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E.E.E.

MÉDIO TANCREDO DE ALMEIDA NEVES

CRONOGRAMA DE ESTUDO 2021

CLASSROOM (SALA DE AULA)

PROFESSORA: ANTONIA MARIA RAMOS

COMPONENTE CURRICULAR: LÍNGUA PORTUGUESA

TURMAS: 1º ANO A, B, C, D, E, e H.

PERÍODO PARA REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES: 24 DE FEVEREIRO A 3 DE MARÇO

CARGA HORÁRIA: 4 AULAS

CONTEÚDO A SER TRABALHADO: LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS, CONCEITO E


FUNÇÕES DA LITERATURA.

ATIVIDADES: Para darmos início ao estudo de Literatura, você lerá textos variados. Lembre-se
que lidamos com linguagens o tempo todo. Mesmo textos escritos há séculos atrás guardam
relações com obras atuais, pois Literatura e seus temas não se encerram em determinado
período, mas se transformam ao longo do tempo, em um fluxo contínuo, à medida que a
sociedade e os sujeitos igualmente se modificam.

Você vai ler, a seguir, dois textos. O primeiro,“José”, de autoria de Carlos Drummond de
Andrade, é um dos mais importantes poemas da literatura brasileira; o segundo é a letra de
uma canção de Gabriel, o Pensador.

José
E agora José? Está sem mulher, e tudo fugiu

a festa acabou, está sem discurso, e tudo mofou,

a luz apagou, está sem carinho, e agora, José?

o povo sumiu, já não pode beber,

a noite esfriou, já não pode fumar, E agora, José?

e agora, José? cuspir já não pode, sua doce palavra,

e agora, você? a noite esfriou, seu instante de febre,

Você que é sem nome o dia não veio, sua gula e jejum,

que zomba dos outros, o bonde não veio, sua biblioteca,

você que faz versos, o riso não veio, sua lavra de ouro,

que ama, protesta? não veio a utopia, seu terno de vidro,

e agora, José? e tudo acabou sua incoerência,

seu ódio – e agora?


Com a chave na mão Se você gritasse, Sozinho no escuro

quer abrir a porta, se você gemesse, qual bicho do mato,

não existe porta; se você tocasse sem teogonia

quer morrer no mar, a valsa vienense, sem parede nua

mas o mar secou; se você dormisse, pra se encostar,

quer ir para Minas, se você cansasse, sem cavalo preto

Minas não há mais. Se você morresse... que fuja a galope,

José, e agora? Mas você não morre, você marcha, José!

Você é duro, José! José, para onde?

Vocabulário

teogonia: conjunto de divindades de um povo.

utopia: lugar ou estado ideal, de completa felicidade e harmonia entre os indivíduos, fantasia,
quimera.

Texto 2 : Tem alguém aí?


Antes era só alegria, o mundo não mordia.

A vida era doce, nem ardia!

Mas aí um dia, ou quem sabe dois ou três, eu... só queria superar a timidez...

Eu queria fazer parte de alguma coisa.

Se crescer já é difícil, crescer sozinho é mais.

A gente tem que dar um jeito de gostar de alguma coisa.

A gente tem que dar um jeito... de ficar satisfeito!

Mas o tempo passa, e se a vida é sem graça, a gente disfarça, na mesa do jantar.

Pra depois tentar desabafar numa conversa, mas ninguém se interessa,

na mesa do bar!

Ninguém tá escutando o que eu quero dizer!

Ninguém tá me dizendo o que eu quero escutar!

Ninguém tá explicando o que eu quero entender!

Ninguém tá entendendo o que eu quero explicar!

Conversa vazia, cabeça vazia de prazer, cheia de dúvida e de vontade de

fazer qualquer loucura que pareça aventura.

Qualquer experiência que altere o estado de consciência.


E que te dê a sensação de que você não tá perdido.

Que alguém te dá ouvidos. Que a vida faz sentido!

Chega! Não, eu quero mais!

Bebe, fuma, cheira, tanto faz.

Droga é aquela substância responsável por tornar a sua vida aparentemente mais suportável.

Confortável ilusão: parece liberdade e na verdade é uma prisão.

[...]

Ninguém prepara o jovem, nem os pais nem a TV, pra botar o pé na estrada

e não se perder.

Ninguém prepara o jovem pra saber o que fazer quando bater na porta e

ninguém atender.

Ninguém me dá a chave pra abrir a porta certa, mas a porta errada eu

encontro sempre aberta!

Entrar numa roubada é mais fácil que sair.

Tem alguém aí?

[...]

(Gabriel, o Pensador/Homero Junior/

1.A quem o eu lírico do poema “José” se dirige, isto é, com quem ele fala?

2. O poema descreve José aos poucos, por meio de imagens, como a destes

versos:

“está sem discurso,

está sem carinho,”

“a noite esfriou,

o bonde não veio,

o riso não veio”

a. Qual é a situação de José? Comprove sua resposta com elementos do

poema.

b. A morte poderia ser, enfim, uma saída para José? Por quê?
3. Observe estes trechos do poema:

“você que é sem nome, “ sua doce palavra,

que zomba dos outros, seu instante de febre,

você que faz versos, sua gula e jejum,

que ama, protesta? sua biblioteca,

e agora, José?” sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

seu ódio—e agora?

a.Levante hipóteses: Quem é José? Justifique sua resposta.

b- Por que a expressão ”e agora? “é usada insistentemente no poema?

4. O poema “José” foi publicado em 1942, momento em que acontecia a

Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Considerando esse contexto histórico do poema,


conclua:

a. O que ou quem José representa?

b. O que representa o beco sem saída em que José está?

c. Que sentido adquire o verso final: “José, para onde?”

5. Considere agora a letra da canção “Tem alguém aí?”. A voz que fala nos poemas e canções é
chamada de eu lírico. Nem sempre ela coincide com a voz do poeta.

a. Quem é o eu lírico da canção?

b. A que tempo ele se refere no verso “Antes era só alegria, o mundo não mordia”?

c. Como o eu lírico se sente em relação ao mundo e às pessoas com quem convive?

6. O eu lírico da canção também se encontra em um beco sem saída. a- Que tipo de beco sem
saída é esse?
b. O que o teria levado a essa situação?

c. De acordo com o ponto de vista expresso na canção, as drogas são uma saída para

o jovem? Justifique com elementos do texto.

O próximo texto é somente para leitura.

Funções da literatura
Da mesma forma que o conceito de literatura tem mudado historicamente, a função ou o
papel que essa forma de expressão cumpre socialmente também tem variado, de acordo com
o momento e com o grupo que a produz. A função da literatura nem sempre é intencional, isto
é, quem produz literatura não tem necessariamente um objetivo específico com sua produção.
Entretanto, ao serem publicados, os textos de alguma maneira interferem na realidade social.
Em certas épocas, por exemplo, a literatura assume uma função predominantemente lúdica;
em outras, uma função filosófica e pedagógica; em outras, uma função política, ideológica e
até panfletária. Conheça algumas das funções atribuídas à literatura.

Literatura como arte da palavra


Enquanto arte da palavra, a literatura é linguagem artística, rica em sentidos, em
sonoridades e imagens. O poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade, por exemplo,
explora vários desses recursos, como ritmo (“A festa acabou / a luz apagou”), sonoridades (“se
você tocasse / a valsa vienense”), imagens (“lavra de ouro”, “terno de vidro”).

Literatura como recriação da realidade


O escritor literário recria a realidade a partir de sua visão particular. No poema “José”, por
exemplo, Drummond parte de uma realidade concreta, o contexto da Segunda Guerra
Mundial, e cria uma realidade ficcional — a de um José acuado e sem saídas — para transmitir
o sentimento de perplexidade e de opressão que se vivia naquele momento histórico. Quando
Antonio Candido afirma que todo ser humano tem necessidade de se descolar da realidade
cotidiana e usufruir de um “universo fabulado”, ele se refere ao universo ficcional criado pela
literatura.

Literatura como prazer


Ao defender o “direito à leitura”, Antonio Candido leva em conta que toda pessoa,
independentemente de seu nível social ou de sua escolaridade, tem direito ao prazer
proporcionado pela literatura e pela arte. Usufruir da beleza de um texto literário ou da
riqueza de recursos utilizados em uma obra de arte, ouvir música, assistir a uma peça de teatro
ou a um bom filme são atividades que nos proporcionam prazer, fruição estética. Para Antonio
Candido, esse é um direito de todos. O poema “José”, embora reflita sobre um momento
crítico da história da humanidade, nos proporciona, por meio de seus recursos poéticos, uma
experiência estética prazerosa e enriquecedora.
Literatura como experiência
A literatura nos permite ampliar nossas experiências, embora por meio de vivências
experimentadas em um mundo ficcional. Veja o que diz sobre isso Luzia de Maria:

Quando pegamos um livro para ler, um romance ou mesmo um ensaio, ou até mesmo um
jornal ou revista, o que nos move é muito mais a experiência e o prazer que essa leitura nos
proporciona do que simplesmente a busca de informação. [...] a leitura, enquanto
oportunidade de enriquecimento e acumulação de experiências, se torna primordial na
formação do ser humano. O que é experiência? Não pode ser medida e não é facilmente
definida. Talvez nem precise de definições. A experiência é sinônimo de estar vivo, criando e
explorando, interagindo com mundos — reais, possíveis e inventados. (Leitura e colheita.
Petrópolis: Vozes, 2002. p. 23.)

Literatura como interação e transformação


A literatura também é comunicação e, como tal, tem a capacidade de promover a
interação entre pessoas e tocá-las ou transformá-las. O escritor Rubem Alves descreve assim
essa capacidade da palavra literária:

Toda alma é uma música que se toca. Quis muito ser pianista. Fracassei. Não tinha
talento. Mas descobri que posso fazer música com palavras. Assim, toco a minha música…
Outras pessoas, ouvindo a minha música, podem sentir sua carne reverberando como um
instrumento musical. Quando isso acontece, sei que não estou só. Se alguém, lendo o que
escrevo, sente um movimento na alma, é porque somos iguais. A poesia revela a comunhão.
(Na morada das palavras. Campinas: Papirus, 2003. p. 71.)

Muitas vezes, a literatura ganha conotação político-social e se torna expressão artística e


ideológica de um povo. Como exemplo desse papel da literatura, veja os versos a seguir, do
poeta afro-brasileiro Adão Ventura, que expressam o protesto do autor contra a condição do
negro após o fim da escravidão

AGORA

É hora É hora

de amolar a foice de sair do gueto/eito

e cortar o pescoço do cão. senzala

— Não deixar que ele rosne e vir para a sala

nos quintais nosso lugar é junto ao Sol.

da África.

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