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O "Problema de Isaías"
no Livro de Mórmon
O Livro de Mórmon cita vinte e um capítulos completos de Isaías e partes de outros. À
luz do moderno criticismo bíblico estas citações levantam alguns problemas que teriam
confrontações sérias sobre a integridade do registro Nefita como um todo. Acredita-se,
portanto, que uma apresentação do problema literário de Isaías e seu impacto sobre o
Livro de Mórmon será de interesse de todos.
Conforme o Professor A.B. Davidson indicou muitos anos atrás, por aproximadamente
vinte e cinco séculos ninguém sequer sonhou que Isaías, o filho de Amós, que viveu no
século oitavo A.C., foi o autor de todo o livro que leva o seu nome. Isto que dizer, a
unidade literária de Isaías não foi posta em dúvida até tempos comparativamente
recentes. Não há nenhuma evidência de que os antigos que viveram umas poucas
centenas de anos após a época de Isaías conhecessem qualquer problema em conexão
com os grandes escritos do profeta. O tradutor Grego de Isaías, cujo trabalho é parte da
Bíblia Grega (Septuaginta), provavelmente fez sua tradução perto de 200 A.C., todavia
não indica o menor sinal de que os sessenta e seis capítulos do livro não são todos um
trabalho de Isaías. Nem os copistas dos textos de Isaías entre os recentemente
encontrados Pergaminhos do Mar Morto parecem conhecer qualquer outro autor para eles
senão o próprio Isaías, filho de Amós.
Jesus Ben- Sirach (veja o Apócrifo de Eclesiástico 48:20-25, não confundir com o livro
de Eclesiastes), que escreveu cerca de 180 A.C., refere-se a Isaías como um dos grandes
personagens da antiguidade e citou-o suficiente de sua profecia a fim de indicar que pelo
começo do segundo século A.C. ele possuía a mesma forma que hoje o conhecemos.
Entre os primeiros a duvidar da unidade de Isaías foi Ibn Ezra, que viveu no décimo
segundo século D.C.; não muito mais foi dito sobre isso de novo até o décimo oitavo
século, quando o esfacelamento crítico do Livro começou. Koppe no ano de 1780
expressou dúvida quanto à genuinidade do capítulo 50. Em 1789, Doderlein lançou
suspeitas na origem Isaínica dos capítulos de 40-66. Então Justi, e depois dele Eichhorn,
Paulus e Berthold aumentaram a suspeita de que ele não era genuíno.
O resultado alegado por esses eruditos não pouparia igualmente a primeira parte de
Isaías. Rosenmueller, que, conforme Professor Franz Delitzsch aponta, é em toda parte
muito dependente de seus predecessores, foi o primeiro a negar a Isaías a profecia contra
Babilônia nos capítulo de 13:1 até 14:23. Neste juízo, Justi e Paulus concordaram.
No começo do último século, Eichhorn negou a genuinidade da profecia contra Tiro no
capítulo 23, e junto com os grandes Hebraístas, Genesius e Ewald, negaram a autoria
Isaínica dos capítulos 24-27. A lógica de Eichhorn para negar a genuinidade dos últimos
quatro capítulos era a de que eles continham jogos de palavras indignos de Isaías;
Genesius achava neles uma alegórica proclamação da queda de Babilônia. Ewald
transferiu-os para o tempo dos Cambises (c. 525 A.C.)
Genesius também atribuiu os capítulos 15 e 16 a algum desconhecido profeta.
Rosenmueller então rapidamente dispôs-se dos capítulos 34 e 35 por causa de suas
relações com os capítulos 40-66. Em 1840, Ewald questionou os capítulos 12 e 33. Será
então visto que por meados do século dezenove quase trinta e sete ou trinta e oito dos
capítulos de Isaías foram rejeitados como não sendo parte dos escritos originais daquele
grande profeta.
Em 1879-80 o famoso professor de Leipzig, Franz Delitzsch, que por muitos anos
havia vigorosamente defendido a origem Isaínica de todo o livro, cedeu a moderna
posição crítica. Mas fez isso ”com tantas hesitações e reservas” de uma maneira
insatisfatória aos divisionistas, “não tendenciosa e na verdade inafetada pelas
considerações críticas.” (Veja a declaração do tradutor na terceira edição do Comentário
Bíblico de Delitzsch sobre as Profecias de Isaías.)
Pouco tempo após (1889-90), Canon S.R. Driver e Dr. George Adam Smith fizeram
muito para popularizar a nova posição crítica na Grã-Bretanha. Desde o ano de 1890 o
criticismo divisionista tem se tornado mais vigoroso e microscópico do que nunca. O
trabalho de proeminentes eruditos como Cornill, Marti, Stade, Guthe, Hackmann e Duhn
no continente e de Cheyne, Gray e outros na Grã Bretanha e América serviram mais
ainda para lançar dúvidas em alguns pedaços sobre a unidade de Isaías. Cinqüenta anos
atrás os capítulos de 40-66 eram admitidos em ser uma unidade (para usar a terminologia
dos eruditos Bíblicos) embora não atribuídos a Isaías. Eles eram designados como
“Deutero-Isaías” ou melhor, “Segundo Isaías”, o produto único de algum sábio anônimo
que viveu em Babilônia. Mas nas mãos dos críticos a unidade de “Segundo Isaías” foi
também condenada a desaparecer. Deutero-Isaías foi confinado aos capítulos 40-55, e
uma nova divisão, “Trito-Isaías”, abrangendo os capítulos de 56-66, foi inventada.
Mais recentemente o Dr. Charles C. Torrey escreveu sobre a partição de Deutero-
Isaías (capítulos 40-66):
O resultado tem sido fazer uma grande mudança, em estágios sucessivos, na
visão crítica do Segundo Isaías que afetasse a conteúdo e forma, e portanto com
a necessidade de uma estimativa geral da profecia. Nas mãos daqueles eruditos
que agora detém o lugar principal sobre a interpretação de Isaías, as séries dos
capítulos começando com o 40 e terminando no 66 têm-se tornado um caos
indescritível. O outrora grande “Profeta do Exílio” tem sido murchado até uma
figura pequeníssima, e está quase enterrado numa massa de fragmentos
amontoados. O valor de sua profecia tem conseqüentemente decaído;
parcialmente devido a um breve ímpeto, dentro de uma amplitude temática
estreita, que nunca podem prover uma impressão similar àquela obtida através de
um esforço contínuo em cobrir uma variedade de assuntos, e parte devido a que
as mesmas considerações que governam a análise do livro têm requerido uma
estimativa inferior de cada uma das partes (The Second Isaiah, pp. 4,5.)
Após dar uma breve história da desintegração de Isaías 40-66 em seu livro, “The
Second Isaiah’, o qual todo aquele que tiver um interesse no assunto deve ler, Dr. Torrey
continua:
A necessidade de fazer uma divisão em “Deutero-Isaías” (capítulos 40-55) e
“Trito-Isaías” (55-66), com tudo o que isto envolve, seria de per si uma
suficiente grande desgraça. Não é possível dar esse passo sem ir ainda mais
longe, conforme a recente história da exegese tem claramente demonstrado. A
subseqüente dissecação de “III Isaías” é uma certeza, enquanto aquela do
descortinado II Isaías não é provável que demore muito tempo. Temos aqui um
bom exemplo daquilo que tem acontecido muitas vezes na história do
criticismo literário, onde eruditos sentem-se obrigado a sub-avaliar um escrito a
fim de forçá-lo a ajustar-se a uma teoria errada. O processo de ajuste começa
com um estilete, continua com uma peixeira, até que o livro chegue a ser
completamente destroçado em um número de pedaços sem nexo. (Ibid., p. 13)
1. Um postulado biunívoco é assumido tendo como efeito que um profeta sempre falava
de uma situação histórica definida as presentes necessidades de um povo entre o qual
vivia; e de que uma definida situação histórica deve ser apontada para cada profecia.
Um erudito disse: “É um princípio básico de que o horizonte histórico de um profeta
pertence ao seu próprio tempo. Ele toma sua posição em sua própria geração e olha
adiante a partir daí”. Falando num Português claro, este erudito quer dizer que um profeta
não pode vislumbrar além do horizonte de seu próprio tempo. Com algumas exceções, os
críticos que desmembram Isaías aberta e tacitamente negam o elemento preditivo na
profecia. Na terceira edição de seu comentário mencionada acima, Professor Delitzsch
diz:
O novo criticismo bane tudo que ainda procuram manter a autoria de Isaías
ausente de ciência e na verdade de consciência também. Para isto, aquela
autoria é tão impossível como qualquer milagre no domínio da natureza,
história e espírito. Aos seus olhos apenas aquelas profecias com as quais uma
explicação naturalística pode ser dada encontram respaldo. Sabe-se
exatamente quão longe um profeta pode ver e onde ele deve ser localizar a fim
de que possa ver à distância. (Comentário Bíblico das Profecias de Isaías,
traduzido a partir da terceira edição Germânica, Vol. II, p.62)
Segundo os radicais, seria impossível para Isaías, vivendo perto de 700 A. C. falar de
Ciro, que viveu ao redor de 540 A.C. Conseqüentemente aquelas seções de Isaías
conectadas de alguma forma com Ciro (44:28 - 45:1) são datadas posteriormente, i.e/,
durante ou após o tempo de vida do Imperador Persa. E em geral, uma vez que os
capítulos de 40-66 parecem aos críticos ter o exílio como seu centro de interesse, com
uma mudança de lugar, tempo, e situação, eles possivelmente não poderiam vir da pena
de Isaías. Desta forma “O Ilustre Desconhecido” foi inventado para assumir seu lugar.
Conforme já havíamos indicado, até mesmo ele teve de compartilhar subseqüentemente
de sua glória com outros engenhosos e desconhecidos e teorias plausíveis foram
inventadas a fim de explicar o texto bíblico.
2. O estilo literário daqueles capítulos assumidos como não sendo de Isaías é muito
diferente daqueles que são admitidos como sendo do profeta.
Professor S.R. Driver explica a significância deste ponto conforme segue:
3. As idéias teológicas das partes não Isaínicas da profecia diferem daquelas de Isaías.
Citando Driver novamente:
As idéias teológicas dos capítulos 40-66 (de tal forma que elas não são
fundamentalmente do tipo comum aos profetas em geral) diferem
remarcavelmente daquelas que aparecem nos capítulos de 1-39, para serem
distintas de Isaías. Ou seja, geralmente sobre a natureza de Deus, as idéias
expressas são muito mais extensas e completas. Isaías, por exemplo,
descreve a majestade de Jeová: nos capítulos 40-66 o profeta enfatiza Sua
infinitude; Ele é o Criador, o apoiador de todo o Universo, aquele que dá a vida,
o Autor da História (41:1), o Primeiro e Último, o Incomparável. Esta é uma
diferença real...Novamente, a doutrina da proteção de julgamento sobre um
remanescente fiel é característico de Isaías. Isto aparece tanto na sua primeira
como última profecia (6:13; 37:31 f.); nos capítulos 40-66, se ela se apresenta
uma vez ou duas por implicação (59:20; 65:8 f.), não é um elemento distintivo
nos ensinamentos do autor...A relação de Israel com Jeová – sua escolha por
Ele, seu destino, o propósito de seu chamado – é desenvolvida em diferentes
termos e sob diferentes concepções daquelas utilizadas por Isaías...(Ibidem,
p.242.)
4. Alguns outros critérios governantes que levam certos críticos a rejeitarem várias
porções de Isaías como tendo sido escritas subseqüentes à própria era do profeta são
resumidas pelo Dr. G. L. Robinson como segue:
(1) (1) Para um crítico “a conversão dos gentios” jaz bem al;em do horizonte
de qualquer profeta do oitavo século e conseqüentemente Isaías 2:2-4 e
todas passagens similares deveriam ser relegadas a uma era subseqüente
(2) (2) Para outro “o quadro de paz universal” em Isaías 11:1-9 é um sintoma
de uma data posterior e desta forma toda a seção deveria ser apagada
(3) (3) Para outro a idéia de um julgamento universal sobre “toda a terra” no
capítulo 14:26 transcende em muito a amplitude de pensamento de Isaías
(4) (4) Para ainda um outro os caracteres apocalípticos dos capítulos 24-27
representa uma fase do pensamento Hebreu a qual prevaleceu em Israel
apenas após Ezequiel
(5) (5) Mesmo para aqueles que são considerados moderados a
característica poética de uma passagem como a do capítulo 12 e uma
referência para um retorno do cativeiro em 11:11-16 e as promessas e
consolações tais quais encontradas no capítulo 33, são citadas como base
para designar estas e passagens correlatas para uma época bem posterior.
Radicais negam ‘in toto’ a existência de passagens Messiânicas nas
próprias profecias de Isaías. (The Book of Isaiah, 1910, p. 61f.)
1. As igrejas Judaicas e Cristãs (com exceção das gentis pistas de dúvidas de Ibn Ezra
no décimo segundo século A. D.) tiveram até os últimos cento e cinqüenta anos sem
hesitação se referindo a todo o Isaías, filho de Amós. Tal tradição forte e persistente não
pode honestamente ser posta de lado sem uma indicativa e positiva evidência histórica.
Tal evidência está faltando. Análise subjetiva do texto de Isaías, os resultados da qual são
disputados, não pode ser contabilizado como base suficiente para se apoiar e rejeitar a
tradição antiga.
2. A Septuaginta e outra versões de escritura não dão absolutamente nenhuma pista das
múltiplas autorias de Isaías. É um fato de grande surpresa que a tradução Septuaginta
(Grega) de Isaías que foi feita do hebreu cerca de 200 A.C. não nos dá o nome de um
único dos dez ou mais “profetas”que são assumidos por vários críticos terem contribuído
para o Livro de Isaías. “Singular...que a história deve-se perder todo o conhecimento
desta série de profetas Isaínicos. Singular...que deveriam ser estes profetas cujos nomes
tiveram o destino comum de serem esquecidos, embora no ponto específico de seu
tempo eles todos permanecessem mais próximo ao colecionador do que ao velho profeta
que fosse seu modelo, e segundo quem todos haviam se formado” (Franz Delitzsch, op.
cit., Vol. I, p. 13; italics ours.)
3. Cristo e seus Apóstolos referiam-se ao livro de Isaías. O Novo Testamento cita trinta e
dois capítulos de Isaías. Muitos destes capítulos são citados várias vezes. Catorze
capítulos de 1-35 são representados e dezoito capítulos de 40-66. A distribuição é
excelente. Não há uma mínima pista em lugar algum no Novo Testamento que qualquer
outro profeta diferente de Isaías o filho de Amós fosse o autor das passagens citadas. De
fato a ênfase é o oposto. Perceba que cristo cita a profecia em Isaías 61:1,2 e
expressamente declara que aquilo foi cumprido naquele tempo (veja Lucas 4:18-21).
Lucas, um historiador capaz, escreve que a Cristo foi dado “o livro do profeta Isaías”
(Lucas 4:17) da qual ele cita a profecia cumprida. Observe também que o estudado e
crítico Paulo, quem cita Isaías tão freqüentemente e de tão diferentes lugares (veja
especialmente Romanos), não conhece nenhum equivalente a “Deutero” ou “Trito” Isaías.
De fato, parece bem estranho de que três mentes tão penetrantes e espirituais como
Cristo, Paulo e Lucas não pudessem ver nem um pouco do que críticos modernos vêem –
mesmo presumindo que os últimos estivessem corretos. A maioria dos críticos concederá
grandes poderes de mente e coração a Cristo, Paulo e Lucas mesmo quando negando
quaisquer poderes supernaturais de inspiração ou de revelação. Nem são estes três os
únicos que citam Isaías no Novo Testamento.
4. Jesus Ben-Sirach, cerca de 180 A.C., quando recontando a história dos dias de
Ezequias, registrou que o profeta Isaías
Viu por um espírito excelente o que deveria acontecer nos últimos dias;
E ele confortou aqueles que pranteavam em Sião.
Ele mostrou as coisas que deveriam ser até o fim dos tempos.
E coisas ocultas ou mesmo quando viriam. (Ecclesiasticus 48:24, 25, Revised
Version.)
Ben-Ssirach então também revela que nos tampos antigos Isaías era reconhecido
como o único autor e que profetizara concernente ao futuro.
5. Josefus diz que Ciro o rei ficou especialmente impressionado pela profecia de Isaías ao
efeito de que Deus o havia escolhido (Ciro) para enviar Israel de volta a sua própria terra
e a reconstruir o templo. Então segue uma bem extensiva descrição de como Ciro auxiliou
os Judeus a irem para sua terra nativa e começar a reconstrução do templo. (Antiquities,
XI, 1, 2.) Josefus também fez a seguinte interessante declaração concernente a Isaías:
Agora quanto a este profeta, ele foi pela confissão de todos um homem divino
e maravilhoso em falar a verdade; e sacando da certeza de que ele nunca
escrevera o que fosse falso, ele anotou todas as suas profecias, e as deixou
para trás em livros, para que suas realizações pudessem ser julgadas a partir
dos eventos pela posteridade. (Antiquities, X, 2.)
Mesmo após descontarmos de Josefus por suas deficiência como historiador é difícil
de acreditar que ele deliberadamente fabricaria cartas supostamente como sendo de Ciro
que confirmariam as profecias de Isaías feitas aproximadamente duzentos anos antes da
época do rei da Pérsia. Podemos estar certos, entretanto, de que os Judeus nos dias de
Josefus acreditavam ser o livro de Isaías uma unidade e de que o profeta pudesse ver o
futuro.
Desta forma concluímos e vemos que todas as evidências externas estão em favor da
unidade de Isaías. Agora vamos proceder à consideração de algumas das evidências
internas.
As seguintes características intrínsecas comuns ao livro inteiro suplicam fortemente
por sua unidade (na discussão dos pontos de 6-13 eu abertamente adotei muito de um
artigo do Ver. J.J. Lias. A Unidade de Isaías “Journal of the Transactions of the Victorian
Institute, Vol. XLVIII, pp. 65-84.)”:
9. A tendência de o profeta citar suas próprias palavras. Este hábito não somente
peculiar de Isaías mas é muito mais comum com ele do que com qualquer outro profeta.
Perceba Isaías 11:6-9 e compare 65:25.
Observe outras expressões como “Senhor dos exércitos”, “Poderoso Deus de Jacó”,
ou “Israel”, “A boca do Senhor tem isto falado”, “Estabelecer um estandarte”, e assim por
diante.
14. No “Segundo” Isaías e no “Trito” Isaías, não há nenhuma diferença real na teologia do
profeta conforme comparado com outros capítulos – o que encontramos é antes uma
extensão ou mais completa expressão de sua teologia. O que Professor Driver e outros
escritores sob sua persuasão falham em ver é que um escritor não pode esgotar suas
idéias teológicas sobre um dado tema em trinta e nove capítulos – alguma coisa pode ter
sido deixada para os capítulos de quarenta a sessenta e seis. Autores usualmente
reclamam o privilégio de enfatizar diferentes doutrinas e tópicos conforme a ocasião
requeira.
A evidência interna, portanto, é fortemente a favor da unidade de Isaías. O certo é que
os argumentos dos críticos para a divisão de Isaías estão longe de serem definitivos ou
conclusivos. Faltando isso, a hipótese deles deve ser etiquetada como “não provada”.
Destarte, o mais sério problema em conexão com o texto de Isaías no Livro de Mórmon
desaparece.
Nota 1 do tradutor: A minha versão Bíblica Almeida, revista e atualizada, tem esses
comentários na introdução de Isaías, feitas por Charles Caldwell Ryrie, Th. D., Ph. D.:
“Composição de Isaías: Muito debate tem surgido quanto à autoria dos capítulos 40 a
66. Alguns atribuem toda esta divisão do livro a um “Deutero-Isaías”, que teria vivido por
volta de 540 a.C. (após o cativeiro babilônico). Outros sugerem que um “Trito-Isaías”
escreveu os capítulos 56-66. Ainda outros vêem inserções e editorações tão recentes
quanto o primeiro século a.C., uma posição difícil de sustentar-se à luz da descoberta do
rolo de Isaías (contém todo o livro) nas cavernas de Qumran, pois este foi datando no
segundo século a.C.
Estas sugestões procuram eliminar o elemento sobrenatural necessário à profecia
preditiva. Assim, o cativeiro Babilônico e o retorno promovido por um monarca persa
(especificamente denominado Ciro) não são vistos como fatos preditos com 150 anos de
antecedência, mas como fatos históricos registrados depois de acontecidos. Ainda que tal
conclusão fosse admitida, não invalidaria a profecia preditiva. O nome do rei Josias foi
predito com tr6es séculos de anônimo (I Rs 13:2), e Belém foi citada como o lugar de
nascimento do Messias sete séculos antes do evento (Miquéias 5:2). Além disso, há
profecia preditiva nos capítulos de 1 a 39 de Isaías (veja 7:16; 8:4; 7; 37:33-35; 38:8 com
respeito a profecias rapidamente cumpridas, e 9:1-2 e 13:17-20 com respeito a profecias
de cumprimento mais demorado).
Se o chamado “Deutero-Isaías” viveu em Babilônia, como se alega, demonstra pouco
conhecimento da geografia mesopotâmica, mas grande familiaridade com a Palestina
(41:19; 43:14; 44:14). Além disso, afirma-se que as diferenças de estilo e linguagem só
podem ser explicadas se postularmos autores diferentes, uma teoria que, se aplicada a
Milton, Goethe, ou Shakespeare, exigiria a conclusão de que muitas de suas obras
seriam espúrias. Muito pelo contrário, podem-se apontar 40 ou 50 frases e sentenças que
aparecem em ambas divisões do livro e, portanto, favorecem a autoria única (cf. 1;20 com
40:5 e 58:14; 11:6-9 com 65:25; 35:6 com 41:18, etc.)
Propor dois ou mais autores para este livro é também contraditar a evidência do Novo
Testamento. Citações dos capítulos 40-66 se acham em Mateus 3:3; 12:17-21; Lucas 3:4-
6; Atos 8:28; Romanos 10:16, 20 e são todas atribuídas a Isaías. Além disso, em João
12:38-41, as citações de Isaías 6:9-10 e 53:21 aparecem juntas e são ambas atribuídas
ao Isaías que viu o Senhor na visão do templo do capítulo 6. Devemos, portanto, concluir
que o mesmo autor foi responsável por todo o livro, e que nenhuma parte dele foi escrita
durante ou depois do cativeiro babilônico.
2. Qual é o testemunho das antigas versões Gregas, Siríaca e Latina de Isaías com
respeito ao que temos no Livro de Mórmon? Estas versões também têm se tornado
corrompidas no curso de transmissão através dos séculos, mas pelas leis da
probabilidade elas deveriam concordar em alguns exemplos com a leitura do Livro de
Mórmon onde o último difere da versão Hebraica. Isto que dizer, ocasionalmente preserva
uma verdadeira leitura de Isaías onde o hebreu nos falha, e em tais lugares onde o
verdadeiro texto de Isaías aparece o Livro de Mórmon deveria concordar. Em geral
devemos estar preparados em admitir que a ciência do criticismo textual lançará grande
luz na asserção da antiguidade do texto de Isaías no Livro de Mórmon. Testes críticos
poderiam ser mais rápidos e poderosos em testar deslizes da parte de impostores incultos
que oferecem consertar textos bíblicos para a investigação do público.
Agora vamos considerar o texto de Isaías do registro Nefita à luz destas questões e
observações. O texto de Isaías no livro de Mórmon não é o mesmo palavra por palavra
daquele da versão do rei Tiago. Dos 433 versículos de Isaías no registro Nefita, Joseph
Smith modificou cerca de 233. Algumas destas mudanças feitas foram pequenas, outras
foram radicais. Entretanto, 199 versículos são palavra por palavra o mesmo da antiga
versão Inglesa. Portanto, podemos livremente admitir que Joseph Smith possa ter usado
a versão do Rei Tiago quando ele chegou ao texto de Isaías nas placas de ouro. A
medida que a familiar versão concordava substancialmente com o texto nas placas de
ouro, ele deixava passar; quando diferia muito radicalmente ele traduzia a versão Nefita e
ditava as mudanças necessárias. Vamos estudar alguns exemplos.
Em 2 Néfi 12:16 (cf. Isaías 2:16) o Livro de Mórmon tem uma leitura de interesse
remarcável. Ele prefixa uma frase de oito palavras não encontrada nas versões Hebraicas
ou nas versões do Rei Tiago. Uma vez que a antiga versão Septuaginta (Grega) concorda
com a frase no Livro de Mórmon, vamos exibir as leituras do Livro de Mórmon (LM), a
versão do Rei Tiago (RT) e a Septuaginta (LXX) como segue:
L.M. E contra todos os navios do mar,
R.T. ......................................................
LXX E contra todos os navios do mar ,
O Livro de Mórmon sugere que o texto original deste versículo continha três frases,
todas as quais começavam com as mesmas palavras de abertura, “e contra tudo (todos)”.
Por um acidente comum, o texto do Hebreu Original (e conseqüentemente a versão do
Rei Tiago) perdeu a primeira frase, a qual foi, entretanto, preservada pela Septuaginta.
Esta última perdeu a segunda frase e parece ter corrompido a terceira frase. O Livro de
Mórmon preserva todas as três frases. Eruditos podem sugerir que Joseph Smith tomou a
primeira frase a partir da Septuaginta. O profeta não sabia Grego e não há evidência que
ele tivesse tido acesso a uma cópia da Septuaginta em 1827-29 quando traduziu o Livro
de Mórmon.
Nota 2 do tradutor: Relatos dos ajudantes de Joseph e de sua esposa contam que
Joseph não utilizava sequer uma Bíblia do Rei Tiago no processo de tradução, sugerindo
um processo ainda mais miraculoso ao citar versículo por versículo de Isaías, na mesma
ordem encontrada na Bíblia, diretamente das revelações em sua mente. Se nem mesmo a
versão do Rei Tiago pode ter sido usada no processo de tradução, quanto mais “duas
versões” da Bíblia, sendo que uma delas de difícil acesso ao nosso pobre fazendeiro do
Interior de Nova York!)
Nota 3 do tradutor: O Dr. David Wright - em uma crítica a esta passagem no Livro de
Mórmon apontou para dois pontos pertinentes que merecem consideração:
a) a) A inclusão de ambas frases “navios do mar” e “navios de Társis” no
texto do Livro de Mórmon quebraria a estrutura de bicolas (pares paralelos de
idéias) com uma tricola (trio paralelo de idéias) do texto de Isaías.
b) b) Joseph Smith poderia ter tido conhecimento da versão da Septuaginta
através de algum sermão proferido por algum pastor metodista e que
conhecesse a versão Wesleyana da Bíblia e já houvesse notado a distinção
desta passagem com os versículos da versão do rei Tiago inglesa.
Eruditos mórmons refutam as posições do Dr. David Wright alegando que:
a) a) As estruturas poéticas hebraicas não são tão uniformes como se
pensava. Pares de tricolas incorporados em seqüências de bicolas podem ser
encontrados em várias passagens do Velho Testamento (e.g., Isaías 1:8;
54:12; Salmos 80:9,16; 81:7; etc.)
b) b) Se pesquisarmos entre os milhares de discursos ou estudos bíblicos
publicados na Internet algum que trate especificamente sobre esta variação de
Isaías entre os textos da Vulgata e da versão do Rei Tiago, só acharemos
textos que correlacionam estas duas passagens com a passagem do Livro de
Mórmon. Uma vez que a expressão “navios do mar” e “navios de Társis” são
equivalentes, creio que este seria um ponto de pouca atenção a ser discutido
entre eruditos bíblicos, quanto mais a ser mencionado em discursos de Igrejas
Metodistas no século XIX, ainda mais para fazendeiros do interior dos USA que
nem deveriam saber que existiam outras versões da Bíblia. Será que alguns
deles se importariam em saber sobre este ponto ínfimo? Eles estariam muito
mais envolvidos no embate teológico entre as Igrejas daquele tempo. Fé versus
obras, salvação pela graça, segunda volta do Messias, etc. Ainda assim, se por
uma mera suposição, acreditássemos que Joseph tivesse inserido
propositalmente esta tricola a partir de uma versão remota da Vulgata para dar
uma característica antiga ao Livro de Mórmon, por que então ele não usou isso
para demonstrar a autenticidade do Livro de Mórmon posteriormente. Ainda, por
que nenhum líder ligado a Joseph notaria essa variação e apontaria como
autenticidade do Livro de Mórmon? Esta passagem só foi descoberta pela
primeira vez em 1948 por Sidney B. Sperry (Our Book of Mórmon, Salt Lake
City: Stevens and Wallis), cento e dezoito anos após a publicação do Livro de
Mórmon! Teria Joseph se dado ao trabalho de ter consultado uma versão da
Vulgata, notado a diferença desta passagem com a equivalente na versão do
Rei Tiago e inserido propositalmente uma tricola, que só seria descoberta mais
de um século depois!? Por que simplesmente não aceitamos o caráter inspirado
do profeta e supomos que os escribas das versões hebraicas e gregas
simplesmente ignoraram um dos versos da tricola a fim de formar uma estrutura
mais homogênea de bicolas? Ah, claro! Esta última opção implicaria numa
aceitação do chamado profético de Joseph, ou seja, eu teria de me batizar na
Igreja que ele restaurou. Então vamos ter que supor uma super fraude tão bem
elaborada pelo astuto Joseph, que era só para ser descoberta muito mais tarde,
quando eruditos colocassem lado a lado as várias versões de Isaías com a
versão do Livro de Mórmon. Joseph é claro, guardaria segredo disto durante
toda a sua vida, jamais tiraria lucro desta astuta fraude, deixando isso para os
líderes de sua futura Igreja no século seguinte...??????
O artigo completo que discute as colocações do Dr. David Wright pode ser
encontrado em: http://www.jefflindsay.com/LDSFAQ/2nephi12.shtml
2 Néfi 12:20 (cf. Isaías 2:20) possui uma leitura de interesse especial pela razão de
que é apoiada por apenas um dos três maiores manuscritos da Septuaginta, chamado de
Códice Alexandrino, que será aqui abreviado por C.A.:
Nosso interesse, é claro, está centrado na terceira frase do versículo onde o Livro de
Mórmon se pareia com o texto da Versão do Rei Tiago. O texto Nefita em termos de
gramática Hebraica tem um verbo na terceira pessoa do masculino singular o que
traduzimos “que fez para...adorar”, em contraste com o texto da Versão do Rei Tiago (e
da versão Hebraica) onde se lê “que fizeram para..se prostarem”. O Códice Alexandrino
apóia a leitura do Livro de Mórmon neste ponto, embora os outros dois grandes
manuscritos da Septuaginta, o Códice Vaticanus e o Códice Sinaiticus, não. Isto enfatiza
o ponto colocado acima de que todos os grandes manuscritos da Bíblia têm-se tornado
corrompidos no curso da transmissão através das eras, mas pelas leis da probabilidade
eles deveriam concordar em alguns exemplos com as leituras do Livro de Mórmon onde
este último difere da versão hebraica.
Um outro fato interessante que deveríamos apontar apontar sobre este versículo antes
de seguirmos adiante é que o Códice Vaticanus e o Códice Sinaiticus, junto com alguns
outros manuscritos, têm uma leitura “Pois naquele dia” no começo deste versículo. O
Livro de Mórmon atesta a exatidão da versão hebraica, do Rei Tiago, do Códice
Alexandrino e do Códice Marchalianus (Q) ao omitir o “Pois”.
Vamos examinar a seguir um versículo de Isaías, em que as corrupções que existem
tanto na versão do Rei Tiago (segundo o hebraico) e a versão da Septuaginta são
belamente conectadas a nós pelo Livro de Mórmon. O versículo em questão encontra-se
em 2 Néfi 7:2 (cf. Isaías 50:2).
A única maneira em que o Livro de Mórmon difere dos textos da versão do Rei Tiago é
a omissão de uma palavra, “não” (veja minha nota acima). A maioria dos eruditos
concorda que o “não” das versões em Hebraico e do rei Tiago está obviamente fora de
lugar. Algumas versões, especialmente a Siríaca e os Targuns, sugerem que
originalmente o texto hebraico não continha esta palavra, mas antes uma outra tendo o
mesmo som mas um significado diferente. É bem compreensível como um escriba,
escrevendo o texto conforme fosse a ele ditado, pudesse selecionar a palavra errada de
duas possuindo o mesmo som. A palavra selecionada foi ld (“não”) ao invés de lo (“para
ele (isto)”). O Livro de Mórmon definitivamente rejeita a primeira opção e parece indicar
que a última fosse a original. A frase “e aumentaste a alegria” no Livro de Mórmon tem
como seu antecedente “nação” da primeira cláusula. Literalmente, deveríamos traduzir,
“Tu multiplicaste a nação, (e) lhe aumentaste a alegria.” Este é essencialmente o que o
autor acredita ser o significado do texto nefita até a palavra ‘”alegria”.
A versão de Isaías na escritura Nefita segue um curso independente por ela própria,
como deveria ser esperado de um verdadeiro e autêntico registro antigo. Ele faz adições
ao texto atual em certos lugares, omite material em outros, transpõe, faz correções
gramaticais, encontra apoio algumas vezes por suas leituras incomuns nos textos antigos
Gregos, Siríacos e versões Latinas, e outras vezes não. Em geral, ele apresenta um
fenômeno de grande interesse ao estudante de Isaías.