Você está na página 1de 88

Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Tecnologia e Geociências


Programa de Pós-Graduação em Eng. Civil

Propriedades da matéria orgânica e as


aplicações de biodegradação em
biodigestores e compostagem
Ministrante: Dra. Liliana Andréa dos Santos
Emissões de GEE no Brasil

2017
Situação de RSU no Brasil
Destinação final dos RSU no Brasil
Destinação final dos RSU no Brasil
Destinação final dos RSU em Pernambuco

Fonte: (CPRH, 2020)


Emissões de GEE no Brasil

2017
Composição gravimétrica - RSU
Composição gravimétrica - Brasil
A composição gravimétrica determina o percentual dos diferentes materiais que
compõem os resíduos em termos de massa ou peso, possibilitando identificar a
diversificação de seu tratamento, através da valorização dos materiais, em forma de
reciclagem e avaliação de seu potencial energético.

Fonte: ABRELPE (2020)


Composição gravimétrica - Matéria orgânica
aterrada (t)
Componentes Composição
da matéria orgânica Peso (kg) gravimétrica (%)
resíduos de feijão, arroz,
Resíduos de alimentos carne, macarrão 210 21
resíduos de laranja 20 2
resíduos de maracujá 10 1
Resíduos de frutas
resíduos de caju 10 1
outros resíduos de frutas 30 3
folhosos 10 1
cascas de verduras 10 1
Resíduos de verduras

outros resíduos de verduras 10 1


Resíduos de jardim Folhas, galhos, gramas 110 11
Matéria orgânica- resíduos orgânicos

Resíduos orgânicos são qualquer material biodegradável


de origem vegetal ou animal.
Emissões de GEE no Brasil

2017
Gestão de RSU no Brasil
Tecnologias de tratamento
biológico
Tecnologias de Tratamento biológico
DIGESTÃO ANAERÓBIA

COMPOSTAGEM
DIGESTÃO ANAERÓBIA
Digestão anaeróbia
Processo biológico que, na ausência de oxigênio e sob a ação
de microrganismos transforma a matéria orgânica solubilizada
ou semissólida (lodo) em biogás constituído principalmente de
gás metano (CH4) e gás carbônico (CO2).

18
Uso do biogás

21
Usinas de biogás - Brasil

638 usinas em
operação

Produção total
em torno de
1,83 bilhões de
Nm3/ano de
biogás

Maior
percentual do
total de biogás
produzido em
aterros
sanitários
Utilização do biogás - Brasil
Propriedades da matéria orgânica
Propriedades da matéria orgânica e DA

pH AGVs
Alcalinidade Agitação

DQO Umidade

Temperatura Sólidos totais

Sólidos voláteis Análise elementar

Superfície de contato Qualidade do inóculo

33
Propriedades da matéria orgânica e DA
pH
- Faixa ideal para metanogênese→ entre 6,5 a 8,0.
- (pH < 6,0 a produção de metano ).
- As bactérias hidrolíticas suportam ampla faixa de pH,
pH abaixo de 8 e podem produzir ácidos até pH inferior a 5,0.

- Correção → introdução de um alcalinizante no meio,


preferencialmente com elevada capacidade de tamponamento.

Fonte: Mello et al. 2016


Propriedades da matéria orgânica e DA

Umidade
Umidade ideal 85 a 90%
para digestão anaeróbia

Teor de umidade abaixo de 35%


reduz a atividade metanogênica

Fonte: Russo, 2004


Propriedades da matéria orgânica e DA

Nutrientes Célula Microbiana

MACRONUTRIENTES
Carbono
Nitrogênio
Fósforo
Enxofre

Relação C/N ideal de 20 a 30

MICRONUTRIENTES
Cálcio
Magnésio
Potássio
Sódio
Zinco
Ferro

Fonte: Russo, 2004


Propriedades da matéria orgânica e DA
anaeróbi
Temperatura
a
Psicrófilos: Temperatura
entre 15 a 20oC

Mesófilos: temperatura
entre 25 a 40oC

Termófilos: temperatura
entre 50 a 60oC

Fonte: Madigan et al., 2004


Propriedades da matéria orgânica
e
Propriedades da Faixa ideal Faixa limitante
matéria orgânica
Sólidos voláteis > 10% < 10% (material estabilizado)
Umidade 85 a 90% Umidade < 35%
pH 6,5 a 8,0 pH < 6,0
Alcalinidade total 1500 a 5000 mg Alcalinidade < 1500 mg/L
CaCO3/L > 5000mg/L
AGVS < 2000 mg/L AGVS > 2000 mg/L
Relação C/N 20 a 30 Relação C/N: carência N
Relação C/N: excesso N
Inibidores do processo de digestão anaeróbia

Inibidor Concentração de inibição


Oxigênio > 0,1 mg/L
Sulfeto de hidrogênio > 50mg/L H2S
Ácidos graxos voláteis > 2.000 mg/L HAc
Nitrogênio amoniacal > 3.500 mg/L NH3
Cu > 50 mg/L
Metais pesados Zn > 150 mg/L
Cr > 100mg/L
Desinfetantes antibióticos *N.E
*N.E (Não especificado)
Propriedades da matéria orgânica

Legenda: MS (Casca de maracujá); LS (Bagaço de laranja); CS (Bagaço de caju).


Potencial de geração de biogás e metano

400

348
Biogás
Biogás CH4
CH4
Potencial de Geração de biogás e CH4 (NmL.g-1SV)

300 286
256

200 191
173
160
129 117 115

100 78
62 64

0
LS + LI LS + LE MS + LI MS + LE CS + LI CS + LE

Legenda: LS (Bagaço de laranja); CS (Bagaço de caju); MS (Casca de maracujá); LI (lodo industrial);


LE (lodo de esgoto).
Como prever a geração de biogás e
metano?
Ensaio do potencial bioquímico de metano (BMP)
Determinar a biodegrabilidade e potencial de geração de metano a
partir de substratos orgânicos em sistema de batelada sob condições
ótimas.

Ferramenta chave para


reatores anaeróbios em
escala real

Fonte: ((OWEN et al., 1979; HANSEN et al., 2004; ALVES, 2008; FIRMO, 2013; SCHIRMER et al., 2014; BRITO, 2015; DE VRIEZE et al., 2015LUCENA,
2016, VALENÇA, 2017).
Caracterização do material

• Sólidos totais
• Sólidos voláteis
• Teor de umidade
• Demanda química de oxigênio (DQO)
• pH
Uso do inóculo anaeróbio

Adição microrganismos

Aporte de umidade

Equilíbrio de nutrientes (C/N)

Aporte de pH e alcalinidade

Maior rendimento de metano

• Lodo anaeróbio granulado de um reator UASB


• Esterco bovino ou caprino
• Rúmen bovino
• Entre outros.
Fonte: (FIRMO, 2013; CHEN et al., 2014; DHAMODHARAN; KUMAR; KALAMDHAD, 2015; KONG et al., 2016; LUCENA, 2016; VALENÇA, 2017; KIM;
OH, 2011; WAN et al., 2011).
Estimativa do potencial de geração
✓ Monitoramento
• Geração de biogás (diário)
• Análise qualitativa do gás - CO2
e metano (semanal)
• Análise cinética da curva de
metano
Potencial de geração de biogás e metano

(Ferreira, 2015)
Potencial de geração de biogás e metano

Cenários m3 de m3 de CH4 Energia gerada


biogás/ton /ton (kWh/ton)
Resíduo alimentar + lodo 5,7
industrial 54 1,9
s/tampão
Resíduo alimentar + Lodo 63
industrial 145 21,01
c/tampão
Resíduo alimentar + Lodo 8,5
industrial 88 2,83
s/tampão
Resíduo alimentar + lodo 607
industrial 426 203,1
c/tampão
Resíduos orgânicos 450 263 786
RSU envelhecido (8 anos) 11,04 8,91 27
RSU envelhecido (8 anos) + 26
Lodo 18,21 8,78
esgoto
RSU (8 anos) +Lodo esgoto + 101
Consórcio Microbiano 48,07 33,72
RSU envelhecido (8 anos) 11,04 8,91 27
Potencial de geração de biogás e metano

Resíduos de m3 de m3 de CH4/ Energia gerada


frutas biogás/ton ton (kWh/ton)
Bagaço de laranja + 348 128 383
LI
Casca de maracujá 264 115 343
+ LI
Bagaço de caju + LI 173 64 191
Silagem de bagaço 344 170 508
de laranja + LI
Silagem de casca de 281 148 442
maracujá +LI

Fonte: (SANTOS, 2019; SANTOS et al., 2020)


Biodigestores anaeróbios
Classificação de biodigestores

(ST < 22%)

(ST > 22%)

(FRN, 2015)
Tipo de biodigestores
Biodigestores em escala de laboratório
.
Tipo de biodigestores
Ensaios em escala intermediária

Fonte: Valença et al. (2017).


Tipo de biodigestores
Biodigestores em escala de campo
▪ 500kg de resíduos
orgânicos gera 160 mil
litros de biogás por dia

▪ 23 m3CH4 (gerar em
média 2.055 kWh.mês-1)

▪ Cerca de 1.400 kWh.mês-1,


excedentes, estão disponíveis
para suprir parte da demanda
elétrica d edifícios, iluminação
pública da UFMG.

Fonte: Ferreira, 2015


Tipo de biodigestores
Usina de biogás - Itaipu

4 mil m³ de biometano/mês
10 ton/mês de resíduos alimentares
80 veículos da frota da usina
30 ton/mês de poda de grama
300 mil litros de esgoto

Fonte: https://discovirtual.itaipu.gov.br
Tipo de biodigestores
Fortaleza inaugura maior usina de produção de biogás com lixo
de aterro
O Aterro Sanitário Municipal Oeste de Caucaia (CE)

80 mil m3 de CH4/dia
3 mil ton/dia de resíduos sólidos
150 mil m3/dia – gás natural veicular
domiciliares da Região Metropolitana de
(GNV)
Fortaleza
10 mil automóveis por dia.
Usina de biogás – Ceasa- PE

- Capacidade ~ 1 t/dia
-Estudo do potencial de geração de
metano ~ 200 - 300 Nml/gS
- Poder calorífico CH4 ~ 9,97 KWh/m3
- Volume de 20m³
- Motor de 35kva podendo chegar a
50kva

Representa 2,85% dos resíduos


descartados
Usina de biogás – Ceasa- PE
Usina de biogás – Ceasa- PE
Usina de biogás – Ceasa- PE
Vantagens da digestão anaeróbia

- Promove a reciclagem da matéria orgânica e nutrientes;


- Redução da emissões dos GEE
- Baixa demanda de área;
- O lodo (ou resíduo digerido) produzido estabilizado;
- Baixo consumo de energia (não há necessidade de aeração);
- Produz metano (CH4), que pode ser uma fonte de energia;
- Baixo risco de poluição ambiental, por ser realizado em
sistema fechado;
Desvantagens da digestão anaeróbia

-Dependendo do efluente/resíduo a ser tratado, pode gerar


maus odores (formação de H2S e outros);
-A bioquímica e a microbiologia da digestão anaeróbia são
complexas e ainda necessitam ser mais compreendidas;
- Fatores ambientais podem afetar sensivelmente o processo;
- Baixa remoção de patogênicos (digestão mesofílica);
- Necessidade de compostagem para completa estabilização da
matéria orgânica digerida e/ou remoção de patogênicos.
Estudo de caso 1

AVALIAÇÃO DA GERAÇÃO DE
BIOMETANO EM DIFERENTES
CENÁRIOS DE
BIODEGRADAÇÃO DE
RESÍDUOS ALIMENTARES
Rebeca Beltrão Valença

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de


Pernambuco, 2017.
Estudo de caso
Restaurante Universitário da UFPE

Capacidade: 550 pessoas sentadas

300 desjejuns, 3200 almoços e 1600 jantares

148kg de resíduo alimentar por dia

Fonte: http://estudante.ufpe.br
Estudo de caso

BMP

(NBR 10.007, ABNT, 2004; SILVA; MORAES JR;


ROCHA, 2016; ANGELIDAKI et al., 2009)
Estudo de caso
1- Teste de vedação 2- Preenchimento 3- Monitoramento

(FIELD; SIERRA; LETTINGA, 1988; METCALF, 2016)

R-0, R111% (Só resíduo)


LI e LE (Só lodo)
RLI e RLE (Codigestão)
0, 1,5%, 4,5%, 11%, 28%,111%

4- Finalização do 5- Tratamento dos


experimento dados
Estudo de caso
Potencial de geração de metano
250
LI LE
214,54
LI 22x > LE
200

150
NmL/gSV

100 86,38

50
Não viável
22,34
9,60
2,04 0,55 1,24 2,84 0,00 0,02 0,00 0,05 1,11
0,06
0
Estudo de caso
Estudo de caso
Produção de metano por tonelada de resíduo adicionada

RLI (máximo): 95,6 m3CH4/ton Alimentação


em RLI

953 kWh/ton -63% Alimentação


em RLE

353 kWh/ton RLI

RLE
150kg/dia = 1058 kWh/mês
-AT Dia sem
agitação e
controle de
temperatura
Emissões de GEE no Brasil

2017
Compostagem
Compostagem

A compostagem é um processo de decomposição biológica


da fração orgânica biodegradável dos resíduos, efetuado por
uma população diversificada de micro-organismos, em
condições controladas de aerobiose.

Apenas 1,6% dos


resíduos orgânicos
São tratados por
Compostagem no
Brasil
Usinas de compostagem - Europa

ECN Status report (2019)


Propriedades Emissões
da matériade
orgânica
GEE nopara compostagem
Brasil

2017
Propriedades da matéria orgânica para compostagem
Propriedades da matéria orgânica para compostagem

Umidade Aeração

Temperatura Relação C/N

Tamanho das pH
partículas
Propriedades da matéria orgânica para compostagem
Temperatura

Fonte: Brasil, 2015


Propriedades da matéria orgânica para compostagem
Propriedades da matéria orgânica para compostagem
Temperatura

T ˂ 30oC
30- 40oC
40- 50oC
50- 60oC

Fonte: Resolução CONAMA Nº 481/2017


Propriedades da matéria orgânica para compostagem
Tamanho das partículas

Tamanho ideal das partículas deve ser em


torno de 1 a 5 cm
Propriedades da matéria orgânica para compostagem
Umidade

Os valores ótimos para a faixa de umidade entre


40 e 60%

Fonte: Brasil, 2015


Propriedades da matéria orgânica para compostagem
Umidade

Fonte: Brasil, 2015


Fatores importantes da compostagem
Aeração

A concentração de oxigênio: 5-15%


Concentração ideal: 10%
Propriedades da matéria orgânica para compostagem
Aeração manual

Pilhas com 1,5m de altura e 2,5m de largura


Propriedades da matéria orgânica para compostagem
Aeração mecanizada

leiras com 1,5m de altura e


acima de 5,0m largura
Figura 14 - Método natural de aeração que utiliza reviramento mecânico das leiras.
(a) Unidade de compostagem de Montgomery e (b) detalhamento do equipamento utilizado (GRS/UFPE, 2012).
Propriedades da matéria orgânica para compostagem
Aeração forçada

Tratar resíduos a partir de 1 tonelada diária, em pilhas


mais elevadas (em torno de 2,5m de altura)
Propriedades da matéria orgânica para compostagem
pH

Valores ótimos para a mistura de início estão entre 5,5 e 8,0


Bactérias preferem um pH próximo do neutro
Os fungos preferem as condições ácidas
Propriedades da matéria orgânica para compostagem
Relação C/N
Carbono é fonte básica de energia para as atividades e
metabolismo dos micro-organismos
Nitrogênio é elemento essencial para síntese proteica

Inicial: 25/1 a 35/1


Final: menor ou igual 20/1

Alta: Carência nitrogênio insuficiente


para o crescimento ótimo das
populações microbianas

Baixa: o nitrogênio em excesso e se


perderá como amoníaco (NH3), criando
assim condições anaeróbias
Propriedades da matéria orgânica para compostagem

Fonte: Brasil, 2015


Qualidade do composto orgânico
INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 25, DE 23 DE JULHO DE 2009

Classe "A": matéria-prima de origem vegetal, animal ou de processamentos da


agroindústria
Classe "B": matéria-prima oriunda de processamento da atividade industrial ou da
agroindústria
Classe "C": matéria-prima oriunda de lixo domiciliar
Classe "D": matéria-prima oriunda do tratamento de despejos sanitários
Qualidade do composto orgânico
RESOLUÇÃO No 375 , DE 29 DE AGOSTO DE 2006
Emissões de GEE no Brasil

2017
Tipos de compostagem
Compostagem doméstica
Compostagem de pequena escala

Área do pátio: 2.580 m² com capacidade de 30 ton/mês

Unidades integradas em Rio Branco/AC Fonte: Brasil, 2015


Usinas de compostagem
Fernando de Noronha-PE

Fonte: Moraes, 2016


Tipos de compostagem
Pátio de compostagem da Lapa
Área do pátio: 30.000 m² com de 240 ton/mês de resíduo

52 feiras (Prefeitura Regional Lapa, prefeituras regionais de


Pirituba-Jaguaré Casa Verde, Freguesia do Ó e Pinheiros)
Compostagem de grande escala

Área do pátio: 10.000 m² com de 16.000 ton/mês de resíduo

48 mil m³ de composto orgânico


24 mil m³ de biofertilizante líquido
6 mil m³ de cinza para adubação e correção do solo

Fonte: www.ecocitrus.com.br
Tipos de compostagem
Lógica Ambiental-PE
Vantagens da compostagem

▪ Aumento da vida útil dos aterros sanitários;


▪ Aproveitamento agrícola da matéria orgânica pelo uso de
composto orgânico no solo;
▪ Biocoberturas em aterros sanitários;
▪ Exige pouca mão de obra especializada;
▪ Quando bem operadas, as unidades de compostagem não
causam poluição atmosférica ou hídrica;
▪ Geração de renda com a comercialização do composto;
Desvantagens da compostagem

▪ Requer uma separação eficiente de resíduos e um tempo de


processamento que pode chegar a 4 meses;
▪ Necessita de mercado para revender o composto;
▪ Quando mal operada, os líquidos e gases gerados podem
contaminar o meio ambiente e comprometer a qualidade de
vida;
▪ Os custos com a coleta diferenciada da fração orgânica dos
RSU são altos;
▪ Requer área relativamente grande para operação das leiras
para maturação dos resíduos;
OBRIGADA!

Ministrante: Dra. Liliana Andréa dos Santos


E-mail: liliana.santos@ufpe.br

Você também pode gostar