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Artigo original

Na sala de espera do terreiro: uma investigação


com adeptos da umbanda com queixas de
adoecimento
In the waiting room of the terreiro: an investigation with
Umbanda adepts with health complaints

Luciana Macedo Ferreira Silvaa Resumo


https://orcid.org/0000-0003-4617-8421
E-mail: macedo.luciana@outlook.com As queixas de adoecimento fazem parte de uma
Fabio Scorsolini-Comin b importante parcela das demandas religiosas em
https://orcid.org/0000-0001-6281-3371 diversas crenças, com destaque para a umbanda
E-mail: fabio.scorsolini@usp.br no cenário brasileiro. O objetivo deste estudo
etnopsicológico foi conhecer o modo como adeptos da
a
Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Instituto de umbanda com queixas de adoecimento compreendem
Educação, Letras, Artes, Ciências Humanas e Sociais. Uberaba,
os processos de saúde-doença. Participaram 20
MG, Brasil.
adeptos atendidos em dois terreiros localizados
b
Universidade de São Paulo. Escola de Enfermagem de Ribeirão
Preto. Ribeirão Preto, SP, Brasil. em uma cidade de médio porte do estado de Minas
Gerais, Brasil. O corpus foi composto por entrevistas
semiestruturadas transcritas e organizadas pela
análise temática. Destacam-se as ambivalências
no processo de compreensão do adoecimento e das
trajetórias terapêuticas que permeiam os relatos
desses adeptos. Em que pesem as explicações
de ordem médica, ligadas ao corpo físico e aos
medicamentos, também emergem narrativas
espirituais relativas ao mundo interno e à saúde
mental. E não obstante as referências ao trabalho
das entidades incorporadas, também são resgatadas
críticas ao modo como profissionais de saúde se
distanciam da religiosidade/espiritualidade – tanto a
sua como a do paciente. Apesar dessas ambivalências,
os adeptos expressam uma noção integrada de saúde
quando buscam atendimento no terreiro, mesclando
elementos científicos com expressões religiosas.
Esse movimento reafirma a umbanda como um
espaço de acolhimento da diversidade, em que
diferentes racionalidades podem conviver.
Correspondência Palavras-chave: Religião e Psicologia; Religião e
Fabio Scorsolini-Comin Medicina; Espiritualidade.
Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto,
Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas.
Av. Bandeirantes, 3.900, Monte Alegre. Ribeirão Preto, SP, Brasil.
CEP 14040-902.

DOI 10.1590/S0104-12902020190378 Saúde Soc. São Paulo, v.29, n.1, e190378, 2020 1
Abstract Estudos científicos têm apontado que
frequentar instituições religiosas auxilia os fiéis
Health complaints are an important part of the no desenvolvimento de estratégias de suporte
religious demands of various beliefs, especially para resolução de problemas e nos processos
Umbanda in Brazil. This ethnopsychological de enfrentamento de situações consideradas
study analyzes how Umbanda adepts with health adversas, de modo que o contato com o divino pode
complaints perceive the health-disease process. proporcionar segurança e conforto espiritual e
A total of 20 Umbanda practitioners from two emocional (Sousa et al., 2017). A religiosidade e
terreiros located in a medium-sized municipality in a espiritualidade estão imbricadas no cotidiano
the state of Minas Gerais, Brazil, were selected as dos indivíduos e, diante disso, identifica-se a
participants. The corpus was constituted by semi- necessidade de entender seus benefícios sobre as
structured interviews transcribed and organized queixas de saúde, a forma como as pessoas utilizam
according to the thematic analysis. Ambivalence essas estratégias para se readaptar e lidar com
was observed in the process of understanding the adversidades, enfatizando a relação com indicadores
illness and the therapeutic trajectories embedded da saúde física e mental (Abdala et al., 2015).
in the reports of these followers,. From such Embora as definições de religiosidade e de
medical explanations related to the physical body espiritualidade possuam especificidades, neste
and medicine also emerge spiritual narratives estudo utilizar-se-á a nomenclatura combinada
related to the inner world and to mental health. religiosidade/espiritualidade (R/E), enfatizando
Despite referencing the work of incorporating a proximidade entre os conceitos no que se refere
entities, criticism is also given to the way health à finalidade desta investigação, que envolve uma
professionals distance themselves from religiosity/ dimensão tanto do universo institucional, religioso,
spirituality, both their own and that of the patient. como de ligação com o transcendente, relacionado
Regardless of such ambivalence, these adepts ao âmbito espiritual. A adoção do termo combinado
express an integrated notion of health when tem sido frequente na literatura do campo da saúde
they seek care in the terreiro, mixing formal and (Cunha; Scorsolini-Comin, 2019).
scientific elements with religious expressions, Nota-se que as queixas de saúde fazem parte de
wherein Umbanda is a safe space for this diversity. importante parcela das demandas religiosas em
This movement reaffirms Umbanda as a diverse diversas crenças. Assim, as pessoas podem recorrer
space in which different kinds of reasoning can live. ao apoio religioso quando experienciam processos
Keywords: Religion and Psychology; Religion and de adoecimento, o que pode estar alinhado ou não
Medicine; Spirituality. a determinada filiação religiosa professada por
quem busca essa ajuda. Assim como a literatura vem
apontando que a R/E está fortemente associada aos
processos de saúde (Sousa et al., 2017), pontuamos
que as pessoas buscam frequentemente apoio nas
religiões para o alívio de sintomas, traumas, bem como
para a cura de diversas doenças, criando expectativas
em relação aos benefícios promovidos por cada
religião (Macedo, 2015; Scorsolini-Comin, 2014).
Diferentes religiões podem ser buscadas no contexto
de enfrentamento de processos de adoecimento.
O interesse no estudo científico das religiões afro-
brasileiras, como a umbanda e o candomblé, deu-se
sobretudo a partir de estudiosos estrangeiros, como
o francês Roger Bastide (1973). Embora possamos
destacar a produção internacional sobre o tema

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(Lundell, 2016), a maioria do conhecimento produzido Os contextos antropológicos auxiliaram no estudo
acerca da umbanda, especificamente, localiza-se no para entendimento das questões relativas à saúde,
Brasil (Macedo, 2015; Montero, 1985) e é desenvolvido remetendo à necessidade de compreender dois
a partir da etnopsicologia (Pagliuso; Bairrão, 2011; aspectos específicos e interligados. Um deles refere-se
Scorsolini-Comin, 2014). ao processo patológico – como a doença se desenvolve –,
A escolha da umbanda para este estudo justifica-se e o outro busca entender a experiência psicossocial
por seu caráter genuinamente nacional, uma vez que do processo saúde/doença, relacionada ao significado
mescla, em seus rituais, elementos que retomam a dado a essas vivências de modo coletivo. Vale ressaltar
própria formação do povo brasileiro, com marcadores que um aspecto não é redutível ao outro, mas estão em
europeus, indígenas e africanos. Tais marcadores constante complementação (Uchôa, 2003).
associam-se, na umbanda, também aos modos de pensar O campo da antropologia da saúde busca entender
as noções de saúde, doença e cura, o que nos conduz ao e aproximar experiências de vida fundamentais para
conceito de racionalidades leigas (Silva; Alves, 2011), interpretar situações de sofrimento. Esses estudos
que exploraremos mais adiante. Na umbanda, os passaram a dar significado também ao modo como
processos de saúde-doença constituem um elemento a saúde e a doença podem estar interligadas com
fundamental (Montero, 1985). Isso pode ser ilustrado, a religião, auxiliando na construção de um novo
por exemplo, pelos rituais públicos que, geralmente, paradigma e indo além de um modelo biológico e
estão voltados à oferta de atendimentos espirituais experimental que busca entender as doenças como
à população (Andrade; Mello; Holanda, 2015). Esses fenômenos independentes dos fatores ambientais,
atendimentos se dão a partir de consultas nas quais desprendidos de subjetividades (Langdon, 2014;
o médium, incorporando uma entidade espiritual Rabelo, 1994). Ganha destaque nessa discussão o
(como caboclos, pretos-velhos e baianos, por exemplo), conceito de racionalidades leigas, que considera
conversa diretamente com o adepto, oferecendo a diversidade de crenças e de representações
uma ampla gama de possibilidades interventivas sobre a existência como uma condição humana
que passam pela prescrição de banhos, uso de chás, (Silva; Alves, 2011). Dessa diversidade fazem parte
realização de rituais, bem como pelo próprio espaço de tanto os saberes biomédicos como os locais, culturais,
diálogo e de acolhimento oportunizado no momento da centralizados em comunidades e também veiculados
consulta, em que o consulente pode entrar em contato por determinados saberes nativos, a exemplo
direto com o divino (entidade). do discurso da umbanda. Essa noção reforça a
Montero (1985) apresenta o adoecimento na complexidade da própria existência, uma vez que
umbanda como sinônimo de uma desordem. Para esses diferentes modelos explicativos convivem e
essa autora, a busca dos fiéis por tratamentos de dão sentido às experiências das pessoas no percurso
saúde nesses espaços revelaria a insuficiência dos do adoecimento em saúde mental, por exemplo.
modelos médicos tradicionais, ou seja, a umbanda Compreender tais racionalidades leigas mostra-se
colocar-se-ia em contraposição a determinado saber importante na apreensão das trajetórias sociais de
formal, indicando caminhos que são validados pela saúde e de doença (Silva; Alves, 2011) ou, em outras
crença coletiva na dimensão da R/E e na eficácia palavras, do modo como as pessoas constroem
dos tratamentos realizados na umbanda. A crença itinerários em busca do restabelecimento da saúde.
social nessa eficácia, retomando Lévi-Strauss (1975), No bojo desses referenciais, é possível destacarmos
seria responsável pela manutenção da potência que as vivências dos indivíduos nos processos de saúde
desse espaço para responder a diversas aflições e, e doença também assumem um papel fundamental
particularmente, aos processos de adoecimento. na umbanda, haja vista que essa religião contempla
Diante da complexidade dos processos de saúde ações curativistas dos componentes biopsicossociais
e doença, é importante entendermos o significado que englobam a saúde. Na concepção antropológica
que o sujeito dá à doença, como ele percebe o período cultural e representativa, os rituais religiosos de
de adoecimento de sua vida e como compreende restabelecimento da saúde envolvem mecanismos
e soluciona as dificuldades relacionadas à saúde. de enfrentamento para promoção do bem-estar,

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estimulando o processo intrínseco de cura, permitindo Participantes
modificações comportamentais e a compreensão das
dinâmicas vivenciais dentro da religiosidade e da Participaram desta pesquisa 20 adeptos atendidos
espiritualidade (Langdon, 2014). no Centro de Umbanda Vovó Maria Conga e no
A partir do exposto, o objetivo geral deste estudo Centro Caboclo Sete Flechas, localizados na cidade
é conhecer o modo como adeptos da umbanda com de Uberaba, estado de Minas Gerais. O primeiro
queixas de adoecimento compreendem os processos de realiza trabalhos de assistência espiritual todas as
saúde-doença. Adicionalmente, busca-se compreender terças-feiras, recebendo em média 30 adeptos por
as motivações dos fiéis para o tratamento espiritual encontro realizado. O segundo atende à população às
e a avaliação que fazem dos atendimentos recebidos. quartas-feiras, recebendo em torno de 60 adeptos por
Para atingir esses objetivos, foi realizado um dia de trabalho. Em ambos os locais, a cada encontro
estudo de caráter etnopsicológico (Macedo, 2015; semanal são cultuadas entidades diferentes, como
Pagliuso; Bairrão, 2011; Scorsolini-Comin, 2014). caboclos, erês, pretos-velhos, baianos, marinheiros,
A etnopsicologia teve seu início por ingerência da boiadeiros e ciganos, que auxiliam a população em
escola americana de Antropologia Cultural e da suas questões pessoais.
Personalidade, centralizando-se em pesquisas guiadas Os critérios de composição da amostra foram:
pela observação, norteando trabalhos embasados nos (1) possuir idade mínima de 18 anos, sem restrições
contextos culturais e nos comportamentos humanos quanto a sexo/gênero, escolaridade e classificação
(Lutz, 1985). Esse referencial engloba o caráter
socioeconômica; (2) possuir alguma queixa de
cultural e social da comunidade, apresentando valores
saúde que tenha motivado a busca por atendimento
simbólicos e significativos quanto à experiência
espiritual; (3) estar em tratamento espiritual em um
religiosa em distintos grupos culturais (Pagliuso;
dos centros supracitados há pelo menos três meses
Bairrão, 2011).
devido às queixas de saúde.
A partir de um profundo trabalho de campo,
Método buscou-se ao máximo a composição de uma amostra
mais ampla que talvez pudesse revelar diversidades e
Tipo de estudo
complexidades no processo de busca por tratamentos
Trata-se de uma pesquisa exploratória, qualitativa espirituais. No entanto, a coleta encerrou-se tanto em
e de corte transversal, orientada pelo referencial função da saturação dos dados quanto da limitação
teórico da etnopsicologia. Para garantir a validade na quantidade de potenciais novos participantes,
do estudo qualitativo, foram observados os itens haja vista que os adeptos, em sua maioria, tinham
de verificação presentes no protocolo Consolidated uma frequência semanal nesses espaços, ou seja,
Criteria for Reporting Qualitative Research não havia maior variabilidade em termos de novos
(Coreq) (Tong; Sainsbury; Craig, 2007). O método adeptos a cada semana.
etnopsicológico pressupõe, entre outras questões,
a necessidade de que o pesquisador possa habitar o Instrumento
campo que pretende investigar, podendo ter acesso às
racionalidades circulantes nesse espaço, a seus modos Para a realização desta pesquisa utilizou-se um
de fazer, bem como aos elementos rituais. Assim, a roteiro de entrevista semiestruturado elaborado
primeira autora do estudo realizou um denso trabalho pelos próprios pesquisadores, englobando perguntas
de campo que não envolveu apenas a coleta de dados concernentes às características sociodemográficas, à
(entrevistas), mas também observações em campo e história de vida do sujeito, ao significado da religião,
frequentes conversas com interlocutores importantes, ao desenvolvimento do processo saúde/doença, à
como os dirigentes dos terreiros, médiuns e, de modo escolha pelo tratamento espiritual e demais aspectos
mais intenso, os frequentadores (adeptos). relacionados ao objetivo do estudo.

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Procedimento Considerações éticas
Este estudo segue as normas da Resolução
Coleta de dados nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho
A partir das recomendações da pesquisa Nacional de Saúde (Brasil, 2013) e foi aprovado pelo
etnopsicológica, a investigação teve início com o Comitê de Ética em Pesquisa da instituição de origem
desenvolvimento do trabalho de campo. Para a coleta da primeira autora. Considerações éticas para a
de dados, a pesquisadora dirigiu-se às comunidades pesquisa etnopsicológica em terreiros de umbanda
religiosas em dias de atendimento público para também foram seguidas ao longo desta investigação
inicial conhecimento a respeito do funcionamento (Scorsolini-Comin; Bairrão; Santos, 2017).
da instituição. Primeiramente, ela solicitou a
autorização dos dirigentes dos centros e, após o Resultados e discussão
consentimento destes, realizou sua apresentação aos
adeptos, destacando o objetivo do estudo. A coleta Participaram desta pesquisa 20 adeptos da
de dados aconteceu com os adeptos selecionados umbanda que se enquadravam nos critérios
que apresentavam queixas de saúde, por meio de de inclusão pré-estabelecidos. A busca pelos
uma abordagem individual, conforme os critérios de participantes se encerrou mediante saturação da
inclusão pré-estabelecidos para esta pesquisa. Após amostra, ou seja, na medida em que os objetivos
a anuência dos voluntários, as entrevistas foram foram alcançados e as informações foram se
agendadas de acordo com a disponibilidade dos repetindo nas diferentes entrevistas. Esse processo
frequentadores. As entrevistas foram realizadas pela também considerou a pouca variabilidade da
própria pesquisadora, ocorrendo em locais de fácil amostra, uma vez que, a cada semana, poucos eram
acesso e mantendo a privacidade do entrevistado, os novos frequentadores dos espaços visitados.
como em suas residências ou na própria instituição. A Tabela 1 sumariza a caracterização da amostra.
As entrevistas foram realizadas individualmente,
sendo audiogravadas, com autorização do voluntário, Tabela 1 - Caracterização dos participantes (n=20)
e posteriormente transcritas integral e literalmente Característica n Faixa
para a composição do corpus analítico. Idade – 21 a 62 anos
Nível de escolaridade
Análise dos dados Ensino fundamental completo 3 –
Para a produção de um parecer a respeito das Ensino fundamental incompleto 4 –
entrevistas realizadas, utilizou-se a análise de Ensino médio completo 9 –
conteúdo temática segundo os procedimentos Ensino superior completo 2 –
Ensino superior incompleto 2 –
de Braun e Clarke (2006), que têm por finalidade
Estado civil
apontar, averiguar e descrever conteúdos obtidos
Solteiro 7 –
no estudo, tratando-se de uma análise a posteriori.
Casado 7 –
A interpretação do corpus e das categorias temáticas
Divorciado 3 –
ocorreu a partir de um arcabouço integrativo Amasiados 3 –
composto pela literatura científica da área de Renda familiar (salário mínimo)
R/E, pela etnopsicologia, pelos estudos acerca Não informou 1 –
da umbanda, notadamente os desenvolvidos Sem renda 1 –
no cenário brasileiro e com foco na exploração Desempregado 1 –
dos processos de adoecimento (Macedo, 2015; 1 salário 3 –
Montero, 1985; Scorsolini-Comin, 2014) e, de modo 1 salário e meio 5 –
complementar, pela noção de racionalidades leigas 2 salários 6 –
(Silva; Alves, 2011). Acima de 2 salários 3 –
continua...

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Tabela 1 – Continuação
Característica n Faixa A religião como base: caminho para o enfrentamento
Patologias relatadas pelos participantes das dificuldades
Transtorno bipolar 1 –
Transtornos de ansiedade 4 – Considerando-se a importância e o significado
Dependência química 1 – da R/E nas dificuldades cotidianas, é notório na
Depressão 6 – amostra investigada que essa dimensão atua de
Epilepsia 1 – modo positivo para as condições de enfrentamento
Dores na região da coluna 1 –
de adversidades, como pode ser observado nas falas
Asma 1 –
a seguir.
Esclerose óssea 1 –
Tendinite 1 –
Religião é uma base de vida, de seguimento. Eu acho
Gastrite 2 –
Problemas na vesícula 1 –
que é muito importante, sim, você ter em algo que
acredite, que confie; é um porto seguro. (P6)

Quanto às condições patológicas foi possível Religião é algo que você precisa a todo momento,
identificar que 12 dos adeptos apresentavam com as adversidades do mundo; o que te conforta
adoecimento relacionado à saúde mental, tendo sido às vezes é você pensar em Deus, pra perceber que
relatados diagnósticos como transtorno bipolar você não está sozinho aqui. (P1)
(n=1), transtornos de ansiedade (n=4), dependência
química (n=1) e depressão (n=6). Os demais As falas revelam que a R/E contribui para
diagnósticos relatados referem-se à epilepsia desenvolver o enfrentamento e a resiliência perante
(n=1), dores na região da coluna (n=1), asma (n=1), as adversidades do cotidiano, auxiliando no modo
esclerose óssea (n=1), tendinite (n=1), gastrite (n=2) e de lidar com os problemas, tanto para resolvê-los
problemas na vesícula (n=1). Vale destacar que nos quanto para aceitar os momentos difíceis. Nota-se
demais casos, ou seja, de pessoas com diagnósticos que a crença religiosa e espiritual assume grande
de doenças físicas e não de saúde mental, os importância na vida desses indivíduos, contribuindo
participantes também relataram a associação desse para melhores resultados de saúde, segundo a
adoecimento com o desenvolvimento de depressão e percepção dos entrevistados, associados ou não aos
ansiedade. Em todos os casos os adeptos relataram tratamentos formais.
melhora dos sintomas ao iniciar o tratamento Esses dados vêm ao encontro do estudo de Amaral
espiritual. Retomando os princípios da pesquisa et al. (2016), que enfatiza a relação das atividades
etnopsicológica (Scorsolini-Comin; Bairrão; de cunho religioso ou espiritual com a construção
Santos, 2017), não foi solicitada formalmente de mecanismos de resiliência e enfrentamento para
qualquer comprovação acerca desses diagnósticos minimizar o sofrimento diante do adoecimento.
ou mesmo de avaliação em saúde, considerando a Os benefícios do tratamento religioso/espiritual
legitimidade desses discursos, a relevância das mostram um olhar diferenciado sobre o sujeito,
racionalidades leigas e a necessidade de uma proporcionando e estimulando práticas curativistas
escuta livre de julgamentos morais e de realidade focadas na esperança, na confiança, no otimismo e
(Pagliuso; Bairrão, 2011). na fé (Tsai et al., 2016). Os resultados deste presente
Após a análise de conteúdo, cinco eixos temáticos estudo reforçam que os adeptos entrevistados
emergiram a partir de sua recorrência nas falas realmente possuem uma crença no papel da R/E para
e serão apresentados a seguir. Para preservar a a cura e o tratamento de enfermidades, haja vista
identidade dos participantes, os nomes foram que nem sempre as pessoas que buscam atendimento
substituídos pela letra “P”, acrescida do número espiritual o fazem a partir das próprias crenças, mas
da entrevista. por sugestão de amigos e familiares, por exemplo.

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Embora seja esperado que essas pessoas busquem Assim, o adoecimento seria uma forma de punição
tais tratamentos por uma crença em sua eficácia em relação a maus comportamentos no passado,
(Lévi-Strauss, 1975), nem sempre essa busca se recuperando não só a vida pregressa nessa existência,
dá com uma confiança absoluta ou exclusiva no mas também de outras encarnações. A partir desse
poder da magia. Decorrente dessa consideração, posicionamento, o adoecimento pode ser explicado
nem sempre o frequentador desses espaços possui, dentro de um sistema que faz sentido para o sujeito,
necessariamente, uma vinculação com a religião, pois recupera a sua crença e o integra dentro de
podendo ser filiado a outro credo ou, em alguns uma rede de significações que o fazem pertencer a
casos, até mesmo se dizer sem religião. determinado espaço (terreiro ou centro de umbanda),
No caso deste estudo, a amostra se revelou a determinada comunidade e sua rede de apoio social.
alinhada aos pressupostos religiosos da umbanda, Essas falas também se associam ao histórico cultural
demonstrando coerência entre crença e busca de da umbanda ao destacar sua eficiência em livrar-se de
apoio espiritual nesse escopo de referência. Tal fluidos e energias negativas que podem influenciar
coerência, no entanto, não é condição sine qua non de forma prejudicial a saúde dos sujeitos. Atribui-se
para a frequência a esses espaços, muito menos esse trabalho de cura às entidades protetoras que
para o recebimento do cuidado oferecido. Para a buscam lidar com situações de conflito – por exemplo,
umbanda, não há uma forte e clara divisão entre o adoecimento (Redko, 2003).
adeptos e não adeptos, de modo que os terreiros se Buscando o significado do adoecimento,
mostram abertos a todos os públicos, não exigindo encontramos que o equilíbrio de um corpo saudável
dessas pessoas qualquer filiação ou exclusividade está relacionado à atuação de um fluxo de forças
ritual (Macedo, 2015; Scorsolini-Comin, 2014). místicas positivas e negativas que se aproximam
da existência humana. Culturalmente os rituais
O adoecimento como ensinamento e aprendizado umbandistas são responsáveis por manter distantes
dos adeptos as forças místicas negativas que regem
Ao questionarmos sobre o processo saúde- as perturbações e as enfermidades (Cruz, 1994).
doença, foram identificadas situações em que o Em consonância, os entrevistados referem os
adepto interpreta o decorrer do adoecimento como rituais da umbanda como potentes tanto para
um resgate espiritual, uma forma de redenção e de extirpar e filtrar essas energias como para não
aprendizado por meio das dificuldades, ou ainda permitir que se aproximem e causem adoecimentos.
como a absorção de fluidos e energias negativas Em contraposição às explicações de ordem espiritual,
que prejudicam a saúde, como pode ser observado também foi possível identificar o adoecimento
na fala destes entrevistados: como algo relacionado ao funcionamento
fisiológico do corpo físico, ou desencadeado por
A doença é algo que eu deixei lá atrás, de outras fatores emocionais:
vidas, e com isso eu tenho que tentar dar uma
amenizada, né [risos], pra não ter esse resgate de Acho que é algo no seu organismo [que] não
novo. (P10) está funcionando corretamente, como deveria
funcionar. (P1)
Assim, a doença às vezes ela quer entrar na gente,
mas se a gente tiver uma cabeça feita pra não Doença é algo que acontece no seu corpo que tá fora
deixar, às vezes a gente consegue não deixar força do normal, que vem de fatos naturais ou causada
negativa entrar em mim, então vou procurar outras por a gente mesmo. (P3)
energias. (P8)
A doença é uma consequência do que acontece
A doença como sinônimo de resgate ou de coma [a] matéria do corpo; acaba que o corpo vai
provação é coerente com a visão espírita kardecista, mudando, vai tendo modificações, então sempre
uma das principais referências da umbanda no Brasil. vai surgir algo. (P9)

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Essa equilibração de forças e energias tem como leigas (Silva; Alves, 2011), uma vez que se retoma
um de seus pressupostos justamente não permitir que essas inteligibilidades são responsáveis por
a desordem do organismo, o que culminaria no ajudar o sujeito a estabelecer, para si, determinado
adoecimento (Montero, 1985). Nos estudos de Mello itinerário. Esse itinerário define, por exemplo,
e Oliveira (2013) e Weber e Lins (2018), destaca-se que quais equipamentos de saúde procurar (formais,
o desequilíbrio nos aspectos físicos, emocionais e informais ou populares), a quais profissionais
espirituais pode acarretar doenças de diferentes tipos, recorrer (médicos, enfermeiros, curandeiros ou
e que os processos de adoecimento estão relacionados entidades espirituais) e a partir de qual lógica
à lei espírita de causa e efeito, a qual enfatiza que os responder à experiência do adoecimento. O modelo
sujeitos têm como merecimento aquilo que fizeram biomédico emerge como um discurso importante
ao próximo e por isso recorrem à espiritualidade quando tratamos dos processos de saúde-doença,
almejando alívio para o corpo físico e para as aflições mas também as cosmologias religiosas oferecem um
da alma. Em outras falas foi possível identificar que os repertório explicativo e interventivo que encontra
adeptos definem o adoecimento como uma influência lugar na pessoa em sofrimento. Assim, é fundamental
de ambas as partes, tanto do corpo físico ou emocional que haja a valorização das racionalidades leigas
quanto do aspecto espiritual: em um cenário hegemonicamente tecnicista e
biomédico, possibilitando reafirmar e respeitar a
Doença é uma máquina que não tá funcionando diversidade da condição humana (Silva; Alves, 2011).
bem, tem uma peça estragada, que vem sendo O cenário da umbanda, nesse sentido, parece
adquirida ao longo dos anos, mas ela também vem oferecer a possibilidade de corporificação dessas
do espiritual. (P11) racionalidades leigas.
Essa complexidade pode ser um direcionador no
Eu acho que a doença é causada pelos humanos sentido de compreender que a busca por tratamento
mesmos, é tipo um carma que a gente tem, às vezes espiritual não é exclusiva de adeptos que acreditam
é Deus querendo mostrar pra gente o caminho certo. nas causas espirituais do adoecimento, mas deve
Acho que tudo que a gente faz que é prejudicial pra ser analisada em um sistema integrado, que traz
gente ou pro outro é uma doença do corpo físico e elementos de diferentes ordens para um panteão
espiritual, os pensamentos maldosos também. (P13) de compreensão da saúde-doença. Aventa-se,
a partir desses achados, que talvez a umbanda
Existe a doença espiritual e a material. E tem que ter seja um espaço propício para o acolhimento dessa
a nossa ajuda também, né. A espiritual seria alguma complexidade, uma vez que também reúne elementos
coisa que esteja com você, te perturbando. (P14) de diferentes religiões e tradições. Ainda que a busca
pela umbanda diante dos processos de adoecimento
Nessas falas, podemos perceber que os adeptos possa ser justificada em contraposição a um modelo
interpretam o adoecimento de diferentes formas, e médico que não se mostrou eficaz (Montero, 1985),
a busca pelo tratamento espiritual não se dá apenas o terreiro não se apresentou, para os participantes
como forma de cura, mas também como meio para da pesquisa, como um locus de oposição, mas de
compreender e entender os motivos das vivências integração dessas diferentes racionalidades. Ao não
e do sofrimento em situações de conflito (Mello; buscar exclusividade e fidelidade às suas práticas,
Oliveira, 2013). A mescla de referenciais biomédicos sugere-se que a umbanda permita a existência de
e cartesianos (presentes na metáfora de que o corpo um fluxo dinâmico entre seus adeptos, que podem
é uma máquina que não está funcionando bem) ir e voltar, ou seja, podem justamente transitar
com elementos emocionais e espirituais mostra nessas racionalidades. Longe de afastar o sujeito,
a complexidade dos sistemas de explicação dos a umbanda prioriza o acolhimento da diversidade
processos de saúde-doença. e da ambivalência, assim como opera em relação
Esses modelos explicativos do adoecer podem aos seus mitos, às suas entidades e aos próprios
ser compreendidos à luz das racionalidades itinerários de seu povo.

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Para além dessas considerações, todas as falas tratamento espiritual. Estudos trazem que esses
destacadas nessa categoria permitem pensarmos rituais fazem parte da matriz cultural da umbanda
que, independentemente da origem do adoecimento, e auxiliam em diversos problemas de saúde,
seja ele de natureza física, emocional ou espiritual, estimulando o processo intrínseco de cura de seus
a religião se faz presente como forma de auxílio adeptos, permitindo mudanças no comportamento
para lidar com as dificuldades do cotidiano. Estudos pessoal e promovendo a reconstituição do corpo,
destacam que o reconhecimento e a confiança em fortalecendo-o física e mentalmente, minimizando
algo superior tornam-se uma potencial fonte de os impactos causados pelo adoecimento (Andrade;
ajuda e cura para o adoecimento, compreendendo-se Mello; Holanda, 2015; Langdon, 2014; Rabelo, 1994).
nesse aspecto a importância e a força da R/E como Também se pondera sobre a questão da eficácia
estratégia de suporte (Hvidt et al., 2017). Obviamente, simbólica, isto é, de o adepto atestar a eficácia
essa estratégia só se mostrará válida se o indivíduo, da situação e acreditar no poder da “magia” do
de fato, depositar sua confiança na eficácia de tais “feiticeiro”, usando os termos de Lévi-Strauss (1975).
práticas espirituais. Essa validade, no entanto, não Reconhecer os benefícios do tratamento é uma forma
pode ser tomada como sinônimo de um desfecho de retornar e buscar novas orientações em outras
positivo em saúde, haja vista que o que mantém o situações de adoecimento, ou mesmo de recomendar
elo entre adepto e entidade (ou mundo espiritual), tais dispositivos a conhecidos e familiares,
no caso, não é necessariamente a cura, mas o ampliando a rede de apoio naquela comunidade de
reconhecimento coletivo do poder dessa prática, referência e ampliando também o poder social dessa
retomando Lévi-Strauss (1975). Essas questões serão prática e sua perpetuação no tempo.
endereçadas na categoria a seguir. Em outras palavras, compreender essas
práticas envolve o reconhecimento do poder das
As recomendações como tratamento e cura racionalidades leigas e de como estas podem
promover mudanças nos sujeitos em termos de
Diante dos achados, foi possível identificarmos a comportamentos e atitudes diante do adoecimento.
importância e o significado atribuídos pelos adeptos A lógica que se opera, pois, não é a de verificar a
às recomendações realizadas pelas entidades da eficácia das práticas, como poderíamos fazer dentro
umbanda. Observou-se que os entrevistados executam de um modelo positivista e baseado em evidências,
as orientações dos guias espirituais e associam bons mas a de reconhecer o importante papel dessas
resultados com a crença na espiritualidade, com racionalidades nos percursos dos sujeitos, que
a fé depositada e com os pensamentos positivos e podem adotar, a partir disso, hábitos mais saudáveis
otimistas no momento dos banhos, chás, velas para e mesmo posicionamentos mais amadurecidos, que
o anjo de guarda, entre outros. Esses aspectos podem lhes permitam a emergência de maior autonomia
ser observados nas seguintes falas. e empoderamento diante da fragilidade ou da
desordem evocada pela doença.
Eu acredito, sim, porque parece que te dá uma
aliviada boa, tira aquele peso; parece que você tá O silêncio: sigilo do tratamento espiritual nas
com alguma coisa te pesando, aí você toma o banho consultas de saúde
e parece que te limpa. (P1)
Nesta categoria podemos identificar certa
Isso depende muito de fé, porque a vela é dificuldade na exposição do tratamento espiritual
simplesmente uma cera, se eu acender a vela sem diante dos tratamentos formais. Os adeptos
fé não adianta nada. (P11) afirmaram que durante os tratamentos formais
não têm o hábito de comunicar sobre o tratamento
Nessas falas é possível identificarmos que espiritual, pois existe uma barreira quanto à
os rituais realizados no terreiro e solicitados credibilidade da espiritualidade. Os entrevistados
aos adeptos são de extrema importância para o abordaram também o fato de não saberem a religião

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do profissional de saúde, o que emerge como aspectos indispensáveis e que conferem segurança
desconforto durante as consultas. Esses aspectos ao profissional que se depara com a necessidade de
podem ser evidenciados na seguinte fala: Não abordar esse assunto em sua atuação.
comento. Não mistura, tem contradições de valores, As questões da R/E, nesse sentido, não seriam da
e você não sabe a religião da pessoa. Pro médico não ordem do espaço médico, formal, mas do terreiro, do
existe nada espiritual, mesmo que ele tenha a cultura, centro espírita. As consultas mediúnicas, portanto,
ele não vai falar que seu problema é espiritual (P3). seriam espaços nos quais a R/E é lícita e legítima,
Nota-se, nessa fala, a dificuldade em explorar permitindo uma integração do sujeito em relação
e conversar sobre a R/E em consultas formais. às suas crenças e ao seu mundo de experiências.
No entanto, iniciar um diálogo tocando em pontos tão O movimento que se percebe é de que as consultas
particulares se torna uma dificuldade e um desafio mediúnicas nem sempre podem ser referidas nos
até para os profissionais, por estarem entrando espaços formais de saúde, mas as consultas médicas,
em peculiaridades que exigem reconhecimento do por exemplo, podem ser mencionadas durante os
possível impacto desse assunto no atendimento atendimentos no terreiro. Desse modo, o terreiro
(Cunha; Scorsolini-Comin, 2019). Nesse sentido, integraria ou mostrar-se-ia aberto a uma dimensão
busca-se compreender ambos os lados e estimular mais formal do cuidado, por meio da audiência das
o vínculo médico-paciente para se entender como o entidades incorporadas a posicionamentos médicos
recurso religioso e espiritual pode ser usado durante e científicos – movimento que não é bidirecional,
o tratamento, bem como as vantagens que este pode ou seja, a R/E nem sempre seria recuperada nos
trazer para o atendimento formal e para o processo atendimentos em equipamentos formais de saúde.
de saúde-doença (Freire; Moleiro, 2015). O sistema formal de saúde, ancorado majoritariamente
Um aspecto importante refere-se à pressuposição em uma lógica biomédica, encontraria dificuldade de
de que o profissional de saúde não tenha religião ou abrir-se às racionalidades leigas. Ao não permitir a
seja de uma religião diferente da do adepto. Assim, audiência dessas racionalidades, operar-se-ia uma
para que haja compreensão é importante, segundo fragmentação do paciente, como se ele tivesse que
os entrevistados, partilhar de um mesmo mundo assumir, nas consultas com profissionais de saúde,
espiritual ou de referências semelhantes. Há que se um self ou uma identidade construída exclusivamente
considerar que nos meios formais de consulta em para o momento desse encontro.
saúde nem sempre se abre espaço para a exploração Decorrente dessas considerações, outro aspecto
da R/E do paciente, muito menos do profissional que chamou a atenção neste estudo refere-se
de saúde. Ao profissional não é permitido entrar à dificuldade de comentar sobre o tratamento
em contato com a própria R/E, o que também pode espiritual com receio do retorno que pode ser dado
dificultar a abordagem dessa questão com o paciente. pelo profissional e da forma como esse tratamento é
Esse afastamento do profissional de saúde da visto diante das consultas de saúde, principalmente
dimensão da R/E, pelos relatos, pode ser compreendido pela incerteza das reações que podem ser provocadas,
como uma ação ligada não apenas à sua formação como preconceito e julgamento. Em determinado
biomédica e positivista, mas também ao modo como momento, notou-se que profissionais da saúde podem
o próprio adepto interpreta esse profissional. identificar a intensidade depositada nas crenças
Essa realidade foi discutida no estudo de religiosas como fanatismo, enfatizando aspectos que
Cunha e Scorsolini-Comin (2019), que investigou podem interferir na saúde mental dos sujeitos, como
o modo como psicoterapeutas abordam ou não o desenvolvimento de manias. No entanto, os fiéis
sua R/E em seu fazer profissional. Na visão dos não excluíram o tratamento espiritual da trajetória
profissionais entrevistados, há tanto aqueles que terapêutica. Essa relação pode ser percebida na fala
não se pronunciam sobre questões da R/E, por de um dos entrevistados:
respeito às crenças de cada sujeito, quanto outros
que assinalaram a necessidade de competências Sim, comentei com a psiquiatra várias vezes; ela
específicas de manejo e conhecimento da temática – falava que era bom, só que era pra tomar cuidado

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pra não virar um fanatismo, virar o lado da mania, Pode-se depreender que a umbanda possuiria
porque se virar mania, vira doença e piora o estado um código específico, distanciado das tradições
que já está. Mas ela falou “que bom, vai mesmo, mas cristãs mais correntes e possivelmente conhecidas
procura um lugar sério”. (P1) pelos profissionais de saúde no Brasil, de modo que
partilhar do mundo umbandista é também pertencer
Cabe enfatizar que durante as entrevistas e tornar lícita a vivência dessa R/E tanto nos
surgiram discursos que exaltam pontos positivos tratamentos formais quanto naqueles desenvolvidos
em relação à postura profissional perante a crença nos centros espíritas e terreiros. Assim, aventa-se que
espiritual, por exemplo, pela demonstração de apoio reconhecer a umbanda como religião e como forma de
e incentivo à busca do tratamento espiritual como tratamento para questões de adoecimento, por parte
auxílio de adversidades. Essa percepção pode ser dos profissionais de saúde, pode ser importante na
destacada na seguinte fala: Eu não comento porque compreensão do adoecimento, no estabelecimento
às vezes a pessoa não acredita, né, mas teve um dos do vínculo profissional e, consequentemente, no
médicos que mandou eu procurar a religião (P15). transcorrer da trajetória terapêutica, favorecendo
Nas falas relacionadas ao sigilo do adepto sobre a proximidade e desfechos positivos.
o tratamento espiritual na umbanda, foi possível Retomando as considerações sobre o modo
identificar que a dificuldade de verbalizar esse tipo como os profissionais de saúde podem incorporar
de acompanhamento está associada ao receio e ao a R/E em sua atuação (Cunha; Scorsolini-Comin,
preconceito que a religião carrega culturalmente. 2019), destaca-se que entre as boas práticas não
Nesse caso, sublinhamos o preconceito em relação se inclui a filiação de pacientes e profissionais
às religiões de matriz africana, consideradas a um mesmo modelo religioso-espiritual. Assim
marginais em nosso contexto majoritariamente realçamos que, a despeito dos dados encontrados
cristão. Tradicionalmente, a luta das religiões neste estudo, o respeito ao outro e a seus modelos
afro-brasileiras está centrada contra o preconceito de referência, ou às suas racionalidades, parece ser
e a desinformação. Nota-se que a desinformação é mais importante do que o compartilhamento de uma
uma das principais barreiras a serem vencidas para mesma fé. Considera-se que não é a filiação a um
superar os pré-julgamentos em relação à religião, mesmo credo que possibilita o acolhimento da R/E,
buscando-se descontruir paradigmas em torno das mas o respeito pelo outro, por suas racionalidades
distorções ideológicas existentes (Cruz, 1994). e, consequentemente, por sua própria existência.
No entanto, é importante ressaltarmos que as
considerações dos profissionais em relação aos A relação entre atendimentos formais de saúde e
atendimentos de saúde estão mudando. Em muitas atendimentos espirituais
situações o profissional de saúde considera os aspectos
espirituais e religiosos que circundam o universo dos Diante dos achados, é relevante abordar
indivíduos, principalmente tentando compreender o neste eixo como os adeptos apreendem a relação
impacto desses no seu adoecimento e almejando uma estabelecida entre os atendimentos formais de saúde
avaliação holística do sujeito e do processo saúde- e os atendimentos espirituais. Por meio da análise
doença (Freire; Moleiro, 2015). Esse perfil profissional, realizada notou-se que, de forma quase unânime
mais aberto, é compreendido de modo positivo pelos entre os entrevistados, surgiu o discurso de que
adeptos. Ainda assim, reforça-se, especificamente esses tratamentos atuam de forma entrelaçada, se
pelos relatos dos participantes deste estudo, que tão complementam e são importantes para os cuidados
importante quanto entender que o profissional de com a saúde, cada um nas suas competências.
saúde acredita ou possui alguma proximidade com a
R/E é que ele esteja alinhado aos pressupostos do credo Como é uma cura espiritual, eu acho que de certa
do adepto, facilitando o processo de compreensão e, forma ajuda no corpo também, porque o que a nossa
consequentemente, de aceitação dessa dimensão por mente acredita, o nosso corpo reage. O médico ele
partilhar um mundo simbólico comum. vai tratar algo físico, os médiuns vão tratar aquilo

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que tá no seu íntimo. Ter o acompanhamento dos integradas e compreendidas em conjunto. Assim,
dois eu acho que é um conjunto, uma coisa tá ligada o tratamento na umbanda não condiz com essa
à outra. (P6) contraposição à biomedicina, pelo contrário: convida
esse saber para o momento da consulta. Por esse
Eu acho que tem que ser os dois; é como se fosse motivo, defende-se, a partir deste estudo, a umbanda
um casamento, no sentido de cuidar da saúde e do como espaço promotor de um cuidado que, de fato, se
espiritual, mas depende das crenças, do que a pessoa revela e se corporifica como integrado.
acredita. Os dois se completam, sem dúvida. (P16) Em contraposição a essa concepção integrada,
os dados também apontam para uma visão dividida
Em uma primeira análise, pode-se destacar que entre os aspectos materiais, que se referem ao corpo
essa leitura é compartimentada e tem como efeito físico, “corpo material”, e os aspectos espirituais.
de sentido o fato de que os cartesianismos não são Na fala a seguir podemos identificar que muitas
exclusivamente da ordem do discurso científico, pois, vezes a visão do corpo como matéria está associada
em certa medida, acabam atravessando o discurso ao tratamento formal de saúde e medicamentoso, que
do senso comum. Ainda que esses relatos possam a parte espiritual engloba o tratamento e as crenças
sugerir a coexistência de modelos distintos que, com a R/E e que, em determinados momentos do
por vezes, se contrapõem, operando num campo processo saúde-doença, a cura depende do próprio
de disputa ininterrupto entre saber biomédico e sujeito: Quando você tem um reflexo que te demonstra
racionalidade leiga, uma leitura etnopsicológica na carne, no seu material, no seu corpo, você tem que
do campo da umbanda (Macedo, 2015; Pagliuso; procurar uma ajuda médica, mas quando ela é interna
Bairrão, 2011; Scorsolini-Comin, 2014) nos permite depende só da gente, só da gente (P9).
uma compreensão distinta. Assim, a partir desses Essas falas apontam uma espécie de cisão do sujeito,
mesmos relatos, pode-se discutir a existência de modo que a R/E só pode ser percebida quando diz
de uma visão integrada de saúde por parte dos respeito a um aspecto interno, possivelmente associado
adeptos. Em que pesem os distanciamentos que a uma questão de adoecimento mental. A corporeidade
muitas vezes a ciência provoca entre saúde e R/E – traria um aspecto essencialmente material, de
ainda que reconheça a necessidade de integração –, necessidade medicamentosa, que poderia/deveria ser
os participantes referem uma perspectiva de cuidado tratado/curado com a intervenção de um profissional
que considera saberes formais e advindos da R/E, de saúde, notadamente do médico. As intervenções dos
em uma proposta que não fragmenta o sujeito, mas profissionais de saúde, portanto, seriam associadas a
o complementa e o torna mais integrado. aspectos que se relacionam ao corpo, à administração
A lógica da umbanda é essencialmente integrativa, de medicamentos/procedimentos, a uma intervenção
pois nela se incorporam heranças étnicas europeias, direta e percebida no corpo da pessoa adoecida.
africanas e indígenas. Todos esses legados têm As intervenções espirituais seriam de outra ordem,
sua relevância e seu lugar no culto umbandista: as o que não significa que seriam desintegradas da
tradições kardecistas, do candomblé e do catolicismo; visão total do sujeito, mas de uma natureza distinta,
não apenas em termos de uma coexistência de diferente da tratada/curada pelo profissional de saúde.
entidades e referências, o que pode ser sugerido nas De modo geral, ao considerar a relação entre R/E e
teses sobre o sincretismo, mas também de articulação. a visão do cuidado em saúde na umbanda, pondera-se
Todos esses elementos, independentemente de que os tratamentos de saúde tanto formais quanto
suas origens, passam a ser da umbanda, passam a espirituais são de suma importância, porém o
ser a umbanda. De igual monta, no espaço de uma tratamento espiritual obteve maior credibilidade
consulta mediúnica, ainda que o consulente tenha e confiança por parte dos entrevistados. Esses
buscado a umbanda porque as respostas dadas pelo aspectos são identificados na amostra estudada
modelo biomédico não se mostraram suficientes e/ quando os entrevistados relatam suas concepções
ou satisfatórias, abre-se espaço para que diferentes quanto às experiências de adoecimento e cura.
racionalidades, leigas e formais, possam ser Esse dado é compreensível, uma vez que esses

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participantes estão presentes frequentemente nos Integrando as categorias
centros espíritas/terreiros pesquisados, ou seja,
recorrem a esses espaços para tratamento de algum O conforto, o alívio e os benefícios promovidos
adoecimento com certa frequência. É esperado pelas consultas mediúnicas atuam como fonte
que, nesse contexto, sintam-se à vontade para se motivacional para busca e continuidade do
posicionar a favor dos tratamentos espirituais, tratamento espiritual. Mas, para além dos resultados,
que por vezes até se sobrepõem aos tratamentos a eficácia simbólica revela-se na continuidade do
formais, o que poderia ser diferente caso fossem tratamento, no poder conferido coletivamente às
abordados para uma pesquisa em consultório médico entidades ou aos procedimentos de saúde realizados
ou equipamento formal de saúde, por exemplo. no terreiro ou por intermédio deste.
Os dados aqui discutidos estão em conformidade Para os entrevistados, o cuidado em saúde
com o estudo de Mello e Oliveira (2013) ao enfatizarem proporcionado pelo terreiro de umbanda é de suma
que somente o modelo biomédico se torna insuficiente importância para o enfrentamento do adoecimento.
para lidar com as problemáticas de saúde e, diante Por meio da R/E os adeptos se tornam mais
desse aspecto, nota-se que a população recorre confiantes, adaptando-se com maior facilidade
às influências religiosas e culturais na tentativa aos contratempos do processo saúde-doença e às
de aliviar o adoecimento. O desafio que se revela, situações conflituosas do cotidiano, pois utilizam
nesse sentido, é que, em um percurso analítico, da fé em um poder superior para renovação dos
possamos convidar essas diferentes racionalidades propósitos da vida, propiciando novas maneiras de
não para a comparação ou para o embate, mas para lidar com adversidades.
uma leitura integrada, complexa e, por isso mesmo, O espaço de cuidado promovido pela umbanda,
desafiadora. Os percursos de saúde-doença dos pelos resultados obtidos, parece integrar não
adeptos da umbanda corporificam a integração entre apenas elementos da R/E de cada sujeito, as suas
elementos formais e religiosos no cuidado, sugerindo racionalidades leigas, mas também os discursos
ajustamentos efetivos entre umbanda e biomedicina. biomédicos que atravessam as narrativas de
O tratamento espiritual recebe credibilidade por saúde e de doença dos seus adeptos. As trajetórias
contemplar a atenção integral ao paciente ou se decorrentes dessa integração acabam sendo
aproximar de modo mais significativo dessa complexa acolhidas na umbanda devido à sua diversidade,
integração, levando em consideração seu contexto em um panteão tão complexo quanto democrático
biológico, social, cultural e espiritual, e entendendo o na promoção da saúde.
tratamento umbandista como uma racionalidade leiga
que pode conduzir a diferentes trajetórias sociais de Considerações finais
saúde e de doença (Silva; Alves, 2011).
Por fim, um importante marcador deve ser Como aspecto importante deste estudo, destacam-
compartilhado. Há que se considerar que essa análise se as ambivalências no processo de compreensão
não deve ser tomada como uma recomendação do adoecimento e das trajetórias de saúde e doença
para determinada trajetória de saúde e de que permeiam os relatos desses adeptos. Em que
doença. Compreender os distintos modelos, suas pesem as explicações de ordem médica, ligadas
racionalidades e posicionamentos é um aspecto ao corpo e aos medicamentos, também emergem
fundamental na condução de um diálogo cujo narrativas espirituais ligadas ao mundo interno e
objetivo seja a promoção de um cuidado de fato à saúde mental. Apesar de referências ao trabalho
adequado ao sujeito. Assim, não se trata de defender das entidades incorporadas, também são resgatadas
uma racionalidade em detrimento da outra, mas de críticas ao modo como os profissionais de saúde se
assinalar seus distanciamentos, proximidades e até distanciam da R/E, tanto da sua como da do paciente.
mesmo interpenetrações. Na busca por um cuidado A busca pela proximidade com os profissionais de
integrativo, tal leitura é premente. saúde passa, também, pela proximidade religiosa

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em termos de uma compreensão comum, partilhada, Referências
acerca de como a R/E atravessa o sujeito e as práticas ABDALA, G. A. et al. Religiosidade e qualidade
profissionais em saúde. de vida relacionada à saúde do idoso. Revista de
Apesar dessas ambivalências, os adeptos Saúde Pública, São Paulo, v. 49, n. 55, p. 1-9, 2015.
expressam uma noção integrada de saúde, mesclando
elementos formais, científicos e com sólidas AMARAL, J. B. et al. A religiosidade e a
espiritualidade como referências para o
evidências, com expressões da religiosidade que nem
enfrentamento da violência doméstica contra
sempre podem ser submetidas a esse mesmo crivo de
idosos. Revista de Enfermagem UERJ, Rio de
comprovação ou juízo moral e de realidade. A partir
Janeiro, v. 24, n. 2, e7126, 2016.
de uma interpretação etnopsicológica, compreende-se
que a umbanda, que abre espaço para a ambivalência e ANDRADE, J. T.; MELLO, M. L.; HOLANDA, V. M. S.
para o contraditório, também é um cenário que acolhe (Org.). Saúde e cultura: diversidades terapêuticas
essas diferentes perspectivas, bem como o sujeito e religiosas. Fortaleza: EdUece, 2015.
cindido, fragmentado, e busca o restabelecimento de BASTIDE, R. Le principe de individuation
seu equilíbrio, ou seja, almeja sua integração. Assim, (contribuition à une philosophie africaine).
a umbanda parece ser um cenário de conforto que In: COLLOQUE INTERNATIONAL DU CENTRE
permite a integração a partir do diálogo não apenas NATIONAL DE LA RECHERCHE SCIENTIFIQUE,
com o seu mundo de crenças, mas também com 1971, Paris. Anais… Paris: Éditions du CNRS, 1973.
porosidade a outros modelos, entre eles os de tradição p. 33-44.
mais biomédica e positivista. Essas diferentes BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução
inteligibilidades, na umbanda, parecem conviver de nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Aprova as
modo harmônico, o que pode estar relacionado ao diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas
conforto narrado pelos participantes no sentido de envolvendo seres humanos. Diário Oficial da União,
estarem em um lugar de acolhimento. Brasília, DF, 13 jun. 2013. Seção 1, p. 59.
Como limitações do estudo, cabe reconhecer BRAUN, V.; CLARKE, V. Using thematic
certa homogeneidade na composição da amostra analysis in psychology. Qualitative Research in
em relação ao estrato social e quadro patológico, Psychology, Abingdon, v. 3, n. 2, p. 77-101, 2006.
haja vista que a maioria dos adeptos apresentava
condições de adoecimento voltadas para a saúde CRUZ, I. C. F. As religiões afro-brasileiras:
subsídios para o estudo da angústia espiritual.
mental, ainda que a tentativa tenha sido a de
Revista da Escola de Enfermagem da USP,
diversificar os componentes amostrais, mesmo
São Paulo, v. 28, n. 2, p. 125-136, 1994.
em se tratando de uma pesquisa qualitativa. Em
estudos vindouros, recomenda-se a possibilidade CUNHA, V. F.; SCORSOLINI-COMIN, F. Best
de investigar, concomitantemente, os tratamentos professional practices when approaching
veiculados em equipamentos formais de saúde e religiosity/spirituality in psychotherapy in Brazil.
os desenvolvidos em instituições religiosas, o que Counselling and Psychotherapy Research, Rugby,
pode trazer dados importantes acerca da integração v. 19, n. 4, p. 523-532, 2019.
desses sistemas em um mesmo sujeito, tanto em FREIRE, J.; MOLEIRO, C. Religiosity, spirituality,
termos de recomendações de saúde e tomadas and mental health in Portugal: a call for a
de decisão como de atribuição de causalidades e conceptualization, relationship, and guidelines
avaliação da eficácia dos tratamentos. A adoção for integration (a theoretical review). Psicologia,
de uma postura respeitosa em relação a ambos os Lisboa, v. 29, n. 2, p. 17-32, 2015.
sistemas e suas racionalidades, evitando juízos de HVIDT, N. C. et al. Faith moves mountains –
valor e de realidade na comparação entre eles, tal mountains move faith: two opposite
como apregoado pelo referencial etnopsicológico, epidemiological forces in research on religion and
emerge como uma importante recomendação para health. Journal of Religion and Health, Nova York,
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