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Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-5939-316-9 (brochura)
978-65-5939-313-8 (eBook)
CDU: 800
CDD: 400
DOI: 10.31560/pimentacultural/2022.138
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PIMENTA CULTURAL
São Paulo - SP
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PREFÁCIO
Moacir Gadotti
Seção 1
Capítulo 1
Capítulo 2
Cápítulo 3
Capítulo 4
Seção 2
Capítulo 6
Capítulo 7
Cápítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Seção 5
Capitulo 15
Capítulo 16
Referências................................................................................... 384
FORMAÇÃO DOCENTE
NUM VIÉS CRÍTICO:
entre o projeto pedagógico
de um curso de Letras
e a prática na sala de aula
DOI: 10.31560/pimentacultural/2022.138.49-70
Paulo Freire (2003, p. 61), ao dialogar com educadoras e edu-
cadores brasileiros por meio da Pedagogia da Autonomia, defendia:
“É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz,
de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática”.
Leffa (2008), tratando mais pontualmente do ensino de línguas, e dia-
logando com os pares da área da Linguística Aplicada (LA), propõe
algo semelhante: é necessário superar o abismo que por vezes se
impõe entre a teoria e a prática. Neste capítulo, vamos partir dessas
ideias para discutir a necessidade de sinergia entre o que é pensa-
do e discutido (na dimensão da teoria) e o que é implementado (na
dimensão da prática) sobre formação de professores de Espanhol
como Língua Estrangeira (ELE) no viés do pensamento crítico em
cursos de licenciatura em Letras.
50
tal no sentido de estar pautado na análise do PPC (implementado
em 20111) e de ementas de disciplinas obrigatórias do curso de li-
cenciatura em Letras - Espanhol e Literaturas de Língua Espanhola
(doravante Curso de Letras Espanhol) da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM); e é também uma pesquisa empírica e de relato
de experiência, no sentido de abarcar a análise de exemplos de ma-
teriais didáticos desenvolvidos por acadêmicos desse mesmo curso,
em uma disciplina optativa de produção de material didático.
REVISÃO DE LITERATURA
1
Optamos por tal PPC por ser aquele em vigência durante a realização de nossa pesquisa,
iniciada no segundo semestre de 2017. Ao longo do texto ficará evidente que tal PPC é
uma versão atualizada de um PPC anterior, de 2004, e que foi sucedido por um novo PPC,
implementado em 2019, meses após a conclusão de nosso estudo.
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tiva crítica, a sala de aula é mais do que um lugar no qual o professor
“deposita” seus conhecimentos nos alunos, mas um espaço de proble-
matização, diálogo, troca de saberes e libertação (FREIRE, 2015).
2
Grifo nosso.
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Na perspectiva dos Letramentos Críticos – uma das diferentes
formas de fazer um trabalho crítico no campo da LAC (PENNYCOOK,
2006) –, pesquisas como a de Monte Mór (2018) também discutem
mais algumas acepções para o termo “crítico”, conforme apresenta-
mos a seguir: a) diz respeito à interpretação e à avaliação especializa-
da de obras de arte e de literatura; b) faz referência à “análise social e
informada da estrutura de um pensamento expresso num determinado
conteúdo” (MONTE MÓR, 2013, p. 325).
53
apresentadas, entre outros aspectos (MACIEL, 2015). Seria o caso,
por exemplo, de documentos como a BNCC, que, por um lado, chama
a atenção para a relevância de trabalho pedagógico voltado à plu-
ralidade linguística e cultural, mas, por outro lado, reduz as línguas
obrigatórias ensinadas na Educação Básica ao Português e ao Inglês.
Na prática, a tendência é que as línguas opcionais acabem sendo tan-
genciadas ou, até mesmo, extintas dos currículos, como em outros
momentos aconteceu com o Francês (LEFFA, 1999).
METODOLOGIA
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que envolvem o manuseio de determinados documentos” (FONTANA,
2018, p. 69), são aquelas que possuem como maior característica,
considerando a fonte do trabalho científico, o uso de artefatos/subsí-
dios históricos, institucionais, associativos, públicos, privados, oficiais
ou extraoficiais, à exemplo de: regulamentos, pareceres, cartas, me-
morandos, (projetos de) leis, manuscritos, relatórios técnicos, minutas,
jornais, revistas, registros audiovisuais diversos, arquivos escolares
etc. (FONTANA, 2018). No caso desta investigação, a documentação
escolhida foi o PPC de 20113 do Curso de Letras Espanhol, modalida-
de presencial, da UFSM. O procedimento metodológico adotado para
a pesquisa documental foi a leitura e a análise do referido PPC e, mais
pontualmente, das ementas de 7 disciplinas obrigatórias do curso. A
escolha por essas ementas deu-se em razão da busca, no arquivo di-
gital, pela palavra “crítica”: tais disciplinas contam com o uso do termo
em alguma parte de seu conteúdo.
3
O referido PPC é uma continuidade do PPC anterior, de 2004, porém com algumas modifica-
ções e ajustes específicos, em função da legislação vigente. Como exemplo de modificação,
cabe mencionar a inclusão da formação básica em Língua Brasileira de Sinais (Libras).
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como adequado para reflexões acerca da formação crítica de profes-
sores, alinhada à perspectiva do Letramento Crítico.
RESULTADOS
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Iniciamos o trabalho de análise partindo do objetivo geral,
comum aos três cursos (Espanhol, Inglês e Português), delimitados
no documento:
Desenvolver competências na língua objeto da habilitação es-
colhida, nos seus diferentes registros e variedades em termos
de estrutura, funcionamento e manifestações culturais; − refletir
analiticamente sobre os processos de ensino e aprendizagem
da linguagem; − integrar o ensino, pesquisa e extensão simul-
tânea e continuamente visando à formação do profissional em
Letras em uma perspectiva humanística (UFSM, 2011, p. 51).4
4
Neste e em outros excertos do PPC, os grifos são nossos.
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a saber: o ensino, a pesquisa e a extensão, durante a permanência no
curso e, posteriormente, no mundo do trabalho.
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na pesquisa: deverá ser incentivado no aluno o interesse pela
participação em projetos de investigação, de modo a fortalecer
seu senso crítico e espírito de equipe, em prol da formalização
de novos conhecimentos[...]; formação continuada para desen-
volver no aluno uma postura auto-crítica em relação ao exercício
de sua futura profissão [...] (UFSM, 2011, p. 55).
5
Informações extraídas do PPC do Curso (UFSM, 2011).
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Quadro 1 - Disciplinas do PPC com alinhamento ao Letramento Crítico.
- LTE 1026 LITERATURA ESPANHOLA I e II - na descrição dos objetivos temos: Conhecer e analisar
obras e autores mais importantes do período, relacionando-os com o momento histórico no qual
se inserem; Identificar temas e problemas relevantes e recorrentes na produção literária de língua
espanhola e analisá-los sob o ponto de vista crítico, considerando a atividade docente no ensino
médio brasileiro.
- LTE 1045 LÍNGUA ESTRANGEIRA II – na descrição das unidades apresenta os tópicos de Leitura
crítica de gêneros midiáticos; Leitura crítica de gêneros de popularização científica e Leitura crítica
de gêneros literários;
- ADE 1000 POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO NA EDUCAÇÃO BÁSICA - os objetivos estão as-
sim delimitados: Compreender as estruturas do sistema educacional brasileiro através do estudo
descritivo, interpretativo e crítico dos aspectos organizacionais da educação básica, procurando
desenvolver uma atitude reflexiva e responsável com vistas à profissionalização do educador;
- LTE 1029 LITERATURA HISPANO-AMERICANA: ORIGENS - destacam-se os objetivos: Desen-
volver no aluno o senso crítico e analítico pela abordagem dos aspectos estético-ideológicos dos
textos;
- LTE 1030 LITERATURA HISPANO-AMERICANA: POESIA - Implementar categorias de análise e
interpretação que desenvolvam o senso crítico do aluno.
- LTE 1028 LITERATURA HISPANO-AMERICANA: FICÇÃO - Abordar textos representativos através
de categorias básicas de análise e interpretação literária que incentivem no aluno o desenvolvi-
mento de sua capacidade crítica.
- LTV 1008 FUNDAMENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA - Analisar textos literários brasileiros,
com vistas a formar e desenvolver o senso crítico.
Fonte: os autores.
60
crítico de línguas. Tal reflexão remete-nos para a ideia da singularidade
dos efetivos trabalhos docentes, uma vez que entendemos o docu-
mento oficial como uma orientação normativa que, via de regra, pode
ser (re)normatizada, pois consideramos que as escolhas individuais de
cada professor em sala de aula são únicas e irrepetíveis. Ainda assim,
formalmente, não temos como avaliar as práticas efetivas dos profes-
sores para a formação crítica, embora saibamos que elas façam parte
do processo formativo no Curso de Letras Espanhol.
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dático complementar. Exercitar a elaboração de materiais para
diferentes contextos de ensino e recursos midiáticos6.
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recortes a título de ilustração. O planejamento começa com uma ativi-
dade de pré-leitura, ativando o conhecimento dos alunos sobre profis-
sões. Esta primeira versão do GA apresenta uma visão de aula muito
centrada no ensino do léxico e da gramática da língua estrangeira.
Percebemos atividades clássicas de sopa de letras com nome das
profissões e de relacionar colunas com o nome da profissão e sua
respectiva descrição, como podemos observar na Imagem 1.
Fonte: os autores.
63
Imagem 2 - Jogo de tabuleiro criado pelo GA
Fonte: os autores.
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que eu acho que seria importante socialmente para meu aluno saber
sobre o mundo do trabalho?”.
Fonte: os autores.
65
ver sua opinião sobre o tema discutido. Para finalizar o planejamento,
os alunos são convidados a trazer, na próxima aula, imagens de pro-
fissões que são estereotipadas como masculinas ou femininas, bem
como imagens que tentam desmistificar essa condição socialmente
instituída. Tal reformulação parece se aproximar um pouco mais a uma
proposta alinhada a uma prática de Letramento Crítico (MONTE MÓR,
2013; BEVILÁQUA, 2017), no sentido de que não se limita a explorar
apenas o léxico do campo de profissões, mas abre o debate para algo
mais amplo, que usa a língua espanhola para entrar no debate, mas
não se fixa apenas na estrutura da língua.
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bém estava focado em um ensino da língua estrangeira por léxico,
como nos mostra a Imagem 4.
Fonte: os autores.
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gastam com seus pets. Outro aluno destacou que o tema dos animais
em risco de extinção seria bem importante de ser trabalhado. Assim, o
GB apresentou, na segunda versão do seu material, um texto que fala
sobre a extinção de animais, bem como dois vídeos que falam sobre
quais são eles, como podemos observar na Imagem 5. Para trabalhar
o texto e os vídeos, foram pensadas questões de pré-leitura e de pós-
-leitura, ampliando a discussão. Por fim, a última atividade, realizada
na sala de informática, será uma produção textual inicial, na qual os
alunos possuem o auxílio do computador para fazer uma pesquisa em
relação ao animal em extinção escolhido para o preparo de um mural
na escola para expor essas produções. O título do mural será escolhi-
do pelos alunos, em conjunto com o professor, terá a foto do animal e,
abaixo, a produção escrita feita pelo aluno.
S U M Á R I O
Fonte: os autores.
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Esta reformulação do material do GB para uma proposta mais
alinhada aos Letramentos Críticos (BEVILÁQUA, 2017) nos mostra que,
embora a análise prévia das disciplinas indique uma formação crítica
de forma ainda incipientes, muitas vezes apontando um senso comum
sobre o que é ser crítico, há outras práticas da sala de aula, invisível
aos programas e ao próprio PPC de uma forma ampla, que levam à
promoção da formação crítica de novos professores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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tanto, podem dar conta desse novo PPC quanto à formação docente
à luz do pensamento crítico, assim como podem ser analisados PPCs
de cursos de Letras de outras universidades.
Concordamos com Leffa (2001) quando ele afirma que, sem esse
investimento, não se obtém um profissional dentro do perfil que se de-
seja: reflexivo, crítico e comprometido com uma educação libertadora.
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