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literarias-construindo-o-futuro

Publicado em NOVA ESCOLA 02 de Setembro | 2017

Língua Portuguesa

MEMORIAS LITERÁRIAS
CONSTRUINDO O FUTURO
professor

Objetivo(s)

Analisar e reconhecer os gêneros literários memorialistas (autobiografia,


crônicas, correspondências, lendas, literatura de viagens, poesia, diário)
Produzir textos narrativos a partir das histórias de família
Montar albúm da família com fotos ou figuras antigas e recentes
Montar albúm de fotos da escola com os primeiros alunos e
professores
Doar para o arquivo da escola as "Memorias literárias construindo o
futuro".

Conteúdo(s)

Memorialismo literário
Genealogia
Produção de textos

Ano(s)

Tempo estimado

2º BIMESTRE EJA

Material necessário

Cópias do artigo "Exercício de otimismo", de Lya Luft (VEJA, 2322, 22 de


maio de 2013)
Cópias do poema "Vintém de cobre", de Cora Coralina
Cópias de trecho do Primeiro capítulo de "Baú de ossos", de Pedro
Nava, disponível aqui
Cópias do poema "Profundamente", de Manual Bandeira
Fotos antigas e atuais
Relatos das famílias dos alunos

Este plano de aula está ligado à seguinte reportagem de VEJA:

"Exercício de otimismo" - disponível no Acervo digital de Veja a partir de


24/05/2013

Desenvolvimento

1ª etapa

Introdução

O passado pessoal e coletivo, com suas histórias, memórias, acontecimentos


e particularidades, sempre foi uma fonte muito importante para produção
literária. Contar a própria história ou fazer dela base para construção de uma
obra ficcional é um exercício literário realizado por muitos autores. A
narrativa do passado, seja de forma realista ou saudosista, psicológica ou
sociológica, serve de excelente fonte para a leitura e produção de textos.
Autores de várias épocas e estilos criaram obras memorialistas. Muitas delas
se tornaram clássicas, e a diversidade narrativa prova que narrar os fatos do
passado pode ser bastante estimulante. A literatura de viagens, por suas
características próprias, sempre foi uma referência no gênero memorialista.
Obras que relatam as aventuras e desventuras de personagens como os
exploradores do início da colonização, como Cabeza de Vaca e Hans Staden,
as viagens de Marco Polo, ou mais recentemente, as memórias de
antropólogos, arqueólogos e exploradores, seduziram leitores de várias
partes do mundo.
A literatura também utiliza a memória como inspiração. No Brasil, autores de
várias épocas produziram obras marcadas pelo memorialismo. Taunay,
Casimiro de Abreu, Cora Coralina, Pedro Nava, Rubem Braga, Graciliano
Ramos, Lima Barreto, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e José
Lins do Rego são alguns nomes que produziram literatura sob o signo da
memória.

Comece a aula falando sobre o gênero memorialístico na literatura. Mostre


aos alunos que vários autores produziram obras com o intuito de preservar
memórias de fatos marcantes de suas vidas, dando vida a obras literárias de
grande importância.

Mostre aos alunos os vários tipos de textos literários que podem se


enquadrar no memorialismo: autobiografia, cuja característica principal é a
narrativa pessoal da própria história; correspondências, que por sua forma
pessoal e privada, acabam expondo detalhes e lembranças das vidas dos
missivistas; crônicas, em que os autores fazem uso de acontecimentos
cotidianos como inspiração; diários, por si só destinados a preservar s
memórias de quem escreve; lendas, que são histórias contadas de geração a
geração, muitas vezes baseadas em nossa memória ancestral; genealogia,
que narra a história das famílias e poesia lírica que, por sua característica
sentimental, é um gênero que muitas vezes mistura recordações, nostalgia e
memórias da vida do autor.

Ressalte que em qualquer texto memorialístico, as características principais


são: sequência narrativa (o autor conta uma história, a sua própria ou a de
outrem, em ordem direta ou indireta); confessionalismo (o tom de exposição
da própria vida, como uma forma de redimir ou explicar o passado);
subjetivismo (o autor expõe sua visão absolutamente pessoal dos fatos, por
vezes trazendo um aspecto psicológico para a narrativa).

Explique as características da crônica e diga aos alunos que objetivo desta


sequência é a produção de crônicas e poesias a partir de suas próprias
memórias ou da sua memória familiar.

Utilize o texto de Lya Luft (VEJA, 22 de maio de 2013) como ponto de partida
para estimular os alunos a produzir textos narrativos a partir de suas
memórias individuais e familiares. Peça que leiam e que observem o tom
memorialístico, especialmente no trecho em que a autora cita sua relação
com a mãe em tom saudoso e alegre, ainda que nostálgico.

Ao final da aula, peça para os alunos pesquisarem a história de suas famílias.


Oriente-os a perguntar aos pais e outros familiares sobre fatos marcantes da
história familiar (pais, tios, avós e bisavós). Datas e locais de nascimentos e
falecimentos, origens, ocupação, formação, além de acontecimentos
marcantes como viagens, participação em momentos históricos, ou até
mesmo histórias peculiares, trágicas ou engraçadas, podem ser anotadas.
Deixe claro, entretanto, que o objetivo é apenas recolher os dados, pois a
produção será feita nas aulas seguintes.

2ª etapa

Distribua aos alunos cópias do poema "Vintém de cobre", de Cora Coralina, e


oriente a leitura, pedindo que observem o tom confessional, autobiográfico,
nostálgico e subjetivo presente no poema.

Vintém de cobre (freudiana)

Eu vestia um antigo mandrião


de uma saia velha de minha bisavó.
Eu vestia um timão feio
de pedaços, de restos de baeta.
Vintém de cobre:
ainda o vejo
ainda o sinto
ainda o tenho
na mão fechada.

Vintém de cobre:
dinheiro antigo.
Moeda escura,
recolhida, desusada.
Feia, triste, pesada.

Corenta. Vintém. Derréis.


Dinheiro curto, escasso.
Parco. Parcimonioso
de gente pobre,
da minha terra,
da minha casa,
da minha infância.

Vintém de cobre:
Economia. Poupança.
A casa pobre.

Mandrião de saias velhas.


Timão de restos de baeta.
Colchas de retalhos desbotados.
Panos grosseiros, encardidos, remendados.
Vida sedentária.
Velhos preconceitos.
Orgulho e grandeza do passado.

Pé-de-meia sempre vazio.


E o sonho de ajuntar.
Melhorar de vida, prosperar,
num esforço inútil e tardio.

Corenta, vintém, derréis...


Eu ajuntando.
Mudando de caixinha, mudando de lugar,
Diziam, caçoando, as meninas da escola:
"- Muda de lugar que ele aumenta..."
Eu acreditava.
Guardava cinquinho a cinquinho
na esperança irrealizada
de inteirar quinhentos réis.

Fui criança do tempo do cinquinho,


do tempo do vintém.
Do antigo mandrião
de saias velhas da vovó.
De cobertas de retalho,
de panos grosseiros encardidos,
remendados.
De velhos preconceitos
- orgulho e grandeza do passado.
Opulência. Posição social.
Sesmarias. Escravatura.
Caixas de lavrado.
Parentes emproados.
Brigadeiros. Comendadores,
visitando a Corte,
recebidos no Paço.
Decadência...
Tempos anacrônicos, superados.

Fui menina do tempo do vintém.


Do timão de restos de baeta.
Fiquei sempre no tempo do cinquinho.

No tempo dos adágios que os velhos


sentenciavam
enfáticos e solenes:
"- Quem nasce pra derréis não chega a vintém."
Pessimismo recalcando
aquele que pensava evoluir.

"Vintém poupado, vintém ganhado."


Estatuto econômico. Mote gravado
no corpo de algumas emissões.
"Na pataca da miséria o diabo tem sempre um vintém."
Isto se dizia, quando moça pobre se perdia.
"Quem compra o extraordinário
vê-se obrigado a vender o necessário."
Doía... impressionava.
Era a Sabedoria que falava.

E a gente sentia até uma lagrimazinha de remorso


no canto do olho.
E se via mesmo de trouxinha na cabeça,
andando de déu em déu,
perseguida dos credores.
A casinha penhorada.
Os trenzinhos dados à praça.
Tudo irrecuperado, perdido,
porque tinha comprado o extraordinário:
um vestido de chita cor-de-rosa
pintadinho de azul.

O tempo foi passando, foi levando:


minha bisavó, meu avô, minha mãe, minhas irmãs.
A velha casa.
Os velhos preconceitos
de cor, de classe, de família.
O tempo, velho tempo que passou,
nivelou muros e monturos.
Remarcou dentro de mim
a menina magricela, amarela,
inassimilada,
do tempo do cinquinho.

Eu tinha um timão de restos de baeta.


Eu tinha um mandrião de uma saia velha
de minha bisavó.

Vintém de cobre:
Ainda o vejo
ainda o sinto
ainda o tenho
na mão fechada.
Moeda triste,
escura, pesada,
da minha infância,
da casa pobre.

Cora Coralina. In: Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. Editora
Global, 2005.

Observe também que um texto memorialístico literário é marcado por sua


capacidade de fazer uma análise contextual do tempo a que se refere a partir
de uma memória pessoal, aparentemente sem grande relevância. A poetisa
Cora Coralina consagrou-se por sua poesia ter se tornado uma espécie de
"guardiã" de um passado remoto, tornando-o perene e atemporal.

Outro autor que pode servir de parâmetro para uma compreensão mais
aprofundada do memorialismo é o mineiro Pedro Nava. Toda sua obra está
baseada em aspectos memorialísticos bastante pessoais. Ao narrar sua
história e de sua própria família, ele analisa aspectos determinantes da
passagem do século 19 o século 20. Em muitos aspectos, Nava teve sua obra
comparada com a de Marcel Proust, autor do clássico da literatura moderna
"Em busca do tempo perdido", cujos sete volumes têm como centro a
questão da memória pessoal enquanto um processo de compreensão da
passagem do tempo.

Selecione um trecho da obra "Baú de ossos" de Pedro Nava e leia para a


turma, procurando enfatizar o aspecto memorialístico contrapondo-se a um
contexto histórico e social.

Após a leitura, selecione alguns alunos e peça que contem quais as histórias
que encontraram. Estimule a turma a refletir sobre como as memórias
familiares são parte da formação individual de cada um de nós. Temos em
nós características de nossos ancestrais, mesmo os mais antigos? De que
forma a definição da família como um núcleo social identificado por suas
características é fruto dessa ancestralidade? Qual o papel da tradição na
formação de nosso caráter? Essas reflexões poderão direcionar a produção
dos textos, ao final da sequência.

Distribua à turma cópias de "Profundamente", de Manual Bandeira. Evidencie


a presença da nostalgia quase trágica no poema, que fala da perda da
inocência e da orfandade do poeta, ao retratar metaforicamente seus
familiares (e suas memórias de tempos felizes da infância) dormindo
profundamente - ou seja, os mortos, vivem apenas na memória, destacada no
poema. É interessante fazer uma comparação com o poema "Vintém de
cobre", de Cora Coralina, que tem um tom de nostalgia parecido com o de
Bandeira.

Profundamente

Quando ontem adormeci


Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
- Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
*
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
- Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.

Manuel Bandeira. In: Estrela da vida inteira. Editora Nova Fronteira, 1994.

Finalize propondo uma atividade de produção de textos. A ideia é que, a


partir dos modelos literários analisados, os alunos produzam
individualmente, na forma de crônica, poema ou uma narrativa semificcional,
narrativas que tratem de histórias sobre sua própria família ou memórias
pessoais.

Alguns assuntos que podem render boas narrativas: o modo como os pais se
conheceram e se casaram; a história de algum familiar que tenha imigrado; a
participação de familiar em algum acontecimento histórico marcante; o
estabelecimento da família em outra bairro, cidade ou país; algum familiar
que tenha se destacado em alguma atividade. Mesmo uma memória pessoal
marcante pode render um bom texto. Deixe-os livres para optar pela forma,
que pode ser prosa ou poesia. O texto pode ser iniciado na sala de aula e
finalizado em casa. Ao final do trabalho, digite os textos, monte um painel
com as memórias e histórias descritas e exponha para o restante da escola.

Como encerramento, indique aos alunos a leitura de uma obra


memorialística. Algumas sugestões: o livro "Poemas dos becos de Goiás e
estórias mais", de Cora Coralina; "Baú de ossos", de Pedro Nava; "Memórias
do cárcere", de Graciliano Ramos; "Verdade tropical", de Caetano Veloso; "O
primeiro terço", do escritor americano Neal Cassidy.

Avaliação

Avaliar se seus alunos foram capazes de compreender a importância do


gênero memorialístico para a literatura; e também se conseguiram produzir
narrativas coerentes e coesas, a partir das memórias de sua família. Procurar
valorizar as histórias narradas, mas avaliando os aspectos criativos e formais
da construção dos textos. Também se os alunos conseguiram distinguir os
diferentes gêneros literários memorialísticos. Esses métodos serão usados no
momento da exposição da narrativa: Depois da entrega do trabalho:
"Memórias literarias construindo o futuro" os alunos farão uma breve
exposição para outras turmas, deixando essa narrativa para o arquivo da
escola com o intuito de coloborar com a futura história da escola.

Flexibilização

Flexibilidade que usarei será encima do conhecimento que tenho dos alunos
desta escola. Pois os mesmos foram desprovidos de uma
educação qualitativa e quantitativa no transcurso de sua vida escolar, a falta
de professores qualificados, estrutura física da escola, merenda escolar e
orientação pedagógica, área indígena e de dificil acesso,tudo isso e muito
mais, contribuiram para esta deficiência intelectual privando os mesmos de
acompanhar a aceleração da educação atual.

Deficiências

Intelectual

Créditos: André Rosa Formação: Professor de Literatura e Mestre em


Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), PR

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