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Curso de Formação Especializada em Educação Especial,

Domínio Cognitivo-Motor

Maria Amélia Gomes Ferreira

As Terapias Complementares em Crianças e Jovens


com Perturbações do Espectro do Autismo

Orientadora/Professora responsável pela Unidade Curricular: Professora Doutora


Patrícia Raquel da Silva Fernandes

Fafe
março de 2018
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Curso de Formação Especializada em Educação Especial,


Domínio Cognitivo-Motor

Maria Amélia Gomes Ferreira

As Terapias Complementares em Crianças e Jovens


com Perturbações do Espectro do Autismo

Artigo apresentado no âmbito do Curso de Formação Especializada em Educação


Especial, Domínio Cognitivo-Motor

Fafe
março de 2018
iii

Maria Amélia Gomes Ferreira

março de 2018

Aprovado em _____ /_______/2018

A Orientadora

______________________________________

(Professora Doutora Patrícia Raquel da Silva Fernandes)


iv

Agradecimentos

Se escrevesse todos os agradecimentos que desejo, este Artigo tornar-se-ia infindável,

por serem tantos os que me ensinaram, mostrando-me caminhos de conhecimento e

outros tantos, a quem sou igualmente grata, por me mostrarem caminhos de ignorância

que, por livre-arbítrio, pude optar não percorrer. Ambos me ensinaram tanto!

Não obstante, não posso deixar de ser grata aos Meninos Especiais com os quais tive a

honra de trabalhar, ao longo desta minha humilde caminhada enquanto educadora, e

àqueles que trabalham com amor, dedicação e honestidade com estes seres especiais,

mormente, as minhas Amigas de caminhada (Adelina, Catarina, Irene, Marta, Rita e

Sara) que me ajudam a tentar fazer sempre um trabalho mais humano e honesto.

Agradeço aos entrevistados, importantíssimos para a construção deste Artigo, e sou

grata, de um modo muito especial à minha orientadora, Raquel Fernandes, pela

exigência, mas também por ter estado sempre presente, disponível e atenta.

Sou eternamente grata aos meus pais, pelo apoio diário constante, que sempre me

deram, e à minha irmã pela ajuda e incentivo em levar a cabo esta especialização.

Finalmente, o maior agradecimento, aquele que sai do mais fundo de mim, pelos

momentos em que os privei da minha companhia, é para os meus dois maiores pilares: o

meu filho, Gonçalo, e o meu companheiro, Carlos. Sem eles, não seria possível lapidar a

pedra bruta da minha personalidade humana para perceber a Lapis Philosoforum.

Só por hoje, sou-Vos muito grata a Todos!

Dedicatória

Dedico este trabalho ao M.


Sei que um dia te voltarei a encontrar, num lugar mágico e encantado.
v

As Terapias Complementares em Crianças e Jovens com Perturbações do Espectro


do Autismo

Resumo

As Perturbações do Espectro do Autismo (PEA) são transtornos do


neurodesenvolvimento que se caracterizam por insuficiências na comunicação e
interação social e por um padrão de comportamentos, interesses e atividades restritos e
repetitivos. Por sua vez, as Terapias Complementares (TC) são o grupo de tratamentos
usados para controlo sintomático e para aumentar a sensação de bem-estar físico,
mental, emocional e espiritual e são utilizadas como adjuvantes da medicina ou
tratamentos convencionais. Este estudo teve como principal objetivo a observação da
implementação de TC em crianças e jovens com PEA. Visou, ainda, fazer uma
abordagem ao uso, adequação e importância das TC nestas crianças e jovens e
apresentar alguns dados relativos às suas formas de atuação e eficácia. Recorremos a
uma metodologia qualitativa, tendo sido utilizada a entrevista semiestruturada. Foram
entrevistados seis profissionais de diferentes áreas, que utilizaram as TC nas PEA numa
amostra de cerca de 35 crianças e jovens autistas. Os resultados da análise de conteúdo
categorial mostram que, na aplicação destas terapias, os profissionais notam efeitos ao
nível da expressão e comunicação, relaxamento e diminuição da agitação motora. Os
benefícios são consideráveis, mas com a ressalva de que as terapias abordadas
(arteterapia, reiki e a terapia com mandalas) atenuam os efeitos, contudo não curam por
si só. Discutem-se os resultados com base na literatura e ponderam-se possibilidades
para os terapeutas promoverem de forma mais sistemática o uso de TC no
desenvolvimento de crianças e jovens autistas.

Palavras-chave: Perturbações do Espectro do Autismo, Terapias Complementares,


Arteterapia, Mandalaterapia, Reiki.
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Complementary Therapies in Children and Young People with Autism Spectrum


Disorders

Abstract

Autism Spectrum Disorders (ASD) are neurodevelopmental disorders that are


characterized by deficits in communication and social interaction and by a pattern of
restricted, repetitive behaviors, interests, and activities. Complementary Therapies
(CTs) are the group of treatments used for symptomatic control and to increase the
sense of physical, mental, emotional and spiritual well-being and are used as adjuncts to
medicine or conventional treatments. This study had as main objective the observation
of the implementation of CTs in children and young people with ASD. It also aimed to
make an approach to the use, adequacy and importance of CTs in these children and
young people and to present some data regarding their ways of acting and effectiveness.
We used a qualitative methodology, and the semi-structured interview was used. Six
professionals from different areas were interviewed, who used CTs scans in the ASD in
a sample of about 35 autistic children and adolescents. The results of the categorical
content analysis show that, in the application of these therapies, the professionals notice
effects on expression and communication, relaxation and decreased motor agitation. The
benefits are considerable, but with the proviso that the therapies addressed (art therapy,
reiki and mandalas therapy) attenuate the effects, but they do not heal on their own. The
results are discussed on the basis of the literature and possibilities for therapists to
promote the use of CTs in the development of autistic children and adolescents are
considered more systematically.

Keywords: Autism Spectrum Disorders, Complementary Therapies, Art Therapy,


Mandala Therapy, Reiki.
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As Terapias Complementares em Crianças e Jovens com Perturbações do Espectro


do Autismo

Este trabalho decorre de um somatório de interesses e preocupações sentidas, a


nível pessoal e profissional, relacionadas com as intervenções que desenvolvemos
enquanto professores, terapeutas e educadores. A sua realização, para além de permitir
um aprofundamento de conhecimentos específicos das temáticas abordadas, constituir-
se-á como um ensejo de reflexão sobre as práticas da vida da escola e alternativas ao
tratamento e desenvolvimento das capacidades de alunos com Perturbações do Espectro
do Autismo (PEA).
Segundo a mais recente publicação do DSM-V, pela American Psychiatric
Association (APA), Associação Americana de Psiquiatria, no decurso de 2013, o
Transtorno do Espectro Autista é um Transtorno do Neurodesenvolvimento, que se
caracteriza por deficits persistentes na comunicação social e na interação social em
múltiplos contextos, incluindo deficits na reciprocidade social, em comportamentos não
verbais de comunicação usados para interação social e em habilidades para desenvolver,
manter e compreender relacionamentos.
São vários os artigos que a literatura tem dedicado ao tema das Terapias
Complementares (TC) e é inquestionável a procura cada vez maior das mesmas por
parte do Homem, porém ainda existem poucos estudos sobre algumas das TC que irão
ser abordadas aqui.
Diversos são os termos para designar as TC, nomeadamente, terapias não
convencionais, medicina não convencional ou medicina complementar e alternativa.
Não obstante a terminologia, a preocupação está em verificar o papel destas terapias de
acordo com a sua segurança, eficácia, qualidade, acesso e uso racional. Deste modo, a
Organização Mundial de Saúde (OMS), conjuntamente com colaboradores de diversos
países, desenvolveu a WHO Traditional Medicine Strategy 2002-2005, por forma a
discutir o papel das TC nos Sistemas de Saúde. Assim, por Terapias Complementares
entende-se o grupo de tratamentos usados para controlo sintomático e para aumentar a
sensação de bem-estar físico, mental, emocional e espiritual. Denominam-se de
Complementares, uma vez que são utilizadas como adjuvantes da medicina ou
tratamentos convencionais e permitem o aumento da qualidade de vida dos doentes
(Zhang, 2012).
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Em Portugal, a legislação que regulamenta a prática das Terapias Alternativas e


Complementares, desde 2003, é a Lei n.º 45/2003 de 22 de agosto. Esta lei refere-se às
TC como terapêuticas não convencionais, pois partem de uma base teórica distinta da
medicina convencional, que oferece enquadramento legal para a prática da
Acupunctura, Homeopatia, Osteopatia, Naturopatia, Fitoterapia e Quiroprática,
continuando as restantes TC a funcionar sem base legal.
Não estando, assim, regulamentada na legislação, a terapia Reiki tem sido uma
das TC cada vez mais procuradas e a sua prática é já frequente em clínicas e hospitais,
para tratar doentes oncológicos em ambulatório, com o objetivo de limitar os efeitos do
tratamento de quimioterapia (Magalhães, 2016), bem como em escolas e outros centros
educativos.
Reiki é uma filosofia de vida e um método de cura natural que promove o
equilíbrio físico, mental, emocional e espiritual da pessoa. Este método foi criado por
Mikao Usui, em março de 1922, após um retiro de 21 dias no Monte Kurama
(Magalhães, 2014). Segundo este monge budista, “Reiki é a arte secreta de convidar a
felicidade”.
Por sua vez, o médico e arteterapeuta, Ruy de Carvalho (2001) refere que:
“a Arteterapia distingue-se como método de tratamento para o desenvolvimento
pessoal, integrando no contexto psicoterapêutico mediadores artísticos. Tal
origina uma relação terapêutica particular, assente na interação entre o sujeito
(criador), o objeto de arte (criação) e o terapeuta (recetor). O recurso à
imaginação, ao simbolismo e a metáforas enriquece e incrementa o processo. As
características referidas facilitam a comunicação, o ensaio de relações objetais e
reorganização dos objetos internos, a expressão emocional significativa, o
aprofundar do conhecimento interno, libertando a capacidade de pensar e a
criatividade.”
A arteterapia junguiana desenvolveu-se, em especial no Brasil, tendo como
principais referências o próprio Jung e o trabalho da médica psiquiatra, Nise da Silveira.
Nessa perspetiva, a função da atividade artística é mediar a produção de símbolos do
inconsciente. Uma técnica muito utilizada na arteterapia junguiana é o desenho ou a
pintura de mandalas (Reis, 2014), outra das terapias aqui abordadas, ou seja, aquilo que
podemos chamar de Mandalaterapia ou Terapia com Mandalas. Todavia, para perceber
esta terapia, é indispensável apreender o conceito Mandala. Assim, Mandala é um termo
de tradição oriental, vindo do sânscrito, que significa literalmente círculo, centro ou
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circunferência. Este termo foi introduzido na psicologia por Carl G. Jung, que nos diz
que:
A palavra sânscrita mandala significa "círculo" no sentido habitual da palavra.
No âmbito dos costumes religiosos e na psicologia, designa imagens circulares
que são desenhadas, pintadas, configuradas plasticamente ou dançadas.
Configurações plásticas deste tipo são encontradas, por exemplo, no budismo
tibetano. Como fenómeno psicológico aparecem espontaneamente em sonhos,
em certos estados conflitivos e na esquizofrenia.
Carl Jung e o sinólogo alemão, Richard Wilhelm, publicaram em Munique a
obra “O Segredo da Flor de Ouro”. É a partir destas reflexões que Jung recorre à
imagem da mandala para designar uma representação simbólica da psique, cuja essência
nos é desconhecida. Através dos seus estudos, constata que a mandala possui uma dupla
eficácia: conservar a ordem psíquica, se ela já existe, ou restabelecê-la, se ela
desapareceu. Neste último caso, exerce uma função estimulante e criadora (Chevalier &
Gheerbrant, 1994:585-586).
As pesquisas de Jung sobre o simbolismo das mandalas contribuíram para torná-
las acessíveis ao público ocidental. A mandala, nos nossos dias, é usada na psicologia
junguiana e transpessoal por vários psicoterapeutas que trabalham com o
desenvolvimento pessoal, uma vez que esta encerra em si qualidades terapêuticas.
Segundo a psicanalista Virgínia Fernandes, com base em estudos feitos na obra
de Jung e de Nise da Silveira, refere que a Mandalaterapia é uma técnica terapêutica que
utiliza mandalas para acessar conteúdos inconscientes e elaborar conflitos internos,
prmovendo um maior equilíbrio interior. Ainda segundo esta autora, as mandalas são
um grande auxiliar na verbalização das angústias, mágoas e medos das crianças.
Destarte, a escolha do tema deste artigo deveu-se ao facto de trabalharmos com
alunos com PEA e por termos experienciado, em parceria com outros técnicos, TC em
alunos com NEE, no geral, e com alunos autistas, em particular.
Pretende-se expor a informação conseguida através da consulta e análise
bibliográfica que se ajuizou relevante para a apreensão das temáticas em estudo e que,
de algum modo, proporcionasse dados suscetíveis de permitir responder cientificamente
à questão de partida. Com este estudo, pretendemos dar resposta à questão de
investigação: De que forma as TC, como a Arteterapia, a Mandalaterapia e o Reiki,
podem ser uma mais-valia na evolução do tratamento de pessoas com PEA?
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Deste modo, reconhece-se o grande potencial para promover um maior bem-


estar, uma maior estabilidade, um maior relaxamento em Crianças e Jovens autistas
através do uso de terapêuticas complementares e não convencionais, como o Reiki e as
Terapias Expressivas (nomeadamente, a Terapia com Mandalas e a Arteterapia), de
modo integrado e como aliado a outras terapêuticas ou medicinas.
De acordo com Costa (2010), para lidarmos com pessoas portadoras de
necessidades especiais, devemos estar abertos ao novo, por isso, cremos que a
ampliação das TC poderá facilitar a expressão das crianças com PEA, estimulando o
desenvolvimento das suas potencialidades expressivas, comunicativas e de interação
social. Não obstante, atendendo à necessidade de prosseguir estudos nesta linha
investigativa, este trabalho visa conhecer as perspetivas dos terapeutas face aos
resultados obtidos da aplicação de TC em autistas.

Método

Procedemos à apresentação do método e técnicas adotadas no estudo empírico,


bem como os procedimentos levados a cabo para a sua realização. É apresentada uma
breve definição da população e da amostra, uma breve caracterização dos participantes e
dos instrumentos e processos de recolha e tratamento de dados.
O estudo decorreu em duas vertentes: uma primeira, que consistiu numa
pesquisa e seleção de fontes literárias para estudo e aprofundamento do tema; uma
segunda, que consistiu no estabelecimento de contacto com os terapeutas envolvidos,
traduzido numa entrevista para verificação de efeitos acerca da implementação de TC
em crianças e jovens com PEA e os resultados e benefícios nos mesmos.

Participantes

Para este estudo, selecionámos terapeutas, especialistas, com alguma experiência


em TC em Crianças e Jovens com PEA. Estes profissionais utilizaram TC variadas,
nomeadamente, Arteterapia, Mandalaterapia e Reiki, em diferentes contextos e locais.
Foram, assim, selecionadas as seguintes profissionais: duas Psicólogas e Arteterapeutas;
uma Terapeuta de Reiki e Terapeuta Ocupacional, uma Professora, Terapeuta de Reiki e
de Mandalaterapia, uma Professora e Terapeuta de Mandalaterapia e, finalmente, uma
Terapeuta de Reiki. A investigadora é também Professora, Mestre de Reiki e usa com
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alguma frequência a Mandalaterapia em contexto escolar e em espaços terapêuticos com


Crianças e Jovens autistas e outras crianças e jovens (NEE ou não).
A população em estudo é composta por cerca 35 de crianças e jovens, dos 7 aos
17 anos. Na sua maioria têm um transtorno do espectro autista considerado ligeiro ou
Síndrome de Asperger. Desta população em estudo, dez são de sexo feminino e cerca de
vinte e cinco de sexo masculino.
Todas as intervenções terapêuticas foram realizadas em contexto escolar, centros
terapêuticos (Cerci, Centros de Investigação, Formação e Desenvolvimento em TC e
outras terapias) e em contexto de gabinete ou consultório.

Quadro 1.

Caracterização da amostra dos Profissionais

Sexo n %
Feminino 6 100,0
Masculino 0 0,0
Nível de Escolaridade n %
12º Ano 1 16,7
Licenciatura 3 50,0
Mestrado 2 33,3
Profissão n %
Professora 2 33,3
Psicóloga 2 33,3
Terapeuta de Reiki 3 50,0
Terapeuta Ocupacional 1 16,7
Arteterapeuta 2 33,3
Terapeuta com Mandalas 2 33,3

* No total são 6 entrevistadas. Algumas utilizam mais do que uma terapia, uma vez que exercem mais que
uma profissão. Nomeadamente, duas Psicólogas são também Arteterapeutas; uma Terapeuta de Reiki é
igualmente Terapeuta Ocupacional; uma é Professora, Terapeuta de Reiki e de Mandalaterapia; uma é
Professora e Terapeuta de Mandalaterapia e, finalmente, uma das entrevistadas é uma Terapeuta de Reiki.
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Quadro 2.

Caracterização da amostra das Crianças e Jovens

Sexo n %
Feminino 10 28,6
Masculino 25 71,4
Total 35
Idades n %
Entre 7 e 10 12 34,3
Entre 11 e 14 21 60,0
Entre 15 e 17 2 5,7

Medidas ou Instrumentos

Este estudo procurou uma investigação reflexiva, cuja metodologia consistiu na


aplicação e posterior tratamento dos dados provenientes dos seguintes instrumentos de
investigação: pesquisa, recolha e seleção bibliográfica e questões dirigidas aos
profissionais envolvidos. Assim, o instrumento considerado adequado e utilizado para
este estudo foi a entrevista, que tem como vantagem o contacto direto com a experiência
dos participantes.

Guião da Entrevista (Ferreira & Fernandes, 2018).

Foi elaborado um guião de entrevista semiestruturada para a recolha de dados.


Recorremos a um método de amostragem não probabilístico ou não aleatório, no
qual há uma escolha deliberada dos elementos que irão constituir a amostra (Haro et al.,
2016, p. 142). Foram escolhidas profissionais (psicólogas, professoras e terapeutas de
TC) que, na sua maioria, desenvolveram trabalhos de parceria em determinadas alturas
e, por conseguinte, nesses contextos, existiu maior facilidade de contacto com essas
terapeutas, reunindo-se condições favoráveis para proceder à recolha de dados.
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Estes instrumentos foram realizados designadamente para este estudo, tendo


como objetivo a resposta à questão de partida. O guião é constituído por dez questões de
resposta aberta. As duas questões iniciais pretendem inquirir o conhecimento das
profissionais acerca dos conceitos de PEA e TC (e.g., “O que é para si o Autismo? e “O
que são para si as Terapias Complementares?”). Uma outra questão inquire sobre a
definição de cada uma das terapias investigadas, de acordo com o terapeuta em causa
(e.g., “Defina, em algumas palavras, Reiki/Arteterapia/Mandalaterapia.”). As duas
questões seguintes aferem as diferenças sentidas na intervenção, a forma de intervenção
e a importância da mesma no autismo (e.g., “Qual a principal diferença entre a
Intervenção com uma Criança/Jovem Autista e outros/as Crianças/Jovens?”; “De que
forma utiliza o Reiki/Arteterapia/Mandalaterapia na Terapêutica com estas
Crianças/Jovens?” e “Qual a importância do Reiki/Arteterapia/Mandalaterapia no
tratamento do Autismo?”). Outras duas questões procuram perceber a aceitação da
terapia pelos utentes e pelos pais (e.g., “De que forma é aceite esta Terapia pelas
Crianças/Jovens?” e “Qual a abertura/a aceitação dos Pais a esta Terapia?”). A
penúltima questão procura apreender os efeitos das terapias (e.g., “Que efeitos se
notam?”). A última questão refere-se ao reconhecimento de outras terapias indicadas no
tratamento dos autistas (e.g., “Reconhece outras terapias ou outras atividades comuns
mais indicadas no tratamento do Autismo? Quais? Considera-as mais ou menos eficazes
que o Reiki/Arteterapia/Mandalaterapia?”) (Ver Anexo II).

Procedimentos

As profissionais participantes neste estudo fizeram-no de uma forma opcional e


espontânea. Foi feito um esclarecimento prévio sobre todo o teor da investigação e dos
objetivos da mesma. Anteriormente à aplicação das questões das entrevistas, o
entrevistador elucidou os entrevistados acerca do preenchimento do mesmo. Assim,
foram todos solicitados a assinar um pedido de consentimento livre e informado,
estando, deste modo, respeitados o anonimato e a confidencialidade e os procedimentos
seguidos estão de acordo com os padrões éticos de investigação aplicáveis (Prada &
Garrido, 2013). Apresentou-se, então, um pedido de consentimento informado a cada
profissional para a realização da entrevista (ver Anexo I).
A recolha dos dados decorreu num período de cerca de um mês (tendo terminado
em meados de fevereiro). As entrevistas realizaram-se individualmente, duas nas
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instituições referidas, duas em gabinete e duas via e-mail e contacto telefónico. A


duração das mesmas foi variável, tendo sido a mais rápida de cerca de 10 minutos e a
mais longa de cerca de 30 minutos.
O número de entrevistas considerado necessário foi de seis, uma vez que se
tratava do número de profissionais que exerceram e exercem atividades profissionais
terapêuticas com o público em estudo, e por se tratarem, na sua maioria, de profissionais
cujo trabalho é conhecido e reconhecido pela entrevistadora.
A transcrição dos dados recolhidos foi feita na íntegra, tendo sido atribuído a
cada entrevistada um código numérico (e.g., Entrevista 1), sendo assim assegurada a
confidencialidade de dados pessoais.
Foi utilizada a análise de conteúdo categorial, que consiste na organização da
informação em categorias e subcategorias, para posterior elaboração de um esquema
explicativo dos dados recolhidos (Amado, 2000).

Resultados

No que concerne aos resultados esperados, esta investigação procurou analisar o


uso e a importância que as TC têm no desenvolvimento de crianças e jovens com PEA.
Os resultados da análise de conteúdo categorial do nosso estudo sugerem a
identificação de seis Categorias e de nove Subcategorias:
A primeira Categoria - Autismo - alusiva ao conhecimento ou definição do
conceito de autismo.
A segunda Categoria analisada - Terapias Complementares - que, por sua vez,
se divide em três Subcategorias – Reiki, Arteterapia e Mandalaterapia.
A terceira Categoria - Diferenças Sentidas na Intervenção - que tem uma
divisão em três Subcategorias, nomeadamente, Reiki, Arteterapia e Mandalaterapia.
A quarta Categoria - Utilização de TC no Tratamento do Autismo - que, por
sua vez, também tem três Subcategorias – Reiki, Arteterapia e Mandalaterapia.
A quinta Categoria - Aceitação das TC pelas Crianças e Jovens.
A sexta Categoria - Aceitação das TC pelos Pais.
Finalmente, a sétima Categoria - Efeitos das terapias nas Crianças e Jovens.
(ver Quadro 3; ver Figura 1)
15

Autismo e Terapias Complementares

As duas primeiras categorias citadas apontam para as duas definições do tema


geral do presente estudo: o conceito de PEA e o conceito de TC. A primeira categoria,
Autismo, é alusiva ao conhecimento ou definição do conceito de Perturbações do
Espectro do Autismo por parte das profissionais entrevistadas (e.g. “... uma perturbação
neurocomportamental...”, Entrevista 3).
A segunda categoria analisada, Terapias Complementares, visa igualmente a
apreensão do conceito por parte das entrevistadas. Todas revelaram ter conhecimento do
que são Terapias Complementares e a maioria revelou consciência na sua aplicação,
uma vez que se tratam de terapias ainda não regulamentadas pela OMS, contudo cada
vez mais aplicadas em contextos escolares e hospitalares (e.g. “...O Reiki não está ainda
regulamentado pela OMS, mas cada vez mais a medicina dita tradicional, utiliza esta
terapia como um complemento, nomeadamente, no Hospital de S. João do Porto, no
Hospital do Fundão...”, Entrevista 4).
Esta segunda Categoria divide-se em três Subcategorias, nomeadamente,
Arteterapia, Reiki e Mandalaterapia. Cada terapeuta profissional esclareceu a terapia
por si desenvolvida. (e.g., “Arteterapia é uma forma terapêutica que recorre às
diferentes artes para ajudar no equilíbrio global de uma pessoa, com ou sem NEE.
Arteterapia é uma terapia expressiva e aqui também podemos falar da terapia com as
mandalas, mandalaterapia, são coisas muito ligadas... São práticas transdisciplinares.”,
Entrevista 6).
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Quadro 3.
As Terapias Complementares em Crianças e Jovens com Perturbações do Espectro do Autismo: Categorias 1, 2, 3, 4, 5 e 6 e Subcategorias 1, 2
e 3 das Categorias 2, 3 e 4.

Categorias Descrição/Núcleo de sentido Exemplos

Categoria 1 Autismo (PEA) Entendimento das terapeutas “característica que alguns Seres Humanos apresentam com aspetos diferentes
profissionais acerca das Perturbações
do Espectro do Autismo do que habitualmente se designa como normal, refletindo-se essencialmente ao
nível da expressão e comunicação.” (Entrevista 1)

“autismo é uma condição mental que se caracteriza por uma inadaptação do


autista à convivência social, alguns transtornos de linguagem e na
comunicação.” (Entrevista 2)

“Enquanto terapeuta holística, quando observo a criança, observo a sua


energia, o seu sorriso, os seus olhos. É uma criança com um excesso. Excesso
de energia, excesso de sabedoria.” (Entrevista 4)
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Categorias Descrição/Núcleo de sentido


Exemplos

Terapias Perceção das terapeutas profssionais “Terapias complementares são normalmente utilizadas em articulação com
Categoria 2 Complementares acerca das Terapias Complementares
outras terapias de forma a permitir processos terapêuticos mais completos e
que respondam às necessidades dos pacientes...” (Entrevista 1)
“Uma preciosa ajuda à medicina tradicional.” (Entrevista 5)

Subcategoria Reiki Entendimento da Terapia Reiki “É uma terapia que ajuda a repor o equilíbrio energético da pessoa
1
promovendo a sua harmonia e bem-estar.” (Entrevista 3)
“Reiki é tudo! Dizemos que Reiki é energia. Então eu sou Reiki, porque eu sou
energia. “(Entrevista 4)

Subcategoria Arteterapia Entendimento da Arteterapia “...é um processo terapêutico que utiliza recursos artísticos e expressivos no
2
sentido de facilitar a perceção de si e dos conflitos ou desequilíbrios pessoais, a
nível físico, emocional, mental e espiritual, com o objetivo de estimular o
regresso à harmonia e ao equilíbrio da pessoa.” (Entrevista 1)

Subcategoria Mandalaterapia Entendimento da Terapia com “Mandalaterapia é uma terapia feita com mandalas, isto é, uma mandala é um
3 Mandalas círculo mágico, um desenho que contém essência, uma energia própria. Neste
desenho estão presentes cores, formas, símbolos, traços que podem ser
interpretados e utilizados de forma terapêutica.” (Entrevista 5)
18

Categorias Descrição/Núcleo de sentido Exemplos

Categoria 3 Diferenças sentidas Perceção das terapeutas profissionais


na intervenção aquando da execução das
atividades/terapias desenvolvidas
quanto às reações.
Subcategoria Reiki “A principal diferença creio ser a imprevisibilidade. Uma criança/ jovem autista poderá
1 ter reações mais inesperadas que serão menos frequentes noutras crianças/ jovens que
parecem absorver de forma mais eficiente um conjunto de normas de ser/ estar
mediante as situações com que se deparam.” (Entrevista 2)

Subcategoria Arteterapia “Não há diferenças. Em Arteterapia trabalhamos com pessoas e as suas características.
2 Sem rótulos. O trabalho é sempre desenvolvido em função das características das
pessoas e como todas as pessoas são diferentes, toda a intervenção é personalizada.”
(Entrevista 1)

Subcategoria Mandalaterapia “Dependendo do grau de autismo, a diferença pode ser nenhuma ou pode ser imensa.
3 Um autista ligeiro, quase sempre recebe a terapia da mesma forma que outra criança
sem esta patologia.
Um autista mais profundo, nem sempre está disponível para realizar as atividades,
sendo que em alguns casos é quase impossível usar as técnicas todas.
De um modo geral, um jovem com síndrome de asperger aceita a terapia e questiona
constantemente o processo, o que se torna mais aliciante até.” (Entrevista 5)
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Categorias Descrição/Núcleo de sentido Exemplos

Categoria 4 Práticas mencionadas e


Utilização de TC no
implementadas pelas terapeutas
tratamento das PEA profissionais no âmbito da utilização
de TC em autistas. Inclui, por
exemplo, aplicação em conjunto com
outras terapias.

Subcategoria Reiki “Utilizo o Reiki como complemento à aplicação de um tratamento sensorial através do
1 snoezelen, aproveitando o ambiente que tipo de intervenção proporciona.” (Entrevista
3)
Subcategoria Arteterapia “Um processo terapêutico com recurso às artes implica um olhar pessoal sobre o fator
2 desestabilizador, a compreensão das emoções, pensamentos e crenças associadas a
cada fator e a criação de respostas facilitadoras de equilíbrio e harmonia. (...) Neste
contexto, estimula-se uma relação terapêutica de interação entre o paciente (o criador),
o objeto de arte (ou processo criativo) e o terapeuta.” (Entrevista 1)
“Utiliza-se a linguagem expressiva, e uma das que mais utilizo é a do desenho e pintura
de mandalas, que permite uma atuação no autista, mas também uma posterior
interpretação da minha parte enquanto terapeuta.” (Entrevista 6)

Subcategoria Mandalaterapia “É utilizada de duas formas: uma como forma de análise, isto é, pedindo à criança que
3 desenhe de forma pessoal e natural uma mandala. Aqui, ela tem total liberdade para
desenhar, colorir e expressar tudo o que quiser. Outra forma, é dar mandalas já feitas,
escolhidas com um propósito, de acordo com os símbolos e os desenhos que têm uma
20

determinada simbologia e pedir que a pinte. Todo o processo é feito num local calmo,
sem fatores de distração, normalmente aliado à música; outras vezes, usam-se
estímulos sensoriais, nomeadamente cheiros ou toques.” (Entrevista 5)

Categorias Descrição/Núcleo de sentido


Exemplos

Categoria 5 Aceitação das TC Entendimento das Terapeutas “Normalmente é muito bem aceite.” (Entrevista 1)
pelas Crianças e profissionais quanto à aceitação, “As crianças/ jovens autistas respondem de uma forma muito positiva ao Reiki.”
Jovens reações e envolvimento dos
(Entrevista 2)
abrangidos nas terapias.
“As manifestações são muito diferentes de indivíduo para indivíduo. Existem
indivíduos que procuram o contacto e consequentemente aceitam a aplicação da terapia
e até nos guiam na sua aplicação, nos diferentes chacras. Outras rejeitam a
aproximação e a terapia é aplicada à distância.” (Entrevista 3)
“De um modo geral, as crianças e os jovens aceitam muito bem as terapias e as
dinâmicas. Num caso ou outro, num dia em que a criança/jovem esteja mais “agitado”,
já aconteceu de primeiramente recusar, mas passados alguns minutos acabam por
acedes e colaborar, aceitando com ânimo a terapia proposta. Autistas muito profundos
(tive apenas 2 experiências) aceitaram, mas sem qualquer “regra”.” (Entrevista 5)
“Depende sempre do grau do autista, às vezes também do dia ou momento... mas
normalmente é muito bem aceite.” (Entrevista 6)
21

Categorias
Descrição/Núcleo de sentido Exemplos

Categoria 6 Aceitação das TC Entendimento das Terapeutas “Os pais querem resultados. Querem compreender os filhos e querem que os filhos se
pelos Pais profissionais quanto à aceitação e sintam integrados e aceites no contexto em que estão inseridos. Normalmente, os pais
compreensão dos pais das crianças e
procuram alternativas e estão dispostos a experimentar. E se têm resultados a aceitação
jovens abrangidos nas terapias.
é muito boa.” (Entrevista 1)
“Se for bem explicada e se for associada a outras intervenções convencionais, os pais
aceitam com mais facilidade.
Nem sempre os pais procuram esta terapia, no entanto não colocam qualquer obstáculo
na sua aplicação, desde que seja feita por uma pessoa em quem confiem.” (Entrevista
3)
“Cada vez mais os pais procuram uma “alternativa” ou complemento que ajude os seus
filhos a crescerem mais calmos e felizes. A aceitação nas escolas, nas universidades,
nos centros clínicos, já é uma realidade.” (Entrevista 4)
“Os pais que procuram terapias alternativas para os filhos, na sua maioria, ou já
conhecem a terapia ou então foram aconselhados por outros profissionais. Os pais
querem resultados, querem o melhor para os filhos. Se funcionar bem, eles aceitam
bem.” (Entrevista 6)
22

Categorias
Descrição/Núcleo de sentido Exemplos

Categoria 7 Efeitos das terapias Verificação e constatação dos efeitos


“O efeito mais comum verifica-se ao nível da expressão e comunicação que favorecem
nas Crianças e notados nas diferentes terapias
Jovens aplicadas nas Crianças e Jovens um bem-estar a outros níveis.” (Entrevista 1)
estudados.
“Após a aplicação de Reiki nota-se que as crianças/ jovens apresentam um

comportamento mais calmo.” (Entrevista 2)

“Os efeitos observados são no imediato, os indivíduos de uma forma geral manifestam

sensação de bem-estar, através de um sorriso, da diminuição da agitação motora, da

aceitação do toque, por vezes através do contacto ocular.

Em situações de “crise”, se aplicada com as devidas precauções, pode atenuar os

sintomas.” (Entrevista 3)

“Verifico, quase sempre, superação de medos, uma maior autoestima, mais

serenidade.” (Entrevista 4)

“Depende do grau de autismo, mas, de um modo geral, os efeitos são notórios.

Num autista menos “severo”, nomeadamente, os com síndrome de Asperger, a terapia

é bem aceite e, por isso, os efeitos são alguns: relaxamento, calma, maior concentração

e uma maior abertura para comunicar e expressar-se.” (Entrevista 5)


23

“Maior relaxamento, maior contacto e comunicação, alguma emotividade...”


(Entrevista 6)
24

Diferenças Sentidas na Intervenção

No que concerne às Diferenças Sentidas na Intervenção, esta questão tinha


como objetivo perceber quais as diferenças sentidas com Crianças e Jovens com PEA
em comparação com outras Crianças e Jovens sem este transtorno. Esta inclui,
igualmente, três Subcategorias, nomeadamente, Arteterapia, Reiki e Mandalaterapia.
De um modo geral não há assim tantas diferenças. Havendo, estas passam por
estarmos perante um público mais imprevisível, com muita energia e sabedoria (“e.g., ...
Excesso de energia, excesso de sabedoria...”, Entrevista 4; ou por serem pessoas “...com
aspetos diferentes do que habitualmente se designa como normal...”, Entrevista 1.
Deste modo, “A grande diferença está na delicadeza do terapeuta e no seu conhecimento
do transtorno, de modo a poder tentar sempre dar a resposta mais adequada a cada
caso.”, Entrevista 6).

Utilização de TC no Tratamento do Autismo

As terapeutas utilizam as três TC, tendo especialmente em conta uma visão


holística do Ser Humano, tentando criar uma ligação de confiança e de empatia ou até
de alguma segurança (e.g., “Deixar que seja ele a vir até nós! (...) Temos que criar uma
grande relação de confiança.”, Entrevista 4). Por outro lado, as terapias são utilizadas
tendo em conta o ser único e singular presente naquele momento (e.g., “Um processo
terapêutico com recurso às artes implica um olhar pessoal sobre o fator desestabilizador,
a compreensão das emoções, pensamentos e crenças associadas a cada fator e a criação
de respostas facilitadoras de equilíbrio e harmonia.”, Entrevista 1).

Aceitação das TC pelas Crianças e Jovens

Todas as terapeutas foram unânimes em responder que a aceitação por parte


destas Crianças e Jovens se revela positiva. Isto é, tendo em conta que, na sua maioria,
se tratam de PEA ligeiros, estes recebem as terapias com alguma abertura (e.g., “As
crianças/ jovens autistas respondem de uma forma muito positiva ao Reiki. Apesar de
25

serem crianças um pouco inquietas, quando estão a receber a terapia mantêm-se


sossegadas...”, Entrevista 2; “Normalmente é muito bem aceite, Entrevista 1).

Aceitação das TC pelos Pais

Com efeito algumas entrevistadas referem uma aceitação plena por parte dos
pais e referem ser procuradas pelos mesmos (e.g, “Cada vez mais os pais procuram uma
“alternativa” ou complemento que ajude os seus filhos a crescerem mais calmos e
felizes.”, Entrevista 4; “...Normalmente, os pais procuram alternativas e estão dispostos
a experimentar. E, se têm resultados, a aceitação é muito boa.”, Entrevista 1; “...os pais
que nos procuram, na sua maioria, demonstram bastante abertura ao trabalho com
mandalas e com outras formas de arte terapêutica.”, Entrevista 5).
No que concerne ainda à aceitação, de separar uma das respostas das entrevistadas, uma
vez que refere (e.g., “Se for bem explicada e se for associada a outras intervenções
convencionais, os pais aceitam com mais facilidade. Nem sempre os pais procuram esta
terapia, no entanto não colocam qualquer obstáculo na sua aplicação, desde que seja
feita por uma pessoa em quem confiem.”, Entrevista 3).

Efeitos das TC nas Crianças e Jovens

Uma das questões mais relevantes do estudo, talvez possamos considerar ser a
sétima, uma vez que o que se pretendia saber era de que forma as TC podem ser uma
mais-valia na ajuda do tratamento das PEA. Destarte, de um modo geral, todas as
entrevistadas foram unânimes em considerar como principais efeitos a calma, o
relaxamento e o desenvolvimento da expressão e comunicação (e.g., “O efeito mais
comum verifica-se ao nível da expressão e comunicação que favorecem um bem-estar a
outros níveis...”, Entrevista 1; “Após a aplicação de Reiki nota-se que as crianças/
jovens apresentam um comportamento mais calmo.”, Entrevista 2; “Os efeitos
observados são no imediato, os indivíduos de uma forma geral manifestam sensação de
bem-estar, através de um sorriso, da diminuição da agitação motora, da aceitação do
toque, por vezes através do contacto ocular.”, Entrevista 3; “... Verifico, quase sempre,
26

superação de medos, uma maior autoestima, mais serenidade.”, Entrevista 4; “...os


efeitos são alguns: relaxamento, calma, maior concentração e uma maior abertura para
comunicar e expressar-se.”, Entrevista 5; “Maior relaxamento, maior contacto e
comunicação, alguma emotividade...”, Entrevista 6).
27

Autismo

Arteterapia

Terapias Reiki
Complementares

Mandalaterapia
As Terapias Complementares em Crianças e Jovens

Arteterapia
com Perturbações do Espectro do Autismo

Diferenças sentidas na
Reiki
intervenção

Mandalaterapia

Arteterapia

Utilização de TC no Reiki
tratamento de PEA

Mandalaterapia

Aceitação das TC pelas


Crianças e Jovens

Aceitação das TC pelos


Pais

Efeitos das TC em Crianças


Figura 1. e Jovens com PEA

Esquema ilustrativo das Terapias Complementares em Crianças e Jovens com Perturbações do


Espectro do Autismo.
28

Discussão

Apresenta-se, seguidamente, a discussão dos resultados com base nos dados


anteriormente explicitados e analisados, e tendo em conta os objetivos definidos para
este estudo, que consistiam em perceber a eficácia da utilização das Terapias
Complementares em Crianças e Jovens com PEA.
Deste modo, o objetivo deste trabalho visou investir na realização de um estudo
acerca das Terapias Complementares e os seus usos, aplicações, aceitação e,
corolariamente, os efeitos destas em pessoas com PEA, mormente, Crianças e Jovens.
Com efeito, e considerando os resultados obtidos através das questões das
entrevistas e de toda a intensa pesquisa científica e bibliográfica realizada, podemos
considerar que os objetivos foram construtivamente alcançados, constatando-se que os
profissionais participantes deste estudo conseguiram identificar diferenças sentidas na
aplicação das terapias Reiki, da Arteterapia e da Mandalaterapia, no âmbito das
dimensões de desenvolvimento da expressão e comunicação, da criatividade, da
verbalização de sensações, do relaxamento e da interação social e interpessoal dos
autistas, aquando da aplicação das TC em análise. Quando criamos, somos livres para
construir os nossos sonhos e projetos e estimular o processo criativo ajuda-nos a
alcançar o equilíbrio entre o hemisfério esquerdo e direito do cérebro (Mello, 2008).
Em suma, para além da literatura e de alguns estudos existentes, foi possível
aferir com este estudo que, os profissionais consideram que as Crianças e Jovens
beneficiam da aplicação das Terapias Complementares aqui estudadas.
A Arteterapia, o Reiki e a Terapia com Mandalas têm vindo a ganhar um espaço
cada vez maior na área da saúde e, sobretudo, no campo da saúde mental. Isto vem ao
encontro dos desejos e ânsias daqueles que trabalham de forma séria nestas áreas.
Todas as entrevistadas foram consensuais em dar importância a outras terapias
que podem ser uma mais-valia no tratamento ou no desenvolvimento da pessoa autista.
Consideraram que as Terapias Complementares não trazem a cura desejada, mas
contribuem em larga escala para o desenvolvimento e promoção de uma melhor
qualidade de vida a pessoas com PEA (Magalhães, 2016). Estas são, indubitavelmente,
aliadas poderosas das terapias ditas mais convencionais.
Salienta-se, ainda, o desejo da credibilização e regulamentação destas terapias e
há uma consciência de que urge dotar cada vez mais os técnicos e profissionais, no
sentido de tornar credíveis as práticas com e das mesmas. Para que uma profissão seja
29

regulada, urge o reconhecimento do seu ensino, isto é, dos conteúdos formativos. Neste
sentido, há uma necessidade experimentada por parte destas terapeutas para que as
práticas sejam reguladas e regulamentadas, de modo a levar ao público a
desmistificação de alguns conceitos irreais relativos às mesmas. Por exemplo, no caso
da terapia Reiki, esta é uma terapia complementar, no âmbito das Terapias e Medicinas
de Campo Bio Energético. Esta é a definição na qual o Reiki está inserido segundo o
conceito da NCCAM – National Center for Complementary and Alternative Medicine
(Magalhães, 2014), mas em Portugal ainda há um caminho a percorrer.
No Brasil, uma parte muito significativa das TC já foi regulamentada, através da
Portaria n.º 849, de 27 de março de 2017, que inclui a Arteterapia, Ayurveda, Biodança,
Dança Circular, Meditação, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia,
Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa e Yoga à Política
Nacional de Práticas Integrativas e Complementares.
Em Portugal, aqueles que acreditam em outras alternativas para o trabalho tão
delicado e tão especial a realizar com Seres Especiais, almejam e continuarão na
esperança de que o Universo está em constante evolução e, por isso, tavez mais cedo do
que se espera, o OMS poderá, finalmente, regulamentar outras terapias ainda não
reguladas.
Cada vez mais clínicas e hospitais oferecem Reiki como terapia complementar
para diversas doenças e condições de saúde. Os que recebem tratamentos de Reiki
relatam alívio dos sintomas de inúmeras patologias, incluindo as do foro mental
(Magalhães, 2016).
Neste estudo, as entrevistadas participantes sugeriram a necessidade de estudos e
de participação em cursos e ações de formação creditadas e feitas por instituições ditas
de confiança, a fim de existir fiabilidade de conhecimentos sobre o desenvolvimento da
aplicação destas terapias. Citaram algmas, que podem ser nomeadamente acedidas via
internet: APR – Associação Portuguesa de Reiki; SPAT – Sociedade Portuguesa de
Arteterapia; CENIF.
Estas formações devem complementar outras que já tenham adquiridas, como as
licenciaturas e mestrados em ensino, em terapia ocupacional ou em psicologia, uma vez
que a aquisição permanente de conhecimentos deva ser um caminho constante, sério e
permanentemente em construção, para que cada terapeuta conheça todas as teorias,
domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma
humana. (Jung, C. G., o Mestre que me inspira diariamente).
30

Referências Bibliográficas

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http://www.who.int/medicines/areas/traditional/definitions/en/index.html [data
da visita: 10/01/2018].
33

Anexo I

Pedido de Consentimento Informado

Exmo. (a) Senhor(a)

Sou aluna do Instituto de Estudo Superior de Educação de Fafe, Curso de

Formação Especializada Em Educação Especial, Domínio Cognitivo-Motor. Este

trabalho de investigação realiza-se no âmbito da Unidade Curricular – Projeto, sob

orientação da Professora Doutora Patrícia Raquel da Silva Fernandes.

Tem em mãos uma entrevista que se insere numa investigação com a seguinte

temática “As Terapias Complementares em Crianças e Jovens com Perturbações do

Espcetro do Autismo”.

Lembro-lhe que apenas a sua opinião é importante.

Venho, por este meio, solicitar a sua crucial colaboração neste trabalho, através

da realização de uma breve entrevista. Acrescento, também, que será garantida a total

confidencialidade da informação disponibilizada.

Obrigada pela sua colaboração!

Agradecendo, antecipadamente, a atenção disponibilizada

____________________________________

Maria Amélia Gomes Ferreira

Fafe, __ de ___________ de ____


Eu, _____________________________, concordo__ não concordo__ em colaborar na
investigação.
34

Anexo II

Guião da Entrevista (Ferreira & Fernandes, 2018)

1. O que é para si o Autismo?

2. O que são para si as Terapias Complementares?

3. Defina, em algumas palavras, Arteterapia/Reiki/Mandalaterapia.

4. Qual a principal diferença entre a Intervenção com uma Criança/Jovem Autista e

outros/as Crianças/Jovens?

5. De que forma utiliza a Arteterapia/Reiki/Mandalaterapia na Terapêutica com

estas Crianças/Jovens?

6. Qual a importância da Arterapia/Reiki/Mandalaterapia no tratamento do

Autismo?

7. De que forma é aceite esta Terapia pelas Crianças/Jovens?

8. Qual a abertura/a aceitação dos Pais a esta Terapia?

9. Que efeitos se notam?

10. Reconhece outras terapias ou outras atividades comuns mais indicadas no

tratamento do Autismo? Quais? Considera-as mais ou menos eficazes que a

Arteterapia/Reiki/Mandalaterapia?

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