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Tópicos de Matemática Elementar Vol. V
Tópicos de Matemática Elementar Vol. V
Comitê Editorial
Bernardo Lima y l (p-l)q
Djairo de Figueiredo -1 (p-
2 I 2p )
Ronaldo Garcia (Editor-Chefe) 2
José Espinar
JoséCuminato
Sílvia Lopes
Capa
Pablo Diego Regino
Distribuição e vendas
Sociedade Brasileira de Matemática
Estrada DonàCastorina, 110 Sala 109 - Jardim Botânico
22460-320 Rio de Janeiro RJ !1
Telefones: (21) 2529-5073 / 2529-5095 p
http://www.sbm.org.br / email:lojavirtual@sbm.org.br X
1 J p-l
ISBN 978-85-85818-87-6 2
2ª edição
MUNIZ NETO, Antonio Caminha. 2ª impressão
Tópicos de Matemática Elementar: teoria dos números / Caminha Muniz 2014
Rio de Janeiro
-2.ed. -- Rio de Janeiro: SBM, 2013.
v.5 ; 263p. (Coleção Professor de Matemática; 28)
ISBN 978-85-85818-87-6
Logaritmos - E. L. Lima
Análise Combinatória e Probabilidade com as soluções dos exercícios -
A. C. Morgado, J. B. Pitombeira, P. C. P. Carvalho e P. Fernandez
Medida e Forma em Geometria (Comprimento, Área, Volume e Semelhança) -
E. L. Lima
Meu Professor de Matemática e outras Histórias - E. L. Lima
Coordenadas no Plano com as soluções dos exercícios - E. L. Lima com a
colaboração de P. C. P. Carvalho
Trigonometria, Números Complexos - M. P. do Carmo, A. C. Morgado e E. Wagner,
Notas Históricas de J. B. Pitombeira
Coordenadas no Espaço - E. L. Lima
Progressões e Matemática Financeira - A. C. Morgado, E. Wagner e S. C. Zani
Construções Geométricas - E. Wagner com a colaboração de J. P. Q. Carneiro
Introdução à Geometria Espacial - P. C. P. Carvalho
Geometria Euclidiana Plana - J. L. M. Barbosa
Isometrias - E. L. Lima
A Matemática do Ensino Médio Vol. 1 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
A Matemática do Ensino Médio Vol. 2 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
A Matemática do Ensino Médio Vol. 3 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
Matemática e Ensino - E. L. Lima
Temas e Problemas - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e A. C. Morgado
Episódios da História Antiga da Matemática - A. Aaboe
Exame de Textos: Análise de livros de Matemática - E. L. Lima
A Matemática do Ensino Media Vol. 4 - Exercicios e Soluções - E. L. Lima, P. C. P.
Carvalho, E. Wagner e A. C. Morgado
Construções Geométricas: Exercícios e Soluções - S. Lima Netto
Um Convite à Matemática - D.C de Morais Filho
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 1 - Números Reais - A. Caminha
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 2 - Geometria Euclidiana Plana - A.
Caminha
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 3 - Introdução à Análise - A. Caminha
A meus filhos Gabriel e Isabela,
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 4 - Combinatória - A. Caminha na esperança de que um dia leiam este livro.
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 5 - Teoria dos Números - A. Caminha
rr
11
Sumário
1 Divisibilidade 1
1.1 O algoritmo da divisão 2
1.2 MDC e MMC .. 13
1.3 Números primos .. 35
2 Equações Diofantinas 51
2.1 Ternos Pitagóricos 51
2.2 A equação de Pell . 62
8 Sugestões e Soluções 209 Esta coleção evoluiu a partir de sessões de treinamento para olim-
píadas de Matemática, por mim ministradas para alunos e professores
Referências 241 do Ensino Médio, várias vezes ao longo dos anos de 1992 a 2003 e,
mais recentemente, como orientador do Programa de Iniciação Cien-
A Glossário 243 tífica para os premiados na Olimpíada Brasileira de Matemática das
Escolas Públicas (OBMEP) e do Projeto Amílcar Cabral de coopera-
ção educacional entre Brasil e Cabo Verde.
Idealmente, planejei o texto como uma mistura entre uma iniciação
suave e essencialmente autocontida ao fascinante mundo das competi-
ções de Matemática, além de uma bibliografia auxiliar aos estudantes
e professores do secundário interessados em aprofundar seus conhe-
cimentos matemáticos. Resumidamente, seu propósito primordial é
apresentar ao leitor uma abordagem de quase todos os conteúdos ge-
ralmente constantes dos currículos do secundário, e que seja ao mesmo
tempo concisa, não excessivamente tersa, logicamente estruturada e
mais aprofundada que a usual.
Na estruturação dos livros, me ative à máxima do eminente mate-
mático húngaro-americano George Pólya, que dizia não se poder fazer
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,,
Matemática sem sujar as mãos. Assim sendo, em vários pontos dei- tes dos livros-texto do secundário, fazem sua aparição. Numa terceira
xei a cargo do leitor a tarefa de verificar aspectos não centrais aos etapa, o texto apresenta outros métodos elementares usuais no estudo
desenvolvimentos principais, quer na forma de detalhes omitidos em da geometria, quais sejam, o método analítico de R. Descartes, a tri-
demonstrações, quer na de extensões secundárias da teoria. Nestes ca- gonometria e o uso de vetores; por sua vez, tais métodos são utilizados
sos, frequentemente referi o leitor a problemas específicos, os quais se tanto para reobter resultados anteriores de outra(s) maneira(s) quanto
encontram marcados com* e cuja análise e solução considero parte in- para deduzir novos resultados.
tegrante e essencial do texto. Colecionei ainda, em cada seção, outros De posse do traquejo algébrico construído no volume inicial e do
tantos problemas, cuidadosamente escolhidos na direção de exercitar aparato geométrico do volume dois, discorremos no volume três sobre
os resultados principais elencados ao longo da discussão, bem como aspectos elementares de funções e certos excertos de cálculo diferencial
estendê-los. Uns poucos destes problemas são quase imediatos, ao e integral e análise matemática, os quais se fazem necessários em cer-
passo que a maioria, para os quais via de regra oferto sugestões preci- tos pontos dos três volumes restantes. Prescindindo, inicialmente, das
sas, é razoavelmente difícil; no entanto, insto veementemente o leitor a noções básicas do Cálculo, elaboramos, dentre outros, as noções de
debruçar-se sobre o maior número possível deles por tempo suficiente gráfico, monotonicidade e extremos de funções, bem como examina-
para, ainda que não os resolva todos, passar a apreciá-los como corpo mos o problema da determinação de funções definidas implicitamente
de conhecimento adquirido. por relações algébricas. Na continuação, o conceito de função contínua
O primeiro volume discorre sobre vários aspectos relevantes do con- é apresentado, primeiramente de forma intuitiva e, em seguida, axio-
junto dos números reais e de álgebra elementar, no intuito de munir o mática, sendo demonstrados os principais resultados pertinentes. Em
leitor dos requisitos necessários ao estudo dos tópicos constantes dos especial, utilizamos este conceito para estudar a convexidade de gráfi-
volumes subsequentes. Após começar com uma discussão não axiomá- cos - culminando com a demonstração da desigualdade de J. Jensen -
tica das propriedades mais elementares dos números reais, são aborda- e o problema da definição rigorosa da área sob o gráfico de uma fun-
dos, em seguida, produtos notáveis, equações e sistemas de equações, ção contínua e positiva - que, por sua vez, possibilita a apresentação
sequências elementares, indução matemática e números binomiais; o de uma construção adequada das funções logaritmo natural e expo-
texto finda com a discussão de várias desigualdades algébricas impor- nencial. O volume três termina com uma discussão das propriedades
tantes, notadamente aquela entre as médias aritmética e geométrica, mais elementares de derivadas e do teorema fundamental do cálculo,
bem como as desigualdades de Cauchy, de Chebychev e de Abel. os quais são mais uma vez aplicados ao estudo de desigualdades, em
Dedicamos o segundo volume a uma iniciação do leitor à geometria especial da desigualdade entre as médias de potências.
Euclidiana plana, inicialmente de forma não axiomática e enfatizando O volume quatro é devotado à análise combinatória. Começamos
construções geométricas elementares. Entretanto, à medida em que o revisando as técnicas mais elementares de contagem, enfatizando as
texto evolui, o método sintético de Euclides - e, consequentemente, construções de bijeções e argumentos recursivos como estratégias bá-
demonstrações - ganha importância, principalmente com a discussão sicas. Na continuação, apresentamos um apanhado de métodos de
dos conceitos de congruência e semelhança de triângulos; a partir desse contagem um tanto mais sofisticados, como o princípio da inclusão
ponto, vários belos teoremas clássicos da geometria, usualmente ausen- exclusão e os métodos de contagem dupla, do número de classes de
Prefácio à primeira edição Prefácio à primeira edição
equivalência e mediante o emprego de métricas em conjuntos finitos. exemplos discutidos e dos problemas propostos ao longo do texto, boa
A cena é então ocupada por funções geradoras, onde a teoria elementar parte dos quais oriundos de variadas competições ao redor do mundo.
de séries de potências nos permite discutir de outra maneira problemas Finalmente, números complexos e polinômios são os objetos de
antigos e introduzir problemas novos, antes inacessíveis. Terminada estudo do sexto e último volume da coleção. Para além da teoria
nossa excursão pelo mundo da contagem, enveredamos pelo estudo do correspondente usualmente estudada no secundário - como a noção
problema da existência de uma configuração especial no universo das de grau, o algoritmo da divisão e o conceito de raízes de polinômios
configurações possíveis, utilizando para tanto o princípio das gavetas -, vários são os tópicos não padrão abordados aqui. Dentre outros,
de G. L. Dirichlet - vulgo "princípio das casas dos pombos" -, um destacamos inicialmente a utilização de números complexos e polinô-
célebre teorema de R. Dilworth e a procura e análise de invariantes mios como ferramentas de contagem e a apresentação quase completa
associados a problemas algorítmicos. A última estrutura combinatória de uma das mais simples demonstrações do teorema fundamental da
que discutimos é a de um grafo, quando apresentamos os conceitos bá- álgebra. A seguir, estudamos o famoso teorema de I. Newton sobre
sicos usuais da teoria com vistas à discussão de três teoremas clássicos polinômios simétricos e as igualmente famosas desigualdades de New-
importantes: a caracterização da existência de caminhos Eulerianos, ton, as quais estendem a desigualdade entre as médias aritmética e
o teorema de A. Cayley sobre o número de árvores rotuladas e o teo- geométrica. O próximo tema concerne os aspectos básicos da teoria
rema extremal de P. Turán sobre a existência de subgrafos completos de interpolação de polinômios, quando dispensamos especial atenção
em um grafo. aos polinômios interpoladores de J. L. Lagrange. Estes, por sua vez,
Passamos em seguida, no quinto volume, à discussão dos conceitos são utilizados para resolver sistemas lineares de Vandermonde sem o
e resultados mais elementares de teoria dos números, ressaltando-se recurso à álgebra linear, os quais, a seu turno, possibilitam o estudo
inicialmente a teoria básica do máximo divisor comum e o teorema de uma classe particular de sequências recorrentes lineares. O livro
fundamental da aritmética. Discutimos também o método da descida termina com o estudo das propriedades de fatoração de polinômios
de P. de Fermat como ferramenta para provar a inexistência de solu- com coeficientes inteiros, racionais ou pertencentes ao conjunto das
ções inteiras para certas equações diofantinas, e resolvemos também classes de congruência relativas a algum módulo primo, seguido do
a famosa equação de J. Pell. Em seguida, preparamos o terreno para estudo do conceito de número algébrico. Há, aqui, dois pontos cul-
a discussão do famoso teorema de Euler sobre congruências, constru- minantes: por um lado, uma prova mais simples do fechamento do
indo a igualmente famosa função de Euler com o auxílio da teoria mais conjunto dos números algébricos em relação às operações aritméticas
geral de funções aritméticas multiplicativas. A partir daí, o livro apre- básicas; por outro, o emprego de polinômios ciclotômicos para provar
senta formalmente o conceito de congruência de números em relação a um caso particular do teorema de Dirichlet sobre primos em progres-
um certo módulo, discutindo extensivamente os resultados usualmente sões aritméticas.
constantes dos cursos introdutórios sobre o assunto, incluindo raízes Várias pessoas contribuíram ao longo dos anos, direta ou indire-
primitivas, resíduos quadráticos e o teorema de Fermat de caracteriza- tamente, para que um punhado de anotações em cadernos pudesse
ção dos inteiros que podem ser escritos como soma de dois quadrados. transformar-se nesta coleção de livros. Os ex-professores do Departa-
O grande diferencial aqui, do nosso ponto de vista, é o calibre dos mento de Matemática da Universidade Federal do Ceará, Marcondes
Prefácio à primeira edição Prefácio à primeira edição
Cavalcante França, João Marques Pereira, Guilherme Lincoln Aguiar ram várias sug~stões. Os pareceristas indicados pela SBM opinaram
Ellery e Raimundo Thompson Gonçalves, ao criarem a Olimpíada Cea- decisivamente para que os livros certamente resultassem melhores que
rense de Matemática na década de 1980, motivaram centenas de jovens a versão inicial por mim submetida. O presidente da SBM, professor
cearenses, dentre os quais eu me encontrava, a estudarem mais Ma- Hilário Alencar da Silva, o antigo editor-chefe da SBM, professor Ro-
temática. Meu ex-professor do Colégio Militar de Fortaleza, Antônio berto Imbuzeiro de Oliveira, bem como o novo editor-chefe, professor
Valdenísio Bezerra, ao convidar-me, inicialmente para assistir a suas Abramo Refez, foram sempre extremamente solícitos e atenciosos co-
aulas de treinamento para a Olimpíada Cearense de Matemática e pos- migo ao longo de todo o processo de edição. Por fim, quaisquer erros
teriormente para dar aulas consigo, iniciou-me no maravilhoso mundo ou incongruências que ainda se façam presentes, ou omissões na lista
das competições de Matemática e influenciou definitivamente minha acima, são de minha inteira responsabilidade.
escolha profissional. Os comentários de muitos de vários de ex-alunos Por fim e principalmente, gostaria de agradecer a meus pais, Anto-
contribuíram muito para o formato final de boa parte do material nio Caminha Muniz Filho e Rosemary Carvalho Caminha Muniz, e à
aqui colecionado; nesse sentido, agradeço especialmente à João Luiz minha esposa Mônica Valesca Mota Caminha Muniz. Meus pais me fi-
de Alencar Araripe Falcão, Roney Rodger Sales de Castro, Marcelo zeram compreender a importância do conhecimento desde a mais tenra
Mendes de Oliveira, Marcondes Cavalcante França Jr., Marcelo Cruz idade, sem nunca terem medido esforços para que eu e meus irmãos
de Souza, Eduardo Cabral Balreira, Breno de Alencar Araripe Falcão, desfrutássemos o melhor ensino disponível; minha esposa brindou-me
Fabrício Siqueira Benevides, Rui Facundo Vigelis, Daniel Pinheiro So- com a harmonia e o incentivo necessários à manutenção de meu ânimo
breira, Antônia Taline de Souza Mendonça, Carlos Augusto David Ri- e humor, em longos meses de trabalho solitário nas madrugadas. Esta
beiro, Samuel Barbosa Feitosa, Davi Máximo Alexandrino Nogueira coleção de livros também é dedicada a eles.
e Yuri Gomes Lima. Vários de meus colegas professores teceram co-
mentários pertinentes, os quais foram incorporados ao texto de uma
ou outra maneira; agradeço, em especial, a Fláudio José Gonçalves,
Francisco José da Silva Jr., Onofre Campos da Silva Farias, Emanuel FORTALEZA, JANEIRO de 2012
Augusto de Souza Carneiro, Marcelo Mendes de Oliveira, Samuel Bar-
bosa Feitosa e Francisco Bruno de Lima Holanda. Os professores João
Antonio Caminha M. Neto
Lucas Barbosa e Hélio Barros deram-me a conclusão de parte destas
notas como alvo a perseguir ao me convidarem a participar do Pro-
jeto Amílcar Cabral de treinamento dos professores de Matemática da
República do Cabo Verde. Meus colegas do Departamento de Mate-
mática da Universidade Federal do Ceará, Abdênago Alves de Barros,
José Othon Dantas Lopes, José Robério Rogério e Fernanda Esther
Camillo Camargo, bem como meu orientando de iniciação científica
Itamar Sales de Oliveira Filho, leram partes do texto final e oferece-
Prefácio à primeira edição
Para a segunda edição fiz uma extensa revisão do texto e dos pro-
blemas propostos, corrigindo várias imprecisões de língua portuguesa
e de Matemática. Adicionei também alguns problemas novos, no in-
tuito de melhor exercitar certos pontos da teoria, os quais não se en-
contravam adequadamente contemplados pelos problemas propostos
à primeira edição. Diferentemente da primeira edição, nesta segunda
edição as sugestões e soluções aos problemas propostos foram cole-
cionadas em um capítulo separado (o capítulo 8, para este volume);
adicionalmente, apresentei sugestões ou soluções a praticamente todos
os problemas do livro.
Por fim, gostaria de aproveitar o ensejo para agradecer à comu-
nidade matemática brasileira, em geral, e a todos os leitores que me
enviaram sugestões ou correções, em particular, o excelente acolhi-
mento desfrutado pela primeira edição desta obra.
CAPÍTULO 1
Divisibilidade
1
1
1.
2 Divisibilidade 1.1 O algoritmo da divisão 3
1.1 O algoritmo da divisão Como ak-l + ak- 2b+ · · · + abk- 2 + bk-l E Z, basta usar a definição 1.1.
são os ímpares. Assim, todo ímpar é igual a um par mais 1, de modo j=O J j=O J
que podemos denotar um inteiro ímpar genérico escrevendo 2k + 1,
onde k E Z.
novamente um múltiplo de 9.
•
A proposição a seguir estabelece algumas propriedades básicas da
Exemplo 1.3. Dados a, b inteiros e k natural, temos que:
relação de divisibilidade, as quais o leitor deve guardar para uso futuro.
(a) Se a-/=- b, então (a - b) 1 (ak - bk). Proposição 1.5. Sejam a, b, e inteiros não nulos e x, y inteiros quais-
quer.
(b) Se a-/=- -b e k for ímpar, então (a+ b) 1 (ak + bk).
Solução. (a) Se b I a e a I b, então a = ±b.
(a) Sabemos, do problema 2.1.18 do volume 1 que (b) Se e I b e b I a, então e I a.
ak - bk = (a - b)(ak-1 + ak-2b + ... + abk-2 + bk-1). (c) Se e I a e e I b, então e 1 ( ax + by).
4 Divisibilidade 1.1 O algoritmo da divisão 5
(e) Se e I b, então e I ab. i. Como caso particular do item (c) da proposição anterior, se e I a
e e I b, então e 1 (a± b). Utilizaremos essa observação várias
(f) Se b I a, então bc I ac. vezes no que segue.
Prova. 11. O item (c) da proposição acima pode ser facilmente generalizado
(a) Se a' e b' são inteiros tais que a= ba' e b = ab', então a= (ab')a' =
para provar que, Se C I a1, ... , an, então C 1 (a1X1 + · · · + anXn),
a(a'b') e, daí, a'b' = 1. Logo, a'= ±1, donde segue que a= ±b. para todos X1, ... , Xn E Z.
(b) Se a = ba' e b = cb', com a', b' E Z, então a = (cb')a' = c(a'b'), 111. Segue do item (d) acima que todo inteiro não nulo tem somente
com a'b' E Z. Logo, e I a. um número finito de divisores.
(e) Se b = cb', com b' E Z, então ab = e( ab'), com ab' E Z. Logo, e I ab. lxJ =n{=:}n:::;x<n+l. (1.2)
Por exemplo, como 1 < v2 < 2, temos l v2J = 1; como -3 < -2, 3 <
(f) Se a= ba', com a' E Z, então ac = (bc)a' e, daí, bc I ac.
• -2, temos l-2, 3J = -3.
A próxima proposição é conhecida como o algoritmo da divisão
para números inteiros e é um dos pilares da teoria básica de divisibi-
lidade.
Prova. Suponha primeiro b > O, e seja q o maior inteiro tal que • Se n = 3q, então n 2 = 3. 3q 2 .
bq :::; a. Então bq :::; a < b( q + 1), de modo que O :::; a - bq < b
e basta definir r = a - bq (observe que, caso b > O, tal inteiro q é • Se n = 3q + 1, então n 2 = 3 (3q 2 + 2q) + 1.
precisamente llJ ). Se b < O, então -b > O, donde existem q, r E Z
tais que a = (-b)q + r, com O :::; r < -b. Daí, a = b(-q) + r, com • Se n = 3q + 2, então n 2 = 3 (3q 2 + 4q + 1) + 1.
O:::; r < -b = lbl.
No primeiro caso acima, n 2 deixa resto O quando dividido por 3; nos
Suponha, agora, que a = bq + r = bq' + r', onde q, q', r, r' E Z e
outros dois casos, n 2 deixa resto 1 quando dividido por 3.
O:::; r, r' < lbl. Então
Ir' - ri < lbl e b(q - q') = r' - r. (b) Novamente pelo algoritmo da divisão, o resto da divisão de n por 4
é O, 1, 2 ou 3, de modo que n = 4q ,4q+ 1, 4q+2 ou 4q+3, para algum
Se q-::/=- q', então lq - q'I 2 1, de modo que q E Z, e podemos dar uma prova análoga à do item (a). Vejamos,
contudo, uma prova mais simples: invocando o algoritmo da divisão
lbl :::; lbl · lq - q'I = Ir' - ri < lbl, (ou o exemplo 1.2), temos n = 2q ou 2q + 1 para algum q E Z.
Corolário 1.8. Todo quadrado perfeito: (c) Uma vez mais, poderíamos apelar diretamente ao algoritmo da
divisão, escrevendo n = 8q + r para algum q E Z e algum r E
(a) deixa resto O ou 1 quando dividido por 3. {O, 1, 2, ... , 7}, dando uma prova análoga à do item (a). No entanto,
temos pelo item (b) que:
(b) deixa resto O ou 1 quando dividido por 4.
• Se n = 2q, então n 2 = 4q 2 . Há, agora, duas possibilidades:
(c) deixa resto O, 1 ou 4 quando dividido por 8.
Prova. Seja num natural. - Se q2 for par, digamos q2 = 2k para algum k E N, então
n 2 = 8k.
(a) Pelo algoritmo da divisão, o resto da divisão de n por 3 é O, 1 ou - Se q2 for ímpar, digamos q2 = 2k + 1 para algum k E N,
2, de modo que n = 3q, 3q + 1 ou 3q + 2, para algum q E Z. Agora: então n 2 = 8k + 4.
~
,. 'I
i
8 Divisibilidade 1.1 O algoritmo da divisão 9
i
• Se n = 2q + 1, então n 2 = 4q(q + 1) + 1. Mas, como ao menos Sejam, agora, n: EN e q, r E Z tais que n = lOq+r, com O~ r ~ 9.
um dos inteiros q, q + 1 é par, temos q(q + 1) = 2k para algum Então
k EN, de sorte que n 2 = 8k + 1.
n2 (lüq + r )2 = 100q2 + 20qr + r 2
Por fim, os casos acima garantem que o resto da divisão de n 2 por 10(10k2 + 2kr) + r 2,
8 só pode ser igual a O, 1 ou 4. •
de sorte que 10 1 (n 2 - r 2) e o corolário 1.9 garante que n 2 e r 2 deixam
Corolário 1.9. Dados inteiros a 1, a 2 e b, sendo b não nulo, temos que restos iguais na divisão por 10. Portanto, segue de nossa observação
b 1 (a 1 - a 2) se, e só se, a 1 e a 2 deixam restos iguais na divisão por b. inicial que o último algarismo de n 2 é igual ao último algarismo de r 2.
Para terminar, basta checar quais são os últimos algarismos dos
Prova. Suponha primeiro que a 1 = bq 1 + r e a2 = bq2 + r, com
números r 2 quando r varia de O a 9: 02 = O; 12 e 92 terminam em 1;
q1, q2, r E Z. Então a 1 - a 2 = b(q 1 - q2), i.e., b 1 (a1 - a2). Reciproca-
22 e 8 2 terminam em 4; 3 2 e 72 terminam em 9; 42 e 62 terminam em
mente, suponha que b 1 (a1 - a2), e sejam a1 = bq1 + r1, a2 = bq2 + r2,
6; 52 termina em 5. Assim, os possíveis últimos algarismos de n 2 são
com q1 , q2, r 1, r 2 E Z e O~ r1, r2 < lbl. Então
o, 1, 4, 5, 6 ou 9. •
3. Prove o critério de divisibilidade por 11: se o número natural Se S =/:- {O}, prove que:
n tem representação decimal n = (akak-l ... a 1 a 0 ) 10 , então o
(a) SnN=/:-0.
resto da divisão de n por 11 é igual ao resto da divisão por 11
da soma alternada (b) Se x, y E S, então x + y E S.
(c) Sem= min(S n N), então S = Zm.
4. (IMO.) Encontre todos os naturais n de três algarismos, tais que 11. * Para x E IR, prove os seguintes itens:
11 n e {l é igual à soma dos quadrados dos algarismos de n.
1
8. (Hungria.) Prove que 5 divide 199 + 299 + 399 + 499 + 599 . (b) lnxJ ~ n lx J.
(c) l m:1 J :=::; l~ J + 1.
n.····.·1··
i'·
! '
1
1
(d) ll:JJ = l~U- 20. (OBM.) Prove que não existem inteiros x e y tais que 15x2
7y 2 = 9.
-
Para o teorema a seguir, devido ao matemático francês Étienne Prova. É imediato que todo múltiplo de um elemento de S pertence
Bézout, dado n E Z denote por nZ o conjunto dos múltiplos inteiros a S. Por outro lado, como d divide a1x1 + a2x2 + · · ·+ anXn para todos
de n, i.e., x 1 , x2, ... , Xn E Z, temos que Se dZ.
Para estabelecer a inclusão contrária, note primeiro que S contém
nZ = {nx; x E Z} = {O, ±n, ±2n, ±3n, .. .}.
inteiros positivos; de fato, escolhendo x 1 = a 1 e x 2 = · · · = Xn = O,
por exemplo, concluímos que
(1.4)
ou seja, O< d I d'. Logo, d s d'.
Colecionamos, a seguir, vários corolários úteis do teorema acima.
•
16 Divisibilidade 1.2 MDC e MMC 17
Corolário 1.14. Sejam a 1, a 2, ... , an inteiros não nulos e d seu mdc. Observação 1.17. Se a1, a2, ... , an são inteiros não nulos com mdc
Se d' EN, então d' 1 a 1, a2, ... , an se, e só se, d' 1 d. igual a d, o item (b) do corolário anterior garante que, fazendo ui = 5;f
para 1 ::; i ::; n, temos ui, u2, ... , Un primos entre si e a 1 = du 1 ,
Prova. Tome inteiros u1, u2, ... , Un tais que d = a1 u1 + a2u2 + · · · +
ª2 = du2, ... , an = dun.
anun. Uma vez que d' 1 a 1, a 2, ... , an, o item i. das observações 1.6
garante que d' 1 d. A recíproca é imediata. • A forma de escrever inteiros não nulos a 1, a 2, ... , an, como des-
crito na observação acima, é útil na análise de várias situações, como
Corolário 1.15. Sejam a 1, a 2, ... , an inteiros não nulos dados e d seu atestam os exemplos a seguir.
mdc.
Exemplo 1.18. Todo racional não nulo admite uma representação em
(a) d = 1 se, e só se, existirem inteiros u 1, u2, ... , Un tais que a1 u1 + fração irredutível, i.e., uma fração da forma i,
com a e b inteiros
a2U2 + · · · + anUn = 1. não nulos e primos entre si. De fato, seja r um racional não nulo e
r = ~ uma representação fracionária de r. Então, m e n são inteiros
não nulos e, sendo d = mdc (m, n), m = da e n = db, segue do item
(b) do corolário 1.15 que mdc (a, b) = 1. Por outro lado,
Prova.
(a) Se d= 1, a existência de inteiros u 1 , u 2, ... , Un como pede o enunci- m da a
r=-=-=-
ado segue do teorema de Bézout. Reciprocamente, sejam u 1 , u 2, ... , Un n db b'
inteiros como no enunciado. Como d I a 1 , a 2, ... , an, segue novamente o que nos dá a representação desejada de r em fração irredutível.
do item i. das observações 1.6 que d 1 (a1u1 + · · · + anun), i.e., d l 1.
Exemplo 1.19 (Rússia). Sejam a, b naturais tais que ª! 1 + b!l EN.
Logo, d= 1. Prove que
mdc(a,b)::; v'a+b.
(b) Sendo d= a1u1+a2u2+· · +anun, temos (1) u1+· · +(ª;) Un = 1,
e o resultado segue imediatamente do item (a). • Prova. Sendo d = mdc (a, b), existem inteiros u, v tais que a = du,
b = dv e mdc (u, v) = 1. Então
Exemplo 1.16 (China). Sejam a, b, e, d inteiros não nulos, tais que
a+1 b+ 1 du + 1 dv + 1
e + d # O e ad - be = 1. P rove que a f raçao + db e, 1rre
- ªe + · du t'1ve1. --+-- =
b a dv
+- du
-
u(du + 1) + v(dv + 1)
Prova. Queremos provar que mdc ( a + b, e + d) = 1. Para tanto, duv
procuremos, de acordo com o corolário acima, inteiros u, v tais que d( u 2 + v 2 ) + (u + v)
duv EN,
(a + b)u + (e + d)v = 1. de modo que
também é natural. Portanto, d 1 ( u + v) e, daí, d ::; u + v. Mas isso é Proposição 1.21. Para a, b e e inteiros não nulos, temos que:
o mesmo que
(a) Se e I ab e mdc (b, e) = 1, então e I a.
d2 < du + dv = a + b.
(b) Se a+ bc # O, então mdc (a+ bc, b) = mdc (a, b) .
• (c) Se mdc (a, e)= 1, então mdc (a, bc) = mdc (a, b).
Corolário 1.20. Para a 1 , ... , an, k inteiros não nulos, temos:
(d) Se e I b e mdc (a, b) = 1, então mdc (a, e)= 1.
(a) mdc (ka1, ... , kan) = lkl mdc (a1, ... , an)·
(e) Se mdc (b, e)= 1, então mdc (a, bc) = mdc (a, b) mdc (a, e). Em
(b) mdc (a1, ... , an) = mdc ( mdc (a1, ... , ªn-1), an)·
particular, se b e e são primos entre si e dividem a, então bc
Prova. divide a.
(a) Denotemos d= mdc (a 1, ... , an) e d'= mdc (ka 1, ... , kan)· Como
Prova.
d I a1, ... , an, temos que lkld I ka1, ... , kan, i.e., lkld é um. divisor
comum positivo de ka 1, ... , kan. Mas, como d' é o maior dentre tais (a) Sejam u, v inteiros tais que bu + cv = 1. Multiplicando ambos os
divisores comuns, segue que lkld::; d'. Reciprocamente, como k divide membros dessa igualdade por a, obtemos (ab )u + e( av) = a. Por fim,
d' e d' divide ka 1, ... , kan, temos que é um inteiro positivo que di-
{
como e 1 ( ab), segue do item (c) da proposição 1.5 que e I a.
1 1
que d' a, a+ bc. Portanto, pelo corolário 1.14 temos que d' d. Reci-
1 1
procamente, como d 1 (a+ bc) e d I b, temos que d 1 [ (a+ bc) - bel, i.e.,
(b) Exercício.
d I a e d I b. Novamente pelo corolário 1.14, temos que d I d' e, assim,
• d= d'.
Especializemos nossa discussão ao máximo divisor comum de dois
inteiros não nulos. Dados a, b inteiros não nulos, com d= mdc (a, b), (c) Sejam d = mdc (a, b) e d' = mdc (a, bc). De d I b, segue que
o teorema de Bézout garante a existência de inteiros u e v tais que d = d I bc. Assim, d I a e d I bc, de sorte que d I mdc (a, bc) = d'. Para
au + bv. É importante notar que tal maneira de escrever o mdc não é terminar, mostremos que d' 1 d: como mdc (a, e) = 1, segue do teo-
única; de fato, se t E Z, então temos também d = a( u - tb) + b( v +ta) rema de Bézout a existência de u, v E Z tais que au + cv = 1 e, daí,
(teremos mais a dizer sobre isso na proposição 1.25). a(bu) + (bc)v = b; mas, como d' a e d' bc, temos que d' b. Então,
1 1 1
Mais adiante, estabeleceremos um algoritmo muito útil e impor- d' a e d' b, de modo que d' mdc (a, b) = d.
1 1 1
' 1
1 :
Mas, d I b e mdc (b, e) = 1 implicam (cf. item (d)) mdc (d, e) = 1. onde q = I:~:~ (~)an-k-lxn-k(by)k. Portanto, segue do item (a) do
Portanto, mais uma aplicação do item (c) nos dá corolário 1.15 que mdc (a, bn) = 1. Argumentando de maneira aná-
loga, concluímos que mdc (am, bn) = 1.
mdc (a, e)= mdc (du, e)= mdc (u, e).
Finalmente, juntando as duas relações acima, obtemos (b) Sejam u = mdc (a, k) e v = mdc (b, k). Como mdc (a, b) = 1, o
item (d) da proposição anterior garante que
mdc (a, bc) =d· mdc (u, e)= mdc (a, b) mdc (a, e).
k = mdc (kn, k) = mdc (ab, k) = mdc (a, k) · mdc (b, k) = uv,
O resto é imediato.
• de modo que
Corolário 1.22. Sejam a e b inteiros não nulos e k, m e n números
naturais.
Agora, u I a e mdc (a, b) = 1 nos dão (cf. item (d) da proposição
(a) Se mdc (a, b) = 1, então mdc (am, bn) = 1. anterior) mdc (u, b) = 1; analogamente, mdc (v, a) = 1. Segue, pois,
do item (a) que
(b) Se mdc (a, b) = 1 e ab = kn, então existem u, v E Z tais que
a=un,b=vn. mdc (un, b) = 1 e mdc (vn, a)= 1.
Prova. Por fim,
(a) Aplicando o item (c) da proposição anterior, com bn-l no lugar de
b e b no lugar de e, obtemos un I ab e mdc (un, b) = 1 =} un Ia=} un ~ a
{
vn I ab e mdc (vn, a) = 1 =} vn I b =} vn ~ b ·
mdc (a, bn) = mdc (a, bn-l · b) = mdc (a, bn- 1 ).
Mas, como ab = unvn, un ~ a e vn ~ b, a única possibilidade é que
Segue por indução sobre n que mdc (a, bn) = mdc (a, b) = 1. Analo- sejam a= une b = vn. •
gamente,
Exemplo 1.23. Dados números naturais n e k, com k > 1, ou existe
m E N tal que n = mk ou {ln é um número irracional.
22 Divisibilidade 1.2 MDC e MMC 23
Prova. Se ijn = 7;, com m e p naturais primos entre si (cf. exemplo não há dois cubos perfeitos cuja diferença seja igual a 4, chegamos a
1.18), então pkn = mk. Mas, como mdc (m,p) = 1, segue do corolário uma contradição. •
acima que mdc (mk,pk) = 1. Por outro lado, pkn = mk garante que
Em que pese o caráter ad hoc do exemplo acima, a teoria desen-
pk I mk. Assim, a única maneira de pk e mk serem relativamente
volvida até agora para o estudo do mdc de dois inteiros permite re-
primos é que seja pk = 1. Mas, como k > 1, devemos ter, então,
solver completamente a equação diofantina linear a duas variáveis
p= 1, i.e., n=mk. •
ax + by = e, onde x e y são incógnitas inteiras e a, b e e parâmetros
V ma equação em números inteiros e com mais de uma variável inteiros não nulos dados, conforme ensina o resultado a seguir.
é denominada uma equação Diofantina, em homenagem ao mate-
Proposição 1.25. Sejam a, b e e inteiros não nulos dados. A equação
mático grego Diofanto de Alexandria 1 , quem primeiro tentou estudar
ax + by = e admite soluções x, y E Z se, e só se, mdc (a, b) 1 e. Nesse
sistematicamente as soluções de algumas dessas equações. A análise
caso, se d = mdc (a, b) e x = x 0 , y = y0 for uma solução inteira
de equações Diofantinas gerais é uma tarefa das mais difíceis, exigindo
qualquer da equação, então as fórmulas
em geral argumentos bastante sofisticados. Vejamos um exemplo sim-
ples. b a
x = Xo + dt, Y = Yo - dt, (1.5)
Exemplo 1.24. Prove que não existem x, y E N tais que x 3 +3 =
t E Z, dão todas as soluções inteiras possíveis. Em particular, pode-
4y(y + 1).
mos supor que seja x >O> y ou, ainda, x <O< y.
Prova. Suponha o contrário, i.e., que x3 +3 = 4y(y + 1), para certos
Prova. Suponha, inicialmente, que existam inteiros x e y tais que
x, y E N. Então
ax + by = e. Como d Ia e d I b, segue que d 1(ax + by), ou seja, d I e.
x3 + 4 = 4y(y + 1) + 1 = (2y + 1) 2 Reciprocamente, seja e = de, com e E Z, e (pelo teorema de Bézout)
u e v inteiros tais que d = au + bv. Então e = a · eu + b · ev, quer dizer,
e, daí, a equação admite a solução inteira x 0 = eu, y0 = ev.
x 3 = (2y + 1) 2 - 22 = (2y - 1)(2y + 3). Para o que falta, suponha que d I e e seja x = x 0 , y = y0 uma
Agora, se d= mdc (2y-1, 2y + 3), então d é ímpar e divide (2y + 3) - solução inteira qualquer da equação. Se x = x 1 , y = y 1 for outra
(2y - 1) = 4, de maneira que d= 1. Portanto, o produto dos inteiros solução inteira da mesma, teremos a(x 1 - x 0 ) = b(y0 -y1 ); cancelando
primos entre si 2y -1 e 2y + 3 é um cubo perfeito, e o corolário 1.22 d em ambos os membros dessa igualdade, segue que
garante que ambos 2y-1 e 2y+3 devem ser cubos perfeitos. Mas, como
1 Matemáticogrego do século III d.C., considerado um dos pais da Álgebra e da
Teoria dos Números. Em seu livro Aritmética, Diofanto procurou, pela primeira
vez, estudar sistematicamente as soluções inteiras de certos tipos particulares de Assim, ~ 1 ~(x 1 -x 0 ) e, como mdc (~, ~) = 1, o item (a) da proposição
equações polinomiais - de fato, essa nomenclatura não estava disponível à sua anterior garante que ~ 1 (x 1 - x 0 ). Sendo x 1 - x 0 = ~t, obtemos
época-, as quais passaram, merecidamente, a ser conhecidas como Diofantinas. y0 - y 1 = ~t e as fórmulas do enunciado seguem. Reciprocamente, é
imediato verificar que tais fórmulas dão, de fato, soluções inteiras para Proposição 1.26. Nas notações da tabela acima para o algorimo de
a equaçao. Euclides, temos mdc (a, b) = rj.
Para o que falta, suponha que a, b > O (os demais casos podem ser
analisados de modo análogo). Como Prova. Pelo item (b) da proposição 1.21, temos sucessivamente
U V
u - tb > oB t < b e V + ta < o B t < --;;, ' mdc (a, b) mdc (a - bq 1, b) = mdc (r 1 , b)
mdc (r1, b - r 1q2) = mdc (r 1, r 2)
escolhendo um inteiro t tal que t < E", - ~ e fazendo u 1 = u - tb e
mdc (r1 - r2q3, r2) = mdc (r3, r2)
v1 = v + ta, teremos u 1 > O, v1 < O e d = au 1 + bv 1. Analogamente,
mostramos que podemos tomar uma solução x < O < y da equação
dada. •
Por enquanto, sabemos apenas que é possível escrever o mdc de
dois inteiros não nulos a e b da forma au + bv, para algum par de
onde utilizamos, na última igualdade, o fato de que rj I rj-l·
•
inteiros u, v, sem termos ainda uma maneira razoável para fazer isso Embutido no algoritmo de Euclides também está um método para
efetivamente. Para remediar essa situação, consideremos o seguinte encontrarmos os inteiros u, v cuja existência é garantida pelo teorema
algoritmo, usualmente atribuído a Euclides. de Bézout, i.e., tais que mdc (a, b) = au + bv. Vejamos como proceder
através de um exemplo numérico.
Algoritmo de Euclides
Exemplo 1.27. Utilize o algoritmo de Euclides para mostrar que
o mdc de 120 e 84 é igual a 12. Em seguida, resolva a equação
Passo 1 a bq1 + r1 O< r 1 < b 120x + 84y = 12 no conjunto dos inteiros.
Passo 2 b r1q2 + r2 O< r2 < r1
Solução. Comecemos executando o algoritmo de Euclides:
Passo 3 r1 r2q3 + r3 O< r3 < r2
120 84 · 1 + 36
Passo j rj-2 rj-lqj + rj O< rj < rj-1 84 36 · 2 + 12
Passo j +1 rj-1 rjqj+1 +O 36 12 · 3.
Note que a execução do algoritmo realmente para após um número
Como 12 é o último resto não nulo, segue da proposição 1.26 que
finito de passos, pois, desde que r 1 , r 2 , ... são inteiros para os quais
b > r 1 > r 2 > · · · ;:::: O, deve existir um menor natural j tal que rj é o mdc (120, 84) = 12.
último resto não nulo no processo de divisões acima.
A importância do algoritmo de Euclides é explicada pela proposi- Podemos, agora, encontrar inteiros u e v tais que 12 = 120u + 84v
ção a seguir. trabalhando de trás para frente com as divisões sucessivas que nos
"1 •..
1
"
26 Divisibilidade f 1.2 MDC e MMC 27
I
·. '· · .
Exemplo 1.28. Se a, m e n são naturais tais que a > 1 e m = nq + r, T'j-2 = T'j-lqj+ T'j
com O ::::; r < n, prove que rj-1 = ríqí+1 + O.
Finalizamos esta seção estudando o minimo múltiplo comum de Proposição 1.32. Se a e b são inteiros não nulos, então
um conjunto finito de inteiros não nulos. Dados inteiros não nulos
mmc (a, b) · mdc (a, b) = labl.
a1, a2, ... , an, o inteiro positivo la 1a2 ... anl é um múltiplo comum de -
a 1 , a 2, ... , an· Existe, portanto, um menor inteiro positivo que é múl-
Prova. Mostremos primeiro que mdc (a, b) = 1 ==} mmc (a, b) = labl.
tiplo comum de a 1 , a 2, ... , an, o que dá sentido à definição a seguir.
Sejam um múltiplo positivo comum de a e b. Como mdc (a, b) = 1, o
Definição 1.29. Dados inteiros não nulos a1, a2, ... , an, o mínimo item (e) da proposição 1.21 garante que ab I m. Portanto, m 2". labl,
múltiplo comum de a1, a 2, ... , an, denotado mmc (a1, a2, ... , an), é de forma que labl é o menor múltiplo positivo comum de a e b, ou seja,
o menor dentre todos os múltiplos positivos comuns de a1, a2, ... , ªn· labl = mmc (a, b).
Para o caso geral, note primeiro que mmc (a, -b) = mmc (a, b);
Os resultados a seguir estabelecem as propriedades básicas do mmc . como já temos mdc (a, -b) = mdc (a, b), podemos supor, sem perda
de generalidade, que a, b > O. Sejam d = mdc (a, b) e u, v intei-
Proposição 1.30. Sejam a1, a2, ... , an E Z* em= mmc (a1, a2, ... , ros primos entre si e tais que a = du, b = dv. Queremos mos-
an)· Para todo inteiro M, temos que M é um múltiplo comum de a 1 , trar que mmc (du, dv )d = d 2uv ou, ainda, (e pelo lema anterior) que
a 2, ... , an se, e só se, m I M. mmc (u, v) = uv. Mas isso é exatamente o conteúdo da primeira parte
aCTma. •
Prova. Seja M um múltiplo comum de a1, a2, ... , an, e escreva M =
mq + r, com q, r E Z e O ::::; r < m. Como a1 1 m e a1 1 M, segue Exemplo 1.33 (Japão). Encontre todos os pares (a, b) de inteiros
da proposição 1.5 que a1 1 (M - mq), i.e., a1 1 r; analogamente, positivos tais que a 2". b e
a 2, ... , an Ir, i.e., O::::; r < m é um múltiplo comum de a1, a2, ... , ªn·
Mas, como m é o menor múltiplo comum positivo de a1, a2, ... , an, a mmc(a,b)+ mdc(a,b)+a+b=ab.
única possibilidade é termos r = O, de maneira quem I M. •
Solução. Sejam d= mdc (a, b) eu, v E N tais que a = du, b = dv.
Lema 1.31. Sejam a 1 , a 2, ... , an inteiros não nulos. Se k EN, então Então u 2". v e
mmc (ka 1, ka 2, ... , kan) = k mmc (a1, a2, ... , an)·
d· mmc (a, b) = mdc (a, b) · mmc (a, b) = ab = d 2uv,
Prova. Sejam M = mmc (ka 1, ka 2, ... , kan) em= mmc (a1, a2, ... ,
an)· Então km é múltiplo de ka 1, ka2, ... , kan, de modo que km 2". M. de maneira que mmc (a, b) = duv. Substituindo as expressões acima
Por outro lado, como M é um múltiplo comum de ka1, ka2, ... , kan, na equação original, concluímos que a mesma equivale a
segue que M/k é um múltiplo comum de a 1 , a2, ... , an e, daí, M/k 2". m
ou, ainda, M 2". km. Logo, M = km. • u(v + 1) + (v + 1) = duv, (1.6)
A proposição a seguir relaciona o mdc e o mmc de dois inteiros de maneira que u 1 (v+l). Assim, u::::; v+l e, daí, u =vou u = v+l.
não nulos. Seu= v, segue de mdc(u,v) = 1 que u = v = 1, de sorte que d= 4
ml!rl
'1ffll!',,·11}i . .1
1,'
il ,11
li
11
+ 1, segue de
1
u(v+l)+(v+l) (v+l)2+(v+l) 1. (IMO.) Para n EN, prove que mdc (2ln + 4, 14n + 3) = 1.
d
UV (V+ l)v 2. (OIM.) Sejam me n inteiros positivos. Se 2m +1= n 2 , prove
v + 3v + 2 = 1 + ~
2
quem= n = 3.
v2 + v v'
3. Considere duas progressões aritméticas infinitas e não constan-
o que implica v = 1 ou v = 2. Examinando cada caso separadamente,
tes, cujos termos são inteiros positivos. Prove que existem in-
chegamos às demais soluções: a = 6, b = 3 ou a = 6, b = 4. •
finitos naturais que são termos de ambas as sequências se, e só
se, o mdc de suas razões dividir a diferença entre seus termos
iniciais.
i'
10. (Estados Unidos - adaptado.) Fixado k EN, mostre que que dois termos quaisquer dessa sequência são primos entre si.
max{ mdc (n 2 + k, (n + 1) 2 + k); n EN}= 4k + 1.
18. * Seja (Fn)n2:1 a sequência de Fibonacci, i.e., a sequência tal que
F1 = F2 = 1 e Fk+2 = Fk+l + Fk, para todo k E N. Nosso
11. Se a, b e e são inteiros positivos tais que + = i t i,
prove que
objetivo neste problema é provar que mdc (Fm, Fn) = Fmdc(m,n)·
existem inteiros positivos q, u e v tais que mdc (u, v) = 1 e
Para tanto, faça os seguintes itens:
a = qu( u + v), b = qv (u + v) e e = quv.
12. (Inglaterra.) Sejam x, y naturais tais que 2xy divide x 2 + y 2 - x. (a) Prove que, para todo n EN, tem-se mdc (Fn, Fn+l) = 1.
Prove que x é um quadrado perfeito. (b) Prove que, para todos n, k EN, com n > 1, tem-se Fn+k =
Fn-lFk + FnFk+l·
13. (Estados Unidos.) De qualquer conjunto de 10 naturais conse-
cutivos, prove que é sempre possível escolher ao menos um que (c) Use o item (b) para concluir que, para todos n, q, r E N,
seja relativamente primo com os nove restantes. (i) mdc (Fnq, Fn) = Fn.
mdc(y, z) = 1. (ii) mdc (Fnq-l, Fn) = 1.
(iii) m dc (Fnq+r, Fn) = mdc (Fr, Fn)·
14. Sejam a, bem naturais dados, com mdc (a, m) = 1. Mostre que
m-1
~
l .+ bj
ªJ m
1
= 2(a - l)(m - 1) + b.
(d) Conclua que mdc (Fn, Fm) = Fmdc(m,n) para todos m e n
naturais.
(e) Há exatamente Ha - l)(b - 1) inteiros não negativos que Informações sobre essa questão nos são dadas por um teorema
não podem ser escritos da forma ax+by, com x e y também devido ao matemático francês Gabriel Lamé, e o objetivo deste
inteiros não negativos. problema é prová-lo. Para tanto, faça os seguintes itens:
21. (IMO - adaptado.) Sejam a, b, e naturais dois a dois primos entre (a) Se Fk é o k-ésimo número de Fibonacci e n EN, prove que
Sl. Fn+5 > lOFn e deduza, a partir daí, que Fsn+ 2 > 10n, de
modo que Fsn+2 tem pelo menos n + 1 algarismos em sua
(a) Mostre que não existem x, y, z E Z+ tais que 2abc - ab - representação decimal.
bc - ca = xbc + yac + zab.
(b) Se n passos forem usados no algoritmo de Euclides para
(b) Se n E N é tal que n > abc - a - bc, use o resultado do calcular mdc (a, b), com a > b > O e usando b como o
problema anterior para concluir pela existência de x, t E Z+ primeiro divisor, prove que b ~ Fn- l ·
tais que n = xbc + ta, com O :::; x :::; a - 1.
(c) Prove o teorema de Lamé: o número de divisões necessá-
(c) Mostre que o inteiro t do item (b) é maior que bc-b-c, e use rias, no algoritmo de Euclides, para calcularmos o mdc de
novamente o resultado do problema ;mterior pará concluir dois inteiros positivos é, no máximo, cinco vezes o número
pela existência de y, z E Z+ tais que t = bz + cy. de algarismos da representação decimal do menor dos dois
(d) Se n E N é tal que n > 2abc - ab - bc - ca, use os itens números.
(b) e (c) para mostrar que existem x, y, z E Z+ tais que
24. (OBM.) Seja n > 1 inteiro. Prove que o número
n = xbc + yac + zab.
1 1 1
22. Generalize o resultado do problema anterior do seguinte modo: 1+-+-+···+-
2 3 n
! 1
se a1, a 2 , ... , an são naturais dois a dois primos entre si e nunca é inteiro.
Nosso objetivo nesta seção é estudar os números primos e sua relação Prova. Inicialmente, note que 25 < v641 < 26. Portanto, se 641 for
com os números compostos. Começamos com o seguinte resultado composto, segue do corolário acima que 641 deve possuir um divisor
auxiliar, conhecido como o lema de Euclides. primo p:::; 25, de modo que
Lema 1.34 (Euclides). Todo inteiro n > 1 pode ser expresso como o
p E {2,3,5, 7, 11,13, 17, 19,23}.
produto de um número finito de primos, não necessariamente distin-
tos2. No entanto, é imediato verificar que, dentre as divisões de 641 pelos
Prova. Façamos a prova por indução sobre n. Se n = 2, nada há a primos acima, nenhuma é exata. Logo, 641 é primo. •
fazer (uma vez que 2 é primo). Suponha, agora, que todo inteiro n
A utilização do corolário 1.35 para decidir se um certo natural é
tal que 2 :::; n < m pode ser escrito como o produto de um número
primo (como no exemplo acima) é conhecida como o crivo de Eratós-
finito de primos; provemos que este é também o caso para m: se m
tenes. De maneira geral, basta dividir o natural em questão por todos
for primo, nada há a fazer. Senão, existem inteiros a e b tais que
os primos menores ou iguais que sua raiz quadrada por falta; de acordo
m = ab, com 1 < a, b < m. Pela hipótese de indução, a e b podem
com o corolário, se nenhuma dessas divisões for exata, o número será
ser escritos como produtos de números finitos de primos, digamos a =
primo. Mais que interesse prático, contudo, a maior utilidade do crivo
p 1 ... Pk, b = q1 · · · qz, com k, l 2:: 1 e p 1, ... , Pk, q1, ... , qz primos. Logo,
de Eratóstenes é teórica, uma vez que, para aplicá-lo para decidir se
m = ab = p 1 ... pkq1 · · · qz, também o produto de um número finito de
primos.
• 999997 é primo, por exemplo, teríamos de dividi-lo por todos os primos
menores ou iguais a J999997 "'"' 1000, o que não é razoável 3 .
Como corolário do lema acima, temos o seguinte critério de pes- De volta ao lema 1.34, reunindo primos iguais concluímos que é
quisa de divisores primos de um número composto, devido ao mate- possível escrever todo inteiro n > 1 na forma n = pf 1 . . . p~k, onde
mático grego Eratóstenes de Cirene (cf. figura 1. 2). p 1 , ... , Pk são primos dois a dois distintos e a: 1 , ... , ak E N. Veremos
no teorema 1.42 que, a menos de uma reordenação de fatores, essa
Corolário 1.35 (Eratóstenes). Se um inteiro n > 1 for composto,
maneira de escrever n é única. Antes, contudo, provemos que o con-
então n possui um divisor primo p, tal que p :S: Jri.
junto dos números primos é infinito, resultado este também devido a
Prova. Seja n = ab, com 1 < a:::; b. Sendo pum divisor primo de a, Euclides.
segue que p I n e
Teorema 1.37 (Euclides). O conjunto dos números primos é infinito.
p 2 :::; a 2 :::; ab = n,
de modo que p :S: fo. • 3 Com um pouco mais de trabalho, é possível mostrar que o crivo de Eratóstenes
é um algoritmo que, genericamente, não termina em tempo polinomial. De outra
Exemplo 1.36. Use o corolário acima para provar que 641 é primo. forma, isto significa que a quantidade de operações que necessitamos executar
para encontrar o n-ésimo primo com o auxílio do crivo de Eratóstenes cresce
2 Conforme estabelecido na definição 4.21 do volume 1, identificamos o produto exponencialmente com n, de forma que mesmo com o auxílio de um computador
Ili=l ai com a1. esse não é um bom algoritmo de primalidade.
''
, ,
1,
.,,.
l!j ·; !1 •
i .. i1 1 .•
' : 1
Figura 1.2: Eratóstenes de Cirene, matemático Prova. Suponha que só houvesse uma quantidade finita de primos da
grego do século II a.C. Além de seu algoritmo de pri- forma 4k - 1, digamos PI = 3,p2 = 7,p3 = 11, ... ,Pt, e considere o
malidade, outro trabalho notável de Eratóstenes foi 1 número
f
conseguir medir indiretamente o diâmetro da Terra, t
m = 4PIP2 · · ·Pt - 1.
com precisão impressionante para a época.
1
(
Claramente, m > 1 e, sendo m' = PIP2 .. ·Pt, temos m = 4m' - 1.
Por outro lado, o lema 1.34 garante a existência de primos ímpares
l
Prova. Por indução sobre n, provemos que, se N contiver n pri- J qI, ... , qz tais quem= qI ... qz. Observe, agora, que todo primo ímpar
,,
mos distintos, então N conterá n + 1 primos distintos. Suponha que r é da forma 4q' - 1 ou 4q' + 1, para algum q' E Z. Se fosse qi = 4qf + 1 .
~:
E
Pelo lema 1.34, existe um primo p tal que p I m. Se p = Pi para algum ~ 1ii· para algum q E N, contradizendo o fato de ser m = 4m' - 1. Portanto,
ti
1 :::; i :::; n, então p I PI ... Pn e segue da proposição 1.5 que p divide "é:' existe 1 :::; i :::; l tal que qi = 4qf - 1. Finalmente, como PI,P2, ... ,Pt
a diferença m - PI ... Pn, i.e., p 1 1, o que é um absurdo. Logo, p é são todos os primos dessa forma, deveríamos ter qi = Pi para algum
um primo diferente de todos os p/s, de maneira que temos pelo menos 1 :::; j :::; t. Mas, como qi I m, seguiria então que Pi seria um divisor
n + 1 primos distintos em N. • do número m = 4PIP2 .. ·Pt - 1, o que é uma contradição. •
Observação 1.38. Em que pese o resultado acima, há lacunas arbi- Para a prova do teorema 1.42, precisamos do lema a seguir, o qual
trariamente grandes na sequência dos primos. De fato, dado k 2 3 apresenta interesse próprio.
inteiro, para que os inteiros positivos e consecutivos a+2, a+3, ... , a+k
4É possível provar um resultado muito mais geral, devido ao matemático alemão
sejam todos compostos basta que a seja um múltiplo comum dos nú-
do século XIX Gustav Lejeune Dirichlet, o qual afirma que toda PA infinita e não
meros 2, 3, ... , k. constante de números naturais contém infinitos números primos, contanto que seu
Teremos mais a dizer sobre a distribuição dos números primos ao primeiro termo e sua razão sejam primos entre si. Veremos um caso particular
longo dos naturais no capítulo 4. relevante desse teorema na seção 8.2 do volume 6.
40 Divisibilidade 1.3 Números primos 41
Lema 1.40. Se a1, ... , an EN e pé um primo tal que p I a1a2 ... an, 1 Teorema 1.42. Todo inteiro n > 1 pode ser escrito como o produto de
então existe 1 :::; i :::; n tal que p I ai. Em particular, se a1, ... , an '.! potências de primos distintos. Ademais, tal decomposição de n é única
forem todos primos, então existe 1 :::; i :::; n tal que p = ªi· f: no segum. t e sent"d
1 o.. se n = Pi°'1 ... Pk°'k = q1f31 ... q1f31 , ond e P1 < · · · < Pk
d I p, temos d = 1 ou d = p; mas p f a e d I a garantem que d =/= p, i.e., tf Prova. A parte de existência foi estabelecida no parágrafo anterior ao
d= 1. Assim, como p 1 (ab) e mdc (a,p) = 1, segue do item (a) da
proposição 1.21 que p I b. O resto é imediato a partir da definição de
tt teorema 1.37. Para a unicidade, suponha que o inteiro n > 1 admite
duas decomposições como no enunciado. Como p 1 1 n, temos que
número primo. • ~ p 1 1 qf1 ••• qf1 , e o lema anterior garante a existência de 1 :::; j :::; l tal
que p 1 = qj. Por outro lado, como q1 1 n, temos que q1 1 pf 1 .•• p~k e,
Exemplo 1.41. Se p é um primo ímpar, então p divide cada um dos novamente pelo lema anterior, existe 1 :::; i :::; k tal que q1 = Pi· Assim,
números P1 = qj ~ q1 = Pi ~ P1, de onde segue que P1 = q1 e, daí,
e S 2a. Portanto, e = 2a, um número par. Se a 2': b, concluímos, de inteiro n > 1, então os divisores positivos de n são os números da
modo análogo, que e = 2b. forma pf 1 . . . p~\ com O S ai S /3i, para 1 S i S k. Em particular,
Por fim, como o primo p foi escolhido arbitrariamente, segue do te- denotando por d( n) o número de divisores positivos de n, temos
orema fundamental da aritmética que x -y é um produto de potências
k
de primos com expoentes pares, logo um quadrado perfeito. •
d(n) = Il(/3i + 1). (1.8)
A representação de um inteiro n > 1 como um produto de potên- i=l
cias de primos distintos é sua fatoração ou decomposição canô- Prova. Se d > 1 é divisor de n e p é um primo que divide d, então p
nica em fatores primos. Os corolários a segúir colecionam algumas também divide n, de forma que pé igual a um dos primos p 1, ... ,Pk·
consequências úteis da existência de uma tal fatoração. Mas, como isso é válido para todo divisor primo de d, segue que d =
pf 1 . . . p~k, com ai 2': O para todo i ( não escrevemos ai 2': 1 pois pode
Corolário 1.44. Sejam a, b, m e n naturais tais que am
ocorrer que Pi f d para um ou mais valores de i). Agora, se q E N é
mdc (m, n) = 1, então existe e EN tal que a= cn e b = cm.
tal que n = dq, então
Prova. É claro que a e b são divisíveis exatamente pelos mesmos
º
pnmos, p 1, ... , Pk dº1gamos. SeJam
º 1 ... Pk°'k e b -_ P/31
a = p Clél 1 ... Pkf3k ,
com ai, /3i 2': 1, as decomposições canônicas de a e b. Então,
e a parte de unicidade do teorema fundamental da aritmética permite
ma1
P1 · · ·
pm°'k
k
= am = bn = pn/31
1
pn/3k
· · · k concluir facilmente que ai S /3i para todo i. Reciprocamente, é ime-
diato que todo natural d da forma pf 1 . . . p~k, com O S ai S /3i para
e a parte de unicidade do teorema fundamental da aritmética garante
1 S i S k, é um divisor positivo de n.
que Para o que falta, o que fizemos acima, novamente em conjunção
(1.7)
com a parte de unicidade do teorema fundamental da aritmética, ga-
Assim, m I n/3i e, como m e n são primos entre si, o item (a) da rante que o número de divisores positivos de n coincide com o nú-
proposição 1.21 permite concluir que m 1 /3i- Se ui E N é tal que mero de sequências (a 1, ... , ak) de inteiros tais que O S ai S /3i para
/3i = mui, segue de (1. 7) que ai = nui; portanto, sendo e= pt 1 . . . p~k, 1 S i S k. Como há /3i + 1 possibilidades para ai, a fórmula (1.8) se-
temos gue do princípio fundamental da contagem (cf. corolário 1.9 do volume
4). •
44 Divisibilidade 1.3 Números primos 45
Para o próximo corolário, é útil estendermos a decomposição ca- ep(n) = L l:J · (1.9)
i
nônica de um inteiro maior que 1 em primos permitindo expoentes k:::::1 p
iguais a O. Por exemplo, podemos escrever 48 = 24 • 3 e 270 = 2 · 33 • 5 Prova. Note, inicialmente, que a soma acima é sempre finita, uma
utilizando os primos 2, 3 e 5 em ambos os casos, i.e., escrevendo vez que, para pk > n, temos lP~ J = O. Seja k E N qualquer e
pk, 2pk, ... , mpk os múltiplos de pk menores ou iguais a n. Então
48 = 24 · 3 · 5° e 270 = 2 · 33 · 5.
mpk ~ n < (m + 1 )pk ou, equivalentemente, m ~ ; < m + 1. Por-
Corolário 1.47. Sejam a, b > 1 naturais dados, com a= pf 1 . . . p~k
e b = pf1 ••• p{k, onde p 1 < · · · < Pk são números primos e ai, f3i ~ O
1
1
tanto, m é o maior inteiro menor ou igual a p~, quer dizer, m = l p~J.
Assim, para cada k ~ 1 há exatamente
~
para 1 ~ i ~ k. Então
mdc (a, b) =
k
ITP~in{ai,.Bi}
k
e mmc(a,b) = ITP~ax{ai,.Bi}_
l;J lp: J 1
i=l i=l naturais menores ou iguais a n e que são múltiplos de pk mas não de
Prova. Façamos a prova para o mcd (a prova para o mmc é análoga). pk+I. Mas, como cada um de tais números contribui com exatamente
Como min{ ai, f3i} ~ ai, f3i para todo i, temos que o número d = k fatores p para ep(n), segue que
f17= 1 p~in{ai,.Bi} divide ambos a e b. Seja, agora, d' um divisor positivo
qualquer de a e b. Pelo corolário 1.45, a decomposição em primos de
d' é da forma d' = Pi1 . . • Pl/, com "li ~ O para todo i. Mas, d' 1 a
implica "/i ~ ai e d' 1 b implica "li ~ f3i· Assim, para todo i, temos
"li ~ min {ai, f3i}, de modo que d' 1 d. Logo, d= mdc (a, b). • 5 Matemático francês dos séculos XVIII e XIX.
•
46 Divisibilidade 1.3 Números primos 47
Os dois exemplos a seguir trazem aplicações interessantes da fór- Problemas - Seção 1.3
mula de Legendre.
1. Sejam p e q primos ímpares consecutivos. Prove que existem
Exemplo 1.49 (União Soviética). Ache o número de zeros consecu- inteiros a, b, e > 1, não necessariamente distintos, tais que p+q =
tivos no final do número 1000!. abc.
Prova. Escrevendo 1000! = 2e 2 (10oo) · 5es(10oo)m, com m E N, vemos f 2. (IMO - adaptado.) Seja k E N tal que p = 3k + 2 é primo. Se
que basta calcular o menor dos números e2(1000) e es(lOOO) a fim 1.
de encontrar a maior potência de 10 que divide 1000!. Por outro
1 m e n são naturais tais que
7. Mostre que há infinitos primos de cada urna das formas 3k + 2 16. (OIM.) Para cada n E N, sejam 1 = d 1 < · · · < dk = n os
e 6k + 5. divisores positivos de n. Encontre todos os n satisfazendo as
seguintes condições:
8. (Iugoslávia.) Para cada n EN, prove que o número 22n - 1 tem
ao menos n fatores primos distintos. (a) k 2 15.
9. Se pé urn primo ímpar, prove que p divide (~) - 2. (b) n = d13 + d14 + d15.
(c) (ds + 1) 3 = d15 + 1.
10. * Sejam a e n inteiros positivos, corn a > 1. Faça os itens a
seguir: 17. (Japão.) 6 Para cada inteiro n > 1, sejam I(n) a sorna dos mai-
ores divisores ímpares dos números 1, 2, ... , n e T(n) = 1 + 2 +
(a) Se an + 1 é primo, então n é urna potência de 2 (veremos no · · · + n. Prove que existem infinitos valores de n para os quais
problema 6, página 130, que a recíproca não é verdadeira): 3I(n) = 2T(n).
(b) Se n > 1 e an - 1 é primo, então n é primo e a = 2
18. (Austrália.) Ache todos os naturais n para os quais d(n) = i·
(a recíproca não é verdadeira, conforme atesta o exemplo
211 - 1 = 23 · 89). 19. (IMO.) Sejam m, n inteiros não negativos arbitrários. Prove que
o número
11. (IMO.) Ache todos os n EN, n > 6, tais que os naturais menores (2m)!(2n)!
que n e primos corn n forrnern urna progressão aritmética. m!n!(m+n)!
sempre é urn inteiro.
12. (IMO.) Sejam k, m, n naturais tais que m + k + 1 é urn primo
maior que n + 1. Se C8 = s(s + 1) para cada s EN, prove que 20. Para cada inteiro positivo n, seja an = (2:).
li
(a) Mostre que o número binomial an é sempre par.
(b) Prove que 4 1 an se, e só se, n não é potência de 2.
é divisível por c1c2 • · • Cn·
21. (Romênia.) Seja n urn natural cuja representação binária tern
13. (Hungria.) Seja n urn natural dado. Mostre que há exatamente exatamente k algarismos 1. Prove que 2n-k divide n!.
d(n 2 ) pares ordenados (u, v) tais que u, v EN e rnrnc (u, v) = n.
22. Ache todos os naturais a, b e k tais que a e b sejam primos entre
14. (IMO.) Ache todos os naturais a e b tais que ab = bª.
2 si e (a+ kb)(b + ka) seja urna potência de urn primo.
15. (BMO.) Encontre todos os n EN tais que n = d:f_ +dª+ d~+ d~, 23. (OBM - adaptado.) Para cada inteiro n > 1, seja p(n) o maior
onde 1 = d1 < d2 < d3 < d4 são os quatro menores divisores divisor primo de n. Faça os seguintes itens:
positivos de n. 1 6 Para a recíproca deste problema, veja o problema 5, página 98.
l
50 Divisibilidade
(a) Se q é um primo ímpar, prove que não podemos ter p(q2k) >
11
'' p(q2k + 1) para todo inteiro k ~ O.
(b) Se p( q2 k) < p( q2 k + 1) e k é mínimo com tal propriedade,
mostre que p( q2 k - 1) < p( q2 k).
(c) Mostre que existem infinitos naturais n tais que p( n - 1) <
p(n) < p(n + 1). CAPÍTULO 2
24. (OBM.) Mostre que existe um conjunto A, formado por inteiros
positivos e tendo as seguintes propriedades:
1 51
52 Equações Diofantinas 2.1 Ternos Pitagóricos 53
tal terno (x, y, z) determina um triângulo retângulo de catetos x e y e As equações analisadas acima são, em um certo sentido, privilegi-
hipotenusa z. adas, uma vez que possuem uma infinidade de soluções inteiras não
Vejamos como aplicar o resultado acima para encontrar as soluções nulas. Nosso próximo exemplo será o de uma equação que só admite a
inteiras de outra equação diofantina. solução inteira x = y = z = O; a prova que apresentaremos ilustra um
método (a descida de Fermat) que pode, por vezes, ser utilizado a
Exemplo 2.2. Ache todas as soluções inteiras não nulas da equação
fim de provar que uma equação Diofantina não possui soluções inteiras
x 2 + y 2 = 2z 2, com x-/=- ±y.
não nulas.
Solução. Em uma qualquer dessas soluções, devemos ter x e y ambos Esquematicamente, o método da descida de Fermat consiste no
pares ou ambos ímpares, pois, caso contrário, x 2 + y 2 seria ímpar. cumprimento das seguintes etapas:
Assim, tomando a= e b=x1y x;u,
temos a, b E Z \ {O} ex= a+ b, 1. Supor que uma dada equação possui uma solução em inteiros
y = a - b. Substituindo tais expressões para x e y na equação original, não nulos.
concluímos que
ii. Concluir, a partir daí, que ela possui uma solução em inteiros
x2 + y2 = 2 z2 {::}- ª2 + b2 = z2. , não nulos que seja, em algum sentido, mínima.
Mas, uma vez que essa última equação é a equação de pitágoras, segue iii. Deduzir a existência de uma solução em inteiros não nulos menor
da proposição anterior a existência de inteiros não nulos d, u e v, com que a mínima (no sentido do item ii.), chegando, assim, a uma
u e v primos entre si e de paridades distintas, tais que contradição.
,i
a= 2uvd, b = (u 2 - v 2 )d, z = (u 2 + v 2 )d Exemplo 2.3. Prove que a equação 3x 2+y 2 = 2z2 não possui soluções
,ll!i,
inteiras não nulas.
ou
.,111::
Prova. Inicialmente, observe que não podemos ter exatamente um
1,,
'!1' a= (u2 - v 2 )d, b = 2uvd, z = (u2 + v 2 )d.
dos inteiros x, y, z igual a O. Suponha, pois, que a equação dada
Portanto, as soluções (x, y, z) da equação original, com x -/=- ±y, possua uma solução (x, y, z) com x, y, z EN (uma vez que, se (x, y, z)
são de um dos tipos abaixo, onde d, u, v satisfazem as condições acima for solução, então (±x, ±y, ±z) também o será). Então, dentre todas
descritas: tais soluções (x, y, z), existe uma para a qual z é o menor possível,
digamos x = a, y = b, z = e. Trabalhemos tal solução.
x = (u2 - v 2 + 2uv)d, y = (-u 2 + v 2 + 2uv)d, z = (u 2 + v 2 )d
Se 3 f b, temos de 3a2 + b2 = 2c2 que 3 f e. Mas aí, o corolário
ou 1.8 garante que b2 e c2 deixam resto 1 na divisão por 3 e a igualdade
3a2 + b2 = 2c2 nos dá uma contradição. Logo, 3 1 b, digamos b = 3b1
x = (u 2 - v 2 + 2uv)d, y = (u2 - v 2 - 2uv)d, z = (u2 + v 2 )d. para algum b1 E N, e segue de
que 3 1 e. Sendo e = 3c1 , para algum c1 E N, a igualdade acima nos x, y, z quando n > 2, utilizando, para tanto, matemática muitíssimo
dá avançada1 .
6cf = a 2 + 3bf, Podemos, entretanto, aproveitar o método da descida para analisar
um caso simples da equação (2.3), aquele em que 4 1 n.
de modo que 3 1 a, digamos a= 3a 1 , com a 1 EN. Portanto, a última
igualdade acima fornece Exemplo 2.4. Se n for um natural múltiplo de 4, então não existem
inteiros não nulos x, y, z tais que xn + yn = zn.
j
: i
se em importantes trabalhos anteriores de vários matemáticos, provou da saga de Andrew Wiles e de outros matemáticos na busca de uma prova para o
·:1
·.·1!.,,
que a equação de Fermat não possui soluções em inteiros não nulos grande teorema de Fermat.
J
'li
:.1'
:::.
1
58 Equações Diofantinas • 2.1 Ternos Pitagóricos 59
novamente da caracterização dos ternos pitagóricos a existência de Suponha, por contradição, que ab + cd = p, p primo. A condição
naturais p e q, primos entre si e de paridades distintas, tais que a > b > e > d > O garante que p = ab + cd ~ 4 · 3 + 2 · 1 = 14, de
modo que p ~ 17. Por outro lado,
a = p2 - q2' V = 2pq' U = p2 + q2.
Mas aí, 2p = 2ab + 2cd = (2a - c)b + (b + 2d)c,
b2 = 2uv = 4pq(p2 + q2 )
de modo que mdc (2a - e, b + 2d) divide 2p. Para mdc (2a - e, b + 2d)
e, como mdc (p, q) = 1, temos que ambos p e q são também primos ser par deveríamos ter b e e pares, donde p = ab + cd seria par, o que
com p 2 + q2. Portanto, a fim de que 4pq(p2 + q2) seja um quadrado é um absurdo. Logo,
perfeito, devemos ter p, q e p 2 + q2 quadrados perfeitos, digamos
mdc (2a - e, b + 2d) = 1 ou p.
com a, /3, 1 EN. Segue, então, que Afirmamos que mdc (2a - e, b + 2d) = 1. Suponha que mdc (2a -
e, b + 2d) = p. Então (2.4) nos daria que p 2 1 3(b2 - c2) e, daí,
p2 1 (b2 - c2), uma vez que p # 3. Porém, p = ab + cd > b, de modo
que O < b2 - c2 < p 2, um absurdo.
com
Agora, sejam x = 2a-c, y = b+2d. Então mdc(x,y) = 1 e segue
e= u2 + v2 > u = P2 + q2 = ,2 ~ r,
de (2.4) que x 2 - y 2 = 3(b2 - c2) ou, ainda,
contrariando a minimalidade de e. Logo, não há soluções não nulas
de xn + yn = zn quando 4 1 n. • (x - y)(x + y) = 3(b - c)(b + e).
Exemplo 2.5 (IMO). Sejam a, b, e, d inteiros tais que a > b > e > (a) b e e têm paridades distintas: o fato de ser p = ab + cd garante
d > O. Suponha que que mdc (b, e) = 1. Como b + e e b - e são ímpares, isto implica em
rndc (b + e, b - e) = 1. Um argumento análogo implica em mdc (x +
ac + bd = (b + d + a - e) (b + d - a + e). y, x - y) = 1 também. Se 3 1 (x + y) então
Prove que ab + cd nunca é um número primo.
x-y = mdc (x-y, (b+c)(b-c)) = mdc (x-y, b+c) mdc (x-y, b-c)
Prova. Simplificando a condição do enunciado obtemos a 2 + c2 - ac =
b2 + d2 + bd ou, ainda, e
(2a - c) 2 + 3c2 = (b + 2d) 2 + 3b2. (2.4) x+y = 3 mdc (x+y, (b+c)(b-c)) = 3 mdc (x+y, b+c) mdc (x+y, b-c).
60 Equações Diofantinas : 2.1 Ternos Pitagóricos 61
Escrevendo a = mdc (x - y, b - e), /3 = mdc (x - y, b + e), '"'( ==, chegamos, como acima, a 2a = a/3 + /38 + 3'"'(8 - ª'"'!, b = ª'"'! + /38,
mdc (x + y, b - e) e 8 = mdc (x + y, b + e), obtemos x - y = a/3 e e= -a'"'(+ /38 e 2d = -a/3 - /38 + 3'"'(8 - ª'"'!· Daí,
x + y = 3'"'(8. Por outro lado,
2p = 2(ab + cd) = /38(2a 2 + 38 2).
b - e = mdc (b - e, x - y) mdc (b - e, x + y) = a'"'(
Nem /3 nem 8 são iguais a p, pois, do contrário, teríamos b > p, o que
e, analogamente, b +e= /38. Resolvendo para a, b, e, d obtemos contradiz ser ab+cd = p. Logo /38 :S 2, donde O< d< e::::; 2-a'"'(::::; 1,
um absurdo. •
4a = a/3 + /38 + 3'"'(8 - ª'"'!, 2b = ª'"'! + /38,
(b) b e e têm paridades iguais: nesse caso, b e e devem ser ímpares, (x + y)2 + (y + z) 2 = (x + z) 2.
pois, do contrário, 2 dividiria ab + cd = p. Assim, nas notações acima,
temos x e y também ímpares. Segue que 3. Mostre que as soluções em inteiros não nulos da equação x 2 +
2y 2 = z 2 são dadas por
mdc(b+c,b-c) = mdc(x+y,x-y) =2,
x = ±(u 2 - 2v 2)d, y = ±2uvd, z = ±(u 2 + 2v 2)d,
poisjátemos mdc(x,y) = 1. Se3 I (x+y) (ooutrocasoénovamente
análogo), escrevendo onde d, u e v são inteiros não nulos, com u e 2v primos entre si.
,,
1,
:!
62 Equações Diofantinas 2.2 A equação de Pell 63
5. (a) (Hungria.) Mostre que não existem soluções racionais x e onde d> 1 é um inteiro livre de quadrados (cf. problema 6, página 47)
y para a equação x 2 + xy + y 2 = 2. e m é um inteiro qualquer. A equação acima é conhecida como a
(b) Encontre todas as soluções racionais x e y para a equação equação de Pell 2 .
x2 + xy + y2 = 1.
Uma vez que d é um produto de primos distintos, o exemplo 1.23
garante que ,/d, é irracional. Em particular, quando m = O a equação
6. Prove o seguinte teorema de Euler: não existem inteiros nao acima não admite soluções inteiras além da trivial x = y = O, pois, se
nulos w, x, y e z tais que w 2 + x 2 + y 2 = 7z 2 . não fosse este o caso, teríamos x, y i- O e, daí, ,/d,= :Ey E Q. Por outro
lado, se d, m < O, então a equação de Pell não tem soluções e, se d<
7. (Bulgária.) Prove que não existem x, y e z racionais, tais que O< m, então (2.5) tem no máximo um número finito de soluções. No
entanto, mesmo para d, m > O, (2.5) pode não ter nenhuma solução,
x2 + y 2 + z 2 + 3(x + y + z) + 5 = O.
conforme atesta o problema 1.
Doravante, suporemos que m = 1 ( o caso geral é parcialmente
8. (Crux.) Seja r um inteiro positivo dado. Queremos calcular o respondido pelo problema 5; a esse respeito, veja também [5]). O
número de triângulos retângulos ABC, dois á dois não congru- exemplo a seguir mostra, nesse caso, que (2.5) pode ter uma infinidade
entes, satisfazendo as condições a seguir: de soluções.
(a) O raio do círculo inscrito em ABC mede r. Exemplo 2.6. A equação x 2 - 2y 2 1 possm uma infinidade de
soluções inteiras positivas.
(b) Os comprimentos dos lados de ABC são números inteiros
primos entre si. Prova. Note que x = 3, y = 2 é uma solução. Por outro lado,
podemos gerar infinitas soluções dessa equação a partir de uma solução
Mostre que o número de tais triângulos é 2k, onde k é o número não nula (a, b), do seguinte modo: partindo de a 2 - 2b2 = 1, temos
de fatores primos distintos de r.
(a+ bv'2)(a - bv'2) = 1
9. (IMO.) Dados n EN e um círculo de raio 1, mostre que podemos
escolher n pontos A 1 , A2 , ... , An sobre o mesmo, tais que AiAj e, daí,
é racional, quaisquer que sejam 1 ~ i < j ~ n. (a+ bv'2)2(a - bv'2) 2 = 1.
Desenvolvendo os binômios, chegamos a
ou, ainda, a
Examinamos, nesta seção, as soluções de equações do tipo
(a 2 + 2b2 )2 - 2(2ab) 2 = 1.
x2 - dy 2 = m, (2.5) , 2 Após John Pell, matemático inglês do século XVII.
j
64 Equações Diofantinas 2.2 A equação de Pell 65
Portanto, (a 2 + 2b2 , 2ab) também será solução e, sendo a e b naturais, : Segue, daí, que
temos a < a 2 + 2b2 . Repetindo o argumento acima sucessivas vezes,
obtemos uma infinidade de soluções para a equação dada. • , a_ lJaJ - lkaJ < 1 1 < 1 .
(2.6)
l
j - k (j - k )n - (j - k )2'
O método utilizado no exemplo acima se generaliza facilmente para
mostrar que a equação de Pell x 2 - dy 2 = 1 admite infinitas soluções , e fazendo x = lja J- l ka J e y = j - k, temos O y - n e 1 !!'.y - a 1 << < -1..
y2
não nulas, desde que admita pelo menos uma tal solução; ademais, Por outro lado, se d= mdc (x, y) ex= dx 1 , y = dy 1 , então
com poucas modificações podemos tratar equações mais gerais (cf. ,
X1 1 1 1
problemas 5 e 7, por exemplo). I Y1 - a < Y2 S Yi '
Apesar de, em certos casos particulares, podermos encontrar facil- ;
de modo que podemos supor que mdc (x, y) = 1.
mente infinitas soluções da equação (2.5), por enquanto não sabemos
se há outras. A fim de responder essa pergunta, precisamos de um Para garantirmos a existência de infinitos tais pares, sejam x e y
resultado preliminar sobre aproximação de irracionais por racionais, inteiros não nulos, primos entre si e tais que 1 ~ - a 1 < ; 2 • Escolhendo
devido a G. L. Dirichlet. Para a prova do mesmo, lembre-·se de que um natural n1 tal que 1 ~ - a 1 > ; 1 e repetindo (com n1 no lugar de
(cf. dicussão que precede o problema 15, página 32), para x E IR, a_ n) o argumento que levou a (2.6), obtemos inteiros não nulos e primos
parte fracionária de x é o número real {x} E [O, 1), definido por entre si X1 e Y1, tais que O < y 1 S n 1 e
{x}=x-lxJ.
,,1:
,, '
Lema 2.7 (Dirichlet). Se a é um irracional qualquer, então existem.
infinitos racionais ~, com x e y inteiros não nulos, primos entre si e
Por outro lado,
tais que
l -ai<
x1
Y1
_1_
n1Y1 -
<2_ <1:-:-al
n1 y . '
Prova. Seja n > 1 um inteiro qualquer e considere os n + 1 números ,
de sorte que ;: =/:- ~. Repetindo esse argumento sucessivas vezes,
{ja} E [O, 1), com j = O, 1, ... ,n. Como
obtemos uma infinidade de pares (x, y) com as propriedades desejadas.
[O, 1) = [ O, ~) u [ ~, ~) u ... u [ n : l, 1) ,
O lema de Dirichlet permite mostrar que, fixado um natural d livre
•
uma união de n conjuntos, o princípio da casa dos pombos garante a ;
de quadrados, a equação (2.5) admite uma infinidade de soluções para
existência de índices O S k < j S n tais que {j a}· e { ka} pertencem
pelo menos um valor inteiro de m.
a um mesmo intervalo dos que aparecem no lado direito da igualdade
i
acima. Então l{ja} - {ka}I < ou, o que é o mesmo, Lema 2.8. Se d > 1 é um natural livre de quadrados, então existe
m E Z \ {O} tal que a equação x 2 - dy 2 = m admite infinitas soluções
l(j - k)a - (ljaJ - lkaJ)I < .!..
n inteiras.
2.2 A equação de Pell 67
66 Equações Diofantinas
divisão de um inteiro por m são em número finito, podemos escolher Chegamos finalmente ao resultado desejado, o qual caracteriza to-
duas dessas soluções, (x1, Y1) e (x2, Y2) digamos, tais que lx1I -=!=- lx2I e das as soluções da equação x 2 - dy 2 = 1, quando d> 1 é um natural
m divida x2 - X1, Y2 - Y1· Então livre de quadrados. Observe que, pela proposição anterior, tal equação
admite pelo menos uma solução.
68 Equações Diofantinas 2.2 A equação de Pell 69
Assim,
1 (x~ - dyft = (x1 + Y1 Vdt(x1 - Y1 Jdt Assim, se mostrarmos que XXn - dyyn, XnY-YnX > O, obteremos uma
(xn + YnVd)(xn -ynVd) = X~ - dy~, contradição à minimalidade de a (observe que, aqui, operamos com a
descida de Fermat).
de modo que todos os pares (xn, Yn) do enunciado são soluções da Para o que falta, sendo
equaçao.
Agora, se (x, y) é uma solução qualquer em inteiros positivos, basta a= XXn - dyyn e b = XnY - YnX,
mostrarmos que existe n E N tal que
temos a + bvd = x+ynv'd
a
> 1 e a2 - db 2 = 1, de modo que
x+yVd=d1 • 1
a - bVd = vd > O.
a+b d
Suponha o contrário. Como a > 1, temos limn-++oo an +oo, de
sorte que existe n E N tal que Então, por um lado,
y2 + 1 = x(x + y).
e (xi, Y1) é a solução positiva tal que x 1 + y 1vÍ2 é o menor possível.
::;
Como os pares (1, 1), (1, 2), (2, 1), (2, 2), (3, 1), (1,-3), (2, 3) e (4, 1) 7. Generalize o problema anterior do seguinte modo: sejam a, b, e E
111
Ji Z tais que ~ = b2 - 4ac é maior que 1 e livre de quadrados. Se
,! li!i não são soluções da equação mas (3, 2) o é, é imediato verificar que
n E Z for tal que a equação
11: 1
:
ax 2 + bxy + cy 2 = n
CAPÍTULO 3
73
74 Funções Aritméticas Multiplicativas .
75
illi I
k = mdc (k, mn) = mdc (k, m) · mdc (k, n).
;1,
'j·.''.
,1
é o número de divisores positivos do natural n. Afirmamos que a
,1 Portanto, fixado k E D(mn) e pondo a= mdc (k, m) e b = mdc (k, n),
função d : N --+ :IR. assim obtida, denominada função número de
'li temos a E D(m), b E D(n) e f((a, b)) = ab = k, de sorte que k per-
!l. divisores positivos, é multiplicativa. De fato, para m, n > 1 primos
1:1 '' tence à imagem de f. Mas, como k E D(mn) foi escolhido arbitraria-
entre si, com decomposições canônicas em primos n = pf 1 ••• p~k e
1: 1 mente, segue que f é sobrejetiva. •
:i1'
:,·
76 Funções Aritméticas Multiplicativas 77
Em tudo o que segue, escreveremos Lo<dln f (d) para denotar o Portant o, se n -_ p a1 °'k •
1 ... pk , com P1 < · · · < Pk primos e 0:1, ... , O:k E
somatório dos valores f(d) quando d varia em D(n). A proposição a N, segue de (3.1) e dos cálculos acima que
seguir estabelece uma das mais importantes propriedades das funções
aritméticas multiplicativas. (3.2)
Proposição 3.4. Se f : N ----+ IR é uma função aritmética multiplica-
tiva, então a função F : N ----+ IR dada por Para o exemplo a seguir, lembramos (cf. problema 6, página 47)
F(n) = L J(d) que um inteiro n > 1 é livre de quadrados se n = P1 ... Pk, com p 1 <
... < Pk primos; equivalentemente, n é livre de quadrados se não existe
O<dln
um inteiro q > 1 tal que q2 n. 1
também é multiplicativa.
A próxima definição apresenta uma das mais importantes funções
Prova. Se mdc (m, n) = 1, segue do lema anterior e do caráter mul- aritméticas multiplicativas, a função de Mobius.
tiplicativo de f que
Definição 3.6. A função de Mõbius 1 é a função µ : N ----+ IR dada
por
O<dlmn
1, se n = 1
={ O, se q2 n, para algum inteiro q > 1
(01mf(d1)) (O~nf(dz)) µ(n) 1
A proposição a seguir destaca uma importante propriedade da fun- é uma bijeção; realmente, como f o f = Idv(n), segue do exemplo 1.40
ção de Mõbius. do volume 3 que f é uma bijeção.
Nas notações da proposição 3.4, a fórmula (3.4) a seguir, conhecida
Proposição 3.7. Seµ: N---+ lR é a função de Mõbius, então
como a fórmula de inversão de Mõbius, ensina como recuperar a
1 sen=l função f a partir da função F (mesmo quando f não for multiplica-
L µ(d)
O<dln
=
{ o'se n > 1
'
tiva).
Teorema 3.8 (Mõbius). Seja f : N ---+ lR uma função aritmética
Prova. Seja F: N---+ lR a função dada por
qualquer. Se F : N ---+ lR é a função dada por F (n) = Z:o<dln f (d),
F(n) = L µ(d). então
O<dln f(n) = L
F (~)µ(d)= F(d)µ (~). L (3.4)
O<dln O<dln
Pela proposição 3.4, Fé multiplicativa, e queremos mostrar que F(l) = ·
Prova. A segunda igualdade em (3.4) segue da bijetividade da função
1 e F(n) = O para n > 1. Consideremos três casos separada~ente:
em (3.3). Para a primeira igualdade, note inicialmente que
d 1-------t n/ d
80 Funções Aritméticas Multiplicativas 81
Antes de prosseguir com o desenvolvimento da teoria, mostremos Definição 3.10. A função cp de Euler é a função cp: N-+ N dada
por um exemplo como a fórmula de inversão de Mobius pode ser uti- por
lizada como ferramenta de contagem. cp(n) = #{1 :s; k :s; n; mdc (k, n) = 1}.
Exemplo 3.9. Fixado n EN, dizemos que uma sequência (x 1 , x 2 , ... , Em palavras, cp( n) conta quantos inteiros de 1 a n são primos com
Xn), tal que x j E {O, 1} para 1 :s; j :s; n, é aperiódica se não existir n. No que segue, dentre outras propriedades, vamos mostrar que fun-
divisor O < d < n de n tal que a sequência seja formada pela justa- ção cp é multiplicativa e usar esse resultado para calcular cp( n) em
posição de J cópias do bloco (x 1 , ... , xd)· Calcule, em função de n, o função da decomposição canônica de n em fatores primos2 . Comece-
número de sequências aperiódicas de n termos. mos com um resultado que será útil em outras circunstâncias.
Prova. Note inicialmente que, pelo princípio fundamental da conta:- Proposição 3.11. Se cp: N-+ N é a função de Euler, então
gem, há exatamente 2n sequências (x 1 , x 2 , ... , Xn) tal que Xj E {O, 1}
para 1 :s; j :s; n. L cp(d) = L cp (~) = n.
O<dln O<dln
Por outro lado, para uma sequência (x 1 , x 2 , ... , xn) como no enun-
ciado, definimos seu período d como o menor divisor positivo de n tal Prova. A primeira igualdade segue da bijetividade da função f em
que a sequência seja formada pela justaposição de n/ d cópias do bloco (3.3). Para a segunda igualdade, seja D(n) = {1 = a 1 < a 2 < · · · <
(xi, ... , xd)· Em particular, uma sequência aperiódica (x 1 , x 2 , ... , xn) at = n }; se 1 :s; k :s; n, temos mdc (k, n) E D(n), i.e., mdc (k, n) = ai
!'' tem período n. para algum 1 :s; i :s; t; portanto, sendo Ai = {1 :s; k :s; n; mdc (k, n) =
Mais geralmente, se a sequência (x 1 , x 2 , ... , xn) tiver período d, ai}, segue que
então (x 1 , ... , xd) será aperiódica, e reciprocamente. Portanto, se ak ln= A1 U ... U At,
denota o número de sequências aperiódicas de k termos, temos
uma união disjunta e, daí, n = L1= IAil·
1 Note, agora, que
•
A teoria desenvolvida até o presente momento nos permite intro-
duzir e estudar as principais propriedades de outra importante função
aritmética, conforme ensina a definição a seguir. 2 Para uma outra abordagem, veja o problema 2.1.6 do volume 4.
•
82 Funções Aritméticas Multiplicativas 83
Para o teorema a seguir, também devido a Euler, precisamos do Prova. Calculemos inicialmente o valor de <p(pª), com p primo e a ~
fato, deixado como exercício para o leitor (veja o problema 1), de que 1 inteiro:
o produto de duas funções aritméticas multiplicativas também é uma
função multiplicativa. <p(pª) #{1::; k::; pª; mdc (k,pª) = 1}
#{1::; k::; pª; mdc (k,p) = 1}
Teorema 3.12 (Euler). A função de Euler <p : N-+ N é multiplicativa. # ({1,2,3, ... ,pª} \ {p,2p,3p, ... ,pª- 1p})
pª - pª-1
Prova. Fazendo G(n) = n, a proposição anterior nos dá I:o<dln <p(d) =
G(n). Portanto, segue da fórmula de inversão de Mobius que pª ( 1-i).
<p(n) =L µ(d)G CD= L µ(d)·~= L µ~d).
O<~n O<~n
n
O<~n
(3.5)
Agora, como <pé multiplicativa, segue de (3.1) que
F(n) = L µ~d)'
O<dln
uma vez que cp(z) ~ 1ep ~ 2. Portanto, tomando logaritmos na base o segundo estudante deveria fazer o mesmo em relação à equação
2, obtemos 1 1 1
a :::; 1 + log 2 x. X y n
Ademais, cálculos análogos aos acima fornecem Sabendo que a soma das respostas dos estudantes foi 78, mostre
que ao menos um deles cometeu um erro de cálculo.
X= pª- 1 (p - l)cp(z) ~ p - 1,
5. (Hungria - adàptado.) Para n E N e O :::; r :::; 3, seja Dr(n) o
donde p :::; x + 1.
conjunto dos divisores positivos de n que deixam resto r quando
Portanto, se y = pf 1 . . . p~k é a fatoração canônica de y em primos
divididos por 4.
e a = max {a 1 , ... , ak}, segue do que fizemos acima que a :::; 1 + log2 x
e, daí, (a) Se mdc (m, n) = 1, prove que existe uma bijeção natural
• D3(mn) .
(b) Prove que ID1(n)I ~ ID3(n)I.
,11·11111
(b) Se a= 1, mostre que 2k+1 - 1 é primo, donde k +1 = p, 12. * Seja f : N -+ ~ uma função qualquer e F : N -+ ~ a função
um primo. dada por F(n) = LO<dln f(d). Prove que
(c) Se a= 2k+1 _ 1, mostre que s(q) 2 1 +a+a2 > (a+ l)a = ,
2k+Ia, uma contradição.
(d) Se a > 1 e a -=/:- 2k+1 - 1, então q tem pelo menos quatro
divisores positivos distintos: 1, 2k+1 - 1, a e (2k+1 - l)a.
13. Seja f : N -+ {-1, 1} a função definida por f(l) = 1 e, para
Conclua, a partir daí, que s(q) > 2k+la, chegando a uma
n > 1 inteiro, f(n) = (-l)ª 1 +·+ 0 k, onde n = pf 1 .• • pik é a
nova contradição.
decomposição canônica de n em fatores primos. Prove que, para
8. Um natural n é abundante se s(n) > 2n. Se a for abundante, todo inteiro n 2 1, tem-se
mostre que ab é abundante, qualquer que seja b EN.
f(n) = (-l)k ,
= 1 e, para n > 1, t lYJ J(j) = Lv'nJ.
P1P2 · · ·Pk 14. (OBM). Prove que, para todo natural n > 1, temos
onde p 1 ,p2 , ... ,Pk são os primos distintos que dividem n. Ache
todos os n EN tais que Lo<dln J(d) = O. n ( -1 + -1 + · · · + -1) <
2 3 n
L d(k) ::; n
n (
1 + -1 + -1 + .. · + -1) .
2 3 n
k=l
10. Se f : N -+ ~ é uma função aritmética multiplicativa, prove que
z:
O<dln
µ(d)J(d) = II (1 -
pprimo
J(p)). 15. Seja F uma função aritmética multiplicativa e f : N -+ ~ a
função definida implicitamente por F(n) = Lo<dln J(d). Prove
Pin
que f também é uma função aritmética multiplicativa.
Em seguida, use esse resultado para provar os dois itens a seguir:
16. O objetivo deste problema é dar outra prova do caráter multi-
(a) LO<dln dµ(d) = npprimo(l - p). plicativo da função <p. Para tanto, para m, n > 1 inteiros primos
pln
(b) Lo<dln µ( d) 2 = 2k, onde k é o número de fatores primos entre si, arranje os naturais de 1 a mn na tabela
distintos de n (observe que k = O se n = 1).
1 2 k m
11. Prove o teorema de Liouville4 : para cada n EN, tem-se m+l m+2 m+k 2m
2m+l 2m+2 2m+k 3m
í:: d(j))' = L d(j)'.
(O<jln (n - l)m + 1 (n-l)m+2 (n - l)m + k mn
O<jln
4 Após Joseph Liouville, matemático francês do século XIX. e faça os seguintes itens:
88 Funções Aritméticas Multiplicativas 89
(a) Um inteiro da tabela é primo com mn se só se for primo (c) Se m for ímpar, então
com me com n.
(b) Em uma coluna qualquer, ou todos os elementos são primos
com m ou nenhum é primo com m.
(c) Há exatamente cp(m) colunas formadas de inteiros primos Conclua, a partir daí, que, n I Sm (n) se m for ímpar.
com m, cada uma delas contendo exatamente cp(n) inteiros
21. Nas notações do enunciado do problema anterior, prove os se-
primos com n.
guintes itens:
(d) Conclua que cp(mn) = cp(m)cp(n).
(a) Todo 1 ~ m ~ n pode ser unicamente escrito da forma
17. Se F (n) = Eo<dln cp~d) , calcule F (n) em termos da decomposição. m= ~ · a, com a, d E N tais que d I n e mdc (a, d) = 1.
canônica de n. (b) L..,Q<dln
~ Sk(d) _
dk -
1 k+2k+ .. +nk
nk ·
:li,:i'.•
18. Para cada m E N, seja Am o conjunto dos pares ordenados (c) Sk(n) = nk Í:o<dln µ (~) (1k+2kJ·+dk).
l
,li, (d, n). tais que d é um divisor positivo de m, 1 ~ n ~ m e
(d) S 1 (n) = !ncp(n).
li! mdc (d, n) = 1. Ache todos os m EN tais que IAml = 1993.
'11 (e) S 2 (n) = }n2 cp(n) + !n Tipprimo(l - p).
! pln
19. * Para n > 2 inteiro, prove os itens a seguir:
(a) Se Pn = {1 ~ k ~ n; mdc (k, n) = 1}, então a correspon-
dência d H n - d é uma bijeção de Pn.
(b) cp( n) = 2l, onde l é o número de elementos de Pn menores
ou iguais a n;1; em particular, cp(n) é par.
CAPÍTULO 4
91
92 Cálculo e Teoria dos Números I 4.1 Sobre a distribuição dos primos 93
maneira uniforme ao longo dos naturais. O teorema a seguir, conhe- , Em palavras, (4.1) significa que a quantidade de números primos
ciclo como o teorema do número primo, torna essa afirmativa mais , menores ou iguais a x é um infinitésimo em relação a x, i.e., cresce
precisa. Antes de enunciá-lo, fixemos uma notação: para cada real bem mais lentamente que x, à medida que x --+ +oo. No que se-
positivo x, denotemos por 1r(x) o número de primos menores ou iguais .i gue, deduziremos a validade desse resultado diretamente, para o quê
a X. precisamos, inicialmente, do seguinte resultado.
Teorema 4.1 (Hadamard1 ). Nas notações acima, temos Proposição 4.2. Se k é um natural qualquer, então
lim 1r(x) = 1 1r(x) <p(k) 2k
x--++oo X j log X ' --<--+-
X k X'
onde log : (O, +oo) --+ R denota a função logaritmo natural.
onde <p é a função de Euler.
A prova do teorema acima foge largamente ao escopo destas notas ,
1·.,1
mas, para o leitor interessado, recomendamos o clássico [3]. Ressal- ' Prova. Seja x > O real, com lxJ = kq + r, onde O Sr< k, e note
tamos, contudo, que o teorema de Hadamard garant~ que as .funções que
;x
1r(x) e 10 são assintoticamente (i.e., à medida que x--+ +oo) iguais. e
lim 1r(x) = O. Mesmo tendo sido obtida por intermédio de uma contagem bas-
(4.1)
x--++oo X tante simples, a proposição anterior permite mostrar que 1r(x) é, quando
1 Após Jacques Hadamard, matemático francês do século XIX. x--+ +oo, um infinitésimo em relação a x. Lembremos, inicialmente,
2 Após Pafnuty Chebyshev, matemático russo do século XIX. o seguinte resultado (cf. exemplo 3.20 do volume 3).
94 Cálculo e Teoria dos Números 4.1 Sobre a distribuição dos primos 95
Lema 4.3. A série harmônica Ln:::::i ~ diverge. Prova. Temos de provar que, dado E > O arbitrariamente, existe x 0 >
O tal que x > Xo ::::} ~~) < E. Para tanto, sejam P1,P2, ... ,Pn os
Precisamos de mais um lema técnico. n primeiros números primos e k = P1P2 ... Pni a proposição 4.2 e a
fórmula para cp(k) nos dão
Lema 4.4. Sem> 1 é inteiro e p 1 ,p2 , ... ,Pk são os primos menores
ou iguais a m, então 1r(x) <
X
(l ___!_) (l ___!_) ... (l _~) +
Pl. P2 Pn
2P1P2 .. · Pn.
X
(4 .3 )
Prova. Pela fórmula para a soma dos termos de uma série geométrica
lim
n~+oo
[(1 - __!_) ... (1 - ~)]-l
~ ~
= +oo,
Por outro lado, a escolha de P1, P2, ... , Pk, juntamente com o E
<-
teorema fundamental da aritmética, garante a validade da inclusão 2
' 1
Surge, então, uma pergunta natural no contexto de números primos: diverge. Por fim, suponha que a série dos inversos dos primos convirja
a série En;:::,:l P~, onde Pn é o n-ésimo primo, tem muitos ou poucos para um certo real a. Então, para todo n EN, temos, a partir do lema
naturais, no sentido acima? O teorema 4.5 nos encorajaria a dizer que anterior, que
tal série possui poucos naturais. Mas nossa intuição falha nesse ponto,
pois, conforme mostraremos a seguir, a série En>l ....!... é divergente.
- Pn
Antes, contudo, precisamos de um resultado auxiliar.
Lema 4.6. Para todo x > O tem-se ex> 1 + x.
Prova. Imediato a partir do exemplo 3.9 do volume 4. onde exp : lR. --+ lR. denota a função exponencial de base e. Mas isto
é um absurdo, pois já sabemos que a soma dos inversos dos naturais
Estamos, agora, em condições de apresentar mais um importante
livres de quadrados diverge. •
resultado devido ao grande L. Euler.
''
1
Teorema 4. 7 (Euler). Se Pk denota o k-ésimo primo, então a série
Ek>l ...!.. é divergente.
- Pk
( L ~1) ( + L
15,j<vm J
1 L . .1 .
15:i5:k 15:11 <···<íi5:k P11P12 ... P1i
) 1
2:: L -:-
m
í=l J
X> Xo.
para todo real x 2:: 8, onde log : (O, +oo) --+ lR. denota a função
Como Z::::1::::: 1 y diverge e Z::::1::::: 1 ] 2 converge, concluímos que a
logaritmo natural. Para tanto, faça os seguintes itens:
L; J
(a) Para todo n E N, prove que (2;) é divisível por todos os
primos p tais que n < p ::; 2n. Ademais, (2;) < 22n.
">1
J_
j ldq
Cálculo e Teoria dos Números O teorema de Chebyshev 99
98
(b) Prove que, para n 2 2, tem-se 1r(2n) < 1r(n) + (2log2) 10 ;n. (d) Use o fato de que t = Llog2 n J :::; n para obte a estimativa
J(n) < !
- 4
(n (4 - _!_) (4 --1)
3
2
4t
+n
2t-l
+t+ 1) . que
.
11m X
- - = +oo,
x-++oo logx
100 Cálculo e Teoria dos Números 4.2 O teorema de Chebyshev 101
P~Y p~n
Ademais, se Vp é o único inteiro tal que pvp :::;; 2n < pvp+l então µP. :::;; vP. p primo p primo
Prova. Para a primeira parte, veja que, como (2:) = a maior i~~};, Basta, então, mostrarmos que o lema é verdadeiro para x = n,
pot encia d e p que dºlVlºd e (2n) e, p
Pep(2n) d ( f - ) ( ) onde n 2 3 é um inteiro ímpar. Para tanto, façamos indução sobre
2 ep(n), on e C . seçao 1.3 ep 2n e
A •
1
n
ep(n) denotam, respectivamente, os expoentes das maiores potências n 2 3 inteiro ímpar, observando que já temos a validade do resultado
1 ,, '
de p que dividem (2n)! e n!. Portanto, para n = 3. Assuma, como hipótese de indução, que ele também é
válido para todos os inteiros ímpares menores que um certo inteiro
11,
1
µP = ep(2n) - 2ep(n) ímpar n 2 5. Defina k = n~l, onde escolhemos o sinal de tal modo
e basta usar a proposição 1.48 para obter a fórmula do enunciado. que k seja ímpar. Então, k 2 3 e n - k é um natural par, tal que
Para a segunda parte, segue da definição de vP que
= 2k =f 1 - + 1.
l~J- l; J
n - k k :::;; k
j > Vp ==} pl > 2n ==} 2 = 0.
Daí, se pé um primo tal que k < p:::;; n, então pé ímpar e p I n!, p f k!
Por outro lado, para j 2 1 temos e p f (n - k)! (não pode ser n - k = k + 1 = p, uma vez que n - k é
l
2nj _ 2
pJ
ln_J
pJ
< 2n _ 2 (
pJ
n__ 1)
pJ
= 2
'
par). Concluímos, então, que o produto de todos esses primos divide
n!
de sorte que l!~ J- l; J : :;
2 1, para j 2 1. Portanto, segue dos fatos
(;) k!(n - k)!'
acima que de modo que
:'.S;
1/p
L 1= Vp·
II
k<p~n
p:::;; (;). (4.6)
j=l p primo
102 Cálculo e Teoria dos Números 4.2 O teorema de Chebyshev 103
Agora, nossas escolhas garantem que k e n - k são distintos. Mas Mas, para qualquer primo p tal que 2; < p s n, temos
como G) = (n:k) e tais números binomiais são parcelas da expansão
2 2 n 3 2n
binomial de 2n = (1 + ir,
segue que (~) S 2n-l e (4.6) fornece p ~ 3, p > 3np, 1 S p
< 2, 2 S <3 p
k<p$n
(4.7) e, daí, !~ < ! S 1; segue que
(l; J-2 l; J) = l:J-2 l~J = 2- 2 = O
p primo
Por outro lado, para qualquer primo p tal que ffn < p s
2; , temos
II p = ( II p) ( II p) < 4k. 2n-l = 22k+n-1 S 22n = 4n_ p2 > 2n e segue, do lema 4.8, que 1 S µP S vP = 1. Finalmente, para
p$n p$k k<p$n
p primo p primo p primo os primos p S ffn, temos, novamente pelo lema 4.8, que pµP pvp s s
teorema de Chebyshev.
Teorema 4.10 (Chebyshev). Para cada inteiro n > 1, há ao menos J
um primo entre n e 2n.
Prova. Faremos um argumento geral para mostrar o resultado para (4.8)
n ~ 128. Para n < 128 tome p = 3 para n = 2, p = 5 para n = 3 e
p = 7 para 4 S n S 6;
p = 13 para 7 S n S 12;
p = 23 para 13 S n S 22;
onde utilizamos o lema 4.9 na desigualdade acima. Por outro lado,
p = 43 para 23 S n S 42;
uma vez que 9 e os números pares maiores que 2 não são primos, a
p = 83 para 43 S n S 82;
condição n ~ 128 ({::} ffn ~ 16) garante que
p = 131 para 83 S n S 127.
Suponha, agora, que o resultado seja falso para algum n ~ 128. 1r
r,:;-:-) S ffn -
( v2n 1
-1.
2
Nas notações do lema 4.8, tal suposição garante que
Substituindo essa última estimativa em (4.8), chegamos a
(2:) = II
p$2n
pµP = II
p$n
~P.
Por fim, note que (2;) é a maior dentre as 2n + 1 parcelas do 4. Ache todos os m, n, x, y EN tais quem, n > 1 e (m!)x = (n!)Y.
desenvolvimento binomial de 4n = (1 + 1) 2n. Como a primeira e a
última de tais parcelas são iguais a 1, temos 2n(2;) > 4n ou, ainda,
Para os dois problemas a seguir, o leitor achará conveniente uti-
( 2n) > 4 n estimativa que, combinada com (4.9), fornece
n 2n' lizar a seguinte versão forte do teorema de Chebyschev: para
todo inteiro n 2:: 6, há pelo menos dois primos entre n e 2n.
4n < 4 2; (2n)~-1
2n
5. Ache todos os m, n EN tais que (n - l)!n! = m!.
ou, ainda,
2 2; < (2n)~. 6. Encontre todos os naturais n > 1 tais que todo natural 1 <
m < n que seja relativamente primo com n seja, em verdade,
Tomando logaritmos naturais e dividindo por ~, a desigualdade um número primo.
acima pode ser reescrita como
Um evento em E é um subconjunto não vazio X de E, sendo sua Lema 4.11. Se f : N -+ lR é uma função qualquer, então, para n
probabilidade definida por natural, temos:
P(X) = L P(x).
xEX (a) Í::~=1 Í:o<dlk f(d) = Í::~=1 f(k) liJ ·
Voltando, agora, a nosso problema, seja4 E= ln x ln e suponha
que os elementos de E são equiprováveis, de sorte que a probabilidade
de cada um deles é igual a ,;2 • Dado n E N, se Pn é a probabilidade
de um par ordenado (a, b) E E ter suas entradas a e b primas entre si, Prova. O item (a) é o conteúdo do problema 12, página 87. Quanto
queremos mostrar que ao item (b), observe inicialmente que o conjunto dos pares ordenados
lim Pn = 6 . (d, k) de inteiros tais que 1 :::; k :::; n e O < d I k coincide com o
2
n-too 7f
conjunto dos pares ordenados (d, k) de inteiros tais que 1 :::; d :::; n e
Para tanto, devemos, primeiramente, encontrar uma expressão ade-
k = ld, para algum 1 :S l :S n/ d. Portanto, podemos trocar a ordem
quada para Pn e, para tal fim, começamos observando que Pn _= l~I,
dos somatórios envolvidos, obtendo
onde
X= {(a,b) E ln X ln; mdc(a,b) = 1} n n
1:,
IX! = 2#{(a, b) E ln
-#{(a,a)
X
E ln X ln;
ln; mdc (a, b)
mdc(a,a)
= 1 e a :S b}
= 1}
I:: J(d) . ( d + 2d + ... + !!_ J d)
d=l d
l
~t l~J (l~ J + 1) .
n
2L#{a E ln; mdc(a,b) = 1 e a :S b}-1 df (d)
b=l d=l
n
2I::cp(b)-l,
b=l
•
onde cp é a função de Euler. Portanto,
n
Lembre-se, agora, de que, de acordo com (3.5),
2I::cp(b)- l
b=l
Pn= -----
n2
(4.11) cp(n) = n L µ~d)'
O<dln
Precisamos, agora, do seguinte resultado auxiliar.
4 Como no volume 4, pomos In = {1, 2, ... , n }. onde µ : N -+ lR é a função de Mobius. Portanto, o item (b) do lema
108 Cálculo e Teoria dos Números 4.3 O teorema de Cesaro 109
= tµ(k) l~J (l~J + 1) (4.12) Prova. Inicialmente, obtemos a partir de (4.13) que
=
k=l
n 2
I: µ(k) l~J + I: µ(k) l~J ·
n
P. -t. µi:) - t.µ(k) G, lIJ' -:, )
k=l k=l
(4.14)
n 11 1 21
A segunda parcela da última soma acima pode ser calculada com :S ~ k2 - n2 l~ J ·
o auxílio do item (a) do lema anterior, juntamente com o resultado da
A fim de estimar o último somatório acima, afirmamos que, para
proposição 3.7. De fato, temos
n e k naturais, com 1 :S k :S n, vale
n n
I: µ(k) l~J = I: I: µ(d) = ·1,
k=l k=l O<dlk
De fato,
uma vez que Eo<dlk µ( d) só não vale O para k = 1. Segue, pois, de
n
(4.11) e (4.12) que <-
- k
=}
1 n
Pn =
n
n2 Lµ(k)
k=l
lkJ 2
(4.13)
também é convergente.
-n2 Ln -k1 < -n2 ( 1 + Jn -dt
1 )
t1
=
2
-(log
n
n + 1) ---+ O
k=l
r
1
quando n --+ +oo, onde log : (O, +oo) --+ R denota a função logaritmo Prova. A primeira fórmula de de Moivre (cf. proposição 1.6 do volu-
natural. Portanto, me 6) nos dá
k=l
k n
=Ü
Im { t, (;);;( cos 8)"-; (sen O)i}
Ln-1 J
lirn
n--++oo
(Pn - t
k=l
µ(k))
k2
= O.
e, daí,
t(-ll(
k=O
n )(cosO)(n-2k-l)(senO)C2k+l)
2k + 1
k=O
(-1t( n )(ctgo)Cn-2k-1),
2k + 1
lirn lirn (Pn - ~ µ(k)) + ~ µ(k) = ~ µ(k):
Pn = n--+oo sempre que sen O -=/=- O.
n--+oo L....,; k2 L....,; k2 . L.....J k2
k=l k2':1 k2':1 Para n = 2m + 1, ternos
Por fim, como Oi E (O, i), para 1 :::; j :::; m, as desigualdades (6.8) n 1
"""'-:::;
~~ p2
1
( 1+-+···+-
.
p~
... 1) (1+-+···+-
1 1)
p2 p~
do volume 3 garantem que k=l 1 1 n n
m(2m - 1)
---~<
Lm (2m + 1) 2 < 2m(m + 1)
.
3 - . 1r2 • j2 - 3
J=l
Fazendo l ---+ +oo e observando (cf. proposição 3.21 do volume 3)
Multiplicando as desigualdades acima por (2; ;1)2, fazendo m ---+ +oo que
e observando que
1 1 ) = ( 1--
lim ( 1+-+···+-
p; p;l
1
p;
)-l '
lim m(2m - 1) _ lim 2m(m + 1) _ ! 1-too
I: 1 II
n
k2 ::;
n (
1- 2
1 )-1 ::; I: 1 k2 ·
Bn Ç Bn Ç Bp 1p2 ...pn; logo, valem as desigualdades
k=l k=l Pk k21
an -<ãn <a
- P1P2···Pn e bn <b
- n <b
- P1P2···Pn .
O resultado segue, novamente, do teorema do confronto.
µ(k) -
.
an - bn = L~n
k=l
e ãn - bn = II
n
k=l
(
1- 2
1)
·
Pk
Além disso, os limites lim an, lim bn, lim ãn e lim bn todos existem,
pois as sequências correspondentes são não decrescentes e limitadas
f
superiormente por E%': 1 2 • Em particular, esse argumento garante a
existência do limite
lim IIn (1 - ~) .
n---+oo P2k
k=l
116 Cálculo e Teoria dos Números
CAPÍTULO 5
A Relação de Congruência
117
118 A Relação de Congruência 5.1 Definições e propriedades básicas 119
5.1 Definições e propriedades básicas Proposição 5.3. Sejam a e n inteiros dados, com n > 1.
O objeto central de estudo nesta seção é a relação entre números (a) Se a deixa resto r na divisão por n, então a - r (mod n). Em
inteiros explicitada na definição a seguir. particular, todo inteiro é congruente, módulo n, a exatamente
um dos números O, 1, 2, ... , n - 2, n - 1.
Definição 5.1. Sejam a, b e n inteiros dados, sendo n > 1. Dizemos I
que a é congruente a b, módulo n, e denotamos a _ b (mod n), (b) a b (mod n) {:::} a e b deixam um mesmo resto na divisão por
se n 1 (a - b). Se a não for congruente a b módulo n, denotamos n.
a-;/= b (mod n).
Prova.
Exemplos 5.2. De acordo com a definição acima, podemos escrever: (a) Suponha que a deixa resto r quando dividido por n. Pelo algoritmo
(a) 3 5 (mod2), pois 2 1 (3 - 5). da divisão, temos a= qn+r para algum inteiro q. Daí, a-r = qn, ou
seja, n 1 (a - r). Mas isso é o mesmo que escrevermos a - r (mod n).
(b) -1 11 (mod 12), pois 12 1 (-1 - 11).
O resto é imediato.
(c) 2 -1 (mod3), pois 3 I (2- (-1)).
(b) Se a - b (mod n), então n 1 ( a - b) e segue, do corolário 1. 9 (com
(d) x - -x (mod2), pois 21 (x - (-x)). a e b nos lugares de a 1 e a 2 e n no lugar de b), que a e b deixam
(e) 1-;/= 2 (mod3), pois 3 f (1 - 2). um mesmo resto na divisão por n. Reciprocamente, se a, b deixam
um mesmo resto r na divisão por n, podemos escrever a = nq1 + r
(f) 20-;/= 15 (mod 7), pois 7 f (20 - 15). e b = nq2 + r, com q1, q2 E Z. Logo, a - b = n(q1 - q2), ou seja,
O que estamos realmente investigando em um número quando con- n 1 (a - b). Portanto, a b (mod n). •
sideramos congruências módulo n? Para responder essa pergunta, ob-
Observação 5.4. Na definição da relação de congruência, a razão pela
servemos o que ocorre com os números inteiros módulo 4, por exemplo:
qual excluímos o módulo n = 1 é a seguinte: se usássemos congruên-
4k - O(mod4), 4k + 1 1 (mod4), cias módulo 1, obteríamos a - b (mod 1) como sinônimo de 1 1 (a-b),
o que é sempre verdade. Portanto, dois inteiros quaisquer seriam in-
4k + 2 2 (mod4) e 4k + 3 3 (mod4).
distinguíveis módulo 1.
Assim, a sequência ... , -5, -4, -3, -2, -1, O, 1, 2, 3, 4, 5, ... dos
números inteiros é igual, módulo 4, à sequência Uma vez que a notação de congruência módulo n enxerga apenas
o resto da divisão de um número por n, o leitor pode estar se per-
... , 3, o, 1, 2, 3, o, 1, 2, 3, o, 1, ...
guntando quais vantagens teremos em utilizá-la. O primeiro ganho
e vemos que todo inteiro é congruente, módulo 4, ao resto de sua ao se usar congruências é computacional: nas duas proposições a se-
divisão por 4. Esse resultado continua válido em geral, como mostrado guir, provamos algumas propriedades elementares de congruências, as
no seguinte resultado. quais vão nos permitir, por exemplo, calcular mecanica e rapidamente
120 A Relação de Congruência •· 5.1 Definições e propriedades básicas 121
o resto da divisão de 172002 por 13, tarefa que não é fácil de cumprir .prova.
com os métodos de que dispomos até o presente momento. (a) Como (a+c)-(b+d) = (a-b)+(c-d), ac-bd = a(c-d)+(a-b)d
e n 1 (a-b), n 1 (e-d), segue do item (c) da proposição 1.5 (veja tam-
Proposição 5.5. Dados inteiros a, b, e e n, sendo n > 1, temos:
bém o item i. da observação 1.6) que n 1 [(a+c)-(b+d)] e n 1 (ac-bd).
(a) a_ a (mod n). Mas isso é o mesmo que a + e - b + d (mod n) e ac - bd (mod n). Por
fim, o caso particular segue de e - e (mod n).
(b) a _ b (mod n) =} b _ a (mod n).
(c) a b(modn) e b- c(modn) =}a= c(modn). (b) Fazendo e = a e d = b na segunda parte do item (a), obtemos
Proposição 5.6. Sejam a, b, e, d, m e n inteiros dados, com m, n > 1. O item (b) segue, por indução sobre k.
a - b (mod n) =} f(a) . f(b) (mod n). (d) Como a - b (mod n), existe q E Z tal que a= b + nq. Queremos,
pois, mostrar que
(d) Se a= b(modn), então mdc(a,n) = mdc(b,n).
mdc (b + nq, n) = mdc (b, n).
(e) Se a + e - b + e (mod n), então a - b (mod n).
Mas isso é imediato a partir do item (b) da proposição 1.21.
(f) Se ac _ bc (mod n) e mdc (e, n) = d, então a_ b (mod J)· Em
particular, se mdc (e, n) = 1, então a_ b (mod n). (e) Se a+ e= b + e (mod n), então n divide (a+ e) - (b + e) = a - b,
o que é o mesmo que a - b (mod n).
(g) Se a= b (mod mn), então a_ b (mod m) e a= b (mod n).
(h) Se a - b (mod n) e a b (mod m), com mdc (m, n) = 1, então (f) Sejam n = dn' e e = de', com e' e n' inteiros primos entre si.
a - b (mod mn). De ac _ bc (mod n), segue que (dn') 1 [dc'(a - b)] ou, ainda, que
122 A Relação de Congruência 5.1 Definições e propriedades básicas 123
n' c'(a - b). Mas, como mdc (n', e') = 1, segue do item (a) da pro-
1 Prova. Se n = (akak-1 ... a1ao)10 é a representação decimal do natu-
posição 1.21 que n' 1 (a - b) ou, o que é o mesmo, a - b (mod ~'). O ral n, podemos escrever
resto é imediato.
última relação equivale a a _ b (mod m); analogamente, a - b (mod n). Como 10 - 1 (mod 9), aplicando repetidas vezes as propriedades da
proposição 5.6 obtemos, módulo 9, que
(h) Como m, n 1 (a - b) e mdc (m, n) = 1, segue do item (d) da
proposição 1.21 que mn (a - b), que é o que queríamos provar.
1 •
n aklOk + ªk-110k-l + · · · + a1l0 + ao
ªk . 1k + ªk-1 . 1k-l + ... + ª1 . 1 + ªº
Conforme prometido, temos o exemplo seguinte.
ak + ªk-1 + · · · + a1 + ao.
Exemplo 5.7. Calcule o resto da divisão do número 172002 por 13.
O, 1, 2, 3, 4, 5, 6, posto que (-x) 2 = x2 . Pela mesma razão, por ve- · algarismo de a 2 é igual a um dos números O, 1, 4, 5, 6 ou 9.
zes é vantajoso trocar, módulo 8, os números O, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 por •.
o, ±1, ±2, ±3, 4. (b) Sabemos que a = O ou ±1 (mod 3), de modo que a 2 02 ou
Generalizando a discussão do parágrafo anterior, não é difícil veri- (±1) 2 (mod3). Portanto, a 2 _ O ou 1 (mod3).
ficar que:
(e) Sabemos que a O, ±1 ou 2 (mod4), de maneira que a2 _ 02 , (±1) 2
i. Se n = 2k, então todo inteiro é congruente, módulo n, a um dos
ou 22 (mod4). Como 22 - O(mod4), segue que a 2 _ O ou 1 (mod4).
números
o, ±1, ±2, ... , ±(k - 1), k. (d) Como a - O, ±1, ±2, ±3 ou 4 (mod8), segue que
ii. Se n = 2k + 1, então todo inteiro é congruente, módulo n, a um
dos números a2 = 02 , (±1)2, (±2)2, (±3) 2 ou 42 (mod8).
o, ±1, ±2, ... , ±k. Agora, 32 = 9 - 1 e 42 = 16 = O(mod8), de modo que a 2 - O, 1 ou
Formalizaremos um pouco mais a discussão acima quando éstudar- 4(mod8).
mos sistemas completos de restos, na seção 6.1. Por enquanto, vamos
ao resultado prometido. (e) Pelo item (d), temos que a 2 = 8q + r, com q EN e r = O, 1 ou 4.
Portanto,
Proposição 5.9. Para todo a E Z temos:
a4 = (8q + r) 2 = 16(4q2 + qr) + r 2 = 16q' + O ou 16q' + 1,
(a) a 2 _ O, 1, 4, 5, 6 ou 9 (mod 10).
Mas, pelo itern (b) da proposição 5.9, ternos x 2 O ou 1 (rnod3), de' de onde segue que n deve ser par, digamos n = 2u, corn u E N.
sorte que a congruência acima nos dá as seguintes possibilidades: Fazendo esta substituição na equação do enunciado, obtemos 2m + 1 =
o_ (-l)Y (rnod3) ou 1 (-l)Y (rnod3). 32u ou, ainda,
2m = (3u - 1)(3u + 1).
A primeira possibilidade claramente nunca ocorre. Quanto à segunda, ;
Para vermos a que fatoração de 2m corresponde (3u - 1)(3u + 1),
se y for ímpar obtemos 1 _ -1 (rnod3), o que tarnbérn nunca ocorre.'.
seja d= rndc (3u - 1, 3u + 1). Então
Portanto, y deve ser par, digamos y = 2z, corn z > O inteiro. A·•
equação do enunciado pode ser, agora, escrita corno d 1 [(3u + 1) - (3u - 1)],
615 = 22z - x 2 = (2z - x)(2z + x). ou seja, d 1 2; rnas, corno 3u - 1 e 3u + 1 são ambos pares, deve ser
d = 2. Por outro lado, urna vez que o produto de 3u - 1 e 3u + 1 é
!1 Por fim, corno 2z + x > 2z - x e 615 = 3 · 5 · 41, ternos sarnente as, uma potência de 2, cada urn dos fatores 3u - 1 e 3u + 1 deve ser urna
1,:
possibilidades potência de 2. Ocorre que o rndc de duas potências de 2 só é igual a
2z +x 205 2 quando a menor de tais potências for igual a 2, de rnodo que a única
{ 2z - X
615
1 '
{ 2z +x
2z - X
-
- 3 possibilidade é termos
2z +x 41
{ 2z - X
123
5 OU
{ 2z +x -
2z -x - 15
Sornando rnernbro a rnernbro as duas equações ern cada urna das possi-
bilidades acima, obtemos respectivamente 2z+1 = 616, 208, 128 ou 56. :'
Logo, u = 1, m = 3 e, daí, n = 2.
Exemplo 5.12. Faça os seguintes itens:
•
Mas, urna vez que 2z+1 urna potência de 2, a única possibilidade viável!
é que seja 2z+1 = 128, de sorte que , (a) Prove que existem x, y, z EN tais que 13x4 + 3y4 - z 4 = 2013.
{b} Prove que não existem x, y, z EN tais que 13x4 +3y 4 -z4 = 2014.
{ 2z + X. = 123
2z - X = 5 Prova ( Sketch).
Então z 6 e X 59, de rnodo que a única solução é x (a) Fazendo z = 2x, obtemos y 4 - x 4 = 671 ou, ainda, (y 2 - x 2 )(y 2 +
y = 12. x2 ) = 11 · 61. Portanto, y2 - x 2 = 11 e y2 + x 2 = 61, de forma que
X = 5, y = 6 e Z = 10.
Exemplo 5.11 (OIM). Ache todos os m, n EN tais que 2m + 1 = 3n_,
Solução. Se m = 1, então é claro que n = 1. Se m ~ 2, então (b) Suponha que haja urna solução. Pelo itern (e) da Proposição 5.9,
2m O(rnod4); portanto, analisando a equação módulo 4, obtemos temos a4 - O ou l(rnod.16), para todo a E Z. Logo, 13x4 +3y 4 -z4
O, 2, 12, 13 ou 15 (rnod. 16). Mas, corno 2014 _ 14 (rnod. 16), chegamos
1 (-ir (rnod4), a uma contradição. •
128 A Relação de Congruência 5.1 Definições e propriedades básicas 129
Os dois últimos exemplos que apresentamos resolvidos de forma • Se k = 1, então m = 2, n = 4 e a= 97, novamente um número
um pouco mais tersa que os anteriores. Como exercício para o leitor, primo.
sugerimos esforçar-se por preencher eventuais detalhes omitidos.
• Se k > 1, então
Exemplo 5.13 (Romênia). Sejam m, n,p EN, com p primo ímpar.
(49 - 1)(49k-l + · · · + 49 + 1) = 49k - 1 = 3 · 2n
Se ~=~;:~:
E N, prove que tal número é primo.
.
P rova. SeJa -
a-
7m+p·2n
7m_p,2n.
corno ou, ainda, 49k-l + · · · + 49 + 1 = 2n- 3 _ Essa igualdade nos dá,
como acima, que k é par. Por fim, sendo k = 2l, segue que
p · 2n+1 2 · 7m
a=l+ 7m - p . 2n
=-l+----
7m - p . 2n,
3 · 2n = 49 2l - 1 - ( -1) 2l - 1 _ O(mod 5),
um absurdo.
segue que (7m - p · 2n) \ mdc (p · 2n+1, 2 · 7m). Há, agora, duas possi-
bilidades:
Exemplo 5.14 (BMO). Seja (an)n~l a sequência definida para n 1 2
•
(i) p = 7: neste caso,
por an = 2n + 49. Ache todos os n 2 1 tais que an = pq e an+l = rs,
com p, q, r, s primos tais que p < q, r <se q - p = 8 - r.
e, daí, (7m-l - 2n) \ 2. Isso implica que 7m-l - 2n = 1; porém, anali- Solução. Seja n um natural tal que os termos an e ªn+i satisfaçam as
sando essa equação módulo 3, obtemos 1m-l - (-lt - 1 (mod3), o condições do enunciado. Se p, r > 3, então as condições do enunciado
garantem que p, q, r, s - 1 ou 5 (mod6). Mas, como 52 _ 1 (mod6),
que é um absurdo.
em qualquer caso temos pq, rs _ 1 ou 5 (mod 6). Por outro lado, se k
(ii) p -1, 7: neste caso, temos mdc (p-2n+1, 2·7m)2 e, daí, (7m-p·2n) \
=
for o número ímpar dentre n e n + 1, temos 2k _ 2 (mod 6), de sorte
2. Novamente, isso implica 7m - p · 2n = 1 e, analisando tal equação que 2k + 49 - 2 + 1 = 3 (mod 6), o que é um absurdo. Assim, devemos
também módulo 3, obtemos 1m-p·2n - 1 (mod3), de sorte que p = 3. ter P :S 3 ou r :S 3 e, daí, ao menos um dentre p e r deve ser igual a 3
(já que an e an+l são ímpares).
Segue, então, que 7m - 3 · 2n = 1 e a = 7m + 3 · 2n.
Se m = 1, então n = 1 e, daí, a = 13, um número primo. Se Se P 2 r, então q = s+p-r 2 s, de modo que an = pq 2 rs = an+l,
uma contradição. Assim, p < r, de sorte que p = 3 e q = 3 + 8 - r.
m > 1, temos n > 1 e
Logo, an = pq = 3(3 + s - r). Por outro lado, também temos
7m -1
2n-l = 6 = 7m-l + ... + 7 + 1. 2an = 2n+1 + 98 = (2n+l + 49) + 49 = an+l + 49 = rs + 49
Como a soma dos m números ímpares do segundo membro da igual- e, portanto, 6(3 + s - r) = rs + 49. Segue que
dade acima deve ser par, segue quem é par, digamos m = 2k. Daí,
67
obtemos 49k - 1 = 3 · 2n, a partir de onde consideramos dois subcasos: r=6---
s+6
130 A Relação de Congruência 5.1 Definições e propriedades básicas 131
e, daí, s + 6 = 67. Assim, s = 61, r = 5, q = 59. Então, 8. Encontre todos os inteiros positivos n tais que 7 1 (2n + 3n).
3 · 59 = an = 2n + 49 ::::} 2n = 128 ::::} n = 7. 9. Seja n = (akak-1 ... a1aoho a representação decimal de n. Prove
que o resto da divisão de n por 11 é igual ao resto da divisão por
• 11 do número
19. (OBM.) Ache todas as soluções inteiras positivas da equação (c) Mostre que mdc (3t - 2, 3t + 2) = 1; conclua, a partir daí,
x 2 + 15ª = 2b. que: (i) 3t - 2 = 1 e 3t + 2 = 5x7y, (ii) 3t - 2 = 5x e
3t + 2 = 7Y ou (iii) 3t - 2 = 7Y e 3t + 2 = 5x,
20. (França.) Qual o algarismo das unidades da parte inteira de (d) No caso (ii), use módulo 3 para concluir que não há solu-
101992 ? J 'fi
10s3+ 7 . ust1 que sua resposta. ções.
21. (China - adaptado.) O objetivo deste problema é mostrar que, (e) No caso (iii), temos 5x - 7Y = 4. A partir daí, use módulo
se x,y EN são tais que 7x - 3Y = 4, então x = y = 1. Para 4 para concluir que y é par. Por fim, se x ~ 2, use módulo
tanto, faça os seguintes itens: 25 para chegar a uma contradição.
Para tanto, analisaremos inicialmente o caso em que n é primo, pro- Exemplo 5.16. Se p e q são primos distintos, prove que pq divide
vando um dos mais importantes resultados da teoria elementar de
+ qP-1 _ 1.
pq-1
congruências, conhecido na literatura como o pequeno teorema de Prova. Como p e q são primos distintos, temos mdc (p, q) = 1. Por-
Fermat. tanto, pelo pequeno teorema de Fermat, q divide pª- 1 -1. Mas, como
q também divide qP- 1, segue que q divide qª- 1 + (pª- 1 -1). Analoga-
Teorema 5.15 (Fermat). Para a,p E Z, com p primo, temos aP =
mente, p divide pª- 1 + (qP-l - 1). Por fim, como ambos p e q dividem
a (mod p). Em particular, se mdc (a, p) = 1, então
pq-l + qP-l -1 e mdc (p, q) = 1, o item (d) da proposição 1.21 garante
ap-l - 1 (modp). (5.1) que pq divide pª- 1 + qP-l - 1. •
Prova. Se aP - a (modp), então p divide aP - a=. a(aP-l - 1);· por- Exemplo 5.17 (Romênia). Sejam p e q números primos, com q =/:- 5.
tanto, se mdc (a,p) = 1, (5.1) segue do item (a) da proposição 1.21. Se q 1 (2P + 3P), prove que q > p.
Basta, pois, mostrarmos que aP - a (modp), para todo a E Z. Prova. Como q 1 (2P + 3P), temos claramente q =/:- 2, 3, de modo
Se p = 2 o resultado é óbvio, uma vez que a 2 - a = a( a - 1), sendo que q > 5. Portanto, podemos supor que p > 3. Se q ~ p, então
o produto de dois inteiros consecutivos, é par. Suponhamos, então, q - 1 < p, de sorte que q - 1 e p são primos entre si. Nesse caso,
que p > 2 e provemos o resultado, primeiramente para a > O, por o teorema de Bézout garante a existência de x, y E N tais que px =
indução sobre a. Para a= 1 nada há a fazer. Suponha, por hipótese (q- l)y + 1. Portanto, a partir de 2P _ -3P(mod q), obtemos (2PY -
de indução, o teorema válido para um certo valor natural de a, i.e., (-3P)x(modq); mas, como -3P = (-3)P, segue que
suponha que kP - k (modp), para algum k E N. Para a = k + 1,
2(q-l)y+l _ (-3)(q-l)y+l (mod q).
temos
(k + l)P- (k + 1) = (kP - k) + Í: (~)kp-j.
j=l J
Por fim, uma vez que q =/:- 2, 3, o pequeno teorema de Fermat nos dá
2ª- 1 , (-3)ª- 1 _ 1 (mod q); a partir daí, a congruência acima se reduz
a2 -3(modq), de maneira que q = 5. Por fim, tal conclusão é,
Mas, como p 1 (kP - k) (pela hipótese de indução) e p 1 (;) para
claramente, uma contradição. •
1 ~ j ~ p-1 (pelo exemplo 1.41), segue que p divide (k + 1)P - (k + 1),
ou seja, que (k + l)P - (k + 1) (modp). Exemplo 5.18 (BMO). Sejam p > 2 um número primo tal que 3 1
Prova. Se O:::; u, v:::; p - 1 e u 3 _ v3 (modp), afirmamos que u = v. Prova. Sejam p um fator primo de n e k um natural. Provemos
De fato, note primeiro que u 3 - v3 O(mod p) se, e só se, u = v = O; inicialmente, por indução sobre k, que
por outro lado, para 1 :::; u, v :::; p - 1, segue do pequeno teorema de
Fermat e de p - 1 = 3k + 1 que
u 3k+I _ v 3k+I (modp). O caso k = 1 se resume ao pequeno teorema de Fermat. Por hipótese
de indução, suponha que a'P(p1) 1 (modp1), para algum l natural.
Agora, Então acp(p1) = p1q + 1 para algum inteiro q e temos ·
u3 - v3 (modp) ::::} u3k - v 3k (modp),
ap·cp(p1) - 1= (a'P(P 1))P - 1
e segue de (5.2) que
(plq + l)P -1 = t (~)
j=O J
(plq)i - 1
Colecionamos, nos exemplos a seguir, algumas aplicações interes- Como m _ 1 (moda), temos mdc (a, m) = 1. Daí, o teorema de Euler
santes do teorema de Euler. nos dá a'P(m) - 1 (mod m).
Se y = a'P(m)+l+a'P(m)_l, então y E A; afirmamos que mdc (y, x) =
Exemplo 5.20 (OBM). Prove que existe um inteiro k > 2 tal que o
1, para todo x E Bk. Para tanto, basta mostrarmos que mdc (y, m) =
número 199 ... 91 é um múltiplo de 1991.
'-...,,----" 1. Mas, novamente pelo teorema de Euler,
k
li
m= rr
xEBk
X.
Alternativamente, denotando por A e B os naturais formados pelos
algarismos de 2m situados respectivamente à direita e à esquerda da
li
li
140 A Relação de Congruência ' 5.2 Os teoremas de Euler e Fermat 141
sequência de 1000 zeros consecutivos, queremos encontrar m E N tal Problemas - Seção 5.2
que
2m = B . 1010oo+a + A, 1. (Eslovênia.) São dados vários inteiros cuja soma é igual a 1496.
É possível que a soma de suas sétimas potências seja 1999?
onde a representação decimal de A tem, no máximo, a algarismos.
Para tanto, se fizermos k = 1000 + a e A = 2k, teremos 2m 2. (Austrália.) Se pé um número primo, prove que o número
B. 10 1000+a + A se, e só se, a representação decimal de 2k tiver no
máximo k-1000 algarismos e 2m-k = B · 5k + 1; esta última condição, 11 ... 11 22 ... 22 ... 99 ... 9 -123456789
~~ '--v-'
p p p
por sua vez, se dará se, e só se, 2m-k _ 1 (mod5k).
Temos, pois, de mostrar que é possível obter k, m E N tais que: é divisível por p.
(i) m > k; (ii) a representação decimal de 2k tem no máximo k - ·
1000 algarismos; (iii) 2m-k 1 (mod5k). Comecemos analisando as 3. Dada uma sequência (x1, X2, X3, ... , X2n-2, X2n-1, X2n) de núme-
condições (i) e (iii). ros reais, uma operação permitida é trocá-la pela sequência
Pelo teorema de Euler, temos 2rp(5 k) 1 (mod5~). Mas; como
1
cp(5k) = 4 · 5k- , deve existir um inteiro positivo' q tal que 24·5k-i = .
5kq + 1. Fazendo, agora, m = k + 4 · 5k- 1, temos m > k e 2m-k = Suponha que começamos com a sequência (1, 2, 3, ... , 2n-2, 2n-
1 (mod5k). 1, 2n), onde 2n + 1 é um número primo. Mostre que, após 2n
Resta, agora, mostrarmos ser possível encontrar k E N tal que a repetições da operação acima, todos os números voltarão às suas
representação decimal de 2k tenha no máximo k - 1000 algarismos. posições originais.
Para tanto, a discussão que precede este exemplo garante que a repre-
sentação decimal de 2k tem exatamente l k log10 2J + 1, de sorte que é 4. (BMO.) Prove que a equação y 2 = x 5 - 4 não possui soluções
suficiente pedir que valha a desigualdade inteiras.
lklog10 2J +1~ k- 1000. 5. (Estados Unidos.) Dado um primo p, prove que há infinitos
naturais n tais que p divide 2n - n.
Mas, como
6. (Romênia.) Prove que não existe um inteiro n > 1 tal que n
divida 3n - 2n.
basta tomar, para começar, um natural k tal que k log 10 5 > 1001 (o 7. (Bulgária - adaptado.) Dados números primos p e q, faça os
que é certamente possível). • seguintes itens:
(c) Ache todos os p e q tais que pq 1 (5P - 2P)(5q - 2q). 12. O propósito deste problema é provar o seguinte resultado, conhe-
cido como o teorema de Sophie Germain 1 : se p é um primo
8. (BMO.) Prove que, para todo natural n dado, existe um natural tal que 2p + 1 = q também é primo e, se x, y, z são inteiros tais
m > n tal que a representação decimal de 5m é obtida da repre- que xP + yP + zP = O, então p divide ao menos um dentre x, y, z.
sentação decimal de 5n pelo acréscimo de algarismos à esquerda Para tanto, mostre as afirmações a seguir:
de 5n,
(a) Podemos supor que x, y e z são dois a dois relativamente
9. (IMO.) Prove que, para cada inteiro n > 1, existem inteiros k1, primos e que p > 2.
k2 , .•• , kn > 1, dois a dois distintos e tais que os números 2k 1 -3, (b) Se xP + yP + zP = O, então p 1 (x + y + z).
2k2 - 3, ... , 2kn - 3 são dois a dois primos entre si.
(c) Por contradição suponha, doravante, que p f x, y, z. Se
r =J. p é um divisor primo de y + z, então
10. Se (an)n~l é a sequência de inteiros positivos definida implicita-
mente por yP-l - yP- 2z + · · · - yzP- 2 + zP-l _ pyP-l (mod r).
13. (Índia - adaptado.) Para cada x EN, seja S(x) o conjunto 5.3 Congruências lineares e o teorema chi-
S(x) = {y EN; <p(k\y) = x, para algum k EN}, nês dos restos
onde <pé a função de Euler, <p(l) = <p e <p(k) é a composta k vezes
de <p, para k > 1. Seja também Nesta seção, estudamos equações e sistemas de equações simples
envolvendo congruências.
T = {2ª · 3b; a,b E Z+,a 2:: 1}. Consideremos inicialmente congruências lineares, i.e., congruên-
Os passos abaixo mostram que x E T {:} S (x) é infinito: cias da forma
ax _ b (mod n), (5.6)
(a) Prove que x E T::::} S(x) infinito.
(b) Para cada x E N, seja u(x) o expoente da maior potência. onde a, b, n são inteiros dados, com a # O, n > 1, e procuramos as
de 2 que divide x. Prove que u(r.p(x)) 2:: u(x). soluções (ou raízes) x E Z, i.e., os inteiros x para os quais (5.6) é
verdadeira.
(c) Se x (/:. T, prove que u(r.p(x)) = u(x) se, e só se, x = 2mpª,
onde m EN e p 2:: 7 é um primo tal que p . 3 (mod4). Como caso particular da situação acima, dizemos que a é invertí-
vel, módulo n, se, para b = 1, a congruência linear (5.6) tiver solução,
(d) Se x (/:. T é tal que u(r.p( 2)(x)) = u(r.p(x)) = u(x), prove que
i.e., se existir x E Z tal que
o natural a do item (c) é igual a 1.
(e) Prove que, sendo S(x) infinito, existem a 1 , a 2 , a3 , ... ax - 1 (modn).
tais que
Um tal inteiro x é denominado um inverso de a módulo n e, a esse
x = a1, a1 = r.p(a2), a2 = r.p(a3), a3 = r.p(a4), ...
respeito, temos o seguinte resultado.
(f) Suponha ainda S(x) infinito. Utilizando o item (b) prove
que existe n E N tal que Proposição 5.23. Um inteiro a é invertível módulo n se e só se
' '
mdc (a, n) = 1. Neste caso, quaisquer dois inversos de a módulo n são
u( an) = u( an+1) = u( an+2) = · · · . congruentes, módulo n.
(g) Conclua do item (d) que, em relação ao inteiro n do item
(f), se i 2:: n + 2, então existem um primo Pi 2:: 7 tal que Prova. Se a for invertível módulo n, existe x E Z tal que ax _
Pi - 3 (mod4) e mi E N tal que ai = 2miPi· Prove, em 1 (mod n). Daí, existe y E Z para o qual ax = ny + 1 ou, ainda, xa +
seguida, que mn+2 = mn+3 = · · · e, para todo i > 1, Pi= (-y )n = 1. Sabemos pelo corolário 1.15 que, neste caso, mdc (a, n) =
1.
2Pi-1 + 1.
Reciprocamente, recorde que o teorema de Bézout garante que o
(h) Prove que não há sequência infinita q1 , q2 , q3 , ... de primos
mdc de dois inteiros sempre pode ser escrito como combinação linear
com qi = 2qi-l + 1, para todo i > 1.
dos mesmos. Portanto, se mdc (a, n) = 1, existem x, y E Z tais que
(i) Conclua que S(x) infinito ::::} x E T. ax + ny = 1 e segue, daí, que ax - 1 (mod n).
r.
.
146 A Relação de Congruência 5.3 Congruências lineares e o teorema chinês dos restos 147
Por fim, sejam x e y inversos de a, módulo n. Então Teorema 5.26 (Wilson). Um natural pé primo se e só se
de sorte que ax - ay (mod n). Mas, como mdc (a, n) = 1, segue da Prova. Se p = mn, com 1 < n < p, então (p - 1)! _ -1 (modp)
proposição 5.6 que x - y (mod n). Assim a possui, módulo n, um implica (p - 1) ! - -1 (mod n), uma vez que n I p. Por outro lado,
único inverso. • : como 1 < n 5: p - 1, temos que n 1 (p - 1)!, i.e., (p - 1)! _ O (mod n).
Corolário 5.24. Se a, p E Z, com p primo, então a é invertível módulo Portanto, O - (p - 1)! -1 (mod n), de maneira que n 1 1, uma
p se, e só se, p f a. Ademais, nesse caso o inverso de a módulo p é contradição.
único. Reciprocamente, se p é primo, considere a função
Prova. Imediata a partir do fato de que mdc (a, p) = 1 {:::> p f a. f : {1, 2, ... , p - 1} ---+ {1, 2, ... , p - 1},
Corolário 5.25. Sejam a, b, n E Z, com n > 1. Se a for invertí-
que associa a cada a E {1, 2, ... ,p-1} seu inverso a- 1 E {1, 2, ... ,p-
vel, módulo n, então a congruência ax b (mod n) possui uma única•
1}, módulo p. O corolário 5.25 garante que f é uma bijeção, com
solução, módulo n, qual seja,
f(a) = b {:::> f(b) = a. Ademais,
x - acp(n)-lb (mod n).
f(a) = a {:::> a 2 - 1 (modp)
Em particular, todo inverso de a, módulo n, é congruente a acp(n)-1, .
{:::> p 1 (a2 - 1)
módulo n.
{:::> p 1 ( a - 1) ou p 1 ( a + 1)
Prova. Se a for invertível, módulo n, então mdc (a, n) = 1. Portanto, ·
{:::> a= 1 ou p-1.
aplicando sucessivamente o item (f) da proposição 5.6 e o teorema de
Euler, obtemos Portanto, existem a 1 , ... , a E.=2. E { 1, 2, ... , p - 1} tais que
2
ax b (mod n) {:::> acp(n)x acp(n)-lb (mod n) {:::> x - acp(n)-lb (mod n).
p-3
-2-
{ 1, 2, ... , p - 1} = { 1, p - 1} LJ {ai, a; 1 }.
i=l
Uma vez que dois inversos de a módulo n são sempre congruentes, .
módulo n, diremos doravante que a possui um único inverso, módulo Por fim, segue, daí e de aia; 1 1 (modp) para 1 5: i 5: P; 3 , que
n, o qual será denotado por a- 1 quando não houver perigo de confusão .
p-3
com o inverso usual ~ de a em relação à multiplicação em (Q. -2-
Como aplicação da noção de inverso módulo n, provemos um fa- (p - 1)! = (p - 1) II (aia; =-1 (modp).
1)
i=l
moso critério de primalidade conhecido como o teorema de Wilson 2..
2 Após John Wilson, matemático inglês do século XVII. •
A Relação de Congruência 5.3 Congruências lineares e o teorema chinês dos restos 149
148
Voltando a equações envolvendo congruências, uma generalização de sorte que mdc (yj, mi) = 1. Seja bi o inverso de Yi módulo mi e
natural da congruência linear (5.6) é obtida considerando soluções x = L;=l aibiYi· Fixado 1 :S l :S k, temos que m 1 1 Yi para j =/:- l e,
de um sistema de congruências lineares. Nesse sentido, o teorema a daí, módulo m 1 temos que
seguir, conhecido como o teorema chinês dos restos, examina a
x a1b1Y1 - a1 · 1 a1 (mod m1).
existência de soluções para tais sistemas.
Teorema 5.27. Sejam m 1 , m 2 , ... , mk naturais maiores que 1 e dois a
dois primos entre si. Dados inteiros quaisquer a1, a2, ... , ak, o sistema
•
O problema 5 oferece uma demonstração alternativa para a exis-
de congruências lineares
tência de soluções para o sistema de congruências lineares (5.7). Para
x = a 1 (mod m1) terminar esta seção, vejamos um exemplo que mostra como é possível
x =a2 (mod m2) (5.7) aplicar o teorema chinês dos restos para conseguir resultados interes-
santes3.
'1!é]~1..,\·.
1
cia linear ax =b (mod n), prove que: encontrar todas as soluções do sistema de congruências li-
neares
(a) Há solução se, e só se, mdc(a,n) 1 b. x _ 2 (mod5)
(b) Se mdc (a, n) 1 b, então a congruência linear do enunci- =
{ x 4 (mod 11) .
ado possui exatamente mdc (a, n) soluções incongruentes, x-9(modl3)
módulo n.
5. Nas notações do teorema 5.27, se Yj = f}i:;i:c;k mi para 1 :s; j :s; k,
icjcj
2. Sejam a1, a2, ... , ak, b, n inteiros dados, com n > L Prove que a
congruência
prove que x = :z=t 1 ajytmJ) resolve o sistema de congruências
lineares (5. 7).
CAPÍTULO 6
Classes de Congruência
primos entre si são desnecessárias, só tendo sido colocadas a fim de simplificar a Para a E Z, definimos a classe de congruência de a, módulo
solução do problema. n, como a classe de equivalência a de a com respeito à relação de
153
154 Classes de Congruência 6.1 Sistemas de restos 155
Z=OUlU···Un-1. (6.1)
é um SCR módulo mn.
Mais geralmente, temos a definição a seguir.
Prova.
Definição 6.1. Um sistema completo de restos módulo n, (abre- (a) Como todo SCR módulo n tem n elementos, basta mostrarmos
viamos SCR) é um SRD para a relação de congruência módulo n. que, se O :S i, j < n e
Dado n > 1 inteiro, segue de (6.1) que todo SCR, módulo n, é um axi +b axj + b (mod n),
conjunto {a0 , a 1, ... , ªn-i} de inteiros tais que ar - r (mod n) para
O :S r < n. Equivalentemente, um conjunto de n inteiros é um SCR, então i = j. Para tanto, segue da congruência acima que axi -
módulo n, se, e só se, seus elementos forem dois a dois incongruentes, axj (mod n). Agora, como mdc (a, n) = 1, o item (f) da proposição
módulo n. 5.6 garante que Xi Xj (modn). Por fim, como {x 0 ,x 1 , ... ,Xn-i} é
um SCR, módulo n, esta última congruência nos dá i = j.
Exemplo 6.2. Para n > 1 inteiro, o conjunto { x E Z; -% :S x < %}
é um SCR, módulo n. De fato, observe inicialmente que, se-% :S x < (b) Analogamente ao item (a), basta mostrarmos que, se O :S i,j < m,
y <%,então x "'I=- y (mod n), uma vez que O< y-x < n; basta, agora, O :S k, l < n e
considerar separadamente os casos n par e n ímpar a fim de mostrar
que o conjunto em questão possui exatamente n elementos.
A proposição a seguir ensina como construir novos SCR's a partir então i = j e k = l. Supondo a validade da congruência acima, temos,
de outros já conhecidos. pelo item (g) da proposição 5.6,
156 Classes de Congruência 6.1 Sistemas de restos 157
Por fim, uma vez que {xo, Xi, ... , Xm-1} e {Yo, y 1 , ... , Yn-i} são SCR's Por outro lado, uma vez que mdc (IA'l,P) = 1, a proposição 6.3 ga-
módulos me n, respectivamente, temos i = j e k = l. • rante que, à medida que r varia de O a p - 1, os números S' + r IA' 1 for-
O exemplo a seguir traz uma bela aplicação combinatória do con- mam um SCR módulo p; em particular, as somas I:xEA'+r x são duas
ceito de sistema completo de restos. a duas distintas, de maneira que os conjuntos A', A'+ 1, ... , A'+ (p- 1)
também são dois a dois distintos. Logo, a classe A tem exatamente p
Exemplo 6.4 (IMO). Seja pum primo ímpar. Calcule quantos sub- conjuntos, e segue da proposição 2.17 do volume 4 que há exatamente
conjuntos de p elementos do conjunto {1, 2, ... , 2p} são tais que a soma
de seus elementos é divisível por p.
Mas, como mdc (\A'\,p) = 1, sabemos do corolário 5.24 que existe um Proposição 6.6. Sejam m, n > 1 inteiros dados.
único O :::::; r :::::; p - 1 tal que a congruência acima é satisfeita. · •
1' (a) Se a é um inteiro primo com n e { X1, X2, ... , Xcp(n)} é um ser mó-
1.
Voltando ao desenvolvimento da teoria, dados q, r E Z, com O :S dulo n, então {ax1, ax2, ... , aXcp(n)} também é um SCr módulo
r < n, lembre que mdc (nq + r, n) = mdc (r, n). Assim, podemos n.
definir o mdc entre uma classe de congruência módulo n e n pondo
(b) Se {x1,X2, ... ,Xcp(m)} e {Y1,Y2,···,Ycp(n)} são ser módulos me
mdc (r, n) = mdc (x, n), para qualquer x E r; (6.2) n, respectivamente, então
(6.3)
em particular,
mdc (r, n) = mdc (r, n). é um ser módulo mn.
Note que, pela proposição 5.23, as classes de congruência r tais que
Prova.
mdc (r, n) = 1 são exatamente as formadas pelos inteiros invertíveis
(a) Como todo SCr é parte de um SCR, segue do item (a) da propo-
módulo n. Temos, então, a seguinte definição. sição 6.3 que
Definição 6.5. Um sistema completo de invertíveis módulo n
axi i:. axj (mod n), V 1 :::::; i < j :::::; cp(n).
(abreviamos SCI) é um conjunto I de inteiros tal que
Basta, pois, mostrarmos que mdc (axi, n) = 1, o que é imediato.
_ { 1, se mdc(r,n) = 1
\I n r\ = O, se mdc (r, n) # 1 '
(b) Utilizando novamente o fato de que todo ser é parte de um SCR,
para toda classe de congruência r, módulo n. o item (b) da proposição 6.3 garante que o conjunto em (6.3) tem
160 Classes de Congruência 6.2 O conjunto quociente Zn 161
exatamente cp(m)cp(n) elementos. Mas, como cp(m)cp(n) = cp(mn) 6.2 O conjunto quociente Zn
(recorde-se de que mdc (m, n) = 1), concluímos que tal conjunto tem
cp( mn) elementos. Portanto, para mostrarmos que se trata de um SCI Examinemos, agora, o conjunto quociente
módulo mn, basta provarmos que
Zn = {Õ, I, ... , n - 1} (6.5)
mdc (nxi + myj, mn) = 1 de Z pela relação de congruência módulo n. A proposição 5.6 nos
permite introduzir em Zn duas operações, às quais também nos re-
para todos 1 ::; i ::; c.p( m), 1 ::; j ::; c.p( n). Para tanto, segue dos itens feriremos como adição e multiplicação e que gozam de propriedades
(b) e (c) da proposição 1.21 que análogas às das operações usuais de adição e multiplicação de inteiros.
De fato, temos o seguinte resultado fundamental.
mdc (nxi + myj, m) = mdc (nxi, m) = mdc (xi, m) = 1
Proposição 6.8. Em Zn, as operações
e, analogamente, mdc (nxi + myj, n) = 1; portanto, aplicando mais
uma vez o item (c) daquele resultado, obtemos mdc (nxi 4-myj, rrin) = (6.6)
1. •
estão bem definidas, são comutativas, associativas e têm elementos
neutros respectivamente iguais a Oe I. Ademais, 8 é distributiva em
De posse do conceito de SCI e do item (a) da proposição anterior
relação a EB.
podemos dar uma outra prova do teorema de Euler.
Prova. Inicialmente, temos de mostrar que as operações definidas por
Teorema 6.7 (Euler). Se a e n são inteiros primos entre si, com n > 1, (6.6) estão bem definidas, no sentido de que os resultados de a EB b e
então a 8 b independem dos representantes escolhidos para as classes de
a'P(n) - 1 (mod n). (6.4) congruência a e b.
Para tanto, se a= e e b = d, então a_ e (mod n) e b d (mod n)
Prova. Sejam k = cp(n) e {x 1 ,x 2 , ... ,xk} um SCI módulo n. Pela e segue, da proposição 5.6, que
proposição 6.6, o conjunto { ax 1, ax 2, ... , axk} também é um SCI mó-
dulo n; portanto, módulo n, os inteiros ax 1 , ax 2 , ... , axk são, em al- a + b _ e + d (mod n) e a · b _ e · d (mod n).
guma ordem, congruentes aos inteiros x 1 , x 2 , ... , Xk e segue, daí, que
Mas isso é o mesmo que
a +b= e+d e a · b = e · d,
Por fim, como mdc (x 1 x 2 ... xk, n) = 1, segue da congruência acima e de sorte que
do item (f) da proposição 5.6 que ak _ 1 (mod n). • a EB b = e EB d e a0 b = e0 d.
Classes de Congruência 6.2 O conjunto quociente Zn 163
162
O que falta é mais simples. Por exemplo, para a comutatividade Tábua de Multiplicação em Z 6
de EB, temos, a partir da comutatividade da adição de inteiros, que
8 o 1 2 3 4 5
a EB b = a + b = b + a = b EB a; o o o o o o o
1 o 1 2 3 4 5
analogamente, provamos que 8 é comutativa e que EB e 8 são associ- 2 o 2 4 o 2 4
ativas, i.e., tais que 3 o 3 o 3 o 3
4 o 4 2 o 4 2
a EB (b EB e) = (a EB b) EB e 5 o 5 4 3 2 1
Definição 6.9. Um elemento a E Zn é uma unidade se existir b E Zn Proposição 6.10. Uma classe de congruência a E Zn é uma unidade
tal que a · b = I. em Zn se e só se mdc (a, n) = 1. Em particular, Zn possui exatamente
cp(n) unidades distintas.
Assim como com conjuntos numéricos ordinários, as classes ±1 são
unidades em Zn, pois ±1 · ±1 = I. Por outro lado, a novidade em Prova. Por definição, a E Zn é uma unidade se, e só se, existir b E Zn
relação a Z é que pode haver outras unidades; por exemplo, em Z 9 as tal que a · b = I, i.e., tal que ab = I ou, ainda,
classes 4 e 7 são unidades, uma vez que
ab = 1 (mod n).
4 · 7 = 4 · 7 = I = 7 . 4. Portanto, a é uma unidade em Zn se, e só se, a E Z for um inver-
tível módulo n. Mas, pela proposição 5.23, tal ocorre se, e só se,
Se a E Zn é uma unidade, então temos a seguinte lei de cancela- mdc (a, n) = 1.
mento em relação à multiplicação: Para o que falta, basta observar que, como Zn = {I, 2, ... , n}, o
conjunto das unidades de Zn coincide com o conjunto das classes a
a . e = a . d ::::} e = d. tais que 1 ~ a ~ n e mdc (a, n) = 1. Mas, uma vez que tal conjunto
tem cp(n) elementos, nada mais há a fazer. •
De fato, tomando b E Zn tal que a · b = I (e, portanto, b · a = I
também), segue de a· e= a· d que Chegamos ao caso de maior interesse.
b· (a·c) = b· (a· d). Corolário 6.11. Se p é primo, então todo elemento em Zp \ {O} é
uma unidade.
Então, a associatividade da multiplicação fornece
Prova. Pela proposição anterior, basta mostrar que, se a =J. Oem Zp,
então mdc (a,p) = 1. Mas, a =J. O é o mesmo que a f=. O(modp) ou,
(b · a) · e = (b . a) · d
ainda, p f a, e a prova do lema 1.40 garante que p f a se, e só se,
ou, ainda, I · e = I · d. Mas isso é o mesmo que e = d, conforme mdc (a,p) = 1. •
desejado. Em termos das operações aritméticas de adição, subtração, multi-
Em particular, se a E Zn é uma unidade, então o elemento b E Zn plicação e divisão, o corolário acima nos permite colocar Zp, p primo
cuja existência é garantida pela definição 6.9 é único, pois se em pé de igualdade com os conjuntos numéricos Q e IR (e, após o
capítulo 1 do volume 6, também com o conjunto CC dos números com-
a·b=I=a·c ' plexos). Mais precisamente, em Zn (para todo n > 1, não somente n
primo) podemos definir uma operação - , a qual chamaremos subtra-
então a lei do cancelamento para a multiplicação garante que b = e.
ção, análoga à subtração ordinária de números reais, pondo
Dizemos, portanto, que tal b E Zn é o inverso multiplicativo de a.
A proposição a seguir caracteriza todas as unidades de Zn. a-b=a-b
166 Classes de Congruência 6.2 O conjunto quociente Zn 167
(cf. problema 3). Por outro lado, restrinjamo-nos agora ao caso em 5. Fixados m, n inteiros, sendo n > 1, mostre que a operação de
que n = p, um número primo; se, para a E Zp \ {O}, convencionar- multiplicação por m em Zn, dada por m · a = m · a está bem
mos escrever a;- 1 para denotar o inverso multiplicativo de a (i.e., se definida e é tal que
denotarmos por a;- 1 a classe b E ZP cuja existência é garantida pela
definição 6.9), então m · (a+ b) = m · a+ m · b e ( m1 + m2) · a = m1 · a+ m2 · a,
para todos m, m 1, m 2 E '1l, e a, b E Zn.
ademais, se a· b = e, com a, b, e E Zp e b #- O, então é imediato verificar
6. Se n > 1 não é primo, mostre que Zn possui divisores de zero,
que
--1 i.e., que existem a, b E Zn, tais que a, b #- O, mas a· b = O.
a=c· b .
Mostre ainda que, se p é um número primo, então 'll,P não possui
Portanto, podemos definir em 'll,P uma operação de divisão de forma divisores de zero.
análoga à divisão usual entre números reais (resp. complexos, cf. ca-
pítulo 1 do volume 6), i.e., pondo, para b E Zp \ {O} e a E Zp, 7. Sejam dados a e n inteiros, sendo n > 1. Mostre que, em Zn, a
equação a· x = b tem solução para todo b E Zn se, e só se, a for
- --1
a7b=a·b . uma unidade em Zn. Nesse caso, mostre que a solução x E Zn é
única, sendo dada por x = a;- 1 . b.
1,
Problemas - Seção 6.2
a . (b + e) = (a . b) + (a . e),
para todos a, b, e E Zn·
3. * Prove que a operação de subtração em Zn está bem definida.
CAPÍTULO 7
ak - 1 (mod n),
169
170 Raízes Primitivas e Resíduos Quadráticos 7.1 Ordem módulo n 171
quais a congruência tenha solução, fixamos k E N e procuramos os va- (b) ak _ 1 (modn) {:} ordn(a) 1 k. Em particular, ordn(a) 1 cp(n).
lores a E Z que resolvem a congruência em questão. De fato, dado o
Prova.
caráter elementar destas notas, restringimo-nos ao caso k = 2, quando
(a) Se existissem O :::; k < l < h tais que a 1 = ak (mod n), o item (f)
os a E Z que resolvem a congruência são os resíduos quadráticos mó-
da proposição 5.6 daria al-k _ 1 (mod n), com O < l - k < h. Mas
dulo n.
isso seria uma contradição à minimalidade de h.
Como subproduto da teoria desenvolvida, provamos mais um famo-
Para o que falta, basta ver que, se ordn (a) = cp( n), então o con-
so teorema de Fermat, que desta feita caracteriza os números naturais
junto {1, a, a 2 , •.. , a'P(n)-I} tem cp(n) inteiros primos com n e dois a
que podem ser escritos como a soma dos quadrados de dois inteiros.
dois incongruentes módulo n, logo é um SCI módulo n.
7.1 Ordem módulo n (b) Seja ordn(a) = h, de sorte que, em particular, ah - 1 (modn). Se
k = hl, então
Sejam a, n inteiros tais que n > 1 e mdc (a, n) = 1. Sabemos, pelo
teorema de Euler 5.19, que sempre existe um natural k tal que ak = ak = ahl = (ah)Z _ 11 = 1 (mod n).
1 (mod n), qual seja, k = cp(n). Contudo, não há nada que garanta ser Reciprocamente, seja k um natural tal que ak =
1 (mod n). Pelo
cp(n) o menor dentre tais naturais k; por exemplo, 23 = 1 (mod 7) mas algoritmo da divisão, existem inteiros q e r, com O :::; r < h, tais que
cp(7) = 6. Essas considerações motivam a definição a seguir. k = qh + r. Assim, temos
Definição 7 .1. Dados a e n inteiros primos entre si, com n > 1, a 1 _ ak = aqh+r = (ah)q · ar - lq ·ar_ ar (modn).
ordem de a, módulo n, denotada ordn (a), é o menor h E N para o
Ser > O, temos quer é um expoente positivo, menor que h e tal que
qual
ar _ 1 (mod n), contradizendo a minimalidade de h. Logo, r = O e
ah - 1 (mod n).
então h I k, i.e., ordn(a) 1 k.
Das considerações acima, é imediato que Por fim, a relação ordn(a) 1 cp(n) segue da primeira parte do item
(b), juntamente com o teorema de Euler 5.19. •
ordn(a) :::; cp(n),
Exemplo 7.3. Calcule as ordens de 2 módulo 17 e de 7 módulo 10.
nem sempre ocorrendo a igualdade. A proposição a seguir estabelece
Solução. Se h = ord 17 (2), então h I cp(l 7) = 16, de sorte que h = 1,
algumas propriedades elementares do número ordn (a).
2, 4, 8 ou 16. Evidentemente h =/=- 1, 2; também, 24 - -1 (mod 17), de
Proposição 7.2. Sejam a, n E Z, com n > 1 e mdc (a, n) = 1. modo que h =/=- 4. Por outro lado, 28 = (2 4 ) 2 =
(-1) 2 - 1 (mod 17) e,
daí, h = 8.
(a) Se ordn(a) = h, então os inteiros 1, a, a 2 , ••. , ah-I são dois a dois Se h = ord 10 (7), então h I cp(lü) = 4, de maneira que h = 1, 2
incongruentes, módulo n. Em particular, se ordn(a) = cp(n),
então o conjunto {1, a, a 2 , ... , a'P(n)-I} é um SCI módulo n.
ou 4. Evidentemente, h =/=- 1; mas, como 72 =
-1 (mod 10), também
temos h =/=- 2. Logo, h = 4. •
~
1
Vejamos, agora, como a proposição 7.2 pode ser aplicada à resolu- Prova.
ção de problemas interessantes. (a) Segue de a - a+ n (mod n) que ak - (a+ n)k (mod n), para todo
k EN. Em particular, ak _ 1 (modn) se, e só se, (a+n)k =
1 (modn)
Exemplo 7.4. Se p é um primo ímpar, prove que todos os fatores e, daí, a e a+ n têm ordens iguais, módulo n.
primos de 2P - 1 são da forma 2kp + 1, para algum k EN.
(b) Como m I n, o item (g) da proposição 5.6 garante que, se ak _
Prova. Se q é um primo que divide 2P - 1, então q é ímpar e 2P == 1 (mod n), então ak · 1 (mod m). Em particular, como ak _ 1 (mod n)
1 (mod q). Segue do item (b) da proposição anterior que ordq (2) 1 p e, quando k = ordn (a), temos que
daí, ordq(2) = 1 ou p. Mas, se ordq(2) = 1, então q = 1, o que é um
absurdo; logo, ordq(2) = p. aordn(a) _ 1 (mod m).
Por outro lado, segue do pequeno teorema de Fermat que 2q-l ==
1 (mod q), de sorte que, novamente pelo item (b) da proposição ante- O item (b) da proposição 7.2 garante, agora, que ordm(a) 1 ordn(a).
rior, temos
(c) Seja d= mdc (h, k). Pelo item (b) da proposição 7.2, temos
p = ordq(2) 1 (q - 1).
(ak)j _ 1 (mod n) {:} akj - 1 (mod n) {:} h I kj
Mas como q é ímpar, deve existir k EN tal que q - 1 = 2kp. •
h k h
{:} d I d . j {:} d I j,
A proposição a seguir estabelece mais algumas propriedades úteis
da ordem módulo n de inteiros, as quais serão de grande utilidade no onde, na última equivalência, utilizamos o item (a) da proposição 1.21,
que segue. juntamente com o fato de mdc (~, ~) = 1. A partir daí, é imediato
que
Proposição 7.5. Sejam a e n inteiros primos entre si, com n > 1. k h h
ordn(a) = - = - - - -
d mdc (h, k)'
(a) ordn(a) = ordn(a + n). (d) Segue claramente de (c).
(b) Sem> 1 é um natural tal quem I n, então ordm(a) 1 ordn(a). (e) Pelo item (d), o número de expoentes 1 ::::; k ::::; h tais que ak tem
ordem h módulo n é igual ao número de tais expoentes relativamente
(c) Se ordn(a) = h e k EN, então ordn(ak) = mdc(h,k)'
primos com h, i.e., é igual a cp(h). •
(d) Se k EN, então ordn(ak) = ordn(a) {:} mdc (ordn(a), k) = 1.
(e) Se ordn (a) = h, então o conjunto {a, a 2 , ... , ah} tem exatamente
cp(h) elementos com ordem h módulo n.
Raízes Primitivas e Resíduos Quadráticos 7.2 Raízes primitivas 175
174
(a) Se f(n) = O, prove que 2n + 1 é um primo ímpar. Em particular, n tem exatamente <p( <p( n)) raízes primitivas, duas a
(b) Calcule f (1997). duas incongruentes módulo n.
Raízes Primitivas e Resíduos Quadráticos 7.2 Raízes primitivas 177
176
Prova. A segunda parte segue da primeira, pela definição da função ordn(a) < (()(n).
(() de Euler: o número de expoentes 1 S k S (()( n) tais que k é primo
(i) n = bc, com b, e> 2 primos entre si: como b e e são primos entre si,
com (()( n) é exatamente <p( (()( n)).
Para a primeira parte, sendo a uma raiz primitiva módulo n temos temos <p(n) = (()(bc) = (()(b)(()(c). Por outro lado, o fato de que b, e> 2
que ordn(a) = (()(n) e A = {a, a 2 ... , acp(n)} é um SCI módulo n. garante (cf. problema 19, página 88) que (()(b) e (()(e) são números
Portanto, qualquer raiz primitiva módulo n é congruente, módulo n, pares. Se a é um inteiro qualquer primo com n, então a é primo com
a um dos elementos de A, de maneira que basta ver quais elementos b e com e e, pelo teorema de Euler,
de A têm ordem (módulo n) igual a (()(n). Mas, pelo item (d) da acp(n)/2 = (acp(b)t(c)/2 - lcp(c)/2 = 1 (modb)
proposição 7.5, para 1 S k S (()(n) temos
e
ordn(ak) = (()(n) {::} mdc (<p(n), k) = 1. acp(n)/2 = (acp(c) t(b)/2 . 1cp(b)/2 - 1 (mod e) .
Exemplo 7.9. O exemplo 7.7 garante que 2 é raiz primitiva módulo ordn(a) S (()~n) < (()(n)
5. Como (()(5) = 4, a proposição acima ensina que um conjunto de
raízes primitivas módulo 5 duas a duas incongruentes é e, daí, a não é raiz primitiva módulo n.
{2\ 1:::;: k:::;: 4 e mdc(4,k) = 1} = {2,2 3 }. (ii) n = 2\ com k > 2: seja a um inteiro ímpar (i.e., primo com 2).
Se mostrarmos que
Portanto, módulo 5 as raízes primitivas duas a duas incongruentes são
2 e 3 (uma vez que 8 3 (mod 5)).
teremos
Prosseguimos, agora, na direção da caracterização dos inteiros que ord 2k(a) :::;: 2k- 2 < 2k-l = (()(2k),
I:!:."'
,, possuem raízes primitivas. Comecemos com uma condição necessária. e a não será raiz primitiva módulo 2k. Para o que falta, façamos
indução sobre k: o caso inicial k = 3 segue da proposição 5.9, uma
Teorema 7.10. Se n > 1 é um inteiro que possui raízes primitivas,
então n = 2, 4, pk ou 2pk, onde p é um primo ímpar e k é um natural.
=
vez que a 2 1 (mod8) para a ímpar. Suponha que já provamos que,
para algum inteiro k :?: 3, existe q E N tal que a 2k- 2 = 2kq + l; então
Prova. Note, inicialmente, que os inteiros n > 1 que não são de uma
ª2k-l ( ª2k-2) 2 = (2kq + 1)2 = 22kq2 + 2k+lq + 1
das formas do enunciado são ou da forma n = bc, com b, e > 2 intei-
ros primos entre si, ou da forma n = 2k, com k > 2 inteiro. Basta, 2k+1(2k- 1q2 + q) +1- 1 (mod2k+ 1 ),
pois, mostrarmos que tais inteiros n não possuem raízes primitivas,
coisa que faremos mostrando que todo inteiro a primo com n satisfaz conforme desejado.
•
178 Raízes Primitivas e Resíduos Quadráticos 7.2 Raízes primitivas 179
Resta estabelecer a recíproca do teorema acima, qual seja, que os Suponha que, para um certo k 2': 1, tenhamos a'P(Pk) = bkpk + 1,
números 2, 4, pk e 2pk, com p primo ímpar e k E N, possuem raízes tal que p f bk. A fórmula do binômio de Newton nos dá, então,
primitivas. É claro que 1 é raiz primitiva módulo 2 e 3 é raiz primitiva
módulo 4. O restante desta seção é devotado à análise dos demais acp(pk+l) = ( a'P(Pk) r = (1 + bkpk)P
casos.
A proposição a seguir garante que basta nos preocuparmos com os 1 + bkpk+l + I: (~)
j=2 J
l{pik + ~pPk.
números da forma pk.
Pelo exemplo 1.41, para 1 ::; j ::; p - 1 existe ck E N tal que
Proposição 7 .11. Se p é um primo ímpar e a E íZ é uma raiz pri-
(~) = pck. Portanto, a última expressão acima fornece
mitiva módulo pk, então a ou a + pk também é raiz primitiva módulo
2pk. p-1
1 + bkpk+l +L ckf4zJk+ 1 + ~pPk
Prova. Seja h = ord 2pk(a). Se a for ímpar, então a é primo com 2pk.
t
j=2
Nesse caso, usando o item (b) da proposição 7.5, juntamente com o
fato de ser ordpk (a) = cp(pk), obtemos 1 + bkp" 1+ ( ckú(P(j-1 )k-- 1+ fJ;p(p-1 Jk-2) p'+' _
Denotando por t a expressão acima entre parênteses e observando
que t E Z, segue finalmente que
onde, na última igualdade, utilizamos o fato de p ser um primo ímpar;
logo, ord 2pk(a) = cp(2pk) e a é raiz primitiva módulo 2pk.
Se a for par, troque a por a + pk no início e argumente como
acima. • Mas, como p f bk, fazendo bk+l = bk+tp obtemos a'P(Pk+i) = bk+iPk+l +
1, tal que p f bk+l· •
Completaremos a prova da recíproca do teorema 7.10 (i.e., a análise
do caso pk), em duas etapas. Antes, contudo, precisamos do seguinte Podemos finalmente cumprir o primeiro dos dois passos necessários
à demonstração da existência de raízes primitivas módulo pk, com p
Lema 7.12. Seja pum primo ímpar. Se a é uma raiz primitiva módulo primo ímpar.
p2 , então, para k 2': 1 inteiro, temos a'P(Pk) = bkpk + 1, com bk E íZ tal
Teorema 7.13. Seja pum primo ímpar e a um inteiro primo com p.
que p f bk.
(a) Se a for uma raiz primitiva módulo p, então a ou a+ p é raiz
Prova. Façamos indução sobre k 2': 1. O pequeno teorema de Fermat
primitiva módulo p 2 .
nos dá aP- 1 = b1p + 1 para algum b1 E Z. Se p dividisse b1 , teríamos
=
aP- 1 1 (modp2 ) e, daí, ordp2(a) ::; p-1 < cp(p2 ), contrariando o fato (b) Se a for uma raiz primitiva módulo p e módulo p 2 , então a é raiz
de a ser uma raiz primitiva módulo p 2 . primitiva módulo pk, para todo inteiro k 2': 1.
180 Raízes Primitivas e Resíduos Quadráticos 7.2 Raízes primitivas 181
Exemplo 7.15. Se pé primo e n EN, prove que k E N é o expoente de p na decomposição canônica de n em fatores
primos. Então mdc (p, q) = 1 e
1n 2n ( l)n - { O(modp), se (p- l)tn
+ + ···+ p - = -1 (mod p), se (p - 1) 1 n 2n + 1 2n + 1
--2- EN::::} 2k EN.
n p
Prova. Se (p - 1) 1 n, digamos n = (p - l)k, o pequeno teorema de
Fermat nos dá, para 1 :::; a :::; p - 1, que Pelo pequeno teorema de Fermat, temos 2P 2 (modp) e, a partir
daí, uma fácil indução garante que 2Pk _ 2 (modp). Assim, módulo p
an = a(p-l)k - 1k = 1 (modp) temos
k
Ü - 2n + 1 = 2P q + 1 - 2ª + 1,
e, daí,
de modo que 22ª _ 1 (modp). Sendo t = ordp(2), segue, daí, que
t divide 2q e (pelo pequeno teorema de Fermat) t 1 (p - 1); logo,
p-1 t I mdc (2q,p- l). Mas, como os fatores primos de q são maiores que
p, isto força que t = 2 e, por conseguinte, t = 2 e p = 3. Portanto,
Se (p-1) f n, seja a uma raiz primitiva módulo p. ·Como o conjunto
{ a, a 2, ... , aP- 1 } é um SCI, módulo p, concluímos que os números a, a 2,
(7.1)
... , aP-l são, módulo p, congruentes, em alguma ordem, aos números
1, 2, ... ,P - 1. Portanto (ainda módulo p), temos
o que acarreta sucessivamente 23kª -1 (mod 32k) e
li
1n + 2n + ... + (p - 1 r - an + ª2n + ... + a(p-l)n = apn - an
---
an -1
Agora, segue do pequeno teorema de Fermat que Como já mostramos (cf. exemplo 7.14) que 2 é raiz primitiva mó-
dulo 32 k, segue da congruência acima que
8ª + 1 EN.
= 1, devemos ter
--
2-
q
Solução. É claro que um tal n deve ser ímpar e que n = 1 é um valor
possível. Seja, pois, n > 1 um natural satisfazendo as condições do Suponha q > 1, e seja w o menor fator primo de q, digamos q = w 1v,
enunciado e escreva n = pkq, onde pé o menor primo que divide n e onde v E N e l é o expoente de w na decomposição canônica de q em
184 Raízes Primitivas e Resíduos Quadráticos 7.2 Raízes primitivas 185
fatores primos. Novamente pelo pequeno teorema de Fermat, temos (a) Mostre que f(O), f(l) E {O, 1} e que f é constante caso
8w 1 8 (mod w) e, daí, f(O) = 1 ou f(l) = O.
l
O - 8q + 1 = 8w v + 1 - 8v + 1 (mod w), (7.2) (b) Suponha, doravante, que f(O) = O e f(l) = 1. Use o pe-
queno teorema de Fermat para concluir que f(a) E {-1, 1},
de modo que 82v - 1 (mod w). Sendo t = ordw(8), segue que t 1 2v e para todo a E N tal que p f a.
(pelo pequeno teorema de Fermat) t 1 ( w - 1). Mas, como os fatores
primos de v (se existirem) são maiores do que w, chegamos a t = 1 ou (c) Se existe uma raiz primitiva a módulo p tal que f(a) = 1,
então
2, de modo que w 1 (8 1 - 1) ou w 1 (8 2 - 1). Em qualquer caso, segue
de w > p = 3 que w = 7 e, daí, (7.2) fornece f(x) = { O, se p Ix .
1, se p fx
O 8v + 1 1v + 1 2 (mod 7),
(d) Se f(a) = -1 para toda raiz primitiva a módulo p, então
um absurdo. Portanto, q = 1 e n = 3kq = 3.
• f(x) = { O, se p I x .
xP-l. (-l)ordp(x)+l (modp), se p f X
Problemas - Seção 7.2 6. (Turquia.) Prove que as duas afirmativas a seguir sobre n E N
são equivalentes:
1. Mostre que 2 é raiz primitiva módulo 29.
(a) n é livre de quadrados e, se p é um divisor primo de n,
2. Se m, n E N são tais que m I n, e a E Z é uma raiz primitiva
então (p - 1) 1 (n - 1).
módulo n, prove que a também é raiz primitiva módulo m.
(b) Para todo a EN, temos que n 1 (an - a).
3. Prove a seguinte generalização do teorema de Wilson: se n é
um natural que possui raízes primitivas e 1 = a 1 < a 2 < · · · < 7. (Índia - adaptado.) Para n E N, seja sn = 1 + E~=l kn-l. O
a<p(n) = n - 1 são os inteiros de 1 a n e primos com n, então propósito deste problema é caracterizar todos os n EN tais que
n I sn. Para tanto, faça os seguintes itens:
ii. Se a é uma raiz primitiva módulo Pi, mostre que tem número de soluções igual a um múltiplo de p, onde duas
ap;(n-1) _ an-1) soluções (a 1 , ... , a 5 ) e (b 1 , ... , b5 ) são consideradas distintas se
Sn - 1 + qi (
an-I _ l (modpi)· existir 1 ::::; i ::::; 5 tal que ai 1- bi (modp). Para tanto, faça os
seguintes itens:
iii. A partir de ii., conclua sucessivamente que, se n I sn,
então pi 1 (an- 1 -l), (pi-1) 1 (n-1) e (Pi-1) 1 (qi-1). (a) Se J(x 1 , ... ,x 5 ) = l-(xf+xi+· · ·+xg)P-I em é o número
iv. Se n I sn, use os resultados dos itens i. e iii. para de soluções da congruência do enunciado, então
concluir que Pi I (qi - 1). m - L f(x1, ... , x 5 ) (modp),
v. Prove, a partir dos dois itens anteriores, que n I sn se, x1, ... ,x5EA
e só se, Pi(Pi - 1) 1 (qi - 1) para 1 :Si ::::; t. onde A= {1,2, ... ,p-1}.
8. Sejam p um primo ímpar, k -=I p, 2p um natural tal que 1 ::::; k < (b) Módulo p, temos
2(p + 1) e n = 2pk + 1. m - p5- X 4a1 x4a5
t.,, 1 " · 5
0<1 + .. ·+a5=p-l x1, ... ,x5EA
(a) Se n é primo e a é uma raiz primitiva módulo n, prove.que
mdc (ak + 1, n) = 1. ~
L.J(L.J
~ x4°'1) ... ( L.J
~ x4°'5)
(b) Suponha que existe 2 ::::; a < n inteiro, tal que akP = 0<1 +·+a5=p-l xi EA
1
x5EA
5 ·
-1 (mod n) e mdc (ak + 1, n) = 1. (c) Se a 1 + · · · + a 5 = p- l, com ai 2:: O para 1::::; i::::; 5, então
i. Se d= ordn(a), mostre que d 1 (n-1) e d f 2k. Conclua existe 1 ::::; i ::::; 5 tal que ai= O ou (p - 1) f 4ai·
que p I d e, daí, que p 1 <p(2kp + 1). (d) Se (p - 1) f 4a, use uma raiz primitiva a módulo p para
ii. Use a fórmula para <p(2kp+ 1) para concluir que existe concluir que
l > 1 inteiro tal que lp + 1 é um divisor primo de n. p-l
a4pa -a4a
111. Use que n = 2kp+ 1 para mostrar que n = (lp+ l)(hp+ L x4°' = L a4ja =
a4a - 1
O(modp).
1) para algum inteiro h E {O, l}. Conclua, em seguida, xEA j=l
que não podemos ter h = 1 e, daí, que n é primo. (e) Conclua quem_ O(modp).
O próximo problema é devido ao matemático francês do século
XX Claude Chevalley, sendo conhecido como o teorema de 7.3 Resíduos quadráticos
Chevalley.
Estudamos, nesta seção, congruências algébricas da forma
9. Se p é um primo ímpar, queremos mostrar que, módulo p, a
congruência x2 a (mod n).
Precisamos, inicialmente, da definição a seguir.
188 Raízes Primitivas e Resíduos Quadráticos 7.3 Resíduos quadráticos 189
Definição 7.17. Se a, n E Z, com n > 1 e mdc (a, n) = 1, diremos (b) Como {1, 2, ... ,p-1} é um SCI módulo p, para contarmos quantos
que a é um resíduo quadrático módulo n se a congruência de seus elementos são resíduos quadráticos, módulo p, basta calcular-
mos quantos dentre os números 12 , 22 , ... , (p - 1)2 são dois a dois
x2 - a(modn) incongruentes, módulo p. Para tanto, veja que, se 1 ::::; i ::::; P; 1, então
possuir pelo menos uma solução inteira x. Caso contrário, a é dito um i2 - (p - i) 2 (modp);
não resíduo quadrático módulo n.
por outro lado, se 1 ::::; i < j ::::; P;1, então
Em relação à definição acima, nossa tarefa primordial será obter
i2 -=/=. j2 (modp),
condições necessárias e suficientes para que um inteiro a seja resíduo
quadrático módulo n. Analisemos o caso em que n é primo, deixando uma vez que j 2 - i 2 = (j - i) (j + i) e O < j - i < j + i < p.
o caso geral para os problemas propostos ao final desta seção. Logo, há precisamente P; 1 resíduos quadráticos módulo p e, daí,
(p - 1) - (P; 1) = P;1 não resíduos quadráticos módulo p. •
Proposição 7.18. Seja pum primo ímpar.
O resultado a seguir é devido a L. Euler, sendo conhecido na lite-
(a) Se a é um resíduo quadrático módulo p, então a congruência ratura como o critério de Euler para resíduos quadráticos.
x 2 - a (modp) possui exatamente duas soluções incongruentes
módulo p. Proposição 7.19 (Euler). Se pé um primo ímpar, então um inteiro
a é resíduo quadrático módulo p se, e só se,
(b) Dentre os números 1, 2, ... ,P - 1 há exatamente P;1 resíduos p-1
e segue de ordp(a) = p - 1 que (p - 1) 1 k (P; 1), de maneira que k é A conveniência notacional do símbolo de Legendre é esclarecida
par, digamos k = 2l. Fazendo x 0 = o/, temos pelas duas próximas proposições.
x~ = a 21 = ak - a (modp), Proposição 7.23. Se pé um primo ímpar e a, b E Z, então:
de sorte que a é um resíduo quadrático módulo p.
Corolário 7.20. Se p é um primo ímpar, então um inteiro a primo
•
com p é um não resíduo quadrático módulo p se e só se (b) Se p f a, então ( ~) = 1.
p-1
a-2 = -1 (modp). (c) (:) _ ap;i (modp).
Prova. Pelo pequeno teorema de Fermat, temos
(ap;i - l)(ap;i + 1) = ap-l - 1 - O(modp).
(d) (:) 0) = (~).
Prova. A prova dos itens (a) e (b) é imediata. Provemos, pois, o item
Mas, como p é primo, temos que (c): se p I a, então
(pª)
p-1 p-1
a-2 - 1 - O(modp) ou a-2 +1_ O(modp).
=O_ a-2
p-1
(modp);
Por outro lado, pelo critério de Euler, a é um não resíduo quadrá-
tico módulo p se, e só se, a primeira das duas congruências acima não senão, a proposição 7.19 e o corolário 7.20 garantem que, modulo p,
p-1
ocorre, i.e., se, e só se, a-2- + 1 - O(modp).
ª
p-1
2
-
{ 1 se a for resíduo quadrático módulo p
-1 se a for não resíduo quadrático módulo p =
(ª)p ·
6) que, para todo a E Z, existem infinitos primos p tais que a não é
resíduo quadrático módulo p. Por fim, quanto a (d), observe que, se p I ab, então p Ia ou p I b e,
daí,
A fim de facilitar as manipulações com resíduos e não resíduos qua-
dráticos, precisamos de uma notação conveniente, a qual é introduzida (~) (!) = o= (:) .
pela definição a seguir. Por outro lado, se p f ab, então p f a e p f b, e segue do item (c) que
Definição 7.22. Dados inteiros a e p, com p primo, definimos o sím-
bolo de Legendre (:) por: (ª)p (b)p = a-2
p-1
. bE=.!_
2 = (ab)-2 _
p-1 (ªb)
p (modp).
Exemplo 7.24. Prove que não existem x e y inteiros tais que y 2 = ja - tj (modp).
x 3 +7. Provemos primeiro que
Solução. Suponha o contrário. Então x é ímpar, pois, do contrário,
teríamos y2 = x 3 + 7 - 3(mod4), uma contradição ao item (c) da 1 ::::; i < j ::::; p; 1 :::} /ti/ =1- /tjl·
proposição 5.9.
Por outro lado, Para tanto, basta ver que, como mdc (a, p) = 1, temos
(7.3) /ti/= /tj/ :::} /ia/ - /ja/ (modp):::} /i/ - /j/ (modp)
:::} i ± j - O(modp),
e, como (x - 1)2 + 3 _ 3(mod 4) (lembre-se de que x - 1 é par), existe
um primo p da forma 4k + 3 tal que p divide (x - 1) 2 + 3. o que é impossível.
Voltando a (7.3), concluímos que y 2 + 1 O (modp), i.e., que -1 Segue do que fizemos acima que os números /t 11, ... , /t E=! I 1ormam
e
é resíduo quadrático módulo p. Segue da definição do símbolo de em alguma ordem, uma permutação dos números 1 2 2 p-1 ( . '
h , , ... , veJa
Legendre e do item (c) da proposição anterior que, módulo p, que nen um deles é igual a O, já que mdc (a,p) = 1). P~rtanto
lembrando que m denota a quantidade de , d' . .'
m ices J para os quais
1= ( ~1) - (-1/;1 = (-1)2k+l = -1, tj < O, temos, módulo p, que
uma contradição.
{1 ::::; J.::::; -p-2 -;1Ja. - -1, -2, ... ou - (p- -2 -1) (modp) }
. (7.4)
(p2) =(-1)-4 =(-1)~. lp+lj 2 1
194 Raízes Primitivas e Resíduos Quadráticos 7.3 Resíduos quadráticos 195
Prova. Pelo lema de Gauss, temos(~)= (-l)m, onde Lema 7.27. Se pé um primo ímpar e a é um inteiro primo com p e
também ímpar, então (~) = (-l)M, onde
m=#{lsksP;\2k -1,-2, ... ou - ( p ; l ) (modp)}.
onde, para a última igualdade, basta considerarmos separadamente os Para o que falta, denote por 8 1 , 8 2 , ... , 8m (após uma reenumera-
casos p = 4k + 1 e p = 4k + 3. ção, se necessário) os restos rj tais que P! 1 S rj < p, e por t 1 , ... ,tn
Quanto à segunda igualdade, é suficiente mostrarmos que (também após uma reenumeração, se necessário) os restos rj tais que
l lJ -1
1 S rj S P; 1 . Então m + n = P; 1 e (assim como na prova do lema de
+- Gauss), para 1 Si< j S P; 1 temos ri-=/=- rj,p- rj. Logo,
2
p- - p 8 (mod 2).
4
Por outro lado, somando as igualdades (7.5) sobre 1 ::S j ::S P;1, É, então, suficiente mostrarmos que
obtemos
a (p -l)
2
8
=p t ljaj
j=l p
+ f
j=l
Sj + ttj,
j=l
(7.6)
Subtraindo membro a membro as duas relações acima, segue então para o quê utilizamos o seguinte argumento geométrico: como o se-
que gundo membro da igualdade acima é igual ao número de pontos de
j=l P
por fim, lembrando que a e p são ímpares e analisando a igualdade
J=l
R = { (x, y) E Il~.2; 1 :'.S x ::S p; l e 1 ::S y ::S q; l},
acima módulo 2, obtemos basta contarmos o número de tais pontos de outra maneira, obtendo
p;l ljªJ
o primeiro membro de (7.6) como resultado.
O=L -p -m, Sem perda de generalidade, suponha que p > q, e considere a reta
j=l y !x (cf. figura 7.1). Para cada j ~ 1, o número l1J conta o .
conforme desejado. • y
O teorema a seguir é conhecido na literatura como a lei da re- q-l (
p-1 (p-l)q)
-2- ........--------"-! 2 ' 2p
ciprocidade quadrática de Gauss, e a prova que apresentamos é
devido ao matemático alemão do século XIX Ferdinand Eisenstein.
1 J p-1
-2-
Prova. Pelo lema anterior, temos
Figura 7.1: contando os pontos de n n 'li}.
reta y = '1.x
p
e acima da reta y = O. Mas, como e, pela lei da reciprocidade quadrática,
q-1
2
(p3) .(P)3 (
= -1) (p-1)(3-1)
-2
p-1
-2 =(-1)-2.
t
j=l
ljpj =
q
# de pontos de coordenadas inteiras na região II de R
Problemas - Seção 7.3
e nada mais há a fazer.
• 1. Se P é um primo ímpar, prove que -1 é resíduo quadrático mó-
Terminamos esta seção com uma aplicação da lei da reciprocidade dulo p se, e só se, p 1 (mod4).
quadrática à existência de certos tipos de números primos.
2. Prove que a equação x 2 = y 3 + k não admite soluções inteiras
Exemplo 7.29. Prove que há infinitos primos da forma 3k+ 1, k EN.
x, y para infinitos valores inteiros de k.
Prova. Por absurdo, suponhamos que houvesse somente uma quan-
tidade finita de primos da forma 3k + 1, digamos p 1,p2, ... ,Pn, e seja 3. Sejam a, b e e inteiros não todos nulos e n um natural. Se
x = (2p 1 ... Pn) 2 + 3. Sendo p um divisor primo de x, é claro que existem inteiros x e y, relativamente primos com n e tais que
p-=/=- 2, 3,pi, ... ,Pn, de modo que p - -1 (mod3). Ademais, como ax 2 + bxy + cy 2 = n, prove que b2 - 4ac é um resíduo quadrático
módulo n.
(2p1 .. ·Pn) 2 - -3 (modp),
4. Prove que não existem x, y E Z tais que x 2 + 3xy - 2y2 = 122.
temos que -3 é resíduo quadrático módulo p. Devemos, então, ter
5. Dados a, b E Z, mostre que:
(-;3 ) = 1. Mas
(a) 2b2 + 3 tem um divisor primo p, tal que p ±3 (mod 8).
(~3) (~1) (i), (~1) =(-1/;
1
(b) (2b2 + 3) f (a 2 - 2).
200 Raízes Primitivas e Resíduos Quadráticos 7.3 Resíduos quadráticos 201
6. Se p / 3 é um primo ímpar, prove que 11. (APMO.) Durante um recreio, o professor reuniu seus n alunos
no pátio da escola, formando com os mesmos um círculo. Em
se p _ ±1 (mod 12) seguida, escolheu um aluno, deu a ele um doce e, no sentido anti-
se p _ ±5 (mod 12) horário, saiu distribuindo doces aos alunos da seguinte maneira:
pulou um aluno e entregou um doce ao terceiro, pulou dois alunos
7. Sejam m e n naturais ímpares, com n > 1. e entregou um doce ao sexto aluno, pulou três alunos e entregou
um doce ao décimo e assim por diante, sempre pulando um aluno
(a) 2n - 1 tem um divisor primo p, tal que p - ±5 (mod 12). a mais que na vez anterior e entregando um doce ao próximo.
Para que valores de n cada aluno terá recebido ao menos um
(b) (2n - l)t (3m - 1).
doce após um número finito e suficientemente grande de voltas?
8. Se n > 1 é um natural tal que p 2n + 1 é primo, faça os 12. Dados um primo p e inteiros primos entre si a e n, com n > 1, di-
seguintes itens: zemos que a é um resíduo n-ésimo, módulo p, se a congruência
xn a (mod p) tiver solução. Generalize o critério de Euler para
(a) Mostre que 3 é um não resíduo quadrático, rríódulo p.
resíduos quadráticos, do seguinte modo: se d= mdc (n,p - 1),
(b) Conclua que 3 é raiz primitiva, módulo p. então
a é um resíduo n - ésimo módulo p {::} av·t - 1 (modp).
9. (a) Sejam a e k inteiros dados, sendo a ímpar. Prove que a
congruência x 2 a (mod 2k) tem solução para todo k > 2 Para o próximo problema, o leitor necessitará utilizar alguns
se, e só se, a congruência x 2 _ a (mod 8) tem solução. fatos básicos sobre as somas simétricas elementares das raízes
(b) Sejam p um primo ímpar e a um inteiro primo com p. Prove de um polinômio, para o quê sugerimos a leitura da seção 4.2 do
que a congruência x2 - a (modpk) tem solução para todo volume 6.
k 2': 1 se, e só se, a congruência x 2 _ a (modp) tem solução.
13. (Bulgária - adaptado.) O objetivo deste problema é mostrar que,
se p > 5 é primo e k > 1 é inteiro, então p 3 k). Para
10. * Sejam a e n naturais primos entre si, com n > 1, e n =
1 ( (;) -
(b) Se f(x) = xP- 1+ap-2xP- 2+ap-3xP- 3+· · ·+a1x+ao, mostre (b) -1 é resíduo quadrático módulo p.
que f(a) - f(-a) - 2a1 a (modp3 ) e deduza, a partir daí,
(c) p pode ser escrito como soma de dois quadrados.
que basta mostrar que a 1 - O(modp2 ).
(c) Use as relações de Girard (cf. proposição 4.6 do volume Prova.
6) para mostrar que a condição a 1 O(modp2 ) equivale à (a)::::} (b): sendo p = 4k+ 1, segue do item (c) da proposição 7.23 que
E=!
congruência
i).
I::j~l ri - O(modp), onde ri = f1 1 :s;i::;Sl (a+
i=/cj,p-j (p-1)· _ p-1
(-1)-2 - (-1) 2k 1 (modp)
p-1
(d) Mostre que a igualdade (a+ j)(a+p-j)ri = IJi~i (a+i) e, daí, -1 é resíduo quadrático módulo p.
implica, módulo p, a congruência j2rj _ -(p-1)! (modp),
para 1 5:. j 5:. P; 1. (b) ::::} (c): sejam h E Z tal que h 2 + 1 - O(modp), e
(e) Conclua, a partir do item (d), que ri é um resíduo quadráti- A= {(x,y); x,y E Z, O 5:. x,y < Jp}.
co, módulo p e ri:/:- ri (modp), para todos, 1 5:_·i < j 5:_ ·P;1.
(f) Deduza que, módulo p, o conjunto {r1 , r 2 , •.. , Tp-1} forma Pelo princípio fundamental da contagem (cf. corolário 1.9 do volume
2
4), temos IAI = (lJpj + 1)2. Agora, como
uma permutação do conjunto {1 2, 22, ... , (P; 1)2} e conclua
o que se pede. (lJ.PJ + 1)2 > Jp2 = p
(g) Se k for par, siga os passos delineados nos itens de (a)
a (f), argumentando, de início, com o polinômio f(x) = e só há p possíveis restos numa divisão por p, o princípio da casa
dos pombos (cf. seção 4.1 do volume 4) garante a existência de pares
n~=~ (x + k: - J). ordenados distintos (x 1 , y1 ), (x 2 , y2 ) E A, tais que
Teorema 7.30 (Fermat). As seguintes condições sobre um primo ím- Mas, como
par p são equivalentes: + b2
ª2 lx1 - x21 2 + IY1 - Y21 2 - (x1 - x2) 2 + (hx1 - hx2) 2
(a) p _ 1 (mod4). (h 2 + l)(x 1 - x2 ) 2 . O(modp),
i
204 Raízes Primitivas e Resíduos Quadráticos 7.4 Somas de quadrados 205
p = a2 + b2 - O+ 1 _ 1 (mod4). (i) Se cada bj for par, então n pode ser escrito como soma de dois
quadrados: note inicialmente que, pelo teorema 7.30, cada Pi pode
• ser escrito como soma de dois quadrados; por outro lado, temos 2ª =
(2ª12 ) 2 + 02 se a for par e 2ª = (2(a-l)/ 2 ) 2 + (2(a-l)/2 ) 2 se a for ímpar;
Para prosseguir, precisamos de um resultado auxiliar, usualmente por fim, se bj = 2cj, com Cj E Z para 1 ::S j ::S l, então qJi = (q?)2+0 2 .
atribuído a Euler e conhecido como a identidade de Euler. Portanto, aplicando repetidamente o lema 7.31, concluímos que n pode
ser escrito como soma de dois quadrados.
i':;i Lema 7.31. Sem e n são naturais que podem ser escritos como somas
de dois quadrados, então mn também pode ser escrito como soma de (ii) Se n puder ser escrito como soma de dois quadrados, então cada bj
dois quadrados. é par: é suficiente provar que se n pode ser escrito como soma de dois
quadrados e bj ~ 1, então bj ~ 2 e ; também pode ser escrito como
Prova. Sem= a2 + b2 e n = c2 + d2 , então J
p2 = (a2 + b2)(x2 + y2) = (bx + ay) 2 + (by - ax) 2 = p 2 + (by - ax)2, mn = (aw - bx - cy - dz) 2 + (ax + bw + cz - dy) 2
(7.9)
+ (ay - bz + cw + dx) 2 + (az + by - ex+ dw)2.
ou seja, by = ax. Novamente como acima, concluímos que x = b~
y = a. De posse de tal resultado, faça os seguintes itens:
1 Para uma prova natural da identidade em questão, referimos o leitor ao pro-
6. Para a EN, comece observando que (a+ l)(a+2) ... (a+n) = (a!~)!.
209
Sugestões e Soluções 211
210
9. No item (c), para mostrar que Se Zm, use o algoritmo da divisão e Seção 1.2
a minimalidade de m.
l. Use o algoritmo de Euclides.
10. Comece analisando a primeira parte do problema e, para tanto, es-
2. 2m = (n - l)(n + 1); calcule, agora, os possíveis valores de mdc (n -
creva 264 + 1 = (264 - 1) + 2 e fatore 264 - l.
1, n + 1) e, em seguida, utilize o item (b) do corolário 1.22.
12. Para os itens de (a) a (e), é suficiente aplicar judiciosamente os itens
3. Mostre que, se existir um natural que é termo de ambas as PA's, então
(a) e (b) do problema anterior. Quanto ao item (f), comece utilizando
existirá uma infinidade de naturais que são termos das mesmas; para
o resultado do item (b).
a caracterização da existência de um natural que seja termo comum
13. Comece analisando o caso em que x pertence a um intervalo do tipo das PA's, use a proposição 1.25.
(n, n +!),para algum n E Z.
4. Trabalhe novamente o problema 10, página 11.
14. Comece mostrando que, nas condições do enunciado, temos
1> ª 2 :;t -
+ ~+
1 + ab e, daí, que 1 +(a+ b- l)(a + b - ab) > a 2 b2 .
2 2
ª: 5. Comece mostrando que o mdc que se quer calcular divide (n + 1)! -
n! = n · n!.
Conclua, por fim, que a 2:: b =:} b = l.
6. Se d= mdc (a, b), escreva a= du e b = dv, de sorte que mdc (u, v) =
15. Desenvolvendo a igualdade do enunciado, obtemos (x + y)(x + z) =
l. Então ab (a 2 + b2 ) se, e só se, uv (u 2 + v2 ). Nesse caso, como
J J
2xz. Conclua que um dos membros dessa última igualdade é um
u,v uv, temos que u,v (u 2 +v 2 ) e, daí, u v2 e v u 2 . Mas, uma
J J J J
8. Sendo d o mdc procurado, segue do teorema das colunas do triângulo 14. Escreva aj + b = ml ª!;b J + Tj, com O~ Tj < m; em seguida, use a
de Pascal - cf. proposição 6.5 do volume 1 - que d divide a soma condição mdc (a, m) = 1 para concluir quero, r1, ... , Tm-1 são dois
(n+k+l)
k+l
dos números dados . portanto ' d divide (n+k+l)
k+l
- (n+k)
k
-- a dois distintos.
(~!~). Conclua, a partir daí e com o auxílio da relação de Stiefel (cf.
15. Escreva r = gu, n = gv, com mdc(u,v) = l; em seguida, faça
proposição 6.3 do volume 1), que d divide (~!D, (~!~), ... (~!~). Por { ~i} = ~i - l ~i J e use o resultado do problema anterior.
fim, argumente indutivamente.
16. Escreva mdc (m, n) = mx + ny, com x, y E Z.
9. Se d é o mdc dos números binomais dados, então d é uma potência
de 2, uma vez que d divide sua soma, a qual vale 22n- 1 . Escreva 17. Utilize o resultado do item (a) do problema 5.11 do volume 1.
n = 2kq, com q EN ímpar, e mostre que
18. Prove o item (a) por indução sobre n e o item (b) por indução sobre k.
Quanto ao item (c), para o subitem (i) use (b) para mostrar, também
( 2n ) _ 2k+l (2n - l)q (2n - 2).
2t - 1 - · (2t - 1)(2n - 2t + 1) 2t - 2 ' por indução, que Fn I Fnqi para o subitem (ii), use (i) e (a); para
(iii), faça uma prova por indução sobre q 2 O, utilizando (b) e (ii) no
conclua, a partir daí, que 2k+1 divide todos os binomiais dados.
passo de indução. Por fim, para o item (d), adapte o algoritmo de
10. Se d= mdc (n 2 + k, (n+ 1)2 +k), então d 1 [((n+ 1)2 + kJ- (n 2 + k)]; Euclides à situação em questão, com o auxílio do item (c).
logo, d 1 [(2n + 1) 2 - 4(n2 + k)], e é fácil concluir, a partir daí, que
19. Adapte, ao presente caso, os passos e sugestões do problema anterior.
d 1 ( 4k + 1), de sorte que d ~ 4k + 1. Exiba, agora, um valor de n
para o qual o mdc correspondente seja igual a 4k + 1. 20. Para o item (a), sejam u e v naturais tais que au - bv = 1. O fato de
ser n > ab nos dá nau - nbv = n > ab e, daí, nbu - :_v > l; portanto,
11. Comece escrevendo a = du e b = dv, onde d = mdc (a, b) e, por
conseguinte, mdc(u,v) = l; conclua, em seguida, que u,v I e e, daí,
existe um inteiro t tal que:_v
<t < 1u; faça x = nu-bt e y = at-nv.
Agora, obtenha (b) argumentando por contradição e reduza (c) a (a)
que uv I e.
e (d) a (b). Quanto a (e), faça S = ab - a - b e mostre que, para
12. Faça x 2 + y 2 - x = 2xym, com m EN; em seguida, considerando tal O ~ m ~ S, exatamente um dos números m e S - m pode ser escrito
igualdade como uma equação de segundo grau em x, mostre que o fato como pede o enunciado.
de x ser inteiro garante que o discriminante~= (2ym + 1) 2 - 4y2 =
21. (a) Sejam x, y, z E Z+ tais que 2abc- ab-bc- ca = xbc+ yac+ zab.
(2ym+l-2y)(2ym+1+2y) deve ser um quadrado perfeito. Por fim,
Então
mostre que mdc (2ym + 1 - 2y, 2ym + 1 + 2y) = 1 e use o resultado
2abc = (x + l)bc + (y + l)ac + (z + l)ab
do corolário 1.22.
e, daí, a 1 (x + l)bc. Como mdc (a, bc) = 1, segue que a 1 (x + 1) e,
13. Mostre inicialmente, com o auxílio do princípio da casa dos pombos portanto, x + 1 2 a. Analogamente, y + 1 2 b e z + 1 2 e. Mas aí,
- cf. seção 4.1 do volume 4 - que ao menos um dos cinco naturais
ímpares em nosso conjunto não é múltiplo de 3, 5 ou 7; em seguida, (x + l)bc + (y + l)ac + (z + l)ab 2 a· bc + b · ac +e· ab = 3abc,
prove que tal número é primo com os outros nove. o que é uma contradição. (b) Se n > 2abc - ab - bc - ca, então
mdc(y, z) = 1. n > a·bc-a-bc e o problema anterior garante (a e bc são primos entre
214 Sugestões e Soluções 215
si) a existência de inteiros x, t E Z+ tais que n = xbc+ta. Sem perda 2. Comece escrevend o n - új=l 1 - 2 °"'k
m _ °"'2k+l 1 1 _ °"'2k+l 1.
új=l 2j - új=k+I 1, em se-
de generalidade, podemos supor que O ::; x < a. De fato, se x ~ a guida, agrupe as parcelas dessa última soma de duas em duas, para
escreva x = aq + x', com O ::; x' < a, obtendo n = x' bc + (t + qbc )a. escrevê-la como uma soma de frações com numeradores todos iguais
(c) Sendo x::; a - 1, temos a 3k + 2 = p, e use o fato de p ser primo.
ta= n - xbc ~ (2abc - ab- bc - ca) - (a - l)bc = abc - ab - ac, 3. Podemos supor x f:- y. Se x < y, prove que x < p < y e, daí, que
mdc (p, x) = 1. Escreva 2xy = p( x + y) para concluir que p I y. Faça
donde t > bc - b - e. Mas, como b e e são primos entre si, novamente
y = pz para obter z = 2 xx__p, concluindo, daí, que (2x - p) 1 2x e,
pelo resultado do problema anterior existem y, z E Z+ tais que t =
então, que (2x - p) 1 p.
bz + cy. (d) Nas notações dos itens anteriores, temos
4. Comece considerando separadamente os casos n = 6k, 6k+ 1, ... , 6k+
n = xbc + ta = xbc + (bz + cy )a = xbc + yac + zab.
5. Para n = 6k, por exemplo, use o fato de que k, 2k + 1, 3k + 1 e
6k + 1 são dois a dois primos entre si para concluir que k = 1.
22. Adapte os passos descritos no problema anterior e faça indução sobre
n~ 2. 5. Comece utilizando a condição do enunciado para mostrar que n I an
23. Para a primeira parte do item (a), use indução. · Para o item (b), e, daí, que se pé um primo que não divide n, então p f ªn·
mostre que, se O < a1 < a2 < a3 < · · · < ªn-1 são os restos obtidos
6. Para o item (a), use o teorema fundamental da aritmética (para cuja
na execução do algoritmo de Euclides para o cálculo do mdc de a =
prova não utilizamos a infinitude dos primos). Para a primeira parte
an+I e b = an (sendo ªn-1 o primeiro resto, etc, a1 o último), então
do item (b) use, além do resultado do item (a), o princípio funda-
ªi ~ Fj-l, para 1::; j::; n. Por fim, mostre que (c) segue de (a) e de
mental da contagem. Por fim, mostre que o resultado de (b) gera a
(b).
desigualdade n ::; 2k y'n, a qual, por sua vez, gera uma contradição.
24. Sejam k o único inteiro positivo tal que 2k < n < 2k+1 e M
7. Em cada um dos casos em questão, imite a ideia da prova do exemplo
mmc (1, 2, ... , n). Mostre que 2k IM e que
1.39. Para tanto, observe que todo primo p f:- 3 é da forma 3k ± 1 e
n 1 1 n M todo primo p f:- 2, 3 é da forma 6k ± 1.
L-:=MI:-.,
J
j=l J j=l
8. Fatore 22n - 1 e use o resultado do problema 4, página 31.
com ~ ímpar se, e só se, j = 2k.
J 9. Use a identidade de Lagrange - cf. exemplo 6.12 do volume 1 ou
exemplo 2.8 do volume 4 - para escrever (:); em seguida, use o
resultado do exemplo 1.41. Alternativamente, escreva
Seção 1.3 = (p + 1) (p + 2) ... (2p - 1) _
( 2p) _ 2 l
p 1·2 ... (p-1)
1. Use o fato de que p+ q é par e, se p < q, então p < ~ < q, de sorte
que (p + q)/2. e mostre que p divide (p + l)(p + 2) ... (2p - 1) - 1 · 2 ... (p- 1).
r,
10. Para o item (a), mostre que, se n não for uma potência de 2, então é prove esse resultado escrevendo, para n = 2k - 2,
possível fatorar un + 1; argumente analogamente quanto ao item (b). 2k-l_1 k-1
22. Sejam p primo e t E N tais que (a + kb) (b + ka) = pt. Supondo, seja p o maior fator primq de Yi e p = Pr na sequência dos primos;
sem perda de generalidade, que a ::; b, temos a+ kb 2".: b + ka > 1, defina Yi+I = Xti+i, com tj+l > r, tj. Prossiga dessa maneira até
de sorte que existem r, s E Z tais que 1 ::; r ::; s, r + s = t e que j = m, mostrando, em seguida, que o conjunto B assim obtido
a + kb = p8 e b + ka = pr. Conclua que (b + ka) 1 ( a + kb) e, também satisfaz a condição (c).
escrevendo ~t~! = k- (k:.;k~ª,que (b + ka) 1 (k 2 - 1). Considere,
agora, dois casos separadamente: (i) se p > 2, use o fato de que
b + ka é uma potência de p e mdc (k - 1, k + 1) ::; 2 para concluir
Seção 2.1
que b + ka divide k - 1 ou k + 1, de sorte que b + ka ::; k + 1 e,
então, b = a = 1. Conclua que, nesse caso, as soluções são os ternos 1. Se (xo, Yo, zo) é uma solução, então (xoan+I, yoan+I, zoan) também é
(a, b, k) = (1, 1,pr -1), para todos r 2".: 1 e p > 2 primo. (ii) Se p = 2, solução; agora, obtenha uma solução com x = y = k + 1.
comece observando que ao menos um dentre a e b é ímpar e, portanto,
que k também é ímpar. Agora, como (b+ ka) 1 (k 2 -1) e b+ ka = 2r, 2. Use a proposição 2.1 para escrever x + y, y + z ex+ z em termos de
parâmetros u, v e d, como prescrito por aquele resultado.
mostre que (b+ka) l 2(k+l) ou 2(k-1); em particular, b+ka::; 2k+2
e, daí, a = 1 ou 2. Se a = 2, chegue a uma contradi~ão; se a_= 1, 3. Imite a prova da proposição 2.1. Mais precisamente, se x, y, z > O,
temos que (b + k) 1 2(k + 1) ou k - 1, o que suscita a análise de dois · comece observando que z - x e z + x são ambos pares e, se d =
subcasos: (b+k) 1 (2k+2) ou (b+k) 1 (2k-2). No primeiro subcaso, mdc ( z2x, z!x), então a igualdade
mostre que b = k + 2 ou b = 1. Se b = 1, conclua que k = 2r - 1;
se b = k + 2, escrevas= 2u para obter (a, b, k) = (1, 2u + 1, 2u - 1),
para todo u EN. No segundo subcaso, mostre que b = k - 2 e, em
seguida, faça s = 2u para obter (a, b, k) = (1, 2u - 1, 2u + 1), para garante a existência deu, v E Z tais que z:;f = 2v 2 , z;;t = u 2 ; agora,
todo u EN. mostre que mdc (u, 2v) = 1.
23. Para o item (a), use o resultado do problema 4, página 31, juntamente 4. Use o método da descida de Fermat em cada um dos itens acima,
com o fato de que p(q 2k) = q, para todo k 2".: O. Para o item (b), nos moldes dos exemplos 2.3 e 2.4. Especificamente para o item (d),
fatore q2k - 1 e use a minimalidade de k para concluir que não pode comece mostrando que x e y deixam restos iguais quando divididos
ser p(q2k-1 - 1) > p(q2k-1). por 3; em seguida, calculando (3k + r )3, conclua que, se x e y não
forem múltiplos de 3, então x 3 + 5y3 não será múltiplo de 9.
24. Escolha um primo p maior que 1 + 2 + · · · + 1000 e mostre que o con-
junto A = {p, 2p, 3p, ... , 1000p} satisfaz as condições do enunciado. 5. Comece escrevendo x = u-v e y = u+v, com u, v E (Q) e, em seguida,
u =%e v = t com a,b,c E Z e mdc(b,c) = 1. Em seguida, para o
25. Se t é o produto dos primos menores ou iguais a m, defina Y1 = Xti, item (a) utilize o resultado do exemplo 2.3; para o item (b), adapte a
onde Pti é um primo maior que t. Sendo p o maior divisor primo de Yl demonstração da proposição 2.1 para resolver a equação 3a2+b 2 = c2.
e p = Pr na sequência dos primos, defina Y2 = Xt 2 , com t2 > r, t1, e se
convença de que mdc (Y1, Y2) = 1. Escolhidos elementos YI = Xt 1 < 6. Se z for ímpar, use o resultado do item (c) do corolário 1.8 para
. · · < Yi = Xti de A satisfazendo a condição do item (b), com j < m, mostrar que não há soluções. Se z for par, use o item (b) do mesmo
220 Sugestões e Soluções 221
resultado para concluir que w, x e y também são pares e, em seguida, 5. Se x 2 - dy 2 =me a 2 - db 2 = 1 com a b EN então
aplique o método da descida de Fermat. ' ' '
(a - bvd)(xo + Yovd) ·(a+ bvd)(xo + Yovd) = m
7. Multiplique a igualdade do enunciado por 4, complete quadrados e
reduza 2x + 3, 2y + 3 e 2z + 3 a um mesmo denominador comum para ou, ainda,
reduzir o problema em questão ao problema anterior.
[(axo + bdyo) - (ayo + bxo)vdJ[(axo + bdyo) + (ayo + bx0 )vd] = m,
8. Se a e b são os catetos e e é a hipotenusa de um desses triângulos, então
o teorema de Pitágoras nos dá a 2+b2 = c2; por outro lado, o resultado de sorte que x1 = axo + bdyo e YI = ayo + bxo também resolvem a
da proposição 3.37 do volume 2 fornece a relação a+b-c = 2r. Use as equação do enunciado. Observe, agora, que
fórmulas da proposição 2.1 na primeira igualdade, substituindo-as, em
x~ + dy~ = (a2 + db 2 )(x5 + dy5) + 4abxoyod > x5 + dy5,
seguida, na segunda igualdade para obter v( u - v) = r; a partir daí,
mostre que mdc (v, u - v) = 1 e conclua que há 2k escolhas possíveis de sorte que (xi, Y1) =/= (xo, Yo).
para v, após o quê u estará completamente determinado. Para ver
6. Completando quadrados, conclua que a equação dada é equivalente
que os triângulos assim obtidos são dois a dois não congruentes,_veja
à equação (2x + y) 2 - 5y2 = 4. Use, agora, o resultado do problema
que
anterior, observando que x = y = 1 é uma solução da equação origi-
r)2 r2
c2 = u 2 + v2 = ( v + - + v 2 = 2v2 + - 2 + 2r, nal.
V v
com 2v1 + 2Vl
2 r2
= 2v22 + ~
r2
V2
se, e so, se, v1 = v2. 7. Imitando o argumento do problema 5, mostre que, se u, v E N são
tais que u 2 - l:!i.v 2 = 1, então a := uxo - l:!i.vyo e /3 = uyo - vxo é
9. Comece fazendo A1A2 igual a um diâmetro do círculo; em seguida,
solução inteira de x 2 - l:!i.y 2 = 4an. Agora, observe que
use (2.1) para escolher pontos Â3, ... , An tais que A1Ai e A2Ai
sejam racionais, para 3 ::; i ::; n; por fim, use o teorema de Ptolo- ax 2 + bxy + cy 2 = n =} (2ax + by) 2 - l:!i.y 2 = 4an,
meu (teorema 4.17 do volume 2) para mostrar que AiAj também é
racional. de sorte que, para gerar uma solução inteira da equação ax 2 + bxy +
cy 2 = n, é suficiente mostrar ser possível resolver, em .Z, o sistema
linear
2ax+by=a.
Seção 2.2 {
y =/3
1. Substitua d = 4k + 3, m = 4l + 3 e use o corolário 1.8. Tal tarefa, por sua vez, equivale a mostrar que 2a 1 ( a - d/3), o que
pode ser feito escrevendo
3. Imite a discussão do exemplo 2.6, observando que x = y = 1 é uma
solução da equação. a - d/3 = (uxo - l:!i.vyo) - b(uyo - vxo)
5. Para o item (a), use o resultado do lema 3.3. Para o item (b), se 17. Use o resultado da proposição 3.4.
mdc (m, n) = 1, use o resultado do item (a) para calcular ID1(mn)I-
18. Comece provando que, fixado um divisor positivo d de m, há exata-
ID3(mn)I em função de ID1(m)I - ID3(m)I e ID1(n)I - ID3(n)I. Por
mente '![; · <p( d) pares ordenados (d, n) como pede o enunciado. Em
fim, aplique indução.
seguida, o resultado do corolário 3.13.
6. Para o item (a), multiplique ambos os membros da igualdade desejada
20. Para (a), use o item (a) do problema 19. Para (b), escreva Sm(n) =
por n. Para o item (b), calcule diretamente a soma dos divisores
L7=1 (n-air e desenvolva o binômio (n-ai)m. Para a primeira parte
positivos de 2P- 1(2P - 1).
de (c), use (b); quanto à segunda parte, considere separadamente os
7. A segunda parte de (b) utiliza o item (b) do problema 10, página 48. casos n par e n ímpar e aplique a conclusão do item (a) no caso em
que n é par.
8. Mostre que s(ab) ~ s(a)b, para todos a, b EN. Para tanto, exiba, em
21. Para o item (a), escolha d de tal forma que mdc (m, n) = ~ e a tal
função dos divisores positivos de a, um conjunto de divisores positivos
que m = ~ · a; conclua, então, que mdc (a, d) = 1. Para o item
de ab cuja soma seja igual a s(a)b.
(b), use o resultado de (a) para mostrar que Lo dl (!!)k Sk(d) =
k k k . . <nd
9. Aplique a proposição 3.4. 1 + 2 + · · · + n . Para o item (c), aplique a fórmula de inversão de
Mobius ao resultado do item (b). Por fim, para os itens (d) e (e), use
10. Aplique a proposição 3.4. a fórmula do item (c).
224 Sugestões e Soluções 225
Seção 4.1 maior primo menor ou igual a p - 1, conclua que m 2: 2q. Por fim, use
a observação que antecede o enunciado deste problema para concluir
1. Use o teorema do número primo. que q :S 5 e, portanto, que p - 1 :S 6. As soluções são m = n = 2 ou
2. Use o lema 4.3 em conjunção com (4.4). m = 10, n = 7.
3. Use o lema 4.3 e o teorema 4.7. 6. Sejam n > 1 um natural satisfazendo as condições do enunciado e
p < ,/ri um número primo. Então p I n, pois, do contrário, teríamos
4. Para a primeira parte do item (a), use o fato de que, se n < p :S p 2 < n e mdc (n,p 2) = 1. Assim, n é divisível por P1, ... ,Pk, onde
2n, com p primo, então mdc (n!,p) = l; para a segunda parte, use Pl < · · · < Pk são os primos menores que ,ln. Agora, seja l EN tal
a fórmula do desenvolvimento binomial. Para o item (b) use (a), que 21 :S ,ln < 21+1 . Como, para todo inteiro k > 1, há pelo menos
juntamente com o fato de que o número de primos p tais que n < p :S dois primos entre 2k e 2k+1, temos que
2n é exatamente 1r(2n) - 1r(n). Para a segunda parte do item (d),
use o fato de que~ 2: x 213 ex+ 2 :S 5,f para x 2: 8. Para o item (d), Pl ... Pk 2: 2(22 ... 21-1 )2 = 212.
verifique os casos 2 :S n :S 8 diretamente; em seguida, prove os demais
casos por indução sobre n 2: 8. Por fim, para o item (e)i use os itens Assim,
212 :S P1 · · · Pk :S n < 221+2 ,
(c) e (d), juntamente com a desigualdade (óbvia) 1r( x) :S 2 l ~ J + 2.
de forma que l :S 2. Há, pois, três casos a considerar:
Seção 4.2 (i) l = O: nesse caso, temos 1 < n < 4, e é imediato verificar que
n = 2, 3 são soluções.
1. Pelo teorema de Chebyschev, há pelo menos um primo entre Pn e 2pn,
2. Se pé o maior primo que é menor ou igual a n, utilize o teorema de (ii) l = 1: temos que 4 :S n < 16 e 2 n, de forma que n E
1
Chebyschev para mostrar que 2p > n. { 4, 6, 8, 10, 12, 14}. Uma rápida inspeção garante que as soluções são
n = 4,6,8 ou 12.
3. Se n = 2k, escreva 1!2! ... n! = 2kk!(3!5! ... , (2k-1)!) 2 e, em seguida,
aplique o resultado do problema anterior. O caso n = 2k + 1 pode
(iii) l = 2: temos, nesse caso, que 16 :S n < 64 e 2, 3 1 n. Portanto,
ser tratado de modo análogo.
n E {18, 24, 30, 36, 42, 48, 54, 60}. Novamente uma inspeção simples
4. Se p e q denotam os maiores primos respectivamente menores ou iguais dessas possibilidades fornece as soluções: n = 18, 24 ou 30.
a m e a n, use o resultado do problema 2 para comparar as maiores
potências de p e de q em ambos os membros da equação dada.
3. Use congruências para calcular o resto da divisão do número dado 15. Use módulo 3 para mostrar que zé par, digamos z = 2t; em seguida,
por 4. Em seguida, aplique o resultado da proposição 5.9. fatore 52t - 4Y e argumente como no exemplo 5.11.
4. Para k E Z+, mostre que 74 k = 1 (mod 10), 74 k+l = 7 (mod 10), 16. Se y = 1, entãop = 2 ex= l; se y > 1, escrevapx = (y+l)(y 2-y+l)
74k+2 = -1 (mod 10) e 74 k+ 3 = 3 (mod 10); em seguida, calcule o e mostre que, se d= mdc (y + 1, y2 - y + 1), então d= 1 ou 3. Por
resto da divisão de 310 por 4. fim, considere separadamente os casos d = 1 e d = 3.
5. Se todos os divisores primos de n fossem congruentes a 1, módulo 17. Escreva a = 2ka e b = 21/3, com k, l ?: 1 e a, f3 ímpares. Mostre, a
4, use as propriedades elementares de congruências para concluir que partir daí, que kb = la e ab + /3ª = 2c-kb, e use módulo 4 para concluir
deveríamos ter n = 1 (mod 4). que a = /3 = 1 e .; = i·
Por fim, analisando a função f(x) = ,fx,
mostre que, se k, l ?: 4, então k = l.
6. A primeira igualdade nos dá 232 + 228 · 54 = O(mod641); a segunda,
228 . 54 = (-1) 4 (mod641). 18. Inicialmente, mostre que basta considerar o caso b = an. Para tal
7. Suponha que a representação decimal de n tenha k + 1 algarismos e caso, faça indução sobre n ?: O, utilizando congruência módulo a no
seja m o natural formado pelos k primeiros algarismos qe n. Mostre passo de indução.
que a condição do enunciado equivale à igualdade 6 · lOk + m = 19. Comece analisando a equação, módulo 3, para concluir que b é par.
4(10m + 6) ou, ainda, 3 · lOk = 13m + 12; a partir daí, conclua que Em seguida, faça b = 2c e conclua que 2c+l = 15ª + 1 ou 2c+1 =
basta encontrar os naturais k tais que lOk = 4(mod 13).
3ª + 5ª. Faça d = e + 1 e, no primeiro caso, use módulo 3 para
8. Comece observando que 2n + 3n = O(mod 7) se, e só se, 5n + 9n = concluir que d é par e, em seguida, que 2d/ 2 - 1 = 3ª e 2d/ 2 + 1 = 5ª.
O(mod 7), o que, por sua vez, equivale a (-lr + 2n = O(mod 7). Em No segundo caso, use módulo 4 para concluir que a é ímpar, de sorte
seguida, calcule as possíveis congruências de 2n, módulo 7. que, se e - 2 > O, temos
10. Use congruências para mostrar que os restos das divisões dos números 2c-2 = 3a-l - 3a-2. 5 + ... + 5a-l = a (mod2);
de Fibonacci por 5 formam uma sequência periódica.
conclua, pois, que e - 2 = O.
11. Use congruência módulo 3 para mostrar que p ou q deve ser múltiplo
de 3 e, daí, igual a 3; em seguida, supondo q = 3, escrevap2 +9p+9 = 20. Utilizando o fato de que 1992 = 24 · 83, mostre que o resto da divisão
n 2 e resolva tal igualdade para p. de 101992 por 1083 + 7 é 724 . Em seguida, se q E N é tal que 101992 =
(1083 + 7)q + 724 , use congruências módulo 10 para calcular o último
Aplique o item (e) da Proposição 5.9.
algarismo de q.
13. Use módulo 3 para concluir quem é par. Em seguida, fatore k 2 - 2m
e argumente como no exemplo 5.11.
14. Se n?: 5, conclua que mP = 3 (mod 10) e, daí, que p > 2. Em seguida, Seção 5.2
use módulo 3 para concluir que 3 1 m e, portanto, que 27 1 mP. Por
fim, use módulo 27 para concluir que não há soluções quando n?: 9. 1. Use o pequeno teorema de Fermat com p = 7.
228 Sugestões e Soluções 229
2. Considere, inicialmente, os casos p = 2, 3, 5. Se pi- 2, 3, 5, escreva a conclua, a partir daí, que devemos ter 5m-n 1 (mod 2k). Use,
diferença acima como então, o teorema de Euler.
(a· 108P - 108 ) + 2(a · 107P - 107 ) + · · · + 9(a - 1), 9. Com a ajuda do teorema de Euler, prove primeiro que, se l for ímpar,
então mdc (2'P(l)m - 3, l) = 1, para todo m EN; em seguida, escolha
onde a= 11 ... l; em seguida, aplique o pequeno teorema de Fermat
'-v-' kI, ... , kn indutivamente.
p
para concluir que a= 1 (modp) e para analisar o resto da divisão de 10. Use a fórmula de inversão de Mõbius para obter an = I:o<dln µ(d)2~.
cada parcela da soma acima por p. Em seguida, use o teorema de Euler para mostrar que, se p é primo e
3. Mostre que, módulo 2n+ 1, o j-ésimo termo da sequência vai para a
pª é a maior potência de p que divide n, então pª 1 ªn· Para tal fim,
escreva n = pªk, com mdc (k,p) = 1, e, a partir daí,
posição 2k j após k 2:: 1 operações; em seguida, use o pequeno teorema,
de Fermat. an = L µ(d)2p:k = L µ(d)2p:k + L µ(pd)2p:dk
O<dJpªk O<djk O<djk
4. Inicialmente, use módulo 11 para concluir que não há soluções tais
que x = O(mod 11); se x -;;j. O(mod 11), use o pequeno teorema de L µ(d)2I!:f - L µ(d)2Pª:lk
Fermat para concluir que 11 divide x 5 + 1 ou x 5 - 1 e, daí, que O<djk O<dlk
y 2 = -5 ou -3 (mod 11). Por fim, mostre que tais congruências não
têm soluções.
I: µ(d) { ( 2p°':lk) p - 2p°':lk}
O<djk
13. Para o item (e), você precisará utilizar o resultado do exemplo 3.14. Para a recíproca, utilize novamente o teorema de Bézout, juntamente
Para o item (h), mostre primeiro que qn = 2n- 1q1 + (2n-l - 1), para com 8.1).
todo inteiro n 2: 1; em seguida, use o pequeno teorema de Fermat
3. Se x denota o número de soldados, mostre que x satisfaz um sistema
para mostrar que, se q1 for um primo ímpar, então é possível escolher
de congruências lineares com duas equações. Em seguida, utilize a
n 2: 2 tal que q1 1 qn.
prova do teorema 5.27 para mostrar que x = 7·12·12+5·1·13 (mod 12·
13) e, portanto, que x = 132q + 17, para algum q E Z. Por fim, utilize
a condição 600 < x < 700 para concluir que x = 677.
Seção 5.3 4. Para o item (a), comece observando que, se u, v for uma solução da
1. Provemos os dois itens simultaneamente. Se x é um inteiro tal que equação Diofantina linear em questão e x = m 1u + a 1 = m 2v + a 2,
ax = b (mod n), então temos ax = nq+b, para algum q E Z. Portanto, então x resolve (5.7) para k = 2.
b = xa + (-q)n, uma combinação linear de a e n, e segue do teorema
5. Use o teorema de Euler 5.19.
de Bézout que mdc (a, n) b. Suponha, pois, que mdc (a, n) = d e
1
!
n n
xo + dt1 =xo + dt2 (mod n) {::} t1 =t2 (mod d), x = a1 (modpf 1)
9. Se a é o primeiro termo e r a razão da PA, as hipóteses do problema temos e2(n) :S: n - 1 e, daí, 2e 2 (n) 1 S. Seja, agora, 2 < p :S: n primo
equivalem à existência de x, y E N, tais que x 2 = a (mod r) e y 3 = e l o expoente da maior potência de p que divide S. Use o fato de
a (mod r); da mesma forma a tese do problema equivale à existência 2n - 2t = O(modpÍ) se, e só se, ordpJ (2) 1 (n - t), juntamente com a
de z E N, tal que z 6 = a (mod r). Faça indução completa sobre ideia da prova da fórmula de Legendre, para concluir que
r, sendo o caso r = 1 trivial; para o passo de indução, considere
separadamente os casos r = pª, para algum primo p e algum a E N,
e r = st, com s, t > 1 primos entre si. No primeiro caso, se x e y são
como no início e y' é o inverso de y, módulo pª, mostre que z = xy'
satisfaz o problema. No segundo caso, sejam u e v termos das PA's 6. Mostre que ki+I = 2ki (mod2n + 1). Em seguida, para o item (a),
(a + ks) k?.O e (a + kt) k?.O, respectivamente, tais que u 6 = a (mod s) e conclua que J (n) = O se, e só se, o conjunto {1, 2, 22, 23 , ... } contiver
v6 = a (mod t); use o teorema chinês dos restos para encontrar z E N, um SCI módulo 2n + 1. Para o item (b), mostre que
tal que z 6 = a (mod st).
J (1997) = 2 · 1997 - ord2.1997+1 (2)
e calcule ord2.1997+1 (2) = 8 · 23 = 184 utilizando as igualdades 2 ·
Seção 7.1 1997 + 1 = 5 · 17 · 47, ord17(2) = 8 e ord47(2) = 23.
2. Por contradição, se 23 n =
-1 (mod 17), então 22·3n =
1 (mod 17); use
a congruência 2 = 1 (mod 17), para concluir que ord 17 (2) = 1 ou 2,
16
o que é uma contradição.
Seção 7.2 6. Para (a) =} (b), escreva n = Pl .. ·Pk, com p 1 < · · · < Pk números
primos tais que (Pi - 1) 1 ( n - 1); em seguida, use o pequeno teorema
1. Mostre que 214 = -1 (mod 29) e, a partir daí, conclua que ord29(2) = de Fermat para concluir que an = a (modpi), para todo 1 ::::; i ::::; k.
28. Para (b) =} (a), tome um divisor primo p de n e faça o inteiro a
igual a uma RP módulo p 2 para obter uma contradição se p 2 1 n; em
2. Considere separadamente os casos n = 2, 4, pk e 2pk, com p primo
seguida, faça o inteiro a igual a uma raiz primitiva módulo p, para
ímpar e k EN. concluir que (p ~ 1) 1 (n - 1).
3. Se a é uma raiz primitiva módulo n, observe que os números ai são
7. Para o item (a), observe que
congruentes, em alguma ordem, aos números a, a 2 , ... , a'P(n), de sorte
pq-1 p-1 pq-1 p-1 p-1
que
a1a2 ... ª<p(n) =a
<p(n)(<p(n)+l)
2 (mod n).
I: I:(pj + zr- 1 = I: z:=zn-l =pq. z:= zn-l =o(modp).
j=O l=O j=O l=O l=O
<p(n)(<p(n)+l)
Se n = 2 ou 4, mostre diretamente que a 2 = -1 (mod n); Para o item (b), use (a) para concluir que, se n = p 2 q, com p primo e q
se n = pk ou 2pk, onde k E N e p é um primo ímpar, use o fato de
<p(n) natural, então Sn = 1 (modp). O item i. é um cálculo análogo àquele
que ordn(a) = r.p(n) para concluir que a-2- cuidàdo: = -1 (mod n) - indicado na sugestão de (a). O item ii. segue imediatamente de i.,
n I <p(n) )( <p(n) ) - lº
( a-2- + 1 a-2- - 1 nao necessariamente 1mp 1ca
dº
iret ament e
• • ,
juntamente com o fato de que, módulo Pi, temos { a, a 2 , •.. , aPi-1} =
<p(n) <p(n)
que n 1 (a_2_ + 1) ou n 1 (a_2_ - 1). {1, 2, ... ,Pi - 1}. Para iii., se n I sn, então Sn = O(modPi)- Mas,
4. Se a3pq-l =1 (mod 3pq), então a 3pq-l =1 (mod p); em particular,
como Pi 1 (aPi(n-l) - an- 1), a fórmula em ii. garante que a única
maneira de Sn = O(modpi) é que Pi 1 (an-l - 1). Então, Pi - 1 =
sendo a uma RP módulo p, devemos ter (p - 1) 1 (3pq - 1) e, analoga-
ordPi(a) 1 (n - 1) e, daí, (Pi - 1) 1 (qi - l)(uma vez que n - 1 =
mente, (q - 1) 1 (3pq - 1). Conclua, a partir daí, que (p - 1) 1 (3q - 1)
(Pi - l)qi + (qi - 1)). Para iv., se n I sn, então Pi I Sn, e segue dei. e
e (q -1) 1 (3p-1), de modo que p = 11 e q = 17, ou vice-versa. Por
iii. (especificamente, de (Pi - 1) 1 ( n - 1)) que, módulo Pi,
fim, mostre que a 3 · 11 · 17 - 1 = 1 (mod 3 · 11 · 17), para todo natural a
primo com 3 · 11 · 17. Para mostrar que p = 11 e q = 17 se p::::; q, p;-1 p;-1
pode-se argumentar da seguinte maneira: como p::::; q, temos O= Sn = 1 + qi L zn-l = 1 + qi L 1 = 1 + qi(Pi - 1);
l=l l=l
3p - 1 3q - 1 2 2
,--<--=3+--<3+-, portanto, qi(Pi - 1) = -1 = Pi - 1 (modpi), de sorte que qi =
q-l - q - l q-l- 4
1 (modpi)· Por fim, em relação ao item v., é suficiente mostrar
de sorte que 3:__::-f = 1, 2 ou 3; analisando cada caso separadamente, que, se Pi(Pi - 1) 1 (qi - 1) para 1 ::::; i ::::; t, então Pi I sn, para
, 3q-1 9q-3 ,
concluímos que 3p - 1 = 2( q - 1) e, d a1, p-l = 2q_ 4 , um numero 1 ::::; i ::::; t; para tanto, basta utilizar a congruência do item i., junta-
maior que 4 e menor que 8; assim, ~~=i = 5, 6 ou 7, o que fornece mente com o fato (facilmente dedutível a partir de nossas hipóteses)
q = 17 como única possibilidade viável. de que (Pi - 1) 1 ( n - 1).
5. Para o item (d), considere separadamente os casos ordp(x) 1, 2, 8. Para o item (a), se mdc (ak + 1, n) > 1, então n 1 (ak + 1) e, daí,
P21 ou p - 1 - aqui usamos que (p - 1)/2 também é primo. a2k = 1 (mod n), o que contradiz o fato de ordn(a) = 2pk. Para
236
Sugestões e Soluções 237
3. Comece multiplicando a igualdade do enunciado por 4a e completando 10. Se x 2 = a (mod n) para um certo inteiro x, então x 2 = a (mod 2k) e
quadrados. x 2 = a (mod p7;), para 1 :S i :S t; basta, pois, aplicar os resultados do
problema anterior, juntamente com o critério de Euler. Reciproca-
4. Mostre inicialmente que , se existirem tais x e y , enta-0 eles sao
- pnmos
·
mente, uma vez satisfeitas as condições (i) e (ii), aplique novamente
com 122. Use, então, o resultado do problema anterior para con-
os resultados do problema anterior, juntamente com o critério de Eu-
cluir que 17 é resíduo quadrático módulo 61. Por fim, aplique a lei
ler, para garantir a existência de inteiros xo, x 1 , ... , Xt tais que
238 Sugestões e Soluções 239
x5 =a (mod 2k) e x; =a (mod P7i), para 1 ::=:; i ::=:; t; por fim, aplique Seção 7.4
o teorema chinês dos restos para obter, a partir dos x/s, um inteiro
x que satisfaça todas essas congruências simultaneamente. 1. Com o auxílio da proposição 5.9 mostre que, se existissem inteiros k,
l, x, y e z como no enunciado, com l 2:: 1, então x, y e z seriam todos
11. Numere as crianças no sentido horário e de maneira contínua de
' 1, pares.
forma que o professor encontre a primeira criança nas posições 1, n+
2n + 1, 3n + 1, ... , e analogamente para as demais crianças. Mostre 2. Suponha, por contradição, que a+ b é par. Então, a+ c2 = a2 - b2 =
que o professor entregará doces às crianças nas posições k(\+ 1 ), para O(mod4), de sorte que a=
-c2 (mod4). Conclua, a partir daí, que
k E N, de sorte que basta encontrarmos os valores de n tais que a(a - 1) tem um fator primo congruente a 3 módulo 4 que aparece
,
a congruencia. x(x+l)
- 2- = a ( mo d n ) ten h a soluçao,
_ para todo inteiro
com expoente ímpar em sua decomposição canônica.
1 :S a :S n. Em seguida, observe que, se tal congruência tem solução,
então o mesmo sucede com a congruência (2x + 1) 2 = 8a+ 1 (mod n), 3. Observe que 1995 = 3 · 5 · 7 · 19, com 3, 7, 19 = 3 (mod4). Por
e use o problema 10 para mostrar que n tem de ser uma potência de outro lado, se d é um divisor positivo de 1995 (o caso d < O pode
2. ser tratado de forma totalmente análoga), analise separadamente as
quatro possibilidades a seguir: d= 1, d= 5, 1 < d 1 (3·7·19) e d= 5d',
12. Para ::::}, use o pequeno teorema de Fermat. Para ~, sejam a uma onde 1 < d' < (3 · 7 · 19), de acordo com os seguintes exemplos: (i) se
raiz primitiva, módulo p, e j E N tal que JJ = -1 ( mod Pd 1 ); em d= 5, então x 2 + y 2 = 5(x - y) se, e só se, (2x - 5) 2 + (2y + 5) 2 = 50,
seguida, tome k E N tal que ak = aJ (modp) e mostre que k Id e de forma que 2x - 5 = ±1, ±7; (ii) se 1 < d 1 (3 · 7 · 19), então,
xo = ak/d resolve a congruência xn = a(modp). como x 2 + y 2 = O(mod d), o argumento esboçado no passo (ii) da
demonstração do teorema 7.32 garante que d I x e d I y; pondo
13. Os itens de (a) a (d) utilizam somente manipulações algébricas sim- x = da e y = db, obtemos a2 + b2 = a - b, a qual equivale à primeira
ples e propriedades elementares de congruências. Para a primeira das quatro possibilidades acima.
parte do item (e), use o teorema de Wilson, juntamente com o cri-
tério de Euler; para a segunda parte, suponha, por contradição, que 4. O exemplo 1.39 garante a existência de infinitos primos da forma 4k+
ri= rj (modp) e use o fato de que p f (j2-i 2 ). Para a segunda parte 3; escolha, então, n primos q1, ... , qn, todos congruentes a 3 módulo 4,
do item (f), conclua que e aplique o teorema chinês dos restos, juntamente com o teorema 7.32,
p-1 p-1
ao sistema de congruências lineares x = -i .+ qi (modq;), para 1 <
-2- -2-
i ::=:; n.
L rj =Li= O(modp),
j=l j=l 5. Para o item (d), use a identidade (7.9).
onde, na última congruência, utilizamos o fato de que p 2:: 5. 6. Para o item (a), suponha que n tem um divisor ímpar d> 1. Então,
como (2d - 1) 1 (2n - 1), temos que (2d - 1) 1 (m 2 + 9), o qual
é uma soma de dois quadrados perfeitos. Contudo, como 2d - 1 é
da forma 4k - 1, ele deve ter algum divisor primo p dessa forma.
Segue, agora, da discussão da teoria desta seção que p I m e p 1 3,
"",@
241
242 Referências
Glossário
243
244 Glossário
245
246 ÍNDICE REMISSIVO ÍNDICE REMISSIVO 247
por 9, critério de, 10, 122 160, 207 Hadamard de Gauss, 192
propriedades elementares da, Evento, 106 Jacques, 92 Liouville
3 teorema de, 92 Joseph, 86
relação de, 1 Fórmula teorema de, 86
de inversão de Mobius, 79 Identidade
Divisor
de Euler, 204 Mobius
comum, 13 de Legendre, 45
Inteiro fórmula de inversão de, 79
comum, máximo, 13 para cp(n), 82
divisível por outro, 2 função de, 77
de um inteiro, 2 Fermat
divisor de um, 2 Máximo divisor comum, 13
positivo, 2 descida de, 55
livre de quadrados, 47 Múltiplo
equação de, 56
múltiplo de um, 2 comum, mínimo, 28
Eisenstein grande teorema de, 56
mais próximo, 12 de um inteiro, 2
Ferdinand, 196 número de, 13
Inteiros Mínimo múltiplo comum, 28
Equação pequeno teorema de, 134
congruentes, 118 mmc, 28
de Fermat, 56 Pierre Simon de,. 52
primos entre si, 13
de Pítágoras, 51 teorema de, 202, 204
relativamente primos, 13 Número
de Pell, 63 Fração irredutível, 17
Inverso ímpar, 2
Diofantina, 22 Função
multiplicativo, 164 abundante, 86
diofantina linear, 23 cp de Euler, 81
Inverso módulo n, 145 composto, 35
Eratóstenes aritmética, 73
de Fermat, 13
crivo de, 37 aritmética multiplicativa, 73 Lagrange
par, 2
de Cirene, 38 de Euler, fórmula para a, 82 Joseph L., 207
perfeito, 85
teorema de, 36 de Euler, multiplicatividade da, teorema de, 207
primo, 35
Espaço amostral, 105 82 Lamé
primo, teorema do, 92
Euclides de Mobius, 77 teorema de, 35
algoritmo de, 24 número de divisores positivos, Lamé, Gabriel, 35 Ordem módulo n, 170
lema de, 36 74 Legendre
teorema de, 37 soma de divisores positivos, 76 Adrien-Marie, 45 Parte fracionária, 64
Euler fórmula de, 45 Parte inteira, 5
critério de, 189 Gauss símbolo de, 190 Pell
função cp de, 81 lei da reciprocidade quadrática Lema equação de, 63
identidade de, 204 de, 196 de Dirichlet, 64 John, 63
teorema de, 62, 82, 85, 96, 136, lema de, 192 de Euclides, 36 Pitágoras
248 ÍNDICE REMISSIVO