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MARCELLO DE OLIVEIRA BECREI - NOTURNO

REIS FILHO, Daniel Aarão (org.). Versões e ficções: o sequestro da história. SP:
Fundação Perseu Abramo, 1997. p.11-30; 47-50; 71-92; 103-106; 117-124; 141-150.

O filme O que é isso, companheiro? (1997), de Bruno Barreto, é central nas


discussões do livro Versões e Ficções: o sequestro da história. Posto que o filme trata
de pessoas e situações existentes, a saber, o sequestro do embaixador norte americano,
Charles B. Elbrick, em setembro de 1969, por militantes do MR-8 e da ALN, os autores
questionam a versão apresentada em tela, entendida como uma tendência conciliadora
com a ditadura em meio a luta pela apropriação da memória.

No livro, historiadores e participantes do sequestro discutem apontam que o


filme adere a uma narrativa – a qual se afasta do livro de Fernando Gabeira - que busca
humanizar Henrique, o torturador, enquanto demoniza Jonas, líder da ALN, e relativiza
o papel do Estado na pratica do terrorismo de estado.

Ao optar por uma visão rasa dos acontecimentos, o filme a evita se posicionar de
maneira contundente contra a ditadura. De tal modo, ao reforçar o “mito dos dois
demônios”, a “história verdadeira” – como apresentado no trailer – é apenas uma escada
para a narrativa ficcional, sem preocupação com a pesquisa histórica, que foi às telas.

1. O filme reforça a narrativa da critica a luta armada, principalmente, a guerrilha urbana. Tendo
em vista que esta narrativa é dominante, caso o filme optasse por problematiza-la, não estaria
arriscando seu sucesso comercial?

2. O que é isso, companheiro? pode ser considerado um sucesso de critica, tendo em vista sua
indicação ao Oscar em 1998 e sua carreira nos festivais. Este não poderia servir a uma abertura
nas discussões sobre a história da ditadura militar?

3. O filme é parte de um nicho de cinema político. Z, de Costas Gravas, The Baader Meinhof
Complex, de Uli Edel, por exemplo, fazem movimentos similares ao por meio de uma
abordagem histórica se aproximarem de discussões presentes. Filmes, como Edukators, A Onda,
Bastardos Inglórios, ressaltam seu caráter ficcional tendo a realidade histórica apenas como
pano de fundo para personagens e situações ficcionais. Se O que é isso, companheiro? optasse
por uma narrativa ficcional, abrindo mão de personagens e situações historicamente conhecidos,
ele poderia ser criticado por sua falta de preocupação com a pesquisa histórica?

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