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Revisão da anterior
noção do direito canônico
 
O que é o direito canônico?
 
 
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Chamamos o Direito Canônico de Direito, porque “estabelece a ordem
jurídica da Igreja”.
O Direito Canônico é um “sistema de normas jurídicas estabelecidas
pela autoridade da Igreja Católica, referentes à sua própria
organização e à atividade dos fiéis”.
 
 
Outra definição que podemos apontar é de Del Giudice, que diz: que o
Direito Canônico é “um conjunto de normas jurídicas, postas ou
colocadas como válidas pelos organismos competentes da Igreja
Católica, segundo as quais é organizada e opera a mesma Igreja e
pelas quais é regulamentada a atividade dos fiéis, em relação aos
fins próprios da Igreja”.
 
 
Desta maneira, o termo Direito Canônico quer abranger uma
universalidade de cristãos, isto é, se destina a todas as Igrejas
particulares, no caso Igrejas Católicas do mundo. E para isso
possuímos um Código de Direito Canônico(CIC) para os católicos de
rito Latino e o Código de Cânones das Igrejas Orientais(CCEO) para
os Católicos Orientais em plena comunhão com Roma.    
 
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Direito e Igreja
 
 
A Igreja teve sucessivamente, ao longo de sua história, um sistema de
direito; não obstante, juntamente com este incontestável dado
histórico, observa-se também que em diversos conjunturas históricas
surgem atitudes e movimentos cristãos de rejeição do direito, entre os
quais se pode observar uma evidente continuidade, apesar disso não
isenta de intermitências: gnosticismo na Antiguidade, espiritualismos
medievais, luteranismo ( com numerosas manifestações, desde o
século XVI até nossos dias, entre as quais podem ser destacadas, por
seu vigor, as posições do jurista Rudolf Sohm em fins do século XIX),
anti-juridicidades   eclesiais contemporâneas.
 
 
 
 
 
 
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Todos esses movimentos, tão diferentes por suas coordenadas
históricas e por suas afirmações doutrinais, têm uma inegável raiz
comum: coincidem em rejeitar o direito como elemento impurificante
de uma visão do cristianismo radicalmente espiritual e
exclusivamente carismática.  Em suas manifestações mais recentes,
estas atitudes aparecem também como uma rejeição do direito
enquanto expressão unilateral da hierarquia eclesiástica, que
comprometeria a liberdade crista e impediria a criatividade
eclesial dos fiéis. Não faltaram análises atuais que aplicaram à tensão
Igreja Espiritual – Igreja do direito categorias da dialética hegeliana e
inclusive ideias marxistas sobre a luta de classes.
 
 
Essa constante presença do direito na Igreja e as frequentes atitudes
culturais de rejeição obrigaram a doutrina a um aprofundamento nas
raízes do direito canónico e no fundamento da defesa permanente de
uma dimensão jurídica na Igreja por parte do Magistério eclesiástico.
 
 
 
 
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Objetivando uma primeira aproximação deste tema, é suficiente
afirmar que a função do direito na Igreja se entende a partir de uma
correta visão das relações entre as aludidas noções de povo,
comunidade e sociedade. Porque a Igreja é povo, nela se propõe o
tema – com evidente dimensão de justiça – de que aos fiéis – a todos e
a cada um – devem ser reconhecidas as consequências concretas de
sua dignidade de filhos de Deus. Visto ser comunidade, existe uma
dimensão de justiça nas relações de solidariedade na posse dos bens e
objetivos comuns; donde a existência de direito e deveres relacionados
com a conservação e a pregação da Palavra de Deus e com a
celebração e a administração dos sacramentos, património comum da
Igreja. Finalmente, por ser um ente social unitariamente
organizado, existem direitos e deveres concretos em relação à tutela
da unidade da Igreja, algumas esferas de autonomia e de ação livre e
responsável comuns a  todos os membros da sociedade- igreja e,
igualmente, uma delimitação das atribuições e competências das
diversas peças de sua organização oficial, nas quais existe uma
distinção hierarquizada de ministérios e funções.
 
 
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Podemos concluir esta parte dizendo que o direito é conatural à vida
da Igreja, à qual é bastante útil: ele é um meio, é um auxilio, é também
em dedicada questão da justiça – é uma proteção
 
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Direito positivo
divino e direito
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1.
O Direito Canônico no mistério da Igreja não tem apenas
consequências no plano teórico, mas possui pontos que incidem de
maneira direta na eficácia das normas e nos princípios que informam
as relações jurídicas. Também o Direto Canônico não é um sistema de
normas cujo único título de validez provenha da vontade dos
legisladores eclesiásticos. Pelo contrário, suas prescrições, são iguais a
todo o ordenamento canônico, ou seja, que se apoiam em uma base de
índole superior: num Direito divino. Como Direto divino podemos
definir que é o conjunto de fatores jurídicos que tem Deus como autor,
e que estão subordinados aos elementos de Direito Canônico humano
e dentro da qual cabe diferenciar o Direito (divino) natural e o Direito
divino positivo.
 
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O Direito natural é aquela parte da Lei natural, escrita por Deus no
coração do homem (cf. Rm 2,15), este Direito se refere às relações de
justiça e se define deste modo: é o conjunto de fatores jurídicos
inerentes a natureza humana que operam na ordem natural. O Direito
canônico parte da existência de um direito divino, no qual cabe
distinguir um direito divino natural e um direito divino positivo. Os
fatores que fazem parte de uma Lei natural são essencialmente
universais, imutáveis e indispensáveis, pois, eles afetam a qualquer
homem, são também estáveis com a sua natureza e não podem ser
dispensados pela autoridade humana. Assim, a ideia de direito natural,
que está na base do direito canônico, reporta-se à conceção da pessoa
humana como ser racional criado por Deus, cuja dignidade reclama de
maneira vinculadora os direitos e deveres que são derivados da
natureza de que foi dotado por Deus, em conjunção harmônica com a
ordem impressa pelo Criador a todo o universo.
 
 
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O Direito natural opera em ordem natural, e sua aplicação consiste nas
sociedades temporais. Isto não significa que seja alheio ao Povo de
Deus, pois, em virtude do princípio teológico de que a graça não
destrói a natureza, mas, aperfeiçoa seus princípios e exigências-
respeitando aquilo que é específico da Igreja- acham-se também
integrados na ordem salvífica. O Direito natural da razão, por
exemplo, ao princípio de socialidade como base antropológica da
existência do Povo de Deus; e de uma série de direitos e deveres,
válidos também na Igreja, cuja observância pode urgir de uma
consideração oportuna. Contudo, sua relação com a ordem salvífica
explica que o Direito natural é em geral a Lei natural, ou seja, é um
dos objetos próprios do Magistério Eclesiástico: “À igreja compete
anunciar sempre e em toda a parte os princípios morais, mesmo de
ordem social, bem como emitir juízo acerca de quaisquer realidades
humanas, na medida em que o exijam os direitos fundamentais da
pessoa humana ou a salvação das almas” (c.747§2).
 
 
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Na Igreja por Direto divino entendemos primordialmente como o
Direito divino positivo, promulgado mediante a Revelação e que não
se deriva da natureza humana, senão, da elevação do homem até a
ordem natural. Podemos definir por Direito divino positivo, como
um “conjunto dos fatores jurídicos relacionados com a elevação do
homem à ordem natural, como fruto da redenção realizada pelo
Verbo encarnado, que continua operando em virtude da eficácia dos
meios de salvação institucionalizados na Igreja” (LOMBARDIA,
Pedro; p.22). O Direito divino positivo são fatores como: o princípio
de igualdade e o princípio hierárquico, a instituição do Primado
petrino e o Colégio dos Apóstolos para desempenhar a missão
pastoral suprema na Igreja, que permanece no Romano Pontífice e
no Colégio dos Bispos, as importantes consequências jurídicas que
emanam da instituição de Cristo aos sacramentos, colocando como
lugar central a Eucaristia, as exigências que comportam o chamado
universal a santidade e a missão da Igreja etc.
 
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Positivação e formalidade do direito divino
 
 
O Direito divino positivo só é conhecido através da Revelação, cujas
fontes (Sagrada Escritura e Tradição, que são expostas pelo
Magistério). O Direito divino, natural e positivo se encontra
originariamente abaixo das formas alheias a cultura jurídica (quando
se fala de Lei natural ou de Lei divina, não se usa a terminologia lei
em sentido técnico e formal), mas, para ter completa eficácia, precisa
ser aplicado mediante as técnicas próprias do Direito, isto é, ser
integrado no ordenamento.
O canonista Hervada, explica este duplo processo de positivação e
formalização do Direito divino, que tem como ponto de partida a ideia
do Direito como uma realidade eminentemente histórica. Hervada diz
que o Direito divino uma vez promulgado (o Direito natural através da
natureza humana e o Direito divino positivo mediante a Revelação),
existe na história e pode qualificar-se como verdadeiro Direito. Porém,
isto não significa que tenha plena vigência, mas, é necessário primeiro
que se tome consciência de seus conteúdos concretos (positivação) e
logo que se integre formalmente no ordenamento: em suas normas e
estruturas (formalização), só então adquire completa eficácia/jurídica.
 
 
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A positivação do Direito divino positivo se realiza através do
Magistério, da liturgia, da doutrina teológica ou canônica, e no sensus
fidelium, etc. Positivação é a tomada de consciência eclesial dos
conteúdos do direito divino. Para isso, não basta que o direito divino
tenha plena eficácia jurídica, pois, faz-se necessário sua integração no
ordenamento jurídico, entendido “não só como um conjunto disperso e
confuso de normas de igual valor”, mas, “como uma ordem
tecnicamente estruturada e condicionada ou amolda, por meio de seus
mecanismos técnicos, a vigência e a aplicação do direito”; Hervada
denomina esta integração formalização do direito divino, ou seja, “o
direito divino está integrado apenas imperfeitamente no ordenamento
canônico, visto que sua efetiva força social fica condicionada à boa
vontade e ao senso de justiça dos que devem cumpri-lo e aplicá-lo. A
formalização, ao integrá-lo em todo o mecanismo de tecnicidade,
coloca a seu serviço todos os recursos para sua devida aplicação”. 
Este processo de sua formalização tem lugar no tempo, e não põe em
dúvida a validez permanente do Direito divino. Ainda que, como
ocorre com as verdades dogmáticas- cujo conhecimento é suscetível
de progresso-, à medida que se conhece e formula melhor, pode
tutelar-se mais fielmente suas exigências.   
 
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Concluindo esta parte podemos afirmar que:
 
 
O Direito Canônico é um único ordenamento jurídico que, tendo seu
fundamento no direito divino, é fruto da conjunção Harmônica de um
elemento divino e um elemento humano.
 
 
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Relação entre Direito divino e Direito humano
 
O Direito divino constitui o núcleo fundamental do Direito Canônico
em um duplo sentido: desde um ponto de vista positivo, porque as
soluções canônicas do Direito humano devem apoiar-se no Direito
divino e desde um ponto de vista negativo, porque o Direito
meramente eclesiástico careceria em absoluto de um valor que se
opusera a ele. Porém, Direito divino não forma na Igreja um
ordenamento distinto do humano, pois, ambos constituem uma
ordem jurídica única e inseparável com aspectos divinos e humanos,
e nos que diz respeito aos aspectos humanos hão de ser expressão do
esforço por interpretar e desenvolver historicamente o desígnio de
Cristo ao fundar a  sua Igreja.
Ainda que o Direito divino indique o que é justo ou injusto em seus
traços fundamentais, não resolve direta e explicitamente todos os
problemas concretos. Compete ao Direito humano o empenho de
formular cada vez melhor seus conteúdos e a tarefa de aplicar as
circunstâncias particulares do lugar e do tempo. Um exemplo disto é
o modo de organização da Igreja ao longo dos séculos sobre as bases
permanentes do Direito divino e segundo as necessidades do
momento.
 
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