusado.
Ocorre, entretanto, que tal dispositivo não foi recepcionado pela CF/88,
pois, além de infringir a isonomia entre as partes, contraria, flagrantemente, o
princípio da ampla defesa. Logo, em sendo o acusador ou ofendido inquirido
oralmente ou por escrito, ou por precatória, dever-se-á permitir à Defesa fazer
perguntas em audiência ou oferecer quesitos para uma resposta por escrito. O
fundamento jurídico para tal não recepcionalidade é simples: o art. 10 é forma
de produção de prova, assim, o militar-acusado tem os mesmos direitos que os
membros do CD.
O CPPM prevê em seus §§ 3º e 4º do art. 352 a possibilidade de se
contraditar a testemunha antes de iniciado seu interrogatório e contestar o conteúdo
de seu depoimento, então vejamos:
875
Esse tipo de procedimento ocorre quando o interrogatório é realizado mediante carta precatória, nos termos
do art. 359 do CPPM, a fim de se ouvir testemunha que resida fora da jurisdição da Auditoria Militar.
876
Seja nos processos administrativos ou judiciais, em sendo negado, ilegalmente, algum pedido da defesa, faz-se,
absolutamente necessário que seja requerido às autoridades encarregadas que insiram em ata o indeferimento. Se
não constar em ata, não será possível o questionamento do indeferimento nas instâncias superiores: o que não
está nos autos não está no mundo jurídico.
877
Além, obviamente, por exemplo, do amigo íntimo, inimigo capital, e principalmente as mencionadas no art.
354 do CPPM, assim descrito:
Art. 354. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Excetuam-se o ascendente, o descendente,
o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, e o irmão de acusado, bem como pessoa que, com ele,
tenha vínculo de adoção, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato
e de suas circunstâncias. Não há impedimento legal de que tais pessoas sejam ouvidas em Juízo, todavia, serão
ouvidas como testemunhas informantes ou declarantes, haja vista estarem autorizadas a recusarem a depor e,
obviamente, não serão obrigadas a falar a verdade.
878
Aplica-se, analogicamente, o parágrafo único do art. 419 do CPPM, que assim dispõe: As perguntas recusadas
serão, a requerimento de qualquer das partes, consignadas na ata da sessão, salvo se ofensivas e sem relação
com o fato descrito na denúncia.
correição parcial879 ao STM, pois tal indeferimento não ficaria explícito em ata (o
que não está nos autos não está no mundo jurídico); e b) diversamente, entretanto,
ocorreria se tal indeferimento ficasse inserido em ata, pois a Defesa poderia requerer
correição parcial, ou mesmo, levantar preliminar de nulidade nas alegações escritas,
assim como em sede recursal, sob o fundamento de que o princípio constitucional
da ampla defesa foi infringido, assim como também o § 4º do art. 352 do CPPM.
Mas, certamente, neste momento, os leitores poderão estar se perguntando:
mas o que fazer se for negado tal pedido de contradita ou contestação no CD?
Primeiramente, como já dito, requerer que fique inserido em ata tal negativa, e
em seguida, caso se entenda oportuno, pode-se questionar tal ato administrativo
perante o Judiciário, através, por exemplo, de um mandado de segurança, pois
não foi observado o seguinte direito líquido e certo do militar-acusado: o direito a
contraditar e contestar o depoimento de uma testemunha, a fim de exercer em sua
plenitude o contraditório e a ampla defesa.
É permitida, subsidiariamente, a realização de acareações 880 no CD,
conforme disposições contidas no art. 365 e seguintes do CPPM.
879
Correição parcial está prevista no art. 498 do CPPM, não sendo, tecnicamente, considerada um recurso. É
destinada a corrigir abuso, erro ou omissão inescusável, ou corrigir ato tumultuário no processo cometido ou
consentido pelo Juiz-Auditor, não destinado, ressalte-se, a questionar mérito, mas sim questões processuais, o
famoso error in procedendo, que significa um erro processual cometido pelo magistrado.
880
Vejamos o que dispõe a DGPM-315 (Marinha):
4.33 - ACAREAÇÃO
4.33.1 - A acareação é admitida, e reduzida a termo (modelo do Anexo AF), sempre que houver divergência
em declarações sobre fatos ou circunstâncias relevantes, entre testemunhas ou entre o acusado e testemunhas.
(art. 365 do CPPM).
4.33.2 - O Inquiridor e o Relator explicarão aos acareados quais os pontos em que divergem e, em seguida, os
reinquirirão, cada um de per si e em presença do outro (art. 366 do CPPM).
4.33.3 - O acusado poderá solicitar ao Presidente que sejam reinquiridas as testemunhas acareadas (art. 366,
§ 2° do CPPM).
4.33.4 - Se ausente alguma testemunha, cujas declarações divirjam das de outra que esteja presente, a esta se
dará a conhecer os pontos da divergência (art. 367 do CPPM).
Esta Lei objetiva estabelecer normas básicas, então vejamos o art. 1º:
Art. 1º. Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo administrativo no
âmbito da Administração Federal direta e indireta, visando, em especial, à proteção
dos direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins da Administração.
881
Em sede de Justiça Militar não há defesa prévia (contestação criminal) ao início da instrução criminal, pois não
prevista no CPPM, ou seja, a Defesa somente irá se pronunciar sobre o mérito da denúncia depois de terminada
a instrução criminal, ou seja, nas alegações escritas. Na Justiça Penal Comum existe a defesa prévia, que passou
a ser considerada, na prática, uma contestação criminal, estando disciplinada nos arts. 396 a 397 do CPP.
que acontece no processo penal, onde o acusado se defenderá dos fatos inseridos
na denúncia e, se for o caso, dos aditamentos à mesma. Isso quer dizer que o CD
não poderá condenar o militar-acusado por fatos ou acusações não explicitadas no
libelo acusatório. É por isso que o libelo tem que ser minucioso (todos os fatos e
todas as acusações), conforme previsão contida no art. 9º do Decreto 71.500/72,
sob pela de nulidade absoluta do CD.
Por fim, caso as normas complementares de cada Força não prevejam a
oportunização de alegações escritas, cabível requerer previamente, principalmente,
nas razões escritas (defesa prévia), que depois de terminada a instrução, abra-se
prazo para oferecimento das alegações finais escritas883, invocando-se o art. 428
do CPPM e o art. 38 da Lei 9.784/99.
883
Voltando ao caso dos 2 (dois) clientes submetidos ao CD, foi requerida a abertura de prazo para oferecimento
das alegações finais, tendo sido deferido pelo Presidente.
884
Art . 11. O Conselho de Disciplina dispõe de um prazo de 30 (trinta) dias, a contar da data de sua nomeação,
para a conclusão de seus trabalhos inclusive remessa do relatório.
Parágrafo único. A autoridade nomeante, por motivos excepcionais, pode prorrogar até 20 (vinte) dias o prazo
de conclusão dos trabalhos.
885
Não raramente, alguns Advogados acreditam que a simples extrapolação de prazos processuais nos inquéritos,
sindicâncias e demais processos administrativos induzem na ilegalidade de uma futura persecução penal, cível
ou administrativa, o que não é correto. O Judiciário entende que tal demora é mera irregularidade administrativa,
não nulificando o futuro processo penal, cível ou administrativo.
886
AGRAVO REGIMENTAL. EMBARGOS DECLARATÓRIOS. RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE
SEGURANÇA. INOVAÇÃO RECURSAL. PRECLUSÃO CONSUMATIVA. PROCESSO DISCIPLINAR.
SÚMULA VINCULANTE Nº 5/STF. NÃO OBRIGATORIEDADE DE DEFESA TÉCNICA POR ADVOGADO.
AMPLA DEFESA DEVIDAMENTE OBSERVADA NO CASO. PRORROGAÇÃO DO PROCESSO
ADMINISTRATIVO POR DETERMINAÇÃO DO COMANDO GERAL DA POLÍCIA MILITAR. AUSÊNCIA
DE NULIDADE. 1. A alegação de que teria sido reconhecida, na esfera penal, a atipicidade da conduta do
agravante não foi formulada nas razões do recurso ordinário, de modo que não é possível sua análise em sede
de agravo regimental, em face da preclusão consumativa. Precedentes. 2. Não há falar em nulidade do feito
administrativo se demonstrado que ao servidor, representado inicialmente por defensor dativo no processo
disciplinar, foi devidamente assegurada a ampla defesa e o contraditório. 3. Tampouco há nulidade do processo
disciplinar ante a prorrogação, por mais 20 (vinte) dias, dos trabalhos do Conselho de Justificação em razão de
determinação do Comando Geral da Polícia Militar, e não do Governador, eis que não houve qualquer prejuízo
à defesa do servidor e a mera extrapolação do prazo para conclusão do processo administrativo disciplinar
não acarreta a sua nulidade. 4. Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg nos EDcl no RMS 30.468/PE, Rel.
Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 11/09/2012, DJe 19/09/2012)
Nos termos do art. 13, o relatório e o julgamento888 por parte dos membros
do CD não vinculam a autoridade nomeante. Mas será que, diante do ordenamento
887
O inciso VI do art. 106 e o inciso III do art. 125 da Lei 6.880/80 consideram que o CD faz um julgamento.
Analisando com atenção o art. 13, observa-se que o julgamento é feito pelos membros do CD, embora o art.
888
12 mencione apenas a realização do relatório. Ou seja, na prática, são os membros do CD que julgam o acusado.
889
Não nos esqueçamos que uma decisão de um TRF ou de uma Turma do STJ não é suficiente para vincular
os demais Juízes, assim, vários posicionamentos podem ocorrer, inclusive, entendendo pela vigência do art. 13.
890
No âmbito da Aeronáutica, por exemplo, cabe ao COMGEP (Comando Geral do Pessoal) a efetivação do ato
de reforma ou de exclusão a bem da disciplina do condenado no CD, conforme previsão disposta no inciso XXII
do art. 1º da Portaria 581/GC3, de 23 de agosto de 2010, então vejamos:
Art. 1º. Delegar competência ao Comandante-Geral do Pessoal para despachar em caráter final, obedecidas
as disposições legais e regulamentares, os seguintes assuntos:
(...)
XXII - exclusão a bem da disciplina ou a reforma das praças julgadas culpadas em Conselho de Disciplina, de
conformidade com o Decreto nº 71.500, de 5 de dezembro de 1972; e
(...)
III - que incidirem nos casos que motivarem o julgamento pelo Conselho de
Disciplina previsto no artigo 49 e nele forem considerados culpados.
892
ADMINISTRATIVO - MILITAR - SARGENTO DAAERONÁUTICA - TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES
- DESRESPEITO À HIERARQUIA E À DISCIPLINA CONFIGURADO - DESLIGAMENTO DA FAB –
LEGALIDADE. 1. O Estatuto dos Militares é expresso em regular as obrigações, direitos e deveres, além das
prerrogativas dos membros das Forças Armadas, estas organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob
a autoridade suprema do Presidente da República, e dentro dos limites da lei. 2. Nos casos de descumprimento
dos deveres previstos na legislação militar e, bem assim, daqueles constantes dos regulamentos específicos de
cada Força, além da responsabilidade funcional, pecuniária, disciplinar ou penal, a que o militar estará sujeito,
à Administração será também permitido, na apuração de tais medidas, decidir pela incompatibilidade do militar
para exercer as funções a ele inerentes. 3. Não há ilegalidade no ato de exclusão do Impetrante da Força Aérea
Brasileira, na medida em que o procedimento administrativo adotado pela Administração Castrense, através dos
quais foram aplicadas diversas punições disciplinares ao militar, obedeceu à forma prevista em lei, respeitando
o contraditório e a ampla defesa, estes consubstanciados pela interposição de recurso administrativo junto
ao Comandante da Aeronáutica, que, em segunda instância, manteve a decisão do Conselho de Disciplina. 4.
Inexistência de prova quanto às alegações de perseguição por parte dos superiores hierárquicos. 5. Apelação
desprovida. Sentença confirmada. (TRF2 - AMS 200651010122990 – 6ª Turma Especializada - Rel. Des. Federal
Frederico Gueiros - E-DJF2R de 14.09.2010)
respectiva Força Armada proferir decisão em última instância, nos termos do art.
15 do Decreto 71.500/72. Devo esclarecer que, com suporte na fundamentação
contida no tópico anterior sobre a parcial revogabilidade tácita do art. 13 deste
Decreto pela Lei 6.880/80, desconsiderarei em nosso estudo a seguinte parte final
do art. 14: da solução posterior da autoridade nomeante. Posto que, partindo da
premissa de que a autoridade nomeante não poderá discordar do julgamento do
CD, haja vista a revogabilidade tácita do art. 13, então, não há que se falar em
recurso contra solução posterior desta autoridade, logo, entendo que, a princípio,
somente caberá recurso contra decisão do CD.
Todavia, caso a autoridade nomeante entenda pela vigência do art. 13 e dê
solução diferente ao julgamento proferido pelo CD, então, neste caso, sem dúvidas,
caberá o recurso contra esta decisão.
Vejamos, agora, os arts. 14 e 15:
Art. 14. O acusado ou, no caso de revelia, o oficial que acompanhou o processo
podem interpor recurso da decisão do Conselho de Disciplina ou da solução
posterior da autoridade nomeante.
Parágrafo único. O prazo para interposição de recurso é de 10 (dez) dias, contados
da data na qual o acusado tem ciência da decisão do Conselho de Disciplina ou
da publicação da solução da autoridade nomeante.
COMANDANTE DO EXÉRCITO
DESPACHO DECISÓRIO Nº 135/2007
Em 22 de outubro de 2007
PROCESSO: PO nº 712772/07-A1/GCEx
ASSUNTO: Recurso em Conselho de Disciplina
3º Sgt QE (081327573-2) (nome excluído intencionalmente)
1. Processo originário do Ofício nº 263 – Asse Jur, de 25 Set 07, do Comando
Militar do Oeste (Campo Grande – MS), encaminhando os autos do Conselho
de Disciplina a que foi submetido o 3º Sgt QE (081327573-2) (nome excluído
intencionalmente), servindo no Esquadrão de Comando da 4ª Brigada de Cavalaria
Mecanizada (Dourados – MS) e respectivo recurso, interposto por seu procurador,
contra a decisão unânime dos membros do Conselho, de o considerarem culpado da
maioria das acusações que lhe foram feitas, e contra a solução dada pela autoridade
nomeante que, acolhendo a decisão do Conselho, também o considerou culpado e
determinou a sua exclusão a bem da disciplina, nos termos do disposto pelo art.
13, inciso IV, letra a), do Decreto nº 71.500, de 05 Dez 72.
2. Considerando, preliminarmente, que o recorrente:
– foi submetido a Conselho de Disciplina, por decisão do Comandante do Esquadrão
de Comando da 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada (Esqd C/4ª Bda C Mec),
consubstanciada na Portaria nº 001/C Discp-Esqd C, de 30 Jan 07, daquela SU,
publicada no Boletim Reservado nº 01/07, de 31 Jan 07, da 4ª Brigada de Cavalaria
Mecanizada (4ª Bda C Mec), como incurso no art. 2º, inciso I, alíneas a), b) e c), do
Decreto nº 71.500, de 1972, em decorrência de procedimento incorreto no cargo,
conduta irregular e prática de ato que afeta a honra pessoal, o pundonor militar
e o decoro da classe, situação em que se deve analisar se o acusado está ou não
incapaz de permanecer na ativa, conforme preconiza o Decreto supracitado;
– foi considerado incapaz de permanecer no serviço ativo do Exército, consoante a
decisão do Conselho de Disciplina a que foi submetido, prolatada por unanimidade
de votos de seus membros, julgando que os fatos por ele praticados constituiram
violação aos princípios da ética militar e do dever militar prescritos nos art. 28,
incisos I, II, III, IV, VI, VII, VIII, IX, X, XII, XIII, XIV, XVI e XIX, e 31, incisos III e
IV, da Lei nº 6.880, de 09 Dez 80 (Estatuto dos Militares), incidindo, assim, no art.
2º, inciso I, alíneas a), b) e c) do Decreto nº 71.500, de 1972;
– alega, em síntese, nas razões do recurso apresentadas, por intermédio de
procurador devidamente constituído, que foi requerida pela defesa a sua submissão
a exame de sanidade mental, com fulcro nos art. 9º, § 2º, e 16 do Decreto nº
71.500, de 1972, combinado com o art. 156 do Código de Processo Penal Militar
(CPPM), tendo sido indeferido o pedido, o que representou, em sua ótica, flagrante
cerceamento ao direito à ampla defesa assegurado no art. 5º, inciso LV, na
Constituição Federal de 1988;
– aduz que a autoridade instauradora, ao afastar a culpabilidade do recorrente
em algumas imputações, reconheceu que este não poderia ser punido por suposta
infração a uma legislação que, no seu entendimento, colide com o atual ordenamento
jurídico e que as demais acusações lançadas não são suficientes para justificar a
sua exclusão das fileiras do Exército a bem da disciplina;
– destaca que, no decorrer de sua carreira, sempre demonstrou obediência
e fidelidade aos princípios da hierarquia e da disciplina, possuindo várias
condecorações e habilitações para desempenho de sua função, tendo sido conduzido
às atuais circunstâncias somente no ano de 2005, quando passou a sofrer uma
série de sanções disciplinares, em um período de seis meses, como atestam suas
folhas de alterações;
– esclarece que chegou a ser transferido para a reserva remunerada, tendo o ato
sido anulado, a fim de ser submetido a Conselho de Disciplina, e que vem realizando
acompanhamento psiquiátrico há algum tempo naquela Guarnição, conforme
comprovam os receituários médicos acostados aos autos;
– contesta a decisão do Comandante do Esqd C/4ª Bda C Mec, que considera
desequilibrada no tocante à dosagem da punição sugerida (exclusão das fileiras
§ 6°. A reabilitação dos expulsos das Organizações Militares da Ativa ou dos Órgãos
de Formação de Reserva só poderá ser efetivada após 2 (dois) anos da data da
expulsão e na forma estabelecida pela legislação de cada Força Armada. Uma
vez reabilitados, farão jus à substituição de seu Certificado pelo de Dispensa de
Incorporação ou de Reservista, conforme o grau de instrução alcançado.
893
PORTARIAS CPESFN DE 16 DE SETEMBRO DE 2009
O COMANDANTE DO PESSOAL DE FUZILEIROS NAVAIS, no uso da subdelegação de competência que lhe
confere o inciso X do art. 3º da Portaria nº 73, de 29JUL2009, do Comandante Geral do Corpo de Fuzileiros
Navais, e de acordo com disposto no inciso VIII do art. 94, inciso III do art. 125, art. 126 e parágrafo único do
art. 127 da Lei nº 6.880, de 09DEZ1980 (Estatuto dos Militares), alterada pela Medida Provisória nº 2.215-10,
de 31AGO2001, combinado com o inciso III do art. 2º do Decreto nº 71.500, de 05DEZ1972, resolve:
Nº 1.014 - Art. 1º Excluir do Serviço Ativo da Marinha, a bem da disciplina, a partir de 24JUL2009, o 3º SG-
FN-ES 87.0142.89 (nome excluído intencionalmente) em cumprimento à Decisão Final exarada no Conselho
de Disciplina originado no Batalhão de Engenharia de Fuzileiros Navais.
Art. 2º Considerar a referida praça isenta do serviço militar, nos termos do nº 23 do art. 3º e nº 3 do § 3º do art.
165 do Decreto nº 57.654, de 20JAN1966 (RLSM).
Art. 3º Esta Portaria entra em vigor na presente data.
(Publicada na página nº 8 da Sessão nº 2 do Diário Oficial da União de 22.09.2009)
894
Reabilitação é o procedimento em que o militar expulso tem suprimida de suas fichas cadastrais militares a
condição de excluído, ou seja, sua ficha fica limpa para o meio militar e civil. O motivo da existência do instituto
da reabilitação tem fundamento no fato de que o ex-militar não poderá suportar, perpetuamente, os efeitos jurídicos
de uma exclusão. A título de exemplo, informo que no Estado do Rio de Janeiro há um magistrado estadual que
já foi presidiário e nem por isso lhe foi negado o direito de concorrer a um cargo público no Poder Judiciário.
Parágrafo único. Nos casos em que a condenação do militar acarretar sua exclusão
a bem da disciplina, a reabilitação prevista na legislação que trata do serviço
militar poderá anteceder a efetuada de acordo com o Código Penal Militar e o
Código de Processo Penal Militar.
895
SÚMULA nº 169 do TCU: Para efeito de concessão da pensão militar, admite-se a equiparação e, em
consequência, a igualdade de tratamento, do militar excluído ao expulso, ambos considerados falecidos (morte
ficta), mesmo que a família se haja constituída após o desligamento e ainda que não tenham chegado a contribuir
para o montepio militar, por ser superveniente à sua morte a lei que ensejou a contribuição.
ADMINISTRATIVO. MILITAR. DIREITO À PENSÃO PARA OS DEPENDENTES EXISTENTES À
ÉPOCA DA MORTE “FICTA”. Com o desligamento da condição de militar, permanecem os dependentes do
militar expulso protegidos por lei, pois esta considera como se tivesse ocorrido o óbito, instituindo-se a figura
de “morte ficta”. Os herdeiros do militar excluído, então, possuem direito à pensão militar correspondente a
seu posto ou patente, representado pelo soldo que lhe seria pago se estivesse na ativa. No caso a situação é
diferente. A autora, à época do evento ‘expulsão’, não era herdeira do militar, não se enquadrando na qualidade
de dependente do mesmo quando da ocorrência do evento ‘morte ficta’, eleito pelo legislador como autorizador
da concessão do benefício ora em discussão. (TRF4 – Apelação Cível nº 200870000189766 – 4ª Turma – Rel.
Des. Federal Marga Inge B. Tessler - j. 23.09.09 - DJ de 05.10.2009).
896
Quando um militar é submetido a Conselho de Disciplina e é reformado, ou seja, permanece sendo militar,
porém na inatividade, perceberá proventos proporcionais ao tempo de serviço, conforme preceitua o art. 12,
parágrafo segundo, do Decreto 71.500/72 (Conselho de Disciplina), assim descrito: § 2º. A reforma da praça é
efetuada no grau hierárquico que possui na ativa, com proventos proporcionais ao tempo de serviço.
897
Está regulamentada pelo Decreto 49.096/60, sendo oportuna a transcrição do dispositivo abaixo:
Art 5º. O oficial da ativa, da reserva remunerada ou reformado, contribuinte obrigatório da pensão militar, que
perder posto e patente, deixará a seus beneficiários a pensão militar para que tiver contribuído.
§ 1º. Nas mesmas condições, a praça contribuinte da pensão militar, com mais de 10 (dez) anos de serviço expulsa
e não relacionada como reservista, por efeito de sentença ou em virtude de um ato de autoridade competente,
deixará aos seus beneficiários a pensão militar para que tiver contribuído.
§ 2º. O pagamento da pensão a que se refere este artigo será suspenso e o processo que lhe deu origem
arquivado definitivamente, desde que o militar considerado obtenha reabilitação plena e total, que lhe assegure
as prerrogativas do posto ou graduação, inclusive o recebimento dos proventos ou vencimentos dos quais serão
descontadas as quantias pagas a título de pensão aos seus beneficiários.
§ 3º. À praça da reserva remunerada ou reformada aplica-se também o disposto neste artigo.
898
Os beneficiários da pensão militar são considerados herdeiros para efeitos desta norma previdenciária.
899
A palavra vetado refere-se a alguma ou algumas palavras que complementariam o seguinte trecho: ... aos seus
herdeiros a pensão correspondente. Ou seja, não houve veto integral do artigo e parágrafo, mas sim veto parcial.
900
Para se aprofundar no estudo da pensão militar, sugiro a aquisição do meu livro Comentários ao Estatuto
dos Militares.
901
Porém, não será mais descontado o valor referente à pensão militar, que era descontada enquanto o excluído
estava na ativa.
902
A ICA 47-6 (Aeronáutica), instituída pela Portaria DIRINT 11/SDIP, de 14 de julho de 2011, assim dispõe:
1.2.7 PENSÃO ORIGINÁRIA
É aquela concedida ao beneficiário declarado e habilitado em primeira ordem de preferência, por ocasião do
falecimento, demissão ou exclusão, ex-officio, a bem da disciplina, do militar instituidor.
903
ADMINISTRATIVO. POLICIAL MILITAR EXCLUÍDO DA CORPORAÇÃO A BEM DA DISCIPLINA
APÓS A EDIÇÃO DA LEI Nº 10.486/02. MORTE FICTA. DECADÊNCIA AFASTADA. INDEFERIMENTO
DA PENSÃO MILITAR. 1. A concessão de pensão aos beneficiários do servidor é submetida ao mesmo
regramento conferido à aposentadoria, que é ato administrativo complexo e somente se aperfeiçoa com o registro
no Tribunal de Contas. Prejudicial de decadência afastada. 2. A Lei nº 10.486/02 não mais estipula a exclusão
de militar a bem da disciplina como fato gerador do recebimento de pensão militar, conforme anteriormente
disciplinado pela Lei nº 3.765/60, facultando, entretanto, ao militar excluído a continuidade da contribuição,
com a finalidade de garantir, após a sua morte natural, a percepção do benefício por seus herdeiros. 3. Apelação
não provida. (TJDFT - Acórdão n.720081 – Apelação Cível 20120111082292 - 4ª Turma Cível – Rel. Des. Cruz
Macedo – j. 25.09.2013 – DJE 15.10.2013)
904
Há concursos que fazem uma investigação social (não é regra), como exemplo para Juízes e Promotores,
porém, ressalte-se, estando o militar reabilitado, uma exclusão não poderá ser empecilho à inscrição, realização
do certame e posterior nomeação.
905
Nos concursos para a Magistratura e Ministério Público, por exemplos, com dito anteriormente, é exigido um
estudo social, inclusive funcional do candidato, logo, se um ex-militar informar sua antiga função, certamente,
a respectiva Força Armada ou Auxiliar será questionada sobre a atuação funcional do ex-militar. Todavia,
ratifique-se que, sendo deferido o pedido de reabilitação, a ficha do ex-militar passará a ser limpa, onde, em
regra, a respectiva Força não deverá, por analogia ao art. 656 do CPPM, informar a exclusão a bem da disciplina
a terceiros. Ver tópico 19.11.
906
Caso o leitor queira se aprofundar nas questões jurídicas sobre concursos públicos, inclusive sobre as ações
judiciais e respectivos recursos contra ilegalidades cometidas durante o certame, sugiro a aquisição do meu livro
Concursos Públicos Militares – Tutelas de Urgência – Teoria e Prática.
Art. 2º. A matrícula para o ingresso nos cursos de formação de oficiais e sargentos de
carreira do Exército depende de aprovação prévia em concurso público, atendidos
os seguintes requisitos, dentre outros estabelecidos na legislação vigente:
(...)
VII - se ex-integrante de qualquer uma das Forças Armadas ou de Força Auxiliar,
não ter sido demitido ex officio por ter sido declarado indigno para o oficialato ou
com ele incompatível, excluído ou licenciado a bem da disciplina, salvo em caso
de reabilitação;
(...)
Art. 11-A. A matrícula nos cursos que permitem o ingresso nas Carreiras da
Marinha depende de aprovação prévia em concurso público, atendidos os seguintes
requisitos, dentre outros estabelecidos, decorrentes da estrutura e dos princípios
próprios dos militares:
(...)
XI - se ex-integrante de qualquer uma das Forças Armadas ou de Força Auxiliar,
não ter sido demitido ex officio por ter sido declarado indigno para o oficialato ou
com ele incompatível, excluído ou licenciado a bem da disciplina, salvo em caso
de reabilitação;
(...)
907
Entretanto, se o concurso público não fizer nenhum estudo social, independerá o fato de o militar ter sido
excluído a bem da disciplina, e muito menos de já ter ou não obtido a reabilitação.
908
Licenciado a bem da disciplina refere-se ao militar que possui menos de 10 (dez) anos de serviço militar.
909
A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença definitiva, assegurando ao condenado o sigilo
dos registros sobre o processo e sobre a condenação. Porém, importante não esquecer que a reabilitação somente
produz efeitos jurídicos futuros, ou seja, após sua decretação, ou seja, não retroage. Os arts. 651 a 658 do CPPM
disciplinam o instituto da reabilitação penal.
910
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA.
ELEIÇÕES 2012. (...). 1. No julgamento das ADCs 29 e 30 e da ADI 4578, o STF assentou que a aplicação
das causas de inelegibilidade instituídas ou alteradas pela LC 135/2010 com a consideração de fatos anteriores
à sua vigência não viola a Constituição Federal. 2. As decisões definitivas de mérito proferidas pelo Supremo
Tribunal Federal nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade
produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário,
incluindo-se esta Justiça Especializada, conforme dispõe o art. 102, § 2º, da CF/88. 3. Na espécie, o agravante
foi demitido do serviço público em decorrência de processo administrativo disciplinar, não havendo decisão
judicial que tenha suspendido ou anulado o ato demissório. Desse modo, o indeferimento do seu pedido de
registro de candidatura deve ser mantido por incidência da causa de inelegibilidade prevista no art. 1º, I, o,
da LC 64/90. 4. As condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidade são aferidas a cada pleito, não
havendo direito adquirido a candidatura em razão de eventual deferimento de registro em eleição anterior.
Precedente. 5. Agravo regimental não provido. (TSE - Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº
13189, Acórdão de 04/10/2012, Relator(a) Min. FÁTIMA NANCY ANDRIGHI, Publicação: PSESS - Publicado
em Sessão, Data 4/10/2012)
911
Art. 1º. São inelegíveis:
I - para qualquer cargo:(...)
o) os que forem demitidos do serviço público em decorrência de processo administrativo ou judicial, pelo prazo de
8 (oito) anos, contado da decisão, salvo se o ato houver sido suspenso ou anulado pelo Poder Judiciário; (Incluído
pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
(...)
912
Após pouco mais de 1 (um) mês de minha exclusão da Aeronáutica, obtive a inscrição na Ordem dos Advogados
do Brasil – OAB. E fiquei surpreso ao saber que meus antigos superiores hierárquicos acreditavam que eu não
poderia ser Advogado em virtude de minha exclusão a bem da disciplina. Caros leitores, infelizmente, grande parte
dos Oficiais das Forças Armadas acreditam que não existe vida após a caserna, o que, felizmente, não é verdade.
Após ser excluído, voltando a ser um cidadão civil e na condição de Advogado, passei a atuar, principalmente, na
defesa de militares contra as ilegalidades e arbitrariedades praticadas por eles. O livro Manual Prático do Militar
é um meio de se defender deles, assim como também é um instrumento para representar contra eles. Em 2010
fui o primeiro doutrinador, em 30 (trinta) anos, a interpretar a Lei 6.880/80, que rege a vida de todos os militares
das Forças Armadas, trata-se do meu livro Comentários ao Estatuto dos Militares. Ou seja, a minha exclusão da
Aeronáutica acabou beneficiando milhares de militares que, diariamente, são submetidos às mais variadas formas
de ilegalidades nos quartéis do nosso Brasil. Em 2013 lancei o livro Concursos Públicos Militares – Tutelas de
Urgência – Teoria e Prática que, sem sombra de dúvidas, ajudou milhares de civis e até mesmo militares que
fazem concursos internos, que são, frequentemente, eliminados nos certames de forma inconstitucional ou ilegal.
913
Vejamos abaixo um exemplo de reforma de militar decorrente de CD:
O COMANDANTE DO PESSOAL DE FUZILEIROS NAVAIS, (...), resolve:
Nº 192 - Art. 1º. Reformar “ex-offício” a bem da disciplina”, a partir de 04MAR2009, em cumprimento à Decisão
Final exarada no Conselho de Disciplina, datada de 12JAN2009, do Comandante do Pessoal de Fuzileiros
Navais, publicada no Boletim da Marinha do Brasil Tomo II, nº 5, de 04MAR2009, com a remuneração a que
faz jus, observados os incisos I, II, III, IV e inciso II do § 1º do art. 10 e art. 30 da referida Medida Provisória,
o 1ºSG-FN-MU 83.0697.63 (nome excluído intencionalmente).
Art. 2º. Esta Portaria entra em vigor na presente data.
914
Poderá, todavia, ter nítida natureza previdenciária, caso a reforma pelo CD seja decorrente de problemas de
saúde, podendo-se citar como exemplo a seguinte decisão:
MILITAR. (...). - O Conselho de Disciplina é órgão destinado a julgar a capacidade da praça com estabilidade
de permanecer no serviço ativo, não visando propriamente à condenação do militar, mas à preservação da
moralidade na Força Militar. - No caso, o Conselho Disciplinar houve por bem reformar o militar estável (14
anos e 7 meses de serviço), considerando sua ausência contumaz ao serviço, as transgressões disciplinares
cometidas ao longo da carreira, bem como o fato de ser portador de transtornos mentais e comportamentais
devido ao uso de cocaína. - Verifica-se que o militar fora submetido à Junta Militar de Saúde, em 21/11/2000.
que emitiu o seguinte laudo: “ Apto em exame prévio para submeter-se a Conselho de Disciplina, sendo portador
de transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de cocaína.” - (...). (TRF2 - AC 200251010253926 – 6ª
Turma Especializada - Rel. Des. Federal Fernando Marques -, DJU de 17.11.2006)
915
CONSELHO DE DISCIPLINA. REFORMA. 1. Reiterados atos de indisciplina do autor, infringentes,
em tese, das alíneas “a”, “b” e “c” do inciso I do art. 2º do Decreto nº 71.500/72, consistentes em emprestar
dinheiro com cobrança de juros aos colegas de farda e nas dependência do Exército, bem como de, na função
de Encarregado de Material, extraviar peças do fardamento e não cumprir as normas relativas à distribuição,
conservação e estocagem do material sob sua guarda, lhe renderam 6 prisões e 7 detenções. 2. Tendo persistido
nesses atos de indisciplina, foi o autor submetido ao Conselho de Disciplina, que concluiu, por unanimidade,
ser ele culpado das acusações que lhe foram feitas, bem como ter se tornado insensível às punições sofridas,
razão de opinarem pela sua reforma, (...) (TRF1 - AC 9101129490 – 2ª Turma - Rel. Juíza Solange Salgado
(CONV) – DJ de 29.05.2000)
Não ofende a garantia das patentes a reforma punitiva de oficial da Policia Militar
com proventos proporcionais, nos termos da lei ordinária, a que foi remetida, pela
Constituição Federal (art. 42, PAR-9.), a disciplina das condições de transferência,
do servidor militar para a inatividade. (STF - AI nº 156764, Relator(a): Min.
OCTAVIO GALLOTTI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/08/1995, DJ 13-10-
1995 PP-34261 EMENT VOL-01804-04 PP-00635)
916
Assim, caso um militar seja reformado a bem da disciplina com 15 (quinze) anos de serviço, perceberá metade
da remuneração que teria direito se na ativa permanecesse. Vejamos abaixo a seguinte decisão:
ADMINISTRATIVO – MILITAR – CONCESSÃO DE PROVENTOS INTEGRAIS DE 2º SARGENTO. I –
Inexistência de incapacidade definitiva. Aprovação em exames de saúde. Inaplicabilidade do artigo 106 inciso
II da Lei 6.880/80. II – Reforma determinada ex officio pelo Conselho de Disciplina. Inexistência de direito ao
recebimento integral de proventos de 2° sargento. III – Improvimento do recurso. (TRF2 - AC 9602303832 – 5ª
Turma – Rel. Des. Federal Aluísio Goncalves De Castro Mendes - DJU de 02.10.2003)
reformar o militar estável (14 anos e 7 meses de serviço), considerando sua ausência
contumaz ao serviço, as transgressões disciplinares cometidas ao longo da carreira,
bem como o fato de ser portador de transtornos mentais e comportamentais devido
ao uso de cocaína. - Verifica-se que o militar fora submetido à Junta Militar de
Saúde, em 21/11/2000. que emitiu o seguinte laudo: “ Apto em exame prévio para
submeter-se a Conselho de Disciplina, sendo portador de transtornos mentais e
comportamentais devido ao uso de cocaína.” - A decisão de reformar o militar
a bem da disciplina insere-se no poder discricionário da Administração Militar,
mas não estaria isenta de apreciação pelo Judiciário, caso revestida de qualquer
ilegalidade, o que não se confirmou no caso dos autos. - Ao Poder Judiciário cabe
apenas perquirir da legalidade e constitucionalidade dos atos praticados pela
Administração, sem, contudo, adentrar o juízo de oportunidade e conveniência,
a fim de que seja preservada a autonomia administrativa de órgãos públicos.
Não se permite ao Poder Judiciário pronunciar-se sobre a eficiência ou justiça
do ato administrativo, porque, se assim agisse, estaria a emitir pronunciamento
de administração e não jurisdicional. - Não comprovada pelo autor qualquer
irregularidade no ato administrativo que o reformou, o pedido exordial não merece
as luzes do sucesso. (TRF2 - AC 200251010253926 – 6ª Turma Especializada - Rel.
Des. Federal Fernando Marques -, DJU de 17.11.2006)
Faz-se oportuno, também, tecer comentários à parte final do art. 127 da Lei
6.880/80, assim prescrevendo:
Art. 127. A exclusão da praça a bem da disciplina acarreta a perda de seu grau
hierárquico e não a isenta das indenizações dos prejuízos causados à Fazenda
Nacional ou a terceiros nem das pensões decorrentes de sentença judicial.
Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de
917
quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou
majoração do encargo.
920
Preliminar é uma questão a ser discorrida na defesa, anteriormente à defesa de mérito propriamente dita, sendo
que, mesmo estando o militar-acusado, o Oficial Designado ou o Advogado consciente de que existe a prescrição,
faz-se necessário o pronunciamento, também, sobre o mérito do CD.
921
Deve-se observar o prazo decadencial de 120 (cento e vinte) dias.
922
Sugiro que, desde o início, seja contratado um Advogado que tenha especialização em questões administrativas
militares, pois este profissional estará suficientemente habilitado para oferecer a melhor defesa no CD.
923
O mandado de segurança já foi estudado no Capítulo 9.
Vejamos um exemplo:
ADMINISTRATIVO. POLICIAL MILITAR. EXCLUSÃO DA CORPORAÇÃO. SESSÃO SECRETA DE
JULGAMENTO DO CONSELHO DE DISCIPLINA. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DO ACUSADO E DE SEU
DEFENSOR. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. 1. Segundo
entendimento desta Corte, é ilegal a ausência de intimação do acusado e de seu defensor para acompanhamento
da sessão secreta do Conselho de Disciplina que deliberou sobre a exclusão daquele dos quadros da Polícia
Militar, em razão dos princípios do contraditório e da ampla defesa, assegurados pela Constituição Federal.
Precedentes. 2. Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no RMS 25414/PB, Rel. Ministro JORGE MUSSI,
QUINTA TURMA, julgado em 28/08/2012, DJe 06/09/2012)
924
ADMINISTRATIVO. MILITAR. PUNIÇÃO DISCIPLINAR. CONSELHO DE DISCIPLINA. ANULAÇÃO.
EFEITOS NÃO RETROATIVOS. ASSENTAMENTO FUNCIONAL. DANOS MORAIS E MATERIAIS
NÃO CARACTERIZADOS. 1 - Se na própria seara administrativa ficou resolvido pela autoridade máxima
da Força Aérea que os atos do Conselho de Disciplina deveriam ser anulados na sua integralidade devido
à configuração de vícios insanáveis, não se justifica que o Poder Judiciário feche os olhos a essa realidade,
devendo ser reconhecida a invalidade do procedimento disciplinar em tela e das punições dele decorrentes.
2 - A anulação do Conselho de Disciplina não significa que as condutas por ele investigadas não ocorreram,
sendo perfeitamente possível a instauração de um novo procedimento para averiguar os mesmos fatos, o que
igualmente impediria o recorrente de preencher um dos requisitos objetivos para a promoção estabelecidos no
Decreto n.º 4.853/2003. Desse modo, incabíveis a atribuição de efeitos retroativos à decisão de anulação e a
responsabilização da União Federal por danos materiais e morais. (TRF4 - AC 200570000206106 – 3ª Turma
– Rel. Des. Maria Lúcia Luz Leiria - D.E. de 02.09.2009)
925
Ex.: leis complementares, ordinárias e medidas provisórias.
926
Ex.: decretos regulamentares e portarias.
Capítulo 14
14. Introdução
Em 2001, quando ainda era militar e Controlador de Tráfego Aéreo do
DTCEA-NT, atuando na Torre de Controle, eu e alguns colegas decidimos fundar
uma associação de classe. Lembro-me que muitos me questionaram sobre a
legalidade de tal associação em virtude de que éramos todos militares, e se isso
traria problemas. Convidei vários militares para participarem como diretores da
entidade, todavia, alguns não aceitaram com medo de represálias de superiores
hierárquicos.
Certa vez, verificando o site do COJAER, que é o órgão máximo jurídico da
Aeronáutica, encontrei um artigo jurídico afirmando que as Associações de Classe
compostas por militares eram inconstitucionais. Tal afirmativa é absolutamente
absurda, e me lembro de que à época assim me questionei: será que isso foi
proposital, a fim de desestimular os militares a criarem associações?
Um fato é certo: nos boletins internos da Aeronáutica, por exemplo, quando
um militar obtém uma decisão favorável no Judiciário, a Administração Castrense
não transcreve a íntegra da decisão. Porém, diversamente, costuma fazer quando
algum militar perde no Judiciário, e isso tem como único objetivo desestimular que
outros tentem a mesma coisa na Justiça. Ocorre, porém, leitores, que uma decisão
judicial isolada em desfavor de um militar não significa que se outros entrarem na
Justiça também perderão a causa.
As associações de classe compostas por militares são absolutamente
constitucionais, assim, oportuno tecer alguns comentários sobre tal entidade neste
livro. E, digo mais, as associações de militares são importantíssimas para o bem
927
www.aprafa.com.br
928
Se a CF/88 não fez nenhuma ressalva à possibilidade dos militares criarem associações, resta indubitável que
não há qualquer inconstitucionalidade nas associações de classe compostas por militares. A única restrição é que
a associação possua natureza paramilitar.
929
Algumas autoridades militares ainda não se conformaram com o fato de que acima da hierarquia e da disciplina
existe uma Constituição Federal Democrática que encerrou, por definitivo, a Constituição Ditatorial Militar.
930
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2002. p. 101.
Por isso, cabível dizer o seguinte às autoridades militares que entendem que
as associações de militares são ilícitas: isso é um absurdo jurídico!
Importante consignar que constitui crime de abuso de autoridade qualquer
atentado contra a liberdade de associação, nos termos do art. 3º, letra f, da Lei
4.898/65. Esclareça-se que as associações não podem sofrer interferência do
Estado e nem mesmo, ou melhor, principalmente, das autoridades militares. Assim,
obviamente, não é necessário que os superiores hierárquicos sejam consultados
previamente sobre a criação de uma associação de classe composta por militares.
931
Pode ser adquirido em papelarias.
Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir
categorias com vantagens especiais.
Art. 56. A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não dispuser o
contrário.
Parágrafo único. Se o associado for titular de quota ou fração ideal do patrimônio
da associação, a transferência daquela não importará, de per si, na atribuição da
qualidade de associado ao adquirente ou ao herdeiro, salvo disposição diversa
do estatuto.
Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim
reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos
termos previstos no estatuto.
Art. 58. Nenhum associado poderá ser impedido de exercer direito ou função que
lhe tenha sido legitimamente conferido, a não ser nos casos e pela forma previstos
na lei ou no estatuto.
Art. 59. Compete privativamente à assembleia geral:
I – destituir os administradores;
II – alterar o estatuto.
Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste
artigo é exigido deliberação da assembleia especialmente convocada para esse
fim, cujo quorum será o estabelecido no estatuto, bem como os critérios de eleição
dos administradores.
Art. 60. A convocação dos órgãos deliberativos far-se-á na forma do estatuto,
garantido a 1/5 (um quinto) dos associados o direito de promovê-la.
Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois
de deduzidas, se for o caso, as quotas ou frações ideais referidas no parágrafo
único do art. 56, será destinado à entidade de fins não econômicos designada no
estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal,
estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes.
§ 1º. Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por deliberação dos associados,
podem estes, antes da destinação do remanescente referida neste artigo, receber
em restituição, atualizado o respectivo valor, as contribuições que tiverem prestado
ao patrimônio da associação.
§ 2º. Não existindo no Município, no Estado, no Distrito Federal ou no Território,
em que a associação tiver sede, instituição nas condições indicadas neste artigo, o
que remanescer do seu patrimônio se devolverá à Fazenda do Estado, do Distrito
Federal ou da União.
Os procedimentos nos cartórios poderão ser diferentes uns dos outros, por isso, antes de providenciar toda a
932
documentação, sugiro procurar o cartório para obter informações sobre os documentos e sobre os custos cartoriais,
que, em regra, não chegam a ½ (meio) salário-mínimo.
O art. 120 da Lei 6.015/73 dispõe sobre o registro público das sociedades,
fundações e partidos políticos, exigindo assim, que o Estatuto da associação
contenha os seguintes requisitos:
933
A eleição e posse poderão ocorrer na mesma assembleia da fundação da associação.
934
Todas as relações, em 2 (duas) vias, deverão ser datadas e assinadas.
935
Há cartórios que somente exigem a assinatura do Presidente da associação.
936
É interessante providenciar que a associação obtenha a declaração de utilidade pública (União, Estado, DF e
Município), mediante Decreto do Poder Executivo. Vários são os benefícios à associação com tais declarações,
sendo que a nível federal a norma relacionada é a Lei 91/35, regulamentada pelo Decreto 50.517/61.
937
De posse do CNPJ é possível abrir conta em banco em nome da associação, todavia, não será aberta, em regra,
se o Presidente ou o Conselheiro Fiscal estiverem com restrições em seus CPFs.
938
Não me aprofundarei no estudo das ações civis públicas e civis coletivas, pois foge ao objetivo desta obra.
Quanto ao mandado de segurança coletivo e ação direta de inconstitucionalidade, estas já foram objeto de breves
comentários no Capítulo 9.
939
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. (...). 5 - Na ação civil pública que visa a tutela de direitos individuais homogêneos,
as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano, conforme artigo 82, inciso IV, da Lei nº 8.078/90
combinado com artigo 5º da Lei nº 7.347/85, tem legitimação extraordinária, atuando por substituição processual,
e não apenas de seus associados (exigência feita no art. 5º, XXI da Constituição Federal, que é inaplicável ao
caso), devendo também o direito tutelado ter relação com a categoria profissional representada. 6- A ação civil
pública é instrumento adequado para a defesa de interesses individuais homogêneos, ainda que não derivados
de relação de consumo. Precedentes no STF, no STJ e nesta Corte. (TRF3 – AC nº 339.668/SP – 1ª Turma – Rel.
Juiz Federal Souza Ribeiro - j. 03.10.00 - DJU de 31.10.2000, p. 365)
940
Art. 5º. Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
(...)
V - a associação que, concomitantemente: (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica,
à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. (Incluído pela Lei
nº 11.448, de 2007). (...)
941
Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a
bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá outras providências.
942
Por isso, devem-se incluir estas finalidades no Estatuto Social, caso, obviamente, seja do interesse da associação.
943
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente: (Redação dada pela
Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
(...)
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a
defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear.
§ 1°. O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas nos arts. 91 e seguintes,
quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância
do bem jurídico a ser protegido.
(...)
944
Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade:
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(...)
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.
(...)
945
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (...) Prova, nos autos, da composição associativa ampla,
estando presente a associação em mais de nove estados da federação. Cumprimento da exigência da pertinência
temática, ante a existência de correlação entre o objeto do pedido de declaração de inconstitucionalidade e
os objetivos institucionais da associação. 2. (...). Ação direta julgada procedente. (STF - ADI 3702, Relator(a):
Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 01/06/2011, DJe-166 DIVULG 29-08-2011 PUBLIC 30-08-
2011 EMENT VOL-02576-01 PP-00078)
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (...). 3. Inexiste prova da existência e funcionamento em
outros Estados da entidade requerente. Exigência de organização da entidade em, no mínimo, nove Estados da
Federação, conforme jurisprudência desta Corte. ADINs nºs 386 e 79. 4. Ação direta de inconstitucionalidade
não conhecida, por falta de legitimidade ativa da autora, prejudicado o pedido cautelar. (STF – ADI nº 912,
Relator(a): Min. NÉRI DA SILVEIRA, Tribunal Pleno, julgado em 04/08/1993, DJ 21-09-2001 PP-00041
EMENT VOL-02044-01 PP-00022)
Capítulo 15
15. Introdução
Resolvi comentar sobre este assunto em virtude de que percebi que muitos
militares, quase a maioria, inclusive aqueles que trabalhavam no setor de recursos
humanos das Organizações Militares, desconheciam que poderiam, estando na
ativa, se candidatarem a cargos eletivos. Entretanto, aqueles que conheciam tal
direito, não sabiam como fazer isso, e eu mesmo, quando decidi me candidatar ao
cargo de Vereador em 2004, também desconhecia alguns pormenores burocráticos, e
após uma grande pesquisa, descobri como um militar deve fazer para se candidatar.
Esclareço, todavia, que me restringirei a comentar alguns procedimentos
administrativos e judiciais relacionados ao militar-candidato, não me estendendo
a todo o processo eleitoral946, seja administrativo ou judicial. Isso porque sendo
deferido o registro de candidatura do militar-candidato, que ocorre em torno de
até 30 (trinta) dias após o pedido de requerimento do registro de candidatura, e
fornecendo-se à Administração Militar o respectivo documento oficial, encerram-
se, praticamente, os trâmites administrativos militares.
E lhes digo ainda que muitos partidos políticos, em regra, os pequenos,
desconhecem os procedimentos administrativos necessários à eficácia da
candidatura de militares, ou seja, este tema também será de grande utilidade aos
partidos políticos.
946
O processo eleitoral é muito complexo, podendo, talvez, ser objeto de estudo em futuro livro, porém, para
este capítulo não se faz necessário discorrer sobre o mesmo.
947
Terceiro Centro Integrado de Defesa e Controle do Espaço Aéreo (Recife/PE).
948
Não existe legislação que condicione o militar a ser candidato à autorização prévia de qualquer autoridade
pública, inclusive militar. Tal fato se dá porque o direito de se candidatar é um direito constitucional, logo,
nenhuma norma inferior poderá exigir do militar-candidato prévia autorização militar.
949
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. CABIMENTO DE HABEAS CORPUS CONTRA SANÇÃO
DISCIPLINAR MILITAR. NECESSIDADE DE PARTICIPAÇÃO DE REGISTRO DE CANDIDATURA
E RESULTADO DE PLEITO ELEITORAL. 1. A vedação do artigo 142, § 2º, da Constituição Federal não
impede a análise da legalidade dos atos administrativos praticados pela Administração Militar, dentre os quais
se incluem as sanções disciplinares. Precedentes (STF: RHC 88543/RJ e HC 70648/RJ, STJ - HC 5397/DF).
2. Conforme comprovado nos autos, a convocação feita mediante telegrama fonado foi respondida no mesmo
dia pelo paciente, razão pela qual é ilegal a aplicação de punição disciplinar por infração ao disposto no item
7 do art. 7º do RDM (deixar de cumprir ordem recebida da autoridade competente). 3. A própria autoridade
impetrada reconheceu o deferimento do pedido de registro de candidatura do paciente, cancelando os atos
cabíveis sobre deserção, de modo que também não pode subsistir a punição decorrente de faltas injustificadas
e de participação sobre ausência no serviço ao titular da OM. 4. Apesar da prova de participação do pedido
de registro de candidatura, não restou comprovada a oficial comunicação acerca de seu deferimento, nem do
resultado do pleito, como exigido nos itens 3 e 4, subalínea I, da alínea e, do art. 4.8 da DGPM-310. 5. Inexiste
preclusão se a postergação do cumprimento da pena para o término do 2º turno das eleições de 2010, ocorreu
em observância ao direito de participação política previsto no artigo 14 da Constituição Federal. 6. Recursos
desprovidos. (TRF2 - RSE 201051170019801 – 7ª Turma Especializada - Rel. Des. Federal Luiz Paulo da Silva
Araújo Filho - E-DJF2R de 06.07.2012)
E para responder estas perguntes neste livro, nada melhor do que exemplificar
com casos práticos ocorridos à época de minhas candidaturas em 2004 e 2006,
quando ainda era militar das Forças Armadas.
950
A LC 64/90, em seu art. 1º, trata, dentre outros, dos prazos para desincompatibilização do militar de suas
funções, ou seja, do afastamento obrigatório do militar de seu cargo, sob pena de ser considerado inelegível
para concorrer às eleições.
951
Requisitos necessários para que um cidadão possa se candidatar a um cargo eletivo.
Art. 52. Os militares são alistáveis, como eleitores, desde que oficiais, guardas-
marinha ou aspirantes-a-oficial, suboficiais ou subtenentes, sargentos ou alunos
das escolas militares de nível superior para formação de oficiais.
Parágrafo único. Os militares alistáveis são elegíveis, atendidas às seguintes
condições:
a) se contar menos de 5 (cinco) anos de serviço, será, ao se candidatar a cargo
eletivo, excluído do serviço ativo mediante demissão ou licenciamento ex officio;e
b) se em atividade, com 5 (cinco) ou mais anos de serviço, será, ao se candidatar a
cargo eletivo, afastado, temporariamente, do serviço ativo e agregado, considerado
em licença para tratar de interesse particular; se eleito, será, no ato da diplomação,
transferido para a reserva remunerada, percebendo a remuneração a que fizer jus
em função do seu tempo de serviço.
952
Também está revogada a parte desta letra que informa que a licença para se candidatar é considerada como em
licença para tratar de interesse particular. Na verdade, este afastamento é provisório, como se na ativa estivesse,
e assim, não há prejuízo na remuneração e na contagem para o tempo de serviço.
em licença953 para tratar de interesse particular, haja vista que continua percebendo
sua remuneração integral954.
Sobre o art. 52 estatutário, faz-se oportuna a seguinte transcrição de trecho
interpretativo do meu livro Comentários ao Estatuto dos Militares955:
953
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MILITAR - LICENÇA PARA TRATAR DE INTERESSE
PARTICULAR - TRANSFERÊNCIA PARA A RESERVA REMUNERADA - NÃO CONFIGURAÇÃO.
1. O agravo retido não merece ser conhecido, eis que, além de não constar dos autos a peça recursal com
o correspondente processamento, o agravo restou prejudicado, tendo em vista a prolação da sentença. 2. O
Autor não faz jus à licença não remunerada requerida em sede de agravo, já que os compromissos de ordem
particular assumidos voluntariamente por ele junto às instituições de ensino, ora como aluno, ora como docente,
não possuem o condão de afastá-lo das obrigações impostas pelo regime jurídico militar. 3. No caso concreto,
o militar obteve licença para tratar de interesse particular no período de 01.09.2004 a 21.08.2006, estando na
condição de agregado desde 23.08.2006, quando foi deferida sua candidatura ao cargo de Deputado Estadual,
pelo Partido Trabalhista Cristão. Esta última licença não pode ser assemelhada à licença particular, tendo
em vista a inexistência de dispositivo estatutário neste sentido, bem como o caráter compulsório e público do
afastamento para disputa de pleito eleitora. 4. A contagem do período de afastamento, adotando o critério
previsto pela Portaria nº 470/2001, do Comandante do Exército ou a regra geral prevista no Código Civil, não
comprova a integralização dos dois anos exigidos pelo art. 98, XII do Estatuto dos Militares. 5. Fixação dos
honorários, deve resultar de uma apreciação eqüitativa, sendo adequada estipulação no montante de mil reais,
compatível com a simplicidade da causa e o trabalho desenvolvido nestes autos. Nos casos do § 4º do art. 20 do
CPC, os honorários podem ser fixados em valor determinado (STJ, AgRg em ED no RESP 945.059, 6ª Turma,
Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, DJe 24/05/2010). 6. Agravo retido não conhecido 7. Apelações
conhecidas e improvidas. (TRF2 - AC 200651170053593 – 7ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal José
Antônio Lisboa Neiva - E-DJF2R de 19.10.2010)
954
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO MILITAR. LICENÇA PARA SE CANDIDATAR A CARGO
ELETIVO. LICENÇA REMUNERADA. LC Nº 64/90. APLICABILIDADE. 1. Tendo em vista os direitos
políticos erigidos no art. 14 da CF/88, bem como o conteúdo da Lei Complementar nº 64/90, em seu art. 1º, II,
“I” e da Lei nº 7.664, de 1988, que asseguram ao servidor público, estatutário ou não, o direito de afastamento
do exercício do cargo para disputa eleitoral, desde o registro de sua candidatura até o dia posterior à eleição,
com direito à percepção de seus vencimentos integrais, o Estatuto dos Militares não foi recepcionado pela
Constituição Federal. 2. A disposição do Estatuto dos Militares não pode prevalecer sobre aquela contida na
Lei Complementar 64/90 e esta, ao garantir a percepção integral de vencimentos no prazo de afastamento do
serviço instituído em favor de servidores concorrentes a cargos eletivos, não faz distinção entre servidores
militares e servidores civis. Assim, não deve ser interrompida a remuneração do servidor impetrante quando
em gozo de licença para concorrer a cargo eletivo, nem o período respectivo, desde o registro da candidatura
até o dia posterior à eleição, deixar de ser contado para fins de contagem de tempo de serviço. 3. Apelação e
reexame improvidos. Sentença mantida. (TRF1 - AC 200038000111142 – 2ª Turma Suplementar - Rel. Juíza
Federal Rosimayre Goncalves de Carvalho - e-DJF1 de 02.04.2012)
CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. SERVIDOR MILITAR. CANDIDATURA
A CARGO ELETIVO. AGREGAÇÃO. PERCEPÇÃO DA REMUNERAÇÃO RESPECTIVA. POSSIBILIDADE.
ARTIGO 14, § 8º, II, DA CF. - A Carta Política [inciso II do § 8º do artigo 14] assegura ao militar da ativa, que
conta com mais de dez anos de efetivo serviço, o direito a candidatar-se a cargo eletivo, o qual será agregado
pela autoridade superior, sem prejuízo da remuneração pertinente, até a sua diplomação, caso eleito, quando
passará, automaticamente para inatividade. Precedentes Jurisprudenciais. (TJDFT – 5ª Turma Cível - Apelação
Cível nº 20020110591934APC – Rel. Des. Dácio Vieira – j. 19.09.05 - DJU de 11.10.2007, p. 179)
955
Pode ser adquirido nas principais livrarias e na internet pelo site www.jurua.com.br.
956
Diplomado é o ato oficial de entrega do diploma do cargo eletivo: Presidente da República, Senador, Deputado
Federal e Estadual, Prefeito e Vereador. Por exemplo: a atual Presidente da República – Dilma Vana Rousseff
– recebeu seu Diploma no Tribunal Superior Eleitoral no dia 17.12.2010.
957
A licença para tratar de interesse particular não é remunerada, logo, a duração desta licença não conta para
o tempo de serviço e nem para promoção, diferentemente, todavia, ocorrerá em relação ao afastamento para
concorrer às eleições, já que não se trata de licença particular.
Art. 84. O militar agregado ficará adido961, para efeito de alterações e remuneração,
à organização militar que lhe for designada, continuando a figurar no respectivo
registro, sem número, no lugar que até então ocupava.
958
ADMINISTRATIVO. MILITAR CANDIDATO A CARGO ELETIVO. AGREGAÇÃO PELA AUTORIDADE
SUPERIOR. ART. 14, PARÁGRAFO 8º, II DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. DIREITO DE PERCEBER A
REMUNERAÇÃO PERTINENTE. DATA DO REGISTRO DA CANDIDATURA. TERMO INICIAL. ART.
82, PARÁGRAFO 4º DA LEI Nº 6.880/90. PRECEDENTES DO STJ. REMESSA OFICIAL IMPROVIDA.
1. Nos termos do artigo 14, parágrafo 8º, II da Constituição Federal, o militar que conta com mais de dez anos
de efetivo serviço, candidato a cargo eletivo, será agregado pela autoridade superior, pelo que tem direito a
remuneração pertinente até a sua diplomação. 2. O marco inicial do ato de agregação é contado da data do
registro do militar como candidato, e não a partir do protocolo do respectivo pedido de registro, conforme
estabelece o artigo 82, parágrafo 4º da Lei nº 6.880/80. 3. Precedentes do C. STJ. 4. Remessa oficial improvida.
(TRF5 - REO 200884000075074 – 2ª Turma - Rel. Des. Federal Francisco Barros Dias – DJE de 04.02.2010)
959
A agregação do militar-candidato somente será cabível para os militares que possuírem mais de 10 (dez)
anos de serviço.
960
Esta data não será a mesma para o início do afastamento do militar de suas funções, pois este deverá se
afastar, obrigatoriamente, até 3 (três) meses antes das eleições, sob pena de ser considerado inelegível. Ou seja,
o afastamento previsto na LC 64/90 independerá da data da agregação do militar.
961
O conceito de adido está bem definido no inciso XV do Decreto nº 2.040/96, quando assim expressa:
Das Conceituações
Art. 3º. Para os efeitos deste Regulamento, adotam-se as seguintes conceituações:
(...)
XV - Adição: ato administrativo, emanado de autoridade competente para fins específicos, que vincula o militar
a uma OM sem integrá-lo no estado efetivo desta;
(...) (Decreto nº 2.040/96)
962
São instruções específicas para a execução das normas contidas no Código Eleitoral.
963
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. POLICIAL MILITAR. COM MENOS DE 10 (DEZ) ANOS
DE SERVIÇO EFETIVO. LICENÇA PARA CONCORRER A CARGO ELETIVO. MANUTENÇÃO DA
REMUNERAÇÃO. INTERPRETAÇÃO DO ART. 14, § 8.º, INCISO I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
DESLIGAMENTO DEFINITIVO DA CORPORAÇÃO. NECESSIDADE. PRECEDENTES DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL E DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
NON REFORMATIO IN PEJUS. 1. O Pleno do Supremo Tribunal Federal, ao interpretar o art. 14, § 8.º, incisos
I e II, firmou o entendimento de que a Carta da República autorizou tratamento diferenciado aos servidores
militares, que intentem candidatar-se a cargo eletivo, lastreado no tempo de serviço, estabelecendo o seguinte
discrímen: (a) se contarem com mais de 10 (dez) anos de efetivo exercício na corporação, serão “agregados”,
mantendo a remuneração, e, se eleitos, no ato da diplomação, deverão passar para a inatividade; (b) se ainda
não tiverem alcançado o interstício de um decênio, deverão ser definitivamente afastados do serviço ativo. 2. A
jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, na esteira da do Supremo Tribunal Federal, firmou-se no sentido
de que o afastamento do militar, que contava com menos de 10 (dez) anos de atividade, para candidatar-se a
cargo eletivo é definitiva e deve se dar por demissão ou licenciamento ex officio, sendo exigível após o deferimento
do registro da candidatura. 3. Nos termos do art. 14, § 8.º, inciso II, da Carta Magna, apenas o militar que
conte com mais de 10 (dez) anos de serviço tem direito à licença remunerada para concorrer a cargo eletivo.
Precedentes do STF e do STJ. 4. No caso, tratando-se de militar com menos de 10 (dez) anos na corporação,
inexiste direito líquido e certo a ser amparado na via mandamental no sentido de ser remunerado no período
em que foi licenciado a concorrer a cargo eletivo. 5. Recurso ordinário em mandado de segurança conhecido
e desprovido. (STJ - RMS 30041/MT, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 13/12/2011,
DJe 01/02/2012)
Houve, também, uma consulta eleitoral sobre este tema, onde o TSE assim
respondeu:
964
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. POLICIAL MILITAR. COM MENOS DE 10 (DEZ) ANOS
DE SERVIÇO EFETIVO. LICENÇA PARA CONCORRER A CARGO ELETIVO. MANUTENÇÃO DA
REMUNERAÇÃO. INTERPRETAÇÃO DO ART. 14, § 8.º, INCISO I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
DESLIGAMENTO DEFINITIVO DA CORPORAÇÃO. NECESSIDADE. PRECEDENTES DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL E DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
NON REFORMATIO IN PEJUS. 1. O Pleno do Supremo Tribunal Federal, ao interpretar o art. 14, § 8.º, incisos
I e II, firmou o entendimento de que a Carta da República autorizou tratamento diferenciado aos servidores
militares, que intentem candidatar-se a cargo eletivo, lastreado no tempo de serviço, estabelecendo o seguinte
discrímen: (a) se contarem com mais de 10 (dez) anos de efetivo exercício na corporação, serão “agregados”,
mantendo a remuneração, e, se eleitos, no ato da diplomação, deverão passar para a inatividade; (b) se ainda
não tiverem alcançado o interstício de um decênio, deverão ser definitivamente afastados do serviço ativo. 2. A
jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, na esteira da do Supremo Tribunal Federal, firmou-se no sentido
de que o afastamento do militar, que contava com menos de 10 (dez) anos de atividade, para candidatar-se a
cargo eletivo é definitiva e deve se dar por demissão ou licenciamento ex officio, sendo exigível após o deferimento
do registro da candidatura. 3. Nos termos do art. 14, § 8.º, inciso II, da Carta Magna, apenas o militar que
conte com mais de 10 (dez) anos de serviço tem direito à licença remunerada para concorrer a cargo eletivo.
Precedentes do STF e do STJ. 4. No caso, tratando-se de militar com menos de 10 (dez) anos na corporação,
inexiste direito líquido e certo a ser amparado na via mandamental no sentido de ser remunerado no período
em que foi licenciado a concorrer a cargo eletivo. 5. Recurso ordinário em mandado de segurança conhecido
e desprovido. (STJ - RMS 30.041/MT, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 13/12/2011,
DJe 01/02/2012)
966
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ACUMULAÇÃO DE CARGOS. MILITAR. MAGISTÉRIO
SUPERIOR EM REGIME DE DEDICAÇÃO EXCLUSIVA. I - Pretendeu o MPF, em síntese, a condenação do
Réu nas penas cominadas no art. 12, III, da Lei n.º 8.429/92. Assevera que o réu, enquanto exercia a função de
Capitão da Ativa do Exército Brasileiro, tomou posse em segundo cargo público, de Professor Assistente I da UFF,
em regime de dedicação exclusiva, tendo se utilizado, para tanto, de documento falso. II - O Réu, ao tomar posse
no cargo de Professor junto à UFF, em 21/07/1998, em regime de dedicação exclusiva, apresentou documento,
no qual consta que era Oficial do Exército no posto de Tenente da Reserva de 2ª Classe da Armada de Infantaria.
O Réu, ainda, assinou Termo de Responsabilidade no ato da posse, no qual afiançou que não exercia qualquer
outro cargo ou emprego público. No entanto, constatou-se que o Réu ocupava, em verdade, o posto de Capitão
da Ativa no Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro desde 13/11/1992. III - Registre-se que o
fato de ter sido declarada extinta a punibilidade em processo penal que versava sobre os mesmos fatos objeto
da presente ação não vincula a esfera cível, uma vez que a sentença proferida naqueles autos não reconheceu
a inexistência de fato delituoso ou a negativa de autoria, mas apenas extinguiu a punibilidade em razão do
regular cumprimento do período de prova, após concessão do benefício da suspensão condicional do processo.
IV - Comprovado que o cargo de Professor Assistente I da UFF, no qual o Réu tomou posse enquanto ainda era
militar da ativa, é de dedicação exclusiva, imperioso é o reconhecimento da impossibilidade de acumulá-lo com
qualquer outro cargo ou função. Precedentes dos Tribunais Regionais Federais. V - Destarte, considerando que
os documentos adunados aos autos demonstram que o Réu omitiu dolosamente informação à UFF que consistiria
em óbice à sua posse no cargo de Professor sob o regime de dedicação exclusiva, conclui-se que o mesmo agiu em
desconformidade com os princípios que devem pautar o agente público, o que justifica a sua punição por ato de
improbidade administrativa. VI - Deve-se destacar que, muito embora a regra geral da norma inscrita no artigo
12, da Lei 8.429/92, seja a aplicação cumulativa das penalidades nele descritas, entende a jurisprudência que
há casos em que o julgador possui discricionariedade para aplicá-las, atentando-se sempre à proporcionalidade
com o dano ocasionado pela conduta do agente ímprobo. VII - Quanto à aplicação da penalidade da perda da
função pública, restou caracterizada a má-fé do réu, pois apresentou documento falso, o que torna irregular a
sua posse no cargo de professor da UFF. Assim, deve ser aplicada a penalidade de perda da função pública, nos
termos do art. 12, III, da Lei nº 8.429/92.(...). (TRF2 - AC 200551020035738 – 7ª Turma Especializada – Rel.
Des. Federal José Antônio Lisboa Neiva - E-DJF2R de 22.09.2011)
967
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA.
ELEIÇÕES 2012. VEREADOR. LC 135/2010. CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE
PELO STF. DECISÃO DE MÉRITO. EFEITO VINCULANTE. INELEGIBILIDADE. ART. 1º, I, “O”, DA
LC 64/90. DEMISSÃO DO SERVIÇO PÚBLICO. NÃO PROVIMENTO. 1. No julgamento das ADCs 29 e 30
e da ADI 4578, o STF assentou que a aplicação das causas de inelegibilidade instituídas ou alteradas pela LC
135/2010 com a consideração de fatos anteriores à sua vigência não viola a Constituição Federal. 2. As decisões
definitivas de mérito proferidas pelo Supremo Tribunal Federal nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas
ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante relativamente aos
demais órgãos do Poder Judiciário, incluindo-se esta Justiça Especializada, conforme dispõe o art. 102, § 2º, da
CF/88. 3. Na espécie, o agravante foi demitido do serviço público em decorrência de processo administrativo
disciplinar, não havendo decisão judicial que tenha suspendido ou anulado o ato demissório. Desse modo, o
indeferimento do seu pedido de registro de candidatura deve ser mantido por incidência da causa de inelegibilidade
prevista no art. 1º, I, o, da LC 64/90. 4. As condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidade são aferidas
a cada pleito, não havendo direito adquirido a candidatura em razão de eventual deferimento de registro em
eleição anterior. Precedente. 5. Agravo regimental não provido. (TSE - Agravo Regimental em Recurso Especial
Eleitoral nº 13189, Acórdão de 04/10/2012, Relator(a) Min. FÁTIMA NANCY ANDRIGHI, Publicação: PSESS
- Publicado em Sessão, Data 4/10/2012)
968
Art. 1º. São inelegíveis:
I - para qualquer cargo:
(...)
o) os que forem demitidos do serviço público em decorrência de processo administrativo ou judicial, pelo prazo de
8 (oito) anos, contado da decisão, salvo se o ato houver sido suspenso ou anulado pelo Poder Judiciário; (Incluído
pela Lei Complementar nº 135, de 2010)
(...)
969
Na prática, aqui se refere a Município (Prefeito e Vereador), Estado ou DF (Senador, Deputado Federal e
Deputado Estadual ou Distrital) e em qualquer lugar do País para Presidente da República.
970
FURHER, Maximilianus Cláudio Américo. Resumo de Direito Civil. 24ª ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 38.
971
RECURSO ESPECIAL. ELEIÇÃO MUNICIPAL. REGISTRO DE CANDIDATO. INDEFERIMENTO.
AUSÊNCIA. CONDIÇÃO DE ELEGIBILIDADE. DOMICÍLIO ELEITORAL. MILITAR. PROVIMENTO. 1.
A condição de elegibilidade referente ao domicílio eleitoral um ano antes do pleito, na respectiva circunscrição,
também se aplica aos militares e não é afastada pelo disposto no art. 55, § 2º, do Código Eleitoral. Precedente.
2. Recurso especial eleitoral a que se nega provimento. (TSE - Recurso Especial Eleitoral nº 5389, Acórdão de
09/10/2012, Relator(a) Min. MARCO AURÉLIO MENDES DE FARIAS MELLO, Relator(a) designado(a) Min.
JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 9/10/2012)
Como dito acima, o cidadão pode ter várias residências, e é com suporte no
parágrafo único do art. 42 que se pode afirmar que o militar pode se candidatar em
qualquer lugar do País, caso tenha neste local a sua residência e esteja devidamente
alistado na respectiva circunscrição eleitoral.
O TSE já analisou tal diferenciação nos autos do Recurso Especial Eleitoral
16.397/2000:
o conceito de domicílio eleitoral não se confunde, necessariamente, com o de
domicílio civil; aquele, mais flexível e elástico, identifica-se com a residência e o
lugar onde o interessado tem vínculos (políticos, sociais, patrimoniais, negócios).
II – se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior
e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.
§ 1º. A condição de elegibilidade relativa à filiação partidária não é exigível ao
militar da ativa que pretenda concorrer a cargo eletivo, bastando o pedido de
registro de candidatura, após prévia escolha em convenção partidária.
§ 2º. O militar da reserva remunerada deve ter filiação partidária deferida um ano
antes do pleito.
§ 3º. O militar que passar à inatividade após o prazo de um ano para filiação
partidária, mas antes da escolha em convenção, deverá filiar-se a partido político,
no prazo de quarenta e oito horas, após se tornar inativo.
§ 4º. Deferido o registro de militar candidato, o Tribunal comunicará a decisão à
autoridade a que o militar estiver subordinado, cabendo igual obrigação ao partido
político, quando o escolher candidato (Código Eleitoral, art. 98, parágrafo único).
Desta forma, observa-se que o militar da ativa não precisa, já que proibido
constitucionalmente, estar filiado972 a partido político para poder concorrer às
eleições. E por isso não será necessário comprovar a sua filiação partidária no
momento do requerimento do registro de sua candidatura. Diferentemente,
entretanto, ocorre com os militares inativos (reserva e reformados), pois estes
deverão estar filiados a partido político para poderem concorrer às eleições.
Há outra importantíssima condição de elegibilidade: desincompatibilização,
prevista na LC 64/90, exigindo-se que alguns cidadãos detentores de determinados
cargos, sejam, por exemplos, públicos ou privados, afastem-se de suas funções
por certos períodos anteriores à data das eleições.
972
REGISTRO DE CANDIDATURA - DEPUTADO ESTADUAL - ELEIÇÃO 2010 - SUBSTITUIÇÃO -
MILITAR DA ATIVA - FILIAÇÃO PARTIDÁRIA - INEXIGIBILIDADE - DOCUMENTAÇÃO - CONJUNTO
NORMATIVO CONSTITUCIONAL, LEGAL E INFRALEGAL - OBSERVÂNCIA - IMPUGNAÇÃO -
AUSÊNCIA - PEDIDO DEFERIDO. 1. Militar da ativa pode ser candidato independentemente de filiação
partidária, sendo suficiente o pedido de registro de candidatura, após prévia escolha em convenção partidária.
Precedente: Resolução TSE nº 21.787 (DJ de 05.07.2004). 2. O pedido de registro de candidatura, desprovido
de impugnação, atende os requisitos do conjunto normativo aplicável à espécie: Constituição Federal, Código
Eleitoral, Lei Complementar nº 64/90, Lei nº 9.504/97 com alterações da Lei nº 12.034/2009 e Resolução TSE
nº 23.221/2010. 3. Presentes os requisitos delineados no artigo 56, caput e §§ 1º e 6º, da Resolução TSE nº
23.221/2010 e no art. 13, caput e §§ 1º e 3º, da Lei 9.504/97, impõe-se o deferimento do pedido de substituição
de candidato. 4. Deferimento do pedido. (TSE - REGISTRO DE CANDIDATO nº 95464, Acórdão nº 2401/2010
de 11/08/2010, Relator(a) EVA EVANGELISTA DE ARAÚJO SOUZA, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão,
Tomo 70, Data 11/8/2010)
REGISTRO DE CANDIDATURA - DEPUTADO ESTADUAL - ELEIÇÃO 2010 - MILITAR DA RESERVA
- FILIAÇÃO PARTIDÁRIA - EXIGÊNCIA - CONJUNTO NORMATIVO CONSTITUCIONAL, LEGAL E
INFRA-LEGAL - INOBSERVÂNCIA - IMPUGNAÇÃO - AUSÊNCIA - INDEFERIMENTO. 1. As condições
de elegibilidade devem ser aferidas ao tempo do pedido de registro de candidatura, embora não impugnado. 2.
Ao passar para a inatividade, após o prazo limite da filiação partidária, mas antes da escolha em convenção, o
militar da reserva que pretenda concorrer a cargo eletivo, deve se filiar em 48 horas a Partido Político. Resolução
TSE nº 20.614 e 20.615/2000. 3. Pedido de registro indeferido. (TSE - REGISTRO DE CANDIDATO nº 87755,
Acórdão nº 2301/2010 de 29/07/2010, Relator(a) EVA EVANGELISTA DE ARAÚJO SOUZA, Publicação: PSESS
- Publicado em Sessão, Tomo 62ª, Data 29/7/2010)
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais
e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
(...)
976
Há algumas decisões do TSE (anteriores a 2012) e de alguns TREs com o entendimento de que a letra l do
inciso II do art. 1º da LC 64/90 não se aplica aos militares em geral (Forças Armadas e Auxiliares), todavia,
entendo que tal posicionamento não está em consonância com nosso ordenamento jurídico, haja vista que esta
LC é anterior à alteração efetivada pela EC 18/98.
977
RECURSO ELEITORAL. ELEIÇÕES 2012. VEREADOR. REGISTRO DE CANDIDATURA. FILIAÇÃO
PARTIDÁRIA. DESINCOMPATIBILIZAÇÃO. POLICIAL MILITAR. AFASTAMENTO COMPROVADO.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. A filiação partidária no prazo de um ano antes do pleito não é
condição de elegibilidade do militar da ativa que pretenda concorrer a cargo eletivo. 2. O policial militar que
não exerce função de comando não se submete ao prazo de desincompatibilização previsto no art. 1º, VII, alínea
“b”, da LC 64/90, devendo-se afastar no período estipulado pela legislação para os servidores públicos em
geral, qual seja, três meses antes do pleito (Precedentes do TSE e do TRE/GO). 3. Superada a questão relativa
à filiação partidária do candidato e comprovada a tempestiva desincompatibilização, impõe-se o deferimento
do registro de candidatura. 4. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (TRE-GO - RECURSO ELEITORAL nº
8527, Acórdão nº 12569 de 27/08/2012, Relator(a) JOÃO WALDECK FELIX DE SOUSA, Publicação: PSESS
- Publicado em Sessão, Data 27/08/2012)
RECURSO ELEITORAL. REGISTRO DE CANDIDATURA. DEFERIMENTO. ELEIÇÕES 2012.
POLICIAL MILITAR. DESINCOMPATIBILIZAÇÃO. TRÊS MESES ANTES DO PLEITO. APLICAÇÃO
DO PRINCIPIO DA ISONOMIA E DA PARIDADE COM O SERVIDOR PÚBLICO EM GERAL. ART. 1º.,
II, “L” DA LC 64/90. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. IMPROVIMENTO DO RECURSO. 1. Não sendo
cumulativamente autoridade policial, o afastamento de militar dar-se-á no período estipulado pela legislação
aos servidores públicos em geral, sendo de três meses anteriores ao pleito para concorrer à candidatura ao
cargo de vereador, aplicando-se o principio da isonomia e da paridade. 2. Restou comprovado nos autos que o
pretenso candidato efetivamente se desincompatibilizou no prazo exigido pela legislação, não se encontrando
em hipótese de inelegibilidade. 3. Improvimento do recurso, para manter a sentença que deferiu o registro de
candidatura. (TRE-AM – RECURSO ELEITORAL nº 15039, Acórdão nº 577 de 30/08/2012, Relator(a) MARCO
ANTONIO PINTO DA COSTA, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão)
978
O caput do art. 42 da CF/88 em vigor assim prescreve:
Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas com base
na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
979
Um dos principais motivos para excluir os militares da classe servidores públicos na CF/88 foi possibilitar a
concessão de aumentos salariais aos militares em datas e percentuais diferenciados aos conferidos aos servidores
públicos civis.
E, ressalte-se, que este foi o último dia para a realização das convenções partidárias para a escolha dos
980
candidatos.
981
Tecnicamente, aquele que requer o deferimento do registro de candidatura será denominado candidato quando
deste deferimento, ou seja, estando apto para concorrer às eleições. Antes deste ato judicial (deferimento), este
requerente é denominado pré-candidato, embora as legislações não façam tal distinção técnica, chamando todos
de candidatos, mesmo que estejam sub judice.
982
Como dito antes, o cidadão é considerado, tecnicamente, candidato quando tem deferido o respectivo registro
de candidatura, antes deste ato judicial, o correto é chamar-se pré-candidato.
983
Impugnação é o ato no qual um candidato, partido político, coligação ou o Ministério Público peticiona à
Justiça Eleitoral alegando que um candidato é inelegível.
984
Notícia de inelegibilidade é, na prática, o mesmo que impugnação, todavia, têm legitimidade somente os
cidadãos em pleno gozo dos seus direitos políticos.
Art. 10. Cada partido poderá registrar candidatos para a Câmara dos Deputados,
Câmara Legislativa, Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais, até cento e
cinquenta por cento do número de lugares a preencher.
§ 1º. No caso de coligação para as eleições proporcionais, independentemente do
número de partidos que a integrem, poderão ser registrados candidatos até o dobro
do número de lugares a preencher.
§ 2º. Nas unidades da Federação em que o número de lugares a preencher para
a Câmara dos Deputados não exceder de vinte, cada partido poderá registrar
candidatos a Deputado Federal e a Deputado Estadual ou Distrital até o dobro
das respectivas vagas; havendo coligação, estes números poderão ser acrescidos
de até mais cinquenta por cento.
§ 3º. Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada partido
ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento) e o máximo de 70%
(setenta por cento) para candidaturas de cada sexo.
§ 4º. Em todos os cálculos, será sempre desprezada a fração, se inferior a meio, e
igualada a um, se igual ou superior.
§ 5º. No caso de as convenções para a escolha de candidatos não indicarem o número
máximo de candidatos previsto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo, os órgãos de
direção dos partidos respectivos poderão preencher as vagas remanescentes até
sessenta dias antes do pleito.
Ou seja, existe uma limitação986 ao número de pré-candidatos por partido ou
coligação. Mas então surgirá outra pergunta: então como definir quais pessoas
poderão ser lançadas candidatas pelo partido ou coligação? Como será feita esta
escolha? Digamos que existam 100 (cem) interessados e somente 50 (cinquenta)
vagas. Ressalte-se, ainda, que há obrigatoriedade de reserva de vagas às mulheres,
logo, esta etapa pré-eleitoral é um pouco complexa e motivo de muitas brigas
internas nos partidos. Eu mesmo presenciei várias discussões durante minhas
candidaturas em 2004 e 2006. Mas, respondendo àquela indagação, a resposta é:
Convenção Partidária.
Mas será mesmo que somente a convenção partidária define os pré-candidatos?
Não mesmo, principalmente em partidos pequenos onde os Presidentes definem
antes mesmo das convenções os pré-candidatos dos partidos (a convenção é muitas
vezes um ato simbólico, embora obrigatório). Ademais, muitas vezes, a escolha
985
O termo cadeiras é a forma de designar o número máximo de candidatos eleitos para comporem as Casas
Legislativas. Por exemplo: para a legislatura de 2007, a Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte
seria composta de 24 (vinte e quatro) cadeiras, ou seja, 24 deputados estaduais. Já na Assembléia Legislativa do
Estado de Pernambuco o número seria de 49 (quarenta e nove) cadeiras para o ano de 2007.
986
O § 3º ainda prevê a disponibilização mínima de vagas para o sexo feminino e para o masculino.
Art. 8º. A escolha dos candidatos pelos partidos e a deliberação sobre coligações
deverão ser feitas no período de 10 a 30 de junho do ano em que se realizarem
as eleições, lavrando-se a respectiva ata em livro aberto e rubricado pela Justiça
Eleitoral.
§ 1º. Aos detentores de mandato de Deputado Federal, Estadual ou Distrital, ou
de Vereador, e aos que tenham exercido esses cargos em qualquer período da
legislatura que estiver em curso, é assegurado o registro de candidatura para
o mesmo cargo pelo partido a que estejam filiados. (Este parágrafo encontra-se
suspenso por força de medida liminar concedida nos autos da Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 2530-9)
§ 2º. Para a realização das convenções de escolha de candidatos, os partidos
políticos poderão usar gratuitamente prédios públicos, responsabilizando-se por
danos causados com a realização do evento.
987
Estatuto, resumidamente, é a lei ou regulamento do partido político, onde estão fixados seus princípios
institucionais ou orgânicos.
informar que é um afastamento compulsório, sendo que o item 4.8 disciplina esse
afastamento, então vejamos:
1.2.27 - Licença para Candidatar-se a Cargo Eletivo de Natureza Política (LCCE)
É o afastamento compulsório e temporário do SAM, concedido pela DPMM, ao
militar que se candidate a cargo eletivo de natureza política.
(3) providenciar a reversão do militar não eleito, a partir da data em que ele se
apresentar; e
(4) providenciar a transferência para a Reserva Remunerada, a partir da data
da diplomação do militar eleito, para militares com mais de dez anos de serviço.
O Exército dispõe de Portaria exclusiva para regularizar os procedimentos
para a candidatura de militares, trata-se da Portaria 043-DGP, de 16 de agosto de
2000, então vejamos:
988
Publicada no Boletim do Comando da Aeronáutica (BCA) nº 162, de 31 AGO 2010.
b) MILITAR ELEITO:
989
O primeiro erro é pelo fato de que a desfiliação cabe ao próprio partido político. Este é que irá informar à
Justiça Eleitoral sobre o desligamento do filiado. Ou seja, requerer o desligamento diretamente à Justiça Eleitoral
não é suficiente para um filiado (porém, ratifique-se: o militar da ativa nunca estará filiado durante o período de
afastamento) se desligar do partido político. Ressalte-se, entretanto, que para os civis e militares inativos filiados,
faz-se necessário que, após o pedido de desfiliação ao partido político, o filiado informe sobre sua desfiliação ao
Juízo do seu Cartório Eleitoral, nos termos do art. 22 da Lei 9.096/95. O objetivo desta informação é para que
não corra o risco de, futuramente, ser considerado inelegível por ter dupla filiação partidária. Às vezes, embora o
filiado solicite sua desfiliação ao partido, este mantém o filiado em seus quadros, e a consequência será que, para
a Justiça Eleitoral este filiado continuará pertencente a este partido político. Se este filiado, acreditando que não
pertence mais ao anterior partido, vir a se filiar a outro partido e, posteriormente, pretender ser candidato, estará
inelegível, pois constará no sistema da Justiça Eleitoral sua dupla filiação. Tal problema poderá ser remediado
quando o candidato provar que informou anteriormente ao Cartório Eleitoral sobre sua desfiliação, nos termos
do art. 22 da Lei 9.096/95.
990
MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. MILITAR. SUPLENTE DE VEREADOR.
TRANSFERÊNCIA PARA A RESERVA REMUNERADA EM FACE DA DIPLOMAÇÃO EM CARGO
ELETIVO. LEI Nº 6.880/80. CF/88, ART. 14, § 8º. 1. A carreira política exige obrigações, responsabilidades
e compromissos incompatíveis com a profissão militar, e, salvo melhor juízo, foi com essa questão em mente
que o legislador optou pela transferência para a reserva remunerada daqueles militares que optaram por essa
trajetória profissional. 2. Em conformidade com o que prescreve o Estatuto dos Militares (Lei nº 6.880/80), e a
Constituição Federal de 1988, em seu art. 14, § 8º, o militar eleito e diplomado, na qualidade de terceiro suplente
de vereador, deve ser transferido para a reserva remunerada. 3. Remessa oficial denegada. Apelo provido. (TRF4
- AMS 9704688156 – 4ª Turma - Rel. Des. Federal Alcides Vettorazzi - DJ de 22.11.2000)
991
Nas eleições municipais, os deferimentos dos pedidos de candidatura são de responsabilidade dos juízes
eleitorais de primeira instância. Já nas eleições gerais, a responsabilidade ficará a cargo dos TREs e do TSE.
Assim, caso o pedido de requerimento seja indeferido nas eleições municipais, caberá, a princípio, recurso ao
TRE. Caso o indeferimento da candidatura seja nas eleições gerais, por exemplo, ao cargo de deputado estadual
ou federal, os recursos serão destinados, a princípio, ao TSE.
992
Uma decisão transita em julgado quando não há mais recursos possíveis contra a mesma ou quando o interessado
deixa esgotar o prazo para a interposição de um recurso.
993
A cada eleição o TSE divulga resoluções, como esta de 2004, por isso, o profissional da área eleitoral deve
ficar atento para as novas resoluções editadas a cada ano de pleito eleitoral.
remuneração, como também não sofri qualquer punição disciplinar, haja vista que
estava amparado pela legislação eleitoral e pela CF/88.
Surge, então, outra pergunta: o que fazer quando há impugnação contra a
candidatura do militar? Duas são as respostas nas seguintes hipóteses:
Importante consignar que a cada eleição o TSE edita novas resoluções que
são de fundamentais importâncias para o pleito eleitoral, estando disponíveis no
site997 do TSE.
Sugiro que o militar de cada Força Armada ou Auxiliar que pretender se
candidatar obtenha, se houver, a respectiva legislação castrense sobre candidatura
às eleições.
994
7 (sete) dias é o prazo para o pré-candidato impugnado se defender da impugnação. E não havendo recurso no
prazo legal, ocorrerá o trânsito em julgado da decisão judicial. Todavia, como a Administração Militar é leiga,
caso decida não recorrer, aconselho a não aguardar tanto tempo para regressar. Por isso, sensato retornar as suas
funções seguidamente ao indeferimento. E por que afirmo que o prazo é de até 7 (sete) dias? É que você pode
pretender recorrer, porém desista no último dia do prazo. Por isso, seu retorno, legalmente, seria após este prazo
de 7 dias, onde ocorreria o trânsito em julgado da decisão do indeferimento.
995
É necessário para recorrer das impugnações. E mais uma coisa: o ideal é contratar um Advogado desde a
Convenção Partidária, pois este é o profissional habilitado para preservar seus direitos frente ao pleito eleitoral.
996
De preferência, forneça uma procuração especial com firma reconhecida ao seu Advogado, dando-lhe poderes
para representá-lo junto a sua OM, isso poderá conter abusos de seus superiores hierárquicos.
997
www.tse.jus.br
Capítulo 16
16. Introdução
Este capítulo é destinado a dar noções sobre o processo legislativo brasileiro
e discorrer sobre a aplicação do princípio da hierarquia das normas jurídicas.
Não raro, a Administração Militar edita normas em desacordo com a
legislação superior e por isso entendi oportuno tecer alguns comentários sobre a
hierarquia das normas.
Não me aprofundarei no estudo do processo legislativo (emendas à
constituição, lei complementar, lei ordinária, medida provisória, etc), pois não é o
objetivo deste capítulo, mas sim o estudo sobre a hierarquia das normas infralegais998
(decretos, regulamentos, portarias, etc.) emitidas pelo Poder Executivo.
998
Vejamos as seguintes diferenciações: a) normas constitucionais: são aqueles inseridas na CF/88; b) normas
infraconstitucionais: são as normas inferiores à CF/88 e c) normas infralegais: são as inferiores à lei (gênero).
IV - leis delegadas;
V - medidas provisórias;
VI - decretos legislativos;
VII - resoluções.
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração
e consolidação das leis.
Estas espécies normativas são chamadas de normas primárias devido ao
fato de terem suas validades oriundas da CF.
A disposição em escala vertical destas espécies de normas não significa
dizer que há uma hierarquia entre as mesmas, ou seja, não é correto afirmar que
existe hierarquia entres as normas primárias (art. 59).
Há muita divergência na doutrina sobre a existência ou não da hierarquia
entre as normas primárias e, principalmente, em relação a 2 (duas) em especial:
lei complementar e lei ordinária. O STJ, analisando conflito entre estas normas
primárias, assim discorreu sobre a polêmica:
TRIBUTÁRIO – COFINS – ISENÇÃO – SOCIEDADE CIVIL DE
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PROFISSIONAIS – LEI COMPLEMENTAR
70/91 – REVOGAÇÃO PELA LEI 9.430/96 – RECURSO ESPECIAL –
DESCABIMENTO – PRECEDENTE DA SEÇÃO NO REsp 728.754/SP –
INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO – INOVAÇÃO DO FEITO. 1. O tema relativo
à possibilidade de revogação, por lei ordinária (Lei 9.430/96), da isenção da
COFINS concedida às sociedades civis pela LC 70/91 não há de ser resolvido em
âmbito infraconstitucional, segundo precedentes do STF. 2. “O conflito entre lei
complementar e lei ordinária não há de solver-se pelo princípio da hierarquia,
mas sim em função de a matéria estar ou não reservada ao processo de legislação
complementar” (RE 419.629/DF, 1ª Turma, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado
em 23/05/06). 3. A Primeira Seção deste Sodalício, em 26/04/2006, enfrentou
o problema posto para apreciação das Turmas de Direito Público reunidas,
oportunidade em que concluiu pela manutenção da Súmula 276/STJ e determinou o
exame do recurso especial caso a caso, observando se o enfoque foi exclusivamente
infraconstitucional. 4. Entretanto, ficou estabelecido que o STJ não conheceria
dos recursos quando o acórdão recorrido tivesse analisado tão-somente a tese de
revogação da lei complementar por lei ordinária. 5. Esta Corte não está obrigada
a se pronunciar sobre tese que não foi objeto do recurso especial interposto,
trazida apenas posteriormente, em sede de agravo regimental. 6. Agravo regimental
improvido. (STJ - AgRg no REsp nº 867.371/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON,
SEGUNDA TURMA, julgado em 13/02/2007, DJ 02/03/2007, pág. 286)
999
A MP tem mesma força de lei.
1000
Há situações em que a lei complementar poderá tratar de assunto atinente à lei ordinária, todavia, será
somente formalmente complementar, isto é, será na prática lei ordinária, podendo, posteriormente, ser revogada
por lei ordinária.
1001
Diferentemente, ocorre com as normas secundárias, conforme será discorrido posteriormente.
1002
Já os decretos, regulamentos e demais atos administrativos em geral são chamados de normas secundárias
ou infralegais, posto que não integram o processo legislativo brasileiro.
1003
Em relação às emendas (poder constituinte derivado), estas quando incorporadas à Constituição passam
a ter mesma posição hierárquica que as normas constitucionais elaboradas pelo poder constituinte originário
1004
Manual de redação da Presidência da República - Gilmar Ferreira Mendes e Nestor José Forster Júnior. – 2. ed.
rev. e atual. – Brasília: Presidência da República, 2002. Site para baixar a íntegra do manual: www.planalto.gov.br
1005
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo. 16ª. ed. São Paulo: Malheiros, 1988. p. 155.
1006
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direto Administrativo. 14ª ed. São Paulo: Malheiros
Editores Ltda, 2002. p. 305.
1007
Na prática são sinônimos, pois os Decretos expedidos com base no inciso IV do art. 84 da CF/88 costumam
explicitar que estão regulamentando determinada lei.
1008
A palavra está destacada em itálico para destacar que o termo lei na CF/88 tem aspecto genérico, podendo
ser, por exemplo, lei complementar, lei ordinária, etc.
1009
Ressalte-se que não há que se falar em inconstitucionalidade, mas sim ilegalidade, conforme já analisado pelo
STF nos autos da Medida Cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 561/DF, julgada em 23.08.1995
pelo Plenário do Supremo. Eis parte da ementa: Se a interpretação administrativa da lei divergir do sentido e do
conteúdo da norma legal que o Decreto impugnado pretendeu regulamentar, quer porque se tenha projetado ultra
legem, quer porque tenha permanecido citra legem, quer porque tenha investido contra legem, a questão posta
em análise caracterizará típica crise de legalidade, e não de inconstitucionalidade, a inviabilizar a utilização
do mecanismo processual de fiscalização normativa abstrata.
O decreto autônomo surge a partir do texto constitucional, isto é, não tem por
base a lei e nem regulamenta a lei. É um ato primário porque decorre diretamente da
Constituição, inovando o ordenamento jurídico, criando situações jurídicas, direitos
e obrigações. Todavia, ressalte-se, há limites constitucionais para sua utilização,
conforme disposições contidas nas letras a e b do inciso VI do art. 84 da CF/88.
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 14ª ed. São Paulo: Malheiros
1012
43. Tudo quanto se disse a respeito do regulamento e de seus limites aplica-se, ainda
com maior razão, a instruções, portarias, resoluções, regimentos ou quaisquer
outros atos gerais do Executivo. É que, na pirâmide jurídica, alojam-se em nível
inferior ao próprio regulamento. Enquanto este é ato do Chefe do Poder Executivo,
os demais assistem a autoridades de escalão mais baixo e, de conseguinte, investidas
de poderes menores. Tratando-se de atos subalternos e expedidos, portanto, por
autoridades subalternas, por via deles o Executivo não pode exprimir poderes mais
dilatados que os suscetíveis de expedição mediante regulamento.
1013
ADMINISTRATIVO. (...). MILITAR. PROMOÇÃO. REQUISITOS. TERCEIRO-SARGENTO TAIFEIRO
DA AERONÁUTICA. ACESSO À GRADUAÇÃO IMEDIATAMENTE SUPERIOR. REQUISITO TEMPORAL
ESTABELECIDO POR DECRETO. MAJORAÇÃO POR MEIO DE PORTARIA. IMPOSSIBILIDADE.
OFENSA AO PRINCÍPIO DA HIERARQUIA DAS NORMAS. CUMPRIMENTO DAS DEMAIS CONDIÇÕES
PARA A PROMOÇÃO. ANÁLISE DO CONJUNTO FÁTICO PROBATÓRIO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA
N.º 07 DESTA CORTE. 1. A questão relativa à Portaria R-46/GC1 ter reiterado a Portaria n.º 622/GM1, de 08
de agosto de 1994, não foi aventada nas razões do recurso especial e, portanto, não comporta conhecimento, na
medida em que se configura inovação inviável de ser examinada em sede de agravo regimental. 2. Os ocupantes
do cargo de Taifeiros da Aeronáutica possuem o direito de, respeitada a regulamentação existente para os demais
quadros da Força Aérea, ascender até à graduação de suboficial, consoante à suas respectivas especialidades,
nos artigo 1º, § 1.º, da Lei n.º 3.953/61. Precedentes. 3. A regra regulamentadora, de caráter inferior - Portaria -,
não pode modificar comando normativo de natureza superior - Decreto -, em respeito ao princípio da hierarquia
das normas. 4. Agravo regimental parcialmente conhecido e, nessa extensão, desprovido. (STJ - AgRg no REsp
994038/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, DJe 18/05/2011)
1014
MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. CONCURSO DO ITA. OFENSA A DIREITO
LÍQUIDO E CERTO. PRINCÍPIO DA HIERARQUIA DAS NORMAS. ABUSO DE PODER. A portaria que
instituiu as normas para o Concurso, deu vigência integral ao caput do artigo 6º, do Decreto n.º 76.323/75, mas
ignorou o disposto em seu parágrafo 1º. Uma portaria, por ser norma de hierarquia inferior e de cunho meramente
complementar, não tem o condão de alterar disposições emanadas de Decreto-Lei (princípio da hierarquia das
normas). Se a Administração, mesmo no exercício de seu poder discricionário, não atende ao fim legal, a que
está obrigada, entende-se que abusou do poder. Quando o administrador indeferiu o pedido de efetivação de
matrícula do impetrante, tendo este sido considerado apto para ingresso no ITA, em certame que seguiu as
norma estabelecidas no Decreto n.º 76.323/75, agiu ilegalmente, violando direito líquido e certo. (STJ - MS
5698/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 26/04/2000, DJ 30/10/2000, p. 118)
1015
Se o leitor desejar se aprofundar sobre as inconstitucionalidades e ilegalidades mais presentes nos concursos
públicos militares e civis, e, ainda, conhecer as ações judiciais e os recursais cabíveis, sugiro a aquisição do meu
livro Concursos Públicos Militares – Tutelas de Urgência - Teoria e Prática.
Capítulo 17
17. Introdução
Muitos militares desconhecem que poderão ser nomeados para cargo1016,
emprego1017 ou função pública1018 civil, não eletiva, da administração direta
e indireta (autarquias, fundações públicas e entidades paraestatais que são as
empresas públicas e sociedades de economia mista), permanecendo na condição
de militar (sem terem que pedir baixa).
Pode-se afirmar que cargo (ou emprego ou função) público civil temporário,
em regra, é aquele que não é preenchido através de concurso público, onde o
ocupante do mesmo poderá ser exonerado a qualquer momento, ou seja, é cargo
de natureza precária.
Os conceitos de administração direta e indireta estão muito bem resumidos
por Maximilianus Cláudio1019:
1016
Cargo público é a designação dada ao cargo ocupado em repartição ou estabelecimento público sob
subordinação ao regime jurídico único, seja a nível federal, estadual ou municipal.
1017
Emprego público é a designação dada ao emprego ocupado na Administração Direta ou Indireta do Poder
Público, sendo regido pelo regime jurídico da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas).
1018
Funções Públicas, de acordo com o ensinamento de Bandeira de Mello (Curso de Direito Administrativo – 14ª
edição – pág. 227), são plexos unitários de atribuições, criados por lei, correspondentes a encargos de direção,
chefia ou assessoramento, a serem exercidas por titular de cargo efetivo, da confiança da autoridade que as
preenche (art. 37, V, da Constituição, com a redação dada pelo “Emendão”. Assemelham-se, quanto à natureza
das atribuições e quanto à confiança que caracteriza seu preenchimento, aos cargos em comissão. Contudo,
não se quis prevê-las como tais, possivelmente para evitar que pudessem ser preenchidas por alguém estranho
à carreira, já que em cargos em comissão podem ser prepostas pessoas alheias ao serviço público, ressalvado
um percentual deles, reservado aos servidores de carreira, cujo mínimo será fixado por lei.
1019
FUHRER, Maximilianus Cláudio Américo. Resumo de Direito Administrativo. 4ª ed. São Paulo: Malheiros
Editores Ltda, 1998. p. 27.
1020
Na esfera federal, temos como exemplos: a) autarquia: ANATEL; b) empresa pública: CORREIOS; c)
sociedade de economia mista: PETROBRÁS e e) fundação pública: FUNAI.
Art. 82. O militar será agregado quando for afastado temporariamente do serviço
ativo por motivo de:
(...)
XIII - ter sido nomeado para qualquer cargo público civil temporário, não-eletivo,
inclusive da administração indireta; e
(...)
§ 3º. A agregação de militar nos casos dos itens XII e XIII é contada a partir da
data de posse no novo cargo até o regresso à Força Armada a que pertence ou
transferência ex officio para a reserva.
(...)
1021
Este capítulo não se aplica aos militares que forem nomeados mediante aprovação em concursos públicos.
1022
Ver Capítulo 15 sobre candidatura de militar às eleições para assunção a cargo civil eletivo.
1023
Diferentemente ocorre com o militar que for nomeado para cargo ou emprego público civil permanente, pois
será transferido para a reserva não remunerada (inciso II do § 3º do art. 142 da CF/88).
1024
DIRETORIA DE CONTROLE DE EFETIVOS E MOVIMENTAÇÕES
PORTARIA Nº 92-DCEM, DE 9 DE OUTUBRO DE 2013
O DIRETOR DE CONTROLE DE EFETIVOS E MOVIMENTAÇÕES, no uso da competência que lhe foi
subdelegada pela Portaria nº 091-DGP, de 2 de julho de 2012, resolve:
AGREGAR
1. OFICIAIS
(...)
h. de acordo com o inciso XIII do artigo 82 da Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980, por ter passado à
disposição do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (Brasília-DF), o Maj QEM (0184965838) (nome
excluído intencionalmente), a contar de 27 de dezembro de 2012;
i. de acordo com o inciso XIII do artigo 82 da Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980, por ter passado à disposição
da Advocacia-Geral da União/Procuradoria-Geral da República (Brasília-DF), o Maj Inf (1275403432) (nome
excluído intencionalmente)
(...) (DOU nº 200 – Sessão 2 – 15.10.2013)
1025
ADMINISTRATIVO. MILITAR. AGREGAÇÃO. NOMEAÇÃO PARA CARGO EM COMISSÃO.
AUTORIZAÇÃO. 1. A nomeação de militar para exercer cargo público civil temporário, não eletivo, inclusive
da administração indireta deve ser precedida de autorização do Presidente da República, em se tratando de
Oficial, ou do Ministro da respectiva Arma, no caso de praça (Lei nº 6.880/80, art. 98, § 3º, a e b), não bastando,
portanto, simples comunicação de nomeação e posse. Apelação improvida. (TRF2 - Apelação Cível nº 200.749 – 5ª
Turma Especializada – Rel. Des. Federal Luiz Paulo S. Araújo Filho - j. 20.06.07 - DJU de 09.08.2007, p. 301)
III - O militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em cargo, emprego ou
função pública civil temporária, não eletiva, ainda que da administração indireta,
ficará agregado ao respectivo quadro e somente poderá, enquanto permanecer
nessa situação, ser promovido por antiguidade, contando-se-lhe o tempo de serviço
apenas para aquela promoção e transferência para a reserva, sendo depois de dois
anos de afastamento, contínuos ou não, transferido para a reserva, nos termos da
lei; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
(...)
1026
A letra b em referência menciona que a competência é do respectivo Ministro, todavia, deve-se ler como
respectivo Comandante de uma das Forças Armadas.
1027
Este parágrafo foi retirado da CF/88 por meio da EC 18/98. O revogado § 4º tinha a seguinte redação: § 4º. O
militar da ativa que aceitar cargo, emprego ou função pública temporária, não eletiva, ainda que da administração
indireta, ficará agregado ao respectivo quadro e somente poderá, enquanto permanecer nessa situação, ser
promovido por antiguidade, contando-se-lhe o tempo de serviço apenas para aquela promoção e transferência
para a reserva, sendo depois de dois anos de afastamento, contínuos ou não, transferido para a inatividade.
1028
Portaria DIRAP 1.731/DIR, de 25 de março de 2013.
1029
ADMINISTRATIVO – AGREGAÇÃO DE SERVIDOR PÚBLICO MILITAR – OFICIAL DAS FORÇAS
ARMADAS – CARGO MUNICIPAL TEMPORÁRIO – ART. 42, § 4º DA CF/88 – LEI nº 6880/80 -
AUTORIZAÇÃO ADMINISTRATIVA – MÉRITO ADMINISTRATIVO INFENSO, A PRINCÍPIO, AO
CONTROLE JURISDICIONAL. I – O art. 42, § 4º, da Constituição Federal de 1988, vigente até a edição da
Emenda nº 18/98, não prevê que a agregação se dê independente de autorização administrativa. Precedentes do
Eg. STJ. II - Se, por um lado, é bem certo que a competência para baixar os atos administrativos de agregação
e de reversão de militares, oficiais e praças, restou delegada pelo Presidente da República, a princípio, aos
Ministros de Estado da Marinha, do Exército e da Aeronáutica (art. 85, da Lei n.º 6.880, de 09.12.1980, c/c o art.
1º, caput e inc. VI, Decreto n.º 2.790, de 29.09.1998), por outro lado, não menos certo é que, para a nomeação ou
admissão do militar oficial para o exercício de cargo ou emprego público civil temporário, não eletivo, inclusive
da administração indireta, necessária se faz a prévia edição de ato específico pelo Presidente da República, (a)
seja consistente em ato de nomeação ou admissão do militar oficial em cargo ou emprego público cujo provimento
seja procedido no estrito âmbito da própria competência administrativa detida pelo Presidente da República, (b)
seja consistente em ato de autorização do Presidente da República à nomeação ou admissão do militar oficial
em cargo ou emprego público cujo provimento seja procedido no estrito âmbito de competência administrativa
detida por qualquer outra autoridade federal, estadual ou municipal (art. 98, § 3º, “a”, da Lei n.º 6.880, de
09.12.1980, na forma da redação dada pela Lei n.º 9.297, de 25.07.1996). III - O “mérito administrativo” ínsito
ao ato administrativo praticável e os graves e relevantes interesses públicos envolvidos afastam, a princípio,
a substituição ou o suprimento da vontade da Administração mediante intervenção jurisdicional. IV – Recurso
e remessa necessária providos. (TRF2 – Apelação Cível nº 257232/RJ – 7ª Turma Especializada – Rel. Des.
Federal Sérgio Schwaitzer - j. 23.08.06 - DJU de 31.08.2006)
Desta forma, tem-se que para se saber qual a autoridade competente para o
ato administrativo de concretização da agregação ou da reversão faz-se necessário
verificar a legislação interna de cada Força Armada e Auxiliar.
Importante esclarecer que a Administração Castrense poderá reverter o
militar agregado à atividade a qualquer tempo1030. A cessão do militar a outro órgão
público não significa dizer que a respectiva Força não tenha o direito de o pedir
de volta quando precisar do militar.
1030
Obviamente, vai depender muito do acordo feito entre os órgãos públicos sobre a cessão do militar, além do
interesse da Administração Castrense no retorno do militar, de interesses políticos, dentre outros.
§ 4º. Enquanto o militar permanecer no cargo ou emprego de que trata o item XV:
a) é-lhe assegurada a opção entre a remuneração do cargo ou emprego e a do
posto ou da graduação;
b) somente poderá ser promovido por antiguidade; e
c) o tempo de serviço é contado apenas para aquela promoção e para a transferência
para a inatividade.
Art. 37. Será excluída do QAM1033 já organizado, ou dele não poderá constar, a
praça que agregar ou estiver agregada:
(...)
II - em virtude de encontrar-se no exercício de cargo público civil, temporário,
não-eletivo, inclusive da administração indireta; ou
(...)
Art. 84. O militar agregado ficará adido, para efeito de alterações e remuneração,
à organização militar que lhe for designada, continuando a figurar no respectivo
registro, sem número, no lugar que até então ocupava.
Das Conceituações
Art. 3º. Para os efeitos deste Regulamento, adotam-se as seguintes conceituações:
(...)
XV - Adição: ato administrativo, emanado de autoridade competente para fins
específicos, que vincula o militar a uma OM sem integrá-lo no estado efetivo desta;
(...)
1034
Eis alguns exemplos de agregação e adição:
DIRETORIA DE CONTROLE DE EFETIVOS E MOVIMENTAÇÕES PORTARIAS DCEM DE 16 DE
AGOSTO DE 2010
O DIRETOR DE CONTROLE DE EFETIVOS E MOVIMENTAÇÕES, no uso da competência que lhe foi
subdelegada pela Portaria nº 259-DGP, de 10 de novembro de 2008, resolve:
Nº - 74 - AGREGAR
1. OFICIAIS
a. De acordo com o inciso I do art. 81 da Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980:
1) Por ter sido designado para a missão de Adido de Defesa Naval e do Exército junto à Representação
Diplomática do Brasil na Colômbia:
- Cel Cav (115519452-3) (nome excluído intencionalmente), do DECEx (Rio de Janeiro-RJ), permanecendo,
durante a missão, adido ao EME (Brasília-DF), a contar de 15 de agosto de 2010.
2) Por ter sido designado para Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (Brasília-DF):
- Cel Int (020442762-9) (nome excluído intencionalmente), oriundo do CMS (Porto Alegre-RS), a contar de 10
de junho de 2010.
3) Por ter sido designado a missão de Segurança da Embaixada do Brasil na Costa do Marfim:
- 1º Ten Inf (013148524-5) (nome excluído intencionalmente), da AMAN (Resende-RJ), permanecendo, durante
a missão, adido ao DGP (Brasília-DF), a contar de 15 de agosto de 2010.
(...). (Publicado no DOU nº 160, de 20.08.10 - Sessão 2 – Página 9)
1035
A interpretação é realizada por exclusão.
COMANDANTE DO EXÉRCITO
DESPACHO DECISÓRIO Nº 083/ 2012
Em 23 de julho de 2012
PROCESSO: 64536.011918/2012-61
ASSUNTO: agregação de militar para ocupar cargo público civil temporário
2º Sgt Com (043475724-1) (nome excluído intencionalmente)
1. Processo originário do DIEx nº 28-CJ.2/AsseJur/CMNE, de 26 JUN 12, do
Comando Militar do Nordeste - CMNE (Recife - PE), encaminhando requerimento,
datado de 17 MAIO 12, em que o 2º Sgt Com (043475724-1) (nome excluído
intencionalmente), servindo no 24º Batalhão de Caçadores - 24º BC (São Luís - MA),
solicita ao Comandante do Exército agregação por motivo de sua aprovação em
concurso público para o exercício de cargo público civil temporário, não eletivo,
de professor substituto na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
74 - Boletim do Exército n° 30, de 27 de julho de 2012.
2. Considerando que:
a. o caso em questão amolda-se à hipótese de agregação para passagem do
Requerente à disposição de órgão estranho ao Exército Brasileiro, especificamente
para ocupar cargo público civil temporário, não eletivo, de professor substituto na
Universidade Estadual do Maranhão (UEMA);
b. o art. 82, inciso XIII, da lei nº 6.880, de 9 DEZ 1980 (Estatuto dos Militares)
prevê que o militar será agregado quando for afastado, temporariamente, do serviço
ativo por motivo de ter sido nomeado para qualquer cargo público civil temporário,
não eletivo, inclusive da administração indireta;
c. o dispositivo supracitado deve ser interpretado em conjunto com o art. 98, § 3º,
da Lei nº 6.880, de 1980, que prevê que a nomeação ou admissão do militar para
cargo ou emprego público civil temporário, não eletivo, somente poderá ser feita,
no caso de praça, mediante autorização do respectivo Ministro (atual Comandante
do Exército - art. 19 da Lei Complementar nº 97, de 9 JUL 1999);
d. de acordo com o disposto no inciso III do §3º do art. 142 da Constituição Federal
de 1988, cumulado com o disposto no inciso XIII do art. 82 e no § 3º do art. 98
1036
Publicada no Boletim do Exército nº 30, de 27 de julho de 2012.
Para ser cedido a um órgão público e ser agregado, nos termos do inciso
XIII do art. 82, o militar deverá seguir alguns passos administrativos, pois, como
já dito, a cessão é um ato discricionário da Administração Castrense.
Transcreverei, a título de exemplo, a íntegra do tópico nº 4 da Portaria
7961037-CmtEx, de 22 de outubro de 2009, que trata sobre a nomeação de militar
a cargo ou emprego público civil não eletivo, haja vista ser muito didático:
4. CONCEPÇÃO GERAL
a. A cessão de militar do Comando do Exército para órgão civil poderá ocorrer
para o exercício de cargo de natureza militar ou cargo público civil temporário,
de natureza não eletiva.
b. O prazo de permanência de militar à disposição de órgão civil para exercer
cargo de natureza militar é de três anos, se oficial, e de quatro anos, no caso de
praça, podendo ser prorrogado, a critério do Comandante do Exército, em caráter
excepcional, mediante proposta circunstanciada do comandante militar de área.
c. O prazo de cessão, em se tratando de cargo público civil temporário, de
natureza não eletiva, será de dois anos, para oficial e praça, não sendo permitida
a prorrogação, ressalvadas situações excepcionalíssimas de interesse da Força
Terrestre a critério do Comandante do Exército.
d. A cessão e o controle de oficiais, subtenentes e sargentos de carreira, exceto os
3º Sargentos do Quadro Especial (3º Sgt QE), Cabos (Cb), Taifeiros e Soldados
(Sd), para exercer cargo de natureza militar ou cargo público civil temporário, de
natureza não eletiva, será realizada pelo Gabinete do Comandante do Exército
(Gab Cmt Ex).
e. Caberá ao comandante militar de área o controle do efetivo dos 3º Sgt QE,
Cb, Taifeiro e Sd passados à disposição de órgãos civis sediados na área de sua
jurisdição, bem como a decisão sobre a conveniência e oportunidade de atender
à solicitação de cessão.
f. Não poderá ocorrer a cessão de oficiais e sargentos temporários para órgãos
civis para exercer cargo de natureza militar ou cargo público civil temporário de
natureza não eletiva, ressalvadas situações excepcionalíssimas de interesse da
Força Terrestre, a critério do Comandante do Exército.
g. As solicitações nominais não serão acolhidas, devendo ser instituído um processo
seletivo que vise atender às qualificações necessárias ao desempenho da função
que será atribuída ao militar cedido.
h. Todo militar cedido para exercer cargo público civil temporário, de natureza
não eletiva, deve ser instruído, por escrito, acerca dos dispositivos legais que
1037
Publicada no Boletim do Exército nº 43, de 30 de novembro de 2009.
determinam o retorno à Força Terrestre, no prazo máximo de dois anos, sob pena
de ser passado, ex officio, à reserva remunerada.
i. A autoridade responsável pelo órgão civil ao qual o militar seja cedido para
exercer cargo público civil temporário, de natureza não eletiva, deve, também, ser
cientificada da legislação aplicável à matéria e das implicações na carreira do
militar cedido, caso não retorne às fileiras do Exército na data aprazada.
j. O controle dos militares à disposição de órgãos civis será efetivado por intermédio
do “Mapa de Controle de Efetivo de Militares Cedidos a Órgão Civil”, o qual será
remetido ao Gab Cmt Ex, trimestralmente, conforme modelo constante do Anexo
à presente Diretriz.
l. O comando militar de área (C Mil A) que passar militar (3º Sgt QE, Cb, Taifeiro
e Sd) à disposição de órgão civil deverá informar, de imediato, ao Gab Cmt Ex
e, posteriormente, por intermédio do “Mapa de Controle de Efetivo de Militares
Cedidos a Órgão Civil”, enquanto durar a cessão.
5. ATRIBUIÇÕES
a. Gabinete do Comandante do Exército
1) Primeira Assessoria:
a) realizar a seleção de oficiais, subtenentes e sargentos de carreira a serem
passados à disposição de órgãos não pertencentes ao Comando do Exército, para
exercer cargo de natureza militar ou cargo público civil temporário, de natureza
não eletiva, mantendo, atualizado, um banco de dados;
b) passar à disposição do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores,
do Tribunal Federal da 1ª Região ou da Procuradoria-Geral da Justiça Militar, 3º
Sgt QE, Cb, Taifeiro e Sd, por intermédio do Comando Militar do Planalto (CMP);
c) Consolidar as informações recebidas dos C Mil A referentes ao controle do efetivo
de 3º Sgt QE, Cb, Taifeiro e Sd passados à disposição de órgão civil para exercer
cargo de natureza militar ou cargo público civil temporário, de natureza não eletiva;
d) controlar o efetivo de 3º Sgt QE, Cb, Taifeiro e Sd à disposição do Supremo
Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores, do Tribunal Federal da 1ª Região ou
da Procuradoria-Geral da Justiça Militar, com o apoio do CMP;
e) Analisar os pedidos de cessão e prorrogação, em caráter excepcional, propondo
linhas de ação para despacho com o Comandante do Exército; e
f) propor alterações na legislação aplicável à matéria, visando ao aperfeiçoamento
da presente sistemática de cessão e de controle de passagem de militares à
disposição de órgão civil.
2) Segunda Assessoria:
a) analisar, no que concerne ao juízo de conveniência e oportunidade, os pedidos
de cessão de oficiais e praças para exercer cargo de natureza militar ou cargo
público civil temporário, de natureza não eletiva, em órgão civil no Distrito Federal,
incluindo o Supremo Tribunal Federal, os Tribunais Superiores, o Tribunal Regional
Federal/1ª Região e a Procuradoria-Geral da Justiça Militar, propondo linhas de
ação sobre a conveniência e a oportunidade de atendimento ou não do pedido; e
b) propor as alterações julgadas pertinentes na legislação aplicável à matéria, com
o objetivo do aperfeiçoamento da presente sistemática de cessão e de controle de
passagem de militares à disposição de Tribunal Superior.
b. Comandos Militares de Área
1038
É a autoridade do órgão público detentora de competência para efetivar nomeações. Por exemplo: caso o
militar seja nomeado para um cargo na Câmara de Vereadores, caberá ao Presidente da Casa Legislativa requerer
a liberação do militar.
O Presidente da República ou o Comandante da Força Armada poderá delegar tais poderes aos órgãos inferiores.
1039
Poderá ocorrer que o pedido seja concedido ou negado nos escalões superiores, independentemente de prévia
1040
Capítulo 18
18. Introdução
Existem momentos difíceis em nossas vidas que acabam por nos trazer
benefícios muito significativos para o restante de nossa trajetória neste mundo.
Digo isso porque foi em virtude de uma ilegal prisão em flagrante contra minha
pessoa na Base Aérea do Recife, culminando num processo criminal na Justiça
Militar da União (7ª Circunscrição da Justiça Militar – 7ª CJM) que adentrei no
estudo do direito penal e processual militar.
Em 2006, quando estava cumprindo punição disciplinar de 06 (seis) dias nas
dependências da Base Aérea do Recife – BARF - por ordem do então Comandante
do CINDACTA 3, foi ordenado pelo Comandante da BARF que os Oficiais de Dia
me acordassem de hora em hora durante todo o período de punição disciplinar,
ou seja, 06 (seis) dias. Isso mesmo, de hora em hora, onde eu era acordado pelo
Soldado do Hotel de Trânsito dos Suboficiais e Sargentos da BARF, para após vestir
a farda, andar uns 50 (cinquenta) metros para me apresentar ao Oficial de Dia:
um absurdo não é mesmo? Não diria um absurdo, mas sim tortura1041 psicológica!
A tortura somente parou devido a uma liminar1042 concedida pela Justiça
Federal nos autos do habeas corpus nº 2006.83.00.014968-0 (4ª Vara Federal de
1041
Tanto o MPF quanto o MPM foram acionados para analisar o caso, tendo o assunto chegado à Procuradoria
Geral da República. Ocorreu que o Juiz Federal se considerou incompetente para julgar o delito e a Justiça Militar
também alegou sua incompetência. E quem deteve a competência para processar e julgar os atos criminosos
praticados por estas autoridades militares? Nenhum órgão do Poder Judiciário quis ser competente e por isso
ninguém foi processado e nem punido. Infelizmente o sistema é muito forte.
1042
A liminar foi somente para proibir que me acordassem de hora em hora durante a noite, em relação à detenção
disciplinar esta foi mantida pelo magistrado.
Pernambuco) que elaborei escondido. O habeas corpus foi escrito à mão durante
a madrugada e consegui passar para um militar protocolar na Justiça Federal
e entregar uma cópia no MPF. No segundo dia de tortura, no final da tarde,
recebi a comunicação de que o Juiz Federal Gustavo Pontes Mazzocchi estava
me aguardando para audiência, assim como também estavam aguardando os
Comandantes da BARF e do CINDACTA 3. O despacho do Juiz Federal ordenando
minha apresentação foi a seguinte:
Alguns leitores, de início, poderão até afirmar que a Justiça Militar é um Tribunal de Exceção (proibido pela
1043
CF/88), porém isso não é verdadeiro. Ocorre que a Justiça Militar é diferente, possuindo estrutura e procedimentos
específicos, em virtude das peculiaridades da vida castrense.
direito penal militar e processo penal militar, percebi, imediatamente, que quase
tudo era diferente e que deveria, obrigatoriamente, estudar o direito castrense
mais detalhadamente. Porém, deparei-me com uma dificuldade: carência de livros
especializados em direito penal militar e processo penal militar.
Aprendi, ou melhor, ainda estou aprendendo, na prática e pelos poucos livros
especializados, as peculiaridades do direito penal e processual castrenses. E, a cada
audiência, julgamento, requerimento, etc, surpreendo-me com a Justiça Militar
da União. Em breve estarei lançando um livro sobre o direito processual penal
militar, a fim de facilitar o aprendizado de Advogados que atuam ou pretendam
atuar na Justiça Militar.
Este capítulo é uma breve introdução da estrutura organizacional da Justiça
Militar da União e, provavelmente, os leitores irão se surpreender sobre o seu
funcionamento. Meu objetivo é, principalmente, esclarecer ao militar sobre as
peculiaridades dos órgãos do Poder Judiciário que o processarão e julgarão em
caso do cometimento, em tese, de crime militar.
1044
Faz parte da Justiça Militar da União.
1045
No Capítulo 19 está discorrido sobre a possibilidade do processamento e julgamento de civis que cometem
delitos militares contra as Forças Armadas, onde a competência é da Justiça Militar da União.
I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de
dez anos de efetiva atividade profissional;
Ou seja, para o Advogado ser escolhido e nomeado para o STM não basta
ser Advogado, mas sim que tenha notório saber jurídico e conduta ilibada, e ainda,
mais de 10 (dez) anos de exercício profissional.
Então, dos 15 (quinze) Ministros do STM, 10 (dez) não precisam ser
bacharéis em direito e nem ter notório saber jurídico, porém mesmo assim
votarão nos processos criminais que poderão resultar em várias consequências
danosas na vida profissional, social e psicológica do militar ou civil1049 acusados1050
1046
Não possui natureza de instância extraordinária como ocorre com o STF, STJ, TSE e TST.
1047
Informo, pois importante, que para a escolha dos Ministros do STF e do STJ não é necessário que sejam
Bacharéis em Direito, mas sim que tenham notável saber jurídico e reputação ilibada, nos termos dos arts.
101 e 104 da CF/88. Inclusive, ressalte-se, o fato de ser bacharel em direito não significa, por si só, ter notório
saber jurídico. Para o Advogado ser nomeado para o STF ou STJ não é necessário ter mais de 10 (dez) anos de
atividade profissional.
1048
Além, obviamente, após serem observados os procedimentos previstos no caput do art. 123 que são dirigidos
tanto para militares quanto para civis.
1049
Importante esclarecer que somente na Justiça Militar da União é que os civis podem ser processados e julgados
por cometimento de crimes militares. Na Justiça Militar Estadual isso não é possível, conforme previsão disposta
no § 4º do art. 125 da CF/88, prevendo que a competência é somente para processar e julgar os militares,
então vejamos:
§ 4º. Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares
definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando
a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da
graduação das praças.
1050
1. Habeas corpus. 2. Crime de ingresso clandestino (art. 302 do CPM). Delito praticado por civis. 3.
Competência para processo e julgamento. 4. A conduta de ingressar em território das Forças Armadas afronta
diretamente a integridade e o funcionamento das instituições militares. Subsunção do comportamento dos
agentes ao preceito primário incriminador consubstanciado no art. 9º, inciso III, “a”, do CPM. Submissão à
jurisdição especializada. 5. Reconhecida a competência da Justiça Militar da União para processar e julgar
o crime de ingresso clandestino em quartel militar praticado por civis. Ordem denegada. (STF - HC 116124,
Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 13/08/2013, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-171 DIVULG 30-08-2013 PUBLIC 02-09-2013)
Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos
em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a
competência da Justiça Militar.
1051
O art. 112 do CPPM discorre sobre o que é conflito de competência:
Art. 112. Haverá conflito:
Conflito de competência
I - em razão da competência:
Positivo
a) positivo, quando duas ou mais autoridades judiciárias entenderem, ao mesmo tempo, que lhes cabe conhecer
do processo;
Negativo
b) negativo, quando cada uma de duas ou mais autoridades judiciárias entender, ao mesmo tempo, que cabe a
outra conhecer do mesmo processo;
Controvérsia sobre função ou separação de processo
II - em razão da unidade de juízo, função ou separação de processos, quando, a esse respeito, houver controvérsia
entre duas ou mais autoridades judiciárias.
Não me aprofundarei no estudo da competência da Justiça Militar em virtude de que foge ao objetivo deste
1052
Manual, porém, certamente, será objeto de discussão em meus próximos livros sobre processo penal militar.
1053
São 03 (três) Conselhos de Justiça: para a Aeronáutica, para o Exército e para a Marinha.
Quando informo esta composição para meus clientes processados pela Justiça
Militar da União e digo que os Juízes Militares não precisam ser bacharéis em
direito e nem conhecer sobre leis ou saber alguma coisa sobre direito, a primeira
pergunta que costumam me fazer é a seguinte: como assim não precisam saber
de direito? E, quando os informo que o peso do voto dos Juízes Militares leigos
para absolver ou condenar é o mesmo do voto do Juiz-Auditor togado, todos, sem
exceção, ficam perplexos! Alguns, ainda, perguntam-me: isso é ruim? Respondo
da seguinte forma: é péssimo! Costumo deixar bem claro ao meus clientes
denunciados em processo criminal militar que, a princípio, estão condenados e
que farei o possível para convencer os Juízes Militares e o Juiz-Auditor de que são
inocentes, mas que isso não será nada fácil. A defesa na Justiça Militar da União
é muito complexa, sendo necessário grande conhecimento jurídico sobre o direito
militar e sobre as peculiaridades do meio castrense.
Em resumo, esta é a verdadeira Justiça Militar da União, onde um cidadão
será julgado por 5 (cinco) pessoas, onde somente 1 (uma) – Juiz-Auditor - tem, em
regra, conhecimentos jurídicos básicos sobre o ordenamento jurídico brasileiro, e
em especial, sobre o direito processual e penal militar.
Então, vejamos os arts. 16, 17 e 25 da Lei 8.457/92 que tratam da composição
dos Conselhos de Justiça, do funcionamento e do quórum para julgamento:
Art. 16. São duas as espécies de Conselhos de Justiça:
a) Conselho Especial de Justiça, constituído pelo Juiz-Auditor e quatro Juízes
militares, sob a presidência, dentre estes, de um oficial general ou oficial superior,
de posto mais elevado que o dos demais juízes, ou de maior antiguidade, no caso
de igualdade;
b) Conselho Permanente de Justiça, constituído pelo Juiz-Auditor, por um oficial
superior, que será o presidente, e três oficiais de posto até capitão-tenente ou capitão.
Art. 17. Os Conselhos Especial e Permanente funcionarão na sede das Auditorias,
salvo casos especiais por motivo relevante de ordem pública ou de interesse da
Justiça e pelo tempo indispensável, mediante deliberação do Superior Tribunal
Militar.
Art. 19. Para efeito de composição dos conselhos de que trata o artigo anterior,
nas respectivas Circunscrições, os comandantes de Distrito ou Comando Naval,
Região Militar e Comando Aéreo Regional organizarão, trimestralmente, relação
de todos os oficiais em serviço ativo, com respectivos posto, antiguidade e local
de serviço, publicando-a em boletim e remetendo-a ao Juiz-Auditor competente.
Art. 20. O sorteio dos juízes do Conselho Especial de Justiça é feito pelo Juiz-
Auditor, em audiência pública, na presença do Procurador, do Diretor de Secretaria
e do acusado, quando preso.
Art. 23. Os juízes militares que integrarem os Conselhos Especiais serão de posto
superior ao do acusado, ou do mesmo posto e de maior antiguidade.
§ 1°. O Conselho Especial é constituído para cada processo e dissolvido após
conclusão dos seus trabalhos, reunindo-se, novamente, se sobrevier nulidade do
processo ou do julgamento, ou diligência determinada pela instância superior.
§ 2º. No caso de pluralidade de agentes, servirá de base à constituição do Conselho
Especial a patente do acusado de maior posto.
§ 3°. Se a acusação abranger oficial e praça ou civil, responderão todos perante
o mesmo conselho, ainda que excluído do processo o oficial.
O § 3º do art. 19 discrimina os Oficiais que não serão incluídos na relação enviada para a escolha dos membros
1054
§ 4º. No caso de impedimento de algum dos juízes, será sorteado outro para
substituí-lo.
Art. 21. O sorteio dos juízes do Conselho Permanente de Justiça é feito pelo Juiz-
Auditor, em audiência pública, entre os dias cinco e dez do último mês do trimestre
anterior, na presença do Procurador e do Diretor de Secretaria.
1055
De acordo com o art. 31 da Lei 8.457/92 é permitida em situações especiais a substituição dos Juízes Militares.
1056
CONSELHO ESPECIAL DE JUSTIÇA. SUBSTITUIÇÃO DE OFICIAL SORTEADO JUIZ MILITAR.
RAZÕES DE CARÁTER ADMINISTRATIVO. INADMISSIBILIDADE. 1. Após a instalação formal do
Conselho Especial de Justiça, é vedada a substituição de juiz militar, motivada por razões de caráter administrativo
como, “in casu”, transferência por necessidade do serviço. Tal ocorre em virtude de a função judicante preterir
a qualquer outra, salvo as exceções legais (art. 717, do CPPM). 2. As substituições, se imprescindíveis, devem
se ater às hipóteses previstas em lei (artigos 37, 38 e130, do CPPM e artigo 31 da LOJM). Precedentes da Corte
(Apelação nº 46.780-7/PA; Correição Parcial nº 1.494-5/PA; Apelação nº 47.784-5/AM). Correição Parcial
deferida. Decisão majoritária. (STM – Correição Parcial nº 1997.01.001523-2/RJ – Rel. Min. Sérgio Xavier
Ferolla – j. 17.06.97 0 Dj de 15.07.1997)
1057
As Praças e/ou civis também poderão ser julgados pelo Conselho Especial na hipótese prevista no § 3° do
art. 23 da Lei 8.457/92.
Parágrafo único. Para cada Conselho Permanente, são sorteados dois juízes
suplentes, sendo um oficial superior - que substituirá o Presidente em suas faltas
e impedimentos legais e um oficial até o posto de capitão-tenente ou capitão, que
substituirá os demais membros nos impedimentos legais.
Ministério Público
Art. 54. O Ministério Público é o órgão de acusação no processo penal militar,
cabendo ao procurador geral exercê-la nas ações de competência originária
no Superior Tribunal Militar e aos procuradores nas ações perante os órgãos
judiciários de primeira instância.
1058
Não esqueçamos dos Juízes Militares suplentes dos Conselhos Permanentes de Justiça.
1059
Quando fui julgado e inocentado pela Justiça Militar da União, o MPM requereu a minha absolvição nas
alegações escritas e na sustentação oral.
1060
Ressalte-se que o MPM não está, por lei, obrigado a recorrer das decisões proferidas pelos Conselhos de Justiça.
Pedido de absolvição
Parágrafo único. A função de órgão de acusação não impede o Ministério Público
de opinar pela absolvição do acusado, quando entender que, para aquele efeito,
existem fundadas razões de fato ou de direito.
O § 3° do art. 23 faz uma exceção: Se a acusação abranger oficial e praça ou civil, responderão todos perante
1061
PÁGINA
EM
BRANCO
Capítulo 19
19. Introdução
Este tema é muito importante e de grande desconhecimento pela quase
totalidade dos militares e, também, de muitos Advogados que não praticam a
Advocacia Militar Criminal, haja vista que há grandes distinções1062 entre o processo
penal militar e o processo penal comum.
Devido ao fato de que exerço a Advocacia na Justiça Militar, percebi que
os militares desconhecem a gravidade do cometimento de um crime militar, e por
isso entendi viável fazer alguns esclarecimentos neste manual.
1062
SÚMULA nº 15 do STM: A alteração do art. 400 do CPP, trazida pela Lei nº 11.719, de 20 de junho de
2008, que passou a considerar o interrogatório como último ato da instrução criminal, não se aplica à Justiça
Militar da União. (BJM Nº 01, de 04.01.13)
SÚMULA nº 14 do STM: Tendo em vista a especialidade da legislação militar, a Lei nº 11.343, de 23 de agosto
de 2006, (Lei Antidrogas) não se aplica à Justiça Militar da União. (BJM Nº 01, de 04.01.13)
1063
APELAÇÃO. PECULATO. ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 102 DO CPM.
O art. 102 do Código Penal Militar, que versa sobre a pena acessória de exclusão das Forças Armadas não é
inconstitucional (STF, RE no 121.533-0/MG). Preliminar rejeitada à unanimidade. A posse compreende “não
só o poder material de disposição sobre a coisa, como também a chamada disponibilidade jurídica, isto é, a
possibilidade de livre disposição que ao agente faculta (legalmente) o cargo que desempenha” (FRAGOSO).
Não cabe a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direito, face o princípio da reserva
legal. “Não há pena sem prévia cominação legal”, o que impossibilita a aplicação, no crime militar, de pena
não prevista no CPM. Improvido o apelo defensivo. Unânime. (STM – Apelação nº 2002.01.049046-9/SP Rel.
Min. José Júlio Pedrosa – j. – DJ de 28.11.2003)
1064
Será possível, entretanto, sem qualquer empecilho, a progressão de regime quando o militar for excluído da
ativa, passando a ser civil, e assim, submetendo-se à lei de execução penal comum.
1065
Vejamos a leitura de decisão abaixo do STM que considerou criminoso o ato do militar (Oficial) não responder
às perguntas de médicos militares em inspeção de saúde:
APELAÇÃO. RECURSO DO PARQUET MILICIENS. RECUSA DE OBEDIÊNCIA. OFICIAL DO
EXÉRCITO BRASILEIRO. NEGATIVA DE SUBMISSÃO À INSPEÇÃO DE SAÚDE. OFENSA À
AUTORIDADE MILITAR. DESCUMPRIMENTO DE DEVER IMPOSTO POR LEI. ABSOLVIÇÃO EM
PRIMEIRA INSTÂNCIA. SENTENÇA REFORMADA. PENA MÍNIMA. VEDAÇÃO DE SURSIS. Constitui
ato de insubordinação, capitulado como crime militar de “recusa de obediência”, a veemente negativa de
Oficial do Exército que, instado a realizar exames periciais para fins de Conselho de Justificação e verificação
da capacidade laborativa, comparece à Junta de Saúde, mas não responde aos questionamentos propostos
pela equipe médica, negando-se a ser inspecionado. A quebra de obediência hierárquica que singulariza o
delito de insubmissão tipificado no art. 163 do CPM torna-se inquestionável, a partir do momento em que um
Oficial intermediário (Cap Ex) se recusa a executar diligência pericial ordenada por despacho emanado do
Comandante do Exército, do que resulta grave abalo às estruturas das instituições militares, assentadas nos
pilares da hierarquia e da disciplina. Apelo ministerial provido para reformar a sentença absolutória e impor
pena, em seu grau mínimo, ao infrator da norma penal militar, sem o benefício do sursis, em face de expressa
vedação contida no art. 88, inciso II, alínea “a”, do CPM. Decisão por maioria. (STM – Apelação nº 0000070-
42.2011.7.03.0103/RS - Rel. Min. José Américo dos Santos – j. 24.10.13 - Dje de 06.11.2013)
1066
Importa mencionar que o civil, em alguns crimes (excetuando-se os crimes propriamente militares), poderá
ser processado e condenado na Justiça Militar da União, todavia, os efeitos da condenação são muito diferentes
dos militares.
Penas principais
Art. 55. As penas principais são:
a) morte;
b) reclusão;
c) detenção;
d) prisão;
e) impedimento;
f) suspensão do exercício do posto, graduação, cargo ou função;
g) reforma.
1067
Quando se informa que um crime é propriamente militar, significa dizer que somente é possível de cometimento
por militares e não por civis.
1068
O porquê da gravidade: o desertor não tem direito ao sursis, ou seja, sendo condenado, irá cumprir, em regra,
pelo menos, a pena mínima de 6 (seis) meses no xadrez, e, ainda, poderá ficar preso até 60 (sessenta) dias sem
ser ouvido judicialmente. Em regra, não há interrogatório na esfera administrativa. Não se faz o auto de prisão
em flagrante, mas sim o termo de deserção. Resolvi discorrer sobre a deserção em virtude de um cliente acusado
de deserção (com família: esposa e filho) que sequer tinha ideia das consequências de seu ato de ficar faltando
expediente por mais de 8 (oito) dias sem autorização.
1069
Além das penas principais, é possível a aplicação de penas acessórias, como, por exemplo, a exclusão do
serviço ativo, conhecida no meio militar como expulsão.
1070
O civil, em determinados delitos, poderá ser processado e julgado pela Justiça Militar da União, esclarecendo-se
que isso não acontece na Justiça Militar Estadual, pois nesta somente militares podem ser processados e julgados.
Pena de morte
Art. 56. A pena de morte é executada por fuzilamento.
Comunicação
Art. 57. A sentença definitiva de condenação à morte é comunicada, logo que passe
em julgado, ao Presidente da República, e não pode ser executada senão depois
de sete dias após a comunicação.
Parágrafo único. Se a pena é imposta em zona de operações de guerra, pode ser
imediatamente executada, quando o exigir o interesse da ordem e da disciplina
militares.
Não existe hoje diferença essencial entre reclusão e detenção. A lei usa esses termos
mais como índices ou critérios, para a determinação dos regimes de cumprimento de
pena. A reclusão é cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A detenção
é cumprida só nos regimes semi-aberto ou aberto (salvo posterior transferência
para regime fechado, por incidente da execução).
Injúria
Art. 216. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção1073, até seis meses.
Concussão
Art. 305. Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora
da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
O art. 58 prevê que não é possível que a pena de detenção seja maior que 10
(dez) anos, assim como a pena de reclusão não poderá ser superior a 30 (trinta) anos.
Ocorre, entretanto, que o termo prisão (letra d) é designado apenas para
fins do art. 59, pois se a pena condenatória for de reclusão ou de detenção, porém
inferior (inclusive1074) a 2 (dois) anos e não for concedido o sursis1075, em regra, o
militar terá que cumprir toda a pena preso, ou seja, na prisão. O condenado poderá
1073
Ou seja, de acordo com o art. 58, o mínimo da pena de detenção em caso de condenação por injúria será de
30 (trinta) dias.
1074
Destaquei a palavra inclusive devido ao fato de que se o condenado for sentenciado com exatos 2 (dois)
anos de detenção ou de reclusão poderá, caso presentes os pressupostos legais, ser beneficiado com o sursis.
1075
Um apontamento importante: existe proibição da concessão de sursis em determinados delitos militares,
conforme será discorrido neste capítulo.
ser libertado antes do cumprimento total da pena se for concedido, por exemplo,
o indulto (inciso II do art. 1231076 do CPM) ou a liberdade condicional (art. 891077
da CPM).
Se a pena for superior (exclusive) a 2 (dois) anos, a Praça1078 (art. 1021079
1076
Art. 123. Extingue-se a punibilidade:
I - pela morte do agente;
II - pela anistia ou indulto;
(...)
Em 2012, o Decreto nº 7.873/12 (indulto natalino), que é publicado a cada ano, previa o seguinte em seus incisos
I e II (há outros incisos com outras situações de aplicação do indulto) do art. 1º:
Art. 1º. É concedido o indulto coletivo às pessoas, nacionais e estrangeiras:
I - condenadas a pena privativa de liberdade não superior a oito anos, não substituída por restritivas de direitos
ou multa, e não beneficiadas com a suspensão condicional da pena que, até 25 de dezembro de 2012, tenham
cumprido um terço da pena, se não reincidentes, ou metade, se reincidentes;
II - condenadas a pena privativa de liberdade superior a oito anos e não superior a doze anos, por crime praticado
sem grave ameaça ou violência a pessoa, que, até 25 de dezembro de 2012, tenham cumprido um terço da pena,
se não reincidentes, ou metade, se reincidentes;
(...)
1077
Art. 89. O condenado a pena de reclusão ou de detenção por tempo igual ou superior a dois anos pode ser
liberado condicionalmente, desde que:
I - tenha cumprido:
a) metade da pena, se primário;
b) dois terços, se reincidente;
II - tenha reparado, salvo impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pelo crime;
III - sua boa conduta durante a execução da pena, sua adaptação ao trabalho e às circunstâncias atinentes a
sua personalidade, ao meio social e à sua vida pregressa permitem supor que não voltará a delinquir.
(...)
1078
Se o condenado a pena superior a 2 (dois) anos for Oficial das Forças Armadas, o MPM deverá efetivar
Representação perante o STM, requerendo que o Oficial seja declarado indigno para o oficialato com a perda do
posto e da patente. Vejamos, a título de exemplo, a seguinte decisão:
REPRESENTAÇÃO PARA DECLARAÇÃO DE INDIGNIDADE/INCOMPATIBILIDADE. OFICIAL
CONDENADO. PORTE ILEGAL DE ARMA. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE SUPERIOR A DOIS ANOS. SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO. PERDA DO POSTO
E DA PATENTE. 1º Tenente reformado do Exército sentenciado pela Justiça Comum do Estado do Paraná à
pena definitiva de 4 (quatro) anos e 8 (oito) meses de reclusão, em regime inicialmente fechado, em razão da
prática dos delitos de tráfico de entorpecentes, previsto no art. 33 da Lei nº 11.343/2006, e de porte de arma de
fogo de uso restrito sem autorização, tipificado no art. 16 da Lei nº 10.826/2003. Tendo transitado em julgado
a decisão, sujeitou-se o Oficial à perda do posto e da patente, pela via da presente Representação formulada
pela Procuradoria-Geral da Justiça Militar. O Oficial foi preso em flagrante no dia 20/10/2008, em um posto de
combustível na Comarca de Cascavel/PR, quando portava dois armamentos, sendo um de uso restrito - pistola
calibre 9 mm, de fabricação israelense, municiada com 15 cartuchos intactos - e transportava 1,095 kg (um quilo
e noventa e cinco gramas) da substância conhecida como crack e 5 cartelas (123 comprimidos) de Pramil. O
modo de agir do representado afronta qualquer procedimento razoável de decência, decoro ou pundonor militar,
depondo contra a imagem das instituições castrenses. Acolhida a Representação para declarar o representado
indigno do oficialato, com a determinação da perda de seu posto e de sua patente, na forma do art. 142, § 3º,
incisos VI e VII, da Constituição Federal, e do art. 120, inciso I, da Lei nº. 6.880/1980. Decisão unânime. (STM
– Representação nº 0000031-76.2013.7.00.0000/DF - Rel. Min. Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha – j.
12.09.13 – Dje de 27.09.013)
1079
Exclusão das forças armadas
Art. 102. A condenação da praça a pena privativa de liberdade, por tempo superior a dois anos, importa sua
exclusão das forças armadas.
c) PENA DE IMPEDIMENTO
Pena de impedimento
Art. 63. A pena de impedimento sujeita o condenado a permanecer no recinto da
unidade, sem prejuízo da instrução militar.
1080
O art. 102 do CPM não se aplica às Praças da Polícia e Bombeiro dos Estados e do DF em decorrência do §
4º do art. 125 da CF/88. Vejamos a seguinte decisão do STJ sobre este tema:
HABEAS CORPUS. PECULATO. ART. 303 DO CÓDIGO PENAL MILITAR. CONDUTA QUE SE
AMOLDA PERFEITAMENTE AO TIPO PENAL. FALTA DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE DE EXAME
NA VIA ELEITA. SENTENÇA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA. INEXISTÊNCIA DE NULIDADE.
EXCLUSÃO DOS QUADROS DA POLÍCIA MILITAR NA SENTENÇA. ART. 102 DO CPM. DISPOSITIVO
DERROGADO PELO ART. 125, § 4º, PARTE FINAL, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. NECESSIDADE
DE PROCEDIMENTO ESPECÍFICO PERANTE O TRIBUNAL COMPETENTE. ORDEM CONCEDIDA
EM PARTE. 1. A conduta imputada aos pacientes, de apropriarem-se indevidamente dos bens de que tinham a
posse em razão do cargo, amolda-se perfeitamente ao tipo penal a que foram condenados (art. 303 do CPM).
Não há constrangimento ilegal, no ponto. 2. Não se revela possível examinar a alegação de falta de provas
suficientes para embasar a condenação, tampouco de existência de contradição nos depoimentos da vítima. Esse
procedimento demandaria a análise aprofundada dos elementos de convicção carreados aos autos, providência
incompatível com a via estreita do habeas corpus. 3. Se a sentença condenatória, embora sucinta, mostra-se
devidamente fundamentada, apontando suficientes provas da materialidade e autoria do crime, não há nulidade
a ser reconhecida. 4. Esta Corte já firmou compreensão de que o art. 102 do Código Penal Militar foi derrogado
pela parte final do art. 125, § 4º, da Constituição Federal. Exige-se, desde então, para a decretação da perda do
posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças, procedimento específico perante o Tribunal competente.
5. Habeas corpus parcialmente concedido. (STJ - HC 37.260/MS, Rel. Ministro PAULO GALLOTTI, SEXTA
TURMA, julgado em 06/11/2008, DJe 24/11/2008)
1081
MANDADO DE SEGURANÇA. CONDENAÇÃO DE PRAÇA À PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
SUPERIOR A 2 (DOIS) ANOS. PENA ACESSÓRIA. EXCLUSÃO DAS FORÇAS ARMADAS. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. SEGUIMENTO NEGADO. INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO. ADMISSIBILIDADE.
MATÉRIA CONSTITUCIONAL. JULGAMENTO PERANTE O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
ALTERAÇÃO SUPERVENIENTE DA COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA HIERARQUIA. A ordem perseguida
pela via do mandamus objetiva emprestar efeito suspensivo à decisão colegiada desta Corte Castrense que
impôs à praça da Marinha do Brasil a pena acessória de exclusão das Forças Armadas, como efeito secundário
da condenação à pena de reclusão superior a 2 (dois) anos. A admissão de recurso constitucional endereçado
ao Supremo Tribunal Federal faz esvair a competência desta Justiça Militar da União para apreciar o mérito
de eventual contrariedade a dispositivo constitucional. Medida liminar revogada, com remessa dos autos à
Suprema Corte. Decisão por maioria. (STM – MS nº 0000178-39.2012.7.00.0000/DF - Rel. Min. José Américo
dos Santos – j. 18.12.2012 - Dje de 20.02.2013)
Insubmissão
Art. 183. Deixar de apresentar-se o convocado à incorporação, dentro do prazo
que lhe foi marcado, ou, apresentando-se, ausentar-se antes do ato oficial de
incorporação:
Pena - impedimento, de três meses a um ano.
Caso assimilado
§ 1º. Na mesma pena incorre quem, dispensado temporariamente da incorporação,
deixa de se apresentar, decorrido o prazo de licenciamento.
Diminuição da pena
§ 2º. A pena é diminuída de um terço:
a) pela ignorância ou a errada compreensão dos atos da convocação militar,
quando escusáveis;
b) pela apresentação voluntária dentro do prazo de um ano, contado do último dia
marcado para a apresentação.
e) PENA DE REFORMA
Pena de reforma
Art. 65. A pena de reforma sujeita o condenado à situação de inatividade, não
podendo perceber mais de um vinte e cinco avos do soldo, por ano de serviço, nem
receber importância superior à do soldo.
Com este artigo o CPM quebra a harmonia conceitual com o Estatuto dos Militares.
Ademais, cria uma odiosa situação bis in idem, já que o militar condenado sofre
duas apenações pelo mesmo fato: a transferência ex officio para a inatividade e
a perda substancial de seus vencimentos. Além do mais, a sanção penal acaba
1083
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO. Impõe-se a pena de reforma ao oficial que, em virtude de seu desempenho
profissional apurado em cursos regulares e na apreciação uníssona de seus superiores, revela inaptidão para a
carreira, praticando atos irresponsáveis na sua vida particular, mostrando-se contumaz devedor que não honra
compromissos assumidos. Conjunto probatório insofismável na demonstração do comprometimento da honra
pessoal com repercussões na imagem da classe. Julgado culpado, deve ser reformado nos termos da lei número
5.836/72. Unânime. (STM – Conselho de Justificação nº 1987.01.000123-0/DF - Rel. Min. José Luiz Barbosa
Ramalho Clerot – j. 10.03.88 - DJ de 02.05.1988)
1084
SARAIVA, Alexandre José de Barros Leal. Código penal militar comentado: parte geral. 2ª ed. São Paulo:
Método, 2009. p.145-146.
1085
ADMINISTRATIVO. MILITAR. OFICIAL CRIME. ART. 204 DO CPM. PENA DE REFORMA.
PROVENTOS PROPORCIONAIS: ART. 65 DO CPM. 1/25 POR ANO DE EXERCÍCIO. APLICAÇÃO DA
MEDIDA PROVISÓRIA 2.215-10, DE 31/08/2001: 1/30 POR ANO DE EXERCÍCIO. IMPOSSIBILIDADE.
1. Nos termos do Código Penal Militar (Decreto-Lei 1.001, de 21 de outubro de 1969), “A pena de reforma
sujeita o condenado à situação de inatividade, não podendo perceber mais de um vinte e cinco avos do soldo,
por ano de serviço, nem receber importância superior à do soldo” (art. 65). 2. Referidas disposições do Código
Penal Militar, que foi editado em 1969, dispõem da matéria de forma divergente dos Estatutos dos Militares de
1965 (Lei 4.902), de 1980 (Lei 6880) e de 2001 (Medida Provisória 2.215-10), ainda vigente, não sendo correta
a afirmação que fora revogada pela legislação em vigor. 3. Por isso, o militar apenado com a reforma, faz jus à
percepção de 1/25 do soldo para cada ano de efetivo exercício, desde que referido montante não seja superior
ao soldo percebido pelo militar de mesma patente em atividade. 4. Apelação provida. (TRF1 – Apelação Cível
nº 200438000203282 – 1ª Turma – Rel. Des. Federal Carlos Olavo, j. 16.11.09, decisão unânime, e-DJF1 de
09.06.2010, p. 25)
1086
O militar (Capitão da Aeronáutica) foi condenado pela Auditoria da 4ª CJM (processo nº 00007/03-8) à pena
de reforma por ter infringido o art. 204 do CPM, tendo a Força Armada lhe concedido proventos equivalentes
a 1/30. Na ação judicial, o militar pedia proventos integrais ou, alternativamente, proventos com base em 1/25.
Questionou que o cálculo com base em 1/30 ao invés de 1/25 significava uma redução de 14% (quatorze por
cento) em seus proventos. O TRF1, por unanimidade, entendeu que lhe eram devidos 1/25 e não 1/30.
Somente com a entrada em vigor da Lei 4.902/65 (já revogada) foi que o
tempo mínimo para a transferência a pedido para a reserva remunerada passou de
25 (vinte e cinco) para 30 (trinta) anos de serviço.
Entendo, respeitando diferentes posicionamentos doutrinários e judiciais1087,
que é cabível a reforma proporcional do militar com base no inciso IV do art.
106 da Lei 6.880/80, entretanto, os proventos devem ser calculados com base em
1/30 (um e trinta avos) do soldo por ano de serviço e não 1/25 (um e vinte e cinco
avos), conforme disposto no art. 65 do CPM.
O fundamento jurídico sobre este posicionamento particular se deve ao
fato de que é a Lei 6.880/80 que regula o direito previdenciário do militar e não
o CPM1088, logo, embora seja legal a imposição de pena de reforma prevista no
CPM, entendo que a regulação sobre a proporcionalidade dos proventos caiba,
exclusivamente, à Lei 6.880/80.
Da interpretação do art. 56 da Lei 6.880/80, conclui-se que a proporção
básica no direito previdenciário militar é de 1/30 por ano de serviço (até o máximo
de 30 (trinta) anos), então vejamos:
Art. 56. Por ocasião de sua passagem para a inatividade, o militar terá direito
a tantas quotas de soldo quantos forem os anos de serviço, computáveis para a
1087
Em resumo: entendo que a reforma deve ser com proventos proporcionais, mas não concordo com a mencionada
decisão do TRF1 que fixou em 1/25 e não 1/30.
1088
A Lei 6.880/80 é especial em relação ao Decreto-Lei 1.001/69 (CPM) no que se refere à previdência do
militar das Forças Armadas.
Omissão de socorro
Art. 201. Deixar o comandante de socorrer, sem justa causa, navio de guerra ou
mercante, nacional ou estrangeiro, ou aeronave, em perigo, ou náufragos que
hajam pedido socorro:
Pena - suspensão do exercício do posto, de um a três anos ou reforma.
Modalidades culposas
Art. 266. Se o crime dos arts1089. 262, 263, 264 e 265 é culposo, a pena é de detenção
de seis meses a dois anos; ou, se o agente é oficial, suspensão do exercício do posto
de um a três anos, ou reforma; se resulta lesão corporal ou morte, aplica-se também
a pena cominada ao crime culposo contra a pessoa, podendo ainda, se o agente é
oficial, ser imposta a pena de reforma.
1089
Dano em material ou aparelhamento de guerra
Art. 262. Praticar dano em material ou aparelhamento de guerra ou de utilidade militar, ainda que em construção
ou fabricação, ou em efeitos recolhidos a depósito, pertencentes ou não às forças armadas:
Pena - reclusão, até seis anos.
Dano em navio de guerra ou mercante em serviço militar
Art. 263. Causar a perda, destruição, inutilização, encalhe, colisão ou alagamento de navio de guerra ou de
navio mercante em serviço militar, ou nele causar avaria:
Pena - reclusão, de três a dez anos.
(...)
Dano em aparelhos e instalações de aviação e navais, e em estabelecimentos militares
Art. 264. Praticar dano:
I - em aeronave, hangar, depósito, pista ou instalações de campo de aviação, engenho de guerra motomecanizado,
viatura em comboio militar, arsenal, dique, doca, armazém, quartel, alojamento ou em qualquer outra instalação
militar;
II - em estabelecimento militar sob regime industrial, ou centro industrial a serviço de construção ou fabricação
militar:
Pena - reclusão, de dois a dez anos.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto nos parágrafos do artigo anterior.
Desaparecimento, consunção ou extravio
Art. 265. Fazer desaparecer, consumir ou extraviar combustível, armamento, munição, peças de equipamento
de navio ou de aeronave ou de engenho de guerra motomecanizado:
Pena - reclusão, até três anos, se o fato não constitui crime mais grave.
APELAÇÃO. DEFESA. DANO CULPOSO EM MATERIAL OU APARELHAMENTO DE GUERRA.
INEXISTÊNCIA DE CULPA EM QUALQUER DE SUAS MODALIDADES. (...). Acusado que, ao dirigir
obuseiro, provoca tombamento. Agiu com cuidado necessário, não estava em velocidade superior à exigida,
foi cauteloso na medida de sua destreza. Inconformismo da Defesa no tocante à absolvição do Sentenciado,
com fundamento no artigo 439, alínea “e”, do CPPM. Demonstração nos autos de que o Acusado não agiu
com culpa em nenhuma de suas modalidades. Modificação da sentença a quo, no tocante ao fundamento da
absolvição. Acusado absolvido, com fundamento no artigo 439, alínea “c”, do CPPM. Provimento do Apelo da
Defesa, por unanimidade. (STM - Apelação Criminal nº 0000056-51.2007.01.0201 - Rel. Min. Olympio Pereira
da Silva Junior - Dj de 26.01.2010)
Farei comentários apenas sobre os incisos I e IV do art. 98, haja vista serem
as penas acessórias mais graves provenientes da condenação penal de um militar,
1090
É possível, entretanto, a alteração da condenação definitiva por meio da revisão criminal, prevista no art.
550 e seguintes do CPPM:
Cabimento
Art. 550. Caberá revisão dos processos findos em que tenha havido erro quanto aos fatos, sua apreciação,
avaliação e enquadramento.
Casos de revisão
Art. 551. A revisão dos processos findos será admitida:
a) quando a sentença condenatória for contrária à evidência dos autos;
b) quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos;
c) quando, após a sentença condenatória, se descobrirem novas provas que invalidem a condenação ou que
determinem ou autorizem a diminuição da pena.
Não exigência de prazo
Art. 552. A revisão poderá ser requerida a qualquer tempo.
Reiteração do pedido. Condições
Parágrafo único. Não será admissível a reiteração do pedido, salvo se baseado em novas provas ou novo
fundamento.
Os que podem requerer revisão
Art. 553. A revisão poderá ser requerida pelo próprio condenado ou por seu procurador; ou, no caso de morte,
pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
Competência
Art. 554. A revisão será processada e julgada pelo Superior Tribunal Militar, nos processos findos na Justiça
Militar.
1091
Aplica-se aos civis e assemelhados detentores de funções públicas.
Art. 112. Transitada em julgado a sentença da Justiça comum ou militar que haja
condenado o Oficial das Forças Armadas à pena privativa de liberdade superior a
dois anos, o Procurador-Geral da Justiça Militar formulará Representação para que
o Tribunal julgue se o representado é indigno ou incompatível para com o oficialato.
Art. 113. Recebida, autuada e distribuída a Representação, o Relator mandará citar
o sentenciado para, no prazo de dez dias, apresentar defesa escrita.
§ 1º. Decorrido o prazo previsto no caput deste artigo, sem apresentação da defesa
escrita, o Ministro-Relator solicitará a designação de um Defensor Público para
que a apresente, em igual prazo.
§ 2º. Restituídos os autos pelo Revisor, o Ministro-Relator os colocará em mesa
para julgamento.
1092
Art. 6°. Compete ao Superior Tribunal Militar:
I - processar e julgar originariamente:
(...)
h) a representação para decretação de indignidade de oficial ou sua incompatibilidade para com o oficialato;
(...)
1093
PRAÇA DO EXÉRCITO. PENA SUPERIOR A DOIS ANOS DE RECLUSÃO. EXCLUSÃO DAS FORÇAS
ARMADAS. Peculato na modalidade culposa. Condenação e extinção da punibilidade. Tendo em vista o teor
da redação do art. 125, § 4°, parte final, da Constituição Federal de 1988, o art. 102 do CPM caducou, por
inconstitucionalidade ou derrogação, tão-somente quanto às praças das polícias militares estaduais, que só
podem perder a graduação por força de decisão de Tribunal de segunda instância. Entretanto, no que se refere
às praças das Forças Armadas, conquanto inusitado o tratamento diferenciado, sob o aspecto formal, permanece
em pleno vigor o art. 102 do Código Penal Militar, que autoriza a decretação de perda da graduação de praça,
em face de sentença condenatória, em primeira instância. Das provas colhidas, verifica-se que, alegando agir
com espírito de lealdade e camaradagem, o apelado acreditava nas justificativas do colega de farda e a este
cedia peças de sua seção, que apropriava-se das mesmas para montagem de fuzis, vendendo-os posteriormente,
o que demonstra a conduta delituosa de peculato, na modalidade culposa. Improvimento do apelo da Defesa.
Apelo do MPM provido parcialmente. Decretada a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão
punitiva. Decisão unânime. (STM – Apelação nº 2000.01.048529-5/MS - Rel. Min. Antônio Carlos de Nogueira
– j. 12.03.02 – Dje de 29.04.2002)
condenadas1094 por crimes militares, somente podem ser excluídas por decisão
do tribunal1095 competente, conforme previsão do § 4º1096 do art. 125 da CF/88.
Existe no art. 107 do CPM um detalhe de suma importância referente à
aplicação de pena acessória na sentença condenatória:
Imposição de pena acessória
Art. 107. Salvo os casos dos arts. 99, 103, nº II, e 106, a imposição da pena acessória
deve constar expressamente da sentença.
Da interpretação do art. 107, podemos, sem dúvidas, afirmar que é
imprescindível que conste na sentença condenatória a imposição às Praças da
pena acessória de exclusão das Forças Armadas. Ou seja, de acordo com o art.
107, a exclusão não é automática, devendo constar, necessariamente, na sentença
condenatória, sob pena de a respectiva Força Armada ficar impedida de excluir
o militar com base no art. 102 do CPM. Entretanto, o STM, contrariando o
art. 107, possui antigo precedente1097 no sentido de que é desnecessário constar
expressamente a pena acessória na sentença ou acórdão, então vejamos:
1094
HABEAS CORPUS. POLICIAL MILITAR CONDENADO POR HOMICÍDIO SIMPLES CONSUMADO
E TENTADO. PERDA DO CARGO DECRETADA COMO EFEITO SECUNDÁRIO DA SENTENÇA.
POSSIBILIDADE. CRIME COMUM. DESNECESSIDADE DE PROCEDIMENTO ESPECÍFICO.
EXIGÊNCIA APENAS NOS CASOS DE CRIMES MILITARES. DENEGAÇÃO DA ORDEM. 1. A perda
do posto e da patente dos oficiais, bem como da graduação das praças da corporação militar, por decisão do
tribunal competente, mediante procedimento específico, nos termos do artigo 125, § 4º, da Constituição Federal,
só é aplicável quando se tratar de crime militar. 2. Nas condenações de policiais militares ocorridas na Justiça
Comum, compete ao juiz prolator do édito condenatório, ou ao respectivo Tribunal, no julgamento da apelação,
decretar a perda da função pública. 3. No caso dos autos, o paciente foi condenado por crime doloso contra a
vida, nas modalidades tentada e consumada, praticado contra civis, ou seja, por delito comum, de forma que
inexiste qualquer nulidade na imposição da perda do cargo público que ocupava pelo Tribunal de Justiça do
Estado de Mato Grosso do Sul, (...). (STJ - HC 144.441/MS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 22/06/2010, DJe 30/08/2010)
1095
POLICIAL MILITAR - REPRESENTAÇÃO DA PROCURADORIA DE JUSTIÇA DECORRENTE DA
CONDENAÇÃO DO MILICIANO À PENA DE DOZE ANOS DE RECLUSÃO PELA PRÁTICA DO CRIME
DE HOMICÍDIO QUALIFICADO (ART. 121, § 2º, INCISO IV, CPM) - (...) - Inequívoca caracterização da
grave conduta delitiva que legitimou a reprimenda imposta e maculou o decoro militar, objeto deste processo -
Improcedência das alegações defensivas - Proibição do reexame de mérito do processo crime - Inteligência dos
arts. 125, § 4º, da Constituição Federal e 81, § 1º, da Constituição Estadual - Procedência da representação
ministerial - Decretação da perda de graduação do Representado - Votação majoritária. (TJMSP - Representação
para perda de graduação nº 001051/10 - Pleno – Rel. Paulo A. Casseb - processo nº 926A/01 da 2ª VARA DO
JURI – j. 04.05.2011)
1096
§ 4º. Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares
definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando
a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da
graduação das praças.
1097
Como poderá ser percebido na leitura da ementa, os embargos declaratórios tiverem efeito modificativo, sendo
que sequer houve apelação pelo MPM da sentença que foi omissa ao imputar a exclusão do militar. Entendo que
somente seria possível o provimento de embargos com efeito modificativo neste acórdão caso a omissão fosse
exclusivamente do próprio acórdão, ou seja, que tivesse se omitido quanto ao pedido de MPM de imposição da
pena acessória em sede recursal. O que não foi o caso, pois a omissão ocorreu na sentença, não tendo o MPM
recorrido da mesma, e por isso, entendo, respeitando posicionamento diverso, que não poderia o STM aplicar a
pena acessória que sequer foi discutida até o julgamento da apelação criminal.
Entendo que o STM neste caso infringiu o art. 107, pois como se percebe, a
exclusão das Forças Armadas não é um dos efeitos da pena principal da condenação
penal, mas sim, conforme prevê o art. 98, uma pena acessória, logo, é obrigatória
que conste na sentença ou no acórdão1098. Digo na sentença ou no acórdão em
virtude de que, embora o juízo de primeiro grau tenha omitido na sentença a
exclusão, é possível que em grau de recurso o tribunal competente, verificando a
omissão, aplique a pena acessória. O que não é permitido é excluir a Praça quando
tanto a sentença quanto o acórdão transitado em julgado forem omissos quanto à
aplicação da pena acessória de exclusão das Forças Armadas.
Vejamos a seguinte decisão do STF, onde devido ao seu conteúdo, embora
antiga, é possível afirmar que, não havendo a expressa pena de exclusão na sentença
ou no acórdão, é ilegal a exclusão da Praça por ato administrativo da respectiva
Força com base no art. 102 do CPM:
Na ementa questionada, os embargos serviam para sanar suposta omissão contida no acórdão, e por ter sido
1098
provido, a exclusão automática passou a fazer parte do acórdão, porém, ratifique-se, não houve apelação do
MPM na origem.
O Advogado, com seu saber jurídico, possui poder de modificar o ordenamento jurídico brasileiro, tanto que,
1100
detém posicionamento significativo na atual ordem constitucional democrática, sendo, nos termos do art. 133 da
1101
O entendimento atual do STM sobre a aplicabilidade do princípio da insignificância está resumido no seguinte
trecho da ementa dos autos da apelação criminal nº 0000125-42.2012.7.07.0007/PE (Dje de 23.10.2013): Para
a aplicação do princípio da insignificância devem ser levados em conta, pelo menos, quatro vetores: conduta
minimamente ofensiva do agente, ausência de risco social da ação, reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento e lesão jurídica inexpressiva.
1102
Atualmente, o STM entende que é aplicável aos crimes militares o princípio da insignificância, podendo-se
destacar a seguinte decisão de 2012:
APELAÇÃO. DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO. FURTO QUALIFICADO. PERÍODO NOTURNO.
CONDENAÇÃO EM PRIMEIRA INSTÂNCIA. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. PENA
MÍNIMA. ATIPICIDADE DA CONDUTA PELA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
IMPOSSIBILIDADE. Não é vedada pelo Direito Penal Militar a aplicação do princípio da insignificância.
Entretanto, diferentemente do Direito Penal comum, além do bem jurídico tutelado protegem-se também os
bens jurídicos vetores das instituições militares, quais sejam, a hierarquia e a disciplina. Segundo entendimento
pacificado no Supremo Tribunal Federal, para a aplicação do princípio da insignificância deverão ser
considerados a mínima ofensividade da conduta, a ausência de periculosidade social da ação, a inexpressividade
da lesão jurídica provocada e o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento. O elevado grau de
reprovabilidade da conduta cometida em horário noturno contra patrimônio sob administração militar não
autoriza a aplicação do princípio da insignificância. Apelo desprovido. Unanimidade. (STM - Rel. Min. Carlos
Alberto Marques Soares – j. 12.09.12 – Dje de 27.09.2012)
1103
Todavia, o STF tem entendimento atual de que não é cabível a aplicação da insignificância nos delitos de
posse de substância entorpecente em lugar sujeito à Administração Militar, conforme se observa na seguinte
decisão de 2013:
HABEAS CORPUS. POSSE DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE EM LUGAR SUJEITO À
ADMINISTRAÇÃO MILITAR (CPM, ART. 290). Ínfima porção de entorpecente apreendida. Materialidade.
Reconhecimento. Violação do princípio da proporcionalidade. Não ocorrência. Nulidade decorrente da realização
do interrogatório do acusado nos moldes do art. 302 do CPPM. Matéria não submetida à apreciação do Superior
Tribunal Militar. Inadmissibilidade. Supressão de Instância. Conhecimento parcial do Writ. Ordem, nessa extensão,
denegada. 1. A tese da impetrante de que “a perícia realizada na substância vegetal apreendida não constatou
a presença de nenhuma das substâncias de uso proscrito no Brasil” perde relevo quando se leva em conta o
quanto noticiado no acórdão proferido pelo Superior Tribunal Militar em sede de embargos: “de acordo com
o Laudo nº 23895-41/2010 do Instituto-Geral de Perícias, da Secretaria de Segurança Pública do Estado do
Rio Grande do Sul, o material enviado para análise foi submetido ao exame botânico macroscópico e ao teste
químico com o sal ‘Fast Blue B’, e o resultado foi positivo para canabinóides. Segundo a conclusão do referido
laudo, a ‘cannabis sativa’ contém canabinóides que causam dependência’ (fl. 70)” . 2. A jurisprudência da Corte
é igualmente firme no sentido de que “a posse, por militar, de substância entorpecente, independentemente da
quantidade e do tipo, em lugar sujeito à administração castrense (art. 290, caput, do Código Penal Militar), não
autoriza a aplicação do princípio da insignificância. O art. 290, ‘caput’, do Código Penal Militar não contraria
o princípio da proporcionalidade e, em razão do critério da especialidade, não se aplica a Lei n. 11.343/2006”
(HC 104.564-AgR/RS, Primeira Turma, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJe 27/5/11). 3. A pretensão de
reconhecimento de nulidade do processo-crime militar, tendo em vista a realização do interrogatório do paciente
no início da instrução penal (CPPM, art. 302), não foi submetida ao crivo do Superior Tribunal Militar, o que
inviabiliza o seu conhecimento, per saltum, pela Suprema Corte, sob pena de indevida supressão de instância.
Precedentes. 4. Habeas corpus do qual se conhece parcialmente e ao qual, nessa medida, se denega a ordem.
(STF - HC 116312, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, julgado em 10/09/2013, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-194 DIVULG 02-10-2013 PUBLIC 03-10-2013)
1104
HABEAS CORPUS. FURTO. MILITAR. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
IMPOSSIBILIDADE. ELEVADA REPROVABILIDADE DA CONDUTA. ORDEM DENEGADA. 1. A
pertinência do princípio da insignificância deve ser avaliada considerando não só o valor do dano decorrente
do crime, mas igualmente outros aspectos relevantes da conduta imputada. 2. O valor da res furtiva, equivalente
à metade dos rendimentos da vítima, não pode ser considerado insignificante para aplicação do princípio da
bagatela. 3. Ainda que a quantia subtraída fosse ínfima, não poderia ser aplicado o referido princípio, ante a
elevada reprovabilidade da conduta do militar que se aproveita do ambiente da caserna para subtrair dinheiro
de um colega. 4. Aos militares cabe a guarda da lei e da ordem, competindo-lhes o papel de guardiões da
estabilidade, a serviço do direito e da paz social, razão pela qual deles se espera conduta exemplar para o
restante da sociedade, o que não se verificou na espécie. 5. Ordem denegada. (STF - HC 115591, Relator(a):
Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 09/04/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-077 DIVULG
24-04-2013 PUBLIC 25-04-2013)
1. HABEAS CORPUS. 2. MILITAR. FURTO DE COMBUSTÍVEL DE VIATURA POLICIAL. 3. Ausência de
um dos vetores considerados para aplicação do princípio da insignificância: o reduzido grau de reprovabilidade
do comportamento. 4. Ordem denegada. (STF - HC 113086, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda
Turma, julgado em 18/09/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-195 DIVULG 03-10-2012 PUBLIC 04-10-2012)
termos do CPPM, a absolvição1105 com base neste princípio tem suporte na letra b
do art. 4391106, devido à atipicidade penal.
De acordo com precedente do STJ, que detém competência para apreciar
Recurso Especial nas apelações criminais em sede de Justiça Militar dos Estados
e do DF, o cometimento de delitos contra a Administração Militar (arts. 298 a 339)
é manifestamente contrário à aplicação da insignificância :
1105
Quando da realização das alegações escritas pela defesa (art. 428 do CPPM), o Advogado deverá, caso entender
cabível, a aplicação do princípio da insignificância, requerendo a absolvição do acusado.
1106
Quando da realização das alegações escritas pela defesa (art. 428 do CPPM), o Advogado deverá, caso entender
cabível, a aplicação do princípio da insignificância, requerendo a absolvição do acusado.
superiores a 11107 (um) ano seriam julgados pelos Juizados Criminais, então vejamos
a norma vigente à época:
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos
desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não
superior a um ano, excetuados os caso em que a lei preveja procedimento especial.
1107
O art. 61 foi alterado pela Lei nº 11.313/06, passando a pena máxima de 1 (um) para 2 (dois) anos, eis o novo
dispositivo: Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei,
as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada
ou não com multa.
1108
Tal benefício foi oferecido e aceito por um Coronel Aviador, que, no ano de 2006, foi denunciado pela prática
do crime de abuso de autoridade, quando, contra minha pessoa (à época militar), executou prisão disciplinar
ilegal de 6 (seis) dias no âmbito da Base Aérea de Natal.
SÚMULA nº 9
A Lei nº 9.099, de 26.09.95, que dispõe sobre os Juízos Especiais Cíveis e Criminais
e dá outras providências, não se aplica à Justiça Militar da União. (DJ1 Nº 249,
de 24.12.96)
1109
A Lei 9.099/95 estava sendo aplicada na Justiça Militar da União por muitos Conselhos de Justiça.
1110
Há projetos de lei muito mais importantes e simples para o País e para milhões de cidadãos que estão tramitando
com mais lentidão do que uma tartaruga e muitos esquecidos. Todavia, no caso dos militares, para impossibilitar
a aplicação de um benefício penal, o projeto tramitou muito aceleradamente.
1111
Mais uma vez afirmo: o CPM e o CPPM são muito rigorosos e severos. Muitos militares nunca pararam
alguns minutos para ler esses códigos militares, mesmo que superficialmente. Por isso, também, resolvi fazer
alguns comentários sobre o direito penal militar e processual penal militar neste livro.
1112
Os arts. 45 a 48 do CP definem o que sejam tais penas restritivas de direito.
art. 180 da Lei de Execução Penal (Lei 7.210/84), que prevê a conversão quando,
dentre outras exigências, a pena não for superior a 2 (dois) anos1113 e o condenado
estiver cumprindo a pena em regime aberto.
A Lei 7.210/84 será aplicada incidentalmente na execução penal aos
condenados pela Justiça Militar quando estiverem presos em estabelecimentos
sujeitos à jurisdição ordinária1114, ou seja, sendo civis, conforme previsão contida
na parte final do parágrafo único do art. 2º:
Art. 2º. A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais da Justiça ordinária, em todo
o Território Nacional, será exercida, no processo de execução, na conformidade
desta Lei e do Código de Processo Penal.
Parágrafo único. Esta Lei aplicar-se-á igualmente ao preso provisório e ao
condenado pela Justiça Eleitoral ou Militar, quando recolhido a estabelecimento
sujeito à jurisdição ordinária.
Art. 180. A pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser
convertida em restritiva de direitos, desde que:
I - o condenado a esteja cumprindo em regime aberto1115;
II - tenha sido cumprido pelo menos 1/4 (um quarto) da pena;
III - os antecedentes e a personalidade do condenado indiquem ser a conversão
recomendável.
Ou seja, nada constará na sentença condenatória penal militar sobre qualquer
conversão de pena em restritiva de direitos, entretanto, a Lei de Execução Penal
permite que, durante o processo de execução penal, seja aplicada a conversão.
Por isso, consta nas ementas do STF acima transcritas a menção de que
a pena deve ser inferior a 2 (dois) anos, pois assim possibilitar-se-á, em tese, a
1113
HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL MILITAR. PECULATO (ART. 303 DO CÓDIGO PENAL
MILITAR). SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS.
CUMPRIMENTO DA PENA EM ESTABELECIMENTO COMUM. PENA SUPERIOR A DOIS ANOS.
NÃO APLICABILIDADE. ORDEM DENEGADA. 1. A conversão da pena privativa de liberdade aplicada
pela Justiça Militar Estadual, por restritivas de direito, poderá ocorrer desde que o Paciente cumpra pena em
estabelecimento prisional comum, nas hipóteses previstas pelo Código Penal Militar (arts. 2.º, parágrafo único,
61 e 62), e a pena imposta não seja superior a dois anos (art. 180 da Lei de Execução Penal). Precedentes do
Supremo Tribunal Federal e desta Corte Superior. 2. No caso em apreço, a pena fixada ao Paciente foi de 03
(três) anos de reclusão. Não é possível, portanto, conceder a ele a substituição da pena privativa de liberdade
por restritivas de direito. 3. Ordem denegada. (STJ - HC 102.603/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA
TURMA, julgado em 02/12/2010, DJe 17/12/2010)
1114
Enquanto o condenado mantiver a condição de militar somente poderá ficar preso em estabelecimento penal
militar (quartéis e presídios militares).
1115
Enquanto o militar condenado na Justiça Militar mantiver a condição de militar, em regra, não há que se falar
em mudança de regime prisional, será sempre o fechado, ressalvando-se o entendimento atual do STF sobre a
possibilidade de aplicação subsidiária da lei de execução penal ao militar condenado e preso em estabelecimento
militar. Todavia, passando à condição de civil e indo para uma penitenciária comum, estará sujeito à progressão
de regime (semi-aberto e aberto). E quando estiver no regime aberto, tiver cumprido pelo menos ¼ da pena e se
adequar ao inciso III, poderá ser beneficiado com o art. 180.
Pressupostos da suspensão
Art. 84. A execução da pena privativa da liberdade, não superior a 2 (dois) anos,
pode ser suspensa, por 2 (dois) anos a 6 (seis) anos, desde que:
I - o sentenciado não haja sofrido no País ou no estrangeiro, condenação irrecorrível
por outro crime a pena privativa da liberdade, salvo o disposto no 1º do art. 71;
II - os seus antecedentes e personalidade, os motivos e as circunstâncias do crime,
bem como sua conduta posterior, autorizem a presunção de que não tornará a
delinquir.
Restrições
Parágrafo único. A suspensão não se estende às penas de reforma, suspensão do
exercício do posto, graduação ou função ou à pena acessória, nem exclui a aplicação
de medida de segurança não detentiva.
1116
Mesmo que o condenado na Justiça Militar da União seja um civil, impossível será a conversão da pena
restritiva de liberdade em restritiva de direitos na sentença ou no acórdão, salvo no momento da execução penal,
pois a partir de então será aplicada a lei de execução penal.
1117
Preenchidos os requisitos do art. 44 do CP, ficará a cargo do Juízo das Execuções Penais estabelecer as penas
restritivas de direito que substituirão a pena privativa de liberdade.
1118
Lembrando-se que a Justiça Militar dos Estados e do DF não possuem competência para processar e julgar
civis, isso somente ocorre na Justiça Militar da União.
Vejamos a seguinte decisão do STM:
HABEAS CORPUS. RÉ CIVIL. CONDENAÇÃO. REGIME ABERTO. SÚMULA 192. SUPERIOR TRIBUNAL
DE JUSTIÇA. EXECUÇÃO DA PENA. VARA DE EXECUÇÕES PENAIS. MANDADO DE PRISÃO.
EXPEDIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. AFRONTA. CONCESSÃO DA
ORDEM. A condenação ao regime aberto, por impor pena privativa de liberdade, não exclui a expedição do
mandado de prisão (STJ, RHC 11160). No entanto, o problema exsurge no âmbito da Justiça Militar em relação
aos civis que cumprirão a citada reprimenda em estabelecimento prisional comum, ficando sujeitos à legislação
penal ordinária, ex vi o art. 62 do CPM. Tratando-se de penalidade a ser executada em regime aberto, a prisão,
por um dia sequer, em regime fechado é medida que afronta os direitos fundamentais e a coisa julgada, porquanto
a apenada tem direito a trabalhar, saindo da casa do albergado durante o dia inteiro e recolhendo-se à noite.
Ordem concedida. Decisão unânime. (STM – Habeas Corpus nº 0000095-86.2013.7.00.0000/RJ - Rel. Min.
Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha – j. 11.06.13 – Dje de 20.06.2013)
Permite a lei que não se execute a pena privativa de liberdade ao condenado que
preencha os requisitos exigidos, ficando o condenado sujeito a algumas condições
impostas na lei ou pelo juiz, durante prazo determinado, e que, se não cumpridas,
podem dar causa à revogação do benefício. É a suspensão condicional da pena que
pela lei não é mais considerada incidente da execução, mas forma de cumprimento
de pena. Além disso, considera-se hoje que o sursis é um direito subjetivo do acusado
que preenche os requisitos exigidos, e não mera faculdade do juiz.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código Penal Interpretado. 1ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 1999. p. 425.
1119
CRIMINAL. HC. CRIME MILITAR. PREVARICAÇÃO. APLICAÇÃO DA LEI N.º 9.714/98 AOS CRIMES
1120
1123
APELAÇÃO. DESERÇÃO. O art. 88, inciso II, alínea “a”, do CPM é taxativo quanto ao impedimento
da concessão do benefício do sursis em se tratando de crime de deserção. Da mesma forma dispõe o art. 617,
inciso II, alínea a, do CPPM. Na Exposição de Motivos do vigente Código Penal Militar, em seu item 9, bem
como na Exposição de Motivos do Código Processual Penal Militar, no item 22, respectivamente, o legislador,
deliberadamente, não permitiu sua aplicação. O objetivo do texto normativo é fazer com que prevaleçam os
princípios da hierarquia e disciplina entre os militares, e implica por si mesmo na compreensão do que impede
a concessão do sursis aos ilícitos que significam a quebra desses princípios, basilares das Forças Armadas, por
condutas tais como a deserção ou a insubordinação. No mérito, o Acusado recebeu instrução sobre Justiça e
Disciplina, especificamente, sobre as transgressões disciplinares, crimes militares e suas consequências. Ademais,
após ter se ausentado da OM, recebeu mensagens via Orkut do colega que o informava de que ele estava prestes
a cometer um crime militar. Autoria e materialidade comprovadas. Ausência de excludentes de culpa ou de
crime. Rejeitada a preliminar defensiva e desprovido o recurso. Maioria. (STM – Apelação Criminal nº 0000018-
39.2011.7.10.0010/CE - Rel. Min. Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha – j. 29.05.13 – Dje de 11.06.2013)
1124
O militar condenado será preso para cumprir a pena condenatória.
1125
CRIME POLÍTICO. COMPETÊNCIA. (...). INEXISTÊNCIA DE MOTIVAÇÃO POLÍTICA: CRIME
COMUM. PRELIMINARES DE COMPETÊNCIA: 1ª) Os juízes federais são competentes para processar
e julgar os crimes políticos e o Supremo Tribunal Federal para julgar os mesmos crimes em segundo grau
de jurisdição (CF, artigos 109, IV , e 102, II, b), a despeito do que dispõem os artigos 23, IV, e 6º, III, c, do
Regimento Interno, cujas disposições não mais estão previstas na Constituição. 2ª) Incompetência da Justiça
Militar: a Carta de 1969 dava competência à Justiça Militar para julgar os crimes contra a segurança nacional
(artigo 129 e seu § 1º); entretanto, a Constituição de 1988, substituindo tal denominação pela de crime político,
retirou-lhe esta competência (artigo 124 e seu par. único), outorgando-a à Justiça Federal (artigo 109, IV). 3ª)
(...). (STF - RC 1468 segundo, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MAURÍCIO
CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 23/03/2000, DJ 16-08-2000 PP-00088 EMENT VOL-02078-01 PP-00041)
1126
RECURSO INOMINADO. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. (...). I - Conflito de competência que tem
origem em decisões monocráticas antagônicas, proferidas por Ministro do Superior Tribunal de Justiça e
Juíza-Auditora da Auditoria da 4ª CJM, acerca da competência para processar e julgar membros de quadrilha
de traficantes pela prática do crime capitulado no parágrafo único do art. 12 da Lei de Segurança Nacional;
II - Falece atribuição constitucional ao Ministério Público Militar para o oferecimento de denúncia por crime
capitulado na Lei 7.170/83 - Lei de Segurança Nacional; III - A Lei de Segurança Nacional, em seus artigos
1º e 2º adota, respectivamente, a teoria objetiva e subjetiva de proteção ao bem jurídico tutelado. Desse
modo, todos os tipos penais descritos na Lei de Segurança Nacional (Lei nº 7.170/83) são crimes políticos
objetivamente considerados e devem ser processados e julgados perante a Justiça Federal, ex vi do art. 109, IV,
da Carta Magna; IV - As Constituições brasileiras sempre delegaram à Justiça Federal, seja a Comum, seja a
Militar, competência para julgar os crimes políticos, sendo que a Constituição Federal de 1988, ao tratar da
competência da Justiça Militar (art. 124), a restringiu para o processamento e julgamento dos crimes militares
definidos em lei. Tais crimes têm definição no art. 9º do Código Penal Militar, que não inclui os crimes contra a
segurança nacional. Via de conclusão, o art. 30 da Lei de Segurança Nacional não foi recepcionado pela nova
ordem constitucional; V - (...). (STM – Conflito de Competência nº 2004.02.000316-1/DF, Rel. Min. José Coêlho
Ferreira, j. 09.09.04, DJ de 08.11.2004)
Art. 35. O oficial não poderá constar de qualquer Quadro de Acesso e Lista de
Escolha quando:
(...)
g) for condenado, enquanto durar o cumprimento da pena, inclusive no caso de
suspensão condicional da pena, não se computando o tempo acrescido à pena
original para fins de sua suspensão condicional;
(...)
1131
Não poderá constar no Quadro de Acesso e nem nas Listas de Escolha.
sejam Oficiais ou Praças, que estejam sendo processados na esfera penal (processo
crime) enquanto não transitada em julgado a sentença final. Ou seja, em havendo
recursos pendentes (ex.: apelação criminal), mesmo que o militar tenha sido
absolvido na primeira instância, não será possível a ascensão do militar sub
judice na carreira militar.
Quanto à transferência1132 (movimentação) de localidade, em regra, não há
qualquer empecilho1133 legal, todavia, é prudente o prévio questionamento ao Juízo
de Execuções da respectiva Auditoria Militar, haja vista que o militar sujeito ao
sursis está sob vigilância (cumprindo pena, porém, em liberdade) da Justiça Militar.
O art. 392 do CPPM proíbe, salvo exceções, a transferência ou remoção
do militar acusado1134 enquanto não proferida decisão final no processo criminal,
mas não faz qualquer referência quando o militar condenado estiver cumprindo
o sursis, então vejamos:
1132
CORREIÇÃO PARCIAL - EXECUÇÃO PROVISÓRIA - PEDIDO DE TRANSFERÊNCIA. Pleito
correicional requerido pelo MPM, visando desconstituir a autorização judicial que permitiu ao jurisdicionado,
cujo processo encontra-se em grau de recurso, requerer, administrativamente, transferência, por motivo
particular, para cidade de outra Circunscrição Judiciária Militar. Matéria inerente à execução de sentença,
embora provisória, vincula-se à competência originária do Juízo de primeira Instância (grifo meu), a teor do
inciso XI, do art. 30, da Lei nº 8.457/92, e art. 588 do CPPM. Configurado que o Magistrado a quo, ao atender
ao requerido, atuou dentro de sua competência jurisdicional. Correição Parcial indeferida. Decisão unânime.
(STM – Correição Parcial nº 2003.01.001866-5 – Rel. Min. Marcus Herndl, j. 29.10.03, DJ de 26.11.2003)
1133
O tópico 8.52 da norma FCA 30-3/08 do Comando da Aeronáutica informa o seguinte sob a condição sub
judice, que denominam de restrições legais: 8.52 QUE “RESTRIÇÕES LEGAIS” PODEM ATINGIR O MILITAR
ENVOLVIDO COM A JUSTIÇA COMUM CRIMINAL OU MILITAR? R.: O militar não poderá: ser promovido;
receber medalhas de mérito; ser transferido de sede (quando envolvido com justiça comum criminal ou militar);
prestar concursos; e passar para a reserva remunerada a pedido. Além do mais, influenciará nos processos de
indicação para missão no exterior e reengajamento.
1134
Acusado é aquele que está sendo processado judicialmente a partir do momento do recebimento da denúncia pelo
Juiz-Auditor. Esclareça-se que os Conselhos de Justiça não detém competência para o recebimento de denúncia.
que faz legalmente possível o licenciamento diante das fundadas razões expostas
pela Administração Militar. - Concessão da Segurança, para cassar a Decisão
do CPJ que determinou a permanência dos Sgts. MILTON JARDIM ROSBAQUE
e JOVELINO MARQUES DOS SANTOS no Serviço Ativo do Exército. - Unânime.
(STM – Mandado de Segurança nº 2000.01.000554-4/DF – Rel. Min. José Enaldo
Rodrigues, j. 30.03.00, DJ de 11.05.2000)
1135
Em regra, o condenado, durante o período do sursis, deverá comparecer à Auditoria Militar respectiva a cada
2 (dois) ou 3 (três) meses, a fim de assinar documento que fará parte do processo de execução penal. Quando
o militar serve em outro Estado, que não a sede da Auditoria, costuma-se realizar esses comparecimentos via
carta precatória criminal, seja em outra Auditoria Militar, ou mesmo no Juízo Federal ou Estadual, dependendo
da localidade. Após terminado o prazo do sursis, o Juiz deprecado (da localidade onde o militar de apresentou
bimestralmente ou trimestralmente) enviará os autos deprecados à Auditoria responsável, a fim de que o Juiz-
Auditor, verificando o cumprimento do sursis, declare extinta (cumprida) a pena, donde o militar deixará de ser
considerado sub judice para a Administração Castrense.
1136
SÚMULA nº 169 do TCU: Para efeito de concessão da pensão militar, admite-se a equiparação e, em
consequência, a igualdade de tratamento, do militar excluído ao expulso, ambos considerados falecidos (morte
ficta), mesmo que a família se haja constituída após o desligamento e ainda que não tenham chegado a contribuir
para o montepio militar, por ser superveniente à sua morte a lei que ensejou a contribuição.
1137
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO RETIDO. CONTRADITA DE TESTEMUNHAS. ADMINISTRATIVO.
MILITAR. PRAÇA ESTÁVEL EXCLUÍDA DO SERVIÇO ATIVO A BEM DA DISCIPLINA. PENSÃO POR
MORTE FICTA INSTITUÍDA EM BENEFÍCIO DA ESPOSA. PRETENSÃO DA COMPANHEIRA DE
DIVIDIR O BENEFÍCIO COM A VIÚVA APÓS O ÓBITO DO MILITAR. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO
DE UNIÃO ESTÁVEL. - O Eg. STJ já decidiu que o concubinato estabelece vínculo gerador de impedimento de
testemunha. Evidenciada a incidência do art. 405, § 2º, inciso I, do Código de Processo Civil, não há ilegalidade
na decisão que acolhe a contradita do irmão do de cujus, nem prejuízo dela decorrente, especialmente se aquele
depõe como informante do Juízo. - Ao que se depreende do art. 414, § 1º, do CPC, o momento processual adequado
para a arguição de incapacidade, impedimento ou suspeição de testemunha é o que antecede o depoimento,
não podendo ser levantada depois de iniciado este, em virtude dos efeitos da preclusão. - Agravo retido a que
se nega provimento. - Militar que, após alcançar a estabilidade, foi excluído do Serviço Ativo da Marinha a
bem da disciplina, instituindo, em favor de sua esposa, pensão militar por morte ficta. A concessão deste tipo de
benefício aos dependentes tem finalidade social, eis que visa a amparar a família do militar, motivo pelo qual
foi integralmente conferido à esposa. - Não havendo notícia de reabilitação e posteriormente falecido o militar,
à pensão decorrente de sua morte real não faz jus sua concubina. Ausente comprovação da existência de união
estável como entidade familiar, única reconhecida e amparada pelo art. 226, § 3º da Constituição Federal. -
Apelação improvida. (TRF1 – Apelação Cível nº 369.428 – 7ª Turma Especializada – Rel. Des. Federal Theophilo
Miguel, j. 07.12.09, decisão unânime, DJU de 07.12.2009, pág. 112).
ADMINISTRATIVO. MILITAR EXCLUÍDO DAS FORÇAS ARMADAS. PENSÃO. ART. 5º, § 1º do Decreto
49.096/60. NÃO COMPROVADA A SUBSISTÊNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL À ÉPOCA DA EXCLUSÃO DO
MILITAR. PEDIDO IMPROCEDENTE. A pensão militar pode ser requerida a qualquer tempo, consoante
dispõe o art. 28 da Lei nº 3.765/60. Prescrição afastada. O benefício pretendido é garantido aos dependentes
existentes à época dos fatos. A união estável não subsistia à época da exclusão do militar das Forças Armadas.
Hipótese na qual a autora não pode ser enquadrada como beneficiária da pensão (artigo 7º da Lei 3765/1960),
seja porque não comprovou a existência da união estável à época da exclusão, seja porque não recebia pensão
alimentícia do militar. Remessa oficial e apelação providas para reconhecer a improcedência do pedido. (TRF3
- APELREEX nº 00250884420064036100 – 1ª Turma - Rel. Desembargador Federal José Lunardelli, j. 04.09.12,
decisão unânime, e-DJF3 de 14.09.2012)
1138
Não se referem aos textos que estão expressos no art. 20 e em seu parágrafo único.
1139
ADMINISTRATIVO. MILITAR. DIREITO À PENSÃO PARA OS DEPENDENTES EXISTENTES À
ÉPOCA DA MORTE “FICTA”. Com o desligamento da condição de militar, permanecem os dependentes do
militar expulso protegidos por lei, pois esta considera como se tivesse ocorrido o óbito, instituindo-se a figura
de “morte ficta”. Os herdeiros do militar excluído, então, possuem direito à pensão militar correspondente a
seu posto ou patente, representado pelo soldo que lhe seria pago se estivesse na ativa. No caso a situação é
diferente. A autora, à época do evento ‘expulsão’, não era herdeira do militar, não se enquadrando na qualidade
de dependente do mesmo quando da ocorrência do evento ‘morte ficta’, eleito pelo legislador como autorizador
da concessão do benefício ora em discussão. (TRF4 – Apelação Cível nº 200870000189766 – 4ª Turma – Rel.
Desembargadora Federal Marga Inge B. Tessler, j. 23.09.09, decisão unânime, DJ de 05.10.2009).
1140
De acordo com o art. 13, inciso V, letra b, caso o Oficial seja julgado incapaz de permanecer na ativa ou na
inatividade por decisão do Conselho de Justificação em virtude de condenação penal, caberá ao STM, em única
instância, julgar o referido processo. O § 2º do art. 48 da Lei 6.880/80 dispõe o seguinte: § 2º. Compete ao Superior
Tribunal Militar, em tempo de paz, ou a Tribunal Especial, em tempo de guerra, julgar, em instância única, os
processos oriundos dos Conselhos de Justificação, nos casos previstos em lei específica.
1141
O estudo do Conselho de Disciplina está discorrido no Capítulo 14.
1142
O CPM não prevê tais espécies de regime, posto que, como já informado, em regra, o único regime prisional
para a execução da pena do militar em estabelecimento penal militar é o fechado. Disse em regra devido
ao fato de que o STF e o STJ têm se posicionado no sentido de que o militar detém o direito à garantia da
individualização da pena com o consequente direito à progressão do regime prisional quando a pena é cumprida
em estabelecimento penal militar.
1143
ASSIS, Jorge César. Execução da Sentença na Justiça Militar. 3ª ed. Curitiba: Juruá, 2011. p. 58-59.
1144
As sentenças condenatórias proferidas pela Justiça Militar deverão definir qual o regime prisional do condenado
militar, embora, ressalte-se, tais regimes não estejam previstos na legislação penal militar. O objetivo é que,
caso o militar venha a passar à condição de civil, deverá cumprir a pena em estabelecimento penal civil e estará
subordinado à legislação civil e, em especial, à Lei de Execuções Penais. Podendo, assim, haver a execução da pena
de acordo com o regime prisional disposto na sentença ou acórdão com a possibilidade de progressão de regime.
Obs.: A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto.
A de detenção em regime semi-aberto ou aberto, salvo necessidade de transferência a
regime fechado (caput do art. 33 do CP).
militar (art. 59, inciso I), b) estabelecimento penal militar1145 (art. 59, inciso II) e
c) penitenciária militar (art. 61).
Não há uma legislação específica que faça a distinção (ver quadro abaixo) de
tais modalidades do cumprimento da pena no âmbito castrense. Todavia é possível
fazer a diferenciação com base em algumas normas militares: art. 25 do Decreto
88.545/83 (RDM), art. 29 do Decreto 4.346/02 (RDE) e arts. 20 e 21 do Decreto
76.322/75 (RDAER).
1145
Observando-se a parte final do inciso II do art. 59, tem-se que a Praça poderá cumprir pena privativa de
liberdade por tempo superior a 2 (dois) anos em estabelecimento penal militar; entretanto, o art. 61 prevê que
a pena privativa de liberdade acima de 2 (dois) anos será cumprida em penitenciária militar, ou na falta, em
estabelecimento prisional civil. Então, percebe-se, nitidamente, certa contradição na própria legislação penal
militar em relação ao local adequado para o cumprimento da pena pelo militar.
1146
No RDAER está previsto que o cumprimento da prisão disciplinar do Cabo, Soldado ou Taifeiro poderá ser
no alojamento ou no compartimento fechado denominado xadrez. (art. 21). Já no regulamento disciplinar da
Marinha, o xadrez é denominado de prisão fechada (art. 25, letra b).
1147
É uma prova de que estabelecimento penal militar não é a mesma coisa que penitenciária militar, pois,
obviamente, neste, não caberá o recolhimento de presos disciplinares.
Justiça. Ou seja, o Exército, por exemplo, dentre vários quartéis de uma localidade,
poderá designar um deles como estabelecimento penal. Em regra, o principal fator
definidor para a escolha do local de recolhimento de condenados de justiça é que
neste quartel esteja sediada a Polícia Militar da respectiva Força Armada (Polícia
da Aeronáutica – PA, Polícia do Exército – PE e Polícia da Marinha – PM).
Entretanto, ainda paira certa dificuldade quanto à distinção prática do que seja
estabelecimento penal militar e penitenciária militar, tendo, inclusive, a Escola1148
da Magistratura do TRF4 citado artigo do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento
Funcional Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, onde o Juiz-
Auditor Luiz Alberto Moro Cavalcante (Execuções Criminais da Justiça Militar
do Estado de São Paulo) considerou a penitenciária militar como estabelecimento
penal militar, então vejamos:
1148
Caderno de Direito Penal nº 3 – volume 1 – 2005.
Art. 73. As prerrogativas dos militares são constituídas pelas honras, dignidades
e distinções devidas aos graus hierárquicos e cargos.
Parágrafo único. São prerrogativas dos militares:
a) uso de títulos, uniformes, distintivos, insígnias e emblemas militares das Forças
Armadas, correspondentes ao posto ou graduação, Corpo, Quadro, Arma, Serviço
ou Cargo;
1149
Entretanto há precedente do STM no sentido da possibilidade de execução do sursis antes do trânsito em
julgado da sentença condenatória: CORREIÇÃO PARCIAL. MINISTÉRIO PÚBLICO MILITAR. SUSPENSÃO
CONDICIONAL DA PENA. AUSÊNCIA DE TRÂNSITO EM JULGADO. I - O representante do Ministério
Público Militar interpôs Correição Parcial contra a decisão judicial que permitiu o início da suspensão
condicional da pena antes do trânsito em julgado da decisão condenatória; II - O “sursis” é forma de execução
da pena privativa de liberdade e deveria ser imposto apenas após o trânsito em julgado; III - Não há qualquer
prejuízo, todavia, na realização da audiência e no início do cumprimento das condições pelo sentenciado logo após
a condenação em primeiro grau de jurisdição; IV - Como se trata de pessoa viciada em substância entorpecente,
é mais eficaz começar a frequentar desde logo as reuniões do Grupo de Apoio a Dependentes Químicos; V - Não
há tumulto processual a ensejar a medida correcional requerida. A jurisprudência pátria entende ser direito do
sentenciado obter a antecipação do cumprimento da pena; VI - Correição Parcial conhecida, porém indeferida.
Decisão unânime. (STM – Correição Parcial nº 2007.01.001957-2/RS – Rel. Min. José Coelho Ferreira, j.
25.09.07, DJ de 08.11.2007)
1150
HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO CRIMINAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME MILITAR.
CONDENAÇÃO MANTIDA EM SEDE DE APELAÇÃO CRIMINAL. RECURSO ESPECIAL ADMITIDO.
EXECUÇÃO PROVISÓRIA. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA
DE TRÂNSITO EM JULGADO DA CONDENAÇÃO. PRECEDENTES DO STJ. ORDEM CONCEDIDA.
1. O Superior Tribunal de Justiça tem proclamado não se admitir a execução da pena antes do esgotamento das
vias recursais, exigindo-se o trânsito em julgado da condenação. 2. A suspensão condicional da pena, a exemplo
do que ocorre com as penas restritivas de direitos, tem nítida natureza punitiva e sancionatória, constituindo-se
verdadeira modalidade de execução da condenação, sendo inadmissível, portanto, o seu cumprimento na forma
provisória. 3. Ordem concedida para anular os atos praticados em sede de execução provisória, determinando que
o cumprimento da suspensão condicional da pena se inicie somente após o trânsito em julgado da condenação.
(STJ - HC 235.445/SP, Rel. Ministra ALDERITA RAMOS DE OLIVEIRA (DESEMBARGADORA CONVOCADA
DO TJ/PE), SEXTA TURMA, DJe 27/11/2012)
1151
Prisão preventiva é uma das espécies de prisão cautelar, assim como a prisão em flagrante e a prisão provisória.
Nestas prisões cautelares não há qualquer sentença condenatória definitiva, tanto que é possível, por exemplo,
a revogação de uma preventiva caso não estejam mais presentes os pressupostos autorizadores previstos nos
arts. 254 e 255 do CPPM.
1152
O art. 68 do CPM possibilita que os condenados pela Justiça Militar cumpram a pena em estabelecimento
prisional de outra região, distrito ou zona. Assim, com este dispositivo será possível, por exemplo, levar o militar
condenado para próximo de sua família.
1153
Entretanto, o art. 61 do CPM permite, alternativamente, o cumprimento em estabelecimento prisional civil.
Essa contrariedade foi analisada com muita discussão, ressalte-se, entre os Ministros da 2ª Turma do STF nos
autos do HC nº 71.712/PA.
Sequer é possível que a Praça, ainda não excluída da ativa das Forças
Armadas, em virtude da não ocorrência do trânsito em julgado da pena acessória
de exclusão, cumpra a pena em presídio comum, então vejamos:
HABEAS CORPUS. SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR. Crime de estelionato
praticado por militar contra militar (art. 251 do CPM c/c o art. 71 do CPB).
Competência da Justiça Militar já decidida no HC nº 80.831-0/AM. Não apreciação,
pela sentença, de provas produzidas pelo réu. Falta de demonstração da prova
ignorada. Alegação de nulidade que se repele, pois, ainda que tivesse sido
demonstrada a prova não examinada, necessária seria a prova de prejuízo para
o réu (art. 566 do CPP). Conexão. Separação dos processos. Desmembramento
decorrente de exame de insanidade mental do co-réu. Motivo reputado relevante pelo
juiz (art. 106, c do CPPM). Separação legítima. Alegação de nulidade da perícia.
Necessidade de exame de prova. Peritos que, ademais, atestaram a qualidade
da cópia reprográfica examinada. Alegação rejeitada. Cumprimento da pena
perante a Justiça Comum. Inviabilidade, diante de não ter transitado em julgado a
sentença condenatória, que impôs pena acessória de exclusão das Forças Armadas.
Execução provisória perante a Justiça Militar. Quanto ao regime de cumprimento
da pena, que foi o aberto, eventuais incidentes devem ser levadas primeiro ao
Juízo da Execução, sob pena de supressão de instância. Habeas corpus conhecido
em parte e, nessa parte, deferido parcialmente. (STF - HC nº 81198, Relator(a):
Min. ELLEN GRACIE, Primeira Turma, julgado em 18/12/2001, DJ 08-03-2002
PP-00053 EMENT VOL-02060-01 PP-00152)
1154
É o sursis.
1155
A Justiça Militar dos Estados e do DF estão mais avançadas juridicamente do que a Justiça Militar da União e,
consequentemente, já estão impondo os regimes semi-aberto e aberto nas sentenças, conforme se pode observar
na leitura da ementa abaixo:
POLICIAL MILITAR - SENTENÇA ABSOLUTÓRIA - APELO MINISTERIAL PUGNANDO A
CONDENAÇÃO DO RÉU - Denúncia imputou a prática do crime de homicídio culposo (art. 206, § 1º, primeira
parte, CPM) - Inconteste a comprovação da autoria do disparo e a materialidade - Confissão do Acusado -
Contradições em suas justificativas acerca dos fatos - A conduta culposa do Apelante caracterizou imprudência
e conscientemente descumpriu as normas procedimentais básicas contidas no manual técnico da Polícia Militar
- Necessária imposição de um juízo de censura - Reforma da r. sentença “a quo” - Condenação à pena de 01
(um) ano, 02 (dois) meses e 12 (doze) dias de detenção, no regime aberto - Provimento do recurso - Extinção da
punibilidade nos termos do art. 123, inciso IV do Código Penal Militar - Votação unânime. (TJMSP – Apelação nº
005831/08 - 1ª Câmara - Rel. PAULO A. CASSEB - processo nº 045829/06 da 3ª Auditoria Militar – j. 17.05.2011)
1156
Quando a condenação é contra civis, a Justiça Militar da União aplica, subsidiariamente, o CP para a fixação
do regime prisional, então vejamos:
APELAÇÃO. ROUBO QUALIFICADO DE ARMAMENTO. PEDIDO DEFENSIVO PARA REDUÇÃO DA
PENA AO MÍNIMO LEGAL. PRETENSÃO MINISTERIAL PELA FIXAÇÃO DE REGIME PRISIONAL
MAIS SEVERO. RÉU PRIMÁRIO. IMPROCEDÊNCIA. Civil condenado à pena de 07 anos e 06 meses de
reclusão como incurso no art. 242, § 2º, incisos I e IV, do CPM, com o regime prisional inicialmente semiaberto.
Razões da Defesa requerendo a redução da pena fixada. Apelo do MPM pugnando pela reforma da sentença
para fixar o regime inicial fechado para o cumprimento da pena. Não obstante o acerto do Juízo a quo ao
estabelecer a pena-base acima do mínimo legal, ou seja, em 05 anos de reclusão, além de afastar a confissão
espontânea (art. 72, inciso III, alínea “d”, do CPM), há de ser reconhecida a contribuição do acusado para
a recuperação da res furtiva, indicando o local onde se encontrava, de forma a diminuir o abalo patrimonial
da conduta. Aplica-se, por analogia, o artigo 66 do CP comum para incidência da atenuante genérica, bem
como a majorante decorrente dos incisos I e IV do § 2º do art. 242 do CPM em 1/3 (um terço), a fim de definir a
pena em 05 anos e 04 meses de reclusão. No tocante ao apelo ministerial, não obstante a gravidade da conduta
perpetrada, a imposição do regime fechado para o cumprimento inicial da pena viola dispositivo expresso na lei
penal ordinária. A disposição constante no artigo 33, e em seus parágrafos, do CP comum é direito subjetivo do
sentenciado, não devendo o magistrado se afastar da regra legalmente prevista quando preenchidos os requisitos
para amenizar o regime de cumprimento da pena, ainda mais quando se trata de réu primário e sem antecedentes
penais. Provido parcialmente o apelo defensivo para diminuir a pena imposta ao sentenciado. Decisão unânime.
Desprovido o apelo do Ministério Público Militar para manter o regime prisional semiaberto para o início do
cumprimento da pena. Decisão por maioria. (STM – Apelação nº 0000033-45.2011.7.02.0102/SP - Rel. Min.
Marcos Martins Torres - j. 28.02.12 - Dje de 15.03.2013)
PENAL. Conforme iterativos julgados desta Corte, a Lei de Execução Penal (Lei nº
7.210/1984) só é aplicável aos condenados pela Justiça Militar quando recolhidos
a estabelecimento prisional sujeito à jurisdição ordinária. Inteligência do artigo
2º, parágrafo único, da supracitada Lei. Não é o caso dos autos. Conhecido do
pedido e denegada a Ordem, por falta de amparo legal, restabelecendo-se o regime
prisional inicialmente fechado. Decisão majoritária. (STM – Habeas Corpus n
0000007-53.2010.7.00.0000/PE - Rel. Min. Olympio Pereira da Silva Júnior – j.
01.02.2010 – Dje de 14.06.2010)
Ocorre, todavia, que o inciso XLVI do art. 5º da CF/88 não excluiu o militar
da garantia constitucional da individualização da pena, então vejamos:
A CF/88 não excluiu esta garantia constitucional dos militares, então por qual
motivo somente é imposto o regime integralmente1157 fechado para o cumprimento
da pena restritiva de liberdade ao militar condenado pelo cometimento de crimes
militares? É porque a Justiça Militar da União costuma se esquecer de que a CF/88
está acima de qualquer lei penal militar e que, em havendo omissão legislativa
penal militar, é possível a aplicação subsidiária do CP e da lei penal comum.
O STM tem jurisprudência pacificada1158 no sentido de que o único regime
prisional previsto para o militar condenado à pena restritiva de liberdade é o
fechado, conforme se depreende da leitura da ementa da apelação criminal nº
0000151-40.2012.7.07.0007/PE julgada em outubro de 2013:
1157
O STF, no julgamento do HC nº 108.840/ES, de relatoria do Ministro Dias Toffoli, removeu o óbice constante
do § 1º do art. 2º da Lei 8.072/90, com a redação dada pela Lei 11.464/07, o qual determinava que a pena por
crime previsto neste artigo será cumprida integralmente em regime fechado, declarando, de forma incidental, a
inconstitucionalidade da obrigatoriedade de fixação do regime fechado para o início do cumprimento de pena
decorrente da condenação por crime hediondo ou equiparado.
1158
Porém, há uma decisão interessante, para não dizer intrigante, nos autos da Apelação nº 2005.01.049938-5/
RJ, posto que o STM concedeu o regime aberto a 2 (dois) Oficiais da Marinha (Capitão de Fragata e Capitão
de Corveta), aplicando, subsidiariamente, o CP, conforme se observa no seguinte trecho do extrato da ata do
julgamento:
O Tribunal, por maioria, deu provimento parcial aos Apelos para, mantendo de 1º grau que condenou o CF
(nome excluído intencionalmente) e CC (nome excluído intencionalmente) como incursos no art. 303 do Código
Penal Militar, c/c o art. 71 do Código Penal Comum, reduzir as penas impostas ao primeiro Apelante para 3
anos e 9 meses de reclusão e ao segundo Apelante para 4 anos de reclusão, fixando-se para ambos o regime
aberto para cumprimento da pena, consoante dispõe o art. 33, § 2º, alínea “c”, do CP comum.
CRIMINAL. HABEAS CORPUS. CRIME MILITAR. EXECUÇÃO DA PENA
EM ESTABELECIMENTO PENAL MILITAR. PROGRESSÃO DE REGIME.
AUSÊNCIA DE PREVISÃO NA LEGISLAÇÃO CASTRENSE. PRINCÍPIO
DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA. APLICAÇÃO SUBSIDIARIA DA
LEI DE EXECUÇÃO PENAL NOS CASOS OMISSOS. POSSIBILIDADE.
PRECEDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. REQUISITOS
OBJETIVOS E SUBJETIVOS EXAMINADOS PELO JUÍZO DAS
EXECUÇÕES. ORDEM CONCEDIDA. I. Hipótese em que o paciente, cumprindo
pena em estabelecimento militar, busca obter a progressão de regime prisional,
tendo o Tribunal a quo negado o direito com fundamento na ausência de previsão
na legislação castrense. II. Em que pese o art. 2º, parágrafo único, da Lei de
Execução Penal, indicar a aplicação da lei apenas para militares “quando recolhido
a estabelecimento sujeito à jurisdição ordinária”, o art. 3º do Código de Processo
Penal Militar determina a aplicação da legislação processual penal comum nos
casos omissos. III. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do habeas corpus n.º
104.174/RJ, afirmou que a exigência do cumprimento de pena privativa de liberdade
no regime integralmente fechado em estabelecimento militar contraria, não só o
texto constitucional, como todos os postulados infraconstitucionais atrelados ao
princípio da individualização da pena. IV. Pela observância deste princípio, todos
os institutos de direito penal, tais como, progressão de regime, liberdade provisória,
conversão de penas, devem ostentar o timbre da estrita personalização, quando
de sua concreta aplicabilidade. V. Deve ser cassado o acórdão combatido para
reconhecer o direito do paciente ao benefício da progressão de regime prisional,
restabelecendo-se a decisão do Juízo de 1º grau, que verificou a presença dos
requisitos objetivos e subjetivos exigidos por lei e fixou as condições para o
cumprimento da pena no regime mais brando. VI. Ordem concedida, nos termos
do voto do Relator. (STJ - HC 215.765/RS, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA
TURMA, julgado em 08/11/2011, DJe 17/11/2011)
1159
RECURSO CRIMINAL. CONDENADO PELA JUSTIÇA MILITAR QUE TERÁ DE CUMPRIR PENA EM
ESTABELECIMENTO PRISIONAL SUJEITO A JURISDIÇÃO COMUM. Transitada em julgado a sentença
condenatória, compete ao Dr. Juiz-Auditor mandar expedir o mandado de prisão contra o condenado, remetendo
os autos, a seguir, a Vara de Execuções Penais da Comarca do cumprimento da pena, juntamente com a carta
de guia. Provido, parcialmente, o recurso ministerial. Decisão unânime. (STM – RSE nº 1994.01.006189-0/
PR – Rel. Min. Aldo da Silva Fagundes - j. 19.12.94 – Dj de 16.03.1995)
1160
INCIDENTES DA EXECUÇÃO. COMPETÊNCIA. CONDENAÇÃO IMPOSTA PELA JUSTIÇA
MILITAR. PENA A SER CUMPRIDA EM ESTABELECIMENTO PRISIONAL CIVIL. O civil, assim como o
militar condenado e excluído das Forças Armadas, cumpre a pena imposta pela Justiça Militar em estabelecimento
prisional sujeito à jurisdição ordinária, cabendo a esta decidir sobre eventuais incidentes. Portanto, transitada
em julgado a sentença condenatória, os autos de execução deverão ser remetidos ao Juízo das Execuções Penais,
salvo, obviamente, se o juiz da sentença, por força de lei, também for competente para a execução. Provido
parcialmente o recurso para cassar a decisão recorrida, apenas na parte que determinou a expedição de carta
de guia, mantidos os demais termos. Decisão unânime. (STM – Recurso Criminal nº 1994.01.006196-2/PR – Rel.
Min. Antônio Carlos de Nogueira, j. 23.02.1995)
INCIDENTE DA EXECUÇÃO. CONDENAÇÃO DE MILITAR A PENA SUPERIOR A DOIS ANOS. Exclusão
das Forças Armadas. Competência. Tratando-se de pena superior a dois anos, imposta a militar, conquanto
transitada em julgado a decisão condenatória, somente após a definitiva exclusão do réu das Forças Armadas
cessa a competência do juízo de conhecimento (militar) para dirimir os eventuais incidentes da execução.
Enquanto não excluído o sentenciado do efetivo das Forças Armadas, não pode a autoridade judiciária castrense
ordenar a expedição de carta de guia para o cumprimento da pena em estabelecimento prisional civil, eis que,
ostentando a qualidade de militar, lhe e assegurada a prerrogativa prevista no art. 73, parág. Único, alínea ‘c’,
da lei número 6.880/80 (Estatuto dos Militares). (STM – RSE nº 1993.01.006125-3 - Rel. Min. Eduardo Pires
Gonçalves – j. 05.04.94 – Dj de 09.05.1994)
1161
Há raras sentenças da Justiça Militar da União que definem o regime prisional que o militar será submetido
quando passar à condição de civil, pois, em regra, é imposto o regime fechado. Porém, se na sentença constar
o regime fechado e este militar passar à condição de civil, terá o direito de cumprir, se for o caso, o restante
de sua pena nos regimes semi-aberto e aberto, conforme exigências legais previstas na Lei de Execução Penal.
Vejamos abaixo uma decisão do STM onde consta que o Conselho de Justiça deixou explícito na sentença que
o condenado militar será colocado no regime aberto caso passe à condição de civil:
REPRESENTAÇÃO DO JUIZ-AUDITOR CORREGEDOR. PROCESSO DE EXECUÇÃO EXTINTO PELO
MAGISTRADO A QUO SEM O CUMPRIMENTO DA PENA. (...). A perda da condição de militar após o
trânsito em julgado da decisão condenatória por crime de deserção não impede o cumprimento da pena com
base na legislação penal comum, de cujos benefícios o sentenciado poderá gozar, a teor do art. 62 do CPM e art.
2º, parágrafo único, da LEP. De outro lado, o Conselho Permanente de Justiça já havia estabelecido o regime
aberto para o início do cumprimento da pena, nos termos do art. 33, § 2º, alínea “c”, do CP comum, para o
caso de exclusão do militar do serviço ativo. (...). (STM – Correição Parcial nº 0000079-04.2011.7.03.0103/
RS - Rel. Min. Marcus Vinicius Oliveira dos Santos - j – 03.10.11 - Dje de 11.11.2011)
1162
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código Penal Interpretado. 1ª ed. São Paulo: Atlas, 1999. p. 491-492.
1163
Refere-se ao CP, assim dispõe o dispositivo:
Art. 92. São também efeitos da condenação:
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados
com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos.
II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de
reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado;
III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso.
Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados
na sentença.
1164
RECURSO DE OFÍCIO COM FULCRO NO ART. 654 DO CPPM. PEDIDO DE REABILITAÇÃO
DEFERIDO EM CONFORMIDADE COM AS DISPOSIÇÕES ÍNSITAS NOS ARTS. 134 E 135, AMBOS
DO CPM, E NOS ARTS. 651 E 652, TUDO DO CPPM. I - A Decisão do Juízo “a quo”, que deferiu o pedido
de reabilitação do requerente, foi proferida nesse sentido, tendo em vista que o militar, condenado há mais de 20
(vinte) anos, já havia cumprido integralmente a pena que lhe foi imposta na Sentença de 1º grau, transcorrendo
o lapso temporal superior a 5 (cinco) anos do referido cumprimento de pena. II - Consta dos autos que o
reabilitando, sobre demonstrar ser possuidor de bom comportamento público e privado, além de excelente
comportamento militar, comprovou com farta documentação que inexiste qualquer ação penal contra a sua
pessoa. III - Preenchidos todos os requisitos legais para o deferimento da Reabilitação, não há como prosperar
o presente recurso criminal. Recurso de ofício improvido. Decisão unânime. (STM - RSE nº 2009.01.007667-6/
PR - Rel. Min. José Coêlho Ferreira – j. 27.10.09 – Dje de 20.11.2009)
1165
No CPP comum é o art. 748 que trata do sigilo decorrente da reabilitação penal, assim dispondo:
Art. 748. A condenação ou condenações anteriores não serão mencionadas na folha de antecedentes do
reabilitado, nem em certidão extraída dos livros do juízo, salvo quando requisitadas por juiz criminal.
Caso o leitor deseje se aprofundar no tema sobre concursos públicos, sugiro a aquisição do meu livro
1166
Concursos Públicos Militares – Tutelas de Urgência – Teoria e Prática. Site oficial do livro: WWW.
CONCURSOPUBLICOMILITAR.COM.BR
1167
PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. REGISTRO DE DADOS
CRIMINAIS. (...). 1. É uníssono o entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que, “por
analogia aos termos do art. 748 do Código de Processo Penal, devem ser excluídos dos terminais dos Institutos
de Identificação Criminal os dados relativos a inquéritos arquivados, a ações penais trancadas, a processos
em que tenha ocorrido a reabilitação do condenado e a absolvições por sentença penal transitada em julgado
ou, ainda, que tenha sido reconhecida a extinção da punibilidade do acusado decorrente da prescrição da
pretensão punitiva do Estado” (RMS 24.099/SP, Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, Quinta Turma, DJe
23/6/08). 2. “Tais dados entretanto, não deverão ser excluídos dos arquivos do Poder Judiciário, tendo em vista
que, nos termos do art. 748 do CPP, pode o Juiz Criminal requisitá-los, de forma fundamentada, a qualquer
tempo, mantendo-se entretanto o sigilo quanto às demais pessoas. (Precedente)” (RMS 19501/SP, Rel. Min.
FELIX FISCHER, Quinta Turma, DJ 1/7/05) 3. Recurso ordinário parcialmente provido para, concedendo em
parte a segurança, determinar a vedação de acesso aos registros constantes dos bancos de dados do Instituto
de Identificação, salvo pelo Poder Judiciário para efeito de consulta fundamentada de Juízes Criminais. (STJ
- RMS 33.300/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, Rel. p/ Acórdão Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 23/10/2012, DJe 30/11/2012)
1168
O estudo deste tema foi dissertado no Capítulo 6.
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios
da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de
honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:
(...)
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e
que deva permanecer em segredo;
(...)
E, ainda, poderá surgir outra pergunta: o que fazer se, mesmo reabilitado,
tal informação vazar1169, impedindo o militar ou ex-militar de se inscrever em
concurso público ou de ser nomeado no respectivo cargo? Restará a via judicial,
onde várias são as decisões1170 dos tribunais ratificando que, em estando reabilitado
penalmente, não há qualquer óbice à inscrição ou nomeação decorrente de
aprovação em concurso público.
1169
Tal fato poderá inclusive ensejar uma condenação cível por danos morais.
1170
ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. “CONCURSO PÚBLICO”. AGENTE DE
POLICIA. “INVESTIGAÇÃO SOCIAL”. (...). I - O recorrente especial, quando menor penalmente inimputável,
assassinou colega. Ao candidatar-se a concurso público (agente de polícia), teve seu pedido indeferido, porque
a banca examinadora apurara, por conta própria, o fato, ocorrido perto de 10 anos atrás. Irresignado, o ora
recorrente especial ajuizou ação de mandado de segurança. O TJ teve como legal o ato impetrado. III - O STJ
tem considerado legal o indeferimento de inscrição de candidato com base na “investigação social” prevista
em edital do concurso (RMs n. 45/MT, Min. Mosimann; RESP n. 15.410/DF, Min. Garcia e RESP n. 50.524/DF,
Min. Maciel). No caso concreto, todavia, o órgão impetrado violou expressamente os arts. 143 e 144 do ECA
(lei n. 8.060/1990), que vedou “a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito
a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional”. Ademais disso, no caso particular do
recorrente a vedação de participar de concurso para cargo público, viável até para o penalmente reabilitado,
jogaria por terra toda a política criminal de reajustamento e reintegração a vida social, além de solapar um
dos primados de nossa civilização. III - Recurso especial conhecido pela alínea “a”. (STJ - REsp nº 48.278/DF,
Rel. Ministro PEDRO ACIOLI, Rel. p/ Acórdão Ministro ADHEMAR MACIEL, SEXTA TURMA, julgado em
27/08/96, DJ 21/10/1996, pág. 40.277)
XI - não ter sido, nos últimos 5 (cinco) anos, salvo em caso de reabilitação,
na forma da legislação vigente, condenado em processo criminal com sentença
transitada em julgado;
(...)
1171
O art. 189 do CPM prevê as atenuantes aplicáveis ao crime de deserção, podendo reduzir a pena mínima de
6 (seis) meses para até a metade, dependendo do caso concreto.
1172
O livramento condicional somente é concedido se, dentre outros requisitos, a pena for igual ou superior a 2
(dois) anos, conforme disposto no art. 89 do CPM, então vejamos:
Art. 89. O condenado a pena de reclusão ou de detenção por tempo igual ou superior a dois anos pode ser
liberado condicionalmente, desde que:
I - tenha cumprido:
a) metade da pena, se primário;
b) dois terços, se reincidente;
II - tenha reparado, salvo impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pelo crime;
III - sua boa conduta durante a execução da pena, sua adaptação ao trabalho e às circunstâncias atinentes a
sua personalidade, ao meio social e à sua vida pregressa permitem supor que não voltará a delinquir.
(...)
o indulto1173 natalino. Durante nossa conversa, percebi que, realmente, este militar
não tinha a menor ideia da gravidade do crime de deserção.
Às vezes, os famosos dizeres vou ali e já volto quando o militar está de
serviço podem lhe trazer muitos problemas na esfera penal e administrativa, pois
poderá ser processado e condenado pelo delito de abandono de posto.
Por último um alerta: os crimes de deserção e abandono de posto são, talvez,
os mais difíceis1174 de obtenção de absolvição na Justiça Militar.
19.12.1. Crime de deserção
O delito penal militar de deserção1175 está previsto na sua forma simples no
art. 187 do CPM, sendo que ainda há outras modalidades de deserção discriminadas
nos arts. 188 a 194 do mesmo diploma penal.
Os arts. 187 e 188, que são os mais comuns e de principal interesse para
nosso estudo, estão tipificados da seguinte forma:
Deserção
Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar
em que deve permanecer, por mais de oito dias:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada.
Casos assimilados
Art. 188. Na mesma pena incorre o militar que:
I - não se apresenta no lugar designado, dentro de oito dias, findo o prazo de
trânsito ou férias;
II - deixa de se apresentar a autoridade competente, dentro do prazo de oito dias,
contados daquele em que termina ou é cassada a licença ou agregação ou em que
é declarado o estado de sítio ou de guerra;
1173
APELAÇÃO. DESERÇÃO. ATENUANTE ESPECIAL. SURSIS. INCONSTITUCIONALIDADE DO
ART. 88, INCISO II, ALÍNEA “A”, DO CPM. PRELIMINAR REJEITADA. SENTENÇA CONDENATÓRIA
MANTIDA. APELO DEFENSIVO DESPROVIDO. INDULTO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. Não
prospera a preliminar defensiva de inconstitucionalidade do art. 88, inciso II, alínea “a”, do Código Penal
Militar, cuja regra impede a concessão do sursis nos delitos de deserção. A vedação justifica-se em vista de que o
serviço e o dever militares, bens jurídicos tutelados pela norma incriminadora (art. 187 do CPM), sobrepõem-se,
em importância, aos próprios fundamentos do aludido benefício processual. A concretização da pena, no caso,
cumpre a finalidade de prevenção geral. Preliminar de inconstitucionalidade rejeitada por maioria. Delito de
deserção caracterizado nos autos, ante a ausência não autorizada de militar por período não excedente a 8
(oito) dias, a contar da consumação delitiva, do que resulta o reconhecimento da atenuante especial prevista
no art. 189, inciso I, primeira parte, do CPM. Pena definitiva situada no grau mínimo. Sentença condenatória
mantida. Apelo defensivo desprovido. Extinção da punibilidade em face da superveniência de indulto natalino.
Decisão unânime. (STM – Apelação nº 0000152-09.2011.7.01.0401/DF - Rel. Min. José Américo dos Santos – j.
05.06.12 – Dje de 26.06.2012)
1174
São difíceis de obtenção de absolvição pelo fato de serem crimes de mera conduta, ou seja, consumam-se com
a simples ação do militar em desertar ou abandonar o posto, independentemente de gerar ou não consequências
concretas destes atos à Administração Militar, bastando a presença do perigo de lesão ao bem jurídico a ser tutelado.
1175
Súmula nº 12 do STM: A praça sem estabilidade não pode ser denunciada por deserção sem ter readquirido
o status de militar, condição de procedibilidade para a persecutio criminis, através da reinclusão. Para a praça
estável, a condição de procedibilidade é a reversão ao serviço ativo.
III - tendo cumprido a pena, deixa de se apresentar, dentro do prazo de oito dias;
IV - consegue exclusão do serviço ativo ou situação de inatividade, criando ou
simulando incapacidade.
O inciso LXI na prática quer dizer o seguinte: o desertor poderá ser preso,
independentemente de estar em flagrante delito, assim como, independerá de ordem
judicial, ou seja, primeiro se prende, embora, às vezes, o desertor esteja acobertado
por uma causa excludente de culpabilidade1178.
Os arts. 452 e 453 do CPPM preveem, respectivamente, que o desertor poderá
ser preso imediatamente após a consumação do delito, podendo permanecer preso,
sem julgamento, por até 60 (sessenta) dias, então vejamos:
Art. 452. O termo de deserção tem o caráter de instrução provisória e destina-se a
fornecer os elementos necessários à propositura da ação penal, sujeitando, desde
logo, o desertor à prisão.
Art. 453. O desertor que não for julgado dentro de sessenta dias, a contar do dia
de sua apresentação voluntária ou captura, será posto em liberdade, salvo se tiver
dado causa ao retardamento do processo.
Súmula nº 10
Não se concede liberdade provisória a preso por deserção, antes de decorrido o
prazo previsto no art. 453 do CPPM.
1180
Competência e requisitos para a decretação
Art 254. A prisão preventiva pode ser decretada pelo auditor ou pelo Conselho de Justiça, de ofício, a requerimento
do Ministério Público ou mediante representação da autoridade encarregada do inquérito policial-militar, em
qualquer fase deste ou do processo, concorrendo os requisitos seguintes:
a) prova do fato delituoso;
b) indícios suficientes de autoria.
No Superior Tribunal Militar
Parágrafo único. Durante a instrução de processo originário do Superior Tribunal Militar, a decretação
compete ao relator.
1181
Casos de decretação
Art. 255. A prisão preventiva, além dos requisitos do artigo anterior, deverá fundar-se em um dos seguintes casos:
a) garantia da ordem pública;
b) conveniência da instrução criminal;
c) periculosidade do indiciado ou acusado;
d) segurança da aplicação da lei penal militar;
e) exigência da manutenção das normas ou princípios de hierarquia e disciplina militares, quando ficarem
ameaçados ou atingidos com a liberdade do indiciado ou acusado.
A decisão mais recente do STF sobre este tema, até o fechamento deste
livro, é de 24.09.2013:
1183
Esse é o entendimento do STF, conforme se observa na seguinte decisão:
HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL MILITAR. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA. SUSPENSÃO
CONDICIONAL DO PROCESSO. Inexiste conflito do art. 88, II, a, do Código Penal Militar com o disposto
no art. 5º, XLVI da C.F. A suspensão condicional da pena não se aplica em tempo de paz por crime de deserção.
Aplica-se na Justiça Militar a regra do art. 89, da Lei nº 9099/95. Para tanto, o acusado não pode estar sendo
processado ou já ter sido condenado por outro crime. Ordem denegada. (STF - HC 76411, Relator(a): Min.
NELSON JOBIM, Segunda Turma, julgado em 23/06/1998, DJ 30-10-1998 PP-00002 EMENT VOL-01929-01
PP-00149)
1184
A letra a do inciso II do art. 88 do CPPM assim dispõe:
Não aplicação da suspensão condicional da pena
Art. 88. A suspensão condicional da pena não se aplica:
I - ao condenado por crime cometido em tempo de guerra;
II - em tempo de paz:
a) por crime contra a segurança nacional, de aliciação e incitamento, de violência contra superior, oficial de dia,
de serviço ou de quarto, sentinela, vigia ou plantão, de desrespeito a superior, de insubordinação, ou de deserção;
b) pelos crimes previstos nos arts. 160, 161, 162, 235, 291 e seu parágrafo único, ns. I a IV.
1185
Isto porque, em regra, a condenação por deserção dificilmente será igual ou ultrapassará 2 (dois) anos de
prisão, e de acordo com o art. 618 do CPPM, somente terá direito à obtenção do livramento condicional aquele
que for condenado à pena de reclusão ou detenção igual ou superior a 2 (dois) anos e esteja enquadrado nas
demais condições exigidas neste dispositivo processual penal.
inciso XLVI, da Constituição Federal. Inexiste conflito do art. 88, inc. II, a, do
CPM com o disposto no art. 5º, XLVI, da Constituição Federal. Precedentes do
Supremo Tribunal Federal. Recurso a que se nega provimento para manter íntegra
a Sentença a quo. Unânime. (STM – Apelação nº 0000103-21.2012.7.09.0009/MS
-Rel. Min. Marcus Vinicius Oliveira dos Santos – j. 17.09.13 – Dje de 26.09.2013)
Abandono de posto
Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o posto ou lugar de serviço que lhe tenha
sido designado, ou o serviço que lhe cumpria, antes de terminá-lo:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
1186
Caso o horário de serviço do militar tenha terminado, mas sua rendição (militar que ocupará seu local) não
houver chegado para assumir o serviço, àquele militar continuará no seu posto, mesmo tendo terminado seu horário
previsto na escala de serviço. E caso saia do serviço, sem autorização superior, antes da chegada do militar que irá
assumir seu posto, estará cometendo o crime de abandono de posto. Vejamos a seguinte decisão sobre este tema:
EMBARGOS INFRINGENTES (...). - O crime de abandono de posto tem consumação instantânea, e ocorre no
momento exato em que o militar se ausenta do posto ou do lugar de serviço. - Não compete ao militar escalado
tomar a iniciativa de deixar o serviço, sem autorização dos superiores e antes da chegada da nova equipe,
mesmo que já tenha cumprido os seus quartos de hora e que o lapso temporal de 24 horas de jornada tenha
se esgotado. - As provas carreadas são plenas para demonstrar a ilicitude perpetrada pelo agente. Embargos
rejeitados. Decisão majoritária. (STM – Embargos nº 0000018-63.2009.7.05.0005/DF - Rel. Min. Maria E.Teixeira
Rocha - j. 23.03.11 – Dje de 16.05.2011)
Assim, é prudente que o militar não se ausente do seu posto, mesmo que
seja por poucos minutos, sem prévia autorização superior.
é uma função exercida por Aspirantes ou Tenentes. Existe uma equipe de serviço
que é subordinada diretamente ao Oficial de Dia, logo, todos os militares desta
equipe o terão como superior, nos termos do art. 24. Isto quer dizer o seguinte: se
um Sargento, por exemplo, for dispensado por um Suboficial desta mesma equipe
e àquele vier a se ausentar de seu posto de serviço após a liberação deste mais
antigo, em tese1187, estará praticando o delito de abandono de posto. Em virtude
de que, para fins penais, o conceito de superior disposto no art. 195 é o previsto
no art. 24, tem-se, neste caso hipotético, que somente o Oficial de Dia poderia
autorizar a saída do Sargento de seu posto de serviço.
Os quartéis costumam ter normas internas sobre a execução dos serviços de
escala, assim, prudente que o militar tome conhecimento destas normas, inclusive
no intuito de não ter dúvidas sobre quem seja o superior, nos termos do art. 195
c/c o art. 24, ambos, do CPM.
Em caso de problemas familiares, como, por exemplo, doença de algum
familiar ou parente, faz-se necessário, antes de sair do local de serviço, requerer
autorização. É importante esclarecer que nem todo problema de saúde de família é
motivo1188 suficiente para se abandonar um posto de serviço, conforme entendimento
jurisprudencial.
Conclui-se, então, que o militar deve ter muita cautela ao pretender ausentar-
se do seu posto de serviço, pois como estudado no decorrer deste capítulo,
as consequências provenientes de um processo criminal, além dos prejuízos
financeiros, poderão prejudicar significativamente sua carreira militar.
E, finalizando, estes são os breves comentários sobre os delitos de deserção
e abandono de posto, sendo que, caso o militar pretenda se aprofundar nestes e
noutros delitos penais, sugiro a leitura dos livros de Jorge César de Assis sobre
direito penal militar.
1187
Ressaltei em tese em virtude de que somente na instrução criminal, e dependendo do caso concreto, restará
identificado se o ato deste Suboficial isentará o Sargento de condenação por abandono de posto.
1188
APELAÇÃO. ABANDONO DE POSTO. ESCUSAS DE ORDEM FAMILIAR. ESTADO DE
NECESSIDADE. ALEGAÇÕES FINAIS DO ÓRGÃO MINISTERIAL PELA ABSOLVIÇÃO. RECURSOS
TANTO DA DEFESA QUANTO DA ACUSAÇÃO EM BUSCA DA REFORMA DA SENTENÇA
CONDENATÓRIA. Praça da Força Aérea Brasileira que, escalado para o serviço de Sargento-de-dia, decide
ausentar-se inopinadamente, sem autorização, a pretexto de ir socorrer a mãe idosa, após sofrer uma queda.
Prontuário médico da genitora do acusado indica que não houve atendimento na data em que ocorreu o abandono
de posto. Intercorrências ligadas à vida familiar nem sempre garantem a configuração do estado de necessidade,
mormente quando não caracterizada a inexigibilidade de conduta diversa. Decreto condenatório lastreado na
robustez do suporte fático contido nos autos. Ambos os apelos desprovidos. Decisão unânime. (STM – Apelação
nº 0000039-73.2008.7.05.0005/PR - Rel. Min. José Américo dos Santos - j. 24.08.10 – Dj de 20.09.2010)
Anexos
PÁGINA
EM
BRANCO
ANEXO A
Petição de defesa administrativa disciplinar
DEFESA ADMINISTRATIVA
Importante deixar consignado que esta defesa administrativa tem como suporte os
fatos afirmados pelo acusado e pelas testemunhas que presenciaram a ocorrência entre o
acusado e o Cmt da OM.
Serão questionados, também, nesta FATD, os atos praticados pelo Cmt da OM que,
sem dúvidas, não estão previstos na CF/88, nem no RDE e nem em outra norma jurídica.
Os atos praticados pelo Cmt da OM serão informados nesta FATD para fins de que
fique consignado o que realmente aconteceu no dia 06.11.2012, caso sejam necessárias
ações judiciais e/ou representações por supostos delitos transgressionais ou penais em
desfavor do Cmt da OM.
Desde já, requer a oitiva do Cmt da OM (Major XX) e das testemunhas 1º Tenente
YY, 3º Sargento WW e Soldado VV, e, sobretudo, que todos os depoimentos sejam na
presença do acusado com possibilidade de que este faça perguntas por intermédio do
encarregado desta FATD, conforme previsão legal.
Requer, também, na condição de Advogado do acusado, que todos os atos sejam
presenciados por 2 (duas) testemunhas e que seja entregue ao acusado todos os depoimentos
e a conclusão da FATD, conforme direitos assegurados pela CF/88.
Por fim, pede que seja analisada a preliminar prejudicial de mérito arguida no tópico
nº 3 desta petição e arquivada a FATD, nos termos de toda a fundamentação.
2. DOS FATOS
Não consta neste relato qual o fato que, em tese, refere-se a “respondido de maneira
desrespeitosa”, ou seja, não ficou explicitado na FATD o fato dito transgressional pelo
encarregado desse processo administrativo, todavia, o acusado, por orientação de seu
Advogado, requereu a DIEx nº 3-DEF/2ª Cia E Cmb Mec, de 6 NOV 2012, a fim de saber
os motivos da acusação.
O referido documento foi entregue ao acusado onde consta o seguinte sobre a
acusação:
Não foi cumprida na FATD o parágrafo primeiro do art. 12 do RDE que assim dispõe:
Esta omissão, por si só, impede o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa,
princípios constitucionais explícitos aplicáveis ao processo administrativo disciplinar
militar, incluindo-se FATD, impossibilitando, assim, que os fatos sejam devidamente
esclarecidos. Inclusive, importante, desde já, consignar que o Cmt da OM pegou no braço
do acusado de forma “irregular”, puxando-o, e a outra mão permaneceu espalmada,
conforme se verificará mediante prova testemunha.
O item nº 2 do Anexo IV do RDE informa as normas que devem ser seguidas
nos procedimentos para padronizar a concessão do contraditório e da ampla defesa nas
transgressões disciplinares, onde a CF/88 é a primeira referência, então vejamos:
2. REFERÊNCIAS:
a) Constituição Federal;
b) Estatuto dos Militares;
c) Regulamento Disciplinar do Exército;
d) Instruções Gerais para Elaboração de Sindicância, no Âmbito do Exército - (IG
10-11)
§ 1º. Nenhuma punição disciplinar será imposta sem que ao transgressor sejam
assegurados o contraditório e a ampla defesa, inclusive o direito de ser ouvido
pela autoridade competente para aplicá-la, e sem estarem os fatos devidamente
apurados.
Assim, não é possível o pleno exercício da ampla defesa se não constar na acusação
(FATD) o fato que se alega ser passível de punição disciplinar, conforme já decidido pelo
TRF1:
5. DO PEDIDO
_________________________________________________
(Nome e assinatura do Advogado)
OAB/___ nº ________
PÁGINA
EM
BRANCO
ANEXO B – MODELO 1
Petição inicial de Habeas Corpus liberatório para o Juiz Federal da 1ª Instância
1. DOS FATOS
O paciente é militar do Comando da Aeronáutica e está preso na Base Aérea do
Recife desde o dia 28.02.2008, em virtude de prisão administrativa disciplinar de 20 (vinte)
dias, conforme demonstra despacho (anexado) da autoridade militar.
A prisão é ilegal, haja vista que não foi oportunizado ao paciente o direito à ampla
defesa, já que não lhe foi permitido arrolar testemunhas de defesa, embora tenha requerido
formalmente tal pedido.
Requer-se a concessão de liminar, pois presentes os requisitos autorizadores, ou
seja, o periculum in mora e o fumus boni iuris.
A autoridade coatora negou-se a fornecer cópias do processo disciplinar, logo,
requer-se, também, liminarmente, seja a mesma intimada para fornecer cópias no prazo de
24 (vinte e quatro) horas a contar de sua intimação pessoal, a fim de que reste comprovada
documentalmente a ilegalidade da prisão.
Destaque-se que não se pretenderá neste writ questionar o mérito da punição
disciplinar, mas sim sua legalidade, o que é perfeitamente possível, conforme entendimento
do STF.
Ao final, requer a concessão da ordem de habeas corpus.
É o importante a relatar.
2. DA FUNDAMENTAÇÃO
Nobre Magistrado, a ilegalidade da prisão disciplinar está no fato de que não foi
oportunizado ao paciente o direito à ampla defesa no processo administrativo disciplinar.
Foi-lhe negado a oportunidade de apresentar testemunhas de defesa, mesmo após ter
requerido tal direito formalmente junto à autoridade responsável pelo processo, conforme
comprova documento ora anexado.
O inciso LV do art. 5º da CF/88 prevê que: LV - aos litigantes, em processo
judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
Do exposto, inegável que foi desrespeitado o direito constitucional do paciente à
ampla defesa no processo administrativo, logo, a prisão disciplinar é ilegal, assim, cabível
o deferimento de liminar e a concessão da ordem de habeas corpus.
3. DOS REQUISITOS PARA CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR
3.1. DO FUMUS BONI IURIS
4. DO PEDIDO
Termos em que
pede e espera deferimento.
_________________________________________________
(Nome e assinatura do Impetrante)
CPF nº _____________________________
PÁGINA
EM
BRANCO
ANEXO B – MODELO 2
Petição inicial de Habeas Corpus preventivo para o Juiz Federal da 1ª Instância
1. DOS FATOS
O paciente é militar do Comando da Aeronáutica, respondendo a processo
administrativo disciplinar por ter, supostamente, cometido transgressão disciplinar,
conforme demonstra notificação oficial para apresentação de defesa.
Ocorreu, Excelência, que não foi oportunizado ao paciente o direito à ampla
defesa, já que não lhe foi permitido arrolar testemunhas de defesa, embora tenha requerido
formalmente tal pedido, conforme comprova documento anexado.
Em virtude do indeferimento do pedido de arrolamento de testemunhas, o processo
administrativo está praticando terminado, restando, apenas, a conclusão do mesmo pela
autoridade coatora, que poderá punir o paciente com detenção ou prisão, nos termos do
regulamento disciplinar militar.
Em virtude da iminência de uma possível prisão disciplinar, restou necessário a
impetração do writ preventivo, sendo necessário, principalmente, o pedido de concessão
de liminar, a fim de que seja expedido imediatamente o alvará de salvo-conduto, pois
presentes os requisitos autorizadores, ou seja, o periculum in mora e o fumus boni iuris.
A autoridade coatora negou-se a fornecer ao paciente cópias do processo
disciplinar, logo, requer-se, também, liminarmente, que seja intimada para fornecer cópias
no prazo de 24 (vinte e quatro) horas a contar de sua intimação pessoal, a fim de que reste
comprovada documentalmente a ilegalidade da prisão.
2. DA FUNDAMENTAÇÃO
Excelência, a ameaça da prisão disciplinar ilegal está no fato de que não foi
oportunizado ao paciente o direito à ampla defesa no processo administrativo disciplinar.
Foi-lhe negado, sem qualquer motivação, a oportunidade de apresentar testemunhas de
defesa, mesmo após ter requerido tal direito formalmente junto à autoridade responsável
pelo processo, conforme comprova documento ora anexado.
O inciso LV do art. 5º da CF/88 prevê que: LV - aos litigantes, em processo
judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
Inegável que foi desrespeitado pela autoridade coatora o direito constitucional
do paciente à ampla defesa no processo administrativo.
Desta forma, em virtude de que a ameaça de prisão disciplinar é iminente, cabível
o deferimento do pedido liminar para expedição de salvo-conduto e, ao final, a concessão
definitiva da ordem de habeas corpus preventivo.
3. DOS REQUISITOS PARA CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR
3.1. DO FUMUS BONI IURIS
4. DO PEDIDO
Termos em que
pede e espera deferimento.
_________________________________________________
(Nome e assinatura do Impetrante)
CPF nº _____________________________
PÁGINA
EM
BRANCO
ANEXO B – MODELO 3
Petição inicial de Habeas Corpus para o STM
HABEAS CORPUS
com pedido de liminar
1. DOS FATOS
2. DA FUNDAMENTAÇÃO
4. DO PEDIDO
Termos em que
pede e espera deferimento.
_________________________________________________
(Nome e assinatura do Impetrante)
CPF nº _____________________________
PÁGINA
EM
BRANCO
ANEXO B – MODELO 4
Petição inicial de Habeas Corpus para o STJ
OBS.: Para a elaboração do writ para o STJ, basta utilizar o modelo dirigido ao STM,
mantendo-se o sugerido nos tópicos 1 a 4, apenas alterando a seguinte parte da petição:
HABEAS CORPUS
com pedido de liminar
PÁGINA
EM
BRANCO
ANEXO C
Petição de Representação Criminal por Abuso de Autoridade
Nobre Procurador da República, o art. 2º, letra “b” da Lei de Abuso de Autoridade
prevê que a petição deve ser dirigida ao Ministério Público que tiver competência para
iniciar processo-crime contra a autoridade culpada.
Embora, tanto o representante quanto o representado sejam militares da ativa
da Aeronáutica, e mesmo tendo a coação ilegal ocorrido dentro de um quartel das Forças
Armadas, entendemos que a atribuição é deste Ministério Público Federal, haja vista que
o delito de abuso de autoridade não está tipificado no Código Penal Militar, e sobretudo
devido ao enunciado da Súmula 172 do STJ.
O Tribunal Regional Federal da 2ª Região segue tal entendimento, então vejamos:
Desta forma, Procurador, tem-se que este MPF detém atribuição para investigar
e denunciar o representado pela prática, em tese, do delito de abuso de autoridade previsto
na Lei 4.898/65.
2. DOS FATOS
Conforme ordenado pelo meu superior hierárquico, não fui para minha residência
e dormi no alojamento, permanecendo no quartel no dia seguinte para cumprir todo o
expediente.
O representado restringiu, ilegalmente, minha liberdade de locomoção, logo,
requeiro que o MPF investigue e denuncie o representado pela prática, em tese, do crime
de abuso de autoridade, haja vista a previsão disposta no art. 3º, letra “a”, da Lei 4.898/65.
É o importante a relatar.
3. DA CONFIGURAÇÃO DO DELITO DE ABUSO DE AUTORIDADE:
ART. 3º, LETRA “A”, DA LEI Nº 4.898/65
Art. 34. Nenhuma punição será imposta sem ser ouvido o transgressor e sem estarem
os fatos devidamente apurado.
_________________________________________________
(Nome e assinatura do Representante)
CPF nº _____________________________
PÁGINA
EM
BRANCO
ANEXO D
Petição de Representação por Improbidade Administrativa
1. DOS FATOS
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário
qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,
apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades
referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:
I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporação ao patrimônio
particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, rendas, verbas ou valores
3. DO PEDIDO
_________________________________________________
(Nome e assinatura do Representante)
CPF nº _____________________________
TESTEMUNHAS:
ANEXO E
Petição de Denúncia ao Tribunal de Contas da União
FULANO DE TAL, brasileiro, solteiro, militar, CPF nº ________________________,
identidade nº _______________________________, residente e domiciliado na Av. ___
___________________________________________________________ – Anápolis/
GO – CEP __________________, vem à presença de V. Exa., nos termos do art. 53 da
Lei 8.443/92 e do art. 234 do Regimento Interno do TCU, apresentar
em virtude de fatos ocorridos na Base Aérea de Anápolis nos anos de 2012 e 2013,
passando a relatar o seguinte:
Termos em que
pede e espera deferimento.
_________________________________________________
(Nome e assinatura do denunciante)
CPFnº ______________________________
ANEXO F
HABEAS DATA
1. DOS FATOS
demonstrando o perigo que era (ou ainda é) voar no espaço aéreo brasileiro, acabou
por seu alvo de perseguições por superiores hierárquicos, o que, certamente, é o motivo
do indeferimento da matrícula no CAS.
Ora, se o impetrante era apenas testemunha no inquérito e disse apenas a verdade
sobre o caos aéreo de nosso país, não tendo sido preso preventivamente e nem condenado
por qualquer Justiça (certidões anexadas), não há motivos plausíveis para que lhe seja
negado a matrícula no CAS.
O impetrante, ratifique-se, não tem condenação na Justiça Militar da União e nem
na Justiça Federal Comum, conforme atestam as certidões negativas (anexadas). E, ainda,
é instrutor da Aeronáutica, ou seja, ensina outros Controladores de Tráfego Aéreo do país,
logo, sem dúvidas, detém excelente desempenho profissional, conforme se observa na
leitura do Boletim Interno nº XX de 2011 (anexado).
O impetrante recebeu os pareceres desfavoráveis de lavra da Comissão de
Promoção de Graduados, todavia, foi-lhe negado (despacho indeferitório em anexo) o
fornecimento de cópias das respectivas fichas de avaliação (FAGs) dos anos de 2009 até
2011 que deram suporte aos pareceres da comissão. O impetrante precisa ter acesso a essas
fichas de avaliação dos anos de 2009 a 2011, a fim de tomar conhecimento dos motivos
ensejadores do impedimento para sua matrícula no CAS. E, de posse destes pareceres,
poderá demonstrar ao Judiciário que houve flagrante ilegalidade no indeferimento de sua
matrícula no CAS, e então, mediante ação ordinária, solicitará sua matrícula no CAS.
Do exposto, requer que seja concedido o habeas data, a fim de que a autoridade
coatora junte aos autos as fichas de avaliações (FAGs) do impetrante dos anos de 2009 a
2011.
É o importante a relatar.
2. DA FUNDAMENTAÇÃO
2.1. DA RECUSA AO ACESSO DE INFORMAÇÕES SOBRE O
IMPETRANTE
Art. 8°. A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a 285
do Código de Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os documentos que
instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia na segunda.
Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:
I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem
decisão;
(...)
Desta forma, observa-se que foi cumprido pelo impetrante um dos requisitos
imprescindíveis para o conhecimento deste habeas data.
Excelência, importante consignar que as FAGs requeridas pelo impetrante não são
considerados documentos sigilosos, posto que tais fichas são, exclusivamente, sobre a
pessoa do impetrante e não de terceiros, não existindo, sequer, qualquer risco à segurança
nacional, logo, tais documentos não podem permanecer escondidos do impetrante.
O inciso LXXII do art. 5º da CF/88 não prevê qualquer ressalva na obtenção de
informações mediante o habeas data, todavia, a jurisprudência dominante já pacificou o
entendimento de que este inciso constitucional deve ser interpretado em conjunto com o
inciso XXXIII, abaixo transcrito:
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no
prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;
3. DO PEDIDO
Termos em que
pede e espera deferimento.
_________________________________________________
(Nome e assinatura do Advogado)
OAB/___ nº ________
ANEXO G
Petição inicial da Ação Cautelar Exibitória
1. DOS FATOS
que ensejam esta presunção é o fato de que um 1º Sargento da mesma especialidade que o
autor – CICLANO DE TAL - foi preso preventivamente e condenado (anexado) na Justiça
Militar, porém foi matriculado no CAS 2011 (anexado).
Logo, se o autor era apenas testemunha nos inquéritos e disse apenas a verdade
sobre o caos aéreo de nosso país, não tendo sido preso preventivamente e nem condenado
por qualquer Justiça (certidões anexadas), não há motivos plausíveis para que lhe seja
negado o acesso na carreira militar.
O autor não tem condenação na Justiça Militar da União e nem na Justiça Federal
Comum, conforme atestam as certidões negativas (anexadas).
O autor é instrutor da Aeronáutica, ou seja, ensina outros Controladores de Tráfego
Aéreo do país, logo, sem dúvidas, detém excelente desempenho profissional, conforme se
observa na leitura do Boletim Interno nº XX de 2011 (anexado).
Por isso, Excelência, faz-se necessário que o autor conheça o inteiro teor dos
pareceres desfavoráveis de lavra da Comissão de Promoção de Graduado e respectivas
fichas de avaliação, a fim de que possa solicitar ao Judiciário, na ação principal, que analise
e permita a matrícula do autor no Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos, haja vista que
os indeferimentos são ilegais, possibilitando-se, assim, que o autor possa ser promovido
na carreira militar.
Do exposto, requer que seja julgada procedente a ação cautelar exibitória, a fim de
que a ré junte aos autos os pareceres desfavoráveis emitidos pela Comissão de Promoção
de Graduado e as respectivas fichas de avaliações que resultaram no indeferimento da
matrícula do autor no CAS.
Na ação principal será requerida a anulação dos atos administrativos que
indeferiram a matrícula do autor no CAS, a fim de que seja matriculado no CAS do ano
corrente.
Ao final, requer-se a ratificação da liminar e a concessão definitiva da cautelar.
É o importante a relatar.
2. DA FUNDAMENTAÇÃO
2.1. DA POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO EM SEDE
CAUTELAR
A presente cautelar exibitória tem como objetivo que o autor tome conhecimento
dos motivos pelos quais foi indeferido por 3 (três) vezes consecutivas sua inscrição e
matrícula no Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos – CAS, requisito essencial para a
promoção na carreira militar.
O autor requereu (anexado), administrativamente, os documentos (pareceres)
que impediram a inscrição do autor no CAS, porém, passados mais de 20 (vinte) dias sem
qualquer resposta, fez-se necessário o ajuizamento de ação de exibição de documentos.
O pedido de exibição é possível, haja vista que os documentos (pareceres) são
necessários para que o autor saiba os motivos do indeferimento de suas inscrições no CAS,
a fim de que possa utilizar tais documentos para instruir ação ordinária.
Não há que se falar em documentos sigilosos, posto que tais pareceres são,
exclusivamente, sobre a pessoa do autor e não de terceiros, logo, tais documentos não
podem permanecer escondidos do autor.
Em caso semelhante, o TRF4 entendeu pela viabilidade da cautelar exibitória de
autoria de um militar do Exército, tendo decidido o seguinte:
VISITE O SITE DO AUTOR: WWW.CAUSASMILITARES.COM.BR
DIÓGENES GOMES VIEIRA - ADVOGADO - DIREITO MILITAR 657
O autor detém o direito de ter acesso os pareceres, posto que são, exclusivamente,
destinados a sua pessoa e não terceiros, assim, sequer há que se falar em sigilo sobre os
mesmos. Ademais, o TRF1, analisando caso de militar da Aeronáutica, teve a oportunidade
de verificar pareceres e fichas de avaliação da Comissão de Promoção de Graduado, então
vejamos:
Desta forma, Excelência, é imprescindível que o autor tenha acesso aos pareceres
e respectivas fichas de avaliação, a fim de poder requerer ao Judiciário, na ação principal,
o direito de cursar o CAS para ser promovido na carreira militar.
3. DO PEDIDO
Termos em que
pede e espera deferimento.
_________________________________________________
(Nome e assinatura do Advogado)
OAB/___ nº ________
ANEXO H
Petição inicial de mandado de segurança repressivo
1. DOS FATOS
2. DA FUNDAMENTAÇÃO
2.1. DO ATO ADMINISTRATIVO ILEGAL E DO DIREITO LÍQUIDO
E CERTO DO IMPETRANTE: TRANSFERÊNCIA PARA A RESERVA
REMUNERADA
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto
e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
(...)
§ 8º. O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior
e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.
A letra “b” do art. 52 da Lei 6.880/80 é bem clara ao informar que o militar que
tomar posse em cargo eletivo será transferido para a reserva remunerada, não havendo
sequer a ressalva da temporariedade no cargo eletivo, assim como não há tal ressalva no
texto constitucional, então vejamos:
Art. 52. Os militares são alistáveis, como eleitores, desde que oficiais, guardas-
marinha ou aspirantes-a-oficial, suboficiais ou subtenentes, sargentos ou alunos
das escolas militares de nível superior para formação de oficiais.
Parágrafo único. Os militares alistáveis são elegíveis, atendidas às seguintes
condições:
a) se contar menos de 5 (cinco) anos de serviço, será, ao se candidatar a cargo
eletivo, excluído do serviço ativo mediante demissão ou licenciamento ex officio;e
b) se em atividade, com 5 (cinco) ou mais anos de serviço, será, ao se candidatar a
cargo eletivo, afastado, temporariamente, do serviço ativo e agregado, considerado
em licença para tratar de interesse particular; se eleito, será, no ato da diplomação,
transferido para a reserva remunerada, percebendo a remuneração a que fizer
jus em função do seu tempo de serviço (grifo nosso).
No acórdão do STJ consta que o militar assumiu o cargo de Vereador por 21 (vinte
e um) dias, ou seja, esta Corte Especial considerou que a temporariedade no cargo eletivo
não afasta a aplicabilidade do § 8º do inciso II do art. 14 da CF/88 e do art. 52, letra “b”,
da Lei 6.880/80.
Desta forma, Excelência, resta demonstrado pela CF/88, pela Lei 6.880/80 e por
decisão do STJ em caso similar que o impetrante detém o direito líquido e certo de ser
transferido para a reserva remunerada, nos termos de toda a fundamentação.
Excelência, restou demonstrado nesta inicial, pela CF/88 e, também, por meio
da Lei 6.880/80, e, ainda, pelo entendimento do STJ (anexado) sobre caso semelhante,
que o impetrante tem o direito líquido e certo de ser transferido para a reserva remunerada
proporcional a contar da data de sua posse no cargo de Vereador.
Logo, tem-se visível a plausibilidade do direito invocado pelo impetrante, assim,
presente a “fumaça do bom direito”.
Assim, Excelência, tem-se presente um dos requisitos autorizadores da concessão
de liminar em sede de segurança: o fumus boni iuris.
Nobre Julgador, o impetrante estava afastado de suas funções militares desde sua
posse no dia 12.11.2009 no cargo de Vereador, ou seja, há mais de 01 (um) ano e 3 (três)
meses. Este afastamento foi interrompido, ilegalmente, por ordem datada do dia 22.02.2011
(anexado), em decorrência de ato da autoridade coatora da DIRAP.
O impetrante é suplente de Vereador e militante de seu partido político, detendo
o direito líquido e certo à reserva remunerada desde o dia 12.11.2009, logo, a demora da
3. DO PEDIDO
Termos em que
pede e espera deferimento.
_________________________________________________
(Nome e assinatura do Advogado)
OAB/___ nº ________
PÁGINA
EM
BRANCO
ANEXO H
Petição inicial de mandado de segurança preventivo
1. DOS FATOS
Desta forma, tem-se que para se inscrever no concurso para o Quadro de Oficiais
Especialistas da Aeronáutica (EAOF/2008) é necessário, pelo menos, possuir as condições
previstas nos art. 4º e 5º do Decreto 2.996/99.
b) ser voluntário(a);
c) ser Suboficial ou Primeiro-Sargento da Ativa da Aeronáutica do Quadro de
Suboficiais e Sargentos (QSS) ou do Quadro Feminino de Graduados (QFG), de
especialidade correlata à do Quadro de Oficiais Especialistas da Aeronáutica;
d) estar, no mínimo, há 2 (dois) anos na localidade em que está servindo, tempo
contado até o dia 31 de março de 2008, salvo em caso de movimentação obrigatória
(extinção de alguma OM e outros), de movimentação por interesse particular ou
por motivo de saúde;
e) não estar respondendo a qualquer processo criminal;
f) não possuir registros criminais referentes a decisões judiciais condenatórias
transitadas em julgado;
g) não estar cumprindo pena por crime militar ou comum;
h) não ter sido, anteriormente, desligado(a) de curso ou estágio ministrado em
estabelecimento militar de ensino por motivo disciplinar ou de conceito moral;
i) estar classificado(a), no mínimo, no “Ótimo Comportamento”;
j) ter concluído, com aproveitamento, o Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos
(CAS);
k) ter sido promovido(a) pelo critério de merecimento à graduação que possuir
na data limite de inscrição (grifamos);
l) ter parecer favorável do Comandante, Chefe ou Diretor da Organização Militar
(OM) onde serve, expresso no Formulário de Solicitação de Inscrição, por meio
das informações referentes ao atendimento das condições previstas nas alíneas
“a”, “c”, “d”, “e”, “f”, “g”, “h”, “i”, “j” e “k” deste item e com a aposição do
respectivo carimbo ou identificação datilografada, acompanhado da assinatura
correspondente.
Essas informações também poderão ser prestadas por autoridade delegada, devendo
a delegação ser expressamente informada de acordo com o §1º e §3º, do art. 51,
da RCA 12-1 de 01 JAN 05:
“Art. 51. O ato da delegação de competência é específico, impessoal e limitado
no tempo, ou seja. guarda relação com as competências funcionais. §1º O ato de
delegação será publicado em boletim interno da OM e, quando for o caso, na
imprensa oficial, constando os cargos e/ou funções do delegante e do delegado, as
competências delegadas e o prazo de vigência da delegação.
§ 3º As decisões adotadas por delegação devem mencionar explicitamente esta
qualidade e considerar-se-ão editadas pelo delegado.”;
m) se do sexo feminino, estar de acordo com as exigências contidas nas Instruções
do Exame de Seleção, conforme termo de responsabilidade constante do Formulário
de Solicitação de Inscrição, relativas ao impedimento de apresentar estado de
gravidez no período entre a inscrição no Exame de Seleção e a conclusão do estágio;
n) ter concluído, com aproveitamento, o Ensino Médio do Sistema Nacional de
Ensino, de forma que possa apresentar, na data da Concentração Intermediária
e por ocasião da Concentração Final, o certificado ou o diploma de conclusão
e o histórico escolar do referido curso, expedido por estabelecimento de ensino
reconhecido pelo órgão federal, estadual, distrital, municipal ou regional de ensino
competente;
o) pagar a taxa de inscrição e comprovar seu pagamento; e
3. DO PEDIDO
a) o conhecimento do writ;
b) o deferimento de liminar, a fim de que a autoridade coatora permita a
Termos em que
pede e espera deferimento.
_________________________________________________
(Nome e assinatura do Advogado)
OAB/___ nº ________
ANEXO I
Petição inicial de ação previdenciária militar
F U L A N O D E TA L , b r a s i l e i r o , d i v o r c i a d o , m i l i t a r, C P F n º
________________________, identidade nº _______________________________,
residente e domiciliada na Rua ______________________________________________
________________ – Recife/PE – CEP __________________, devidamente assistido por
seu Advogado (procuração anexada), vem à presença de Vossa Excelência, nos termos dos
arts. 273 e 274 do Código de Processo Civil, ajuizar
1. DOS FATOS
artigo somente poderão ser reformados após a homologação, por Junta Superior de
Saúde, da inspeção de saúde que concluiu pela incapacidade definitiva, obedecida
à regulamentação específica de cada Força Singular. (grifo nosso).
Do exposto, requer a reforma do autor por incapacidade definitiva seja com base
no inciso V (alienação mental) do art. 108 da Lei 6.880/80 e que seja considerado inválido,
posto que impossibilitado total e permanentemente para qualquer trabalho, nos termos da
fundamentação.
de 0,5% (meio por cento), ao mês, a contar da citação, nos termos do art. 1º-F, da
Lei nº 9.494/97. Honorários advocatícios na ordem de 10% (dez por cento) do valor
apurado a título de parcelas em atraso até a data da sentença, em obediência ao
disposto no art. 20, parágrafo 4º, do CPC. Apelo e remessa improvidos. (TRF5 - AC
200680000021771 - Quarta Turma - Rel. Des. Federal Germana Moraes - DJE
de 24.02.2010 - p. 225)
3. DO PEDIDO
Termos em que
pede e espera deferimento.
_________________________________________________
(Nome e assinatura do Advogado)
OAB/___ nº ________
ANEXO J
Petição inicial dirigida ao Juizado Especial Federal
C I C L A N O D E TA L , b r a s i l e i r o , d i v o r c i a d o , m i l i t a r, C P F n º
_______________________, identidade nº _________________– C. AER, residente e
domiciliado na Av. __________________________________________, vem à presença
de Vossa Excelência, nos termos da Lei 10.259/2001, ajuizar
AÇÃO ORDINÁRIA
1. DOS FATOS
2. DA FUNDAMENTAÇÃO
3. DO PEDIDO
Termos em que
pede e espera deferimento.
_________________________________________________
(Nome e assinatura do autor)
CPF nº_______________________
ANEXO L
Petição inicial de Ação Indenizatória Militar
F U L A N A D E TA L , b r a s i l e i r a , s o l t e i r a , e s t u d a n t e , C P F n º
________________________, identidade nº _______________________________,
residente e domiciliada na Rua ______________________________________________
________________ – São João de Meriti/RJ – CEP __________________, devidamente
assistida por seu Advogado (procuração anexada), vem à presença de Vossa Excelência,
nos termos dos arts. 273 e 274 do Código de Processo Civil, ajuizar
Art. 3º. Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar
causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos,
bem como executar as suas sentenças.
§ 1º. Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível as causas:
(...)
III - para a anulação ou cancelamento de ato administrativo federal (grifo nosso),
salvo o de natureza previdenciária e o de lançamento fiscal;
(...)
Do exposto, tem-se que esta Justiça Comum é competente para processar e julgar
esta demanda.
2. DOS FATOS
Art. 51. O militar que se julgar prejudicado ou ofendido por qualquer ato
administrativo ou disciplinar de superior hierárquico poderá recorrer ou interpor
pedido de reconsideração, queixa ou representação, segundo regulamentação
específica de cada Força Armada (grifos nossos).
Art. 59. O pedido de reconsideração na esfera disciplinar deve ser feito por meio
de parte fundamentada, dentro do prazo de quinze dias corridos, contados da data
em que o peticionário tenha tomado conhecimento do ato a ser reconsiderado
(grifo nosso).
Ressalte-se que não teria lógica tentar-se argumentar que a autora poderia recorrer
após sair da prisão disciplinar. De nada, absolutamente, adiantaria protocolar o pedido de
reconsideração após a execução da prisão, requerendo a reforma da imposição de punição,
posto que a execução da prisão disciplinar já teria sido executada. O objetivo do pedido de
reconsideração e recurso é para que o militar não seja punido disciplinarmente: se houve
a execução antes do término do prazo recursal, de nada serve o pedido de reconsideração
ou recurso administrativo.
Desta forma, Excelência, observa-se que o ato administrativo que culminou na prisão
disciplinar da autora foi ilegal, devendo, assim, ser anulado judicialmente.
O dano moral é todo e qualquer sofrimento causado a o ser humano, que não
esteja relacionado a perda pecuniária, mas atente contra a reputação da vítima, contra sua
tranquilidade, amor próprio, sua autoridade legítima, sua integridade, seu pudor e suas
afeições.
Ocorre que é impossível provar o dano moral, pois é algo imaterial, trata-se do
íntimo de cada pessoa, assim não é possível provar o dano moral da mesma forma que se
prova o dano material.
O dano moral está implícito no ato ilícito praticado pelo ofensor, decorrente da
gravidade do ilícito que atinge o íntimo da pessoa humana.
Para restar configurado o dever de indenizar por dano moral é obrigatório que seja
comprovado o nexo causal e o ato ilícito e, ainda, que tal ilícito tenha gerado prejuízos
emocionais ao patrimônio psíquico, social ou moral da pessoa.
Na presente ação são visíveis todas as provas da consumação do ato ilícito praticado
pela ré (Aeronáutica) quando executou prisão disciplinar ilegal contra a autora.
A prisão ilegal, inclusive, obviamente, a disciplinar, por ofender a liberdade do
militar, é indenizável, conforme disposição contida no art. 954 do Código Civil, assim
descrito:
Art. 954. A indenização por ofensa à liberdade pessoal consistirá no pagamento das
perdas e danos que sobrevierem ao ofendido, e se este não puder provar prejuízo,
tem aplicação o disposto no parágrafo único do artigo antecedente.
Parágrafo único. Consideram-se ofensivos da liberdade pessoal:
I - o cárcere privado;
II - a prisão por queixa ou denúncia falsa e de má-fé;
III - a prisão ilegal (grifo nosso).
do caso concreto para chegar ao valor monetário da reparação, o qual não deve ser nem
tão grande que sirva de enriquecimento para o ofendido e nem tão pequeno que não gere
no ofensor maior responsabilidade.
A autora teve sua liberdade restringida ilegalmente por 10 (dez) dias, assim, cabível
indenização por danos morais, haja vista que a prisão ilegal induz na obrigação de indenizar
por danos morais, conforme entendimento pacificado na jurisprudência, podendo-se citar
a seguinte:
Considera-se que a quantia de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) é um valor justo para
compensar os danos morais pela prisão ilegal.
Desta forma, requer a condenação da ré em danos morais decorrente da punição
disciplinar ilegal, pois demonstrado o ilícito e o nexo causal, pela qual sofreu durante os
10 (dez) dias de sofrimento e angústia, nos termos de toda a fundamentação.
4. DO PEDIDO
fundamentação; e
Termos em que
pede e espera deferimento.
_________________________________________________
(Nome e assinatura do Advogado)
OAB/___ nº ________
ANEXO M
PÁGINA
EM
BRANCO
ANEXO N
PÁGINA
EM
BRANCO
Bibliografia
AILTON, Soares. O Regulamento Disciplinar da Polícia Militar do Estado
de São Paulo comentado: lei complementar nº 893, de 9.3.2001. São Paulo:
Atlas, 2006.
ASSIS, Jorge Cesar de. Direito Militar. Aspectos penais, processuais penais e
administrativos. Curitiba: Juruá, 2008.
ASSIS, Jorge César. Execução da Sentença na Justiça Militar. 3ª ed. Curitiba:
Juruá, 2011. p. 58-59.
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 14ª
ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2002.
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Conhecendo o Tribunal. 4ª ed. TCU,
Secretaria-Geral da Presidência: Brasília, 2008.
LOBÃO, Célio. Direito processual penal militar. São Paulo: Método, 2009.
LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. 3ª ed. Brasília: Brasília Jurídica, 2006.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de processo penal interpretado. 7ª ed. São
Paulo: Atlas, 2000.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Código penal interpretado. 1ª ed. São Paulo: Atlas,
1999.
NUCCI, Guilherme. Organizador. Reformas do Processo Penal. 2ª ed. Porto
Alegre: Verbo Jurídico, 2009.
SAMPAIO JÚNIOR, José Herval. Tutelas de urgência: sistematização das
liminares. São Paulo: Atlas, 2011.
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 15ª ed. Forense: São Paulo, 1998.
VIEIRA, Diógenes Gomes. Manual Prático do Militar: direito militar, penal,
administrativo, constitucional, previdenciário e processual. 1ª ed. Editora D
& F Jurídica: Natal, 2009.
VIEIRA, Diógenes Gomes. Comentários ao Estatuto dos Militares – Lei nº
6.880/80 interpretada. Curitiba: Juruá, 2013.
VIEIRA, Diógenes Gomes. Concursos Públicos Militares: Tutelas de Urgência
– Teoria e Prática. Curitiba: Juruá, 2013.
PÁGINA
EM
BRANCO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
Parágrafo 3º do art. 63
Parágrafo 4º do art. 63
Parágrafo 5º do art. 63
Artigo 64
Artigo 65
Artigo 66
Seção V – Das Licenças
Caput do art. 67
Parágrafo 1º do art. 67
Parágrafo 2º do art. 67
Parágrafo 3º do art. 67
Caput do art. 68
Parágrafo 1º do art. 68
Parágrafo 2º do art. 68
Parágrafo 3º do art. 68
Parágrafo 4º do art. 68
Parágrafo 5º do art. 68
Caput do art. 69
Parágrafo Único do art. 69
Caput do art. 69-A
Parágrafo 1º do art. 69-A
Parágrafo 2º do art. 69-A
Parágrafo 3º do art. 69-A
Parágrafo 4º do art. 69-A
Parágrafo 5º do art. 69-A
Caput do art. 70
Parágrafo 1º do art. 70
Parágrafo 2º do art. 70
Parágrafo 3º do art. 70
Seção VI – Da Pensão Militar
Caput do art. 71
Parágrafo 1º do art. 71
Parágrafo 2º do art. 71
Parágrafo 3º do art. 71
Artigo 72
Capítulo II – Das Prerrogativas
Seção I – Constituição e Enumeração
Caput do art. 73
Parágrafo Único do art. 73
Caput do art. 74
Parágrafo 1º do art. 74
Parágrafo 2º do art. 74
Artigo 75
Seção II – Do Uso dos Uniformes
Caput do art. 76
Parágrafo Único do art. 76
Caput do art. 77
Parágrafo 1º do art. 77
Parágrafo 2º do art. 77
Parágrafo 3º do art. 77
Artigo 78
Caput do art. 79
Parágrafo Único do art. 79
Título IV – Das Disposições Diversas
Capítulo I – Das Situações Especiais
Seção I – Da Agregação
Artigo 80
Caput do art. 81
Inciso I do art. 81
Inciso II do art. 81
Inciso III do art. 81
Inciso IV do art. 81
Inciso V do art. 81
Parágrafos 1º, 2º, 3º e 4º do art. 81
Caput do art. 82
Inciso I do art. 82
Inciso II do art. 82
Inciso III do art. 82
Inciso IV do art. 82
Inciso V do art. 82
Inciso VI do art. 82
Inciso VII do art. 82
Inciso VIII do art. 82
Inciso IX do art. 82
Inciso X do art. 82
Inciso XI do art. 82
Inciso XII do art. 82
Inciso XIII do art. 82
Inciso XIV do art. 82
Parágrafos 1º, 2º, 3º e 4º do art. 82
Artigo 83
Artigo 84
Artigo 85
Seção II – Da Reversão
Caput do art. 86
Parágrafo Único do art. 86
Artigo 87
Seção III – Do Excedente
Caput do art. 88
Incisos I, II, III, IV, V e VI do art. 88
Parágrafos 1º, 2º, 3º e 4º do art. 88
Seção IV – Do Ausente e do Desertor
Caput do art. 89
Parágrafo Único do art. 89
Artigo 90
Seção V – Do Desaparecido e do Extraviado
Caput do art. 91
Parágrafo Único do art. 91
Artigo 92
Seção VI – Do Comissionado
Caput do art. 93
Parágrafo Único do art. 93
Capítulo II – Da Exclusão do Serviço Ativo
Seção I – Da Ocorrência
Caput e incisos do art. 94
Parágrafo 1º do art. 94
Parágrafo 2º do art. 94
Caput do art. 95
Parágrafo 1º do art. 95
Parágrafo 2º do art. 95
Seção II – Da Transferência para a Reserva Remunerada
Caput do art. 96
Parágrafo Único do art. 96
Caput do art. 97
Parágrafo 1º do art. 97
Parágrafo 2º do art. 97
Parágrafo 3º do art. 97
Parágrafo 4º do art. 97
Caput do art. 98
Inciso I do art. 98
Letras “a”, “b” e “c” do Inciso I do art. 98
Inciso II do art. 98
Inciso III do art. 98
Inciso IV do art. 98
Inciso V do art. 98
Inciso VI do art. 98
Inciso VII do art. 98
Inciso VIII do art. 98
Inciso IX do art. 98
Inciso X do art. 98
Inciso XI do art. 98
Inciso XII do art. 98
Inciso XIII do art. 98
Inciso XIV do art. 98
Inciso XV do art. 98
Inciso XVI do art. 98
Parágrafo 1º do art. 98
Parágrafo 2º do art. 98
Parágrafo 3º do art. 98
Parágrafo 4º do art. 98
Parágrafo 5º do art. 98
Artigo 99
Caput do art. 100
Parágrafo 1º do art. 100
Parágrafo 2º do art. 100
Parágrafo 3º do art. 100
Parágrafo 4º do art. 100
Caput do art. 101
Inciso I do art. 101
Inciso II do art. 101
Letra “a” do Inciso II do art. 101
Letra “b” do Inciso II do art. 101
Letra “c” do Inciso II do art. 101
Letra “d” do Inciso II do art. 101
Letra “e” do Inciso II do art. 101
Primeira prioridade da letra “e” do Inciso II do art. 101
Segunda prioridade da letra “e” do Inciso II do art. 101
Terceira prioridade da letra “e” do Inciso II do art. 101
Parágrafo 1º do art. 101
Parágrafo 2º do art. 101
Parágrafo 3º do art. 101
Caput do art. 102
Parágrafo 1º do art. 102
Parágrafo 2º do art. 102
Caput do art. 103
Parágrafo 1º do art. 103
Parágrafo 2º do art. 103
Parágrafo 3º do art. 103
Seção III – Da Reforma
Artigo 104
Artigo 105
Caput do art. 106
Inciso I do art. 106
Inciso II do art. 106
Inciso III do art. 106
Inciso IV do art. 106
Inciso V do art. 106
Inciso VI do art. 106
Parágrafo Único do art. 106
Caput e Parágrafo Único do art. 107
Caput do art. 108
Inciso I do art. 108
Inciso II do art. 108
Inciso III do art. 108
PÁGINA
EM
BRANCO
SUMÁRIO
TÍTULO I – CONCURSOS MILITARES NO ORDENAMENTO JURÍDICO
Introdução
Capítulo I – Concursos públicos na Constituição Federal de 1988
1. Art. 37 da CF/88
1.1. Princípio constitucional da legalidade
1.2. Princípio constitucional da impessoalidade
1.3. Princípio constitucional da publicidade
1.4. Princípio constitucional da razoabilidade
1.5. Princípio constitucional da isonomia
1.6. Princípio constitucional da proporcionalidade
2. Inciso I do art. 37 da CF/88
3. Inciso II do art. 37 da CF/88
4. Inciso III do art. 37 da CF/88
5. Inciso IV do art. 37 da CF/88
6. Inciso X do art. 142 da CF/88 (Ingresso nas Forças Armadas)
Capítulo II – Concursos públicos nas principais leis militares
1. Arts. 10 e 11 da Lei nº 6.880/80
2. Lei nº 12.464/11 (Ensino na Aeronáutica)
3. Lei nº 12.705/12 (Ensino no Exército)
4. Lei nº 11.279/06 (Ensino na Marinha)
TÍTULO II - INCONSTITUCIONALIDADES E ILEGALIDADES CONSTATADAS
PELO PODER JUDICIÁRIO NOS CONCURSOS MILITARES
Introdução
Capítulo I – Limite de idade
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo II – Altura mínima e máxima
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo III – Inspeção de saúde
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
2.1. Exame médico geral
2.2. Exame odontológico
2.3. Exame oftalmológico
2.4. Exame cardiológico
2.5. Exames ortopédicos
Capítulo IV – Testes psicotécnicos e entrevista eliminatória
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
2.1. Testes psicotécnicos
2.2. Entrevista eliminatória
Capítulo V – Estado civil: ser solteiro, não viver em concubinato ou união estável e
não ter filhos
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo VI – Testes físicos
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
2.1. Exigência não prevista no edital
2.2. Modificações no edital
2.3. Momento adequado para questionar os testes físicos previstos no edital
2.4. Subjetividade, sigilosidade e irrecorribilidade
2.5. Possibilidade de remarcação de testes físicos por motivo de força maior ou quanto
for previsto no edital
2.6. Impossibilidade de novos testes físicos por alteração fisiológica temporária, por falta
ao exame ou segunda chamada não prevista no edital
2.7. Critérios diferenciados em razão da faixa etária
2.8. Princípio da isonomia entre os candidatos
Capítulo VII – Arrimo de família
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo VIII – Questões da prova
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo IX – Inscrição de pré-candidato sub judice
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo X – Irrecorribilidade e sigilosidade dos resultados dos testes de admissão
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo XI – Alteração do edital
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo XII – Investigação social e idoneidade moral
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo XIII – Preterição na ordem de classificação do concurso
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
Capítulo XIV – Entrega de documentos
1. Breves considerações
2. Jurisprudência
T Í T U L O I I I - P R I N C I PA I S A Ç Õ E S J U D I C I A I S C O N T R A ATO S
INCONSTITUCIONAIS OU ILEGAIS
Introdução
Capítulo I – Petição inicial
1. Conceituação e base legal
2. Estrutura básica da petição inicial
2.1. Relato dos fatos