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Unidade 3 - Ficha de Compreensao Da Leitura 1
Unidade 3 - Ficha de Compreensao Da Leitura 1
Apreciação crítica
[…] [H]á dois princípios no mundo: o espiritualista, que marcha sem atender à parte material e terrena
desta vida, com os olhos fitos em suas grandes e abstratas teorias, hirto, seco, duro, inflexível, e que
pode bem simbolizar-se pelo famoso mito do Cavaleiro da Mancha, D. Quixote; o materialista, que, sem
fazer caso nem cabedal destas teorias, em que não crê e cujas impossíveis aplicações declara todas
utopias, pode bem representar-se pela rotunda e anafada presença do nosso amigo velho, Sancho
Pança.
QUIXOTE 400
Quatro séculos após a publicação do segundo volume de Dom Quixote de la Mancha, recordamos os
episódios mais marcantes da obra e do seu autor, sem nunca esquecer a história que marcou, e continua a
marcar, a da literatura.
Montado na égua Rocinante — esquelética como o dono —, Dom Quixote de la Mancha chega a um
5 campo de moinhos de vento e confunde-os com gigantes. Este é um dos momentos em que nos damos
conta da loucura do cavaleiro fidalgo: de tanto ler romances de cavalaria, Dom Quixote mistura fantasia com
realidade. É também uma das muitas aventuras descritas em Dom Quixote de la Mancha, cujo primeiro
volume foi lançado por Miguel de Cervantes em 1605 mas que não seria o mesmo sem a segunda parte,
publicada em 1615, faz agora 400 anos.
10 «A chave da modernidade de Quixote reside na liberdade que Cervantes se outorgou como narrador
e que nenhum outro tinha podido sequer imaginar antes. Até então, tudo eram convicções literárias e
regras a cumprir para escrever, fosse um livro de pastores, de cavalarias ou uma história sentimental.
Cervantes fez o que lhe apeteceu e, por isso, pode começar com um “cujo nome não quero lembrar-me”. E
esse “não quero, não me apetece” é um ato decisivo que se multiplica nesse maravilhoso quebra-cabeças
15 de jogos entre ficção e realidade que é a segunda parte, de 1615», esclarece Luis Gómez Canseco, professor
catedrático de Literatura e escritor de El Quijote, de Miguel de Cervantes, uma análise à obra, considerada o
primeiro romance moderno da História e um dos trabalhos mais marcantes da literatura mundial.
A história da História
A história de Dom Quixote de la Mancha permanece viva, tanto nas aventuras contadas como no
20 Caminho de Dom Quixote, que se prolonga por mais de 2000 quilómetros em 148 cidades, numa viagem
(distinguida como Itinerário Cultural Europeu pelo Conselho da Europa, em 2007) que liga todos os pontos
mais importantes que Cervantes refere nos 126 capítulos do livro. É ainda um dos livros mais vendidos do
mundo (estima-se que tenha vendido entre 500 e 600 milhões de cópias) e um dos mais traduzidos de
sempre (o segundo depois da Bíblia, de acordo com o jornal britânico The Guardian), além de, em 2002,
25 ter sido eleito pelo Clube do Livro da Noruega como a melhor obra de ficção de todos os tempos.
«Algo deve ter para que leitores de épocas e culturas distantes tenham coincidido em avaliá-lo como
um livro sem igual. Dostoiévski escreveu que “não existe obra mais profunda e consistente. É a última e
máxima palavra do pensamento humano”. E não é apenas pelo que Dostoiévski1 disse. O segredo é abrir o
livro e entrar. A quem o faça, esperam-no horas de alegria e inteligência, toda a humanidade, o entusiasmo
30 e o humor de Cervantes. Tonto quem não o leia», refere Gómez Canseco.
(1) Dostoiévski: escritor russo que viveu entre 1821 e 1881; é considerado um dos autores mais importantes da história
da literatura; escreveu obras como Crime e castigo (1866) e Os irmãos Karamazov (1881).
1. Para responder a cada um dos itens, de 1.1 a 1.8, selecione a opção correta. Escreva, na folha de
respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.