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O PREÇO DA VERDADE E DA MENTIRA NO MAGIC

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Leonardo Molinari é nerd, adora magic (livros e cartas), consultor de
QA/Testes, autor de vários livros técnicos, palestrante, e autor do romance
“Comportamento Aleatório” publicado pela Alta Books em fev/2021 que é
um suspense que mistura mundo o nerd (quadrinhos, lojas, magic, super-
heróis, e mais) com mundo de TI.

Olá pessoal, é meu primeiro artigo aqui e gosto de contar histórias por
onde passo. Alguns gostam de contar histórias com verdades, outros com
mentiras. Mas se essas mesmas histórias fossem sobre algo que aconteceu
no seu jogo? Que lições tiramos delas? Vou contar duas delas.
Estava na POINTHQ de Ipanema, que hoje não existe mais, e iria iniciar
a segunda rodada de um belo FNM. Sabe aquela coisa onde você é educado,
e onde se segue as formalidades iniciais do jogo mas que as vezes você
“sente” que tem algo errado .
Sempre acreditei que, mesmo na época sendo um jogado fraco
(admitido!), sempre joguei por prazer de amar o jogo e não pelo preço da
vitória a qualquer custo. Jogo porque gosto e acredito nisso, mas claro que
gosto de ganhar (e quem não gosta!) e fazer amigos.
Era a segunda rodada, e na primeira havia empatado. Logo no inicio do
primeiro game tentei ser educado com meu oponente, falando coisas do tipo
“nunca vi você por aqui” e por ai vai. Logo de cara tomei uma resposta
grosseira que foi mais ou menos assim: “sou profissional e comigo magic se
joga calado. Se vai ficar falando e me distraindo jogue logo !#$#!!!”.
Assustei-me, pois foi ele foi grosseiro ao extremo. Não discuti e tentei
apenas argumentar, mas recebi outra resposta grosseira e optei por me calar
e somente falar o essencial, e mesmo assim o “indivíduo” continuou me
metralhando com coisas do tipo “anda logo”, “não sabe jogar idiota”, “não
viu não Zé Mané”. Optei por entregar o jogo no primeiro game e concedi no
segundo. Perdi o prazer de jogar aquela partida. Isso não é jogar, era tortura.
É pecado querer ser educado? É pecado querer ser honesto? Afinal estava
num FNM cujo foco é aprender a jogar e fazer novos amigos. Ganhando ou
perdendo tentava me divertir, mas observei que meu oponente não tentava
isso. Tentei não mentir para comigo mesmo. Às vezes dizer “não” para algo
é uma vitoria.
A ironia é que meu oponente que havia empatado a primeira rodada
acabou perdendo na terceira e optou por desistir antes da quarta rodada. Saiu
reclamando e maldizendo de tudo: loja, jogadores, organização, mesa,
banheiro e muito mais. Ele saiu infeliz. Porque seria?
Mesmo na 4a rodada onde finalmente ganhei sai feliz, não por ter
ganhado, mas porque estava com amigos e jogando feliz. Felicidade atrai
felicidade. Infelicidade atrai infelicidade conclui. O mais importante é que
não menti para eu mesmo.
Agora em outro tempo mais adiante, já estava na BOLSA DO INFINITO
e já havia ganho um FNM lá (coisa rara), e na época, como hoje, me
considero um jogador mediano com muita coisa a melhorar.
Estava lá na Bolsa tendo um FNM não muito bom, e acabei nesse dia
ganhando duas e perdendo duas. Nesse dia fui jogar na segunda rodada com
Tiago “Segundo Sol”, jogador excelente que estava de controle e eu de
Midrange. O meu baralho estava com alguns problemas que não tive tempo
de analisar, mas resolvi jogar mesmo assim pela diversão. E tudo foi ótimo.
Nesse meu jogo, logo no início resolvi fazer algo que nunca fiz, mas que
já vi outros jogadores fazerem: mentir para meu oponente, ou melhor, blefar,
não para tentar ganhar mas para alongar o jogo. Tentei blefar e consegui.
Quando percebi que em 4 a 5 rodadas iria perder, fiz umas caras e bocas
de felicidade e de surpresa para “ludibriar mentalmente meu oponente” (falei
bonito. Ah! Ah! Ah! Ah!). Ele jogava de forma fria e calculada, mas quando
viu minhas e bocas ele “paralisou” e travou com seu próprio jogo, passando
a jogar de uma forma insegura. Claro que eu era educado e conversava com
ele sempre, mas dessa vez fiquei mais calado e mais sério. Percebi que ele
ficou inseguro de forma clara. Perdi o primeiro game. Claro que meu
“teatro” incluiu ate gestos sutis que indicavam que minha mão ou meu jogo
estavam ótimos.
Fomos para o segundo game, mas o baralho dele era superior ao meu
naquele jogo, mas ele continuou inseguro e acabou fazendo algumas jogadas
erradas que poderia ter dado a vitória mais rápida a ele. Ele ganhou por dois
a zero. Mas fiquei feliz. Porque?
Ao recolher o playmat contei-lhe o que fiz e dei muita risada e ele
também. Ele me contou que consegui entrar em sua “mente” de uma forma
diferente, mas que no fim aprendemos juntos. Foi muito legal.
Qual a lição? Mentira e verdade convivem lado a lado e temos de tomar
cuidado para não magoar as pessoas. Eu blefei e acabei aprendendo. Eu não
menti e também aprendi. O mais importante é que fui eu mesmo procurando
uma coisa simples: felicidade através do magic sem magoar ninguém.
Ganhar não é humilhar seu oponente. Perder não é desqualificar o seu
oponente e nem mentir. Na vitória e na derrota aprendemos.
Conto algumas outras historias no meu romance, Comportamento
Aleatório. Quem leu gostou e tem na Amazon. Ate breve.
Obrigado galera e “vamo” que “vamo”.

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