Você está na página 1de 6

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DR. DES.

PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DA VARA DE INQUÉRITOS DA COMARCA DE BELO HORIZONTE.

Inquérito Policial: 12345

Ação Penal: 6789

Liberdade provisória: 147852369

DR. ALVO PERCIVAL WULFRICO BRIAN DUMBLEDORE, cidadão brasileiro,


solteiro, Advogado inscrito na OAB/MG n° 1977, vem a vossa excelência pedir com
fundamento no artigo 5° da Constituição da República e nos artigos 647 e 648,
inciso I, do Código de processo Penal, impetrar em favor do réu Franklin, brasileiro,
solteiro, natural de Belo Horizonte, portador do CPF: 121.121.121.21, residente na
rua dos Alfeneiros, n° 4, Bairro Alípio de Melo, atualmente detido no 2º Distrito
Policial da comarca de Belo Horizonte.

HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE LIMINAR

DOS FATOS

O paciente foi detido em flagrante em razão da suposta prática do delito de roubo


circunstanciado pelo concurso de pessoas e emprego de arma de fogo, ocorrido no
dia 19/11/2021, por volta das 23 horas. O delegado esperou passar certos dias após
o ocorrido para intimar Franklin a prestar esclarecimentos, mesmo suspeitando do
início de seu possível envolvimento.

Franklin, após intimado, compareceu de imediato e espontaneamente à delegacia


com seu advogado. Porém o delegado não autorizou a entrada de seu advogado na
sala onde foi realizado seu interrogatório. Ele negou seu envolvimento e autoria no
delito, informando que no horário dos fatos estava em casa, dormindo.

A vítima foi convidada para realizar o reconhecimento do suspeito (mesmo já tendo


se passado dias desde o acontecimento), ele foi colocado em uma sala sozinho,
para D. Lucia fazer o reconhecimento por de trás de um espelho. Assim sendo,
depois de várias insistências e pressões dos agentes policiais que estavam com ela,
a vítima afirmou ser ele o autor do fato.

Diante disso, o delegado autuou Franklin em flagrante pela prática do delito descrito
no art. 157, §2º, inciso II c.c. §2º-A, inciso I, do Código Penal, recolhendo-o à prisão
e algemando o detento, que não ofereceu qualquer reação. Foi entregue a Franklin
a nota de culpa, porém, passadas 24 horas, o delegado ainda não comunicou ao
juiz competente a prisão do suspeito.

DO DIREITO

FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL E LEGAL DO PEDIDO:

A Constituição Federal vigente contemplou de forma expressa o Habeas Corpus,


atribuindo-lhe status de garantia constitucional.

o Art. 5°, LXVIII, da CF/88 estabelece que:

“Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar


ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder”

DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA:

Franklin e Jamal foram investigados e considerados suspeitos da autoria do crime


em razão de já terem ficha criminal e morarem na região. Temos que ressaltar que
de acordo com o art. 316, caput, do CPP:

“A existência de antecedentes criminais, por si só, não é motivação suficiente


a amparar um decreto de prisão preventiva, cujos fundamentos estão
previstos no artigo 312 do Código de Processo Penal”

O Supremo Tribunal Federal, ao interpretar o dispositivo, declarou constitucional o


artigo 283 do Código de Processo Penal, segundo o qual:

“ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de
sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou
do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva”
DA AUSÊNCIA DOS REQUISITOS DA PRISÃO EM FLAGRANTE E DA FALTA
DE FUNDAMENTAÇÃO:

O artigo art. 302.do CPP estabelece que:

“Considera-se em flagrante delito quem:


I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer
pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis
que façam presumir ser ele autor da infração.”

Não se enquadrando o caso de Franklin, pois ele não foi visto na cena do ocorrido e
a vítima somente o reconheceu dias após, não sendo portanto configurado o
flagrante. Sendo assim, até a prisão em flagrante é passível de contestação.

DO RECONHECIMENTO DE PESSOA

O art. 226 estabelece que:

“Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa,


proceder-se-á pela seguinte forma:
I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever
a pessoa que deva ser reconhecida;
Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível,
ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se
quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la;
III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o
reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a
verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade
providenciará para que esta não veja aquela;
IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela
autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por
duas testemunhas presenciais.
Parágrafo único. O disposto no no III deste artigo não terá aplicação na fase
da instrução criminal ou em plenário de julgamento.”

Em qualquer Estado minimamente preocupado com a tutela de direitos


fundamentais, impõe-se à decisão criminal condenatória uma sustentação por
elementos empíricos válidos e demonstráveis de forma objetiva e racional que
indiquem a superação do nível de dúvida razoável que milita em favor do imputado.
No caso específico do reconhecimento de pessoas, por envolver, em última análise,
um conjunto de percepções subjetivas e comparação de experiências, o controle
deve ser ainda mais rigoroso, dado o considerável risco de falsas memórias.

Aliás, todos os operadores do sistema de Justiça criminal, desde a fase de


investigação até o trânsito em julgado do processo, precisam estar melhor
preparados para lidar com as informações criminais obtidas por intermédio da
memória humana.

É inadmissível que o profissional do sistema de Justiça criminal desconheça, em


linhas gerais, o modo de funcionamento da memória humana, bem como os riscos
de sugestionabilidade pela sua própria atuação junto às agências estatais.

Ignorar, por exemplo, as consequências do transcurso temporal, do estresse ou do


“efeito arma” no registro, armazenamento e recuperação da memória de vítimas e
testemunhas implicadas em um evento criminal e, ao mesmo tempo, insistir em
sugestões (diretas ou indiretas) na ânsia de trazer à tona a realidade do fato
ocorrido pode ser justamente o início de mais um erro investigativo a fundar
condenações indevidas.

DA COMUNICAÇÃO DA PRISÃO AO JUIZ

A prisão em flagrante, não comunicada em até 24 horas para o juiz, é ilegal. O


entendimento é da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, que
concedeu Habeas Corpus para um acusado de uso de documento falso. Ele foi
preso em 23 de março, mas o juiz só soube da prisão do réu quatro dias depois do
flagrante.

A relatora do caso, desembargadora Jane Silva, aplicou ao caso o novo texto do


artigo 306 do Código de Processo Penal. A regra estabelece:

“A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados


imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou a pessoa por ele
indicada.

§ 1º Dentro em 24h (vinte e quatro horas) depois da prisão, será


encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante acompanhado
de todas as oitivas colhidas e, caso o autuado não informe o nome de seu
advogado, cópia integral para a Defensoria Pública.
§ 2º No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de
culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor
e o das testemunhas.”

Foi entregue ao paciente a nota de culpa, porém o juiz não foi avisado. Podendo
assim, ser imputado à autoridade responsável o crime de omissão de prisão previsto
no art. 12 da Lei n. 13.869/19 - Ressaltando que a prisão em flagrante, não
comunicada em até 24 horas para o juiz, é ilegal.

Devemos destacar que, na prisão temporária (art. 2°, § 7º, da Lei n. 7.960/89),
decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a autoridade responsável pela
custódia deverá, independentemente de nova ordem da autoridade judicial, pôr
imediatamente o preso em liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da
prorrogação da prisão temporária ou da decretação da prisão preventiva.

DA NULIDADE DO INTERROGATÓRIO

O responsável pela investigação não autorizou a entrada do advogado de Franklin


no momento de seu depoimento (mesmo este estando presente e já ter sido
declarado como advogado logo na chegada) e de acordo com a Lei 13.245/2016,
que garante acesso a todos os documentos de uma investigação e considera nulos
interrogatórios e depoimentos colhidos de pessoa investigada sem assistência de
seu advogado, incluindo todos os elementos de prova decorrentes ou derivados
dessas falas.
A Lei 10.792/2003 já considerava obrigatória a presença de um defensor durante o
interrogatório do investigado preso, no curso do processo penal.

Se o profissional for barrado, haverá nulidade absoluta “do respectivo interrogatório


ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e
probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente”, conforme a
nova regra, que altera o artigo 7º do Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/1994).

O criminalista José Roberto Batochio entende que o acompanhamento de perto é


relevante porque, na área criminal, a fase de investigação é uma parte da
persecução penal. “Não é uma lei corporativista, benéfica apenas para a advocacia.
É importante para a cidadania, consagra direitos de todos”, afirma.

DOS PEDIDOS:

1- Que seja a presente ordem de HABEAS CORPUS, conhecida e deferida, para


fazer cessar o constrangimento ilegal de que está sendo vítima, o Paciente, pelos
fatos e fundamentos ut retro perfilados, oficiando-se a autoridade aqui nominada
coatora, para prestar suas informações em caráter de urgência;

2- A imediata soltura do paciente;

3- Indenização por danos morais e materiais devido a prisão ilegal e pelos


constrangimentos ao qual foi inflingido. Além das 24 horas detidas sem que o juiz e
sua família fossem avisados a respeito.

4- Que sejam pagas as custas que obteve com advogados;

5- Que seja reconhecida a nulidade do interrogatório;

6- Que seja desconsiderada a prisão em flagrante.

Nesses termos,

Pede e espera deferimento.

Belo Horizonte, 03 de novembro de 2021.

Advogado Alvo Percival Wulfrico Brian Dumbledore


OAB/MG: 1977

Você também pode gostar