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REVISÃO REVIEW 431

Qualidade de vida e transtornos alimentares:


uma revisão sistemática

Quality of life and eating disorders:


a systematic review

Patrícia Passarelli Tirico 1

Sérgio Carlos Stefano 1


Sergio Luís Blay 1

Abstract Introdução

1Escola Paulista de This article provides a systematic review of ar- O estudo sistemático da qualidade de vida come-
Medicina, Universidade
Federal de São Paulo,
ticles on quality of life (QoL) among individu- çou nos anos 1980, principalmente na área on-
São Paulo, Brasil. als with eating disorders. A literature search was cológica. Nessa especialidade, os médicos foram
conducted using six databases. Manual searches confrontados com baixa possibilidade de cura,
Correspondência
P. P. Tirico were also performed in two specialized jour- priorizando, portanto, o bem-estar do paciente e
Escola Paulista de Medicina, nals, covering the period from January 1975 to a sua satisfação com o tratamento 1.
Universidade Federal de
June 2008. The search strategies identified a to- Mais recentemente, a percepção do paciente
São Paulo.
Rua Borges Lagoa 570, tal of 29,537 articles. Forty-one studies met the sobre doença e tratamento passou a ser conside-
1 o andar, São Paulo, SP inclusion criteria, and 36 were analyzed in the rada nas tomadas de decisões psiquiátricas 2. To-
04038-030, Brasil.
present review. Patients with eating disorders davia, a avaliação subjetiva da qualidade de vida
patytirico@yahoo.com
showed reduced QoL as compared to normal em psiquiatria requer alguns cuidados. A ques-
controls and individuals with other psychiatric tão consiste em saber o quanto a capacidade de
disorders. The mental health component of QoL auto-avaliação de uma pessoa com transtorno
showed greater impairment than the physical mental grave – que freqüentemente apresenta
component. Patients with binge eating disorders alterações do pensamento, da comunicação e
showed reduced physical and psychological QoL. do senso crítico – pode estar comprometida pela
We identified few studies on QoL in bulimia ner- doença.
vosa-only patients. QoL assessment of anorexia Os transtornos alimentares representam o
nervosa patients showed a modest impact on the terceiro transtorno mental crônico mais comum
physical domain. However, this finding should entre adolescentes do sexo feminino, e embora
be interpreted with caution, since it may be due os efeitos fisiológicos e médicos sejam bem ca-
to an artifact in the disorder’s psychopathology racterizados, o seu impacto psicológico ainda é
rather than better health status per se. pouco compreendido 3.
Na revisão mais recente sobre o tema, Engel
Eating Disorders; Quality of Life; Review et al. 4 definem a qualidade de vida relacionada à
saúde para pacientes com transtornos alimenta-
res como o impacto que estes transtornos acarre-
tam em várias áreas da vida do indivíduo. Toda-
via, em revisão anterior, Hay & Mond 5 mostraram
que, até 2005, nenhum estudo de qualidade de

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vida em transtornos alimentares foi conduzido dos considerados relevantes foram avaliados pe-
com uma medida especificamente desenvolvi- lo revisor principal (P.P.T.) e por um co-revisor
da para esse grupo de pacientes. A maioria dos (S.C.S.), a fim de discutir a inclusão ou exclusão
estudos incluídos nesta revisão usava medidas na revisão. Os revisores não estavam cegos para
genéricas de qualidade de vida (na maioria, o os nomes dos autores, instituições e jornais de
Short-Form 36 Health Survey – SF-36) 5. Além de publicação.
não abarcar a especificidade dos transtornos ali- Com relação aos critérios de inclusão, todos
mentares, essas pesquisas revelaram divergên- os estudos que avaliaram qualidade de vida (qua-
cias e questionamentos quanto aos resultados lidade de vida ou qualidade de vida relacionada
obtidos na avaliação da qualidade de vida em à saúde) nos transtornos alimentares por meio
sujeitos com estes transtornos 3,6,7. de instrumentos validados, genéricos ou especí-
Considerando a dificuldade de precisar o ficos para transtornos alimentares, foram objeto
impacto na qualidade de vida de pacientes com desta revisão. Estudos que avaliaram qualidade
transtornos alimentares e de determinar os fa- de vida em um dos subgrupos diagnósticos sepa-
tores que contribuem para isto, o objetivo desta radamente (anorexia nervosa, bulimia nervosa,
revisão sistemática foi obter o melhor nível de transtorno da compulsão alimentar periódica ou
evidência disponível na literatura científica so- transtornos alimentares não-especificados) tam-
bre o modo de avaliação da qualidade de vida bém foram incluídos. Estudos qualitativos e de
em sujeitos com transtornos alimentares. Como validação de instrumento de qualidade de vida
objetivos específicos, o estudo visava a avaliar o específico para transtornos alimentares também
impacto na qualidade de vida de pessoas com foram analisados. Estudos com dados parciais
transtornos alimentares comparativamente a ou que avaliassem satisfação com a vida foram
outros grupos e em função de variáveis que pu- excluídos, bem como os que não realizaram o
dessem contribuir para este prejuízo (tais como diagnóstico dos transtornos alimentares de acor-
diferenças entre subgrupos diagnósticos, tipos do com os critérios de classificação diagnóstica
de amostra, gravidade e duração do quadro ali- (Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturba-
mentar, e presença de sintomatologia geral), ções Mentais – DSM – ou Classificação Estatística
além de identificar e classificar os instrumentos Internacional de Doenças e Problemas Relaciona-
utilizados nesta avaliação até o momento. dos com a Saúde – CID) e por meio de um ins-
trumento diagnóstico ou entrevista (clínica ou
estruturada).
Métodos A avaliação da qualidade metodológica dos
estudos com amostras clínicas e revisões siste-
O processo envolveu uma ampla revisão da li- máticas foi realizada de acordo com as diretri-
teratura a fim de identificar os estudos que zes do NHMRC Additional Levels of Evidence and
avaliassem qualidade de vida em sujeitos com Grades for Recommendations – Stage 2 Consulta-
transtornos alimentares. Para tanto, buscas ele- tion, fornecido pelo National Health and Medi-
trônicas, usando termos como Quality of Life, cal Research Council da Austrália 8. A avaliação
Outcome and Process Assessment, Health Pro- de estudos com amostras populacionais foi ba-
motion, Personal Satisfaction, Eating Disorders, seada no guideline de avaliação de estudos de
Anorexia Nervosa, Bulimia Nervosa e Binge Ea- prevalência do Evidenced-Based Mental Health
ting Disorder foram realizadas nas seguintes (EBMH) 9. Os estudos qualitativos foram avalia-
bases de dados: MEDLINE, EMBASE, LILACS, dos de acordo com os critérios desenvolvidos
PsycINFO, Cochrane Depression, Anxiety and pelo Evidence-Based Medicine Working Group
Neurosis Group Database of Trials e Cochrane para estudos qualitativos 10. E, finalmente, os es-
Library. O período compreendido pelas buscas tudos de validação de instrumentos de qualidade
foi de 1975, ano em que a qualidade de vida foi de vida específicos para transtornos alimentares
introduzida como termo-chave nas indexações foram avaliados com base nos critérios desenvol-
médicas, até 30 de junho de 2008. Paralelamente, vidos pela Scientific Advisory Committee of the
foram realizadas buscas manuais nas revistas: In- Medical Outcomes Trust 11. No entanto, a análise
ternational Journal of Eating Disorders e Quality dos estudos de validação foge dos objetivos deste
of Life Research. As referências bibliográficas de artigo.
todos os estudos considerados relevantes foram
examinadas detalhadamente e os autores foram
contatados somente mediante a necessidade de Resultados
esclarecimento dos dados. Os títulos e resumos
foram avaliados por um revisor para verificar a As estratégias de busca forneceram um total de
relevância do estudo para esta revisão. Os estu- 29.537 referências. A leitura dos títulos permitiu a

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QUALIDADE DE VIDA E TRANSTORNOS ALIMENTARES 433

exclusão da maior parte dos artigos, de tal forma tudos qualitativos 41,42,43 e cinco de validação de
que 2.758 resumos foram avaliados mais deta- instrumentos de qualidade de vida específicos
lhadamente. Posteriormente, 173 artigos foram para transtornos alimentares 44,45,46,47,48. As Ta-
analisados. Quarenta e um estudos preencheram belas 1, 2 e 3 apresentam as características gerais
critérios para inclusão nesta revisão. Desses, 36 e classificação metodológica dos estudos discu-
serão discutidos no presente trabalho (Figura 1). tidos no presente trabalho (n = 36), que abran-
gem as pesquisas com amostras clínicas e revisão
Características gerais dos estudos sistemática (Tabela 1), pesquisas com amostras
populacionais (Tabela 2) e as pesquisas qualita-
Dos 41 estudos incluídos nesta revisão, 25 tivas (Tabela 3).
eram de corte transversal 6,7,12,13,14,15,16,17,18,19, Vinte e oito estudos (78%) tinham como ob-
20,21,22,23,24,25,26,27,28,29,30,31,32,33,34, sete de coorte jetivo primário a avaliação da qualidade de vida
3,35,36,37,38,39,40, uma revisão sistemática 5, três es- nessa população. Do restante, 4 (11%) usaram o

Figura 1

Número de artigos selecionados em cada etapa do estudo.

Artigos potenciais
identificados (n = 29.537)

Artigos excluídos pelo


título (n = 26.779)

Resumos avaliados
(n = 2.758)

Artigos excluídos pelo


resumo (n = 2.585)

Artigos avaliados pela


metodologia (n = 173)

Artigos excluídos por não preencherem


os critérios de inclusão (n = 132)

Artigos incluídos
nesta revisão (n = 41)

Artigos de validação de instrumentos


de qualidade de vida específicos para
transtornos alimentares (n = 5)

Artigos incluídos
neste trabalho (n = 36)

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434 Tirico PP et al.

Tabela 1

Características e classificação metodológica dos estudos com amostras clínicas e revisões sistemáticas incluídos nesta revisão.

Referência Ano País (Língua) Desenho Subgrupos Amostra Instrumentos Instrumentos Classificação *
diagnósticos utilizados de qualidade
investigados em para realizar o de vida
cada estudo diagnóstico de utilizados no
transtorno estudo
alimentar

Keilen et al. 21 1994 Inglaterra Estudo Anorexia nervosa, N = 142 (anorexia Entrevista NHP D
(Inglês) de corte bulimia nervosa nervosa = 62, clínica
transversal bulimia (DSM-III-R)
nervosa = 80);
Grupo controle: 95
estudantes
Spitzer et al. 34 1995 Estados Estudo Assistência N = 1.000 PRIME-MD SF-20 D
Unidos de corte primária (maioria (pacientes clínicos)
(Inglês) transversal com transtorno
da compulsão
alimentar
periódica)
Padierna 1999 Espanha Estudo Anorexia nervosa, N = 141 (anorexia Entrevista SF-36 D
et al. 30 (Espanhol) de corte bulimia nervosa, nervosa do subtipo clínica
transversal transtorno da restritivo = 33, (DSM-IV)/EAT
compulsão anorexia nervosa do > 30
alimentar subtipo purgativo =
periódica 48, bulimia
nervosa = 48,
transtorno da
compulsão
alimentar
periódica = 12);
Grupo controle:
outros transtornos
psiquiátricos
Padierna 2000 Espanha Estudo Anorexia nervosa, N = 197 (anorexia Entrevista SF-36 D
et al. 31 (Inglês) de corte bulimia nervosa, nervosa do subtipo clínica
transversal transtorno da restritivo = 56, (DSM-IV)
compulsão anorexia nervosa do
alimentar subtipo purgativo =
periódica 60, bulimia
nervosa = 64,
transtorno da
compulsão
alimentar
periódica = 17);
Grupo controle:
norma espanhola
Danzl et al. 14 2001 Áustria Estudo Anorexia nervosa, N = 46 (anorexia Perguntas LQOLP D
(Alemão) de corte bulimia nervosa nervosa = 23, com base no
transversal bulimia DSM-IV
nervosa = 23)
De Zwaan 2002 Estados Estudo Obesos, N = 110 pacientes Avaliação SF-36 e D
et al. 16 Unidos de corte transtorno da avaliados para psiquiátrica IWQOL-Lite
(Inglês) transversal compulsão cirurgia; Grupo + QEWP-R +
alimentar controle: norma EDE-Q
periódica americana

(continua)

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QUALIDADE DE VIDA E TRANSTORNOS ALIMENTARES 435

Tabela 1 (continuação)

Referência Ano País (Língua) Desenho Subgrupos Amostra Instrumentos Instrumentos Classificação *
diagnósticos utilizados de qualidade
investigados em para realizar o de vida
cada estudo diagnóstico de utilizados no
transtorno estudo
alimentar

Hsu et al. 20 2002 Estados Estudo Obesos, N = 37 (com EDE SF-36 D


Unidos de corte transtorno da transtorno da
(Inglês) transversal compulsão compulsão
alimentar alimentar
periódica periódica = 9,
sem transtorno
da compulsão
alimentar
periódica = 28);
Grupo controle:
sujeitos sem
transtorno da
compulsão
alimentar periódica
da amostra
Marchesini 2002 Itália (Inglês) Estudo de Obesos, N = 92 (com EDE SF-36 C
et al. 36 coorte transtorno da transtorno da
compulsão compulsão
alimentar alimentar
periódica periódica = 46,
sem transtorno
da compulsão
alimentar
periódica = 46);
Grupo controle: 76
lista de espera
Padierna 2002 Espanha Estudo de Anorexia nervosa, N = 131 (anorexia Entrevista SF-36 C
et al. 3 (Inglês) coorte bulimia nervosa nervosa do subtipo clínica
restritivo = 43, (DSM-IV)
anorexia nervosa do
subtipo purgativo =
47, bulimia
nervosa = 41)

Lee et al. 24 2003 China (Inglês) Estudo Anorexia nervosa, N = 88 (anorexia SCID + SF-36 D
de corte bulimia nervosa nervosa do subtipo Morgan Russell
transversal restritivo = 59, Outcome
anorexia nervosa do Assessment
subtipo purgativo = Schedule
29); Grupo controle:
comparação entre
grupos de sujeitos
González-Pinto 2004 Espanha Estudo Anorexia nervosa N = 47 (73,9% com SCID SF-36 D
et al. 17 (Inglês) de corte anorexia nervosa do
transversal subtipo restritivo e
38,8% com anorexia
nervosa do subtipo
purgativo)

(continua)

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436 Tirico PP et al.

Tabela 1 (continuação)

Referência Ano País (Língua) Desenho Subgrupos Amostra Instrumentos Instrumentos Classificação *
diagnósticos utilizados de qualidade
investigados em para realizar o de vida
cada estudo diagnóstico de utilizados no
transtorno estudo
alimentar

Green et al. 35 2004 Estados Estudo de Obesos, N = 65 (sem ED-SCID ou SF-36 C


Unidos coorte transtorno da transtorno da QEWP-R
(Inglês) compulsão compulsão
alimentar alimentar
periódica periódica = 32,
com transtorno
da compulsão
alimentar
periódica = 33);
Grupo controle:
sujeitos sem
transtorno da
compulsão
alimentar periódica
da amostra
Kolotkin 2004 Estados Estudo Obesos, N = 530 (com QEWP-R IWQOL-Lite D
et al. 22 Unidos de corte transtorno da transtorno da
(Inglês) transversal compulsão compulsão
alimentar alimentar
periódica periódica = 95,
sem transtorno
da compulsão
alimentar
periódica =
435); Grupo
controle: sujeitos
sem transtorno
da compulsão
alimentar periódica
da amostra
Masheb & 2004 Estados Estudo Obesos, N = 94 (transtorno SCID + SF-36 D
Grilo 25 Unidos de corte transtorno da da compulsão entrevista
(Inglês) transversal compulsão alimentar periódica); psicossocial
alimentar Grupo controle: estruturada
periódica norma americana
e obesos sem
transtorno da
compulsão
alimentar periódica
(312)
Padierna 2004 Espanha Estudo de Anorexia nervosa, N = 131 (anorexia Entrevista SF-36 C
et al. 39 (Espanhol) coorte bulimia nervosa nervosa do subtipo clínica (DSM-IV)
restritivo = 43,
anorexia nervosa do
subtipo purgativo =
47, bulimia
nervosa = 41);
Grupo controle:
norma espanhola

(continua)

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Tabela 1 (continuação)

Referência Ano País (Língua) Desenho Subgrupos Amostra Instrumentos Instrumentos Classificação *
diagnósticos utilizados de qualidade
investigados em para realizar o de vida
cada estudo diagnóstico de utilizados no
transtorno estudo
alimentar

de la Rie 2005 Holanda Estudo Anorexia nervosa, N = 304 (51,3% com EDE-Q SF-36 D
et al. 15 (Inglês) de corte bulimia nervosa, transtorno alimentar,
transversal transtorno 48,7% sujeitos
alimentar não- que preencheram
especificado, critérios para
transtorno da transtorno alimentar
compulsão no passado);
alimentar Grupo controle:
periódica e norma holandesa
sujeitos que e outros quadros
preencheram psiquiátricos
critérios para
transtorno
alimentar no
passado
Hay & Mond 5 2005 Austrália Revisão Transtorno 19 estudos NA NA D
(Inglês) sistemática alimentar
Mond et al. 7 2005 Austrália Estudo Anorexia nervosa, N = 87 (anorexia Entrevista SF-12 e D
(Inglês) de corte bulimia nervosa, nervosa do subtipo clínica + WHOQOL-
transversal transtorno purgativo = 15, EDE-Q BREF
alimentar não- anorexia nervosa do
especificado, subtipo restritivo =
transtorno da 19, bulimia
compulsão nervosa = 40,
alimentar transtorno da
periódica compulsão
alimentar
periódica = 10);
Grupo controle:
495 mulheres da
comunidade
Nickel et al. 38 2005 Alemanha Estudo de Bulimia nervosa N = 60 (grupo Entrevista SF-36 A
(Inglês) coorte topiramato = 30, clinica + SCID-I
grupo placebo = 30)
Rieger et al. 32 2005 Estados Estudo Obesos, N = 118 (com EDE (em IWQOL-Lite D
Unidos de corte transtorno da transtorno da transtorno da
(Inglês) transversal compulsão compulsão compulsão
alimentar alimentar alimentar
periódica periódica = 56, periódica),
sem transtorno EDE-Q (em
da compulsão não-transtorno
alimentar da compulsão
periódica = 62) alimentar
periódica)
Scocco et al. 33 2006 Itália (Inglês) Estudo Anorexia nervosa, N = 63 (transtorno Entrevista por WHOQOL-100 D
de corte bulimia nervosa alimentar = 12: psiquiatra
transversal bulimia nervosa = 3, treinado +
anorexia SCID-I
nervosa = 9,
obesos = 29);
Grupo controle: 22,
Informantes: 41
(continua)

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438 Tirico PP et al.

Tabela 1 (continuação)

Referência Ano País (Língua) Desenho Subgrupos Amostra Instrumentos Instrumentos Classificação *
diagnósticos utilizados de qualidade
investigados em para realizar o de vida
cada estudo diagnóstico de utilizados no
transtorno estudo
alimentar

McHugh 37 2007 Estados Estudo de Anorexia nervosa N = 65 (anorexia Entrevista SF-36 C


Unidos coorte nervosa: grupo com clínica com
(Inglês) baixa predisposição psiquiatra
à mudança = 32, especialista
grupo com alta (DSM-IV)
predisposição à
mudança = 33);
Grupo controle:
norma americana
Colles et al. 13 2008 Austrália Estudo Obesos, N = 431 (com QEWP-R + SF-36 D
(Inglês) de corte transtorno da transtorno da entrevista
transversal compulsão compulsão clínica semi-
alimentar alimentar periódica estruturada
periódica = 38, perda de
controle subjetiva
= 46, perda de
controle objetiva =
40, sem transtorno
da compulsão
alimentar periódica
= 307)
Wilfley et al. 40 2008 Estados Estudo de Transtorno da N= 304 (152 EDE IWQOL-Lite B
Unidos coorte compulsão placebo e 152
(Inglês) alimentar sibutramina)
periódica
Latner et al. 23 2008 Nova Estudo Anorexia nervosa, N = 53 (anorexia EDE-Q SF-36 D
Zelândia de corte bulimia nervosa, nervosa = 21%,
(Inglês) transversal transtorno bulimia
alimentar não- nervosa = 9%,
especificado, transtorno da
transtorno da compulsão
compulsão alimentar
alimentar periódica = 6%,
periódica transtorno alimentar
não-especificado =
56%)

DSM-III-R: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (3a edição revisada); DSM-IV: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações
Mentais (4a edição); EAT: Eating Attitudes Test; EDE: Eating Disorders Examination; EDE-Q: Eating Disorders Examination, versão questionário; ED-SCID:
módulo de transtorno alimentar do SCID; IWQOL-Lite: Impact of Weight on Quality of Life Questionnaire; LQOLP: Lancashire Quality of Life Profile; NA: não
se aplica; NHP: Nottingham Health Profile; PRIME-MD: The Primary Care Evaluation of Mental Disorders; QEWP-R: Questionnaire on Eating and Weight
Patterns Revised; SCID: Structured Clinical Interview for DSM Disorders; SCID-I: Structured Clinical Interview for DSM Disorders; SF-12: Short-Form 12 Health
Survey; SF-20: Short-Form 20 Health Survey; SF-36: Short-Form 36 Health Survey; WHOQOL-BREF: Instrumento de Avaliação de Qualidade de Vida da OMS,
versão abreviada; WHOQOL-100: Instrumento de Avaliação de Qualidade de Vida da OMS.
* Classificação de acordo com o NHMRC Additional Levels of Evidence and Grades for Recommendations 8.

instrumento de qualidade de vida como medida Cerca de 78% dos estudos com amostras
secundária 18,24,37,40 e 4 (11%) não definiam clara- clínicas e populacionais utilizaram uma versão
mente a medida de desfecho principal, incluindo do Short-Form Health Survey para avaliar qua-
o instrumento de qualidade de vida junto a ou- lidade de vida. O instrumento de qualidade de
tras medidas de desfecho 13,20,35,38. vida desenvolvido pela Organização Mundial da

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QUALIDADE DE VIDA E TRANSTORNOS ALIMENTARES 439

Tabela 2

Estudos que examinaram a qualidade de vida a partir de amostras populacionais.

Referência Ano País Subgrupos diagnósticos Amostra Instrumentos de Classificação *


investigados em cada estudo qualidade de
vida utilizados no
estudo

Bijl & Ravelli 12 2000 Holanda Transtorno alimentar N = 7.147 (população geral) SF-36 B
Doll et al. 6 2005 Inglaterra Anorexia nervosa, bulimia N = 1.439 estudantes SF-36 C
nervosa, transtorno da
compulsão alimentar periódica
Grucza et al. 18 2007 Estados Transtorno da compulsão N = 917 (sem obesidade e SF-12 B
Unidos alimentar periódica sem transtorno da compulsão
alimentar periódica = 595,
obesos sem transtorno da
compulsão alimentar
periódica = 249, com transtorno
da compulsão alimentar
periódica = 60)
Hay 19 2003 Austrália Mulheres da comunidade N = 3.010 (mulheres da SF-36 e AQoL A
com e sem comportamentos comunidade com e sem
compulsivos e purgativos comportamentos compulsivos e
purgativos)
Mond et al. 26 2004 Austrália Mulheres que se exercitavam N = 169 (mulheres da WHOQOL-BREF B
com e sem sintoma alimentar comunidade)
Mond et al. 27 2004 Austrália Transtorno alimentar não- N = 208 (mulheres da SF-12 B
especificado comunidade)
Mond et al. 28 2006 Austrália Transtorno alimentar do tipo N = 5.232 (mulheres da SF-12 B
bulímico que não preenche comunidade)
critérios formais para bulimia
nervosa, isto é, transtorno
alimentar não-especificado
Mond et al. 29 2007 Austrália Transtorno da compulsão N = 110 (transtorno da SF-12 e C
alimentar periódica (mulheres) compulsão alimentar periódica) WHOQOL-BREF

AQoL: questionário australiano de qualidade de vida; SF-12: Short-Form 12 Health Survey; SF-36: Short-Form 36 Health Survey; WHOQOL-BREF: Instrumento
de Avaliação de Qualidade de Vida da OMS, versão abreviada.
* Avaliação feita com base no guideline de avaliação de estudos de prevalência do Evidenced-Based Mental Health 9. Critérios para classificação: preenche
todos os critérios do guideline = A; preenche todos os critérios, exceto taxa de resposta = B; deixa de preencher outros critérios, além da taxa de resposta = C.

Saúde – OMS, Instrumento de Avaliação de Qua- entrevistas clínicas, aplicaram a versão ques-
lidade de Vida da OMS (WHOQOL) foi utilizado tionário do EDE ou QEWP-R (Questionnaire on
em quatro estudos, assim como o IWQOL-Lite Eating and Weight Patterns Revised), este último
(Impact of Weight on Quality of Life Question- apenas no caso de amostras de transtorno da
naire), instrumento de qualidade de vida espe- compulsão alimentar periódica.
cífico para obesidade, sendo, portanto, aplicado Os estudos clínicos que se propuseram a
apenas nos estudos que avaliavam transtorno avaliar transtorno da compulsão alimentar pe-
da compulsão alimentar periódica em amostras riódica junto a pacientes com anorexia nervosa,
de obesos. bulimia nervosa e transtornos alimentares não-
Quanto à avaliação diagnóstica, a maior parte especificados apresentaram amostras muito pe-
dos estudos com amostras clínicas (19 em 24) in- quenas de sujeitos com transtorno da compul-
cluía entrevista clínica no processo de avaliação são alimentar periódica. Dos cinco estudos em
dos sujeitos, nove dos quais usaram entrevistas questão, a maior amostra foi composta por 17
estruturadas (EDE – Eating Disorders Examina- pacientes 31 e a menor contou com apenas três
tion – ou SCID – Structured Clinical Interview for pacientes 23. Os outros três estudos contaram
DSM Disorders). Os estudos que não utilizavam com amostras de 10 7,15 e 9 pacientes 30. Por esse

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440 Tirico PP et al.

Tabela 3

Estudos que examinaram a qualidade de vida com metodologia qualitativa.

Referência Ano País (Língua) Desenho Subgrupos Amostra Método Classificação *


diagnósticos
investigados
em cada estudo

de la Rie et al. 41 2007 Holanda Qualitativo e Anorexia N = 292 [146 com transtorno SEIQOL (entrevista A
(Inglês) quantitativo nervosa, bulimia alimentar no presente (anorexia semi-estruturada
nervosa, nervosa = 44, bulimia nervosa que avalia
transtorno = 43, transtorno alimentar qualidade de vida)
alimentar não- não-especificado = 59); 146
especificado com transtorno alimentar no
passado]
Etxeberria et al. 42 2002 Espanha Estudo Anorexia 7 grupos focais [4 grupos com 7 grupos focais + B
(Espanhol) qualitativo nervosa, bulimia pacientes com transtorno entrevista semi-
nervosa alimentar, estruturada que
n = 20 (anorexia nervosa = 11, avalia qualidade
bulimia nervosa = 9); 2 de vida
grupos com os familiares,
n = 18) e 1 grupo profissional
multidisciplinar]
Jones et al. 43 2008 Inglaterra Estudo Anorexia N = 32 (anorexia nervosa = 20, Entrevista semi- C
(Inglês) qualitativo nervosa, bulimia bulimia nervosa = 6, transtorno estruturada, com
nervosa alimentar não-especificado = 6) base nos domínios
do Morgan
Russell Outcome
Assessment
Schedule

SEIQOL: The Schedule for the Evaluation of Individual Quality of Life.


* Avaliação feita com base nas diretrizes pelo Evidenced-Based Medicine Working Group para estudos qualitativos 10. Critérios para classificação: preenche
todos os critérios do guideline = A; deixa de preencher um dos critérios = B; deixa de preencher dois ou mais critérios = C.

motivo, os resultados de qualidade de vida desse prejuízos na maioria dos escores da qualidade
grupo serão discutidos em separado. de vida, especialmente no que diz respeito ao
Situação inversa foi observada nos estudos aspecto mental ou domínios que o compõem
populacionais, cujas amostras geralmente não 6,7,15,23,31,33,34,37. Além disso, a gravidade do qua-

incluíam pacientes com anorexia nervosa 12,18,29 dro parece estar diretamente ligada ao prejuízo,
ou possuíam número muito pequeno de parti- de modo que quanto mais grave a sintomatologia
cipantes 6. Os demais estudos populacionais vi- alimentar pior a qualidade de vida 5,14,26,39. Os es-
savam a avaliar o impacto dos comportamentos tudos que avaliam sintomatologia geral, além da
compulsivos e compensatórios na qualidade de alimentar, também apresentaram esse mesmo
vida, sem a preocupação com o preenchimento padrão 5,17,24,31,39.
de todos os critérios diagnósticos 19,26,27,28. Na comparação com outros transtornos psi-
quiátricos, é digno de nota o fato de dois estudos
Qualidade de vida e transtornos alimentares apresentarem que a qualidade de vida de sujeitos
com transtornos alimentares é similar 12 ou pior 30
Os resultados dos estudos que avaliam a qua- a dos sujeitos portadores de esquizofrenia, um
lidade de vida dos indivíduos com transtornos dos quadros mais graves e debilitantes dentre os
alimentares como um todo mostram que quan- transtornos psiquiátricos. Além disso, Mond et
do a qualidade de vida de sujeitos com estes al. 27 observaram que sujeitos com transtornos
transtornos é comparada à qualidade de vida de alimentares apresentam qualidade de vida men-
sujeitos sem transtornos alimentares ou à popu- tal mais prejudicada do que casos de transtornos
lação normativa, indivíduos com transtornos ali- afetivos e ansiosos. E nos demais estudos nos
mentares invariavelmente apresentam maiores quais houve comparação com outros quadros

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QUALIDADE DE VIDA E TRANSTORNOS ALIMENTARES 441

psiquiátricos (transtornos do humor, depressão que os estudos que visavam a avaliar cronicidade
e transtorno do pânico), pacientes com transtor- possuíam objetivos, metodologia e amostras dis-
nos alimentares apresentam maiores prejuízos tintas, a comparação entre eles torna-se difícil.
na maioria das subescalas do Short-Form Heal- Contudo, a informação de que pacientes crôni-
th Survey, exceto dor 12,15 e capacidade funcio- cos não apresentam melhora na qualidade de vi-
nal 15,30. Essa última subescala também aparece da após dois anos parece concordar com o resul-
pouco prejudicada quando sujeitos com trans- tado encontrado em outros estudos. McHugh 37
tornos alimentares são comparados à população relatou que pacientes com baixa predisposição
normativa 15,31 ou a sujeitos sem estes transtor- à mudança melhoraram menos em termos da
nos 6. As razões para isso serão levantadas em qualidade de vida (entre outras medidas de des-
outro momento do presente artigo (ver o item fecho) quando comparados a pacientes com alta
Problemas na Avaliação da Qualidade de Vida em predisposição à mudança. Padierna et al. 3, em
Transtornos Alimentares). estudo anterior, mostraram que pacientes com
altos níveis de psicopatologia alimentar melho-
Qualidade de vida na bulimia nervosa raram menos após dois anos de tratamento, per-
e anorexia nervosa manecendo com escores de qualidade de vida
muito abaixo da população normativa espanho-
Os resultados dos estudos que avaliam qualidade la, o que não foi observado para pacientes com
de vida em sujeitos com anorexia nervosa e buli- sintomatologia leve.
mia nervosa sugerem que estes quadros parecem Nesse contexto, embora não seja possível re-
estar associados a maiores prejuízos emocionais lacionar as variáveis entre si – afirmando que pa-
e sociais do que físicos 3,6,7,14,15,17,21,23,31,33. A pre- cientes com maior tempo de doença apresentam
sença de comorbidades psiquiátricas 17, sintoma- psicopatologia alimentar mais intensa e menor
tologia depressiva e ansiosa 3,14,24,39, gravidade predisposição à mudança – essas três variáveis
do quadro alimentar 3,14 e menor predisposição estão diretamente relacionadas à gravidade do
à mudança 37,43 parecem interferir desfavora- quadro alimentar, que, por sua vez, parece cla-
velmente, acarretando em níveis mais baixos de ramente associada a maiores prejuízos na qua-
qualidade de vida. lidade de vida.
Com relação à cronicidade há resultados
discordantes. Padierna et al. 39 observaram que Aspectos da qualidade de vida mais
pacientes com transtornos alimentares crônicos prejudicados na bulimia nervosa
(tempo de doença maior do que cinco anos) e e na anorexia nervosa
não-crônicos (tempo de doença menor do que
cinco anos) apresentavam prejuízos similares na Quanto aos domínios mais freqüentemente pre-
qualidade de vida no início do tratamento. No judicados nessas pacientes, especial atenção
entanto, após dois anos de tratamento e segui- deve ser dada ao aspecto social. Danzl et al. 14
mento, o grupo não-crônico (n = 51) melhorou investigaram a qualidade de vida de 46 pacientes
em todas as subescalas (exceto “limitações por tratados anteriormente usando-se o Lancashire
aspectos emocionais”), ao passo que o grupo Quality of Life Profile. Nesse estudo, os pacien-
crônico (n = 80) não apresentou melhora em tes relataram pouca satisfação com a área so-
nenhum domínio da qualidade de vida e tam- cial (família, amigos e trabalho) e os domínios
pouco no que se refere à sintomatologia ansiosa que apresentaram correlação com a melhora na
e depressiva. Todavia, Hay 19, em um estudo po- qualidade de vida foram família e trabalho. Pa-
pulacional para avaliar o impacto da presença dierna et al. 31 relataram que comparados à po-
de comportamentos bulímicos nas medidas de pulação normativa, pacientes com transtornos
qualidade de vida relacionada à saúde, observou alimentares (n = 197) apresentam deterioração
que a duração dos comportamentos alimentares mais evidente nos domínios psicossociais, com
não apresentou correlação com os componentes baixos níveis de deterioração nas áreas físicas. Já
físico ou mental do SF-36. de la Rie et al. 15 também observaram que, com-
O primeiro estudo anteriormente citado, que parados a sujeitos que manifestaram transtornos
investiga a relação do tempo de doença com a alimentares no passado (n = 148), pacientes com
qualidade de vida 39, avalia uma amostra de pa- transtornos alimentares (n = 156) obtiveram es-
cientes clínicos tratados por dois anos em um cores significativamente mais baixos em 6 das
centro específico de tratamento para transtornos 8 subescalas, incluindo o aspecto social e de-
alimentares. Já o segundo, é um estudo popu- mais subescalas do componente mental. Esses
lacional que investiga os comportamentos rela- achados também são sustentados pela compara-
tivos aos transtornos alimentares, sem a preo- ção dos pacientes com transtornos alimentares
cupação com o diagnóstico em questão 19. Visto (n = 53) com as normas da Austrália e da Nova

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442 Tirico PP et al.

Zelândia, que mostram que o componente físico o item Problemas na Avaliação da Qualidade de
do SF-36 das pacientes com transtornos alimen- Vida em Transtornos Alimentares).
tares era comparável aos escores populacionais,
enquanto o componente mental estava abaixo Diferenças na qualidade de vida entre
das populações normativas 23. os subgrupos diagnósticos
O impacto no aspecto social é corroborado
pela avaliação das próprias pacientes nos estu- Alguns estudos investigaram diferenças na qua-
dos qualitativos, que descrevem esta área como lidade de vida entre os subgrupos diagnósticos.
de grande relevância na qualidade de vida. Em Contudo, os resultados encontrados são bastante
estudo realizado com 292 participantes, de la discrepantes.
Rie et al. 41 relataram que o domínio sensação de De la Rie et al. 15 não encontraram diferenças
pertencimento (que se refere ao apoio social de significativas na qualidade de vida entre os sub-
amigos, parceiros e parentes, bem como a capa- grupos diagnósticos.
cidade de se comunicar e sentir-se cuidado) foi Doll et al. 6 relataram que sujeitos com ano-
citado por 93% dos pacientes como um aspec- rexia nervosa do subtipo restritivo apresentavam
to importante da qualidade de vida, além de ter menor prejuízo na qualidade de vida mental do
sido mais freqüentemente mencionado em pri- que anorexia nervosa do subtipo purgativo e bu-
meiro lugar na ordem de importância atribuída limia nervosa, além de maior satisfação na su-
aos domínios. bescala de relacionamento social do WHOQOL-
Nos grupos focais realizados por Etxeberria BREF (Instrumento de Avaliação de Qualidade
et al. 42, os pacientes (n = 20) discutiram muito de Vida da OMS, versão abreviada). Esses autores
sobre as relações familiares. Quando as relações também encontraram diferenças aparentes nos
sociais foram abordadas, todos os grupos de pa- escores médios do SF-36 com relação às dimen-
cientes mencionaram que esta era a área mais sões limitações por aspectos físicos, limitações
afetada da vida, ressaltando a perda dos amigos, por aspectos emocionais, e o componente men-
o isolamento e a dificuldade de estabelecer rela- tal do SF-36, com menor prejuízo para sujeitos
ções afetivas. com anorexia nervosa e maiores para sujeitos
No terceiro estudo qualitativo, realizado com transtorno da compulsão alimentar perió-
com 32 pacientes, Jones et al. 43 descreveram dica (indivíduos com bulimia nervosa apresen-
que as três formas de relacionamentos discu- taram escores intermediários). Todavia, nesse
tidas (relacionamentos com amigos, relaciona- mesmo estudo, 29% dos sujeitos com anorexia
mentos íntimos e relacionamentos familiares) nervosa referiram ter pensado sobre tirar suas
eram fortemente impactadas pelo transtornos vidas, porcentagem bem mais alta do que as en-
alimentares. contradas em indivíduos com bulimia nervosa
Outro aspecto mencionado como importan- (15%) e transtorno da compulsão alimentar pe-
te na qualidade de vida dessas pacientes são as riódica (4,5%).
características próprias da psicopatologia ali- Entretanto, outros estudos apresentam qua-
mentar. No estudo de de la Rie et al. 41, a psicopa- lidade de vida prejudicada para pacientes com
tologia específica dos transtornos alimentares foi anorexia nervosa. Padierna et al. 31 relataram que
mencionada por quase 30% das pacientes como sujeitos com anorexia nervosa (n = 116) apresen-
uma área importante na qualidade de vida. Além taram maior deterioração nos relacionamentos
disso, os autores observaram que pacientes com familiares e sociais do que bulimia nervosa (n =
transtornos alimentares no presente apontaram 64), embora ambos tenham manifestado dificul-
a psicopatologia específica dos transtornos ali- dades nas relações emocionais.
mentares como significativamente mais impor- Nessa mesma linha, González-Pinto et al. 17,
tante na percepção da qualidade de vida do que em estudo realizado somente com pacientes
sujeitos com transtornos alimentares no passa- com anorexia nervosa (n = 47), encontraram que
do, além de apresentarem pior qualidade de vida as pontuações mais baixas foram saúde mental,
em todos os domínios 41. vitalidade e estado geral de saúde. Além disso,
Com relação à ausência de prejuízos físicos, a existência de comportamentos purgativos foi
os resultados são mais duvidosos. É possível que fortemente associada aos componentes men-
o impacto no aspecto físico seja menos impor- tal e físico, bem como à qualidade de vida glo-
tante do que os prejuízos emocionais e sociais bal. Contudo, os autores observaram desvios-
em pacientes com anorexia nervosa e bulimia padrões muito altos nas subescalas limitações
nervosa, mas tal fato também pode ser explicado por aspectos físicos e limitações por aspectos
pelas características inerentes a estes quadros, emocionais.
que apresentam aumento de atividade física co- Esses resultados revelam a dificuldade de
mo possível manifestação psicopatológica (ver avaliar qualidade de vida em alguns subgrupos

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QUALIDADE DE VIDA E TRANSTORNOS ALIMENTARES 443

de transtornos alimentares e levantam o questio- alimentares objetivas também foram associadas


namento sobre a adequação de medidas genéri- a prejuízos consideráveis, ao passo que exercício
cas na avaliação desses pacientes, especialmente físico não foi.
na anorexia nervosa. Esses questionamentos e A ausência de relação direta entre exercício
suas possíveis razões serão abordados em outro físico e qualidade de vida foi confirmada em três
momento do artigo (ver o item Problemas na estudos posteriores, realizados pelo mesmo gru-
Avaliação da Qualidade de Vida em Transtornos po 26,28,49. Os resultados mostram que não há as-
Alimentares). sociação entre exercício e qualidade de vida na
ausência da psicopatologia alimentar. Os autores
Comportamentos alimentares específicos relatam que se sentir culpado por perder a sessão
e qualidade de vida de exercício e exercitar-se somente por razões
relativas ao peso e forma corporal predizem altos
Alguns estudos investigaram a relação entre níveis de psicopatologia alimentar (que, por sua
comportamentos alimentares e qualidade de vez, interfere na qualidade de vida).
vida, avaliando o impacto dos diferentes com- Em estudo subseqüente, Mond et al. 28 ava-
portamentos alimentares na qualidade de vi- liaram os prejuízos associados a métodos pur-
da 19,23,26,27,28. A análise utilizada para avaliar gativos e não-purgativos em uma amostra da
a contribuição das duas formas de compulsão comunidade que referia episódios de compul-
alimentar (objetivas e subjetivas) e dos compor- são alimentar objetivos e/ou subjetivos. Nesse
tamentos compensatórios (uso de laxante, abuso estudo, os autores observaram que sujeitos que
de diuréticos, vômitos auto-induzidos, restrição reportaram episódios de compulsão alimentar
alimentar e exercício físico) na qualidade de vida recorrentes (objetivos ou subjetivos) apresenta-
diferiu entre os estudos. ram maiores níveis de psicopatologia alimentar
Latner et al. 23 relatam que após controle da e prejuízo funcional (baixa qualidade de vida)
sintomatologia depressiva, abuso de laxantes e do que aqueles que não apresentavam tais com-
restrição alimentar foram independentemente portamentos. Similarmente, sujeitos que repor-
relacionados ao componente físico da qualidade taram comportamentos extremos para controle
de vida (SF-36), mas os comportamentos rela- do peso (purgativos ou não-purgativos) obtive-
cionados ao componente mental não atingiram ram maiores níveis de psicopatologia alimentar
significância estatística. e prejuízo funcional do que aqueles que não re-
Hay 19 aponta que compulsão alimentar re- portaram tais comportamentos. A combinação
gular explica 23% da variância no componente de episódios de compulsão alimentar e o uso de
mental da qualidade de vida, 29% da variância comportamentos extremos para controle do pe-
nas subescalas do SF-36, e 28% da variância nos so foi associada a níveis particularmente altos de
escores do AQoL (questionário australiano de psicopatologia alimentar e prejuízo funcional.
qualidade de vida). Essas porcentagens foram E a combinação entre compulsões alimentares
bem mais baixas para os comportamentos extre- subjetivas e comportamentos extremos para
mos para controle do peso (restrição alimentar controle do peso foi mais comum do que a com-
e purgação), sendo, respectivamente, 5%, 7% e binação de compulsões alimentares objetivas e
16%. comportamentos extremos. Segundo os autores,
González-Pinto et al. 17 encontraram que esses achados suportam a visão de que a experi-
presença de purgação determinou redução de ência de perda de controle sobre o comer pode
quase oito pontos no componente mental do ser um melhor índice de perturbação psiquiátri-
SF-36. ca em sujeitos com transtornos alimentares do
De la Rie et al. 41 observaram que na com- tipo bulímico do que a quantidade de comida
paração entre pacientes do subtipo purgativo e consumida.
não-purgativo, pacientes purgativos reportavam De modo geral, os resultados mostrados su-
escore médio significativamente pior em rela- gerem que a perda de controle sobre o comer e a
ção à psicopatologia específica do transtorno existência de comportamentos compensatórios,
alimentar. especialmente do tipo purgativo, parecem con-
Mond et al. 27 também observaram que a tribuir de modo negativo para a percepção da
existência de comportamentos purgativos (em qualidade de vida.
especial vômito auto-induzido) foi associada a Todavia, é importante ressaltar que o único
altos níveis de prejuízos na qualidade de vida, estudo que não apresentou correlação dos com-
bem como na medida de sintomatologia ansiosa portamentos alimentares com o componente
e depressiva. A ocorrência de qualquer compor- mental da qualidade de vida foi um estudo re-
tamento purgativo foi associada à queda de nove alizado com amostra clínica e que avaliou sin-
pontos na qualidade de vida mental. Compulsões tomatologia depressiva. Os demais estudos são

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444 Tirico PP et al.

populacionais, feitos na mesma região (Austrá- Short-Form Health Survey (instrumento que per-
lia) e que não controlaram para sintomatologia mite a divisão da qualidade de vida nestes dois
depressiva. componentes, mental e físico), mostraram maior
Em função disso, embora pareça que a perda concordância quanto ao prejuízo encontrado.
de controle sobre o comer e a presença de méto- Todos os estudos que apresentam resultados so-
dos purgativos para controle do peso acarretem bre o componente mental da qualidade de vida,
prejuízos na qualidade de vida, não é possível ex- referem-no como o aspecto mais prejudicado em
cluir a possibilidade do envolvimento de outras sujeitos com transtorno da compulsão alimentar
variáveis neste processo. periódica 13,16,18,20,25,36. Além disso, duas dimen-
sões que fazem parte desse componente (aspec-
Qualidade de vida e transtorno da tos sociais e limitações por aspectos emocionais)
compulsão alimentar periódica são freqüentemente mencionadas como signi-
ficativamente mais prejudicadas nesses indiví-
Com relação às pesquisas com transtorno da duos, mesmo após controle de outras variáveis
compulsão alimentar periódica, cerca de 89% 13,20,25,34,35. Grucza et al. 18, avaliando uma amos-

dos estudos foram realizados em amostras de tra de sujeitos com transtorno da compulsão
obesos, a maioria avaliando a qualidade de vida alimentar periódica retirados da comunidade,
de sujeitos com e sem transtorno da compulsão observaram que indivíduos com este transtorno
alimentar periódica, retirados dos mais diversos (n = 60) obtiveram pontuação significativamen-
grupos, em relação a outras variáveis (sintoma- te pior no componente mental da qualidade de
tologia depressiva, auto-estima, hábitos alimen- vida do que obesos sem transtorno da compul-
tares, entre outras). Apenas um estudo incluído são alimentar periódica (n = 249) e sujeitos sem
visava a avaliar a qualidade de vida de sujeitos obesidade e sem este transtorno (n = 595). E em-
com transtorno da compulsão alimentar perió- bora transtorno da compulsão alimentar perió-
dica antes e após cirurgia bariátrica. dica tenha apresentado associação significativa
De modo geral, indivíduos com transtorno da com depressão, ansiedade generalizada, ataques
compulsão alimentar periódica apresentam pior de pânico e tentativas de suicídio, os resultados
qualidade de vida do que a população normativa continuaram significantes após controle des-
16,20,25,36. Quando a análise é feita em termos do tas variáveis. Segundo os autores, transtorno da
impacto nos aspectos físico e mental, há consen- compulsão alimentar periódica prediz escores
so sobre o impacto da obesidade no aspecto físi- mais baixos no componente mental do SF-12
co e sobre a constatação de maior prejuízo no as- (Short-Form 12 Health Survey), sendo indepen-
pecto emocional em sujeitos com transtorno da dentemente associado à baixa qualidade de vida
compulsão alimentar periódica. A dúvida con- mental.
siste em saber se o prejuízo na qualidade de vida Quanto aos estudos que usam o IWQOL-Lite
mental de indivíduos com transtorno da com- para avaliar a qualidade de vida de sujeitos com
pulsão alimentar periódica deve-se aos compor- transtorno da compulsão alimentar periódica,
tamentos relativos aos transtornos alimentares observa-se discordância quanto ao maior im-
ou a variáveis que os acompanham, tal como sin- pacto na qualidade de vida de obesos com este
tomatologia depressiva. Masheb & Grillo 25 en- transtorno.
contraram que a associação entre transtorno da Três desses estudos 16,22,32 compararam a
compulsão alimentar periódica e IMC (índice de qualidade de vida relacionada ao peso de obesos
massa corporal) foi inversa e significativamente com e sem transtorno da compulsão alimentar
relacionada ao componente físico do SF-36, en- periódica. Kolotkin et al., 22 atribuíram o maior
quanto a associação entre transtorno da compul- impacto da qualidade de vida em sujeitos com
são alimentar periódica e depressão foi inversa e transtorno da compulsão alimentar periódica
significativamente relacionada ao componente (n = 95) a variáveis demográficas e ao IMC, en-
mental do SF-36. O fato de a obesidade por si só quanto De Zwaan et al. 16 observaram que três
explicar baixos níveis de qualidade de vida física das cinco subescalas do IWQOL-Lite (auto-esti-
já foi comprovado por estudos que avaliaram a ma, vida sexual e trabalho), além do escore total
qualidade de vida de sujeitos obesos 50,51. Toda- da qualidade de vida, encontravam-se significa-
via, para o aspecto mental permanece a ques- tivamente mais prejudicadas em sujeitos com
tão: na ausência da sintomatologia depressiva os transtorno da compulsão alimentar periódica
comportamentos do transtorno da compulsão (n = 19), os quais não diferiam dos sujeitos sem
alimentar periódica são relacionados a prejuízos este transtorno (n = 91) quanto ao IMC. Além dis-
na qualidade de vida mental? so, após controle da sintomatologia depressiva
A esse respeito, os estudos com transtorno e medida de auto-estima o resultado permane-
da compulsão alimentar periódica que usaram o ceu inalterado. Esses achados são corroborados

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 26(3):431-449, mar, 2010


QUALIDADE DE VIDA E TRANSTORNOS ALIMENTARES 445

pelos resultados de Rieger et al. 32, que obser- cas. Nesse estudo, sujeitos com anorexia nervo-
varam prejuízos nas mesmas subescalas (auto- sa reportaram melhor qualidade de vida do que
estima, vida sexual, trabalho e escore total) em aqueles com transtorno da compulsão alimentar
sujeitos com transtorno da compulsão alimentar periódica nas subescalas limitações por aspec-
periódica (n = 56) quando comparados a sujeitos tos emocionais e limitações por aspectos físicos.
sem este transtorno (n = 62). Ainda que esse es- Uma vez que refletem resultados irreais ou errô-
tudo não tenha avaliado sintomatologia depres- neos, os autores levantam a possibilidade dos es-
siva, os autores avaliaram o impacto do IMC no cores serem reflexo da forma como as perguntas
resultado e encontraram correlação negativa en- são feitas no SF-36, tornando-o inadequado pa-
tre IMC e qualidade de vida somente para as su- ra sujeitos com transtornos, tais como anorexia
bescalas desconforto público e funcionamento nervosa.
físico. Kolotkin et al. 22 também apontaram que Alguns resultados de outros estudos incluí-
o IMC explicava 44,5% da variância da subescala dos nesta revisão parecem reforçar essas idéias.
desconforto público, 35,2% da variância em fun- Conforme mencionado anteriormente, ob-
cionamento físico e 34,1% da variância no esco- servou-se que a subescala capacidade funcional
re total, sendo pouco responsável pela variância aparece pouco prejudicada (melhor do que ou-
nas demais subescalas. tros subgrupos) ou até mesmo sem prejuízos em
Embora o IWQOL-Lite não permita a divisão sujeitos com transtornos alimentares 6,15,30,31. As
dos domínios nos componentes mental e físico, perguntas relativas a essa subescala referem-se
os domínios significativa e repetidamente afeta- ao quanto o sujeito deixou de fazer atividades
dos nesses sujeitos são relativos à área psicosso- diárias básicas, que envolvem movimentação fí-
cial. Além disso, para o domínio funcionamento sica, em função da sua saúde. Tais perguntas são
físico não houve diferença estatisticamente sig- bastante inadequadas para refletir a qualidade
nificante entre os grupos de obesos com e sem de vida de pacientes que aumentam a ativida-
transtorno da compulsão alimentar periódica de para perder peso. Dessa forma, é possível que
em nenhum dos estudos analisados. quanto maior a hiperatividade maior o nível de
Talvez não seja possível afirmar quais são os qualidade de vida nesse domínio. Assim, um es-
comportamentos relativos ao transtorno da com- core referente à melhor qualidade de vida nesse
pulsão alimentar periódica que possuem maior domínio poderia refletir diretamente maiores
impacto na qualidade de vida e geram maiores níveis de psicopatologia alimentar, e não o con-
prejuízos, mas os resultados dos estudos aqui trário.
apresentados sugerem que o transtorno da com- Nessa mesma linha, observa-se que nos mes-
pulsão alimentar periódica acarreta em prejuízos mos domínios para os quais Doll et al. 6 relataram
nas áreas sociais e emocionais da qualidade de as maiores diferenças entre sujeitos com anore-
vida, para além do prejuízo físico proveniente da xia nervosa e transtorno da compulsão alimentar
obesidade. periódica – limitações por aspectos físicos e limi-
tações por aspectos emocionais – González-Pin-
Problemas da avaliação da qualidade de to et al. 17 relataram os maiores desvios padrões.
vida em transtornos alimentares Esses domínios também se referem à diminuição
das atividades em função de um problema físico
Como já foi dito, alguns estudos trazem questio- ou emocional, respectivamente.
namentos sobre a adequação dos instrumentos Todavia, embora pareça claro que algumas
genéricos na avaliação da qualidade de vida em subescalas do Short-Form Health Survey abor-
transtornos alimentares, especialmente na ano- dem questões delicadas para pacientes com
rexia nervosa 6,7,19,45. anorexia nervosa, exigindo cautela na avaliação
Com base nos resultados relatados para dos achados, também é notório o fato de os re-
anorexia nervosa em seu estudo, Mond et al. 7 sultados de qualidade de vida serem todos mais
apontam que a avaliação da qualidade de vi- questionáveis para este grupo de pacientes, in-
da em pacientes com transtornos alimentares dependentemente do modo de avaliação.
requer reflexões cuidadosas. Os autores consi- Há resultados – como os obtidos nas subesca-
deram pouco provável que o uso de medidas las anteriormente mencionadas – que podem ser
subjetivas funcione como auxílio no tratamen- atribuídos ao instrumento utilizado, mas existem
to de pacientes com anorexia nervosa, uma vez outros – como a maior satisfação com as áreas
que o ganho de peso associado ao tratamento sociais no estudo de Doll et al. 6 e a menor satisfa-
provavelmente se reflete em baixos níveis de ção na mesma área no estudo de Padierna et al. 31
bem-estar subjetivo. – que podem ser oriundos da própria complexi-
Doll et al. 6 também encontraram resultados dade do quadro e questões individuais, como fica
pouco consistentes com as observações clíni- bem documentado nos dois estudos qualitativos

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446 Tirico PP et al.

que buscam a informação em profundidade 42,43. A presença de comorbidades, sintomatologia


Tais estudos apresentam opiniões divergentes depressiva ou ansiosa, e gravidade do quadro ali-
entre os pacientes quanto à satisfação com as mentar foi correlacionada a níveis mais altos de
áreas da vida, à recuperação e à possibilidade de prejuízo. Todavia, não parece bem estabelecido
atribuir estas variações a condições observáveis em que medida cada uma dessas variáveis con-
(subtipo de transtornos alimentares, tempo de tribui para a diminuição do bem-estar.
doença, idade, IMC, entre outros). Entre os subgrupos diagnósticos, observou-
Todavia, para que essas questões sejam es- se que transtorno da compulsão alimentar perió-
clarecidas, futuras investigações são necessárias, dica apresenta maiores prejuízos físicos do que
especialmente com instrumentos de qualidade sujeitos com anorexia nervosa e bulimia nervosa
de vida específicos para transtornos alimenta- (diferença cuja interpretação exige cautela). E
res, desenvolvidos com a intenção de serem mais na comparação com obesos sem transtorno da
sensíveis às características específicas e particu- compulsão alimentar periódica, sujeitos com
lares dos transtornos alimentares. este transtorno apresentam maiores prejuízos
emocionais.
A avaliação da qualidade de vida em sujeitos
Discussão e considerações finais com bulimia nervosa, especificamente, foi pou-
co discutida, e para anorexia nervosa a mesma
O presente trabalho pretendeu obter a melhor mostrou-se muito problemática.
evidência quanto à qualidade de vida e seu modo Apesar dos estudos com instrumentos genéri-
de avaliação em pacientes com transtornos ali- cos apresentarem resultados contraditórios entre
mentares. Para tanto, analisou 36 estudos a esse si e discrepantes com relação à gravidade clínica
respeito. e psicológica deste quadro (anorexia nervosa), o
Embora o número de estudos não seja obje- estudo de validação de instrumento específico
tivamente pequeno, ele é reduzido quando com- para transtornos alimentares que abordou esta
parado ao número de referências oriundas das questão diretamente não obteve sucesso na eli-
buscas bibliográficas (29.537 referências). Além minação dos efeitos ego-sintônicos na percep-
disso, a diversidade metodológica das pesquisas ção de qualidade de vida, com escores muito al-
não permitiu o agrupamento dos dados para re- tos para indivíduos com anorexia nervosa 45. Tal
alização de análise estatística, e a existência de fato leva ao questionamento da possibilidade de
amostras pequenas dificultou a generalização eliminarmos esse tipo de complicação.
dos achados. Não obstante, a concordância entre Dado que a avaliação da qualidade de vida
alguns resultados permite considerações sobre a é necessariamente subjetiva, talvez não seja o
qualidade de vida dos transtornos alimentares e modo de avaliação da qualidade de vida a ques-
sua avaliação. tão a ser resolvida, mas a própria complexidade
A esse respeito, os resultados dos estudos re- dos transtornos alimentares. Os resultados até
velam prejuízos na qualidade de vida de sujeitos o momento permitem refletir sobre formas de
com transtornos alimentares, quer comparados contornar as dificuldades inerentes à avaliação
a grupos controles, população normativa ou ou- da qualidade de vida nesse grupo de pacientes,
tros quadros psiquiátricos. Quanto a esse último, mas não eliminá-la, e tampouco concluir qual é
de especial preocupação é o fato de os transtornos a melhor forma de fazê-lo.
alimentares apresentarem prejuízos funcionais Em suma, embora exista crescente interesse
similares aos portadores de esquizofrenia 12,30, e aumento das pesquisas sobre qualidade de vi-
além de pior qualidade de vida do que os sujeitos da e transtornos alimentares, ainda são necessá-
com depressão, transtorno do pânico, transtor- rios mais estudos para um melhor delineamento
nos afetivos e transtornos ansiosos 12,15,27,30. do problema e uma melhor forma de avaliação
Quanto aos aspectos da qualidade de vida coerente com esse delineamento. Estudos com
mais afetados, também é bastante consistente o amostras clínicas maiores, mais homogêneas,
fato de os transtornos alimentares apresentarem longitudinais, e investigações populacionais com
maiores prejuízos emocionais do que físicos. O controle de variáveis confundidoras, tais como
aspecto social foi repetidamente mencionado comorbidade com problemas clínicos e sintoma-
como a área mais afetada para todos os subgru- tologias ansiosa e depressiva, podem contribuir
pos diagnósticos e em todos os tipos de estudo. para formação de um corpo de conhecimento
Tal fato aponta para a necessidade de se consi- mais ajustado para a análise da qualidade de vida
derar os aspectos clínicos e psiquiátricos con- nesses pacientes.
juntamente ao suporte social e envolvimento
familiar, no curso do tratamento e planejamento
clínico.

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QUALIDADE DE VIDA E TRANSTORNOS ALIMENTARES 447

Limitações específicos e prejuízos na qualidade de vida são


populacionais, realizados em uma mesma região
Os resultados apresentados nesta revisão siste- (Austrália) e pelo mesmo grupo de pesquisado-
mática devem ser examinados à luz de algumas res. Além de não favorecer a inclusão de sujeitos
limitações. A primeira é a elevada ocorrência de com anorexia nervosa, esses estudos podem in-
estudos com amostras pequenas, limitando o po- troduzir dois vieses: de amostragem, visto que a
der estatístico da análise. A segunda diz respeito à amostra pode não ser representativa de outros
predominância dos estudos de corte transversal, grupos populacionais acometidos pelos mesmos
que não permitem o estabelecimento de relações transtornos, e de variáveis confundidoras, visto
causais. Em terceiro lugar, as pesquisas popula- que os estudos em questão não controlam os
cionais não favorecerem o estudo de transtornos resultados em função da presença de sintoma-
com baixa prevalência como a anorexia nervo- tologia geral, que poderia interferir e justificar
sa. Em quarto lugar, os estudos que avaliaram o prejuízo na qualidade de vida atribuído a um
a relação entre os comportamentos alimentares comportamento alimentar específico.

Resumo Colaboradores

O objetivo foi fazer uma revisão sistemática dos estu- P. P. Tirico contribuiu com o desenvolvimento do proje-
dos que avaliam qualidade de vida em pessoas com to de pesquisa, análise e interpretação dos resultados,
transtornos alimentares. Foram realizadas buscas bi- redação do artigo e aprovação da versão a ser publicada.
bliográficas em seis bases de dados e buscas manuais S. C. Stefano participou como co-revisor na seleção dos
em duas revistas, abrangendo o período de janeiro de estudos incluídos na pesquisa. S. C. Stefano e S. L. Blay
1975 até junho de 2008. As estratégias de busca forne- contribuíram com a orientação no desenvolvimento e
ceram um total de 29.537 referências. Quarenta e um realização do projeto, revisão do artigo e aprovação da
estudos preencheram os critérios de inclusão desta re- versão a ser publicada.
visão e 36 foram analisados no presente trabalho. De
modo geral, os estudos revelam prejuízos na qualida-
de de vida de pacientes com transtornos alimentares
quando comparados a grupos normais ou outras pa-
tologias psiquiátricas. O aspecto mental da qualida-
de de vida mostra-se mais prejudicado. A avaliação
da qualidade de vida em sujeitos com transtorno da
compulsão alimentar periódica revela prejuízos nos
aspectos físico e mental da qualidade de vida. Há pou-
ca evidência e discussão para indivíduos com bulimia
nervosa isoladamente. Em sujeitos com anorexia ner-
vosa, a avaliação requer cautela, já que o aparente
menor impacto físico pode ser reflexo da psicopatolo-
gia específica deste transtorno e não do funcionamen-
to saudável.

Transtornos de Alimentação; Qualidade de Vida;


Revisão

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 26(3):431-449, mar, 2010


448 Tirico PP et al.

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Versão final reapresentada em 07/Mar/2010
Aprovado em 12/Mar/2010

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 26(3):431-449, mar, 2010

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