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UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO

CAMPUS RIBEIRÃO PRETO

FACULDADE DE DIREITO “LAUDO DE CAMARGO”


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
NÚCLEO DE ENSINO PRÁTICO - NEP

2ª RESENHA

CÓDIGO DO ALUNO
837063

ATIVIDADES COMPLEMENTARES II

NOME DO LIVRO: Bola de Sebo – Guy de Maupassant

NÚMERO DO LIVRO: 317

NOME DO ALUNO: Filipe Pereira Mauricio

ETAPA: Etapa 1

SALA: Turma A PERÍODO: Matutino

2° SEMESTRE / 2021
1. Referências bibliográficas:
MAUPASSANT, Guy De. Bola de Sebo.
Disponível em: https://clubesocialdasbanalidades.files.wordpress.com/2011/12/002-bola-de-sebo-
guy-de-maupassant.pdf . Acesso em: 05/10/2021.
2. Referências biográficas:
Henri René Albert Guy de Maupassant ou simplesmente Guy de Maupassant foi um
escritor e poeta francês da segunda metade do século XIX, conhecido pelos seus inúmeros contos,
alguns dando ênfase no carater psicológico das personagens, outros na conjuntura da sociedade
pós-revolução francesa, além de alguns curtos contos irônicos e com tons de anedota. É
considerado mestre e percursor da escola literária realista-naturalista e um dos maiores contistas
que já existiu.
Nascido em 1850, Guy de Maupassant e sua mãe, abandonada pelo marido, eram
habitantes do campo francês até que na década de 1870 o jovem muda-se para Paris e se alista
como voluntário na Guerra Franco-Prussiana, a qual tem grande relação com suas obras,
principalmente um de seus mais notórios contos: Bola de Sebo. Em Paris, após a guerra, fica
trabalhando durante dez anos como funcionário do Departamento da Marinha. Sua produção
literária se concentra entre 1875 a 1885, começando em 1878, quando começou a trabalhar como
editor de vários jornais populares franceses.
Guy de Maupassant era amigo do grande romancista Gustav Flaubert, que o tomou como
pupilo, inserindo-o no mundo literário. Por causa de Flaubert, Guy de Maupassant conheceu
diversos outros escritores célebres de seu tempo, como Émile Zola, Ivan Turguêniev, Alexandre
Dumas, entre outros.
Sua obra ganhou popularidade e fama enquanto ele ainda era vivo, proporcionando-o fama
e riqueza, além de inúmeros casos amorosos. Era um homem que gostava da solidão e do retiro
para meditação, com aversão à sociedade, isso refletiu extensamente em sua obra. Nos últimos anos
de vida, Guy de Maupassant foi acometido por diversas paranóias e doenças psicológicas oriundas
da sífilis que adquiriu quando era mais jovem e que se expressam em seus últimos contos célebres
como “O Horla” e “É Ele”. Em 1892, tentou cometer suicídio mas fracassou. Morreu aos 42 anos
em Julho de 1893.
3. Resumo da obra:
Historicamente a narrativa se inicia em Rouen, pequena cidade do norte da França, durante
fim da Guerra Franco-Prussiana, mais especificamente no período de invasão e dominação das
terras francesas pelos gremânicos. Guy de Maupassant descreve num tom sombrio, utilizando-se
de muita ironia e sarcasmo, a situação lamentável dos soldados franceses que sobreviveram a
derrota e o fracasso de sua nação na guerra. Na cidade de Rouen habitavam alguns burgueses
abastados e aristocratas que, com a autorização do chefe prussiano que administrava a cidade
ocupada, se organizaram para realizar uma viagem de Rouen até Havre, cidade litorânea que
possibilitaria a fuga para a Inglaterra caso a situação na França piorasse.Junto aos burgueses, que
totalizavam quatro – dois homens e suas respectivas esposas – juntaram-se também duas freiras,
um republicano democrata revolucionário chamado Cornudet, o Conde e a Condessa Hubert de
Brévile e uma mulher “corpulenta e solicitada” chamada Elisabeth Rousset apelidada de Bola de
Sebo devido ao seu tamanho e a sua má reputação social e fama de rameira, isto é, de prostituta, na
cidade. Os dez entraram todos em uma mesma carroça e foram em direção à Havre.
A viagem corria como prevista até começar a nevar de forma intensa, atrasando
significamente a chegada até a primeira parada na cidade de Totes. Todos que estavam no carro,
pensando que a viagem até a parada iria ser curta, não levaram suprimentos para caso sentissem
sede ou fome, com exceção de Bola de Sebo, que levou uma grande cesta com vinho, frango assado
e alimentos em conserva, tudo em abundância. Em um primeiro momento, ao verem a cesta de
suprimentos de Bola de Sebo, os casais da alta sociedade, pessoas que se consideravam “religiosas
e de princípios”, apesar de passarem fome, não quiseram pedir comida a Bola de Sebo, visto que
se sentiam diminuídos por dependerem da comida de uma mulher tão “torpe e sem valor” como
ela. Um tempo se passa e a fome vence a soberba, de forma que todo os passageiros pedem um
pouco da comida que Bola de Sebo humildemente oferece.
Segue-se o percurso e finalmente chega-se a Totes. A carroça para na porta de um albergue
e os passageiros começam a descer. Ali deveriam ficar hospedados por apenas uma noite e no dia
seguinte partir novamente para Havre. Entretanto, o general prussiano, que administrava Totes e
estava hospedado no mesmo albergue que os passageiros, exigia, para que a carroça pudesse partir,
que Bola de Sebo dormisse com ele. Essa condição foi inicialmente passada a ela sigilosamente,
sem que o restante dos passageiros soubessem. Apesar da má reputação que lhe imputavam, Bola
de Sebo possuia seus princípios e valores e se recusava a dormir com um inimigo, alguém matou
cidadãos de seu país.
Com o passar das noites, os outros passageiros começaram a se questionar da demora, até
que Bola de Sebo explica o motivo do atraso. Logo que souberam da condição, ficaram
enraivescidos e indignados com o posicionamento de Bola de Sebo, afinal ela era uma prostituta,
que diferença fazia para alguém que dormiu com tantos homens na vida, uma depravada como ela,
fazer isso novamente para que o restante se beneficiasse? Para os burgueses ela deveria satisfazer
a condição, pois “para ela aquilo tinha tão pouca importância”. A partir do conhecimento da
situação, os burgueses e o casal aristocrata começaram a elaborar planos para convencer Bola de
Sebo a dormir com o general prussiano. Em um jantar, os passageiros começaram a elucidar casos
históricos de personagens femininas que salvaram outras pessoas e até mesmo acabaram com
grandes impérios e guerras utilizando do artífice da sensualidade e da feminilidade como arma de
guerra e de persuasão em uma tentativa torpe de convencer Bola de Sebo. Usam como cartada final
a palavra das duas freiras, que até o momento permaneciam em silêncio. Quando questionadas
sobre a respeito do caso, dizem que quem comete qualquer pecado que seja, se este for feito
visando o bem do próximo, será perdoado e até mesmo martirizado por Deus. Ou seja, para o
restante do carro, os fins justificavam os meios.
Após todo o discurso dos outros passageiros, Bola de Sebo se deita com o general e na
manhã seguinte todos entram na diligência para partir de Totes à Havre. Bola de Sebo, apesar de
ter se sacrificado e ido contra toda sua moral, no carro é tratada com desprezo e nojo pelos
outros, como se fosse contaminada por pudor e torpeza. Devido à péssima noite anterior, Bola de
Sebo se esqueceu de levar suprimentos, enquanto os outros, no momento em que ela, contra sua
vontade, se deitava com o general, os passageiros comemoravam e festejavam sem maiores
preucupações, restando tempo para arrumarem suprimentos para o restante da viagem. Ao sentir
fome, Bola de Sebo nota que se esqueceu de levar alimentos, enquanto o resto da diligência toda
já estava comendo. Entretanto, ao contrário dela na viagem até Totes, ninguém a ofereceu nada.
Para o restante da diligência, a atitude de Bola de Sebo não foi um sacrifício ou algo digno de
heroísmo,e sim mera obrigação.

4. Apreciação crítica da obra:


O conto é exemplo perfeito do que foi o movimento realista-naturalista, contendo todos
os elementos estéticos típicos dessa escola literária. O autor faz duras críticas à burguesia
representada pelos dois burgueses e suas esposas, à aristocracia representada pelos Conde e
Condessa Hubert de Brévile e à própria Igreja representada pelas freiras e também até mesmo a
falsa aparencia de justiça e igualdade da república democrática instaurada pós-revolução, visto que,
Cordunet que representa esse ideário, por mais que não desrespeite Bola de Sebo, não se move para
ajudá-la em nenhum sentido.
Guy de Maupassant mostra e deixa latente ao leitor a hipocrisia e decadência moral da
sociedade pós-revolução, evidenciando toda a soberba da burguesia recém ascendida ao topo da
sociedade, que quer ser mais por ter mais; o ressentimento da aristocracia que perdeu destaque e
importância política pelo surgimento dessa nova classe social e o falso moralismo e corrupção ética
do clero que compõe a Igreja.
O grupo, apesar de depender duas vezes de Bola de Sebo para sua salvação, não sente
nenhum apreço e nem demonstra gratidão pelo ato heróico da personagem, pois enxergam-na como
uma pessoa baixa, sem valores e que não merece a atenção e o reconhecimento de seus feitos pela
alta classe moralizada e respeitosa da qual fazem parte o restante dos passageiros. Na passagem
final do conto, todos os membros da diligência, do alto de sua pureza moral, não se rebaixam nem
para olhar para Bola de Sebo, rechaçando-a como uma qualquer, novamente mostrando como a
falsa moralidade e a hipocrisia reinam na sociedade do século XIX, caracterizada pela ascenção
social da burguesia, porém desacomapanhada de valores morais e éticos.
É impossível ler esse conto e não se lembrar imediatamente da canção “Geni e o
Zepelim” de Chico Buarque, na qual praticamente a mesma situação é narrada: a sociedade
depende do sacrifício de um indivíduo considerado por ela sem valor moral e completamente
indigno. Tanto no conto quanto na canção, o herói é uma prostituta que realiza o sacrifício
necessário, negando todas as suas convicções e princípios morais para salvar a sociedade que, após
o ato, volta a condená-la.
É um ótimo conto para introduzir o leitor a grande escola literária realista naturalista,
pois é uma narrativa bem clara e objetiva, curta e fácil de identificar as críticas feitas e os elementos
fundamentais que estruturam uma narrativa tipicamente realista do século XIX, além de tratar de
um tema universal humano presente na sociedade independente de espaço ou tempo: a soberba e a
hipocrisia.

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