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A ficção histórica Netto perde sua alma foi inspirada na obra homônima
do escritor e jornalista Tabajara Ruas e retrata trinta anos da vida do
general Antônio de Souza Netto, um dos heróis do Rio Grande do Sul,
protagonista da Revolução Farroupilha (1835-1845) e combatente da Guerra
do Paraguai (1864-1870)1.
Tabajara recria no filme o conflito da personagem com sua própria
consciência, rememorando o período da República rio-grandense, em 1836,
seu exílio no Uruguai e sua última participação como militar na batalha de
Tuiuti, em 1866, durante a Guerra do Paraguai.
O filme mescla ficção com fatos históricos. Neste texto, propomos
analisá-lo com base no confronto historiográfico, para destacar a atuação
dos lanceiros negros no movimento revolucionário do Rio Grande do Sul e
o sentido de liberdade para os escravos que lutaram na Revolução Farroupilha.
Eu matei índios. Matei negros. E matei brancos. Mais do que tudo, matei
castelhanos: uruguaios, argentinos, paraguaios, chilenos. Matei portu-
gueses. Matei galegos. Eu ficava matutando comigo mesmo nessa gente
toda que matei e me dava um peso enorme no coração. Não me lembro
mais das grandes palavras, das grandes idéias, só me lembro dos mortos,
um a um, da interminável procissão de mortos nessas guerras do pampa
(RUAS et al., 1999, p. 81).
Por que não ficar nas Encantadas, onde se encontravam tantos outros
negros fujões? Não eram livres por lá? Não estavam seguros? A fuga era a
possibilidade de escapar do cativeiro, mas, para Caldeira, a sua confiança na
revolução imprimiu um entendimento mais amplo do significado da liber-
dade, reconhecendo ser necessário para a construção de uma nação o direito
à igualdade. Continua Caldeira:
Referências
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