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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO PLANALTO DE ARAXÁ

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

ANA MARIA RIBEIRO NUNES RODRIGUES

LEVANTAMENTO DOS FATORES ASSOCIADOS AOS ATROPELAMENTOS DE


AVES E MAMÍFEROS ATRAVÉS DOS REGISTROS DA POLÍCIA RODOVIÁRIA
ESTADUAL DE ARAXÁ-MG

ARAXÁ
Maio - 2012
ANA MARIA RIBEIRO NUNES RODRIGUES

LEVANTAMENTO DOS FATORES ASSOCIADOS AOS ATROPELAMENTOS DE


AVES E MAMÍFEROS ATRAVÉS DOS REGISTROS DA POLÍCIA RODOVIÁRIA
ESTADUAL DE ARAXÁ-MG

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à banca examinadora
do curso de Ciências Biológicas
do Instituto de Ciências da Saúde
do Centro Universitário do
Planalto de Araxá, como requisito
parcial para obtenção do título de
Bacharel em Ciências Biológicas.

Orientador: Prof. Dr. Carlos


Henrique de Freitas

ARAXÁ
Maio - 2012
ANA MARIA RIBEIRO NUNES RODRIGUES

LEVANTAMENTO DOS FATORES ASSOCIADOS AOS ATROPELAMENTOS DE


AVES E MAMÍFEROS ATRAVÉS DOS REGISTROS DA POLÍCIA RODOVIÁRIA
ESTADUAL DE ARAXÁ-MG

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao curso de Ciências
Biológicas do Instituto de Ciências
da Saúde do Centro Universitário
do Planalto de Araxá, como
requisito parcial para obtenção do
título de Bacharel em Ciências
Biológicas.

Orientador: Prof. Dr. Carlos


Henrique de Freitas

Araxá, ____ de ______________ de 2012.

BANCA EXAMINADORA

________________________________
Prof. Dr. Carlos Henrique de Freitas
Orientador

________________________________
Prof. Me. Jorge Otávio Mendes de Oliveira Junek
Examinador

ARAXÁ
Maio - 2012
Dedico este trabalho a todos aqueles que estiveram presentes
nesta caminhada, seja no meio físico ou em algum outro lugar.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente á minha família, principalmente aos meus pais,


que há vinte verões permanecem segurando minhas mãos, acreditando e confiando
em mim;

Ao meu orientador, Carlos Henrique de Freitas, que mais que um


professor, foi como um pai para a turma de ciências biológicas, pois sempre esteve
preocupado em oferecer os melhores conselhos e conhecimento;

A minha segunda família, a universitária, com quem compartilhei


momentos alegres, tensos e madrugadas de estudo árduo;

Ao Manoel Stefani Furtado que é parte fundamental de mim;

A família Stefani pelas risadas, pelo imenso apoio durante meu período
acadêmico e claro, pelas tortas de amendoim;

Aos meus irmãos eternos, desde o ensino médio, que, mesmo a 600 km
de distância estiveram presentes diariamente comigo;

A todos os meus professores do Centro Universitário do Planalto de Araxá


que foram mais que importantes para a minha formação não só profissional;

A Polícia Rodoviária Estadual pela atenção, generosidade e a permissão


para coleta de dados que foi essencial para realizar este trabalho;
“We are all connected; To each other, biologically. To the earth,
chemically. To the rest of the universe, atomically.”
Neil deGrasse Tyson
RESUMO

RODRIGUES, A. M. R. N. LEVANTAMENTO DOS FATORES ASSOCIADOS AOS


ATROPELAMENTOS DE AVES E MAMÍFEROS ATRAVÉS DOS REGISTROS DA
POLÍCIA RODOVIÁRIA ESTADUAL DE ARAXÁ-MG. ARAXÁ, 2012. Monografia
(Graduação em Ciências Biológicas) Instituto de Ciências da Saúde. UNIARAXÁ.
Araxá – MG.

Os impactos causados por colisões veiculo-animal têm recebido a atenção de


pesquisadores de vários países. Os prejuízos não se restringem apenas á fauna,
afetando também motoristas e vias de circulação. O presente estudo utilizou dados
de boletins de ocorrência da Polícia Rodoviária Estadual de Araxá-MG, nos anos de
2005 a 2010, referentes a atropelamentos de animais para levantar as principais
espécies envolvidas, os fatores associados como sazonalidade e condição climática,
data, horário, traçado da pista, prejuízos humanos e materiais. Ao todo foram
registrados 114 acidentes, originando 147 animais atropelados. Os animais
domésticos mais afetados foram Bos taurus (106), Equus caballus (20) e Canis
lupus familiaris (10). Animais silvestres também foram relatados: Myrmecophaga
trydactyla (dois atropelamentos), uma raposa não identificada, Coragyps atratus
(quatro atropelamentos) e gaviões de espécie não identificada (duas ocorrências).
No geral, os acidentes ocorreram em rodovias com traçado retilíneo, sob uma boa
condição climática, na estação seca, no período da noite, gerando danos moderados
aos veículos e vítimas não fatais. Para reduzir o número de atropelamentos de
animais, sugere-se principalmente a criação de campanhas educativas para
motoristas evidenciando os prejuízos para sua própria integridade, fauna e a
conservação de rodovias além de incentivá-los a registrarem boletins de ocorrência
para contribuir na riqueza de informações sobre tais acidentes.

Palavras-chave: Colisões Veículo-Animal, Ecologia De Estradas, Atropelamento De


Animais.
ABSTRACT

RODRIGUES, A. M. R. N. SURVEY OF FACTORS ASSOCIATED TO THE


TRAMPLING OF BIRDS AND MAMMALS THROUGH THE RECORDS OF STATE
ROAD POLICE IN ARAXÁ-MG. ARAXÁ, 2012. Monograph (Graduated in Biological
Sciences) Institute of Health Sciences UNIARAXÁ. Araxá - MG.

The impacts of animal-vehicle collisions have received the attention of researchers


from several countries. The losses are not restricted only the fauna, also
affecting drivers and roads. This study used data from police reports of the State
Road Police of Araxá-MG between the years 2005 until 2010, relating to animals ran
over to specify the main species involved, the associated factors such as seasonality
and weather conditions, date, time, layout of roads, human and material losses.The
total ammount of recorded accidents were 114, yielding 147 animals ran over. The
most affected domestic animals were Bos taurus (106), Equus caballus (20) and
Canis lupus familiaris (10) Wild animals were also reported: Myrmecophaga tridactyla
(two ran over), a fox unidentified Coragyps atratus (four road kills) and unidentified
species of hawks (two ran over). Overall, the accidents occurred on roads with a
straight design, under good weather conditions in the dry season, at night, causing
moderate damage to vehicles and non-fatal victims. To reduce the number of
animals road kills, we suggests the creation of educational campaigns for drivers
showing the damages it can cause to its own integrity, wildlife and the conservation
of highways as well as encourage them to do police records report to help gathering
more information about these accidents.

Keywords: Animal-Vehicle Collisions, Road Ecology, Animal Run Over.


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico I: A Influência Da Sazonalidade No Número De Atropelamentos .......... 19


Gráfico II: Quantidade De Acidentes Em Relação Ao Período Do Dia ................ 21
Gráfico III: O Traçado Da Pista Em Relação Ao Número De Acidentes .............. 22
Gráfico IV: Gravidade Das Lesões Provocadas Pelos Acidentes ....................... 24
Gráfico V: Prezuíjos Materiais Decorrentes Dos Acidentes ................................25
Gráfico VI: Número de Atropelamentos em Função do Ano ...............................25
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11
1.1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 13
1.2 JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 14
1.3 METODOLOGIA ................................................................................................. 15

2 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 17


2.1 COMPOSIÇÃO DE ESPÉCIES .......................................................................... 17
2.2 SAZONALIDADE E CONDIÇÕES CLIMÁTICAS ............................................... 19
2.3 PERÍODO DO DIA .............................................................................................21
2.4 TRAÇADO DA PISTA.........................................................................................22
2.5 PREJUIZOS MATERIAIS E HUMANOS ............................................................23
2.6 A RELAÇÃO DE ATROPELAMENTOS EM FUNÇÃO DO ANO ........................25

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 27

4 BIBLIOGRAFIA ......................................................... Erro! Indicador não definido.

5 ANEXOS ................................................................................................................ 30
11

1. INTRODUÇÃO

As rodovias são fundamentais para o desenvolvimento econômico e social.


Segundo Bandeira (2004), por meio delas são transportadas as safras agrícolas, os
insumos e produtos industriais, máquinas, combustíveis, produtos minerais e toda
espécie de produto material que se possa imaginar que a humanidade utilize; além
disso, são as principais vias de transporte de pessoas em curta e média distância.
Entretanto, como qualquer empreendimento humano, as rodovias geram
impactos ambientais negativos. Os impactos de rodovias sobre as áreas adjacentes
são inúmeros, abrangendo aspectos da hidrologia, geomorfologia, distribuição e
estrutura de populações, além do aumento da taxa de mortalidade da fauna de
vertebrados terrestres em decorrência de colisões (FINDLAY EBOURDAGES 2000;
Hourdequin 2000; Turci e Bernarde, 2009).
Também desencadeiam a fragmentação dos habitats, produzindo bordas de
alto contraste em paisagens de matas contínuas, o que isola os animais, impedindo
o movimento de alguns e provocando a mortandade por atropelamentos em muitos
(OXLEY et al). Devido aos atropelamentos, nas últimas décadas, a mortalidade da
fauna silvestre atingiu índices maiores que a caça como causa humana direta de
mortes, segundo SEILER & HELDIN (2006).
Alguns autores enfatizam outros agravantes acarretados pelos
atropelamentos: alterações no comportamento dos animais; alteração do estado
fisiológico; estresse e/ou remoção de espécies nativas; modificação de cadeia
alimentar; fragmentação e alteração de hábitats por efeito de borda; interceptação
dos corredores de dispersão natural da fauna terrestre; isolamento populacional e
perda de indivíduos por colisão com veículos (SOUSA, 2010).

Os danos causados por tais acidentes não se restringem apenas ao meio


ambiente, afetando, também ao motorista e a via de circulação. Há também
prejuízos econômicos, como danos aos veículos, ferimentos e/ou morte dos
motoristas e passageiros, além da perda de animais que possuem valor de mercado,
associado, por exemplo, a caça, uso humano direto ou indireto (ROMIN &
BISSONETE, 1996; BISSONETE et al. 2008; apud FREITAS, 2009).
12

Segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais Aplicadas (IPEA) e o


Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), estima-se que são gastos
aproximadamente R$ 22 bilhões por ano com acidentes na extensa malha viária
brasileira, considerando-se gastos com saúde, afastamento temporário ou
permanente, remoção e translados, danos e remoção dos veículos, perda de cargas,
custos judiciais, atendimento policial e danos a propriedades (IPEA, 2007).

Diante da notável gravidade de tais acidentes principalmente para a fauna,


motoristas e as vias de tráfego, o presente trabalho teve por objetivo quantificar o
número de acidentes envolvendo animais nas rodovias sob jurisdição da Polícia
Rodoviária Estadual de Araxá, Minas Gerais, através dos dados de boletins de
ocorrência, com o propósito de identificar as espécies mais afetadas e os principais
fatores relacionados a essas ocorrências.
13

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral:

• Quantificar o índice de acidentes envolvendo animais nas rodovias estaduais


do município de Araxá através dos dados de registro de ocorrência da Polícia
Rodoviária Estadual de Araxá – MG.

1.2.3 Objetivos Específicos:

• Evidenciar as espécies mais atingidas;


• Verificar a influência da sazonalidade nas ocorrências de atropelamentos de
animais;
• Determinar a gravidade dos acidentes quanto aos danos provocados às
pessoas e veículos;
• Determinar as características da rodovia e os principais fatores associados
aos atropelamentos de animais;
14

1.3 JUSTIFICATIVA

Os impactos ecológicos gerados por estradas são considerados por muitos


estudiosos como uma das principais causas da perda da biodiversidade do mundo.

Alguns autores afirmam que certas populações de animais são


desequilibradas pelo efeito específico do atropelamento de animais nas rodovias. No
caso específico do lobo-guará estima-se que em algumas populações os
atropelamentos sejam responsáveis pela morte de um terço à metade da produção
anual de filhotes (Rodrigues, 2002).

Através dos dados de estudos como este é possível criar projetos


direcionados a conservação da fauna.

Este trabalho visa ressaltar a importância no estudo do atropelamento de


animais e auxilia na divulgação do assunto, expondo sua importância e, sobretudo
para a fauna, governo e os condutores que circulam nas malhas viárias.
15

1.4 MATERIAL E MÉTODOS

Pesquisa quali-quantitativa sobre atropelamentos e acidentes


envolvendo animais, através de registros de ocorrência da Polícia Rodoviária
Estadual (Pelotão Rodoviário/ 5ª CIA PM IND MAT), localizada na rodovia MG-428,
Km 14, próxima à Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), em
Araxá-MG.

Obteve-se a autorização do Tenente responsável pelo batalhão supracitado


para verificação dos registros de ocorrência, mediante um ofício destinado ao posto
policial (ANEXO I). Após sua aprovação, foram realizadas sete visitas no posto do
órgão citado onde foram coletadas as informações contidas nos boletins de
ocorrência de animais atropelados.

Os registros de ocorrência são elaborados pelos policiais ao comparecerem


no local solicitado, mediante contato dos motoristas. É uma ficha formada por
aproximadamente seis páginas onde são assinaladas as diversas informações sobre
o evento.

Neste trabalho, foram ressaltados os seguintes dados coletados em tais


documentos: data, horário, local e rodovia; quantidade de animais e espécie;
condições climáticas; traçado da pista; danos materiais e lesões às pessoas
envolvidas.

A última página é composta pelo relato visual do policial juntamente com as


informações descritas pelo condutor, passageiros e testemunhas do acidente, sendo
assim, a quantidade de dados é bastante variável. O reconhecimento das espécies
de animais é feito nesse anexo do documento, indicando possível imprecisão na
identificação da espécie atropelada, pois geralmente trata-se de uma consideração
realizada por pessoas leigas. Também nesse apêndice do documento são relatadas
as ocorrências de vítimas humanas, prejuízos materiais, as tentativas de busca ao
proprietário do animal (no caso de bovinos e equinos), além das informações sobre
remoção de veículos, animais mortos sob a pista de rolamento e a necessidade ou
não de atendimento médico para vítimas.
16

Em seguida, os dados das planilhas foram agrupados em meses e verificou-


se a influência da sazonalidade. Para verificar a diferença entre as estações, foram
determinadas as proporções de atropelamentos e foi aplicado o teste t de Student
para amostras independentes, considerando as estações seca (abril a setembro) e
chuvosa (outubro a março).

As variações em relação ao período do dia (sendo manhã - 00h ás 08h -,


tarde - 09h ás 16h - e noite - 17h ás 23h), as condições climáticas (tempo bom,
chuvoso e neblina ou nevoeiro), e do traçado da pista (retilíneo, curvo ou sinuoso)
no número de atropelamentos.

Determinou-se a gravidade dos acidentes considerando vítimas leves


(pequenas escoriações pelo corpo), vítimas graves (quando os indivíduos
necessitaram de atendimento médico) e sem vítimas, quando o atendimento médico
foi recusado. Também em relação aos danos aos veículos: leves (estrago de
pequenas estruturas – retrovisores, faróis, etc.) e moderados (danos generalizados,
ou seja, em uma ou mais estruturas do veículo).
17

2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

2.1 Composição de Espécies

No período de janeiro de 2005 a dezembro de 2010 registraram-se 114


acidentes envolvendo animais nas rodovias sob jurisdição da Polícia Rodoviária
Estadual - PRE de Araxá- MG (Tabela I). Tais acidentes resultaram em 147 animais
atropelados, sendo 141 exemplares de mamíferos de sete espécies e seis
exemplares de aves, de duas espécies.

Os mamíferos atropelados (incluindo animais domésticos) foram


representados por 106 bovinos (vacas, bois e bezerros), 20 equinos (cavalos, éguas
ou potros), 10 cães, um gato, dois tamanduás-bandeira, um búfalo e uma raposa,
compondo 95,9% da amostragem total. Aves foram o grupo com menor proporção
de ocorrências, apenas 4,1%, sendo, quatro urubus e dois gaviões.

TABELA I – Vertebrados atropelados nas rodovias amostradas segundo


classificação taxonômica.
Espécie ou
Nome Comum Número de Exemplares
Família
Bos taurus Boi 106
Equus caballus Cavalo 20
Canis lupus Cachorro
10
familiaris

Felis catus Gato 01


Myrmecophaga Tamanduá-Bandeira
02
trydactyla
Bovidae Búfalo 01
Canidae Raposa 01
Coragyps atratus Urubu 04
Accipitridae Gavião 02
Total 9 espécies 147 exemplares
18

Tamanduás-bandeira são mencionados no Livro Vermelho da Fauna


Brasileira Ameaçada de Extinção (CHIARELLO et al, 2008) como espécie ameaçada
em vários estados brasileiros, inclusive Minas Gerais. A deterioração e redução de
habitats são apontadas como as principais causas de declínio das populações de
tamanduá-bandeira (Fonseca et al., 1999). Outros fatores que contribuem para a
rarefação das populações desta espécie são a caça (Leeuwenberg, 1997; Peres,
2000) e os atropelamentos rodoviários (Fischer, 1997). Comentado [A1]: Livro vermelho sobre a fauna ameaçada de
extinção

Esta pesquisa incluiu em sua amostra, animais domésticos. Estes vertebrados


também usam normalmente a estrada e podem auxiliar na compreensão tanto dos
impactos direto dos atropelamentos, como quanto aos impactos indiretos (FREITAS,
2009).

A presença elevada de cães e gatos na rodovia pode estar associada à


atração por fontes de alimento, como a presença de carcaças de animais
atropelados e lixo jogado pelos veículos, como matéria orgânica e/ou restos de
animais abatidos. (FREITAS, 2009). Além disso, áreas antropizadas como
perímetros urbanos, fazendas e postos de abastecimento também são considerados
ambientes atrativos e com alto risco de atropelamentos de cães e gatos.

Não se pode afirmar que a espécie de “Raposa” citada nesta amostragem,


seja Lycalopex vetulus, pois, a mesma foi identificada por leigos (policiais e
envolvidos no acidente). Porém, nas amostragens de SILVA et al (2011) e Freitas
(2009), feitas próximas á cidade de Araxá, constatou-se a presença da Raposa-do-
Campo (Lycalopex vetulus), que é uma espécie abundante dessas regiões. Vale
lembrar que também pode tratar-se de um cachorro do mato (Cerdocyon thous) ou
até mesmo um cão doméstico de raça assemelhada.

São comuns no Brasil acidentes com bovinos e equinos, pois ambas as espécies
são encontradas em todos os estados do país (IBGE, 2009) e atraídas pela vegetação
existente nas bordas da pista. Também é comum em outros países, como por exemplo,
na Austrália, onde existem registros de acidentes em que veículos batem diretamente
em animais de criação (geralmente bovinos), em proporções semelhantes a acidentes
com animais silvestres (ROWDEN et al., 2008).
19

2.2 SAZONALIDADE E CONDIÇÕES CLIMÁTICAS

Gráfico I: A Influência Da Sazonalidade No Número De Atropelamentos.

Foram registrados 70 acidentes durante a estação seca (abril a setembro) e


44 na estação chuvosa (outubro a março), com diferença significativa nos meses de
seca de acordo com o teste t de Student (t = 2.8024; p = 0.018 PROCURAR SOBRE
5%). Sendo abril, julho e setembro os meses com maiores ocorrências de
atropelamentos correspondendo a 34,2% do percentual anual total. Em relação às
condições climáticas, as ocorrências de tempo “bom” foram de 84% e “chuvoso” 9%,
“neblina ou nevoeiro” com 7%

Supõe-se que durante o tempo seco a frequência de migração de animais


eleva-se em decorrência da necessidade de água e escassez de alimento.
Entretanto, essas informações não são pertinentes a todos os táxons. Dados
apontam que atropelamentos de animais apresentam padrões relacionados ao tipo
de vegetação (florestal, gramíneas e árvores frutíferas), condições climáticas
(período seco ou chuvoso) e comportamento das espécies (Pinowski, 2005).

Em relação aos carnívoros, pode-se inferir que estes animais deslocam-se


mais pelo ambiente na estação seca, sofrendo maior risco de atropelamento, além
de algumas espécies (urubus, cães, gaviões e felinos) estarem usando a estrada
20

como fonte de alimento ou corredor de dispersão, daí a ocorrência de maior número


de colisões na estação seca. (FREITAS, 2009)

Verificado por FREITAS (2009), próximo à cidade de Araxá, foram


constatados bovinos nas margens das rodovias, atraídos pela vegetação existente.
Em relação ao porte do animal, o quão maior for este, maiores serão os danos
materiais e humanos e, consequentemente, maior o gasto econômico. Fator que
leva os condutores procurarem os postos da polícia para registrar um boletim de
ocorrência e assim obter o seguro.

A questão da sazonalidade depende também da região estudada, pois sabe-


se que cada bioma apresenta tipos de vegetação e riquezas de espécies distintas,
que respondem de forma diferente às mudanças ambientais. Entretanto, para aves é
difícil identificar um padrão em relação á variação sazonal. Isso ocorre
provavelmente devido a grande diversidade desse grupo e a necessidade de um
maior esforço de amostragem quando comparado aos demais grupos, o que nem
sempre é realizado (BAGER & ROSA, 2011).

Considerando que os dados foram retirados de boletins de ocorrência da


polícia rodoviária estadual, requeridos por condutores envolvidos em acidentes com
animais, supõe-se que os mesmos só procuram tais órgãos para registrar efeitos
danosos em seus veículos, vítimas humanas ou informar sobre outros possíveis
acidentes devido à presença de animais nas vias de circulação. Assim, espécies de
pequeno porte como répteis, anfíbios, aves e alguns mamíferos não foram
registradas neste trabalho, pois, frequentemente não geram danos relevantes aos
veículos, não despertando a necessidade de os motoristas registrarem um boletim
de ocorrência.
21

2.3 PERÍODO DO DIA

Gráfico II: Quantidade De Acidentes Em Relação Ao Período Do Dia.

Não foram encontrados trabalhos no Brasil, que registram a ocorrência de


atropelamentos em relação aos períodos do dia. Entretanto, devido à visibilidade e
ao comportamento de algumas espécies e do motorista, parece haver maior
frequências de registros no período noturno, conforme constam nos dados dos
boletins de ocorrência.

No Japão, Saeki & Macdonald (2004) encontraram maiores frequências de


atropelamentos do cachorro do mato oriental (Nyctereutes procyonoides viverrinus)
foram maiores na período noturno (21h ás 23h) e nas primeiras horas do dia (6h ás
8h) coincidentes com o hábito da espécie e fluxo de veículos, respectivamente. Eles
especulam que as colisões ocorrem em função do volume do tráfego de veículos.

Dentre os animais registrados, cachorros, gatos e raposas são apontados na


literatura como animais que podem ter hábitos noturnos, especialmente á procura de
alimentos. Além disso, carcaças de animais já atropelados podem ser atrativos para
estes, gerando um ciclo de atropelamentos. Mamíferos de grande e médio porte
movem-se ao longo de estradas com pouco tráfego à noite e animais carniceiros
22

deslocam-se por estradas procurando por carcaças (FORMAN & ALEXANDER,


1998).

Sobre os atropelamentos da avifauna, é provável que uma das causas desta


mortalidade seja decorrente das concentrações da vegetação arbórea-arbustiva ás
margens da rodovia, somando ao fluxo de veículos durante o dia, período de maior
atividade da maioria das espécies de aves (ROSA, 2004).

Em relação ao tamanduá-bandeira, além de ter uma movimentação lenta,


possui visão pouco desenvolvida que pode ser ofuscada pelos faróis dos carros ao
cruzarem as rodovias durante o período noturno (MELO & SANTOS- FILHO, 2007).

Os atropelamentos são eventos caracterizados principalmente pelos hábitos


dos animais e a densidade de veículos, bem como a velocidade destes nas
rodovias.

2.4 TRAÇADO DA PISTA

Gráfico III: O Traçado Da Pista Em Relação Ao Número De Acidentes.

Houve maior ocorrência de atropelamentos em pista com traçado retilíneo


(75%), seguida de 24% em desenho curvilíneo e apenas 1% em pista sinuosa. A
maior velocidade dos veículos em pista reta provavelmente está relacionada a maior
23

ocorrência dos atropelamentos neste tipo de desenho. Entretanto, também deve-se


considerar a maior facilidade dos animais cruzarem a rodovia em trechos de reta
onde a topografia geralmente é menos acidentada.

Segundo FREITAS (2009), em sua pesquisa, três fatores combinados


(presença de reta, vegetação e construções), aumentam a probabilidade de
atropelamentos de 17,2% (sem nenhum dos fatores) para 73,4%, ou seja, um
incremento de 326,74%. A proximidade com construções humanas, conjugada a
presença de vegetação e com rodovia reta, estão relacionados a maior frequência
de atropelamentos de animais domésticos.

2.5 PREJUÍZOS MATERIAIS E HUMANOS

Além dos prejuízos à fauna, também evidenciam-se danos aos veículos e vias
de circulação e lesões aos condutores e passageiros.

Os danos gerados aos veículos classificados como grau moderado tiveram o


percentual de 74% e 26% foram considerados leves. 65% dos acidentes não
desencadearam vítimas; 20% da amostragem é composta por vítimas com
ferimentos leves e 15%, necessitaram de atendimento médico, sendo classificadas
como “vítimas graves”.

Grande parte dos artigos à respeito de atropelamentos de animais em


rodovias tem como metodologia a verificação in loco das estradas a fim de amostrar
as carcaças de animais mortos e fatores associados, mas não enfocam dados como
tipo de veículo, vítimas e a gravidade dos acidentes. Assim, no Brasil, a literatura
diretamente relacionada aos prejuízos econômicos causados por esse tipo de
acidente ainda é escassa.

Considerando que os atropelamentos em rodovias constituem um problema


que se estende por praticamente todas as estradas do território brasileiro
(TUMELEIRO et al, 2006), e esta possui mais de 1,7 milhão de quilômetros de
extensão, considera-se que esse tipo de acidente pode estar trazendo prejuízos
24

financeiros altos para os condutores e entidades responsáveis pela conservação das


rodovias.

Segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais Aplicadas (IPEA,


ANO) e o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), estima-se que são gastos
aproximadamente R$ 22 bilhões por ano com acidentes na extensa malha viária
brasileira, considerando-se gastos com saúde, afastamento temporário ou
permanente, remoção e translados, danos e remoção dos veículos, perda de cargas,
custos judiciais, atendimento policial e danos a propriedades (FREITAS, 2009).

Segundo Seiler (2003), anualmente, 12 pessoas morrem e mais de 600 são


feridas em colisões com ungulados nas rodovias da Suècia. A Swedish National
Road Administration (SNRA), Administração Nacional de Estradas da Suécia, estima
que o custo direto dos acidentes varia entre 7,400 e 20,000 euros para cada
acidente envolvendo alces.

Forman et al (2002) observou um aumento na quantidade de acidentes


envolvendo animais de grande porte e veículos, nas regiões da América do Norte.

Foram estimadas, pelas autoridades norte americanas, 6.1 milhões de


colisões no ano de 2000, sendo 247.000 (4% do valor total) envolvendo um veículo
colidindo com um cervo (Odoicoileus spp) conforme BISSONETE et al. (2008).

Gráfico IV: Gravidade Das Lesões Provocadas Pelos Acidentes.


25

Gráfico V: Prezuíjos Materiais Decorrentes Dos Acidentes

2.6 RELAÇÃO DE ATROPELAMENTOS EM FUNÇÃO DO ANO

Gráfico VI: Número de Atropelamentos em Função do Ano

A diminuição do número de acidentes pode ter ocorrido devido ao efeito


barreira (que influencia a mobilização dos animais através das rodovias), à
necessidade de os condutores registrarem ou não um boletim de ocorrência,
26

campanhas educativas que já ocorreram no município ou simplesmente, por mero


acaso.
27

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para se reduzir os atropelamentos, seria necessário montar uma equipe


formada por profissionais de vários campos relacionados envolvendo biólogos,
ecólogos, especialistas em determinados táxons, profissionais da construção civil,
engenheiros ambientais, além das instituições que já atuam em áreas que auxiliam
no levantamento dos dados associados aos atropelamentos de animais (Polícia
Rodoviária, IBAMA, IPEA, DNIT e departamentos estaduais de estradas), a fim de
proporcionar estudos que avaliem os impactos gerando uma categoria de registros
específicos com os fatores associados e estabelecer medidas que reduzam tanto os
atropelamentos quanto os gastos que estes geram.

É necessária a implantação de sinalização alertando a presença de animais


silvestres nas rodovias onde mais houveram ocorrências (neste trabalho, a MG-428
e a MG-187), controladores de velocidade, placas e campanhas educativas para
sensibilizar os motoristas quanto ao problema relatado, evidenciando os prejuízos
para sua própria integridade, fauna, e a conservação das rodovias. Além disso,
incentivá-los a registrarem boletins de ocorrência com a finalidade de contribuir na
riqueza de informações dos bancos de registros referentes a atropelamentos e não
somente para requerer serviços de indenização devido a prejuízos materiais ou
físicos.

Criação de mecanismos e dispositivos que auxiliem a travessia adequada de


animais de diferentes portes, como corredores, pontes e túneis, principalmente
próximas a áreas de Unidades de Conservação (UCs). Facilitando o deslocamento
dos animais, evita-se que os mesmos sejam abatidos em colisões proporcionando-
os melhores condições de sobrevivência.

Pesquisas como esta, agregam informações que auxiliam na formulação de


possíveis projetos direcionados para a redução de atropelamentos de animais e
suas consequências diversas.
28

4. BIBLIOGRAFIA

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OS_ATROPELADOS_NA_RODOVIA_BR-
230PB_ENTRE_CAMPINA_GRANDE_E_JOAO_PESSOA.pdf .> Acesso em: 15
mai. 2012.
30

5. ANEXO I – Ofício destinado ao posto da Polícia Rodoviária Estadual para


obter a permissão para coleta de dados.

Ilmo.

Segundo Tenente PM Carlos Tadeu Mazala Jorge Silva

2º Pelotão de Polícia Militar Rodoviária / 5ª CIA PM IND MAT

Município de Araxá, Estado de Minas Gerais.

OFICIO 001/2012/AMR

Prezado Senhor:

Venho através deste, solicitar apoio da Polícia Rodoviária Estadual de Minas Gerais – PRE/MG
para darmos continuidade á coleta de dados de registro de estatísticas sobre acidentes envolvendo
animais - domésticos e silvestres – no período que envolve os anos de 2006 a 2010 nas rodovias
estaduais da região de Araxá.

O objetivo do trabalho é quantificar o número de atropelamentos e acidentes com animais


na pista, ocorridos nos trechos rodoviários da região, com o intuito de discriminar as espécies,
determinar os trechos onde o índice de atropelamentos é maior, analisando assim sua gravidade
para a fauna e as pessoas envolvidas.

O atropelamento de animais é um assunto ainda pouco discutido no Brasil. Todos os dias,


centenas de animais são mortos em nossas rodovias, afetando a fauna local e consequentemente
gerando um desequilíbrio ecológico. Vale ressaltar também que esses acidentes causam prejuízos às
pessoas, pois, muitas vezes, provocam vítimas fatais, além de danos econômicos para o condutor do
veículo e o governo.

Certos de que podemos contar com o apoio imprescindível da PRE/MG na realização deste
trabalho de conservação da fauna e, indiretamente, das rodovias e seus usuários, agradecemos
antecipadamente pela colaboração e aproveitamos o ensejo para registrar sentimentos de estima e
apreço.

Atenciosamente,

Orientador Prof. Dr. Carlos Henrique de


Ana Maria Ribeiro Nunes Rodrigues
Freitas
Graduanda em Ciências Biológicas no
Centro Universitário do Planalto de Coordenador do Curso de Ciências Biológicas
Araxá – UNIARAXÁ - MG do Centro Universitário do Planalto de Araxá –
UNIARAXÁ - MG
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