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São Paulo, SP
2012
Faculdade Campos Elíseos - FCE
ALUBRAT – Associação Luso Brasileira de Transpessoal
São Paulo, SP
2012
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A minha mãe, Lília, pelo meu nascimento.
E a minha filha, Olívia, pelo meu renascimento.
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Agradecimentos
Dedico os meus mais sinceros agradecimentos à professora Dra. Vera Saldanha que,
generosamente, compartilha conosco o seu saber e o seu Ser. Agradeço também ao
professor e orientador Manoel Simão pela incansável dedicação aos seus alunos.
Agradeço à professora e terapeuta Myriam Romero, por sua lucidez e arte. Meus
agradecimentos a todos os professores e colegas de curso, em especial aos professores
Laureano Guerreiro e Anna Patrícia Bogado, pela inspiração que trouxeram.
Minha profunda gratidão às parteiras Márcia Koiffman e Priscila Colacioppo, não apenas
pelo belíssimo trabalho que desenvolvem, mas pela humanidade e inteireza com que
lidam com as gestantes e seus bebês. Obrigada por estarem de corpo e alma ao meu
lado, durante o momento mais marcante de toda a minha vida.
Meu agradecimento especial a minha querida doula Drika Cerqueira, pela capacidade de
me emocionar desde o nosso primeiro contato e, também, pela amizade que construímos.
Minha eterna gratidão e meu imenso amor ao meu maior amigo, Marcelo Moreti, marido e
alma companheira de jornada, que me ensinou a arte de sonhar e de realizar os meus
mais lindos sonhos. Sua presença ao meu lado tornou tudo isso possível.
Agradeço, principalmente, a minha mãe. Por absolutamente tudo o que ela fez e faz por
mim. Apesar do amor infinito que sinto por ela, jamais conseguirei amá-la, assim como ela
me ama. Hoje conheço o Amor de mãe.
Por fim, devo agradecer à Fonte, de onde tudo veio e para onde tudo vai.
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Sumário
Resumo: ............................................................................................................................. 7
Lista de Gráficos ............................................................................................................... 8
Introdução: ......................................................................................................................... 9
O Modelo Atual de Assistência ao Parto ....................................................................... 11
Os Tipos de Parto ............................................................................................................ 14
Cesariana ...................................................................................................................... 14
Cesárea Eletiva ............................................................................................................. 14
Parto Normal ................................................................................................................. 14
Parto Natural ................................................................................................................. 15
VBAC ............................................................................................................................. 15
Parto Humanizado ........................................................................................................ 15
O Movimento de Humanização do Parto ....................................................................... 17
A Normose da Cesariana ................................................................................................ 20
A Dessacralização do Nascimento................................................................................. 27
O Complexo de Jonas na Gravidez ................................................................................ 29
O Medo do Sucesso ..................................................................................................... 31
O Medo da Mudança .................................................................................................... 31
O Medo do Saber .......................................................................................................... 31
O Medo da Autenticidade ............................................................................................ 32
O Medo de Amar ........................................................................................................... 32
A Temida Dor do Parto .................................................................................................... 34
Psicologia Transpessoal e Parto Natural ...................................................................... 36
Uma Breve Pesquisa sobre Parto e Transpessoalidade .............................................. 41
Questionário Aplicado ................................................................................................. 43
Pesquisa sobre a Transpessoalidade e a Experiência do Parto ................................. 43
Tabulação dos Resultados da Pesquisa .................................................................... 47
Abordagem Integrativa Transpessoal Aplicada à Preparação para o Parto Natural . 58
A Abordagem Integrativa Transpessoal..................................................................... 58
A Preparação para o Parto Baseada na Abordagem Integrativa Transpessoal...... 63
Programa Vivencial de Preparação para o Parto e Maternidade ................................. 67
Estrutura dos Encontros ............................................................................................. 71
Conteúdo Programático............................................................................................... 72
Módulo I - O Despertar para o feminino .................................................................. 73
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Módulo II - Construindo uma Nova Vida ................................................................. 76
Módulo III - Relações e Conflitos ............................................................................. 79
Módulo IV - Dor e Medo ............................................................................................ 83
Módulo V - Despedida da Barriga ............................................................................ 87
Considerações Finais: .................................................................................................... 91
Bibliografia:...................................................................................................................... 92
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R ESUMO:
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L ISTA DE G RÁFICOS
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INTRODUÇÃO:
“Crescei e multiplicai-vos”.
(Gênesis 1, 28)
Partindo do princípio que todo ser humano deve nascer e viver em plenitude, proponho
neste trabalho uma reflexão acerca dos impactos e das consequências nas relações
humanas decorrentes da forma como as mulheres estão se preparando para receber seus
bebês, atualmente, no Brasil.
É objetivo deste trabalho, demonstrar que o parto, como experiência única e sagrada que
é, estimula a integração do REIS (razão, emoção, intuição e sensação) e, portanto, deve
ser experimentado como um evento natural e evolutivo, não só para a parturiente, como
para o pai, o próprio bebê e para toda estrutura familiar que os rodeia.
A cesariana, por tratar-se de um ato cirúrgico, assim como um parto vaginal com
anestesia, subtrai da parturiente a possibilidade de sentir a Vida atravessando-lhe o
ventre, o que tornaria esta experiência, em seus aspectos transcendentes, uma
experiência incompleta para a futura mãe.
O trabalho de parto é uma atividade exaustiva que requer preparo físico, mental,
emocional e espiritual, não só da mulher como de todos aqueles que irão acompanhá-la e
apoiá-la durante este processo.
Além disso, sendo o nascimento um evento “traumático” para o ser humano este evento
deve ser encarado como um rito de passagem e, portanto, deve merecer todo o cuidado e
atenção que um evento desta proporção exige.
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O parto natural humanizado propicia a recepção do bebê num ambiente mais amoroso e
acolhedor fato este que determinará sua forma de encarar e relacionar-se durante toda a
vida.
O intuito deste trabalho é criar um programa de preparação para o parto natural e pós-
parto humanizados, que desperte as gestantes para um nível de consciência mais
elevado sobre a realidade da concepção, gestação, parto e maternidade, que vá além da
normose atualmente instaurada, resgatando a dimensão sagrada e, de uma forma
consciente, produzindo transformações positivas não só na vida da mulher, como também
do pai, do bebê, dos familiares e, por conseguinte, de toda uma sociedade.
Porque acreditamos que bebês desejados, gerados num ambiente amoroso e que
nascem nestas mesmas condições, têm mais chances de se tornarem seres humanos
mais felizes, tornando o mundo cada vez melhor.
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O MODELO ATUAL DE ASSISTÊNCIA AO PARTO
Em recente pesquisa feita pela Fundação Perseu Abramo, em parceria com o Sesc, foram
entrevistadas 2.365 mulheres de todo território nacional a fim de identificar os maus tratos
sofridos pelas gestantes na hora do parto.
Entre as pesquisadas, 23% afirmaram ter sofrido humilhações no momento de dar à luz.
Estas sensações foram vivenciadas por meio das frases ditas por médicos e enfermeiros
sobre a dor enfrentada por elas durante as contrações e na hora de parir.
Não raro, muitas mulheres sofrem de violência obstétrica velada, ou então, por falta de
informação e conhecimento sofrem de violência sem que tenham consciência disso.
“(...) as mulheres têm pouquíssima consciência de sua intimidade durante o atendimento ao parto. E é
exatamente porque, quando recebem o bebê como recompensa, ainda que destruídas emocionalmente,
acreditam que não têm o menor direito de recordar nem de reconhecer as situações de extremos maus
tratos físicos e emocionais.” (Gutman, 2007)
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Privação de acompanhante;
Privação de alimento e bebida;
Episiotomia (corte na região do períneo);
Raspagem dos pelos pubianos;
Lavagem intestinal;
Maus tratos físicos;
Ironias e Maus tratos verbais;
Entre outras.
Quase todas as rotinas impostas às gestantes, a partir do momento em que elas entram
no hospital, são em sua maioria rotinas desnecessárias que desumanizam e maculam o
evento do nascimento.
Em primeiro lugar a mulher perde sua identidade, deixa de ser chamada pelo nome. É
sutilmente colocada numa maca incômoda, onde sua liberdade de movimento é tolhida.
Ninguém a informa sobre os procedimentos que serão adotados, muito menos sobre o
andamento de seu trabalho de parto.
A maioria dos partos é induzida com ocitocina sintética, o que faz com que as contrações
sejam muito mais fortes e, portanto, insuportavelmente doloridas, culminando numa
anestesia. Quando, para sorte do bebê, a mãe chega a ter um parto vaginal, ela
frequentemente sofre uma episiotomia, que é o corte na região do períneo para que o
“bebê saia mais rápido”. Infelizmente, no Brasil e, principalmente no sistema privado, a
maioria das mulheres acaba sendo submetida a uma cesariana, na maioria das vezes sob
o argumento de que ela não teve dilatação.
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caia e o trabalho de parto estagne para proteção da própria fêmea e de sua cria, para que
então ela possa procurar outro lugar mais seguro, tranquilo e acolhedor para dar à luz.
Assim acontece com as mamíferas humanas: se elas não sabem o que vai acontecer com
seu corpo durante o trabalho de parto e nem como vai acontecer e ainda estão
submetidas a procedimentos invasivos que agridem sua intimidade, sua essência, seu
desejo, a progressão do trabalho de parto é lenta e difícil.
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O S T IPOS DE P ARTO
“Ainda a barriga não cresceu e já os filhos brilham nos olhos das mães.”
(José Saramago)
Qual a diferença entre parto normal, parto natural, parto humanizado, cesariana,
cesariana eletiva, VBAC?
CESARIANA
CESÁREA ELETIVA
A cesárea eletiva é aquela onde é agendada a data e hora para realização da cirurgia
cesariana, pelos mais diversos motivos, sem sequer a mulher ter entrado em trabalho de
parto.
PARTO NORMAL
O parto normal é aquele que acontece pela via vaginal. Na maioria dos hospitais e
maternidades do Brasil normalmente inclui uma série de intervenções de rotina (a maioria
sem necessidade), tais como: raspagem dos pelos pubianos, lavagem intestinal,
1
Fonte: Wikipedia
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administração de soro com ocitocina sintética, episiotomia e fórceps nas gestantes de
primeiro filho.
PARTO NATURAL
O parto natural é aquele que ocorre sem anestesia ou qualquer outro tipo de intervenção.
No parto natural, as pessoas que assistem à gestante permitem que as coisas ocorram
naturalmente, uma vez que não exista qualquer razão real para qualquer tipo de
procedimento médico.
O alívio da dor é feito através de métodos naturais, tais como, massagens, duchas
quentes, acupuntura, mocha, imersão em banheira de água quente e, principalmente, há
uma postura de espera (deixar que o evento aconteça em seu próprio tempo) e presença
(estar atento e alerta para qualquer necessidade de intervenção), por parte da equipe que
assiste e acompanha um parto natural.
VBAC
Das siglas, Vaginal Birth After Cesarean (Parto Vaginal Após Cesárea). Pode ocorrer
após uma ou mais cesáreas prévias, transcorrendo naturalmente ou com alguma
intervenção.
PARTO HUMANIZADO
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Respeito ao protagonismo da mulher, ou seja, é dela o papel mais importante. As
decisões são tomadas em parceria com o profissional que a atende e não impostas
numa única direção.
Não são realizadas intervenções de rotina, ou programadas. As intervenções só
ocorrem se forem imprescindíveis.
A necessidade ou não de intervenção é avaliada de acordo com as mais recentes
evidências científicas e não com base na experiência pessoal do médico ou no que
determina a rotina hospitalar.
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O MOVIMENTO DE H UMANIZAÇÃO DO P ARTO
Porém, a posição ginecológica nem sempre é a melhor posição para parir, uma vez que a
bacia fica imobilizada o que causa desconforto durante o trabalho de parto.
Desde então, os partos têm sido tratados como enfermidades e é dessa forma que estão
arraigados à nossa cultura ocidental, sendo quase impensável uma mulher desejar ter um
parto fora de uma instituição hospitalar.
Não que a tecnologia seja ruim, mas “para usar a tecnologia em benefício das
parturientes é necessário estabelecer uma aproximação humana que permita conhecer
cada mulher em particular.” (Gutman, 2007)
Da mesma forma, o primeiro contato entre mãe-bebê tem sido maculado. De acordo com
as práticas médicas atuais, os primeiros minutos de vida dos recém-nascidos não
pertencem à mãe, mas sim à equipe do hospital que “precisa” cumprir um protocolo de
procedimentos para avaliar as condições físicas do bebê.
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Entretanto, sabe-se que na imensa maioria das vezes, quem determina o início do
trabalho de parto é o bebê, quando seu pulmão, que é o último órgão a amadurecer,
passa a produzir substância surfactante, que cai no líquido amniótico e dispara uma
reação no corpo da mulher que envia uma mensagem para o cérebro que “entende”,
então, que ela deve entrar em trabalho de parto. Portanto, enquanto a mulher não entrar
em trabalho de parto, o bebê não estará pronto.
A prática obstétrica atual tem incentivado as gestantes a realizar uma cirurgia assim que
ela completa 38 semanas de gestação, mas é sabido que, uma gestação, não raro, pode
chegar até 42 semanas. Isso porque não podemos precisar a data da concepção, e
também porque o tempo de desenvolvimento de cada ser humano pode variar um pouco
com relação à média.
O que temos visto hoje é um número considerável de gestantes buscando cada vez mais
informações a respeito do parto, unindo-se em comunidades nas redes sociais em busca
de apoio e esclarecimento, além de um movimento forte de mães que tiveram seus filhos
de partos naturais, deixando seus relatos na internet para inspirar outras mães a trilharem
o mesmo caminho, são os chamados Relatos de Parto.
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No Brasil poucos são os médicos que realizam partos naturais. De fato, em países como
a Holanda os partos não são assistidos por médicos convencionais, mas sim por
parteiras.
Outro profissional cada vez mais presente na composição de uma equipe humanizada
são as doulas, palavra grega que significa “aquela que serve”. São mulheres,
acompanhantes de parto, que oferecem suporte afetivo, físico, emocional e informativo
para as gestantes. Esse suporte pode ser dado desde o decorrer da gestação, passando
pelo trabalho de parto e após o nascimento, durante o pós-parto.
“Cada nascimento nos remete ao nosso, aos filhos que tivemos, aos que não tivemos, aos que gostaríamos
de ter, aos que perdemos. E um fato tão comovente precisa ser acompanhado por pessoas capazes de se
envolver emocionalmente, além de conhecer e saber lidar com algumas técnicas que possam ajudar o
nascimento. (...) Acompanhar um parto da posição profissional não é o mesmo que dar assistência a uma
prática médica de qualquer outra ordem.” (Gutman, 2007)
Uma equipe humanizada de assistência ao parto deve ir muito além de uma autoridade
médica. Deve ser composta por pessoas e profissionais capazes de respeitar as vontades
da parturiente, dar-lhe apoio, transmitir-lhe confiança e preservar sua intimidade. Mais do
que assistência médica, uma mulher que está dando à Luz necessita de suporte psíquico-
emocional e de orientação espiritual.
Os valores que devem pautar a conduta da equipe de parto estão resumidos numa
citação do Dr. Donald W. Winnicott em seu livro “Os bebês e suas mães” (1987): “há
processos naturais que constituem a base de tudo que está ocorrendo, e nosso trabalho
enquanto médicos e enfermeiras só será apropriado se respeitarmos e facilitarmos estes
processos naturais.” Ou seja, o valor primordial que as pessoas que dão assistência ao
parto devem assumir é, essencialmente, o respeito à Natureza.
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A N ORMOSE DA C ESARIANA
O termo normose é um neologismo cunhado por Jean Yves-Leloup e Pierre Weil para
definir a patologia da normalidade.
“A normose pode ser definida como o conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de
pensar ou de agir que são aprovados por consenso ou pela maioria de uma determinada sociedade e que
provocam sofrimento, doença e morte. Em outras palavras, é algo patogênico e letal sem que seus autores
e atores tenham consciência de sua natureza patológica.” (Weil, Leloup, & Crema, Normose - A patologia da
normalidade, 2003)
Dito isso, a prática da cesariana hoje no Brasil pode ser considerada uma prática
“normótica”. Trata-se de uma normose específica, pois é consenso da classe médica em
algumas regiões do país e, também, nas classes mais favorecidas economicamente.
Por mais que a OMS – Organização Mundial de Saúde – considere aceitável uma taxa de
15% de cesarianas, existe no Brasil um consenso em torno desta normalidade de se
praticar a cesárea, ainda que as evidências científicas apontem que o parto natural é
quase três vezes mais seguro que uma cirurgia abdominal para extração do bebê.
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Segundo pesquisa feita com 107 mil mulheres asiáticas, quando a criança nasce por meio
das cesáreas sem indicação por quesitos médicos, a mortalidade da mãe, a necessidade
de fazer transfusão de sangue e o encaminhamento dos bebês após o nascimento para
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) são 2,7 vezes com mais frequentes.2
Nos quatro primeiros meses de 2011, foi registrada na Cidade de São Paulo, uma taxa de
89,18% de cesarianas. Sendo que, em algumas maternidades, a taxa de cesarianas
ultrapassa os 90%. Como é o caso do Hospital e Maternidade Santa Joana, recordista em
cesáreas, com uma taxa de 93,18%.4
Ao longo das últimas décadas, a classe médica tornou-se inapta a acompanhar um parto
natural. A prática de assistência ao parto, quando vaginal, é altamente intervencionista.
Adicionado a isto, a conveniência de agendamento de dia e horários que um parto
cirúrgico permite e também, a desconexão das mulheres contemporâneas com o seu
próprio corpo e com a natureza, contribuem para que esta normose se instaure na
sociedade brasileira.
Abaixo apresentamos uma lista de indicações reais e fictícias para uma cesariana,
elaborada pela Dra. Melania Amorim – médica obstetra e pesquisadora associada ao
2
Fonte: http://delas.ig.com.br/saudedamulher/parto+natural+e+tres+vezes+mais+seguro/n1237535613594.html - data:
15/01/2010, acessado em: 11/03/2012.
3
Fonte: Folha Online - http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1009189-cesareas-superam-partos-normais-pela-primeira-
vez-no-pais.shtml - data: 20/11/2011, acessado em 11/03/2012.
4
Fonte: Prefeitura de São Paulo: Sinasc (Sistema Nacional de Nascidos Vivos)
http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//cgi/deftohtm.exe?secretarias/saude/TABNET/SMS/nasc_sp.def - acessado em 11/02/2012.
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Grupo de Gravidez e Nascimento da Biblioteca Cochrane – de acordo com as evidências
científicas mais recentes5:
5
Fonte: http://guiadobebe.uol.com.br/
22
o HIV-AIDS (cesariana eletiva indicada se HIV + com contagem de CD4 baixa
ou desconhecida e/ou carga viral acima de 1.000 cópias ou desconhecida);
em franco trabalho de parto e na presença de ruptura de membranas,
individualizar casos.
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o Baixo ganho ponderal materno/mãe de baixo peso
o Obesidade materna
o Gastroplastia prévia
o Bebê “grande demais” (macrossomia fetal só é diagnosticada se o peso é
maior ou igual que 4kg e não indica cesariana, salvo nos casos de diabetes
materno com estimativa de peso fetal maior que 4,5kg. Não se justifica
ultrassonografia a termo em gestantes de baixo risco para avaliação do peso
fetal).
o Bebê “pequeno demais”
o Cesárea anterior
o Plaquetas baixas
o Chlamydia, ureaplasma e mycoplasma
o Problemas oftalmológicos, incluindo miopia e descolamento da retina
o Edema de membros inferiores/edema generalizado
o “Falta de dilatação” antes da fase ativa do trabalho de parto
o Gravidez superdesejada (motivo pelo qual os bebês de proveta aqui no
Brasil muito raramente nascem de parto normal)
o Gravidez não desejada
o Idade materna “avançada” (limites bastante variáveis, pelo que se observa,
mas em geral refere-se às mulheres com mais de 35 anos)
o Adolescência
o Prolapso de válvula mitral
o Cardiopatia (sendo que o melhor parto para a maioria das cardiopatas é o
vaginal)
o Diabetes
o Bacia “muito estreita”
o Mioma uterino
o Parto “prolongado” ou período expulsivo “prolongado” (também os limites
são muito imprecisos, dependendo da pressa do obstetra).
o “Pouco líquido”
o Artéria umbilical única
o Ameaça de chuva/temporal na cidade
o Obstetra não sai de casa à noite devido aos riscos da violência urbana
o Fratura de cóccix em algum momento da vida
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o Conização prévia do colo uterino
o Eletrocauterização prévia do colo uterino
o Varizes na vulva e/ou vagina
o Constipação (prisão de ventre)
o Excesso de líquido amniótico
o Anemia
o Data provável do parto (DPP) próximo a feriados prolongados e datas
festivas
o Trombofilia
o História de trombose venosa profunda
o Bebê profundamente encaixado
A Dra. Eleanor Madruga Luzes, em sua tese de doutorado denominada Ciência do Início
da Vida, publicada pelo Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFRJ em 2007,
escreve sobre os resultados de pesquisas realizadas entre o uso da anestesia, seja nas
cesarianas ou nos partos vaginais, e o índice de drogadição destes indivíduos no decorrer
de sua vida.
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Muitos dos recém-nascidos, por menores que sejam as doses de anestésicos ministrados,
acabam entrando em contato com estas substâncias através do cordão umbilical, tendo
como sua primeira experiência de vida extra-uterina, uma sensação de torpor, de
anestesia dos sentidos, sensações esta que o indivíduo tenderia a buscar vivenciar
novamente no seu futuro.
O nascimento tornou-se um evento social, onde já não se espera mais a natureza concluir
o seu ciclo, para que o bebê venha ao mundo.
A mídia também tem sua parcela de contribuição e, neste sentido, precisamos também
educar os meios de comunicação, afinal, a imagem coletiva que temos e fazemos do
parto é uma imagem violenta, de sofrimento e ameaçadora.
“Atualmente, quase todas as mídias são utilizadas como veículo de transmissão da normose, de um
paradigma esgotado, da mentalidade masculinista, de uma cultura estreita e violenta” (Weil, Leloup, &
Crema, Normose - A patologia da normalidade, 2003)
Ainda que conseguíssemos reverter a prática médica atual e a imagem coletiva que existe
acerca do parto vaginal, haveria uma necessidade ainda maior de preparar as mulheres
para a experiência do parto natural.
A falta de conhecimento da mulher com relação ao seu corpo físico e a sua desconexão
com as dimensões emocionais e intuitivas, com seus aspectos instintivos e viscerais,
afeta sobremaneira a forma como ela lidará com as experiências decorrentes da
gestação, do parto e da maternidade.
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A D ESSACRALIZAÇÃO DO N ASCIMENTO
O nascimento de um novo ser humano vem sendo tratado como um evento social. Além
de todo o mercado voltado para gestantes e bebês, há ainda um uso exacerbado da
tecnologia para suportar o evento do nascimento. São ultrassonografias 3D para ver o
rosto do bebê dentro da barriga, filmagem da cirurgia inclusa no pacote da maternidade,
foto do bebê na galeria de recém-nascidos do hospital. Estamos tendo os nossos bebês
como vamos ao mercado ou ao shopping: entramos e saímos de lá com o nosso objeto
de desejo no colo.
Vera Saldanha ainda lembra que o que define o sagrado é a consciência de uma
transcendência. E que sagrado “não só quer dizer aquilo que não se pode tocar sem se
sujar, mas também o que não pode ser tocado sem ser sujado”. (Saldanha, 2008)
Que macula poderia ser maior, diante do evento do nascimento do que uma cesariana
eletiva (com data e hora marcadas), afinal esta prática nada mais é do que um
procedimento cirúrgico realizado em um órgão (útero) em sua condição mais saudável.
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Sob esta ótica, algumas condutas adotadas durante o parto, causam de fato uma ferida
no corpo e na vida da mulher que, infelizmente, dado a magnitude do evento do
nascimento, em qualquer circunstância, acaba ofuscando a brutalidade destes
procedimentos.
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O C OMPLEXO DE J ONAS NA G RAVIDEZ
Todas as mulheres possuem, em algum nível, medo do parto ou, medo das dores do
parto. Para algumas delas, esse medo é tão grande e profundo que chegam a optar por
agendar uma cirurgia de grande porte para “não precisarem sentir nada” no momento do
nascimento do seu filho.
Mas, o que há por detrás dessa recusa a sentir as “dores” do parto? O que há por detrás
do medo do parto, ou do medo das dores do parto? Quais são as ameaças reais e
imaginárias que assombram estas futuras mães?
“Maslow e a psicologia humanista fazem de Jonas o arquétipo do homem que tem medo
da realização” (Leloup, 1996).
“Jonas é alguém que sente nele asas para voar, um desejo de espaço, um desejo de infinito, mas não tem
coragem. Ele apara suas asas, para continuar adaptado à sociedade na qual ele se encontra e que o proíbe
de ir ao outro, de ir ao inimigo, de ir ao diferente.” (Leloup, 1996)
29
“O livro de Jonas nos convida a escutar em nós mesmos um desejo mais profundo do que todos esses
desejos que foram projetados em nós.” (Leloup, 1996)
Parece óbvio, mas o que as mulheres, enquanto gestantes, se esquecem, é que para
tornarem-se mães, terão de se despedir de quem eram, despedir-se da imagem de
gestante que carregaram, terão de dizer adeus àquela mulher que adentrou em trabalho
de parto, ou seja, terão de passar por um processo de morte e renascimento. Assim como
a terra fértil permite ser rompida pela semente para gerar a vida, a gestante terá de se
deixar romper para dar à luz.
Eis então o “chamado” que as gestantes tanto se recusam a escutar: romper com esta
aparente solidez. Deixar de ser para tornar-se. Abrir mão de ser um único Ser para tornar-
se um Ser, em dois, ou três, ou quatro, ou tantos seres quantos filhos ela vier a ter. Eis
então o chamado para viver com plenitude a experiência mais importante de sua vida. O
chamado para a renovação, para a construção de um novo Eu, mais completo, mais
esclarecido, mais amoroso. Um Eu mais autorrealizado.
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O MEDO DO SUCESSO
Sigmund Freud dizia que, “para algumas pessoas, o sucesso equivale a uma morte
simbólica do genitor do mesmo sexo”. Nós temos um medo inconsciente de humilhar
nossos pais, quando conseguimos alguma coisa além do que eles conseguiram. (Leloup,
1996)
Recordando que, uma boa parte das mulheres de hoje em idade reprodutiva nasceram de
cesariana, ter o seu próprio filho de parto natural seria uma espécie de superação da
própria mãe. E, neste processo de superação, estaria a gestante vivenciando a morte
simbólica de sua genitora.
Neste sentido, desejar (e ter) um parto natural, motivada pela vontade de transcender o
ego, pode suscitar um desejo por algo imerecido, afinal, em nossa cultura judaico-cristã o
parto é visto como uma espécie de “punição” pelo ato “pecaminoso” da concepção que se
deu através da relação sexual.
O MEDO DA MUDANÇA
Ainda que a nível consciente, todas ou quase todas as gestantes saibam que a chegada
do recém-nascido irá provocar mudanças significativas em sua vida, seja no âmbito
afetivo, social e/ou profissional, a nível inconsciente, o abandono dos hábitos antigos, a
perda do conhecido, cria em algumas pessoas um clima intolerável de insegurança
mesmo que estas mudanças crie uma abertura para uma existência melhor e mais feliz.
O MEDO DO SABER
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O medo do saber, ou medo de conhecer, é o medo de descobrir verdades
desconcertantes dentro da gente mesmo. É a necessidade de proteção que evita o
encontro com o conhecimento de si mesmo.
O MEDO DA AUTENTICIDADE
O MEDO DE AMAR
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Pode parecer contraditório, mas o medo de amar existe no Universo da gestação, na
medida em que as gestantes são tomadas pelo temor de deixar a vida atravessar-lhes o
ventre, em direção ao encontro. O medo de amar é o medo do encontro entre mãe e filho.
“Amar é uma alquimia do encontro que ninguém pode ensinar a ninguém, e que ninguém aprende sozinho.
Talvez, na grande magia dos caminhos, o milagre maior seja o do encontro. Estamos aqui porque ainda não
sabemos amar vasta e totalmente.” (Weil, Leloup, & Crema, Normose - A patologia da normalidade, 2003)
“Para mim, eu estava com medo. Medo, medo. Medo de ser mãe, de deixar de ser livre, de
deixar de ser a (teórica) gostosona, medo da responsabilidade. Tive medo de liberar. Sabe quando a gente
trava o gozo? Travei. Veio a imagem do meu pai (tive culpa, Freud?). E também me veio a imagem de um
cocar vermelho. Tudo isso durante mais de duas horas. As contrações rarearam e eu não tinha coragem de
tocar na minha barriga. Veja só, resolvi pensar se eu queria ser mãe naquela hora. Fechava os olhos e a
Vilma (parteira) me chamava para a terra, eu estava na terra, mas em outra.”
(Trecho extraído do relato de parto de parto de Márcia Baltazar, mãe de Cauré, nascido de Parto Natural
Domiciliar)6
6
Fonte: http://www.maternidadeativa.com.br/relato24.html, acessado em 15/02/2012.
33
A T EMIDA D OR DO P ARTO
Na época de nossas avós, as informações e impressões sobre medo e dor no parto eram
passadas oralmente, nas rodas de tias, primas e comadres. Sentadas à mesa da cozinha,
elas falavam sobre como vivenciaram e perceberam suas dores e seus medos.
Segundo o Dr. Wilson Ribeiro, “As dores do parto desaparecem na medida em que a
mulher as eliminar de sua mente. Elas não são nada mais do que HI, heranças
informativas negativas, vindas de um condicionamento que leva o ser humano a este
permanente estado de sofrimento.” (Ribeiro, 1996)
34
Em contrapartida, as histórias de sucesso de partos, como experiências místicas,
poderosas e prazerosas, deixam de ser transmitidas ao longo do tempo, não somente em
razão do modelo de assistência ao parto atualmente instaurado em nossa sociedade (um
modelo tecnocrata, industrial, voltado para o médico e não para a mulher), mas também
em razão de uma cultura derrotista onde, damos muito mais valor e atenção as
experiências negativas do cotidiano, ao invés de enaltecermos e nos orgulharmos de
nossas experiências de sucesso.
É necessário trabalhar com as gestantes, as imagens internas que elas possuem acerca
da dor do parto. Somente através da ampliação da percepção destas mulheres com
relação a dor é que elas poderão reconhecer a dor do parto como uma dor integrativa.
“A dor tão desprestigiada nos tempos modernos permite que nos desliguemos do mundo pensante,
percamos o controle, esqueçamos a forma, o correto. A dor é nossa amiga, nos leva pela mão até um
mundo sutil, ali onde o bebê reside e se conecta conosco. Para entrar no túnel da ruptura, é indispensável
abandonar mentalmente o mundo concreto. Porque parir é passar de um estágio a outro. É um rompimento
espiritual. E, como todo rompimento, provoca dor. O parto não é uma enfermidade a ser curada. É uma
passagem para outra dimensão.” (Gutman, 2007)
35
P SICOLOGIA T RANSPESSOAL E PARTO N ATURAL
“Só com amor uma pessoa pode adentrar numa viagem ao desconhecido,
chegar a um limite imaginário entre a vida e a morte
e se atrever a se atirar.”
(Laura Gutman)
A Psicologia Transpessoal é a ciência que estuda o ser humano na sua totalidade e suas
relações com os diversos aspectos da vida. Transpõe a fronteira do EU para integrá-lo ao
COSMO, ao conceito de UNIDADE, DIVINO, SAGRADO.
36
Da mesma forma, o movimento de humanização do parto surge como uma forma de
valorizar este poder e escolha da gestante, sua liberdade e sua intimidade. É um
movimento pautado no valor do indivíduo (gestantes) e em suas experiências.
Neste sentido, a busca das gestantes por um parto natural e humanizado, seria uma
busca não só pelo melhor modelo de assistência ao parto e nascimento, mas
principalmente, seria uma busca pela autorrealização, um caminho a percorrer para sua
individuação, um reencontro com o sagrado, com a Unidade, com a manifestação maior
da Criação e do Cosmo, um contato com o ato primordial de colocar uma vida no planeta.
Laura Gutman (2007) descreve o parto como uma experiência mística, como o evento
mais importante da vida sexual das mulheres e, sendo uma experiência sexual, as
mulheres têm o direito de vivê-la em sua própria intimidade respeitada sua história de
vida, suas necessidades e seus desejos pessoais.
“A intimidade, em termos gerais é uma canção do espírito, que convida duas pessoas a compartilharem seu
espírito. É uma canção que ninguém pode resistir. Acordados ou dormindo, em comunidade ou sozinhos,
ouvimos a canção. Não conseguimos ignorá-la”. (Somé, 2007)
37
Mais do que uma experiência sexual e íntima, o parto natural pode ser considerado como
uma experiência culminante. Abraham Maslow conceitua como experiências culminantes
uma generalização dos melhores momentos do ser humano, os mais felizes da vida, das
experiências de êxtase e de máximo gozo. (Saldanha, 2008)
“Geralmente elas (as experiências transpessoais) provém de profundas experiências estéticas, como o
êxtase criativo, momentos de amor maduro, experiências sexuais perfeitas, amor paternal e maternal,
experiências de parto natural, contato com a natureza, entre outras.” (Saldanha, 2008)
Em seus estudos, Maslow constatou que indivíduos com este tipo de vivência eram mais
produtivos, enfrentavam o desafio da vida cotidiana com esperança, entusiasmos e
realização. Vivenciar o aspecto do transcendente era importante e até mesmo central na
vida deles. Pensavam de modo mais holístico, transcendendo dualidades como certo e
errado, bem ou mal, passado e presente ou futuro e eram mais conscientes do sagrado e
de todas as coisas. (Saldanha, 2008)
No universo do parto, o termo que vem sendo utilizado para designar este estado
diferenciado de consciência que a gestante atravessa durante o trabalho de parto é
“Laborland”, em português, “Partolândia”.
No original em inglês
“Laborland is a metaphysical place that midwives believes all (or almost of all) mothers enter "to uncover the
power to birth". It is located deep within each woman, though not all find it during labor because of inhibiting
effects of medications that pull pain and "fear of letting go of conscious mind". Midwives know that a mother
38
is in laborland when she acquires "a far off look", stop communicating during the contractions, and becomes
"primal" (read intuitive) in her birth song.” (Cheyney, 2011)
“Esta pulsão é uma força que, quando não é impedida, expressa-se naturalmente, é saudável, benéfica
para o indivíduo e seu ambiente, é esclarecedora, promove o autoconhecimento em sua concepção mais
ampla.” (Saldanha, 2008)
Michel Odent em seu livro “O Camponês e a Parteira”, lembra que: “quando uma mulher
está parindo sozinha, sem nenhuma medicação, chega um momento em que ela tem uma
tendência óbvia de isolar-se do nosso mundo, como se ela estivesse entrando em outro
planeta”.
“Muitas mulheres, durante o trabalho de parto, passam por uma mudança de consciência capaz de apagar
os acontecimentos à volta, e isto é tanto mais fácil de ocorrer, quanto menos o meio esteja pautando
comportamentos para ela e é fundamental perceber que estas mulheres não estão desvalidas, mas
absolutamente capazes de encontrar as melhores e mais fisiológicas posições, e isto deliberadamente. O
estado alterado de consciência é, nesta ocasião, uma plena consciência de corpo e alma, um modo real de
sabedoria natural que lhes permite saber segurar seus bebês, do mesmo modo que os bebês sabem buscar
o mamilo da mãe.” (ODENT apud LUZES, 2007)
Nesta mesma linha de raciocínio, Maslow constata que as pessoas que vivenciam
experiências culminantes (ou experiências transpessoais) se beneficiam delas com mais
frequência e possuem uma clara tendência para a autorrealização. Dessa forma, ele
39
classifica tais experiências como experiências supernormais ao invés de subnormais ou
anormais.
Podemos dizer que, ao atravessar a “Partolândia”, tendo apoio, incentivo e respeito a este
momento, a mulher pode vivenciar a dimensão mais saudável de si mesma, uma
experiência transcendente que a conduz para um caminho de grandes transformações,
tornando-a uma pessoa mais integrada, mais saudável, mais espontânea, mais
perceptiva, mais em união com o todo; não só pelo evento do nascimento de seu filho e
pelo exercício da maternidade que irá se desdobrar futuramente, mas por ter vivenciado
todas as emoções, sensações, intuições e percepções que emergiram antes, durante e
logo após o trabalho de parto.
Talvez seja tempo de nos permitirmos abraçar esta dimensão superior, resgatando o
caráter sagrado da vida e do nascimento, que nada tem a ver com religião, mas sim com
um olhar mais amplo, que busca estimular e promover nas gestantes uma experiência de
Parto Transpessoal.
40
U MA B REVE P ESQUISA SOBRE P ARTO E T RANSPESSOALIDADE
Com base nas reflexões apresentadas acerca do parto como uma experiência
transpessoal, a autora do presente trabalho elaborou uma pesquisa quantitativa, para
avaliar se realmente e de que forma, a experiência do parto pode ser considerada uma
experiência transpessoal em razão da presença de algumas características na percepção
desta realidade e se, em função do tipo e local de parto, haveria alguma diferenciação na
vivência desta experiência.
No questionário, além das informações relacionadas à idade atual, idade no parto, tipo e
local de parto, as respondentes eram convidadas a relembrar seus partos e, numa escala
de um a cinco, classificar as afirmações apresentadas, de acordo com a vivência ou não
durante o parto.
41
II. Luz Noumenal – caracterizada pela percepção / visão de uma luz infinita,
eterna, onipotente, onipresente e onisciente.
III. Inexistência do Tempo – caracterizada pela sensação de desaparecimento
do tempo passado, presente e futuro durante o parto.
IV. Inefabilidade – caracterizada pela ausência de palavras significativas para
descrever o momento do parto.
V. Caráter Noético – caracterizada pela percepção de que a experiência do
parto pode ser considerada muito mais real do que qualquer outro evento do
cotidiano.
VI. Aquisição de Conhecimentos – caracterizada pela sensação de aquisição
rápida de novos conhecimentos essenciais à compreensão da realidade.
VII. Contato com Seres de Outra Dimensão – caracterizada pela experiência de
contatar ou ser contatada por seres de outra dimensão tais como anjos,
animais de poder, guias espirituais e etc.
VIII. Caráter Sagrado e Divino – caracterizada pela classificação da experiência
como algo sagrado e divino
IX. Estado de Graça e Êxtase – caracterizada pelo sentimento de êxtase e
gratidão.
X. Amor e Compaixão Infinitos – caracterizada por uma vontade, após o parto,
de querer ajudar a humanidade a sair da ignorância e aliviar o sofrimento de
todos os seres.
XI. Caráter Transformante – caracterizada por uma transformação, após o
parto, dos valores: abandono e desapego dos valores materiais e cultivo
maior dos valores espirituais.
XII. Perda do Medo da Morte – caracterizada pela perda do medo de morrer.
42
Q UESTIONÁRIO APLICADO
a. Abaixo de 25 anos
b. De 25 a 29 anos
c. De 30 a 34 anos
d. De 35 a 39 anos
e. Acima de 40 anos
Qual tipo de parto você teve? (Caso você tenha mais de um filho considere sua ultima
experiência de parto)
a. Cesariana
b. Parto Normal (com alguma intervenção e/ou anestesia)
c. Parto Natural (sem intervenção e sem anestesia)
43
c. Outros
Sensação de totalidade - "eu era o todo, estava dentro do todo e tinha o todo dentro de
mim”.
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
A experiência do parto pode ser considerada como sendo muito mais real do que
qualquer outro evento do cotidiano.
1 2 3 4 5
44
Sensação / percepção de aquisição rápida de novos conhecimentos essenciais à
compreensão da realidade.
1 2 3 4 5
Contato com seres de outra dimensão (anjos, animais de poder, mestres espirituais, etc).
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
1 2 3 4 5
45
Discordo Totalmente Concordo Plenamente
1 2 3 4 5
46
TABULAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA
Dados da Amostra:
47
Figura 3 – Tipo de Parto
48
Principais Achados:
Ao calcularmos a média das notas atribuídas para cada uma das afirmações
apresentadas verificamos que, à exceção das afirmações relacionadas com “contato com
seres de outra dimensão”, “luz noumenal” e “perda do medo da morte”, todas as demais
afirmações tiveram uma nota acima de 3,5 pontos, o que caracteriza a concordância das
entrevistadas com as afirmações apresentadas.
Estado de
Amor e Caráter Contato Novos Perda do
Caráter Caráter graça, Inexistência Luz Não
Compaixão sagrado e Seres Outra Inefabilidade Conhecimentos Medo da
Noético Transformante êxtase e do Tempo Noumenal Dualidade
Infinitos divino Dimensão Imediatos Morte
gratidão
3,81 4,36 4,02 4,12 2,11 4,41 4,28 4,07 2,88 3,76 4,09 2,41
49
Figura 7 – Taxa de Concordância com as Afirmações
Com base no cálculo do NPS, podemos constatar que, na média geral, a taxa de
concordância de que a experiência do parto promove um estado de graça, êxtase e
gratidão, foi de 75%; a taxa de concordância das entrevistadas de que a experiência do
parto não pode ser traduzida em palavras (caráter inefável) foi de 66%; que a taxa de
concordância de que a experiência do parto tem caráter transformante foi de 66% e assim
sucessivamente, conforme mostram o gráfico e a tabela acima.
No caso das experiências caracterizadas por “contato com seres de outras dimensões,
sensação”, “percepção de luz noumenal” e “perda do medo da morte” a taxa de
concordância são negativas (-47%, -3% e -32%) respectivamente. Dessa forma, podemos
dizer que estas três características, encontradas em outras experiências de caráter
transpessoal, não são comuns nas experiências de parto. Entretanto, como poderemos
observar mais adiante, a taxa de concordância com as afirmações de “sensação e
percepção da luz noumenal” e de “perda do medo da morte”, irá variar consideravelmente
em razão do tipo e local de parto.
50
Observando a taxa de concordância das afirmações, por tipo de parto, podemos constatar
que as mulheres que tiveram Parto Natural, são as que mais concordam com as
afirmações que descrevem a vivência do parto como uma experiência de caráter
transpessoal.
Estado de
Amor e Caráter Contato Novos Perda do
Caráter Caráter graça, Inexistência Luz Não Tipo de
Compaixão sagrado e Seres Outra Inefabilidade Conhecimentos Medo da
Noético Transformante êxtase e do Tempo Noumenal Dualidade Parto
Infinitos divino Dimensão Imediatos Morte
gratidão
37,2% 76,7% 55,8% 65,1% -41,9% 69,8% 62,8% 44,2% -7,0% 25,6% 53,5% -37,2% Cesariana
Parto
55,8% 76,9% 61,5% 71,2% -50,0% 80,8% 76,9% 76,9% -3,8% 65,4% 71,2% -30,8%
Natural
Parto
27,3% 54,5% 48,5% 51,5% -48,5% 72,7% 51,5% 54,5% 3,0% 36,4% 57,6% -27,3%
Normal
“De que importa o mundo lá fora para a mulher que está parindo, se todo o mundo é sentido como
estando dentro dela? Sinto que tudo o que há de valor no universo estava dentro de mim naquele
momento: minha filha estava se esforçando, trabalhando para nascer, ali, junto a mim. Por isso me
51
brotou na cabeça a frase: É preciso enlouquecer para parir.” (Trecho extraído do Relato de Parto de
Sabine, mãe de Lavínia nascida de Parto Natural Hospitalar)7
“De repente meu marido apareceu na sala. Mais tarde (não consigo precisar o tempo, pra mim tudo
se passava numa dimensão em que os minutos marcados pelo relógio não têm vez) chegaram a
Dra. Andrea e a Dra. M.” (Trecho Extraído do Relato de Parto de Fabíola Glenia Paschoal, mãe de
8
Glenda, nascida de Parto Natural Hospitalar)
“Ter um filho do jeito que a natureza previu é fazer parte de algo maior. É finalmente estar
conectada com uma sensação de perfeição que eu nunca antes senti e, suspeito que não existam
oportunidades como essa na vida. Não é vontade minha militar pela causa, mas o pós VBAC me
trouxe um aprendizado: tendo experimentado a melhor das sensações beira o impossível não
desejar que outros a experimentem também.” (Trecho extraído do Relato de Parto de Anne Rammi,
mãe de Tomaz, nascido de Parto Normal Hospitalar)9
“Hoje, racionalizando sobre o irracionalizável, percebo que enquanto eu vivi o expulsivo meu corpo
e minha mente estavam finalmente juntos, tão juntos que se tornaram uma coisa só, e isto foi só
durante o expulsivo.(...) Depois de tentar me expressar com este monte de palavras, percebo que
não existem palavras para descrever o que é parir”. (Trecho extraído do Relato de Parto de Marina
10
Ferreira, que teve seu bebê de Parto Natural)
52
que a média geral. Com base nisso, podemos afirmar que as mulheres que tiveram parto
normal são as que mais vivenciaram a experiência de contato com uma luz noumenal.
Quanto à análise comparativa entre o local de parto, é importante deixar claro que a
análise só pode ser feita entre as mulheres que tiveram Parto Natural, uma vez que, os
outros dois tipos de parto (Normal e Cesariana), necessariamente transcorreram em uma
instituição hospitalar.
Na comparação das experiências vivenciadas por mulheres que tiveram parto natural em
casa e no hospital, podemos observar que a vivência da experiência e percepção da
realidade possui algumas diferenciações.
53
À exceção das afirmações que caracterizam o caráter noético, a percepção de luz
noumenal e a aquisição rápida de novos conhecimentos, todas as demais afirmações
tiveram maior índice de concordância entre as que tiveram parto natural domiciliar.
Não dualidade: 26 pontos acima da média geral e 10 pontos a mais do que as que
tiveram parto natural no hospital,
Amor e compaixão infinitos: 20 pontos acima da média geral e 12,5 pontos a mais
do que parto natural no hospital,
Caráter sagrado e divino: 15 pontos acima da média geral e 17,3 pontos a mais do
que as que tiveram parto natural no hospital,
Perda do medo da morte: apesar de ser uma das afirmações que obteve o maior
grau de discordância, quando observamos esta afirmação sob o ponto de vista do
tipo e local de parto, constatamos que o parto natural domiciliar é o que mais
promoveu a perda do medo da morte ficando 11 pontos acima da média geral; 6,5
pontos a mais do que as que tiveram parto normal; 16,4 pontos a mais do que as
que tiveram cesarianas e 18,5 pontos a mais do que as que tiveram parto natural
hospitalar.
Com base nos dados obtidos, podemos dizer que as mulheres que tiveram seus filhos por
Parto Natural Domiciliar são aquelas que mais concordaram em ter vivenciado uma
experiência transpessoal durante os seus partos.
Em contrapartida, as mulheres que tiveram seus filhos através de Parto Normal são as
que menos concordaram em ter vivenciado experiências deste tipo.
54
gestação e o movimento de humanização do parto, há uma relação bastante evidente
entre o nível de consciência da gestante com relação a si mesma e a sua “competência”
em dar à luz.
As mulheres que teve seus filhos de Parto Natural estariam num nível de apreensão da
realidade transpessoal que denominado consciente-competente. Ou seja, elas estiveram
conscientes de suas capacidades e limitações, sejam elas físicas, intelectuais, ou
emocionais, relacionadas ao dar à luz e foram assertivas (competentes) em sua
realização e na apreensão desta experiência.
Com relação àquelas que tiveram seus filhos de cesariana, podemos classificá-las num
nível de apreensão da realidade que categorizado como inconsciente-competente. Ou
seja, pouca consciência de suas capacidades e limitações, muitas vezes tomadas pelos
seus complexos e pelo estado normótico, porém, este desconhecimento de suas
potencialidades permite que elas, durante a cirurgia, vivenciem conteúdos transpessoais
de sua consciência.
Por fim, ao que sugere o resultado do presente estudo, aquelas mulheres que tiveram
seus filhos de Parto Normal (via vaginal, porém, com alguma intervenção e/ou anestesia)
podem ser classificadas num nível de apreensão da realidade inconsciente-incompetente
ou consciente-incompetente. Ou seja, independentemente do grau de consciência com
relação às suas capacidades e limitações, o conjunto de conhecimento, habilidades e
atitudes pessoais não foi suficiente para que tivessem uma experiência transpessoal
durante o parto.
“Chamaram o anestesista e fui caminhando pra sala de parto. Ele se apresentou, me explicou o
procedimento e nessa hora eu só queria que a dor fosse embora. Tive raiva, principalmente de mim. Pensei
55
que tudo estava acabado, eu entreguei meu parto nas mãos dos médicos. Entre uma contração e outra
senti a picada nas costas e foi feito o duplo bloqueio com a anestesia combinada raquidiana mais peridural.
A raquidiana age na hora e a peridural mantém um cateter para administração de outras doses se
necessárias. O anestesista me explicava e era gentil, eu só com raiva por ter cedido.
Depois disso, parte do meu trabalho de parto foi roubada. Eu saí da partolândia, onde tudo era intenso, tudo
acontecia, onde meu corpo trabalhava e fui para um estado onde não sentia mais nada. Não tinha mais dor,
não tinha mais contração, minhas pernas estavam dormentes. Tudo acabou. Eu estava sedada e sentia um
conforto que minha intuição dizia não ajudar em nada.”
11
(Trecho do Relato de Parto de Marina, mãe da Renata, nascida de Parto Normal Hospitalar)
Podemos afirmar que as intervenções como, uso de ocitocina sintética, episiotomia, uso
de anestesia e etc., no início do trabalho de parto, podem subtrair da mulher a capacidade
de viver a experiência do parto como uma experiência transpessoal, já que a cada
intervenção ela é “chamada” ao domínio da mente consciente e, se ela não conseguiu
adentrar num estado diferenciado de consciência, a cada intervenção esse acesso tornar-
se-á mais prejudicado.
“A peridural tem efeito sobre todos os hormônios do parto. Inibe a produção de β-endorfina e ao inibir este
hormônio, também bloqueia a vivência de mudança de consciência que ele promove. Quando a anestesia é
feita no pico de oxitocina, esta também é inibida, pois os receptores para ela foram também anestesiados e
este efeito persiste, mesmo quando as sensações tenham retornado, pois os nervos do sistema
proprioseptivo são mais lentos, além de serem eles os envolvidos com os receptores de oxitocina. A mulher
em trabalho de parto com peridural perde a concentração sobre suas poderosas contrações finais que são
fruto da noradrenalina e da oxitocina, do cortisol e do ACTH.” (Luzes, 2007)
De alguma forma estas mulheres sabem que, parir desta maneira (naturalmente em casa)
é uma forma possível de expressar-se no mundo, é uma maneira saudável de trazer seu
filho ao planeta, é uma maneira segura de dar À luz, tanto é que, no período de 2005 a
2010, enquanto que o número de nascimentos diminuiu 1,4% na cidade de São Paulo, o
número de partos domiciliares cresceu 29,5% no mesmo período segundo a Secretaria
11
Fonte: http://aimpostora.blogspot.com/2012/02/enfim-meu-relato-de-parto.html, acessado em 13/03/2012.
56
Municipal da Saúde. A maioria são mulheres de classe média alta que contratam uma
equipe humanizada para assisti-las em seus partos.12
Muitos médicos obstetras, assim como o Dr. Donald Winnicott, acreditam e apoiam o
parto natural domiciliar. Em seu livro “Os bebês e suas Mães”, o doutor Winnicott afirma:
“Pessoalmente, acho que devemos apoiar totalmente as mães que queiram dar à luz em
suas casas, e seria um fato lamentável se, na tentativa de propiciar os cuidados físicos
ideais chegasse uma época em que o parto em casa se tornasse inviável.” (Winnicott,
1987)
“(...) nenhuma mulher que teve filho em parto domiciliar resolveu, depois, ter um filho em uma instituição. As
experiências têm mais força e colorido e, em geral, mudam a família, a qual, na verdade, desempenha um
papel de pressão contrária ao parto domiciliar, cria que é de uma cultura fortemente dirigida pelo medo,
onde é mais comum que as pessoas se deixem guiar por ele do que pela consciência. E justo quando o
medo é o balizador das decisões, estas mulheres tendem a não se sair muito bem, pois se deixam
convencer para ir ao hospital, ressaltando experiências piores do que as que imaginam naquele lugar. Isto
ocorre porque, sendo elas mal informadas, acabam por acatar os procedimentos que já deveriam ter caído
por orientação da OMS ou da medicina baseada em evidência, afinal, hoje há muitos sites de orientação. A
mulher mais bem informada tende a perceber de outra forma os procedimentos considerados indevidos,
como agressão ou humilhação. Em outra mulher que nada sabe e que não espera nada diferente, o mesmo
processo acarretará outra vivência.” (Luzes, 2007)
12
Fonte: Jornal Agora de 22/05/2011
57
ABORDAGEM INTEGRATIVA T RANSPESSOAL APLICADA À P REPARAÇÃO PARA O
P ARTO N ATURAL
“Não temas. Não temas esta nova dimensão que se abre em ti e que vai se encarnar em ti. Tu conceberás
um filho. O que vais gerar vem do alto. Não tenhas medo. Não tenhas medo da presença do desconhecido,
que desce não somente em tua consciência, não somente em teu coração, mas também em teu corpo.”
(Anunciação de Maria por Jean-Yves Leloup)
58
O Conceito de Vida na transpessoal se caracteriza basicamente pelo aspecto da
atemporalidade. Neste conceito, tudo é vida, energia, forma de existência e passa pelo
processo contínuo de nascimento, morte e renascimento.
Vida, morte e renascimento são processos contínuos da existência, da criação, e por isso,
transcendem o aspecto biológico. Dessa forma, tudo o que “nasce”, “emerge”, “existe”,
seja um pensamento, uma emoção, um momento, uma crença, uma sensação, um
conceito, passa por este processo, além dele, através dele, e isso é Vida na
Transpessoal.
Na transpessoal o Ego é uma criação da mente humana, uma ilusão, que impõe uma
barreira e separa o Eu e o Outro. Porém, é essencial para a vida cotidiana, pois é
responsável pelo princípio da realidade.
No entanto, para vivenciarmos o Conceito de Unidade, não basta termos uma percepção
de nosso ego, precisamos “identificá-lo” e “isolá-lo”. Essa ilusão mental precisa estar “a
serviço” do Ser, para que possa ser utilizada de forma consciente em sua busca pela
transcendência, através da integração consciente das polaridades inerentes ao Ego.
Quando ocorre esta integração de polaridades, ocorre uma espécie de “morte do ego” e,
nesse momento, ocorre uma expansão/alteração do estado de consciência. É como se o
Ser, ocupasse todo o espaço deixado pelo Ego, sem que este último deixe de existir.
Quando passa por este “isolamento”, o próprio ego sofre um processo de renascimento
para uma nova percepção da realidade. A “morte do ego”, ou “integração das
polaridades”, e seu “renascimento”, pode se dar através do acesso aos diferentes estados
ou níveis de consciência.
59
Os estados, ou níveis de consciência simbolizam o caminhar das diferentes dimensões da
consciência. Percorrer este caminho norteia o processo, amplia e favorece a percepção
dos diferentes níveis de realidade.
É importante dizer que nem todos os estados alterados (ou diferenciados) de consciência
são transpessoais, embora todas as experiências transpessoais ocorram em estados
diferenciados de consciência.
60
Os dois eixos que constituem o aspecto dinâmico da transpessoal são o eixo experiencial
e o eixo evolutivo. Eles expressam os elementos do corpo teórico e as funções da psique,
de forma dinâmica e com inter-relações de distintos níveis e graus. O eixo experiencial é
representado pelo eixo x (horizontal) e o evolutivo pelo eixo y (vertical).
A Emoção (E) é essencial ao desenvolvimento do indivíduo, uma vez que é através dela
que agimos. A palavra emoção vem do latim emovere = e/ex, "fora”, “para fora" + movere,
"movimento, ação", "comoção" e "gesto". Diferente do sentimento, que determina o valor
da experiência, a emoção simplesmente é, acontece e reflete no corpo físico. Na
Abordagem Integrativa Transpessoal é fundamental observarmos tanto as emoções
negativas quanto as emoções positivas do indivíduo ressaltando esta última, a fim de que
ele possa identificar-se com os aspectos mais saudáveis do Ser.
61
A Sensação (S) é a função dos órgãos sensoriais, onde o indivíduo apreende a realidade
por meio dos sentidos. Há dois tipos de sensação, a concreta, baseada em idéias,
sentimentos e pensamentos e a abstrata, que reconhece e “destaca” imediatamente os
atributos da realidade.
Todas elas são igualmente importantes para o desenvolvimento do Ser e sua evolução.
Quando o indivíduo bloqueia ou se identifica fortemente com alguma destas funções, ele
se fragmenta, pois limita a sua vivência da realidade, excluindo os aspectos daquela
função que está bloqueando ou limitando-se apenas ao aspecto com o qual está
identificado.
62
A PREPARAÇÃO PARA O PARTO BASEADA NA ABORDAGEM INTEGRATIVA T RANSPESSOAL
Entretanto, com que qualidade este nascimento acontecerá? Ao tentar responder a esta
pergunta, não podemos nos restringir apenas ao nascimento do bebê, devemos ampliar a
nossa questão para o nascimento desta mãe. De que forma ela irá nascer? Qual o seu
nível de consciência com relação aos seus processos internos e externos? Quão
saudável esta mulher está física, mental, emocional e espiritualmente para cuidar de si
mesma e de um novo ser humano?
Muito além de uma experiência de parto natural humanizado, queremos promover uma
experiência transpessoal de parto. Mas, para isso é necessário que os níveis de
autoconhecimento, autoconfiança e de aprendizado destas mulheres se elevem. É
necessário que elas descubram como acessar dimensões mais elevadas de suas
consciências, é necessário que elas se desidentifiquem de suas mentes racionais, é
necessário que elas se tornem mais conscientes e mais competentes em sua capacidade
de viver, criar, gestar, parir e maternar.
63
Muitos são os medos que tomam conta da mente consciente e inconsciente de uma
gestante, ou melhor, de todos nós. Isso se deve basicamente à ausência de
autoconhecimento do próprio corpo físico e de nossos processos emocionais, psíquicos e
espirituais.
“Uma completa explicação do processo do parto e nascimento deveria ser dada à mãe pela pessoa em
quem ela depositou sua confiança, e a eliminação de informações assustadoras e incorretas que
eventualmente se interponham em seu caminho requer um longo tempo. A mulher saudável é a que mais
necessita disso e a que mais tem condições de utilizar-se da verdade da melhor forma possível.”
(Winnicott, 1987)
Mesmo que a gestante esteja ciente do que vai acontecer com seu corpo durante seu
trabalho de parto, se ela não tiver consciência das suas limitações, das suas sombras, do
seu processo de desprendimento, ela poderá enfrentar - em um nível mais sutil, seja ele
emocional ou espiritual - um exaustivo trabalho de parto. Esta situação que pode ser tão
ou mais insuportável do que as sensações de dor provocadas pelas contrações.
Portanto, é fundamental que a gestante esteja preparada para este desprendimento, para
este rompimento espiritual. A mente racional não reconhece este processo. Este processo
é do domínio da mente intuitiva, tão pouco utilizada e valorizada nos tempos atuais.
“O que Sarah J. Buckley chama de “nascimento em êxtase”, pode ocorrer quando a mulher dá à luz em um
ambiente privado, livre de distúrbios. Aí é possível que ela chegue a um estado alterado de consciência, sob
a orquestração hormonal que não foi alterada por eventos externos. Esta composição hormonal é a que
está presente quando se faz amor, ou quando se está em meditação, e esta experiência pode ocorrer em
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qualquer lugar que se tenha convertido em um lugar confortável para um nascimento. Isto pode ser
facilitado, também, quando quem cuida da mãe conhece esta dimensão e as necessidades da mulher para
chegar a este estado.” (Luzes, 2007)
Para que isso aconteça de forma saudável e prazerosa durante o trabalho de parto é
necessário que haja uma série de fatores internos e externos que, combinados,
oportunizarão esta transcendência.
Confiança na natureza;
Confiança em seu corpo e em si mesma;
Capacidade de integração de seus medos e receios mais profundos;
Capacidade de desidentificar-se de sua condição de gestante;
Capacidade de resolução de seus dramas e conflitos,
Imagem interna que possui com relação à dor e a sua predisposição física e
psíquica para suportá-la;
Entre outros.
Ambiente em condições favoráveis para que ela se sinta segura e acolhida, tanto
nos aspectos de infra-estrutura e segurança;
Equipe de atendimento e acompanhantes empenhados em estimular e incentivar a
entrada da parturiente neste estado diferenciado de consciência, respeitando-a em
suas vontades e oferecendo-lhe suporte físico e emocional.
“Um parto respeitado deveria ser a oportunidade de permitir que as mulheres vivessem as regressões
necessárias que facilitassem o desprendimento do corpo e de seu filho. E as manifestações regressivas são
impacientes. As mulheres talvez precisem chorar, gritar, pedir, rezar, se movimentar, conectar-se com as
recordações, enfim, usar a inteligência intuitiva que o ser humano foi desenvolvendo ao longo de milhões de
anos, para serem protagonistas ativas do melhor parto possível.” (Gutman, 2007)
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A proposta de trazer a abordagem integrativa transpessoal para os cursos de preparação
de gestantes é a de torná-las mais conscientes de si mesmas, de seus processos
internos, de sua pulsão para transcendência, de sua dimensão mais saudável. Através do
contato com a sua própria natureza, com sua mente intuitiva e com as forças e
potencialidades criativas presentes dentro de si.
Acreditamos que somente através de uma abordagem que promova a manifestação das
quatro funções psíquicas no eixo da experiência, através de procedimentos técnicos
vivências e dinâmicas de grupos seremos capazes de:
Trabalhar com grupos de gestantes, pais, familiares e pessoas envolvidas com o universo
da gestação parto e maternidade, sob a óptica da abordagem integrativa transpessoal,
objetiva propiciar a transcendência de cada indivíduo envolvido neste trabalho, contribuir
para uma sociedade melhor, transformando a forma de gestar e de nascer para então
transformarmos o mundo.
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P ROGRAMA V IVENCIAL DE PREPARAÇÃO PARA O P ARTO E MATERNIDADE
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experiência única que alavanque as forças individuais através do despertar da
consciência e do próprio processo gestacional e puerperal.
Toda a estrutura dos encontros, desde a abertura, passando pelas dinâmicas e vivências
até as atividades de encerramento de cada módulo foram idealizados e construídos com
base nos procedimentos técnicos da abordagem integrativa transpessoal.
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internamente. Nesta fase o facilitador acolhe toda a verbalização, repete ideias
significativas e estimula reflexões e motivações.
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momento diferente do seu estado anterior, pois percebe e vivencia a realidade com
outro estado de consciência.
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ESTRUTURA DOS ENCONTROS
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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
Determinou-se a princípio, nove temas a serem trabalhados, sendo um tema por módulo
(ou encontro). Porém, a quantidade de encontros teve de ser reduzida para que o
programa completo pudesse ser realizado, inclusive, com mulheres de idade gestacional
mais avançada.
É importante frisar que os temas podem ser ampliados ou sofrer variações de acordo com
as necessidades e interesses do grupo ou da gestante.
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M ÓDULO I - O DESPERTAR PARA O FEMININO
Conquistar, controlar, competir, administrar, dirigir, lutar, são atividades que compõe o
universo masculino e que foram incorporadas à vida das mulheres, não só no âmbito
profissional, mas se estendendo para as demais áreas de sua vida.
Abertura do Encontro:
Apresentação Teórica:
Apresentação teórica sobre o REIS e a relação com os quatro elementos (fogo, terra,
água e ar) e com as dimensões física, mental, emocional e espiritual. Correlação com a
dimensão masculina e feminina, promovendo diálogo aberta sobre a figura do Tao (mais
conhecido como Yin e Yang), sobre a dualidade.
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Dinâmica Bússola da Psique:
(Vera Saldanha)
Nesta dinâmica as participantes serão convidadas a refletir sobre como estão vivenciando
a gestação em relação às quatro funções psíquicas (razão, emoção, intuição e sensação).
Após identificarem como estas funções estão dispostas em sua vida com relação ao seu
momento atual, na etapa seguinte, facilitador promoverá uma sensibilização para que as
gestantes acessem o centro de sua consciência, seu Eu superior, Eu supremo, como
quiserem denominar e, em contato com esta dimensão pedirão a orientação necessária
para reorganizar a disposição REIS de forma ideal, a ser adotada neste momento de sua
vida. Na etapa final, as gestantes serão convidadas a transformar a imagem inicial, de
acordo com a imagem trazida pelo Eu superior, descrevendo quais os movimentos
necessários para que esta transformação ocorra. Uma vez descritos os movimentos
deverão relacionar ações possíveis para realizar esta nova disposição.
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Para este encontro, será solicitado que cada participante traga um objeto pessoal que,
para ela, representa ou simboliza de alguma forma a dimensão do feminino. As gestantes
serão convidadas a contemplar este objeto relacionado numa folha de papel todos os
atributos que este objeto possui. Ao finalizar a descrição, deverá colocar ao lado esquerdo
de cada atributo a frase: Eu Sou. Finalizando deverão ler em voz alta cada a descrição
delas mesmas.
Encerramento:
O encontro se encerrará com uma dança circular, cada uma com seu objeto que
representa o feminino. Cada uma deverá evocar as suas melhores qualidades e seus
melhores atributos, fortalecendo a confiança em si mesma.
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M ÓDULO II - CONSTRUINDO UMA NOVA VIDA
Ao final deste encontro a participante será capaz de realizar o seu plano de parto e o seu
plano de pós-parto. Este último, tão importante quanto o primeiro, afinal, a mesma
atenção e preparos que são dispensados ao parto devem ser dispensados ao pós-parto,
uma vez que com a maternidade a mulher passa por significativas transformações, em
sua vida e em seu Ser.
Abertura do Encontro:
Apresentação teórica sobre as principais mudanças que ocorrem durante a gestação, não
somente nos aspectos físicos, mas também a nível emocional e espiritual durante o parto
e o pós-parto.
Sensibilização:
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Após um relaxamento, facilitador oferecerá a cada participante um pedaço de barbante e
pedirá para que seja dado um nó em uma das pontas, representando a concepção e um
nó na outra ponta representando o nono mês de vida do bebê. Ao dobrar o barbante ao
meio, a gestante deverá dar outro nó, que representará o parto.
Ao final, cada participante deverá revisar todos os eventos marcantes que foram escritos
e fazer uma avaliação do que gostaria de mudar. Identificando qual o período mais
significativo e por quê. Percebendo se houve algum período que não conseguiu acessar e
todas as demais impressões da vivência.
A partir desta experiência, facilitador sugerirá que cada participante construa seu plano de
parto e pós-parto. Durante a construção do plano de parto e pós-parto, as participantes
serão orientadas a se lembrar das quatro funções psíquicas: razão, emoção, sensação e
intuição, para que nenhuma delas seja esquecida durante o plano de parto e pós-parto.
Por exemplo, no âmbito da razão deverá considerar todos os aspectos racionais do plano:
hospital, convênio, plano B, documentos e etc. No aspecto emocional, falar sobre as
emoções do momento. No aspecto da sensação, deverá planejar aspectos que trabalhem
com o sensorial, tais como: música, iluminação, aromas, toques, afagos e etc. No campo
da intuição deve examinar os aspectos intuitivos, tais como sonhos, imagens ou objetos
de poder, etc.
Encerramento:
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Para finalizar este encontro, utilizaremos o exercício de imaginação ativa do encontro com
o Sábio (C.G. Jung). O facilitador convidará as participantes a se deitarem e a relaxar,
liberando todas as tensões físicas, mentais e emocionais. Conduzindo a gestante a
imaginar um local na natureza onde se sinta à vontade, depois encontrar uma trilha e
caminhar por esta trilha chegando numa montanha. Nesta montanha fica o local que elas
escolheram para parir. Observem este local, como ele é, cheiro, cores, luminosidade, etc.
Ao olhar ao redor ela percebe que neste local há um ser de luz para quem ela pode
expressar todas as suas inquietações, todas as suas angústias e necessidades. Este ser
então lhe oferece um presente. Ela deve aceitar e receber este presente. Olhando
atentamente para o presente, pergunta ao ser de luz qual a mensagem que este presente
traz. Devagar ela vai retornando com o seu presente para o aqui e agora. Se desejar ela
pode escrever ou fazer um desenho da experiência.
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M ÓDULO III - RELAÇÕES E CONFLITOS
Dessa forma, deixa-se de acolher e trabalhar estes conflitos que, se não forem integrados
ou ao menos reconhecidos, poderão emergir durante o trabalho de parto, impactando de
uma forma ou de outra o progresso e a evolução do nascimento.
Neste encontro, solicitamos a presença de uma familiar, de preferência o pai do bebê pois
iremos trabalhar as mudanças que estão prestes a ocorrer não só na vida cotidiana, mas
principalmente na sua relação afetivo-familiar.
Após o parto, homem e mulher tornar-se-ão pai e mãe e precisarão então transformar a si
mesmos e integrar em suas vidas estes novos papéis. Entretanto, esta mudança pode ser
difícil uma vez que haverá uma nova vida nesta relação, exigindo cuidados, recursos
financeiros, atenção e afeto.
Por este motivo, promoveremos vivências com o casal (ou dupla) para fortalecer os laços
afetivos entre eles, acolhendo seus medos, dúvidas e inseguranças, estimulando-os a
criar (eles próprios) situações saudáveis para assumir e integrar seus novos papéis,
solucionando possíveis conflitos, planejando e construindo juntos os alicerces desta nova
relação familiar.
Abertura do Encontro:
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Cada participante deverá se apresentar, mencionando quais são suas expectativas com
relação a este encontro. Facilitador esclarecerá o objetivo do encontro e equalizará as
expectativas, solicitando abertura, disponibilidade e entrega de cada um dos participantes.
Sensibilização:
Facilitador irá propor que cada um faça uma massagem no seu companheiro. Facilitador
deve orientar como fazer a massagem. Ao termino da massagem, a dupla deverá dar um
abraço fraterno e quem fez a massagem perguntará sussurrando ao do outro: Fulano(a),
o que você precisa? O primeiro que recebeu a massagem deverá escrever o que o seu
coração disse que precisava e guardará no envelope, sem mostrar ao companheiro. Ao
termino desta etapa, os participantes deverão trocar de lugar e repetir o procedimento.
Primeira Etapa:
Facilitador proporcionará um relaxamento para que os participantes entrem em contato
com seus sonhos de vida. Uma vez em contato com o seu sonho, cada pessoa irá
desenhar este sonho no papel. Em determinado momento facilitador pedirá para que
parem de desenhar e passem o papel para o companheiro da direita. O sonho irá “passar
pela vida”, ou seja, os demais participantes deverão complementar o desenho original.
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Cada participante terá um tempo curto para complementar o desenho do colega. Quando
o sonho retornar ao seu sonhador todos deverão parar de desenhar.
Segunda Etapa:
Os casais ou duplas deverão sentar-se juntos e cada um deverá observar seu sonho. O
sonho que passou pela vida. Dentre os dois desenhos, o casal deverá escolher apenas
um deles para representá-los.
Terceira Etapa:
A imagem deste sonho (construído pela vida) será o cenário para o sonho conjunto do
casal. O casal deve construir um sonho em comum. Um participante da dupla deverá
formular uma frase, por vez, sobre o desenho. Criando então uma história. Cada um deve
complementar a frase do outro. Um por vez, uma frase para cada. Um dos dois deve
escrever as frases que construirão este sonho.
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Reflexão Terceira Etapa:
Como foi construírem juntos este sonho em comum? Como foi lidar com o tempo? Você
gostou do desfecho do sonho? Que tipo de história vocês escreveram? Ação? Romance?
Aventura? Como esta história se relaciona com vocês? Vocês compartilham do mesmo
sentimento com relação a este sonho? Algo deste sonho pode ser realizado ou trazido
para o dia-a-dia de vocês?
Quarta Etapa:
Experimentando no corpo: Terminada a história, o casal (ou dupla) deverá teatralizar o
sonho criado. Cada dupla terá um tempo para elaborar como irá representar a história que
criaram. Uma dupla por vez irá se apresentar, porém, a regra é que não poderão usar a
fala para contar o seu sonho em comum.
Reflexão:
Como foi contar uma história sem usar as palavras? Como foi apresentar seu sonho para
o mundo (platéia, demais participantes)? O que sentiu? Como foi representar o sonho?
Encerramento:
Para encerrar facilitador pedirá que todos deem as mãos em círculo e que cada um
expresse em uma palavra o que está sentindo no momento.
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M ÓDULO IV - DOR E MEDO
Os seres humanos são orientados a buscar o prazer e evitar a dor, por isso, o objetivo
deste encontro é promover o reconhecimento dos medos e fortalecer a autoconfiança das
gestantes em transpor a dor.
Uma vez identificadas estas imagens e seus diferentes temores por detrás do medo do
parto, será possível então que, através da ampliação da percepção das participantes com
relação a estes elementos, elas sejam capazes de transformá-los, elaborá-los e integrá-
los em suas vidas e em sua busca pelo parto natural.
Apresentação:
Abertura:
Passando pelas etapas de reconhecimento e identificação com esta imagem, para depois
desidentificar, transmutar e transformar, chegando finalmente à elaboração e integração
da nova imagem da dor e do medo.
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Esclarecer que a dinâmica utilizará de grafismo, mas que o objetivo não é desenhar bem
e, portanto não precisam se intimidar afinal, mais importante que o desenho em si será a
mensagem que virá dele.
Sensibilização:
Neste instante tocará uma música em ritmo tribal e pedir para que as pessoas comecem
flexionando os joelhos no ritmo da música, sem tirar os pés do chão, cada um no seu
limite. Sugerir que mexam os braços. Que passem as mãos por todo o corpo limpando e
jogando fora toda a dor, tensão, ou qualquer outro sentimento ou emoção que seja
indesejável.
Aos poucos facilitador vai pedindo que participantes diminuam o ritmo e voltem ao seu
estado de contemplação. Pedir que observem seu corpo agora, observem a sua
respiração e observem principalmente sua mente. O que está diferente? O que os habita
agora?
Pedir para que os participantes fechem os olhos, mantendo uma postura ereta
observando a sua respiração. Observando os pensamentos, mas não se atendo a
nenhum deles. Estimular o relaxamento, o estado meditativo e contemplativo.
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Agora que estão relaxados entre em contato com a Dor. Levem a sua consciência para
esta dor. Observem o que ela causa em você? O que ela diz a você? Se essa dor fosse
um elemento do reino mineral, vegetal ou animal, qual elemento esta dor seria? Aceite a
primeira imagem que lhe vier à mente, mesmo que não faça sentido. Como este elemento
se apresenta a você?
Pedir para que participantes abram os olhos e desenhem o que eles viram. Observem o
desenho de vocês. Como ele é? O que ele lhe diz? Ele é grande/pequeno, claro/escuro,
duro/fluido. Escrevam o que vocês enxergam.
Pedir para que participantes abram os olhos e desenhem o que eles viram. Observem o
desenho de vocês. Como ele é? O que ele lhe diz? Ele é grande/pequeno, claro/escuro,
duro/fluido. Escrevam o que vocês percebem. Elencar as qualidades do desenho.
Pedir para que os participantes levantem e coloquem um desenho à sua direita e o outro
à esquerda. Observe um de cada vez. Ao olhar um, certifique-se que você não está vendo
o outro. Agora, promova um diálogo entre os desenhos.
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Facilitador deverá promover um estado de relaxamento entre as participantes, quando as
gestantes estiverem seguras e relaxadas, facilitador pedirá para que cada uma entre em
contato com o seu maior medo. Facilitador deve estimular o contato com este medo: qual
a cor, o cheiro, a forma, o som deste medo. E mantendo os olhos fechados, ainda em
contato com o medo, cada participante deverá pegar dois giz pastel, um em cada mão e
ao iniciar a música deverão expressão no papel o seu maior medo, sua sensação,
percepção e sentimentos com relação a este medo.
Encerramento:
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M ÓDULO V - D ESPEDIDA DA BARRIGA
Estar gestante é estar em estado de graça. Durante os nove meses de gestação a mulher
recebe todas as atenções e acaba desenvolvendo uma forte relação com a sua barriga e
com a imagem que representa todo o universo da gestação e da maternidade.
Durante este encontro, lançaremos um olhar aprofundado sobre o que é estar gestante,
sobre o que a barriga representa, adentrando no espaço sagrado da gestação e de todo o
seu significado.
Abertura do Encontro:
Sensibilização:
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Todas de pé, as participantes deverão inicialmente fechar os olhos e observar sua
respiração, seu corpo, entrando num estado de relaxamento. Facilitador pedirá então que
elas comecem a andar e ao caminhar deverão observar seus passos, seu corpo, seu
ritmo. Deverão então relembrar a trajetória de sua gestação até o momento, identificando
as principais emoções/sentimentos (alegria, confiança, medo, dúvida) que vivenciaram
durante a gestação. Deverão reconhecer e identificar pelo menos uma emoção positiva e
outra negativa. E, quando o facilitador der o sinal, elas deverão encontrar outra
participante e compartilhar com ela suas reflexões. Após compartilharem deverão retornar
a sua caminhada, refletindo e aceitando as emoções que surgiram e acolhendo e a
emoção do outro.
Facilitador promove então, um encontro entre a gestante o bebê, onde ela deve,
primeiramente, contemplá-lo, ouvi-lo, enviar-lhe boas energias, oferecer-lhe um sorriso.
Aceitando-o e reconhecendo-o como uma nova vida, como um ser humano.
Após este primeiro momento de contemplação, facilitador sugerirá que ela se comunique
com o seu bebê. Dizendo a ele o quanto ele é bem-vindo, como ela se sente em relação a
esta gestação, seus medos, suas inseguranças, assegurando ao seu bebê que estas são
emoções dela, que ela está trabalhando para lidar.
Depois que a mãe disser ao bebê tudo aquilo que gostaria de dizer, será a hora de o bebê
dizer para a mamãe, aquilo que ela necessita saber a respeito do seu nascimento.
Promovido este diálogo, facilitador pedirá que a mamãe anote a mensagem do bebê e
escreva a ele uma carta de boas-vindas.
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Dinâmica da Despedida:
Nesta dinâmica, utilizaremos uma técnica de grafismo. Após uma breve sensibilização e
preparo as gestantes serão orientadas a fazer um desenho que represente o espaço
sagrado da sua gestação e de como ela vislumbra a maternidade. Ao realizar o desenho a
gestante colocar nele todas as emoções, sentimentos, sensações e intuições que por
ventura estejam emergindo, atentando-se para cada um deles.
Agora elas deverão selecionar algumas partes do desenho desconstruído e criar, então,
uma nova imagem no formato de mandala, colando os pedaços do desenho original e se
desejarem, complementando o desenho com giz, canetinha, cola colorida e etc.
Ao finalizarem a mandala, deverão então criar uma fábula sobre este desenho
começando com Era uma vez e terminado com uma moral da estória. Criada a fábula ela
poderá fazer a correlação desta estória com o seu momento atual e então todas serão
convidadas a dramatizar suas fábulas através de mímicas.
Encerramento:
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vida”. Quando todas estiverem com a vela acesa, facilitador pedirá que cada uma elabore
mentalmente uma afirmação positiva a respeito do parto. Como sugestão, facilitador
exemplificará com uma frase do tipo: “Eu sou mulher, eu tenho o poder da vida, eu sei
parir naturalmente.” Cada participante terá sua frase e quando todas estiverem escolhido
suas afirmações deverão em uníssono, pronunciá-las em voz alta, por três vezes
seguidas.
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C ONSIDERAÇÕES F INAIS:
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B IBLIOGRAFIA:
Benatti, L., & Min, M. (2011). Parto com Amor. Panda Books.
Cheyney, M. (2011). Born at Home: Cultural and Political Dimensions of Maternity Care in
the United States. Cengage Learning.
Weil, P., Leloup, J.-Y., & Crema, R. (2003). Normose - A patologia da normalidade. Verus.
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