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Bússola e Mapa. Princípios de Orientação (tradução da obra de Charles Thöne)


- Boussole et carte. Principes d'Orientation (Unpublished work).

Book · July 2003

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Gerson de Freitas Junior


São Paulo State Technological College - FATEC
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THOENE, Charles. Boussole et Carte. Principes D’Orientation. Petits Atlas de Poche
Payot, nº16. Libraire: les chants de maldorer, Montmorillon, France. Librairie Payot
Lausanne. Clichés, impression et copyright - Hallwag S.A. Berne, 1945 e 1960.

Tradução: Gerson de Freitas Junior, 2003.

Bússola e Mapa. Princípios de Orientação

Introdução

O viajante ou turista que percorre um país bem conhecido, por rotas bem sinalizadas, pode
se orientar com as indicações que encontra ou com a carta topográfica do lugar. A cada
cruzamento, ele só terá que comparar o mapa com o terreno verdadeiro e encontrará sem
dificuldade a direção a seguir. Da mesma maneira ocorrerá se ele não estiver em locais
totalmente desabitados, pois neste caso o mapa não passará de um auxílio insuficiente.
Assim, em uma região montanhosa, deserta e desprovida de caminhos, o turista terá
dificuldade em alcançar o destino ao qual se propôs, sobretudo quando a topografia da
região não lhe der os pontos de referência, ou quando a neve recente tenha recoberto
qualquer traçado ou marca de pegada. Se, ali, o nevoeiro ou a escuridão o surpreenderem, a
melhor carta não terá mais utilidade alguma. Todavia, um pequeno objeto poderá tirá-lo da
dificuldade: a bússola! Com a qual será possível retomar a direção perdida, mesmo nas
condições mais desfavoráveis.

Atualmente, raros são os viajantes que se aventuram fora dos caminhos trilhados, fora das
pistas conhecidas, sem carregar consigo, além do mapa, uma bússola. Mas não podemos
fazer uso deste instrumento de orientação sem os conhecimentos necessários. Aquele que
só tem noções vagas, não pode esperar grande ajuda e aquele que, sem nada saber de seu
manuseio, pensa poder se orientar, apesar de tudo, em caso de perigo, arrisca encontrar-se
em uma situação ainda mais crítica.

Por mais simples que possa parecer o manuseio da bússola em relação com ao mapa, não é
menos necessário estar bem familiarizado com este instrumento para não ter que refletir
longamente, em caso de necessidade, sobre a correta forma de utilizá-lo. Para aproveitar
esta pequena obra, não se contente em folheá-la e ler apenas uma vez os exemplos e os
problemas propostos, mas aproveite para consultá-la também nas ocasiões em que você
estiver em campo. Você logo perceberá as vantagens que ela poderá proporcionar, e você
passará momentos agradáveis ao colocá-las em prática.

A bússola comum

Em muitas ocasiões – por exemplo, se vamos orientar o mapa, de acordo com os pontos
cardeais – podemos utilizar uma bússola comum. Mas, frequentemente este instrumento
mostra-se insuficiente, pois é difícil obter uma direção precisa por seu intermédio. Para
permitir à agulha se imobilizar sobre a linha de declinação, somos forçados a manter a
bússola bem posicionada na horizontal, diante de nós mesmos, de forma que o olhar recaia
verticalmente sobre o quadrante da bússola, sem que esta sofra movimentos bruscos.
Obtemos assim apenas uma orientação aproximada. Mas, para encontrar um ponto qualquer

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no terreno ou no mapa, com maior precisão, é necessário utilizar um quadrante de uma
bússola mais detalhado, como é o caso da bússola aperfeiçoada, da qual trataremos mais
adiante.

Por hora, descreveremos a bússola comum, que comporta os elementos básicos que nos
interessam mais do que outros. Como mostra a fig. 1, trata-se de um objeto redondo, dentro
do qual oscila uma agulha magnetizada, posicionada sobre um eixo de aço e ocupando um
quadrante com a rosa-dos-ventos. Este quadrante está em outra divisão – no sentido dos
ponteiros do relógio – de 360º, marcados por um traço a cada 5º. A argola permite fixar um
cordão e o botão exterior, que bloqueia a agulha quando não utilizamos a bússola,
impedindo um desgaste muito rápido.

Para utilizarmos o instrumento, desbloqueamos a agulha e verificamos o que ela indica. Ela
indica então, com sua metade de cor escura, não o norte geográfico exato, mas o norte
magnético, alguns graus mais a oeste. Este leve desvio ou declinação está marcado na
bússola; com efeito, quando o norte geográfico está exatamente sobre 0 (letra N), a agulha
se imobiliza no lugar indicado por um traço ou por uma pequena seta (ver a fig.). Este
ângulo de declinação varia conforme os lugares e modifica-se também com o decorrer do
ano. Para a Suiça, ele varia mais ou menos 6º na direção Oeste, se reduzindo anualmente
em 1/6 de grau. Para conhecer exatamente o ângulo de declinação de um lugar habitado,
podemos determiná-lo sem sair do lugar, em uma loja de instrumentos de ótica, por
exemplo.

Fig.1. Bússola comum, formada por um recipiente circular com o quadrante e a


agulha magnetizada, e munida de um bloqueador

Não nos espantemos se, em quase todos os nossos croquis, o Oeste estiver designado por W
e o Leste por E; estas indicações são aquelas que carregam a maioria das bússolas.

A bússola aperfeiçoada

Essas bússolas existem no comércio, havendo diferentes marcas. Embora em um primeiro


momento elas pareçam muito diferentes umas das outras, são todas construídas segundo os
mesmos princípios. Todas elas possuem os quatro elementos essenciais subsequentes (ver a
fig.2):

1. Dispositivo permitindo visar um alvo (visor e mira).


2. Quadrante giratório com agulha magnética; ele permite, graças a um índice de referência
(entalhe ou triângulo), ler a medida do ângulo de direção.

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3. Aresta (ou seta desenhada) direita, paralela à linha de visada e indicando esta direção
quando colocamos a bússola sobre o mapa estendido.
4. Espelho permitindo controlar a direção constante da agulha, quando levamos a bússola à
altura dos olhos para visar um alvo.

Estas quatro vantagens, e os resultados infinitamente mais precisos aos quais chegamos em
comparação aos da bússola comum, fazem desta bússola aperfeiçoada um instrumento
indispensável para a pretensão de muitos viajantes, ao visitarem outros lugares. Nós a
utilizaremos, portanto para os esclarecimentos práticos que virão depois. E para não dar
preferência a um modelo determinado de bússola, nós sempre representaremos nas figuras
o esquema do instrumento

Fig.2. Esquema da bússola aperfeiçoada

Encontramos as quatro particularidades essenciais sob uma forma muito simplificada, pois
não importa qual modelo esteja à venda, estas particularidades se repetem. Algumas
bússolas comportam ainda outros aperfeiçoamentos, como: um mecanismo para medir os
ângulos verticais, um nível de água permitindo manter o instrumento completamente
horizontal para as medidas precisas, etc., mas não é indispensável descrevê-los. Nem todos
os instrumentos possuem o quadrante dividido em 360º. As diversas gradações não têm
grande importância, pois a determinação do ângulo de direção não exige uma precisão
extrema. Não se deve esquecer que um objeto de ferro, muito próximo da bússola, interfere
na posição da agulha. Para ter as medidas exatas, é necessário, portanto afastar-se de todo
balaústre, estrada de ferro, etc. Até uma simples faca de bolso pode influenciar a agulha.

O mapa

Quanto melhor soubermos ler um mapa, melhor poderemos utilizar as múltiplas indicações
dele. As diferenças de nível são representadas por curvas, que oferecem uma precisão
maior na leitura dos detalhes do que o sistema de hachuras. Este último sistema é mais
antigo que aquele das curvas e dá uma imagem talvez mais representativa e mais clara dos
locais de interesse, sobretudo quando as hachuras mais estreitas ressaltam com sombras a
declividade do relevo. Mas aquele que está bem familiarizado com a carta topográfica (em
curvas de nível) terá muito mais indicações para orientar-se do que com outras.

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A escala do mapa indica a proporção que existe, na ordem das grandezas, entre a imagem
do mapa e a realidade. Ela está sempre inscrita na margem, sob forma de uma régua, a qual
permite medir uma distância sem que seja necessário transpor os algarismos; basta preparar
uma tira de papel e reproduzir a lápis as distâncias da escala. Poderemos assim determinar
um comprimento em metros colocando o papel sobre a escala. Se o comprimento sobre a
carta ultrapassar aquele da régua-escala, a prolongaremos várias vezes. Entretanto, mesmo
sem utilizar a régua, o cálculo das distâncias sobre um mapa é simples. Basta conhecer a
escala. Com efeito, a distância de um centímetro sobre o mapa é transposta para o terreno
nas proporções dadas pela escala. Exemplo:

Escala da carta Distância sobre a carta Distância na realidade


1:25.000 1cm 25.000cm ou 250 metros

As dimensões do terreno, eis aqui a primeira informação importante que o mapa fornece ao
turista. Há uma segunda informação também importante: o relevo (e a declividade),
indicados, como dissemos, pelas curvas ou hachuras. Os mapas em grandes escalas
frequentemente ressaltam o relevo pelas indicações das sombras e da luz. Como mostram as
fig. 3 e 4, as curvas de nível consistem em linhas que passam sobre o terreno por diferentes
pontos, cuja a altura é sempre constante. Podemos representar uma montanha, por exemplo,
recortada horizontalmente em fatias iguais, e o contorno de um destes cortes fictícios forma
uma curva; é assim que, unindo o relevo, o conjunto das curvas representa, no mapa, o
desnível do solo. Como as fatias imaginárias são todas de uma espessura igual, a diferença
de altura entre duas curvas é também sempre a mesma. A designamos pelo vocábulo da
equidistância, anotada igualmente na margem de cada carta deste sistema.

Fig.3. Podemos representar a montanha recortada horizontalmente em fatias de


espessura igual, o contorno de uma fatia formando uma curva sobre o mapa

Não é difícil, por intermédio das curvas de nível, supor a inclinação de um terreno ou
reconhecer as formas típicas, tais como: cumes, arestas de montanha, depressões do terreno,
leitos de cursos d’água, etc. Podemos igualmente calcular a porcentagem de uma inclinação
e desta forma aproveitar melhor o terreno quando planejamos uma excursão de acordo com
o mapa. Medimos então, sobre o itinerário previsto, a distância entre duas curvas e a

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multiplicamos pelo algarismo da escala. Obtemos assim a distância que haverá entre duas
curvas no terreno horizontal. Basta agora comparar esta distância com a diferença de altura
das duas curvas, isto é a equidistância, e poderemos calcular a porcentagem da inclinação
de um lugar.

Fig.4. Perfil que representa uma carta em curvas de nível, com equidistância de 10m

Fig.5. Representação por hachuras. As curvas desenhadas não existem sobre a carta;
elas só servem aqui para mostrar a disposição das hachuras

Um exemplo mais claro: Supondo que temos um mapa de 1:25.000 com equidistância de
10m. Entre as duas curvas que nos interessam há uma distância de 2mm. Isto corresponde
no terreno a uma distância horizontal de 2 x 25.000 = 50.000mm ou 50m. A equidistância
sendo de 10m, podemos calcular a porcentagem da inclinação:
10 x 100 = 20%
50
Em um mapa com hachuras, as linhas são dispostas no sentido da maior declividade.
Ordenaremos um mapa onde as curvas de nível foram ligadas por hachuras transversais
(ver fig.5). Quanto mais inclinado é o terreno, mais as hachuras são pequenas e estreitas.
Em outra ela está sombreada, considerando que conhecemos o lado e a altura dela. É

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porque as hachuras são muito finas na vertente clareada e mais espessas no lado escuro. Por
intermédio destas oposições, a carta reproduz com muita fidelidade o relevo do terreno.

Orientação no terreno

Como encontrar os pontos cardeais com a bússola?

Supondo que estamos no campo e que desejamos conhecer a direção do Norte, do Sul, do
Leste e do Oeste. Para isto, posicionamos a bússola até que o 0 do quadrante (ou aquele
símbolo que aparece no mesmo - o ponto indicando o norte: N) se localize exatamente sob
o índice (ou marca) de referência (triângulo ou entalhe). Nos vários tipos de instrumentos,
este índice está ligeiramente acima do quadrante. Será necessário, portanto, fazer de tal
modo que o olhar recaia verticalmente e corretamente sobre o quadrante.

Fig.6. Determinação dos pontos cardeais

Uma vez regulada a bússola, a colocamos sobre a mão, como mostra a fig. 6. A linha do
dedo médio é então dirigida na direção do norte magnético, o mesmo sentido da aresta
direita e da seta de direção ao lado do quadrante (algumas vezes desenhada sobre o vidro).
O espelho não deve ocultar o quadrante, e deve-se manter a mão diante do peito para
permitir que o olhar recaia perpendicularmente (fig.7). Isto feito, giramos ligeiramente à
direita, a mão sempre imóvel, até que a parte escura da agulha detenha-se no traço,
marcando o ângulo de declinação (aproximadamente 6º). Neste caso, igualmente, o olhar
deve recair verticalmente, pois a agulha está, em geral, a uma certa distância acima ou
abaixo da marca de declinação. Bastará então, olhar um pouco de lado para desviar vários
graus. Quando a agulha está imóvel na posição descrita acima, os dedos apontam na direção
do norte geográfico. Os outros pontos cardeais estão no prolongamento das quatro linhas ao
ângulo reto do quadrante.

Se vamos ainda, determinar exatamente o Norte em um ponto do horizonte, é necessário


proceder assim: baixar até três quartos a tampa que porta o espelho, depois, sem mudar de
lugar, conduzir a bússola a 20 ou 30cm do olho direito; dispor a tampa de modo que a
agulha magnetizada e o quadrante sejam bem refletidos no espelho; verificar em seguida se
a agulha coincide sempre com a marca de declinação ou, na ausência, com 6º à esquerda;
corrigir se for necessário a direção da agulha girando o corpo inteiro; olhar então o
horizonte passando pelo visor e pela mira: o ponto que está no prolongamento da linha

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olho-visor-mira é o norte geográfico (ver fig.8). Se este ponto coincide com uma referência
qualquer na paisagem ou no horizonte, tal como uma casa, campanário, árvore, crista (do
relevo), entalhe, etc., podemos lançar um olhar rápido no espelho para verificar se a agulha,
por um movimento involuntário do corpo, não está desviada entre pontos da marca de
declinação.

Fig.7 Fig.8

Para visar o sul, leste ou oeste geográficos, fazemos girar a bússola até que o índice de
referência coincida com o ponto correspondente da rosa-dos-ventos, isto é, para o Leste o
ponto é (E) ou 90º, para o Sul com o ponto Sul (S) ou 180º, e para o Oeste com o ponto
Oeste (W) ou 270º; se o quadrante, evidentemente, estiver dividido em 360º.

Como orientar um mapa no terreno?

Fazemos novamente coincidir, como anteriormente, o índice de referência com o ponto


norte da rosa-dos-ventos, depois colocamos a bússola horizontalmente sobre o mapa
estendido. Conforme os instrumentos, é necessário que a aresta direita ou os dois entalhes
na altura da tampa e abaixo da argola coincidam exatamente com umas das linhas paralelas
que, no mapa, formam um tabuleiro quadriculado (ver fig.9). Nesta primeira posição, a
direção norte-sul da rosa-dos-ventos corresponde também à direção norte-sul do mapa, pois
no atlas o Norte encontra-se situado geralmente no alto. Em seguida, giramos
horizontalmente o mapa, mantendo a bússola em seu lugar, e observamos a agulha (esta,
evidentemente, não vira, mas permanece sempre orientada na direção do norte magnético).
Em um dado momento, a ponta azulada atinge a marca de declinação, sendo necessário
parar de girar o mapa até que a bússola esteja efetivamente orientada de acordo com o
terreno (fig.10).

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Fig.9. Colocamos a bússola de forma que a aresta direita esteja paralela à
extremidade do mapa ou a uma linha do tabuleiro quadriculado

Fig.10. Giramos o mapa até que a ponta norte da agulha coincida com a marca de
declinação

Feito isso, os pontos cardeais no mapa terão as mesmas direções que na realidade, e um
ponto exato no mapa corresponde a um mesmo ponto exato no terreno. Podemos nos
assegurar agora que as formas características da região, visíveis do lugar onde estamos, são
os mesmos lugares no mapa, e vice-versa: rotas e cursos d’água, colinas e florestas,
estradas de ferro e fazendas isoladas, serão todos reconhecidos (fig.11). Podemos
certamente orientar um mapa sem a bússola, comparando simplesmente o primeiro com as
formas e a cobertura da paisagem; mas este procedimento está longe de ser rápido e
preciso.

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Fig.11. O mapa está orientado de acordo com a paisagem

Medidas com a bússola

Quando o mapa está orientado, podemos tentar alcançar um alvo fixo mais imperceptível
em um primeiro momento. Teremos apenas que comparar o mapa com a realidade, no
trajeto de caminhada. Dessa forma, determinamos os pontos que se destacam na paisagem
desconhecida que percorremos: montanhas, rios ou lagos, brejos, dos quais podemos
perguntar às pessoas do lugar o nome e a posição geográfica exata. Mas cada turista sabe
como é necessário se familiarizar com um local para logo reconhecer uma paisagem, e ali
se orientar, lendo simplesmente o mapa, sobretudo quando deixamos os caminhos bem
sinalizados em uma região despovoada. É porque, esta leitura constante do mapa se mostra,
no começo, bastante árdua e demanda certa prática. O viajante, com efeito, pode facilmente
enganar-se e se afastar de seu objetivo em uma região isolada, sem pontos de referência no
terreno ou no mapa. E toda leitura se torna impossível em uma floresta, em um nevoeiro ou
durante a noite! Felizmente, a bússola nos tira da dificuldade. Com ela, poderemos sempre
alcançar seguramente o objetivo, se conhecermos a posição exata na qual estivermos ou se,
com a ajuda do mapa, pudermos determinar pelo menos dois pontos exatos. Com efeito, a
função essencial da bússola é de nos permitir medir um ângulo formado por duas linhas
de direção.

Isto talvez pareça confuso para aquele que possa ter esquecido suas primeiras lições de
geometria, mas na prática, é muito simples: um dos lados do ângulo é sempre formado pela
linha do norte geográfico que é dado, em gabinete, pelo mapa, e, no campo, pela bússola. O
outro lado é espesso na direção do objetivo a alcançar, isto é, o da caminhada. O ponto de
parada no mapa ou no campo, ponto de onde o viajante mede seu ângulo, está sempre na
intersecção dos dois lados do ângulo; este resulta de dois lados conhecidos, como mostra a
fig.12. À esquerda da linha do norte geográfico, temos também indicado, sobre esta figura,

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aquela do norte magnético, que é dado pela agulha quando ela se posiciona exatamente
sobre a marca.

Fig.12. O ângulo de direção que se busca medir é formado pela linha do norte
geográfico e pela linha de caminhada que conduz ao objetivo

Os quatro problemas-chave

O número de casos resolvidos com a ajuda da bússola é muito grande, contudo podemos
resumi-los a quatro problemas fundamentais, formando dois grupos: cada grupo permite
medir um ângulo de direção e transpor este ângulo para o mapa ou para o terreno. Quando
estivermos familiarizados com a prática deste princípio, poderemos, graças aos exemplos
dados neste pequeno livro, resolver todas as dificuldades que encontra um turista no campo,
assim, a aplicação da teoria logo se tornará automática. Estes problemas estão brevemente
expostos a seguir e numerados. A forma de utilizá-los e os diferentes casos que podem
apresentar-se serão o objetivo das páginas que seguem. Para maior clareza e concisão,
designaremos, de agora em diante, cada problema por seu número de ordem.

Problema nº 1: Medir um ângulo de direção no mapa

Calculamos na carta, quer com o quadrante da bússola, quer com um transferidor, o


ângulo formado, como vimos, pela linha do norte geográfico e pela linha de caminhada.

Problema nº 2: Transpor este ângulo para o terreno

Para transpor para o terreno o ângulo encontrado no problema nº 1, a bússola é


indispensável.

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Problema nº 3: Medir um ângulo de direção no terreno (azimute)

Calculamos o ângulo, sempre formado pelas duas direções do norte e da caminhada,


com a ajuda da bússola.

Problema nº 4: Transpor este ângulo para o mapa

Transferimos o ângulo encontrado no problema nº 3, com a ajuda do quadrante da


bússola (sem considerar a agulha) ou com um transferidor.

Os dois principais empregos da bússola

I. Encontrar no terreno um ponto indicado pelo mapa

Problema: No percurso de uma caminhada, percebo que uma igreja está indicada no mapa.
Qual direção tomar para alcançar este objetivo?

Solução: Trata-se nesse caso do problema nº 1, que se resolve como está a seguir: com um
lápis deve-se traçar no mapa uma linha, indo do ponto onde nos encontramos (ponto de
parada) até o lugar onde está marcada a igreja (objetivo), conforme fig.13. Obtemos assim a
linha de caminhada. Em seguida, deve-se traçar uma segunda linha, passando também pelo
ponto de parada e paralela às extremidades verticais do mapa, obtendo assim, a linha Norte-
Sul.

Fig.13. Ligamos o ponto de parada ao objetivo e ao norte do mapa por dois traços
feito a lápis

Colocamos então a bússola sobre o mapa, de forma que a aresta (ou os dois entalhes)
coincida com a linha de caminhada que traçamos primeiro (ver fig.14). O espelho é aberto e
a seta de direção sobre a bússola (ou o vidro) é apontada na direção do objetivo. Depois,
mantemos com uma mão a bússola posicionada sobre o mapa, enquanto com a outra mão

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fazemos girar o mapa para que a linha Norte-Sul da rosa-dos-ventos coincida ou esteja
paralela com a linha Norte-Sul que traçamos a lápis, e que é paralela às linhas verticais do
tabuleiro quadriculado do mapa ou à extremidade deste. Logo após, leremos o ângulo de
direção, entre as duas linhas traçadas, com a ajuda do quadrante e do índice de referência (o
olhar deve recair bem perpendicularmente!). Durante esta operação, não devemos nos
ocupar da agulha magnética.

Fig.14. Medida do ângulo de direção com a bússola e Fig.15. Medida do ângulo de


direção com a ajuda do transferidor

As cifras de graduação não estão sempre marcadas nas mesmas extremidades do quadrante
e a divisão frequentemente só é feita a cada 5º. Além disso, podemos obter uma precisão de
no máximo 1º aproximadamente. Na maior parte dos casos, isso é suficiente. Entretanto, se
pretendemos medir o ângulo no mapa de forma bem exata, convém utilizar, no lugar de
uma bússola, um transferidor, tal como aquele que utilizamos nas lições de geometria. Os
transferidores habituais, em semicírculo, não são muito satisfatórios para o nosso caso, já
que eles são divididos somente em 180º. É preferível escolher um transferidor circular de
360º, fabricado com um material transparente.

Para medir o ângulo de direção com o transferidor, é necessário igualmente marcar as duas
linhas a lápis, como já explicamos. Colocamos este transferidor sobre o mapa, de forma que
o centro coincida com o ponto de parada e a divisão 0º com a linha Norte-Sul (fig.15).
Podemos, então, ver a medida do ângulo no ponto onde a linha de direção encontra as
divisões do transferidor. O resultado é muito mais preciso. Uma vez obtido o ângulo, o
transferimos para a bússola, girando esta até que o índice de referência coincida com o
número encontrado.

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Fig.16. Transpor para o terreno o ângulo de direção medido no mapa e Fig.17.
Medida do ângulo (azimute) formado pela direção do norte geográfico e aquela do
alvo visado

Veremos agora o problema nº 2. Consiste em transpor para o terreno o ângulo encontrado


com a bússola. Tendo esta diante de nós à altura do peito, o índice de referência está
sempre sobre o grau encontrado para o ângulo de direção. A seta está na linha do olhar e o
espelho aberto. Depois giramos a bússola até que a ponta escura da agulha magnetizada
esteja sobre a marca de declinação (ver fig.7). O olhar já estará na direção do alvo, mas
para determiná-lo exatamente, posicionamos a bússola na altura dos olhos, com o espelho
baixado à posição de três quartos. Poderemos então, ver se refletir no espelho a agulha
magnetizada e as divisões do quadrante (ver fig.8). Se a agulha estiver sobre a marca de
declinação e o grau do ângulo sobre ou sob o índice de referência, veremos no horizonte a
igreja que procurávamos (como mostra a fig. 16).

II. Marcar no mapa um ponto indicado no campo

Problema: Vejo um mirante no topo de uma colina distante: como assinalá-lo e marcá-lo no
mapa?

Solução: Trata-se aqui do problema 3, que se resolve como está à seguir: devemos nos
colocar na frente do lugar em questão (o mirante do nosso exemplo), e ter a bússola em
uma das mãos diante do peito, com a seta de direção na linha do olhar. O espelho deve estar
aberto para não ocultar o quadrante. Com a outra mão devemos fazer girar o instrumento
até que a parte escura da agulha coincida com a marca de declinação. Neste momento,
devemos baixar o espelho à posição de três quartos e posicionar a bússola diante dos olhos
de forma que possamos ver a agulha e o quadrante refletirem-se no espelho. Focamos então
o mirante. Existem, portanto, duas coisas das quais devemos nos assegurar: que a agulha
coincida sempre com a marca de declinação, e que o mirante esteja na linha de visada, pois
um movimento involuntário do corpo pode desviar a bússola da direção correta. Quando
estas duas condições são preenchidas, temos a medida do ângulo de direção contida entre a

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linha do norte geográfico e aquela do alvo visado, como mostra a fig. 17. O índice de
referência nos dará o algarismo sobre o quadrante.

Problema nº 4. Vamos agora determinar no mapa a direção e a posição do mirante graças


ao ângulo que viemos medir com a bússola. Isto supõe evidentemente que conheçamos bem
o lugar onde nos encontramos. Colocamos a bússola sobre o mapa estendido, de forma a
fazer coincidir a direção Norte-Sul da rosa-dos-ventos com aquela do mapa, isto quer dizer
ou com uma das linhas verticais do tabuleiro quadriculado ou com a mesma extremidade. A
aresta direita (ou algumas vezes os entalhes da argola e de cima da tampa) deve estar sobre
a linha que passa pelo ponto de parada. A fig. 18 mostra claramente. A linha que indica
então a seta de direção deve conduzir à colina sobre a qual havíamos visto o mirante. Esta
localização ainda é facilitada se traçarmos a lápis uma linha no prolongamento da seta, ou
se, na falta do lápis, empregamos ao longo da aresta da bússola uma tira de papel retilíneo.

Fig.18. Transpor para o mapa, com a ajuda da bússola, o ângulo de direção medido no
terreno e Fig.19. Transpor para o mapa, com a ajuda do transferidor, o ângulo de
direção medido no terreno

Uma vez verificados em gabinete, podemos igualmente encontrar no mapa um ponto


localizado no percurso de um trajeto, para procurar o nome e a posição exata. Basta que
tenhamos anotado na rota o ângulo de direção e o lugar de onde o tenhamos medido (ponto
de parada!). O trabalho ganha em rapidez e precisão se, no lugar de uma bússola, nos
servirmos do transferidor circular. Como mostra a fig.19, traçamos levemente a lápis os
dois lados do ângulo de direção. O centro do transferidor está localizado exatamente sobre
o ponto de parada e o 0 da graduação sobre a linha Norte-Sul. Assim, o grau do ângulo
medido no terreno permite determinar de modo mais preciso ainda a direção do mirante
procurado.

14
A caminhada com a ajuda da bússola

Problema: Avançando através de um bosque, me proponho a alcançar um chalé do qual


conheço a posição no mapa, mas como existem as colinas e as florestas no percurso, o chalé
estará imperceptível durante a caminhada.

Solução: Utilizar primeiro o problema nº 1. Com um lápis, traçar uma linha do ponto de
parada até o objetivo, depois uma outra linha do mesmo ponto até a direção Norte-Sul do
mapa. Medir com a bússola o ângulo formado por estas duas linhas. Podemos ainda fazer
esta medida com o transferidor, como vimos anteriormente. Nesse caso, é necessário
simplesmente transpor para a bússola o grau encontrado com a ajuda do quadrante e do
índice de referência.

Além desta medida, é útil calcular também a distância a percorrer. Para isto, transferimos
o comprimento da linha traçada entre o alvo e o ponto de parada sobre uma tira de papel.
Basta comparar este comprimento com a régua-escala impressa abaixo de cada mapa para
determinar a distância em metros ou quilômetros, como mostra a fig.20. Depois da
distância, nos esforçamos em calcular o tempo necessário para percorrê-la. Este não
depende somente da distância, mas também das irregularidades do terreno. As encostas e os
declives estão visíveis no mapa, assim, podemos levar em conta este fator. Calculamos
aproximadamente 15 minutos para percorrer uma distância de 1000 metros de forma linear,
acrescentando para um desnível de 100 metros, 15 minutos se há encosta, e 10 minutos se
há declive.

Fig.20. Sobre o mapa, transpomos o ângulo de direção com a bússola e medimos a


distância utilizando a régua-escala da borda inferior

O problema nº 2 permite transpor para o terreno o ângulo medido com a bússola sobre o
mapa. Sabemos que o chalé está imperceptível do ponto de parada, e também no trajeto da

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caminhada. Isto, porque é necessário primeiro determinar um ponto saliente da paisagem
que esteja na linha de caminhada. Está entendido que, de uma parte, a agulha está sobre a
marca de declinação, e que, de outra parte, o ponto intermediário visado está o mais
afastado possível e bem reconhecível: utilizaremos uma árvore isolada, uma crista, um
pedaço de rocha clara, um edifício ou toda outra particularidade da paisagem. Convém,
sobretudo, que este ponto se encontre exatamente sobre a linha do objetivo buscado. Uma
vez alcançado este primeiro lugar, procuramos, bússola na mão, um segundo ponto afastado
da linha de caminhada. Assim, de etapa em etapa, chegaremos ao objetivo, como indica
claramente a fig. 21.

Fig.21. Por etapas sucessivas, visamos uma série de pontos que se encontram todos na
linha de caminhada percorrida até o objetivo e Fig.22. Para manter a direção correta,
temos na mão, com a bússola, um bastão reto apontado no sentido da aresta e da seta

Na floresta, entretanto, deixamos espaço livre para localizar os pontos distantes. Da mesma
forma, em um nevoeiro espesso ou durante a noite. Nesse caso, não existe nada de diferente
a fazer, a não ser controlar constantemente a direção da caminhada, a bússola em mãos, a
agulha oscilando sobre a marca de declinação, a aresta da bússola e a seta indicando a
direção do objetivo. Mas, durante a caminhada, não é fácil impedir a agulha de se mexer ou
de girar, e manter a direção correta. Para contornar essa dificuldade, seguramos um bastão
bem firme diante de nós, na mesma mão que a da bússola, e apontado no sentido da seta e
da aresta do instrumento, como mostra a fig.22. Quando nos aproximamos do objetivo,
encontrando o chalé, pode ocorrer que este somente seja visível no último momento, e se
ele se encontra em um bosque, em um pequeno vale, ou em um nevoeiro, ou na escuridão
reinante, corremos o risco de passar próximo dele sem o distinguir. Nesse caso, é útil medir
o caminho na carta, de acordo com a escala, e contar os nossos passos desde o ponto de
partida.

16
O comprimento médio de um passo é de 75cm. Para medir nosso próprio passo,
experimentaremos caminhar várias vezes por um percurso de 300m e, se fizemos
aproximadamente 400 passos, poderemos adotar a medida de 75cm. Em uma excursão,
basta somar todos os dois passos e fazer o cálculo na chegada com 1,5m. Este
procedimento, inevitavelmente demorado, é muito seguro e permite encontrar rapidamente
o número de metros percorridos: acrescentamos simplesmente a metade do número de
passos contados. Por exemplo, para 100 duplos passos temos 150 metros.

Para o inverso, isto é, para conhecer o número de passos contidos em um percurso em


metros, é necessário então dividir. Por exemplo, para percorrer 100 metros devemos fazer
100:1,5 = 66 passos. Contudo, é ainda mais simples empregar um método que nos dê
diretamente e com rapidez o número de metros ou de passos. Para isto, contamos todos os
passos, mas deixando de contar sempre o quarto passo, para calcular efetivamente os ¾ do
total. Para 400 passos, consideraremos 300, o que dá precisamente o número de metros. Por
exemplo, poderemos contar conforme o sistema subsequente, que é o mais conveniente (a
partir de trinta): ...um / dois / três / trinta / quatro / cinco / seis / trinta / sete / oito / nove /
trinta / quarenta / um / dois / quarenta / três... (cada traço representa uma passada larga).
Podemos ainda, em geral, localizar uma forma qualquer da paisagem como um riacho, um
caminho, um limite de floresta, etc., indicados no mapa. Fazemos, de cada vez, um novo
ponto de partida, de modo que contemos nossos passos em pequenas distâncias sucessivas,
sem registrar excessivamente grandes números [somando todos os resultados ao final do
percurso].

Como contornar um obstáculo?

Em todos os exemplos precedentes, temos suposto que a caminhada na direção do objetivo


se fazia sempre sem desvios. Mas podem ocorrer no caminho, frequentemente, uma floresta
muito densa, rochas, um pântano, etc., que constituem obstáculos intransponíveis. Nesses
casos, somos forçados a abandonar a direção correta para retomar uma vez que o obstáculo
for contornado. Eis aqui um exemplo:

Problema: Eu desejo me deslocar do ponto de parada A ao lugarejo B, como indica a fig.23.


Ao longo de minha caminhada por um trajeto desconhecido, um pântano surge como
obstáculo e necessito, portanto, abandonar a direção inicial. Como contornar este pântano e
alcançar o vilarejo, que além de tudo está escondido por uma vasta floresta?

Solução: Marcar os pontos A e B a lápis no mapa. No ponto A utilizar o problema nº 1 para


estabelecer o ângulo de direção com a linha de visada e a linha Norte-Sul, sendo o resultado
240º. Utilizando o problema nº 2, focamos em seguida um ponto sobre a linha de visada e
nos dirigimos ao trajeto.

Chegada em B: encontramos-nos diante do pântano que necessita de um desvio para a


esquerda. Podemos proceder agora de diversas formas. A fig.23 mostra o caso onde
operamos os movimentos de conversão para ângulos retos. Em B, a bússola que havíamos
mantido na direção de 240º é reconduzida a 90º (basta girar até ¼ do giro). Caminhamos
nesse caso com um ângulo de direção de 150º até C. Ao longo desta segunda caminhada
(B-C) é necessário contar o número de passos. Como em C, o pântano termina de se

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estender para a esquerda, operamos uma nova conversão ao ângulo reto e retomamos a
direção inicial, isto quer dizer com 240º, até D, onde o pântano termina. É inútil computar
nossos passos neste terceiro percurso. Em D, é necessário mudar ainda a direção de 90º e
caminhar com um ângulo de 330º computando o mesmo número de passos que no percurso
B-C. Atingimos desse modo, o ponto que se acha necessariamente sobre a linha inicial de
direção e não há mais o que buscar até chegarmos ao lugarejo.

Fig.23. Forma de contornar o obstáculo com a ajuda de um retângulo (ângulos de 90º)


e Figura 24. Forma de contornar o obstáculo com a ajuda de um trapézio (ângulos de
45º)

No lugar de um ângulo reto podemos, conforme o caso, utilizar 45º, como mostra a fig.24.
Em B, fizemos girar a bússola de 45º na direção da esquerda (o quadrante móvel, vira à
direita). Em D, fizemos a operação inversa. Alcançamos a linha inicial de direção em E, se
computamos o mesmo número de passos no percurso B-C e D-E. Com um obstáculo menos
importante, simplificamos na perpendicular em B de 60º somente à esquerda. Contamos
nossos passos e, chegando em C, ao invés de contornar o obstáculo, voltamos
imediatamente girando 60º à direita e computando o mesmo número de passos (ver fig.25).
Alcançamos assim o ponto D, que está sobre a linha inicial de direção, de tal modo que
descrevemos com as linhas B-C e C-D, um triângulo equilátero.

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Fig.25. Forma de contornar o obstáculo com a ajuda de um triângulo equilátero
(ângulos de 60º)

Na maior parte das bússolas aperfeiçoadas o quadrante está munido de marcas de


referência, nomeadas sinais de desvio. Elas se encontram à igual distância angular da marca
de declinação, à direita e à esquerda, e são, como esta última, representadas por um sinal
colorido. Certos instrumentos têm até quatro sinais estabelecidos de cada lado da marca de
declinação, a 45 e 90º (ver fig.26). Outros modelos têm marcas a 60º. Estes sinais permitem
escolher uma direção secundária a partir da inicial, sem que sejamos obrigados a controlar
ou mudar esta última no quadrante. Evidentemente que só poderemos desviar do número de
graus indicado pela marca.

Obtemos a direção temporária, para contornar um obstáculo, fazendo coincidir o ponto


Norte da agulha com a marca de referência de desvio no lugar daquela de declinação,
seguindo-se simplesmente nesse caso a linha de visada. Quando voltamos à direção inicial,
fazemos coincidir a agulha com o sinal oposto, e contamos um número de passos igual
àquele do primeiro percurso, como havíamos visto.

Fig.26. Quadrante munido de sinais de desvio

19
Se vamos planejar nossos passos, faremos bem em adotar um traçado conforme o
obstáculo. Ainda aconselhamos ao viajante a desenhar um rápido croqui do trajeto a seguir.
A fig. 27 mostra que até o ponto B, um pântano exige uma mudança de direção. A medida
do ângulo desta nova direção se faz com o auxílio do problema nº 3. Encontramos no nosso
caso um desvio de 162º em relação à linha Norte-Sul. Para o croqui, utilizamos uma folha
de papel “milimetrado”, da qual as linhas verticais representam a direção Norte-Sul. Como
ilustra a fig. 28, traçamos a linha principal A-B na mesma direção que aquela desenhada a
lápis no mapa. Em seguida, com a bússola, transferimos a linha de desvio B-C sobre o
croqui e indicamos a direção com uma seta.

Fig.27. Como contornar um obstáculo servindo-se de um croqui e Fig.28. Esquema do


percurso desenhado no papel milimetrado (redução)

Procedemos à estimação do comprimento do caminho B-C calculando o número de passos.


Para isso representamos 100 passos por um centímetro no croqui. Em C, o estado do
terreno permite caminhar paralelamente à direção inicial. A bússola indica novamente 240º
e é inútil contar os passos. Em D, o pântano termina e podemos sonhar em voltar à direção
inicial. Medimos de encontro, sobre o terreno, o novo ângulo de direção a ser utilizado para
a linha D-E e que se encontra a 281º. Transpomos esta direção para o croqui utilizando o
problema número 4. Não é mais necessário contar o número de passos, como havíamos
feito para o trajeto B-C. No nosso caso, o caminho B-C comporta 480 passos representados
por 4,8 centímetros no croqui. Logo, é inútil calcular o comprimento C-D, uma vez que ele
é paralelo à direção principal. Basta medir no croqui o comprimento D-E, que é de 7,4
centímetros. Temos, portanto, 740 passos a contar para alcançar de novo a direção
principal.

O croqui de orientação – Na ocasião de preparar um passeio na montanha ou esquiar


em uma região desprovida de caminhos

Os métodos indicados até aqui, que permitem alcançar o objetivo diretamente de acordo
com o mapa, dirigindo-se através dos campos, e contornar os obstáculos tomando as
direções secundárias, são na maior parte das vezes de nenhuma utilidade nas montanhas. Aí

20
o relevo e as rochas abruptas impedem o turista e o esquiador de visar diretamente o ponto
na direção da qual eles vêm, pois eles devem fazer cálculos a cada mudança na
configuração do solo e se esforçar para seguir a direção que conduz ao objetivo pela via
mais praticável. Caso possamos avançar com o mapa e conferir sem problema os lugares,
confrontando as indicações e os sinais do mapa com as formas e a cobertura do terreno,
passaremos facilmente sem a bússola.

Como tínhamos dito no começo desta obra, fica bem entendido que o viajante está
minimamente familiarizado com a leitura do mapa e que já praticou o uso do mesmo. Ele
não deve somente conhecer o significado dos sinais convencionais dos quais o autor do
mapa utiliza para representar os detalhes do terreno, mas também ser capaz de fazer uma
ideia exata da natureza dos lugares representados pelas curvas de nível e pelas hachuras.
Isso não é, aliás, fácil, pois no mapa o terreno é representado de cima e sempre na mesma
escala, ao passo que nós observamos a paisagem de lado e com encurtamentos da
perspectiva. Pequenas elevações muito próximas podem ocultar a visão de uma imensa
parte do terreno ao ponto de não mais percebermos o cume de importantes montanhas.
Pode ocorrer de o viajante ainda não familiarizado com o uso do mapa, consultando-o,
procure estes cumes nas imediações, embora eles estejam muito afastados. Mesmo simples
colinas próximas, vistas de baixo, dando a impressão de altas montanhas, as representamos
no mapa como elas são na realidade, isto quer dizer, na sua verdadeira altura.

Além dessas dificuldades, o viajante na montanha deve considerar o nevoeiro, as tormentas


de neve ou a escuridão súbita que algumas vezes cobre completamente a vista e impede a
locomoção na direção do objetivo, contando somente com a ajuda do mapa. Para evitar esse
perigo é bom que o viajante faça um croqui de orientação de acordo com o mapa antes de
empreender seu passeio. Esse croqui lhe permitirá alcançar seguramente o objetivo a que
ele se propôs, apesar das piores dificuldades.

Fig.29. Dividimos o itinerário em certo número de etapas e Fig.30. O croqui de


orientação menciona todas as medidas e particularidades relevantes segundo o mapa

21
Graças a esse planejamento prévio, ele poderá, em outra ocasião, comparar a paisagem real
com a imagem do croqui feita inicialmente em gabinete, de acordo com os princípios da
leitura de mapas e adquirir cada vez mais o senso da configuração do terreno.

Problema: Eu planejo um passeio por uma região que me é desconhecida. Como o terreno é
escarpado ou recoberto de neve eu corro o risco, apesar do mapa e da bússola, de ficar
desorientado no caso do nevoeiro ou da tempestade de neve incomodarem a visão. O que é
necessário fazer para chegar ao objetivo?

Solução: Antes de se colocar no percurso, convém estudar o mapa com atenção e traçar o
itinerário a partir do lugar onde os caminhos terminam. Estabelecemos o itinerário de forma
a passar pelos pontos facilmente identificáveis e que permitam verificar se vamos na
direção correta. Ligamos estes pontos de referência no mapa por meio de traços a lápis,
como mostra a fig. 29. Depois, medimos e contamos o ângulo de direção de cada uma
dessas etapas com a ajuda da bússola ou do transferidor conforme os dados do problema nº
1. Medimos em outro local seus respectivos comprimentos em metros, de acordo com a
escala do mapa. Reduzimos esse total em passos para cada etapa e se, por exemplo,
contamos 75cm para um passo, dividimos o número de metros por 0,75 ou o multiplicamos
por 1,33.

Depois, determinamos a altitude acima do nível do mar de cada um dos pontos de


referência, isto se faz facilmente utilizando da carta de curvas de nível. No Atlas Sigfried,
por exemplo, onde a região dos Alpes está na escala 1:50.000 cada uma das curvas marca
uma distância de 30m. Por consequência o terreno apresenta, entre uma curva a outra, uma
diferença de 30m. Portanto, tivemos apenas que contar as curvas que, no mapa, cortam os
traços do itinerário traçado e as multiplicar por 30 para obter a diferença de nível existente
entre cada ponto.

Isto feito, deve-se transpor o itinerário traçado a lápis sobre o mapa, em uma escala maior,
para o papel quadriculado, que empregamos de forma que as linhas vão do alto à base,
representando a direção Norte-Sul do croqui. A escala que empregamos para o croqui não
deve ser muito pequena para que tenhamos bastante espaço para anotar todas as indicações
úteis durante o trajeto. Se adotamos a escala de 1:50.000, estabelecemos o croqui a um
aumento linear de pelo menos o dobro. Como mostra a fig. 30, cada etapa do itinerário
carregará a menção de seu ângulo de direção e aquela de seu comprimento em metros e em
passos. É igualmente satisfatório marcar sobre o croqui as irregularidades características do
terreno, tais como rochas, cimeiras, aquelas que, provavelmente, encontraremos durante o
trajeto.

22
Fig.31. Em três pessoas, podemos suprir a ausência de medidas caminhando todos
sucessivamente na direção desejada

No percurso, não é necessário contar os passos enquanto a visão não for obstruída. No
ponto 1 colocamos a bússola, conforme os dados do problema nº 1, na posição de 79º e
giramos até que a agulha magnetizada se localize sobre a marca de declinação. O ponto 2,
do qual vemos onde estão os pontos de referência da paisagem, se acha na direção da seta e
da aresta. Se este não é o caso, marcamos os pontos intermediários situados na direção do
ponto 2 e que procuramos alcançar pela via mais fácil até que tivéssemos cumprido a
primeira etapa. Chegado ao ponto 2, colocamos a bússola na nova direção que, segundo
nosso croqui, está a 44º, e nos dirigimos da mesma forma, na direção do ponto 3.

Nos lugares onde a paisagem não oferece pontos de referência, é necessário manter maior
rigor ao controlar a direção da bússola. Sendo ao menos três pessoas, podemos nos ajudar
mutuamente fazendo nós mesmos os pontos de referência. Os três viajantes colocam-se
como mostra a fig. 31. O viajante nº 3 se acha no ponto de parada e os dois outros viajantes,
números 1 e 2, avançam o máximo possível na direção inicial, dirigindo-se para o viajante
nº 3 com a ajuda da bússola. A continuação do trajeto desta primeira etapa se faz sem a
ajuda da bússola. Como mostra a fig. 31b, o nº 1 continua a caminhada, mas, para manter a
direção, deve se deixar conduzir pela orientação do viajante nº 3, que orienta
principalmente o viajante nº 2. Ele se afasta o máximo possível, até o ponto em que ainda
possa escutar as orientações dos outros e enxergá-los. Depois o viajante nº 3 segue na
direção do viajante nº 2, como vimos em C, e o viajante nº 2 caminha na direção do
viajante nº 1, como em D, de tal modo que os três viajantes se encontram novamente na
posição inicial. O viajante nº 1 pode, nesse caso, continuar sua caminhada em frente.

Esta forma de avançar pelo terreno pode ser executada também à noite ou em um nevoeiro
muito denso, exigindo dos viajantes apenas uma lâmpada de bolso, sendo necessário contar
os passos. No entanto, se não chegarmos ao local procurado, que foi previamente
assinalado no croqui, convém procurá-lo para nos assegurarmos de não nos afastarmos do
caminho a ser seguido posteriormente. Aqueles que planejam cuidadosamente grandes
caminhadas em montanha estabelecendo um croqui de orientação deste gênero, não correm
o risca de se perder, mesmo nas circunstâncias mais difíceis experimentarão uma
verdadeira satisfação.

23
Se não conhecemos o ponto de parada, podemos encontrá-lo com a ajuda do mapa e
da bússola?

Em todos os casos precedentes, o ponto de parada era supostamente conhecido. Contudo,


pode acontecer de não reencontrarmos exatamente no mapa o lugar onde estamos. Podemos
ter perdido a direção atravessando um bosque ou estar seguindo um caminho errado, logo,
estamos perdidos. Nesse caso é impossível se orientar na direção do objetivo com o mapa e
a bússola, pois é necessário, antes de tudo, encontrar novamente o ponto de parada no
mapa.

Através do nevoeiro espesso ou em uma noite sombria, com todos os pontos de referência
ausentes, só resta esperar até o amanhecer para se ter a visão das coisas. Desde que
percebamos os arredores imediatos, sem poder contar com os pontos de referência mais
distantes, podemos nos locomover pelas regiões montanhosas comparando as formas do
terreno com o traçado das curvas de nível do mapa. A inclinação do solo na direção de um
vale ou na direção de duas vertentes podendo, em todo caso, servir de indício para aí nos
orientarmos. Quando a configuração do terreno permitir ou o tempo estiver aberto por
extenso período, poderemos determinar o ponto de parada com a ajuda do mapa e da
bússola, que permitem assinalar alguns pontos de referência. Assim, no campo é muito
menos complicado controlar a bússola, sem que seja necessário parar a todo momento e
verificar no mapa um ponto de parada desconhecido ou incerto. A descoberta do ponto de
parada supõe:

OU que um ponto de referência conhecido é visível na paisagem e se acha indicado no


mapa. Cume, cobertura do solo característica, assim como uma linha da paisagem, tal como
um caminho, um curso d’água, uma estrada de ferro, borda de floresta, etc., podemos
observar nos arredores e que estiver assinalado no mapa.

OU que temos em vista ao menos dois pontos de referência conhecidos, dos quais a
localização pode ser dada no mapa e que, do ponto de parada, se apresenta de tal forma que
as linhas de direção formam, na medida do possível, um ângulo reto. Nesse caso, não é
necessário ter nos arredores uma linha da paisagem para se orientar.

Determinação do ponto de parada de acordo com um ponto de referência distante e


uma linha da paisagem próxima

Problema: Eu me perdi em uma excursão e não encontro mais no mapa o lugar onde estou,
mas vejo no horizonte um pico que me é conhecido e que figura no mapa. Conheço ainda o
rio à margem do qual me encontro e que também aparece no mapa. Como encontrarei o
ponto de parada com a ajuda destas referências?

24
Fig.32. Determinação do ponto de parada no mapa com a ajuda de uma linha de
direção e uma linha da paisagem

Solução: Antes de tudo, procuramos no problema nº 3 o ângulo de orientação formado pela


direção Norte-Sul e aquele do cume conhecido. Observamos o pico e fazemos girar o
quadrante até que a agulha magnetizada se encontre sobre a marca de declinação (fig.32).
Depois, colocamos, segundo os dados do problema 4, a bússola sobre o mapa, a direção
Norte-Sul da rosa-dos-ventos correspondendo à direção Norte-Sul do mapa, de forma que a
aresta repouse sobre o pico observado e que figura no mapa. É necessário, nesse caso,
procurar o ponto de parada sobre a aresta ou em seu prolongamento. Este não segue na
direção indicada pelaa seta, mas na direção oposta. Podemos marcar esta direção com uma
linha fina, traçada a lápis ao longo da aresta.

Isso feito, só resta assinalar o ponto no qual se localiza o ponto de parada ao longo desta
linha, o que, nesse caso, não é difícil, uma vez que o viajante está à margem de um rio
representado no mapa. Este ponto pode estar na vizinhança do lugar onde a linha de direção
corta o rio. No lugar de um rio podemos ter como referência outra linha natural ou artificial
da paisagem, tal como uma rota, caminho, estrada de ferro, borda de floresta, crista de
montanha, desde que ela apareça no mapa. Para a determinação precisa do ponto de parada
é importante que estas linhas sejam o tanto quanto possível perpendiculares à linha de
direção e formem um ângulo reto com ela. Se elas formam um ângulo agudo, o resultado é
naturalmente muito menos preciso, e se as duas linhas são paralelas, não é possível nesse
caso encontrar o ponto de parada, uma vez que é necessário obter uma intersecção.

Nas regiões montanhosas, as curvas de nível do mapa podem dar lugar a linhas da
paisagem, desde que possa ser medida, com a ajuda de um altímetro, a cota de altitude do
lugar onde estamos. Nesse caso, o viajante pode se localizar, por exemplo, se, mesmo
perdido, estiver acima de um vasto nevoeiro de onde verá emergir um pico que lhe é

25
conhecido. Ele deve medir primeiro com a bússola o ângulo de direção deste pico. Depois
ele coloca a bússola sobre o mapa, como descrevemos para o caso precedente, de forma que
a direção Norte-Sul da rosa-dos-ventos esteja paralela ao Norte-Sul do mapa e que a aresta
repouse sobre o pico indicado no mapa. Depois ele traça uma linha à lápis ao longo da
aresta, que ele prolonga além do sentido contrário daquele indicado para a seta, até que o
lugar do mapa onde ele supõe estar (ver fig.33).

Fig.33. Determinação do ponto de parada com a ajuda de uma linha de direção e das
curvas de nível

Consultando agora o altímetro e supondo que ele marque uma altitude de 2.490m. O
viajante somente poderá se achar em um ponto de uma das curvas de nível tendo então esta
classificação e, além disso, onde a linha de direção traçada com o lápis corta esta curva.
Como mostra a fig. 33, pode haver 4 destes pontos. Os pontos 1 e 2 não entram na linha de
cálculo, porque eles estão situados sobre os flancos da montanha da qual temos evidente o
topo. O ponto 4 recai também, porque de lá não percebemos o cume em questão. Ele não
pode, portanto tratar do ponto 3. Caso, neste método de pesquisa do ponto de parada, o
viajante considerar o grau de inclinação da encosta sobre a qual ele está e comparar com
aquela do ponto da paisagem observada, e se, além disso, ele avaliar a distância que o
separa deste ponto no terreno e no mapa, ele certamente encontrará o ponto de intersecção.

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Fig.34

Para que o altímetro indique exatamente o nível de um lugar acima do mar, é necessário
calcular, antes de partir, as variações locais da pressão atmosférica, ajustando o quadrante
exterior móvel do instrumento de modo que a cota de altitude do ponto de partida se
inscreva debaixo da agulha. Se, por exemplo, na manhã de partida nos encontramos em
Bulle (França), será necessário, para ajustar o aparelho, fazer girar o quadrante
considerando o cálculo da altitude deste lugar, à saber 769m, de forma que a agulha venha a
se colocar entre 750 e 770m.

Determinação do ponto de parada com pelo menos duas referências conhecidas

Problema: Eu devo encontrar o lugar onde estou. Eu vejo na paisagem dois pontos de
referência situados em direções diferentes, um cume de montanha e um desfiladeiro, os
dois estão mencionados na carta. Como proceder?

Solução: Segundo o problema nº 3 é necessário primeiro medir o ângulo de direção visando


um dos dois pontos, o cume. Depois transpor essa direção para o mapa, colocando
conforme o problema nº 4, a aresta da bússola sobre o ponto de referência visado e traçando
uma linha a lápis no sentido oposto daquele indicado pela seta. Visamos em seguida o
segundo ponto, o desfiladeiro, transpomos essa direção para o mapa, colocando desta vez a
aresta da bússola sobre o desfiladeiro e traçando uma segunda linha a lápis no sentido
oposto àquele da seta. O ponto de parada se achará no lugar onde as duas linhas a lápis se
cruzam, como mostra a fig. 34. Apelamos a este procedimento de mensuração “verificando
para trás” porque as duas linhas de direção tiradas dos dois pontos de referência se cruzam
na parte anterior ao ponto de parada. A precisão desta determinação depende de diversas
condições. É necessário às vezes que os pontos de referência da paisagem sejam claramente
conhecidos. No nosso caso é necessário visar o cume principal e então colocar no mapa a

27
aresta da bússola. Mas visto do ponto de parada, o cume principal pode parecer, para efeito
de perspectiva, menos alto do que outro cume mais próximo. Em seguida, é necessário
considerar que a estimativa do ponto de parada será sempre menos precisa quanto mais
agudo for o ângulo do cume onde se cruzam as duas linhas de direção, isto que se explica
facilmente quando olhamos a fig. 34. Enfim, o resultado depende ainda da precisão com a
qual temos focado o ponto de referência e conduzido a agulha magnetizada sobre o ângulo
de declinação. É porque em todos os casos onde a precisão se impõe, será melhor apoiar a
bússola enquanto medimos, pois se a temos nas mãos, os movimentos do corpo impedem
de focarmos com exatidão e a agulha nunca está completamente em repouso.

Fig.35. Determinação do ponto de parada com a ajuda de três referências na paisagem

Obtemos maior precisão ainda, quando podemos utilizar um terceiro ponto de referência
conhecido. É isto o que mostra a fig. 35, segundo a qual o viajante perdido tem visado três
pontos da paisagem, a saber: um cume de montanha, uma cabana e uma igreja. O ponto de
parada se encontra lá onde três linhas de direção traçadas na carta se encontram
[intersecção]. No geral este encontro não forma um ponto, mas um triângulo de tamanho
razoável, provando que, mesmo inserindo suas medidas com atenção, não evitamos
pequenas variações. O ponto de parada está, portanto situado dentro deste triângulo ou
muito próximo dele. Comparando o ponto que viemos determinar no mapa com o lugar
onde o encontramos na realidade, reconheceremos a identidade dos lugares em qualquer
ocasião. Poderemos, portanto, nos basear sobre alguns indícios característicos da paisagem,
chegando a uma determinação bastante precisa.

Como encontrar no mapa os pontos desconhecidos da paisagem?

Nós já indicamos anteriormente um método para determinar os pontos desconhecidos da


paisagem, como cumes, cristas, etc., que observamos durante um trajeto. Mas de acordo
esses, poderemos encontrar a direção do ponto de referência em relação ao ponto de parada

28
e avaliar sua distância aproximada apenas com um golpe de vista. Existe ainda um
procedimento para determinar a situação deste ponto no mapa. Trata-se desta vez do
“verificando adiante”, procedimento contrário ao “verificando para trás”, do qual falamos
no capítulo precedente e consistindo em medir dois pontos de parada na direção do ponto
desconhecido na paisagem. Os dois pontos de parada devem ser conhecidos na carta.

Problema: no percurso de uma excursão em montanha eu percebo um cume que me é


desconhecido, do qual eu quero encontrar a posição no mapa e saber o nome.

Solução: da cabana de onde o viajante se coloca em curso de manhã, ele escolherá o ângulo
de direção do cume em questão, conforme os dados do problema nº 3 e, conforme aqueles
do nº 4, ele o transferirá para o mapa. Ver a fig. 36 em A. Esta operação consiste, como
temos dito muitas vezes, em fazer coincidir a direção Norte-Sul da rosa-dos-ventos da
bússola com a direção Norte-Sul do mapa, depois em colocar a aresta no ponto de parada
sobre o mapa e traçar uma linha a lápis na direção indicada pela seta. Podemos então
colocar no bolso o mapa e a bússola e partir.

Fig.36. Descoberta de um ponto desconhecido da paisagem por meio do “verificando


adiante”

Depois de ter percorrido certa distância, que medimos, visamos novamente e da mesma
forma o cume, do ponto de parada B, de onde obteremos um outro ângulo de direção. O
transferiremos ainda para o mapa de acordo com o problema nº 4. O ponto B é conhecido
no mapa, pois ele está situado no limite de uma floresta que já está indicada. A segunda
linha traçada a lápis a partir deste ponto cortará a primeira no lugar onde, no mapa, está
marcado o cume procurado, na condição de que a medida seja feita com bastante exatidão e
que a distância que separa os dois pontos de parada não seja demasiado pequena em relação
ao afastamento do cume. A medida será tanto mais precisa quanto as duas linhas de direção
tendam a formar um ângulo reto.

29
Um “panorama” para facilitar a localização

O viajante que chega a um mirante gosta de conhecer e nomear os cumes que se levantam
em torno dele. Se ele não for muito apressado e se o tempo permitir desdobrar o mapa e se
orientar seguindo os pontos cardeais, ele não tardará em se orientar, mesmo neste caos, com
a condição de saber ler o mapa, comparar as direções e avaliar as alturas e as distâncias.
Mas frequentemente a violência do vento, a chuva ou o frio impedem o viajante de
permanecer longo tempo sobre o cume e de se entregar a um estudo aprofundado do mapa.
Nesse caso, para se orientar rapidamente, apesar de tudo, nós o aconselhamos a levantar em
gabinete, antes de sua excursão, um “panorama”, que servirá para determinar, com a ajuda
do mapa, os cumes em vista.

Fig.37. Como estabelecemos, em gabinete, um “panorama” de acordo com o mapa

Procedemos então como segue: estendemos sobre o mapa um papel decalque e pregamos
um alfinete no lugar onde se encontra o ponto de visada à espera (fig.37). Colocamos uma
régua contra o alfinete e traçamos uma linha a lápis na direção do Norte, por conseqüência,
paralela aos dois lados do mapa.

Fig.38.

30
Depois traçamos, sempre a partir do alfinete, uma linha se dirigindo na direção de cada um
dos cumes a determinar e anotamos depois o ponto de visada. Com o mapa podemos
facilmente saber quais cumes serão visíveis se consideramos a altitude do ponto de visada,
aquela do cume que desejamos ver e aquela de todas as alturas que se levantam diante
deles. Como no meio da fig. 38, nenhuma destas altitudes pode ser bastante elevada para
esconder o cume que procuramos conhecer. Supondo que nosso ponto de visada (1) esteja à
1000m de altitude, o cume a procurar (3) à 3000m e a altura mais aproximada (2) à 2000m.
Admitimos ainda que as distâncias entre 1 e 2 e entre 2 e 3 sejam iguais. Nesse caso, o
cume 3 não será visível do ponto 1 pois ele estará escondido pela altitude 2. Esta se levanta
diante dos olhos do observador que está sobre 1, tanto mais que a distância entre 1 e 2 é
menor. Se o turista se encontrar sobre o cume 3, as mesmas considerações entrarão na linha
de cálculo no momento em que ele desejar olhar o pequeno cume 1.

Fig.39. Sobre cada linha, inscrevemos o nome da montanha, sua altura, sua distância
do ponto de parada e seu ângulo medido com o transferidor

Voltamos ao nosso papel decalque, sobre o qual traçamos as direções respectivas dos
cumes a determinar. Paralelamente a cada linha, assinalamos como mostra a fig. 39, o nome
da montanha, a sua altitude e seu afastamento de acordo com os dados do mapa. Depois
medimos, com a ajuda do transferidor, o ângulo de direção de cada linha e assinalamos o
número de graus. Na falta do transferidor podemos ainda utilizar a rosa-dos-ventos da
bússola, ainda que por este meio a medida do ângulo será sempre menos precisa. Chegando
ao cume podemos sem dificuldade determinar o nome das montanhas que avistamos sem
precisar fazer as pesquisas no mapa. Tomamos simplesmente esta com a bússola, fazemos
girar o instrumento de forma que o índice de referência se detenha sobre o algarismo,
indicando o número de graus do cume procurado e visamos nesta direção, de acordo com o
problema nº 2. O cume se achará na linha de visão obtida a partir deste procedimento.

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Estabelecimento de um croqui

O turista pode ser levado a fazer o esboço de uma pequena superfície do terreno, quer para
marcar a situação de certos pontos não indicados no mapa, quer para ter mais facilidade de
se encontrar na região quando ele aí retornar, quer enfim para comparar em gabinete o
croqui de acordo com a realidade, com o mapa que lhe faltou durante a excursão.

Se o observador se encontra sobre um ponto elevado, será fácil desenhar em um papel, sem
outros meios, as particularidades do terreno que se encontram a sua vista. Mas certos
pontos que ele desejará fazer figurar no esboço estarão talvez mais distantes do que ele
pensa, nesse caso não poderá exigir muita exatidão, sendo dada a estimativa aproximada
das direções e das distâncias.

A principal dificuldade virá do fato de que os pontos levantados no croqui devem ser
representados como vistos em linha reta, a uma distância onde a perspectiva não interfira,
ao passo que na realidade a paisagem se vê de lado, de um ponto de onde as menores
elevações do terreno podem esconder grandes espaços, de onde muitas vezes é impossível
fazer a avaliação das importâncias e das distâncias por intermédio da simples observação,
por efeito da perspectiva. Mas, se o viajante dispõe de uma bússola, ele poderá estabelecer
no seu croqui a situação dos pontos que o interessam, isso com muito mais precisão, como
mostram os dois exemplos seguintes:

Problema: Eu desejo assinalar no croqui o lugar onde eu acampo e também alguns pontos
de referência circundantes. De onde estou vejo em minha frente, sobre a outra vertente, um
chalé, mais à direita no fundo um cume, ainda mais à direita uma colina arborizada com um
relevo rochoso e, no fundo do vale um pequeno lago. Como proceder para estabelecer
exatamente estes pontos no meu croqui?

Solução 1: Traçamos a lápis no papel uma linha vertical que dará a direção Norte-Sul do
croqui. Marcamos aí, não importa onde, um ponto que figurará no lugar onde nos
encontramos na região examinada. Com a ajuda do problema nº 3, determinamos o ângulo
de direção do primeiro dos quatro pontos da paisagem, o chalé, depois colocamos a bússola
sobre o papel de forma que a direção Norte-Sul da rosa-dos-ventos coincida com a linha
traçada a lápis tomada como direção N-S e que a aresta da bússola permaneça sobre o ponto
de parada inscrito sobre esta linha. Neste momento a seta indica sobre o croqui a direção do
chalé, que marcaremos com uma linha a lápis traçada ao longo da aresta da bússola.
Determinamos da mesma forma as direções dos outros três pontos da paisagem, traçando as
linhas de direção no croqui. É necessário certificar-se de que elas partam todas do ponto
que adotamos como parada.

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Fig.40. Estabelecimento do croqui de acordo com a realidade e Fig.41. O croqui da
paisagem obtido pelo método do “verificando adiante”

Uma vez essas direções bem estabelecidas, procuramos conhecer o afastamento dos pontos
da paisagem vistos, a fim de poder marcá-los no papel. Como não podemos determiná-los
com exatidão, nos contentamos com uma avaliação. O único método possível nesse caso é
aquele do “salto do polegar”, uma vez que conhecemos mais ou menos as dimensões dos
objetos da paisagem em questão, como por exemplo, o comprimento do lago. Essas
distâncias, uma vez avaliadas, as transcrevemos sobre as linhas de direção traçadas, em
uma escala qualquer, e podemos então desenhar os objetos da paisagem no croqui na sua
verdadeira situação geográfica, como mostra a fig. 40.

Solução 2: O método dito do “verificando adiante” dá os resultados ainda mais precisos na


determinação da situação dos pontos da paisagem, porque visamos cada uma das duas
estações diferentes e elas se encontram assim na intersecção de duas linhas de direção. É
aquele procedimento que emprega a geometria que não se utiliza da bússola, mas do
teodolito, instrumento a visar permitindo medir os ângulos de direção com uma precisão
sem igual. O viajante somente adotará este método quando dispuser de bastante tempo, e
ele lhe será indispensável para conhecer exatamente a situação dos lugares, para transpor
para seu croqui.

Como mostra a fig. 41, medimos do ponto de parada A as direções dos quatro pontos da
paisagem da mesma forma que na solução 1, com a ajuda dos dados do problema 3, e os
transferimos para o papel com a ajuda do problema 4. Sobre isso, deixamos o ponto A para
procurar outro ponto de parada B, de onde os quatro pontos são igualmente visíveis. A nova
parada deve estar distante de A de tal forma que os ângulos de visão que se formem lá
sejam completamente diferentes daqueles formados no ponto A. A distância A-B deve ser
conhecida por intermédio do mapa ou pelo cálculo do número de passos. Antes de deixar

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A, visamos a direção no sentido de B e a indicamos no croqui com uma linha. Chegando
em B inscrevemos o comprimento deste percurso sobre esta linha, na escala que teremos
adotado. O ponto B assim determinado colocamos uma seta indicando a direção Norte-Sul.
Deste lugar, medimos com a bússola os quatro pontos da paisagem e, depois de cada
medida, transpomos o ângulo de direção obtido por uma linha traçada no papel. Podemos
então estabelecer a situação exata dos objetos da paisagem nos lugares do croqui onde as
linhas de direção, se cruzam partindo de A e de B na direção de cada um deles. Convém
repetir o que tínhamos assinalado antes: que esta situação será determinada com maior
precisão se os ângulos das linhas de direção formarem no ponto de intersecção um ângulo
aproximando-se o máximo possível do reto (90º).

Croquis do itinerário – desenhado de acordo com a paisagem

Já explicamos como o viajante pode alcançar seu objetivo estabelecendo, antes de partir,
um croqui de orientação em uma região montanhosa, desprovida de caminhos e de
indicações. Mas para ele poder chegar, deve passar por lugares onde ele não tinha planejado
seguir ou ainda que a natureza dos lugares o force a chegar ao objetivo por um itinerário
diferente daquele previsto inicialmente. Para poder verificar a todo instante o ponto de
parada e ser capaz de seguir, além de medir mais tarde o caminho percorrido no mapa, o
viajante fará bem em estabelecer no percurso um croqui do itinerário.

Fig.42. Traçamos o itinerário no croqui, compreendendo várias etapas e Fig.43. O


croqui do itinerário desenhado no papel quadriculado

Problema: Chegando perto do lago da montanha A (Fig.42), constato que será mais fácil
alcançar o cume E por outro itinerário do que aquele que eu tinha planejado. Para não me
perder, já que eu não verei sempre o lago nem o cume, corrigirei o traçado no croqui até
que eu saiba chegar ao objetivo. Como me oriento nesta situação?

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Solução: Para estabelecer este traçado nos serviremos de preferência de uma folha de papel
milimetrado na qual colocaremos as linhas verticais na direção Norte-Sul. Do ponto de
parada A visamos o primeiro ponto a alcançar B, isto com a ajuda da bússola e dos dados
do problema nº 3. Colocamos no papel, não importa onde, o ponto de parada A e ali
reportamos a direção medida de acordo com o problema 4 no meio de um traço a lápis a
partir do ponto A, como indica a fig. 43. Depois fazemos o primeiro percurso A-B
calculando o número de passos e transferimos para o papel esta distância, representando,
por exemplo, 1 cm por 200 passos. No ponto B a direção muda; medimos então o novo
ponto a alcançar, com a ajuda da bússola, e transferimos esta distância para o croqui, depois
nos colocamos a caminho do ponto C contando de novo o número de passos. Como mostra
a fig., alcançaremos o objetivo, ou seja, o cume, percorrendo 4 etapas. Na continuação
poderemos transpor o traçado para o mapa, tendo o cálculo da escala. Ele será muito útil no
dia em que empreendermos uma nova excursão a este cume.

Avaliação das distâncias

Já foi dito em outra ocasião que, para conhecer as pequenas distâncias, na intenção de
resolver não importa qual problema, basta percorrê-las a pé contando 1,5m para um passo
dobrado. Para as grandes distâncias haveremos de recorrer ao mapa, na condição de que a
situação dos pontos dos quais a distância deve ser determinada, está assinalada no mapa. Se
este não é o caso, poderemos alcançá-lo para a avaliação. Mas aquele que não é experiente
sobre isso pode frequentemente cometer graves erros, sobretudo quando o terreno que está
situado diante do objeto do qual vamos avaliar a distância, está escondido. Uma montanha
que se propõe alcançar parece sempre mais próxima quando um montículo se levanta não
deixando ver o cume. Uma vez chegado sobre esta elevação abarcaremos com um golpe de
vista o terreno situado entre os dois e poderemos então medir verdadeiramente a distância.

O “salto do polegar”

Existe, para verificar as distâncias, um método que pode fornecer grandes serviços, é o
“salto do polegar” do qual reteremos facilmente o princípio. Ele é indispensável para
conhecer as dimensões (altura e largura) do objeto da paisagem do qual procuramos a
distância ou ao menos de poder as avaliar aproximadamente.

O salto do polegar repousa sobre a seguinte consideração: a distância que separa os dois
olhos de um homem adulto é de 65mm e a distância dos olhos até o polegar, com o braço
elevado e estendido em frente é ordinariamente de 650mm, portanto 10 vezes maior do que
o espaço entre os olhos. O salto do polegar consiste em visar com o olho direito, o esquerdo
estando fechado, e com o polegar levantado em frente, um ponto da paisagem que esteja
situado na região da qual vamos determinar o afastamento. Isto feito, fechamos o olho
direito e o miramos com o esquerdo sem mudar a posição do polegar. Constataremos então
que o polegar não se acha mais sobre o ponto visado, mas fez um “salto” à direita e cobre
agora um outro ponto. Com um pouco de prática, poderemos muito bem deixar os dois
olhos abertos de tal modo que veremos, quando o olhar se dirigir na direção do fundo, dois
polegares diante de dois pontos diferentes da paisagem. E, como o polegar se desloca, no
fundo, o décimo da distância que nos separa do ponto visado, basta avaliar a distância entre
os dois pontos escondidos pelo polegar e multiplicá-la por dez para ter aquela que

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procuramos. A fig. 44 nos dá um exemplo disso. Trata-se de determinar o afastamento da
casa. Enquanto miramos, o polegar faz um desvio ativo do ângulo esquerdo da casa até a
árvore, na direção da direita. Podemos avaliar a distância da largura da casa em 12m e a
distância entre aquela e a árvore parece ser igual, totalizando 24m. Já que a distância a
determinar é 10 vezes maior, ela será, portanto de 240m.

Fig.44. Avaliação das distâncias com a ajuda do “salto do polegar”

O bastão milimetrado

Podemos fabricar pessoalmente sem dificuldade este bastão. Utilizamos-nos de um


pequeno bastão milimetrado que temos a 50cm diante dos olhos e com o qual medimos o
objeto do terreno do qual vamos avaliar o afastamento. Mas ainda é necessário conhecer a
largura e a altura do referido objeto.

Fig.45. Verificação das distâncias com a ajuda do bastão milimetrado

Podemos fabricar pessoalmente sem dificuldade este bastão. Escolhido um de 10cm de


altura e um círculo de papel branco, no qual marcamos à tinta de nanquim as divisões em
milímetros. Para manter sempre a distância de 50cm ele deve ocupar a mesma medida

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diante dos olhos, aí amarramos um barbante fino deste comprimento, o qual temos a
extremidade livre perto do olho com a mão esquerda, enquanto com a direita estendemos o
bastão na direção do ponto em questão. Mirando, é suficiente colocar a extremidade do
bastão contra um dos lados do objeto e deslocar o ângulo do polegar sobre a divisão
milimetrada para obter sua largura ou sua altura. Depois, colocamos o bastão no sentido
horizontal ou vertical. Teremos em seguida seu distanciamento em quilômetros fazendo o
cálculo seguinte:

Distância em quilômetros = altura ou largura do objeto


milímetros x 2

Exemplo: estimamos em 10m a altura de uma cabana da qual vamos avaliar a distância.
Igual a mira, o polegar indica 15mm sobre o bastão. Portanto:

a distância = 10 = 0,33 km ou 330m


15x2

Podemos ainda simplificar este cálculo dobrando o número de milímetros inscritos no


bastão, de tal modo que cada centímetro corresponde a 20 traços. Para calcular a distância
não há nada mais a fazer do que dividir as dimensões do objeto pelo número de traços
medidos pelo polegar.

A orientação sem bússola de acordo com o céu

É chegado o momento do viajante se orientar no terreno sem a bússola. Para se orientar de


acordo com o céu existem muitas formas, mas este método de orientação somente deverá
ser usado em caso de necessidade, pois ele jamais dará os resultados seguros e também
precisos da bússola.

A orientação de acordo com o Sol

É o método mais frequentemente empregado. Para isso, é necessário possuir um bom


relógio. Todos sabem que o Sol faz ao redor da Terra um curso aparente de 24 horas. A
metade deste trajeto circular se opera de dia acima do horizonte e é visível por nós,
enquanto que a outra metade se faz de noite abaixo do horizonte.

Como mostra a fig.46, o sol se encontra às 6 horas da manhã à Leste, ainda abaixo do
horizonte no inverno e já acima no verão. Ao meio-dia está no zênite, quer dizer na vertical
acima do ponto Sul do horizonte. Às 18 horas está à Oeste e sabemos que de outubro a
março ele já tem desaparecido antes desta hora. Se esse movimento aparente do Sol se
completa em 24 horas, o relógio faz o caminho do quadrante das horas em 12 horas, das
quais duas vezes mais rápido que o astro. Tendo o cálculo deste movimento mais rápido
poderemos utilizar o relógio como bússola. Por isso, teremos o relógio diante de nós de
forma que o ponteiro das horas esteja dirigido na direção do Sol. O ponto Sul da paisagem
se encontrará então entre o número 12 do quadrante e o ponteiro das horas. As fig. 47 e 48
dão 2 exemplos. Podemos facilitar a marcação do ângulo tendo um alfinete ou um fósforo

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[na] vertical contra a borda do relógio, diante o ponteiro das horas. Este mostra exatamente
onde está o Sol quando a sombra projetada coincide com ele.

Fig.46. A superfície sombreada representa o plano do horizonte, e o grande círculo o


percurso do Sol. Às 6 horas o Sol está à Leste, ao meio-dia no Sul, às dezoito horas à
Oeste. Se temos o relógio de forma que o ponteiro das horas esteja dirigido na direção
do Sol, o Sul se achará sempre entre o número 12 e este ponteiro.

A exatidão desta determinação deixa, entretanto a desejar, e isso por duas razões. O Sol,
contudo, não executa seu percurso aparente no céu com uma perfeita regularidade e
descreve seu arco de círculo diurno, mais rápido ou mais lentamente, conforme a estação. O
Sol e o ponteiro do relógio marcam juntamente o 15 de abril e o 1º de setembro. De 15 de
abril a 15 de junho e de 1º de setembro a 24 de dezembro o Sol antecede o relógio, mas de
15 de junho a 1º de setembro e de 24 de dezembro a 15 de abril ele se atrasa ao relógio. As
maiores variações são no meio de fevereiro onde o relógio precede o Sol em quase 15
minutos e no início de novembro, quando ele está atrasado pouco mais de 16 minutos.

Fig.47. A determinação do Sul às 9h Fig.48. A determinação do Sul às 15h

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Se memorizarmos essas datas e esses números, poderemos considerá-los quando
determinarmos o Sul de acordo com o Sol, tendo esses pequenos desvios pouca
importância. A segunda razão é que os relógios não indicam a hora geográfica do lugar,
mas andam segundo a hora convencional dos diferentes lugares. Para a Suíça, isso causa
um deslocamento de aproximadamente meia-hora em relação à hora verdadeira, de tal
modo que o Sol, que seguirá segundo esta, só se achará no ponto Sul quase ao meio-dia e
meia. Nossos relógios [Suíça] têm, portanto um avanço de aproximadamente meia-hora em
relação ao Sol. Se vamos fazer a correção necessária, será necessário atrasar o relógio em
meia-hora durante a determinação, mas, no lugar de operar esse deslocamento do ponteiro,
podemos ainda deslocar o ponto Sul encontrado, com o relógio deslocado em 7½ graus na
direção Oeste.

A orientação de acordo com as estrelas

A estrela polar se encontra quase acima do ponto Norte da paisagem. Como ela está no
pólo celeste, isto é naquele lugar do céu em torno do qual parece rodear todo o firmamento,
ela permanece, portanto fixa. Marcaremos sem dificuldade a estrela polar no meio da Ursa
Maior se [estiver] facilmente reconhecível. Contudo, ela está situada, como mostra a fig.49,
no prolongamento das duas últimas estrelas da Ursa, na direção da constelação de
Cassiopeia e à aproximadamente cinco vezes sua distância.

Podemos também nos orientar de acordo com a Lua, mas este método apresenta
dificuldades pois o astro das noites, girando ao redor da Terra, possui seu movimento
próprio no céu. Ao lado do curso que parecem descrever cada dia os astros de Leste à Oeste
em consequência da rotação da Terra, a Lua se desloca cotidianamente de um ângulo de 13º
na direção contrária do Oeste ao Leste, de tal modo que em relação às estrelas, ela atrasa
cerca de 50 minutos todas as noites. No fim de um mês, exatamente de 27½ dias, ela
retorna à sua posição inicial. O procedimento mais simples é fazer a determinação no
momento de Lua cheia. Esta se acha então no oposto do Sol, e a Terra está localizada entre
estes dois astros (fig.50). Nesse caso, procedemos como com o Sol, mas acrescentando 12
horas aos tempos indicados.

Fig.49. Marcaremos sem dificuldade a estrela polar, que se acha quase ao Norte, no
meio da Ursa Maior. Basta prolongar cinco vezes a distância das estrelas A e B

Em consequência a Lua cheia estará na direção 18 horas à Leste, na direção 24 horas ao Sul
e na direção 6 horas à Oeste. Podemos ainda utilizar o relógio posicionando o ponteiro das
horas na direção da Lua. O Sul se achará entre esta e o número 12.

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Se a Lua está em outra fase, é necessário calcular onde ela cresce (todos os dias que nos
separam da próxima Lua cheia) e onde ela decresce (todos aqueles dias que se passaram
depois da última lua cheia). Como o astro da noite aparece, cada dia 50 minutos mais tarde
no mesmo lugar do céu, deveremos calcular estes tempos e os multiplicar com o número de
dias contados. Supondo que façamos esta determinação 3 dias antes da Lua cheia à meia-
noite, o Sul se achará portanto a 3 vezes 50 minutos = 2½ horas à Oeste da lua. Isto,
calculado em graus, resulta em 37½ (24h = 360 graus, 1h = 15 graus). Mas se, ao lado da
meia-noite, fazemos a determinação às 21h é necessário acrescentar ao cálculo as 3 horas
que precedem a meia-noite. Pelo fato do movimento do céu [ser] de Leste à Oeste
procuraremos o Sul às 3 horas do lado Leste, este que corresponde a 45 graus do ângulo.

A orientação de acordo com os indícios da natureza

Para utilizar esses indícios é necessário ser muito bom observador e ter muita experiência.
Nesse caso, melhor só confiar em caso de necessidade ou na falta de outros meios, pois eles
são frequentemente enganosos e jamais de uma segurança absoluta.

Fig.50. O trajeto da Lua ao redor da Terra e suas diferentes fases

O tronco de muitas árvores se cobre de musgo e de liquens do lado do qual vem a chuva,
ocorrendo da mesma forma nas rochas e em todos os chalés. Os círculos concêntricos que
constituem a madeira dos troncos das árvores são sempre mais estreitos do lado da chuva
que do lado do Sol. Estes parecem, portanto menos arredondados a Noroeste [no caso da
Suíça]. Mas a direção que toma a chuva é variável e depende de condições locais, de tal
modo que ela não indica inevitavelmente o Norte ou o Oeste. Podemos ainda tomar em
consideração as paredes dos navios de madeira dos quais o tom é marrom-escuro do lado
do Sol e cinza do lado da sombra. Os ventos dão igualmente certas direções. Reconhecemos
facilmente o vento do Oeste, a brisa do Nordeste e o vento quente do Sudeste. Enfim no
inverno, nas regiões montanhosas, a presença tardia ou a espessura das camadas de neve
fazem conhecer se a vertente onde nos encontramos está voltada para o Norte ou para o Sul.

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