MEDINDO O DIÂMETRO APARENTE DA LUA A OLHO NU - Amorim

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MEDINDO O DIÂMETRO APARENTE DA LUA A OLHO NU

Alexandre Amorim – costeira1@yahoo.com


Núcleo de Estudo e Observação Astronômica “José Brazilício de Souza”

RESUMO: Esta oficina apresenta uma ferramenta fácil de ser construída e denominada pelo autor
como “Gabarito Lunar”. Seu design foi apresentado na edição do Boletim Observe! Dezembro de
2016, informativo publicado mensalmente pelo Núcleo de Estudo e Observação Astronômica “José
Brazilício de Souza”. Para construir o “Gabarito Lunar” é necessário o seguinte material: (a) um
pedaço de cartolina branca com as dimensões 10x20 cm, (b) uma régua com precisão de milímetros,
(c) um lápis ou lapiseira com grafite de 0,5 mm e (d) uma tesoura. Sugerimos que a organização do
EPAST providenciasse esse material ou instruísse os participantes da oficina a cada um trazer o seu
próprio material. O objetivo principal da oficina é mostrar à comunidade astronômica que é possível
discernir a diferença no tamanho aparente da Lua, mesmo por meio de uma ferramenta
extremamente simples, em duas situações: (a) nas épocas de Lua Cheia, a fim de identificar quando
ocorre uma Lua Cheia de apogeu e aquela de perigeu, popularmente conhecida na presente década
como “superlua”, e (b) verificar a variação do tamanho aparente da Lua ao longo de uma mesma
lunação. Na oficina explicamos os melhores horários para fazer a medição do diâmetro aparente da
Lua, conforme a fase lunar. Mesmo em caso de céu nublado é possível fazer a experiência de
medição usando imagens ou objetos que simulam o aspecto da Lua. Por fim, explicamos os
resultados obtidos pelos observadores do NEOA-JBS a respeito da Lua Cheia de apogeu e a de
perigeu desde março de 2011 usando outros métodos observacionais.

Palavras-chave: Observação; Lua.

1. INTRODUÇÃO
A questão aqui envolve comparar o tamanho aparente de uma Lua de perigeu
com outra de apogeu. Desde março de 2011 o NEOA-JBS usa o método da
cronometragem do trânsito do disco lunar e publica os resultados no Boletim
Observe!, sobretudo imagens obtidas sob as mesmas configurações de
equipamentos, a fim de evidenciar tal diferença. Os diferentes valores das
cronometragens também indicam isso. A Tabela 1 mostra os valores obtidos nas
duas Luas Cheias situadas em diferentes distâncias em relação a Terra no ano de
2016.
Data Cronometragem Diâmetro aparente lunar
21 de abril de 2016 00:02:03,2 29’ 31”,79
15 de novembro de 2016 00:02:26,2 33’ 36”,84
Tabela 1: resultados observacionais do NEOA-JBS envolvendo a Lua Cheia de apogeu e a Lua Cheia
de perigeu em 2016
A diferença de 4 minutos de arco entre o maior e o menor diâmetro aparente
da Lua está acima da resolução normal do olho humano, que é de 1 minuto de arco.
Em condições normais, duas estrelas visíveis a olho nu cuja separação angular é de
4 minutos de arco são discerníveis sem o uso de instrumentos de ampliação (por
exemplo, as estrelas θ¹ e θ² Tauri estão separadas em 5’ 36”). Porém desde a
campanha observacional da Lua Cheia de perigeu em 19 de março de 2011
buscávamos uma maneira de detectar a diferença no tamanho aparente da Lua. Em
novembro de 2016 o observador Bob King publicou um artigo em seu blog
mostrando um gabarito por ele denominado supermoon sighter a fim de medir o
diâmetro aparente da Lua Cheia. Incrementamos esse gabarito dispondo as
marcações em ordem crescente e padronizando em milímetros conforme Figura 1.

Figura 1: Gabarito Lunar para verificar a variação do diâmetro aparente da Lua a olho nu

Uma vez confeccionado, o Gabarito Lunar deve ser segurado com a ponta
dos dedos e, com o braço esticado, encaixar a melhor janela com o tamanho
aparente da Lua (Figura 2).

Figura 2: medição do diâmetro aparente da Lua feita pelo autor em 25 de julho de 2017 às 18:05 HBr.

Na literatura astronômica a descrição mais similar a essa experiência se


encontra no livro Astronomie, Les Astres, L’Univers (1948), como segue: Mais pour
qui n'est pas familiarisé avec les mesures célestes, nous dirons alors que cette
largeur correspond à celle d'un petit disque de 5 millimètres de diamètre vu à la
distance de 0m,57. Le fait est facile à vérifier. Il suffit de découper pareil petit disque,
de le tenir au bout du bras tendu, et l'on contrôlera que, présenté ainsi devant la
Lune, il la masque complètement; plus simplement, on peut opérer avec un crayon
qui est approximativement de la grosseur requise. Cette facile expérience démontre
donc au mieux de quelle illusion nous sommes victimes en contemplant «l'astre des
nuits»1.

1
Mas quem não está familiarizado com as medidas celestes, digamos então que este tamanho
corresponde ao de um pequeno disco de 5 milímetros de diâmetro visto à distância de [57
centímetros]. O fato é facilmente verificado. Simplesmente recorte o pequeno disco, segure-o na
extremidade do braço estendido e, controlando de tal forma, coloque diante da Lua, ele a ocultará
completamente; de forma mais simples, pode-se usar um lápis, que tem aproximadamente o tamanho
exigido. Essa fácil experiência demonstra bem, assim, como somos vítimas de uma ilusão ao
contemplar “o astro da noite”.
2. MÉTODOS
A confecção do Gabarito Lunar é extremamente simples, sendo necessários
os seguintes itens:
(a) um pedaço de cartolina branca com as dimensões 10x20cm;
(b) uma régua com precisão de milímetros;
(c) um lápis ou lapiseira com grafite 0,5 mm, e
(d) uma tesoura.
A Figura 3 apresenta as dimensões principais do Gabarito Lunar, respeitando
o seguinte padrão: da lateral do Gabarito até a primeira janela (da esquerda para a
direita) medimos 10 (dez) milímetros. A primeira janela tem uma largura de 4
(quatro) milímetros. A segunda janela está separada em 10 (dez) milímetros da
primeira. A largura da segunda janela é de 4,5 milímetros. Dessa forma, as demais
janelas terão suas larguras respectivamente em 5 e 5,5 mm, 6 e 6,5 mm, 7 e 7,5 mm
e a última janela tem largura de 8 mm. A separação entre as janelas é sempre de 10
mm. Por fim, a separação entre a última janela e a extremidade direita do gabarito
também é de 10 mm. A altura de cada janela é de 5 mm. As linhas que delimitam as
janelas e as extremidades são feitas por meio de régua e lápis, preferencialmente
com a ponta bem afiada. Uma lapiseira com grafite de 0,5 mm também pode ser
usada. Feitas as delimitações precisas das janelas, devemos recortá-las com uma
tesoura. Recomendamos iniciar pela janela de 4 mm. Após o recorte é prudente
conferir se a largura permanece nos mesmos 4 mm. Uma vez conferida tal largura,
passamos a recortar a janela de 4,5 mm e assim sucessivamente.

10

Figura 3: Medidas em milímetros das janelas (em cinza) e laterais do Gabarito Lunar

Encerrados todos os recortes, inclusive das laterais, o Gabarito fica com 15,5
cm de comprimento e 10 cm de altura. Então anotamos as marcações na sequência
da Figura 1. Os valores correspondem a décimos de milímetro, isto é, 40 significa
4,0 milímetros, 65 significa 6,5 milímetros. A escolha do intervalo de 4,0 a 8,0
milímetros se relaciona com o diâmetro aparente de cada janelinha quando, com o
braço esticado, dispomos o gabarito distante de um dos olhos. O modelo usado
considerou uma distância de 700 mm entre o Gabarito e os olhos do observador. Ao
aplicarmos a relação trigonométrica tan α = L/d no triângulo retângulo da Figura 4, o
ângulo α é de aproximadamente 0,49 graus, valor próximo do tamanho aparente
médio da Lua.

L = 6 mm α

d = 700 mm
Figura 4: Determinação do ângulo médio do Gabarito
Para realizar a medição da Lua Cheia, o observador deve segurar o gabarito
com a ponta dos dedos e esticar bem o braço. Então, começando pela janela de
maior largura (80) ele posiciona o Gabarito de modo que a Lua esteja no interior da
janela. Se a Lua couber inteira e ainda sobrar espaço na janela da marcação 80, ele
“desce a escala” e posiciona a Lua na janela da marcação 75. Ainda sobrando
espaço no interior dessa segunda janela, ele passa para aquela com a marcação 65
e assim sucessivamente, até encontrar uma janela em que a Lua Cheia encaixe
melhor, sem sobrar espaço nem ocultar parte da Lua. (Ver Figura 5).

Figura 5: Da direita para a esquerda: em (a) e (b) a Lua cabe inteiramente nas janelas 80 e 75 e
ainda sobra espaço. Em (d) e (e) as laterais das janelas 65 e 60 ocultam partes da Lua. A janela com
melhor encaixe é a 70 (posição c).

3. RESULTADOS
Durante o 19º ENAST, realizado em João Pessoa/PB, em 14 de novembro de
2016, diversos participantes, incluindo o autor, fizeram algumas medições da Lua
Cheia com esse Gabarito e os valores situaram-se entre as marcações 60 e 70. Na
mesma noite, porém em Florianópolis/SC, Ricardo Gutierrez e Cindy Estrada
avaliaram o diâmetro aparente na marcação 65. Lembramos que naquela noite
houve uma Lua Cheia na mesma data do perigeu. Na data da última Lua Cheia de
apogeu não foi possível realizar a medição por meio do Gabarito, porém três dias
depois, em 12 de junho de 2017, a medição apontou a marcação 50, nitidamente
abaixo daquela feita em 14 de novembro de 2016. Notamos que o melhor momento
para realizar as medições é durante o crepúsculo quando é claro o suficiente para
visualizar simultaneamente o Gabarito e a Lua. Medições feitas durante a noite são
prejudicadas, pois fica muito difícil discernir as arestas do Gabarito no escuro.
Esse instrumento simples não serve apenas para medir o tamanho aparente
da Lua na fase Cheia, mas em outras fases lunares. Nesse caso o observador deve
ter o cuidado de girar o Gabarito de modo a medir o diâmetro lunar no seu eixo
norte-sul. A Figura 6 mostra um gráfico com todas as medições feitas pelo autor
desde novembro de 2016, inclusive aquelas em que a Lua não estava na fase
Cheia.
Medições

80
marcação
75
70
65
60
55
50
45
40
7700.0 7750.0 7800.0 7850.0 7900.0 7950.0 8000.0
Data Juliana (2450000+)

Figura 6: Medições do diâmetro aparente da Lua feitas pelo autor no período de 270 dias.
A princípio o Gabarito foi idealizado para que cada observador faça suas
medições. Certamente se um mesmo Gabarito for usado por observadores
diferentes, as medições serão ligeiramente distintas em virtude da extensão dos
braços ser diferente um do outro. Porém, isso pode ser minimizado se
padronizarmos a distância do Gabarito em 1 (um) metro e as marcações podem ser
ampliadas para 85, 90, 95, 100 e 105 ou até mesmo anotadas com valores de
minutos de arco. (Figura 7).

Figura 7: Modelo de Gabarito Lunar para ser colocado a 1 (um) metro do observador. Na segunda
linha estão valores calculados para o diâmetro em minutos de arco.

4. CONCLUSÃO
Embora possam surgir alegações na comunidade astronômica de que é muito
difícil discernir a diferença no tamanho da Lua a olho nu, mostramos por meio de um
singelo instrumento que isso é simples e possível. A acurácia das medições
dependerá da experiência do observador em manejar o instrumento. Porém, mesmo
nos casos em que não é necessária uma precisão na medição do tamanho aparente
da Lua, basta notar que durante o apogeu as medições situam-se nas marcações do
lado esquerdo do Gabarito enquanto que aquelas medições feitas na época do
perigeu situam-se no lado direito do instrumento. Tal medição qualitativa é suficiente
para evidenciar a diferença do tamanho aparente da Lua ao longo das semanas ou
meses.

REFERÊNCIAS
AMORIM, A. Lua cheia de perigeu em 19 de março de 2011. Boletim Observe! v. 2,
n. 3, 3-4, 2011.
AMORIM, A. A superlua em 14 de novembro de 2016. Boletim Observe! v. 7, n. 2,
4-5, 2016.
AMORIM, A. É possível discernir a diferença a olho nu? Boletim Observe! v. 7, n. 2,
5-7, 2016.
KING, Bob. Behold november’s super-duper supermoon. Disponível em:
<http://www.skyandtelescope.com/observing/see-the-biggest-supermoon-in-68-
years>. Acesso em: 10 nov. 2016.
RUDAUX, Lucien e VANCOULEURS, Gérard de. Astronomie, les astres, l'univers.
Larousse: Paris, 1948.

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