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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SUSTENTABILIDADE (PSU)

MESTRADO ACADÊMICO ASSOCIADO


Universidade Estadual de Maringá
Instituto Federal do Paraná

DIAGNÓSTICO DAS OCUPAÇÕES IRREGULARES EM FUNDO DE VALE E


PROPOSTA DE SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS EM UMUARAMA – PR

CÉSAR AUGUSTO HOFFMANN

UMUARAMA/PR
2021
0

CÉSAR AUGUSTO HOFFMANN

DIAGNÓSTICO DAS OCUPAÇÕES IRREGULARES EM FUNDO DE VALE E


PROPOSTA DE SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS EM UMUARAMA – PR

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Pós-Graduação em
Sustentabilidade como parte integrante
dos requisitos para a obtenção do grau de
Mestre em Sustentabilidade.

Orientadora: Dra. Diane Belusso


Co-Orientador: Me. Olindo Savi

UMUARAMA/PR
2021
1

ESPAÇO PARA FICHA CATALOGRÁFICA


2

A exclusão social não é passível de mensuração, mas pode ser


caracterizada por indicadores como a informalidade, a
irregularidade, a ilegalidade, a pobreza, a baixa escolaridade, o
oficioso, a raça, o sexo, a origem e principalmente, a ausência
de cidadania (MARICATO, 2003, p. 153).
3

AGRADECIMENTOS

No decorrer destes últimos dois anos, muitas pessoas fizeram e fazem parte
da minha vida, tanto no âmbito acadêmico, profissional quanto pessoal. Pessoas
estas que de muitas maneiras foram e são fundamentais em minha vida. Portanto,
gostaria muito de agradecer a cada uma delas e, embora torna-se impossível citar
todas, estendo minha gratidão a todos aqueles que estiveram comigo nesse processo
de maneira mais próxima.

À minha orientadora, Profa. Dra. Diane Belusso e meu coorientador, Prof. Me.
Olindo Savi, pelos conhecimentos compartilhados, assim como o suporte, as
correções e incentivos no decorrer da produção desta dissertação. Obrigado pela
amizade, dedicação e confiança.

A todos os Professores do Programa que compartilharam, instigaram e


incentivaram na minha busca por novos conhecimentos, técnicas e conceitos, de
maneira que seus ensinamentos se multiplicassem em minha vida acadêmica e
profissional.

À minha mãe, Ivoni Marasca Hoffmann, pelo amor, incentivo e apoio


incondicional oferecido gratuitamente, e ao meu pai, José Nilson Hoffmann (in
memorian), pelos ensinamentos de vida. Aos meus irmãos, seus cônjuges e demais
familiares que de maneira indireta me motivaram a concluir mais esta etapa da minha
vida profissional, sou muito grato.

Ao meu parceiro Everlei Câmara, minha inspiração diária na busca de novos


conhecimentos, e que amo compartilhar minha vida. Obrigado pelo apoio, paciência
e dedicação em mais esta etapa.

Aos meus colegas de turma, pelas trocas de experiências, amizades e por


tantos ensinamentos, os quais levarei por toda minha vida profissional e pessoal.

Gostaria também de agradecer aos membros da banca de qualificação e


defesa, Profª. Dra. Doutora Regina de Held e Profª. Dra. Máriam Trierveiler
Pereira. Obrigado pelas considerações e apontamentos, pois estes foram igualmente
imprescindíveis para a conclusão deste trabalho.

Por fim, agradeço a todos que de alguma forma fazem parte de meu círculo de
amizade, pois são essas relações que de fato oferecem sentido à existência.

A todos e todas, sou imensamente grato!


4

RESUMO
Esta dissertação de mestrado tem por propósito inquirir, analisar e compreender a
condição histórica, econômica, social e urbana das ocupações irregulares em fundo
de vale no contexto brasileiro e, mais especificamente, na cidade de Umuarama – PR,
considerando como referencial os indicadores para as cidades sustentáveis,
amplamente desenvolvidos e utilizados no campo da geografia urbana e da
sustentabilidade nas políticas internacionais sobre o meio ambiente e sociedade.
Assim, o objetivo geral definido nesta pesquisa visa realizar um diagnóstico das
ocupações irregulares e apresentar uma proposta sustentável ao lócus da pesquisa,
a fim de indicar caminhos para adequação dos loteamentos clandestinos existentes
em fundos de vale, situados na região do Córrego Prata em Umuarama, no estado do
Paraná. Para tanto, o problema que referendou este estudo cerca o seguinte
questionamento: quais alternativas de moradia e reparação ambiental são viáveis para
a recuperação das margens do Córrego Prata em Umuarama – PR, em vista da
mitigação dos prejuízos ambientais causados pelas ocupações irregulares em fundo
de vale? Diante disso, os objetivos específicos que direcionam a pesquisa,
perpassam, primeiramente, pela perspectiva da compreensão do déficit habitacional
no Brasil; depois pela caracterização das ocupações irregulares em fundo de vale e,
por fim, por proposições sustentáveis para os problemas socioambientais
identificados no contexto da pesquisa. Para tanto, este estudo considerou e articulou
uma metodologia de característica dialética, com foco na pesquisa bibliográfica,
documental e de campo o que, por meio da amplitude exploratória e analítica in loco,
possibilitou estruturar como hipótese ser a flexibilização da Lei de Uso e Ocupação do
Solo, considerando os espaços livres (áreas disponíveis) na região pesquisada, uma
alternativa viável para a mitigação do problema socioambiental causado pelas
ocupações irregulares às margens do Córrego Prata. O aporte teórico que pavimentou
esta discussão está em Layrargues (1998), Sachs (1999), Maricato (2001), Amorin
(2004), Veiga (2010), Ribeiro (2017) e Faller (2019). Acerca do referencial
documental, os elementos teóricos foram analisados e comparados com os dados da
pesquisa de campo a partir dos relatórios da Fundação João Pinheiro (2017 e 2019),
Plano Diretor da Cidade de Umuarama (2018) e Cohapar (2019). Os resultados da
pesquisa apontam para a possibilidade de constituição de espaços sustentáveis,
social e ambientalmente, com o uso apropriado do sistema de espaços livres na
região onde hoje estão estabelecidas as ocupações irregulares em fundo de vale na
cidade de Umuarama, desde que as políticas públicas de caráter habitacional e
ambiental estabeleçam meios para superação da dicotomia existente entre
habitabilidade e deterioração do meio ambiente urbano, ou seja, importa estabelecer
políticas de reaproximação dos citadinos com os curso d’ água, no sentido de
promover o afeto e apropriação sustentável dos moradores ao espaço natural e ao
espaço construído da cidade.
Palavras-Chave: Déficit Habitacional, Cidades Sustentáveis, Ocupações Irregulares
em Fundo de Vale, Sustentabilidade.
5

ABSTRACT

This master´s thesis aimed to inquire, analyze and understand the historical,
economic, social and urban condition of irregular occupations in the deep valley area
in the Brazilian context, more specifically, in Umuarama -PR city, using as reference
the sustainable cities indicators, which were widely developed and used in the field of
urban geography and international policies on environment and social sustainability.
Thus, the main goal defined for this work was to carry out a diagnosis of irregular
occupations and to present a sustainable proposal to the research locus, in order to
indicate direction to adapt the clandestine allotment housings situated in the deep
valley of Prata´ stream water region in Umuarama, in the state of Parana. Therefore,
the problem that endorsed this study involved the following question: Which housing
alternatives and environmental remediation are feasible for recovering Prata´
streambanks in Umuarama - PR, seeking the mitigation of the environmental damage
caused by irregular occupations in the deep valley? So, the specific goals that guides
this research, permeate, firstly, through the understanding housing deficit in Brazil,
after through the characterization of irregular occupations in the deep valley and,
finally, through the sustainable proposal to the socioenvironmental problems identified
in the research context. For this, this study considered and integrated a methodology
with dialectical characteristics, focusing in the bibliographic review, documental and
field research which, through an exploratory breadth and analytic in loco, turned
possible to structure as hypothesis the flexibilization of the Land Use and Occupation
Law, considering the free areas (available areas) in the investigated area, a feasible
alternative to mitigate the socioenvironmental problem caused by the irregular housing
in Prata´ streaming. The theoretical input that supported the discussion are in
Layrargues (1998), Sachs (1999), Maricato (2001), Amorin (2004), Veiga (2010),
Ribeiro (2017) and Faller (2019). Regarding to the documental reference, the
theoretical elements were analyzed and compared with field data, from the João
Pinheiro Foundation reports (2017 e 2019), Umuarama Master Planning (2018) and
Cohapar (2019). The research results point for the possibility of constituting social
and environmental sustainable spaces, through the appropriate use of the available
space system in the region where irregular housing are currently stablished in the deep
valley in Umuarama city, since the public polices related to housing and environment
establish ways to overcome the dichotomy between habitability and urban
environment deterioration, in other words, it is important to establish policies for the
rapprochement between citizens and watercourses, in order to promote the affection
and sustainable appropriation of the residents to the natural and built spaces in the
city.

Keywords: Housing Deficit, Irregular occupations in the Deep Valley, Sustainable


Cities, Sustainability.
6

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Riscos relacionados ao local da ocupação..............................................28


Tabela 02 – Condição dos serviços públicos existentes nas ocupações irregulares do
município....................................................................................................................29
Tabela 03 – Equipamentos existentes no entorno das ocupações irregulares do
município....................................................................................................................30
Tabela 04 – Loteamentos Clandestinos e Irregulares às margens do Córrego Prata..32
Tabela 05 – Tempo de existência e quantificação de domicílios em fundos de vale..68
7

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Recorte da pesquisa – Córrego Prata.................................................... 31


Figura 02 – Ocupações Irregulares e Clandestinas ao longo do Córrego Prata....... 32
Figura 03 – Ilustração da Legislação Ambiental.........................................................58
Figura 04 – Bacias Urbanas na Região de Umuarama – PR.................................... 65
Figura 05 – Identificação dos terrenos clandestinos ou irregulares em relação aos
projetos consolidados no município de Umuarama PR............................................. 69
Figura 06 – Recorte do local de estudo – Córrego Prata.......................................... 72
Figura 07 – Zoneamento as margens do Córrego Prata........................................... 73
Figura 08 – Recorte do local de estudos – Região do Córrego Prata....................... 73
Figura 09 – Levantamento Fotográfico – Acesso ao Parque Laranjeiras................. 74
Figura 10 – Levantamento Fotográfico – Margens do Córrego Prata...................... .75
Figura 11 – Levantamento Fotográfico – Fundos de uma Residência...................... 76
Figura 12 – Levantamento Fotográfico – Vista da Rua Azaleia à esquerda situa-se o
Parque das Laranjeiras e a direita a ocupação irregular existente............................ 77
Figura 13 – Levantamento Fotográfico – Vista da Rua das Primaveras sentido a Rua
Azaleia, à direita situa-se o Parque das Laranjeiras e na junção das duas, (ao fundo)
a ocupação clandestina..................... ........................................................................79
Figura 14 – Levantamento Fotográfico – Segunda ponte sobre o Córrego Prata -
Passagem à margem direita do córrego ................................................................... 79
Figura 15 – Levantamento Fotográfico – Ocupações sobre a encosta e canalização
do esgoto diretamente para o Córrego....................................................................... 80
Figura 16 – Levantamento Fotográfico – Conjunto Residencial Porto Belo...............81
Figura 17 – Levantamento Fotográfico – Descarte irregular de resíduos próximo ao
Residencial Porto Belo................................................................................................82
Figura 18 – Levantamento Fotográfico – Nascentes e represa existente no fundo de
vale próximo ao Residencial Porto Belo......................................................................83
Figura 19 – Levantamento Fotográfico – Leito do Córrego prata próximo ao
Residencial Porto Belo................................................................................................83
Figura 20 – Levantamento Fotográfico – Ocupações irregulares no fundo de vale –
Parque São Gaetano..................................................................................................84
Figura 21 – Levantamento Fotográfico – Demarcação do solo dentro da APP – Parque
São Gaetano.............................................................................................................. 85
Figura 22 – Levantamento Fotográfico – Passagem para pedestres e motocicletas –
Acesso ao Parque Industrial II .................................................................................. 85
Figura 23 – Levantamento Fotográfico – Fundo de Vale Próximo ao Mutirão
Alvorada..................................................................................................................... 86
Figura 24 – Levantamento Fotográfico – Fundo de Vale fazendo divisa com o Mutirão
Alvorada..................................................................................................................... 87
Figura 25 – Levantamento Fotográfico – Esgoto a céu aberto – Mutirão
Alvorada..................................................................................................................... 87
Figura 26 – Levantamento Fotográfico – Fundo de Vale as margens da Av.
Ângelo Moreira da Fonseca ...................................................................................... 88
Figura 27 – Levantamento Fotográfico – Parque Industrial II – Tinturaria às Margens
da Rodovia 323.......................................................................................................... 89
Figura 28 – Levantamento Fotográfico – Fundo de Vale fazendo divisa com Jardim
Monte Carlo............................................................................................................... 89
8

Figura 29 – Levantamento Fotográfico – Fundo de Vale fazendo divisa com Jardim


Monte Carlo – Lateral com a Rodovia 323.................................................................89
Figura 30 – Levantamento Fotográfico – Aterro sendo realizado próximo a cabeceira
da Nascente do Córrego Prata....................................................................................90
Figura 31 – Identificação das ocupações irregulares e dos terrenos públicos
escolhidos................................................................................................................ 102
Figura 32 – Dados pré-existentes dos terrenos públicos disponíveis..................... 103
Figura 33 – Identificação das ocupações irregulares e dos terrenos alternativos
(propriedade privada) ...............................................................................................104
Figura 34 – Identificação dos serviços nas proximidades das ocupações irregulares e
terrenos.................................................................................................................... 105
Figura 35 – Demarcação da massa vegetativa no córrego Prata............................106
9

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 – Condições da localização das ocupações existentes no


município....................................................................................................................28
Gráfico 02 – Histórico do crescimento do Déficit Habitacional no
Brasil..........................................................................................................................53
10

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 – Dados Federais das Cidades Brasileiras.............................................14


Quadro 02 – Análise comparativa dos loteamentos irregulares no município de
Umuarama – PR ........................................................................................................67
11

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 13

2 OBJETIVOS, PROBLEMA E HIPÓTESE 19


2.1 OBJETIVO GERAL 19
2.1.1 Objetivo Específico 1 20
2.1.2 Objetivo Específico 2 20
2.1.3 Objetivo Específico 3 21
2.2 PROBLEMA E HIPÓTESE 21

3 METODOLOGIA E O LÓCUS DA PESQUISA 24


3.1 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO E DOCUMENTAL 26
3.2 DEFINIÇÃO DO LÓCUS DA INVESTIGAÇÃO 30
3.3 LEVANTAMENTO DE DADOS NA PESQUISA DE CAMPO 34
3.3.1 Pesquisa Exploratória 35
3.3.2 A Pesquisa de Campo 36

4 O PROBLEMA DAS OCUPAÇÕES IRREGULARES EM FUNDOS DE VALE NO


BRASIL 39
4.1 SUSTENTABILIDADE, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E PROBLEMAS
AMBIENTAIS URBANOS 42
4.2 O DÉFICIT HABITACIONAL NO BRASIL E AS OCUPAÇÕES IRREGULARES
50
4.3 DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS URBANOS A ALGUMAS ALTERNATIVAS
RESOLUTIVAS 57

5 AS OCUPAÇÕES IRREGULARES EM FUNDO DE VALE NO MUNICÍPIO DE


UMUARAMA/PR 64
5.1 CONTEXTO HISTÓRICO DO SURGIMENTO DAS OCUPAÇÕES
IRREGULARES EM UMUARAMA-PR 66
5.2 CARACTERIZAÇÃO DAS OCUPAÇÕES IRREGULARES ÀS MARGENS DO
CÓRREGO PRATA NO MUNICÍPIO DE UMUARAMA-PR 70
5.2.1 O Locus da Pesquisa: Caracterizando o Espaço de Estudo 71
5.2.2 Caraterização do Entorno do Local de Estudo 74
5.2.3 Caraterização das Condições Socioambientais do Local de Estudo 77

6 CIDADES SUSTENTÁVEIS: PROPOSIÇÕES PARA A CONSOLIDAÇÃO DE


SOLUÇÕES URBANAS NO LÓCUS DA PESQUISA 92
12

6.1 POSSIBILIDADE RESOLUTIVA SUSTENTÁVEL PARA AS OCUPAÇÕES


IRREGULARES EM FUNDO DE VALE ÀS MARGENS DO CÓRREGO PRATA 96
6.2 EM BUSCA DE UMA CIDADE SUSTENTÁVEL 101

CONSIDERAÇÕES FINAIS 103

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 112


13

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo parte da perspectiva na qual as áreas de ocupação irregular


em fundo de vale, em seu amplo espectro micro e macro, são marcas de longos e
críticos processos históricos, econômicos, sociais, produtivos, culturais e ambientais,
destacadamente relacionados às políticas públicas nacionais e regionais no âmbito
do uso e ocupação do solo urbano e suas consequências no campo da habitação
social.

O recorte micro espacial considerado nessa análise, desse modo, envolve


algumas ocupações irregulares ao longo do Córrego Prata, algumas delas com quase
quatro décadas de existência, na cidade de Umuarama – PR.

A proposta investigativa dessa dissertação é, portanto, entender os modelos de


desenvolvimento urbano concretizados no Brasil nas últimas décadas e, junto a isso,
verificar como as políticas públicas nacionais e locais, influenciaram na configuração
espacial característica do lócus da pesquisa, isto é, do município de Umuarama que
está localizada na Mesorregião Geográfica do Noroeste Paranaense e possui uma
área territorial de 1.234,537 km². De acordo com os dados do IBGE (2020), a cidade
de Umuarama tem uma população de 112.500 pessoas e uma densidade populacional
de 81,67 hab/km².

A partir disso, destaca-se no problema gerador a necessidade da identificação


e mapeamento da complexidade histórica, cultural, legal, urbanística e estrutural
provenientes das políticas públicas municipais no Brasil, no sentido de compreender
a problemática da necessária intervenção dos agentes públicos para a restauração do
meio ambiente degradado por ações antrópicas em fundos de vale e, ao mesmo
tempo, da provisão de moradias de boa qualidade para a população menos favorecida
e dependente dos equipamentos públicos urbanos de responsabilidade da
administração local.

Com base nisso, o que orienta e fundamenta a pesquisa aqui sistematizada


é a complexidade dos aspectos constituidores e que agregam o tripé da
sustentabilidade nas relações verticais e horizontais da temática proposta,
convergindo para uma análise sistêmica e articulada à sociedade, ao meio ambiente
e à economia.
14

No que tange aos aspectos gerais da população umuaramense, com base nos
dados do Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2016), 92,08% da população vive na
cidade, enquanto 7,2% nas áreas rurais. Com uma população jovem, a faixa etária
predominante é entre 20 a 24 anos. O Índice de Desenvolvimento Humano é de 0,761
(dados de 2010), e o salário médio dos trabalhadores formais equivale a 2,2 salários
mínimos.

O Quadro de informações abaixo, retirado do site do IBGE, sintetiza algumas


das características econômicas e sociais do município de Umuarama, foco de
aprofundamento e análise ao longo desta pesquisa.

Quadro 01 – Dados do Produto Interno Bruto (PIB) per capita do município de Umuarama – PR.

Diante disso, para evidenciar os aspectos desta investigação, importa


compreender, quais as condições impostas às pessoas e ao meio ambiente nas
localidades de ocupação irregular. Além disso, verificar os projetos políticos e sociais
15

estabelecidos, que as vezes, são contraditórios às necessidades da região em seus


aspectos socioambientais.

É inevitável, nesse contexto de análise, portanto, trazer à baila múltiplos focos


de questionamentos – estes explorados no tópico seguinte – para contextualizar a
problemática deste estudo, principalmente no que tange aos aspectos
socioambientais que circundam dilemas habitacionais, suas dicotomias e prejuízos
impostos pelas políticas divergentes entre meio ambiente e economia, do acesso, ou
não, aos equipamentos públicos de cunho social e aos programas constituídos no
Estado do Paraná e no Município de Umuarama no que se refere à recuperação
ambiental e controle de uso e ocupação do solo em áreas protegidas. Além disso,
cabe refletir sobre o debate nacional e internacional sobre as cidades e
assentamentos sustentáveis.

Com base nisso, cabe destacar a hipótese do não espraiamento da população


como premissa deste estudo. Comumente utilizada na realocação em espaços
definidos pela administração pública com o intuito de dar fluidez à resolução dos
problemas ligados ao déficit habitacional e às ocupações irregulares, a defesa desta
alternativa não é o objetivo desta pesquisa.

Tal pressuposto constitui-se no sentido de compreender que esta estratégia –


pela obviedade histórica da recorrente fragilidade dessa prática no campo do
ordenamento e gestão social, urbana e ambiental – potencializa a criação de bolsões
“oficiais” e regularizados de pobreza, atingindo uma população já precariamente
atendida pela necessária, mas escassa, infraestrutura pública que perpetua ações
administrativas excludentes.

Para tanto, a metodologia utilizada para materializar esse conjunto de


objetivos perpassa e considera a literatura da área no âmbito da pesquisa
bibliográfica, visando estabelecer as bases referenciais para a investigação,
ancorando-a e articulando-a às análises e estudos formulados em dissertações, teses,
artigos científicos qualificados e livros nos campos da geografia urbana e da
sustentabilidade, cercando os eixos teóricos do déficit habitacional no Brasil; das
ocupações irregulares; dos aspectos socioeconômicos e de infraestrutura pertinentes
16

às observações e proposições de soluções para o espaço físico investigado por essa


pesquisa.

Além disso, a verificação em campo foi imprescindível no sentido de elucidar


as bases documentais inquiridas e as verdadeiras condições socioambientais da
região, recorte da pesquisa. A caracterização das ocupações irregulares nos fundos
de vale utilizou e atrelou, metodologicamente, o levantamento de dados com registros
de imagens e visita in loco, no sentido de elucidar os aspectos constituidores para
uma percepção clara, atual e segura dos locais pesquisados.

Com isso, no resultado dessa pesquisa foi possível configurar, como produto,
proposta resolutiva para ações aplicáveis à área estudada, considerando categorias
e identificadores sustentáveis alavancados pelos estudos e referenciais bibliográficos
dos relatos presentes na literatura que focaliza esse campo de estudo.

Para tanto, a qualificação do desenho de uma área predestinada ao


aprofundamento da degradação ambiental, tem na remodelagem urbanística uma
possibilidade de reconfiguração socioambiental, a qual valorize indicadores
sustentáveis no ordenamento do uso e ocupação do solo da cidade. O levantamento
de dados in loco, viabilizou um inventário de alternativas viáveis, partindo da condição
socioambiental específica da região, objeto de estudo, com o escopo da projeção de
uma proposta sustentável que articule os elementos-chave do tripé da
sustentabilidade.

Com o propósito de dar corpo a este estudo, a estrutura desta dissertação


contempla a organização de seis capítulos e da consideração final. O capítulo 1, 2
e 3 compõem, respectivamente, a apresentação e estrutura do trabalho, evidenciando
problema, objetivos, hipótese e metodologia. Nos parágrafos seguintes, serão
descritos os focos e as ênfases em cada capítulo no intuito de elucidar o corpo teórico
e prático dessa análise.

O capítulo 3 traz um acento sobre a concepção de método e a metodologia


utilizada e aplicada no trabalho aqui desenvolvido. O aporte teórico e prático
estabelecido configura um trânsito entre as perspectivas da dialética, como concepção
de método e, especificamente como abordagem, encadeia análises que articulam as
categorias históricas e monográficas.
17

Ainda, nesse capítulo, a descrição detalhada do passo a passo realizado para


a assunção dos dados empíricos, tornou palpável, ao mesmo tempo que categorizou
o espaço da pesquisa na sua conjuntura social, ambiental, econômica e cultural o que,
por meio do diálogo desses campos de estudos, concretizou e elucidou as condições
urbanísticas das ocupações de fundo de vale na região do Córrego Prata.

Já no capítulo 4, visando aprofundamento teórico, houve destaque sobre o


problema das ocupações irregulares no Brasil, com base em um movimento dialético
em que aspectos históricos, sociais e de configuração política convergem para uma
intelecção mais abrangente acerca da problemática desse tema.

Por isso, o objetivo a ser explorado e examinado, nesse momento, permeou,


como se deu, no tempo, as ocupações irregulares nos fundos de vale no Brasil e ao
longo do Córrego Prata em Umuarama/PR, com base nos critérios de déficit
habitacional.

O pano de fundo do capítulo 4 está em visualizar a solidez dos fundamentos


da agenda composta por práticas sustentáveis em situações complexas, como
aquelas que habitam as circunjacências das ocupações irregulares e das propostas
existentes sobre o desenvolvimento sustentável das cidades brasileiras atuais. Além
disso, interroga a relação entre o déficit habitacional no Brasil e a abrangência dos
problemas que assolam as regiões de ocupação em fundo de vale.

Avançando na problemática deste estudo, o capítulo 5 aborda a conjunção de


fatores e características das ocupações irregulares, afuniladas especificamente no
espaço geográfico da cidade de Umuarama - PR. Esta seção, portanto, possibilita a
discussão concentrada do problema citado, considerando o contexto histórico do
surgimento das ocupações irregulares desta cidade do Noroeste do Paraná, com
ênfase no detalhamento das características descritas e exploradas a partir de dados
alavancados em análise documental e bibliográfica.

Ainda neste capítulo, deu-se um trabalho detalhado de campo, materializando,


por meio da visita in loco e o registro de imagens do local da pesquisa, a necessária
contraposição e complementação no que se refere aos dados verificados nos
documentos e relatórios oficiais e suas convergências ou divergências, quando da
18

confrontação das informações retiradas com aquelas validadas nos locais da


investigação.

Por fim, o capítulo 6 sintetiza o esforço de condensação realizado ao longo de


toda essa pesquisa, pois agrega no seu âmago as inter-relações verificadas acerca
da constituição de um produto significativo, como consequência dessa pesquisa
quanti-qualitativa, no sentido de apontar alternativa viável para a mitigação dos
principais problemas evidenciados no decorrer do estudo, significando um quadro de
alternativas a fim de propor direcionadores de uma proposta de intervenção
sustentável para a região do Córrego Prata.

Com isso, no tópico seguinte, serão apresentados os objetivos, os problemas


e a hipótese desse estudo em articulação com a temática da área que orienta esta
pesquisa, a saber, a da Sustentabilidade.
19

2 OBJETIVOS, PROBLEMA E HIPÓTESE

Este capítulo tem por foco posicionar o leitor e o estudioso do tema das
ocupações irregulares em fundo de vale no Brasil e no município de Umuarama – PR,
acerca do universo que constitui os objetivos, problema e hipótese de trabalho dessa
pesquisa. Para tanto, nesse tópico, serão realizadas articulações breves entre os
objetivos estabelecidos (geral e específicos), com os capítulos estruturados; a
formulação e comunicação do problema como gerador da pesquisa e a materialização
da hipótese, gestada fundamentalmente na perspectiva da contribuição dessa análise
para as práticas de cuidado e manutenção dos espaços verdes nas cidades, além da
proposição de alternativas sustentáveis ambiental, social e economicamente ao
contexto de pesquisa deste estudo.

Assim, este capítulo está organizado com o intuito de formular, identificar e


apresentar os elementos estruturantes da pesquisa em curso, a saber; o objetivo
geral; os objetivos específicos; o problema de pesquisa e a hipótese
estabelecida.

2.1 OBJETIVO GERAL

O Objetivo Geral se estabelece nesse estudo, pautado na compreensão de que


o problema de pesquisa exige direcionamento evidente para, assim, caracterizar
amplamente o foco da pesquisa. Com isso, mesmo sendo sintética, a frase definidora
do Objetivo Geral, visa ilustrar o direcionamento em sentido lato, da pesquisa em
curso, elucidando e definindo seu itinerário. Diante disso, compreende-se como
objetivo geral desta pesquisa, a intenção de realizar um diagnóstico das ocupações
irregulares e apresentar uma proposta sustentável ao contexto da pesquisa, a
fim de propor adequações dos loteamentos clandestinos existentes em fundos
de vale situados em Umuarama, estado do Paraná.

A amplitude da pesquisa aqui pavimentada, encontra análise específica na


constituição dos objetivos específicos que darão materialidade ao Objetivo Geral.
Como afirmam Marconi e Lakatos (2003, p. 219) os objetivos específicos “apresentam
20

caráter mais concreto, permitindo, de um lado, atingir o objetivo geral e, de outro,


aplicá-lo a situações particulares”. Isto é, ao perscrutar as características históricas,
sociais e ambientais das ocupações irregulares no Brasil e no município de
Umuarama, busca-se propor estratégias e ação com base em identificadores
sustentáveis para a mitigação dos prejuízos causados pelas ocupações irregulares ao
longo do Córrego Prata em Umuarama - PR

2.1.1 Objetivo Específico 1

Tendo em vista a construção articulada do Objetivo Geral e sua relação vertical


e horizontal com os objetivos específicos dessa pesquisa, o Objetivo Específico 1
visa entender como se deu, no tempo, as ocupações irregulares nos fundos de
vale no Brasil e ao longo do Córrego Prata em Umuarama/PR, com base nos
critérios de déficit habitacional.

Este escopo intenta apreender no tempo e espaço, as condições sociais,


ambientais, urbanísticas e econômicas do Brasil, para o amplo entendimento de como
se concretizaram as ocupações irregulares historicamente. Além disso, a referência
de estudo desse objetivo se deu por meio dos dados que orbitam os critérios do déficit
habitacional no Brasil e, também, as várias vertentes de políticas públicas propostas
ao longo de décadas, na tentativa de superar as assimetrias ambientais e sociais no
âmbito da habitação no Brasil.

2.1.2 Objetivo Específico 2

Em vista da concretização do Objetivo Geral, o Objetivo Específico 2,


desenvolvido no capítulo 5, busca caracterizar as ocupações irregulares em fundo
de vale no município de Umuarama-PR, mais especificamente no lócus desta
investigação, a saber, as margens do Córrego Prata, utilizando para isso,
referenciais bibliográficos e levantamento de dados in loco.

A centralidade desse objetivo encontra-se na necessária identificação e


caracterização dos espaços de ocupações irregulares em Umuarama, ao longo do
21

Córrego Prata, pois, por meio de pesquisa in loco, os dados e referenciais teóricos
ganham significado a partir da especificidade do caso estudado.

2.1.3 Objetivo Específico 3

Ao assinalar os principais aspectos socioambientais e econômicos


relacionados às ocupações irregulares em Umuarama, foi possível evidenciar o que
tipifica socioambientalmente a região analisada. Com isso, a concretização do
Objetivo Geral como foco dessa pesquisa se dá na proposição de soluções
sustentáveis para as ocupações irregulares às margens do Córrego Prata em
Umuarama – PR, com base em pesquisa bibliográfica e de campo, considerando
os identificadores para Cidades Sustentáveis.
Para tanto, no capítulo 6, serão desenvolvidas propostas de direcionadores e
estratégias que visam a mitigação da condição social e ambiental da região estudada,
inclusive articulando políticas públicas na área da habitação e meio ambiente. Diante
disso, abaixo apresenta-se o problema gerador e a hipótese dessa pesquisa.

2.2 PROBLEMA E HIPÓTESE

O problema gerador desta pesquisa se apresenta a partir da seguinte sentença:


quais alternativas de moradia e reparação ambiental são viáveis para a
recuperação das margens do Córrego Prata em Umuarama – PR, em vista da
mitigação dos prejuízos ambientais causados pelas ocupações irregulares em
fundo de vale? Algumas outras questões foram aventadas no contexto dessa
problemática como, por exemplo: quais as condições sociais reais das pessoas que
habitam as regiões de ocupação em fundo de vale? Qual é a condição de acesso
desses habitantes aos equipamentos públicos municipais? Qual a relação afetiva
dessas pessoas com o local onde habitam, tendo em vista que muitas delas estão
nessas regiões há décadas? Alternativas de flexibilização e readequação legal, acerca
do uso e ocupação do solo, podem contribuir para solucionar os possíveis impactos
sociais gerados pela recuperação da área de preservação permanente (APP) do
Córrego Prata?
A estes problemas, após breve pesquisa exploratória de cunho bibliográfico,
bem como, com base em leitura do contexto in loco, constitui-se como hipótese que a
22

flexibilização da Lei de uso e ocupação do solo pode contribuir para a mitigação


do problema socioambiental causado pelas ocupações irregulares às margens
do Córrego Prata em Umuarama.

Com isso, as alternativas viáveis para a recuperação e regeneração do meio


ambiente às margens do Córrego Prata, deveriam considerar e prever tal
flexibilização, pois, esta alternativa visa impedir a remoção e o espraiamento dos
moradores das áreas ocupadas. A proposição da criação de um parque linear, projeta
a indução do convívio social entre as várias camadas sociais que compõem a
sociedade umuaramense, o que pode conceber espaços de convívio mais harmônicos
social e ambientalmente.

Diante da imensa empreitada relacionada a este tema, a hipótese orbita a


necessidade de ajudar a solucionar o problema ligado não só ao meio ambiente e sua
degradação, mas também, aos problemas diários enfrentados pelas famílias que
residem nas ocupações irregulares, assim, cooperando com a melhoria ambiental e
social do local de estudo por meio da abordagem técnico-científica.

No sentido ambiental, importa propor medidas mitigadoras com o potencial de


ajudar na recuperação da área degradada do Córrego Prata, além de fazer cessar a
continuidade da degradação por parte da ocupação.

No sentido social, busca-se melhores alternativas, com a finalidade de fornecer


condições de moradia digna1 às pessoas. Além disso, sabe-se que a apropriação do
espaço por parte dos residentes é um forte quesito a se considerar nas propostas. Por
já viverem na região há certo tempo, muitos já criaram “raízes” e um apego emocional
à região. Por isso, oportunizar a reintegração, de forma legal aos cidadãos daquela

1
Importa destacar a compreensão atual de que nem sempre no acesso à moradia se tem,
concomitantemente, acesso à moradia digna, principalmente quando as políticas públicas, sociais e
habitacionais desconsideram que moradia digna “não é apenas um teto e quatro paredes. É aquela
com condição de salubridade, de segurança e com um tamanho mínimo para que possa ser
considerada habitável. Deve ser dotada das instalações sanitárias adequadas, atendida pelos serviços
públicos essenciais, entre os quais água, esgoto, energia elétrica, iluminação pública, coleta de lixo,
pavimentação e transporte coletivo, e com acesso aos equipamentos sociais e comunitários básicos
como postos de saúde, praças de lazer, escolas públicas, etc.” (Ministério Público do Estado do Paraná,
2020).
23

área, gerará melhores oportunidades de socialização por meio do convívio entre eles
e os demais munícipes.

Como é de conhecimento, tais problemas são comuns em várias cidades do


Brasil, por isso, este trabalho tem o potencial de colaborar para a melhoria e
desenvolvimento sustentável do município e do cuidado com os habitantes dessas
cidades.
24

3 METODOLOGIA E O LÓCUS DA PESQUISA

Este capítulo tem por objetivo central apresentar, discutir e descrever a opção
de método e metodologia dessa pesquisa, a fim de proporcionar ao leitor clareza
acerca das referências práticas utilizadas e constituídas nessa investigação, no
sentido de evidenciar as características da abordagem estabelecida na análise das
ocupações irregulares em fundo de vale no município de Umuarama – PR

A opção de método, neste estudo, orbita os referenciais da dialética, dos


quais depreendem pressupostos teóricos de interdependência compreensiva entre o
real (a realidade física e natural), entre a perspectiva social e histórica, além de
abranger as categorias permanentes da contradição, das convergências e
divergências impressas aos sentidos das análises realizadas sobre um objeto de
estudo de caráter social, ambiental e científico.

É nesse sentido, que Santos (2014, p. 02) sugere a identificação de três níveis
de conhecimento, perpassados pela realidade material e a apreensão desse real via
conhecimento científico. O primeiro nível diz respeito à descrição do objeto, etapa
importante a ser contemplada nesta pesquisa, pois este é o caminho da verificação
de tangibilidade do problema relacionado ao objeto. Nessa investigação, este passo
inicial da descrição do objeto se deu, principalmente, no capítulo 4, quando da
contextualização do foco da investigação.

O segundo nível, conforme afirma Santos (2014), equivale a explicação do


objeto de estudo. Partindo sempre de um repertório constitutivo de relações (sociais,
simbólicas, políticas, educativas...), este nível oferece maior aprofundamento analítico
das condições, possibilidades, necessidades, categorização e generalização do
espaço de estudo. Esse processo explicativo ocorreu de modo mais elucidativo no
capítulo 5, principalmente quando da configuração das peculiaridades
socioambientais do lócus da pesquisa.

Por fim, Santos (2014) indica como último nível, o compreensível. Este é o
momento de aprofundamentos, de produção de sentido e relações horizontais e
verticais, que nessa pesquisa equivale a criar associações e conexões
socioambientais dentro e fora do próprio campo do conhecimento da geografia urbana
25

e da sustentabilidade. Nesse sentido, o estágio de verticalização do tema aqui


proposto, ocorre no capítulo 6, momento o qual serão estabelecidas proposições
resolutivas dos problemas alavancados pela pesquisa in loco.

Importa destacar também que, por essa investigação se apropriar de uma


perspectiva dialética da produção do conhecimento científico, os três níveis citados e
considerados referenciais, se apresentam em maior ou menor grau de intensidade ao
longo de todo processo investigativo. Contudo, para cada capítulo, a sistematização
e descrição dos objetivos configurados exigiram o aprofundamento de um ou outro
nível.

Ainda com o objetivo de traçar os passos e oferecer luz ao repertório


fundamental de método e metodologia trazidos aqui, cumpre destacar a predileção
pelas abordagens histórica e monográfica de estudo, tendo em vista a intenção de
materializar o objetivo geral formulado no início desta dissertação.

As abordagens históricas e monográficas, pressupõem que se um


fenômeno ocorre nos dias atuais, é porque ele tem origem no passado (MARCONI;
LAKATOS, 2003) e, por isso, compreende ser a inquirição documental importante para
cercar e compreender tal fenômeno. A abordagem monográfica, por sua vez, sugere
que a produção científica sobre um objeto específico é representativa de muitos outros
e, até mesmo, de todos os casos semelhantes, ou seja, passível de ser reproduzido,
adaptando-o a outra realidade (MARCONI; LAKATOS, 2003).

Diante dessa breve fundamentação de método e indicação da abordagem a


ser utilizada nessa dissertação, importa ressaltar que este estudo teve início com um
levantamento bibliográfico. De acordo com Gil (2017), o levantamento bibliográfico
contribui para o mapeamento teórico-bibliográfico na leitura de um objeto, no sentido
de ser possível explorar o tema proposto com a finalidade da identificação do estado
do conhecimento, isto é, no intuito de identificar quais são os estudos, as discussões
e as respostas já anunciadas por outras fontes e literaturas que orbitam a problemática
projetada.

A pesquisa bibliográfica ocorre por meio de análise e discussão dos assuntos


verificados em obras de referência como livros, teses, dissertações, periódicos
científicos, anais de encontros científicos e artigos relacionados (GIL, 2017).
26

Em momento posterior, a compreensão do tema se deu em campo – pesquisa


in loco, o que comportou uma gama significativa de dados e sentidos locais, sociais,
simbólicos, ambientais e políticos para análise apontada.

Por fim, nos tópicos seguintes serão traduzidos, de maneira sistemática e


descritiva, o itinerário da pesquisa bibliográfica e de campo, objetivando oferecer
entendimento amplo sobre as opções de levantamento e tratamento desses dados na
configuração da pesquisa aqui apresentada, oferecendo sentido ao itinerário
estabelecido nessa pesquisa.

3.1 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO E DOCUMENTAL

O levantamento bibliográfico e sua necessária exploração teórica, ocorreu em


fontes referenciais e canônicas do campo pesquisado (geografia urbana, documentos
oficiais sobre ocupações irregulares em fundo de vale, livros e artigos científicos
qualificados...), com o escopo de pavimentar um caminho sólido para a constituição
da pesquisa.
Os temas foram segmentados e descritos de maneira a identificar cada
demanda e objetivos do trabalho. Num primeiro momento, o tema analisado foi
relacionado ao problema das ocupações irregulares em fundos de vale no Brasil, cujo
objetivo foi analisar a perspectiva dos autores sobre a problemática urbana acerca
das moradias, ocupações irregulares, além dos problemas e das políticas ambientais
aplicadas historicamente no território brasileiro.

Num segundo momento, a pesquisa bibliográfica focalizou os problemas


relacionados à sustentabilidade, desenvolvimento sustentável e questões ambientais
urbanas. A abordagem perpassou pelas relações entre o desenvolvimento, a
configuração da cidade e o cuidado com o desenvolvimento social e cultural; direito
ao trabalho, a atenção ao meio ambiente e aos recursos naturais localizados em áreas
urbanas.

Num terceiro momento, visando atender o que é descrito nos objetivos


específicos, buscou-se também discutir, com base em documentos oficiais e literatura
da área, o contexto e características do déficit habitacional no Brasil e das ocupações
irregulares. O tema foi abordado, a saber, no sentido de avaliar as consequências
27

históricas causadas pela precarização das políticas públicas no país e as


possibilidades de regularização das habitações em espaços de ocupação.

Compreender a origem da situação contribuiu, sobremaneira, na


fundamentação da necessidade de um plano / proposta de ação para verificar as reais
necessidades em cada microrregião do país, afunilando o cerne da investigação para
cidade de Umuarama.

Com relação à caracterização e identificação da área a ser estudada, foi


realizado um levantamento sobre as ocupações irregulares em fundo de vale no
município de Umuarama no Estado do Paraná. Para a realização das análises e
levantamento de dados documentais, foram utilizados relatórios do Relatório sobre
as Áreas de Preservação Permanente do Ministério do Meio Ambiente (2020) e,
mais especificamente sobre a situação das áreas irregulares no Paraná e no município
de Umuarama, relatórios da COHAPAR (2019) e dados do setor de Diretoria de
Habitação da Prefeitura de Umuarama, cedidos pela próprio Departamento,
UMUARAMA (2018).

Inicialmente foi realizado o levantamento das ocupações clandestinas e


irregulares existentes no município de Umuarama, conforme representadas na Figura
01, no capítulo 5. A partir da identificação do local das ocupações, foi possível
analisar condicionantes quanto a sua inserção, serviços e equipamentos públicos
ofertados, riscos ambientais entre outras variáveis.

O levantamento bibliográfico e documental apontou também, a localização


das ocupações irregulares, suas nuances sociais e históricas na região pesquisada,
além da intensidade dos problemas urbanos, sociais e ambientais que cercam os
contextos de ocupação.

Ao mesmo tempo, foi possível verificar algumas alternativas para a resolução


desses impasses. O levantamento revelou os tipos de problemas ambientais que mais
afetam o meio urbano como, por exemplo, o uso e ocupação inadequados do solo, os
quais comprometem os cursos d’água, conforme apresentado no Gráfico 01.
28

Gráfico 01 – Condições da localização das ocupações existentes no município .

Fonte: Autor (2020). Com base nas informações da COHAPAR (2019).

A análise ilustra os principais fatores negativos causados pelas ocupações


irregulares em fundos de vale e seu prejuízo ao meio ambiente. Assim, ao analisar as
condições de salubridade dos locais das ocupações irregulares, de acordo com as
informações adquiridas nos Documentos da COHAPAR (2019), observou-se que
estes oferecem baixos riscos sociais e ambientais onde estão inseridas. A Tabela 01
demonstra claramente essas condições.

Tabela 01 – Riscos relacionados ao local da ocupação.

Fonte: Autor (2020). Com base no Documentos da COHAPAR (2019).


29

A partir da análise detalhada dos documentos do órgão oficial do Estado do


Paraná, responsável pela política de habitação, a Companhia de Habitação do Paraná
(COHAPAR), observa-se que dos serviços ofertados para a população que reside nas
ocupações existentes nos fundos de vales na cidade de Umuarama, quase todas
estão atendidas de forma precária.
A ausência parcial ou total do esgotamento sanitário é o flagelo sanitário mais
cruel imposto não só ao meio ambiente, mas também aos moradores da região, pois
estes, por vezes, não possuem outra escolha a não ser dispor os resíduos gerados
diretamente no córrego sem nenhum tratamento.
Tais informações alavancadas na análise documental podem ser verificadas
sinteticamente na Tabela 02. Esta apresenta os serviços públicos ofertados nas
ocupações irregulares.

Tabela 02 – Condição dos serviços públicos existentes nas ocupações irregulares do município .

Fonte: Autor (2020). Com base nas informações da COHAPAR (2019).

Outro dado proveniente da qualificação do tratamento das informações


estabelecido no levantamento bibliográfico e documental, refere-se aos equipamentos
públicos. É possível verificar que estes são oferecidos no entorno das ocupações e
estão presentes em áreas consolidadas em um raio de até mil metros da localização
da ocupação irregular. Estes dados foram tratados e consubstanciados, para maior
clareza e evidência, na Tabela 03.
30

Tabela 03 – Equipamentos existentes no entorno das ocupações irregulares do município.

Fonte: Autor (2020). Com base nas informações da COHAPAR (2019).

Cumpre destacar que o levantamento bibliográfico e documental, sua análise


e tratamento foram imprescindíveis para categorizar e caracterizar o contexto
ambiental, social e de atuação dos órgãos públicos nessas regiões de ocupação
irregular em fundo de vale. Desse modo, o estudo avançou para a configuração da
pesquisa de campo, alicerçada nos referenciais aqui dispostos e que terá, no próximo
tópico, sua descrição e detalhamento.

3.2 DEFINIÇÃO DO LÓCUS DA INVESTIGAÇÃO

A definição do recorte da pesquisa empírica se deu, como citado anteriormente,


com base na análise e entrelaçamento dos dados teóricos e documentais, além de
alguns pressupostos estabelecidos pelo conhecimento prévio da região onde a
pesquisa aconteceu, isto é, na predileção pela verificação dos problemas
socioambientais históricos presentes no entorno e na cidade de Umuarama.
Outro componente fulcral importante no estabelecimento do recorte da
investigação, foi a propensão pela compreensão e destaque das temáticas que
circundam o tripé da sustentabilidade (ambiente, economia e sociedade), pois, esta
ofereceu, na prática, referenciais e indicadores para diagnósticos indispensáveis na
31

convergência de fatores sociais, ambientais e econômicos acerca de uma proposição


para a mitigação dos problemas atuais que assolam a área pesquisada.

Com base nisso, a escolha do local dessa pesquisa pautou-se, também, na


averiguação da malha urbana relacionada aos fundos de vale existentes no município,
pois, como apresentado no Gráfico 01, cinquenta e seis por cento (56%) das
ocupações irregulares encontram-se em áreas de preservação permanente (APP), o
que torna o problema das ocupações ainda mais grave, considerando serem estas
áreas importantíssimas para a preservação dos recursos e bens naturais de uma
região.

Um aspecto considerado foi a identificação da existência de interferências


antrópicas com infraestruturas próximas ao leito natural do córrego. Quando
comparado o Córrego Prata com o Córrego Pinhalzinho (Estádio) e o córrego Mimosa
(Bosque dos Xetás), os dois últimos locais já sofreram grande interferência vinculadas
à infraestrutura, desta maneira o córrego Prata (Figura – 01) foi o que menos sofreu
descaracterizações quanto ao seu leito natural.

Figura 01 – Afluentes do Córrego Pinhalzinho e Recorte da pesquisa – Córrego Prata.

Fonte: PDM (2020). Adaptado pelo Autor (2020).

Outro fator que contribuiu para a eleição do local da pesquisa, tem a ver com
a comprovação da existência de duas tipologias de loteamento, as quais são de
32

interesse investigativo nesse estudo, ou seja, os loteamentos irregulares e os


loteamentos clandestinos, possibilitando, assim, um exame agregador dos aspectos
e focos relacionados ao tripé da sustentabilidade, com dimensionamento mais
assertivo quanto à degradação ambiental e sua correlação com a questão social
influente na situação da população menos favorecida, presente nessa área, conforme
a Figura 02.

Figura 02 – Ocupações Irregulares e clandestinas ao longo do córrego Prata.

Fonte: UMUARAMA (2020). Adaptado pelo Autor (2020).

Desta maneira, o recorte da pesquisa visou avaliar o leito de todo o Córrego


Prata, porém dando ênfase principalmente às ocupações apresentadas na Tabela 4,
na qual são apresentadas informações quanto as principais áreas de degradação do
córrego.

Tabela 04 – Loteamentos Clandestinos e Irregulares às margens do córrego Prata.

Fonte: Autor (2020). Com base nas informações da COHAPAR (2019).


33

Desse modo, destaca-se que a escolha do local de estudo priorizou a


perscrutação dos aspectos históricos, ambientais, sociais e culturais da região,
culminando na caracterização da atual situação das ocupações irregulares em fundo
de vale na cidade de Umuarama. Foram identificadas e mapeadas as principais bacias
urbanas do município com base em dados do Plano Diretor. Além disso, considerou-
se o momento histórico em que tais ocupações irregulares se deram e que
apresentam elementos para uma verificação no contexto atual.

Posteriormente, com base nas pesquisas exploratórias, ocorreu também a


descrição das características observadas. Essa etapa é denominada por Gil (2017)
como sendo parte da pesquisa descritiva, momento o qual o pesquisador estuda as
características de um grupo ou uma comunidade sob diversos critérios, aspectos e
dimensões, como sua distribuição, procedências, condições de habitação, situação
econômica, relação com o meio ambiente local, etc.

Diante disso, no item 5.2 dessa dissertação, foi constituída uma ampla
caracterização empírica das ocupações irregulares às margens do Córrego Prata no
município de Umuarama – PR, lócus da pesquisa. O objetivo principal foi a
identificação geográfica e a verificação das conjunções socioambientais no local de
estudo. Para tal, ocorreram visitas in loco com o intuito de avaliação visual e registros
fotográficos, a fim de incluir na caracterização a atual situação socioambiental a qual
se encontra a área.

Como a pesquisa ocorreu com o objetivo de ilustrar, de forma prática e


empírica, a caracterização das ocupações irregulares nos fundos de vale a partir de
um recorte regional, o levantamento e registro fotográfico permitiram ordenamento
diretivo essencial na elucidação dos aspectos constituidores para uma verificação
segura e atual dos espaços da pesquisa.

Entre tantos dilemas socioambientais identificados, sublinha-se aqueles


associados à degradação das margens do córrego, assoreamento e poluição
advindos das casas construídas no seu entorno, a deposição e o descarte inadequado
e ilegal de resíduos sólidos, o despejo de esgoto sanitário sem tratamento no leito do
34

córrego, entre outros problemas socioambientais que foram descritos no tópico 5.2.2
(da caracterização do entorno do local de estudo).

Por fim, como consequência do diagnóstico estabelecido na pesquisa empírica,


a fase II da sistematização desse estudo versou sobre propostas para revitalização e
adequação da área estudada, consolidadas por indicadores referenciais para cidades
sustentáveis. O capítulo final discorre sobre a conceituação de cidades sustentáveis
e as discussões acerca da Agenda 2030 com relação à premissa sobre a constituição
de cidades e assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes,
operacionais/efetivos e sustentáveis.

O tema, aprofundado no capítulo 6, lança luz sobre o importante assunto da


modelagem urbanística em vista da sustentabilidade socioambiental que depende de
uma verticalização do diálogo entre as Leis de Zoneamento, Plano Diretor e
Legislação Ambiental, principalmente quando se refere ao licenciamento de
empreendimentos e o cuidado com as políticas públicas de não espraiamento de
grupos sociais assentado ou reassentados.

Ao concluir o tópico sobre a definição do lócus de investigação do estudo, ora


apresentado, importa descrever na seção seguinte, o passo a passo do itinerário
desenvolvido na pesquisa, com o propósito de oferecer maior entendimento acerca
do processo realizado, com o escopo de materializar o objetivo geral, aqui formulado,
a saber, realizar um diagnóstico das ocupações irregulares e apresentar uma proposta
sustentável ao contexto da pesquisa, afim de propor adequações dos loteamentos
clandestinos existentes em fundos de vale situados em Umuarama, estado do Paraná.

3.3 LEVANTAMENTO DE DADOS NA PESQUISA DE CAMPO

Cabe, neste espaço, realizar a descrição do processo de levantamento dos


dados empíricos da pesquisa realizada in loco e, para tanto, interessa destacar que
tal proposta de pesquisa foi inicialmente planejada e estabelecida com base no
referencial bibliográfico e documental, já discutidos neste capítulo, o que por usa vez,
ofereceu condições para a proposição da pesquisa de campo com um recorte urbano
e ambiental peculiar, pela sua característica alinhada a problemática e objetivo geral
deste estudo.
35

Assim, para atingir os objetivos específicos concebidos nessa investigação a


partir do levantamento bibliográfico, o itinerário da pesquisa se deu em duas fases
distintas:

I – Caracterização e identificação da área a ser estudada: - realização de visitas


e análise de documentos e relatórios de órgãos públicos municipais e estaduais; -
descrição dos dados com a caracterização das ocupações irregulares em fundo de
vale, presentes no local de estudo (localização geográfica, mapas, coordenadas, entre
outros), e;

II - Propostas para revitalização e adequação da área estudada: - discussão da


conjuntura teórica e empírica, a ser aprofundada no capítulo 6, como direcionadores
possíveis na constituição de propostas de revitalização da região de ocupação
estudada, em consonância com os indicadores de uma sociedade sustentável.

Assim, os passos foram estabelecidos para compor uma estrutura investigativa,


no sentido de dar corpo aos dados atualizados da região de pesquisa, inclusive
contrapondo ou referendando as informações dos relatórios oficiais no que concernem
às condições reais dos aspectos ambiental, de infraestrutura e habitacional da região
em foco.

3.3.1 Pesquisa Exploratória

Após a definição do recorte da pesquisa, o primeiro movimento necessário para


pavimentar sua base empírica foi contatar os responsáveis pelos órgãos oficiais
municipais e estaduais, que integram a equipe técnica e diretiva na formulação das
políticas públicas no que tange aos problemas socioambientais presentes nas
ocupações irregulares em fundo de vale.

Assim, em contato com a Sanepar2, no segundo semestre de 2019, para


levantamento de informações sobre a disponibilidade de água potável e tratamento
de esgoto na região, esta solicitou registro de protocolo junto à Prefeitura para
oficializar a pesquisa nas comunidades estabelecidas às margens do Córrego Prata.
Tal solicitação foi realizada informalmente ainda no segundo semestre de 2019, pelo

2
COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARANÁ.
36

pesquisador, em contato com a Diretoria de Habitação e Diretoria do Meio Ambiente


da Prefeitura Municipal de Umuarama.

Na ocasião, a intenção era dispor de imagens capturadas por drones e de


auxílio técnico do Sanepar, instituição que detém o direito de captução e tratamento
da água e esgoto no Estado do Paraná. Contudo, por conta do acometimento
pandêmico pelo Novo Coronavírus no início de 2020, tornou-se inviável o trabalho
conjunto do pesquisador com os representantes dos órgãos públicos oficiais.

Com o isolamento social e o risco de contaminação, houve dificuldade para o


levantamento de dados com as parcerias pensadas no momento da pesquisa
exploratória (investigador e técnicos dos órgãos públicos), além do fato de vários
componentes das equipes desses órgãos terem sido contaminados e colocados,
consequentemente, em quarentena. Portanto, sem a possibilidade de os técnicos
interagirem com outras pessoas e o pesquisador, o levantamento de dados in loco se
fez de maneira independente.

Com isso, a pesquisa de campo com a visita aos locais, o levantamento de


dados, a captura de imagens e seu posterior registro, aconteceram sem o apoio
técnico dos responsáveis legais pelas políticas públicas do âmbito socioambiental do
município.

3.3.2 A Pesquisa de Campo

A pesquisa de campo, nesse estudo, visou compor perspectivas


multifacetadas da condição socioambiental e característica da região pesquisada,
pois, o diagnóstico qualificado, atualizado e referendado nas condições reais da
população e do meio ambiente local pôde oferecer possibilidades de prognósticos
acerca de propostas coerentes aos princípios da sustentabilidade, além de conectar
as necessidades sociais e ambientais pungentes e que assolam a vida das pessoas
e da flora na área urbana pesquisada.

Desse modo, a investigação de campo teve por escopo:

(i) entender o que mudou na última década, tendo em vista que os dados
oficiais e relatórios estabelecidos no ano de 2010 previa avanços socais e
intervenções dos órgãos públicos do Município, no sentido de garantir maior
37

atenção e cuidado ao meio ambiente local. Objetivou-se, também, verificar


se as áreas antes ocupadas foram recuperadas e se permanecem livres de
novas ocupações.

(ii) estabelecer contato informal com os moradores da região, com vistas à


caracterização do local para apreensão necessária com o propósito de
abarcar diversas perspectivas do local da pesquisa, isto é, perceber a
segregação socioespacial da área foco da inquirição.

Nesse sentido, o itinerário da pesquisa foi traçado para concretizar o âmago


da análise aqui proposta, por isso, o registro fotográfico deu-se, inicialmente, na
junção entre o Córrego Prata e Pinhalzinho, na parte mais larga do Córrego e em
sentido contrário do fluxo do leito, em direção à nascente.

A premissa que sustentou essa trajetória, fundamentou-se na ideia de que a


cabeceira do Córrego seria uma área mais limpa e protegida, pelo bem natural que
esta representa. Contudo, isso não se comprovou, visto que ao avançar na direção do
leito do Córrego, se evidenciou outras formas de poluição das águas, principalmente
do uso inadequado do solo, com estabelecimento de espaços cercado, depósito de
resíduos sólidos secos e contaminação da água ao longo de todo fluxo do Córrego,
bem como, na cabeceira.

O passo seguinte foi adentrar nas ocupações irregulares. Foi possível


identificar características comuns entre as áreas de ocupação irregular e as regiões
de ocupação irregular consolidadas. A análise explorada no capítulo 5, mostra que as
nuances são pequenas na relação entre as duas tipologias de uso e ocupação do
solo.

Na margem esquerda (Parque Laranjeiras) do Córrego Prata - local da


pesquisa - não foi possível adentrar na mata para acessar o leito do Córrego, pois a
vegetação é muito densa e a encosta muito íngreme impossibilitando o acesso. Deste
modo, foi necessário transpor a margem através da ponte do segundo acesso do
córrego no sentido do Jardim Porto Belo (margem direita) para poder chegar ao
Córrego Prata.
38

Por fim, ao acessar o leito do córrego, foi possível caminhar sobre ele e
constatar um grande acúmulo de dejetos e restos de resíduos orgânicos. Entretanto,
foi possível observar nascentes vertendo limpidamente, o que indica ser urgente uma
ação de recuperação ambiental na região, possibilitando ao córrego a chance de
regeneração a médio e longo prazo.

Ao concluir este capítulo com núcleo intencional, específico e estratégico na


metodologia da pesquisa, é possível indicar que alguns elementos essenciais se
depreendem para aprofundamento de conexões teóricas de cunho tanto verticais –
relação com a ciência geográfica, urbanística e ambiental – quanto horizontais, isto é,
questões sociais, habitacionais, econômicas e das políticas públicas.

Nos capítulos que se seguem, serão tecidas relações nos diversos âmbitos
da esfera urbana, ambiental e habitacional, em vista da constituição de propostas
sustentáveis (social e ambiental) para a recuperação da região estudada.

Para tanto, no capítulo seguinte, tem-se a proposta de discutir com amplitude


teórica e documental, o problema das ocupações irregulares em fundo de vale no
Brasil e a conjuntura social, econômica, ambiental e das políticas públicas que
permeiam os dilemas e impasses históricos pujantes acerca do déficit habitacional no
país.
39

4 O PROBLEMA DAS OCUPAÇÕES IRREGULARES EM FUNDOS DE VALE NO


BRASIL

Este capítulo tem por foco analisar alguns estudos realizados por pesquisadores
na área de urbanização e geografia urbana, com foco na compreensão da complexa
problemática relacionada às ocupações irregulares no Brasil e, consequentemente,
ao longo do córrego Prata em Umuarama/PR.

A complexidade existente e relacionada ao problema das ocupações irregulares


de fundo de vale no Brasil se dá, principalmente, pelo lastro de tempo o qual remonta
essa prática. Nem sempre, na história da utilização do solo no Brasil, o uso e a
ocupação dos espaços da cidade onde estão os cursos d’ água foram enfrentados
como inadequações estruturais e com potencial risco ambiental.

Foi no período da colonização portuguesa que os núcleos urbanos se


estabeleceram e, como foi comum em vários países do mundo, tais núcleos se
consolidaram em regiões onde haviam rios ou cursos d’ água que desembocam no
litoral. Essa estratégia demográfica atendia à necessidade de garantia de defesa e
deslocamento onde os poderes políticos e econômicos se organizavam, no intuito de
conceber projetos de enriquecimento local.

Contudo, nas dez últimas décadas, mas principalmente a partir da década de


1960, houve grande transformação na constituição da demografia brasileira. A
primeira transformação diz respeito ao fato de que em torno de 40% da população
brasileira vive, hoje, nas áreas metropolitanas, sobrecarregando os recursos hídricos
e naturais das cidades, além de tornar extremamente desiguais espaços onde a
riqueza e a miséria convivem de maneira muito próximas, (CORRÊA; VASQUEZ;
VANZELA, 2018, p. 458).

A segunda delas equivale à mudança da relação de convivência com o espaço


natural dos citadinos, suas habitações e dos empreendimentos imobiliários e
industrias com os cursos d’ água local. Ou seja, o modelo de “produção das cidades
brasileiras é fruto de um urbanismo de risco, caracterizado pela produção espontânea
de habitação de baixa qualidade” (CORRÊA; VASQUEZ; VANZELA, 2018, p. 458).
40

Isto ocorre porque a prática harmônica do uso dos recursos naturais locais ao
longo dos séculos de colonização, passou por uma depreciação de perspectiva
política e ambiental, além da desarticulação de um formato de estrutura de
crescimento urbano, pois, antes reconhecidas como “áreas importantes para o
cotidiano dos primeiros núcleos urbanos, os fundos de vale passaram a ser
causadores de inúmeros problemas ambientais, como enchentes, e, por
consequência, de saúde pública (CORRÊA; VASQUEZ; VANZELA, 2018, p. 460).

Por isso, discutir esse grave problema socioambiental em Umuarama, requer


uma verificação do uso político e social do solo; dos projetos urbanos acerca da
propositura da sustentabilidade nos espaços de ocupação e, fundamentalmente,
entender como as condições econômicas e de desigualdades interferem e
recompõem projetos urbanos no trato com os espaços ocupados nos fundos de vale.

Cabe, desse modo, avançar acerca do entendimento do problema histórico,


urbano e socioambiental que perfaz as ocupações de fundo de vale no Brasil e em
Umuarama, lócus dessa pesquisa, tendo em vista que, se por um lado as ocupações
irregulares são condições de uso do solo que divergem dos critérios estabelecidos por
legislação específica e pelos orientadores definidos no Plano Diretor local, por outro
lado, esses espaços se caracterizam pela carência de estrutura para construção de
casas ou comércios; de fiscalização necessária ao cuidado e preservação do
ambiente local, problema agravado pelas construções que desconsideram as
determinações legais relacionadas à proteção ambiental, muito comuns inclusive, em
construções de luxo nos espaços onde não são permitidas qualquer tipo de habitação
e construção. É por isso que

A falta de estrutura operacional dos órgãos administrativos para promover o


controle e a fiscalização sobre as áreas de preservação permanente, as áreas
non aedificandi e as áreas de interesse ambiental, protegidas por leis
municipais, aliadas à ausência de planejamento e de políticas públicas
destinadas a proporcionar moradias dignas a todas as pessoas, permitiu a
ocupação clandestina e irregulares desses espaços (VARGAS;
NASCIMENTO, 2010, p. 350).

Assim, com o intuito de materializar o escopo deste capítulo, importa indicar o


objetivo geral desta investigação, a saber: realizar um diagnóstico das ocupações
irregulares e apresentar uma proposta sustentável para a adequação dos loteamentos
41

clandestinos existentes em fundos de vale situados em Umuarama/PR. Para isso, o


objetivo específico proposto neste capítulo visa entender como se deu, no tempo,
as ocupações irregulares nos fundos de vale no Brasil e ao longo do Córrego
Prata em Umuarama/PR, com base nos critérios de déficit habitacional.

Diante disso, a organização desta sessão terá por base, num primeiro
momento, a discussão sistemática sobre o eixo sustentabilidade e os problemas
ecológicos das cidades, além das proposituras globais para a definição coletiva de
ações para a resolução dos problemas relacionados à urbanização, meio ambiente e
moradias irregulares.

Nesse momento, será imprescindível identificar as conexões, divergências e


convergências entre a esfera micro e macro, no que toca à planificação das
instituições de atuação mundial para a compreensão e parametrização de
concepções, normatizações e estratégias na superação dos desafios históricos,
envolvendo vários países e suas cidades sobre a Sustentabilidade e o
Desenvolvimento Sustentável, partindo dos conceitos de Crescimento.

Num segundo momento, o estudo avança para a apreciação dos dados


históricos, aspectos econômicos e ambientais no contexto nacional e local, no que se
configura como política de habitação social à luz da discussão sobre o déficit
habitacional no Brasil e na região de recorte dessa pesquisa. Tal análise será
permeada, por um lado, pelas características da cidade formal, isto é, aquela
estabelecida pelas construções legalizadas e com infraestrutura adequada às
necessidades dos citadinos e, por outro lado, na compreensão da cidade informal, ou
seja, dos espaços urbanos que não contam com estrutura e infraestrutura adequadas
para atender as carências sociais dos moradores da cidade e sua relação com o déficit
habitacional.

Além disso, esse tópico oportunizará a abrangência analítica em relação à


atuação do Poder Público na resolução do problema da pobreza e do déficit
habitacional que, historicamente, produzem espaços de ocupação e moradias
inadequadas, bem como comprometem e destroem potencialmente o meio ambiente
local.
42

Por fim, num terceiro momento, a conclusão deste capítulo contará com a
análise, mesmo que breve e com base na literatura da área, sobre as alternativas
sistematizadas em vista do restabelecimento do meio ambiente nos espaços de
ocupação irregular, com a finalidade de apontar possibilidades resolutivas para o meio
geofísico urbano definido como objeto de estudo e recorte da pesquisa em curso, isto
é, a cidade de Umuarama/PR.

4.1 SUSTENTABILIDADE, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E PROBLEMAS


AMBIENTAIS URBANOS

A composição teórica do estudo aqui proposto, conduz a um diagnóstico amplo


sobre a imprescindibilidade presente e convergente entre uma configuração urbana
produtora, mas que se estabelece também como espaço de vivências de direito à
cultura, ao trabalho e ao desenvolvimento social, bem como ao cuidado com o
ambiente e aos recursos naturais locais.

O tripé Economia, Sociedade e Meio Ambiente fundamenta essa pesquisa, pois


este direciona a compreensão estatuída dentro da condição do desenvolvimento
urbano, humano e social – embora ainda pouco efetiva nas práticas da gestão urbana
– de que o meio ambiente é local de existência comum das relações entre os seres
humanos e não humanos, sencientes e não-sencientes3.

Por isso, além da condição material de permanência e existência dos seres, o


meio ambiente é também simbólico e constituído de significados referendados por
uma ampla gama de valores, sentidos e utilidades que estão atreladas a tempos e
espaços produzidos pelos seres humanos e ressignificados constantemente.

Por isso, não é imprudente afirmar ser a discussão em torno da sustentabilidade


razoavelmente complexa, já que este termo consiste em significados plurais e
diacrônicos que excedem um debate superficial ambiental ou até mesmo irrelevante
acerca das crises socioeconômicas experienciadas pelas sociedades ao redor do
mundo e pela sociedade brasileira. O debate desta temática fomenta uma “reflexão

3
De acordo com TORRA (2018, p. 115), “os conceitos senciência e não-senciência referem-se a uma
linha de pensamento ético utilitarista que sugere que os seres que possuem sensações, ou seja,
aqueles que sentem, devem ser respeitados na sua vida”, pois são possuidores de um valor existencial
inerente. Tal perspectiva se estende a todos os seres vivos do planeta.
43

crítica sobre o modo de funcionamento da sociedade contemporânea e pressupõe


também um posicionamento político e ideológico” (IRVING, 2014, p.16).

Nesta perspectiva, a questão do habitat é pertinente no que se refere ao


desenvolvimento social. Isto porque, ao longo da história, evidenciou-se na relação
entre ser humano e natureza, notadamente no Ocidente, dicotomias crescentes
acerca daquilo que o humano encontrou como desafios para sobrevivência e o modelo
produtivo estabelecido, principalmente a partir das Revoluções Burguesas no que
tange ao uso dos recursos naturais e da exploração da vida em todas as suas formas.

Tal processo se aprofundou após a Revolução Científica (séc. XVI) na Europa


quando, por meio da racionalidade instrumental, o ser humano recoloca a si mesmo
numa posição de superioridade e outorga o pseudo direito do humano ao uso
deliberado da natureza que, por meio do conhecimento científico, deveria ser
subjugada e explorada ao máximo pelos conhecedores da técnica. Nessa fase
histórica da humanidade, o antagonismo entre natureza e vida humana se constitui
visceralmente como condição sine qua non para a produção de bens, uso dos
recursos naturais e possibilidade de desenvolvimento econômico e social das nações
pautado no princípio da exploração e crescimento exacerbado apesar das
circunstâncias ambientais.

A superação parcial dessa concepção começa a tomar corpo na segunda


metade do século XX, quando uma nova racionalidade emerge com base em estudos
inter-relacionados aos vários campos do saber, ao indicar a interdependência
existencial entre humano e natureza, reordenando, assim, a percepção da não
possibilidade de desconsiderar o cuidado com o meio ambiente para a garantia de um
crescimento sustentável das sociedades humanas, visto ser esse importante princípio
também extensivo e consequente à vida humana. Isto é, configura-se, a partir desse
momento, a noção de que o ser humano não se dissocia do ambiente, contrapondo-
se a ele, mas é parte integrante deste.

Assim, quando se fala em conservação ambiental, por exemplo, faz-se


referência, por consequência, também à conservação da própria espécie humana
(AMORIN, 2004, p. 04).
44

Nessa esteira histórica, produtiva e cultural, desenvolve-se uma alargada


polissemia sobre o conceito de Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável, visto
que ambos os termos carregam uma extensa e complexa significância econômica e
social, ainda hoje repletas de lacunas em diversos níveis de abrangência. É na década
de 1970, de acordo com Amorin (2004, p. 09), que se elucida, entre teóricos, a
percepção da ambivalência e associação entre os termos Sustentabilidade e
Desenvolvimento Sustentável.

Ao destacar o conceito de Sustentabilidade neste capítulo, torna-se propositiva


a compreensão de que, numa pesquisa de cunho empírico e bibliográfico como esta,
tal verticalidade terminológica contribui para a clareza conceitual do caráter
socioambiental presente na investigação, pois, com base na polissemia evidenciada,
vale formular um direcionador para a intenção desse estudo, a saber, a construção de
um projeto urbano sustentável no espaço físico definido – lócus da pesquisa –
prevendo impacto cultural, ambiental e social positivos e significativos.

Acerca do termo Sustentabilidade, Capra (2003) em entrevista para a Revista


Brasileira de Saneamento e Meio Ambiente, afirma que este surge com o estudioso
Lester Brown, na década de 1980, quando o autor sustenta tal conceito como sendo
a materialização da característica das “comunidades que satisfazem suas
necessidades sem comprometer as das gerações futuras” (CAPRA, 2003, p. 38). Esta
concepção nasce como consequência, segundo Veiga (2010, p. 115),

[...] do debate – principalmente americano, na década 1960 – que polarizou


‘crescimento econômico’ versus ‘preservação ambiental’, integralmente
impregnado por um temor apocalíptico da ‘explosão demográfica’, mesclado
ao perigo de uma guerra nuclear ou da precipitação provocada pelos testes.

Assim, ao discutir sobre uma compreensão mais dilatada do conceito de


sustentabilidade e sua construção histórico-contextual, o autor supracitado indica ser
as divergências comuns às propostas normatizadas de uma ação sustentável,
ordenada e efetiva no mundo, empecilho real na compreensão coletiva sobre a
impossibilidade imediata de conciliação da conservação da natureza e do crescimento
econômico. Em outras palavras, a ingenuidade com a qual a questão da
Sustentabilidade é tratada por países, instituições, mercado financeiro, fábricas,
ideologias, poder público e administrações locais é o maior entrave para se constituir
45

soluções relevantes de interdependência positiva entre humano e natureza. Assim,


“para que a utilização desse adjetivo não seja tão abusiva, é fundamental que seus
usuários rompam com a ingenuidade e se informem sobre as respostas disponíveis
para a pergunta ‘o que é sustentabilidade’” (VEIGA, 2010, p. 113).

Cumpre indicar ainda que Sachs (1994) apresenta cinco dimensões essenciais
e orientadoras da Sustentabilidade, enunciadas como pressupostos da dinâmica e
mutabilidade comum entre o ser humano em suas necessidades sociais e
econômicas. Tais dimensões são interdependentes e realimentadoras de uma prática
de desenvolvimento sustentável, imprescindíveis aos desafios sociais e ambientais
peculiares à vida urbana e, para realizar sua função socioambiental, precisam ser
considerados concomitantemente. São eles: sustentabilidade social; sustentabilidade
econômica; sustentabilidade ecológica; sustentabilidade espacial (ou geográfica) e
sustentabilidade cultural (SACHS, 1995).

De acordo com o autor citado, a discussão sobre os princípios da


Sustentabilidade e do Desenvolvimento Sustentável devem precisar um discurso e
prática normativos que definam critérios claros de equilíbrio e uso dos recursos
naturais em países com abundância e em países com escassez de capital natural.
Para isso, é necessário considerar aspectos como:

[...] O contexto histórico e cultural. O desenvolvimento deve ser apreendido


em sua dinâmica processual; o contexto ecológico, a diversidade climática e
biológica bem interpretadas traduzem-se por um potencial de recursos que
podem ser aproveitados pelo desenvolvimento sem destruir em demasia o
capital da natureza, já que o laço entre a diversidade natural e a cultural é
bastante estreito; de fato, não se pode negar que uma face importante da
própria cultura, para uma sociedade, diz respeito ao conhecimento que ela
tem sobre seu meio natural. Enfim, o contexto institucional, no sentido amplo
do termo, que reflete a organização da sociedade humana (SACHS, 1995, p.
10).

Cabe, portanto, maior compreensão e consciência dos limites peculiares


(locais) dos ecossistemas e da sua fragilidade ao aplicar como parâmetros e
referenciais de ação e gestão urbana as dimensões do desenvolvimento sustentável,
pois estas podem contribuir para maior eficácia nos processos de estruturação e
planificação local às propostas de viabilização de projetos em meios geofísicos
urbanos, cuidados e pensados em equilíbrio com as pessoas, com o ambiente, com
o lazer, com a cultura e com respeito à vida.
46

É nesse sentido que a dimensão destacada sobre a sustentabilidade espacial /


geográfica, articula e apregoa a necessidade de obtenção de uma configuração
urbana e rural harmônica, dirigida para uma maior e melhor distribuição do território
no que toca aos assentamentos humanos e às atividades econômicas. Isso se daria
com base em redução das concentrações urbanas e industriais, focalizando a
proteção dos ecossistemas locais e da biodiversidade, aplicando técnicas produtivas
e de uso do capital natural modernas, priorizando assim, a regeneração e
autopreservação da natureza (AMORIN, 2004).

Nessa conjuntura, o nexo teórico que cerca a concepção e os traços do


Desenvolvimento Sustentável depreendem-se do amplo espectro socioeconômico
vivido e estabelecido nas cidades, pois estas, ao serem espaços de cumprimento da
cidadania na sua abrangência política, reconfigura as condições e relações do
humano com o ambiente, dimensão fulcralmente concebidas nas ambiências urbanas
e ambientais – largamente significadas, ao longo do século XX, pelas premissas da
sustentabilidade.

Layrargues (1998) defende que, diferente dos movimentos ambientalistas4, a


escolha atual no que tange ao pensamento ecológico e o desenvolvimento está,
especificamente, no tipo de crescimento que se pretende solidificar, dependente
essencialmente do sistema produtivo validado. Isto porque, tal escolha se dá
exatamente no “tipo de desenvolvimento que se deseja implementar de agora em
diante, uma vez que após a criação das tecnologias limpas [...] desenvolvimento e
meio ambiente deixaram de ser considerados como duas realidades antagônicas, e
passaram a ser complementares” (LAYRARGUES, 1998, p. 02). Para o autor, o termo
precursor do Desenvolvimento Sustentável remonta a 1973, aplicado a uma prática
de organização das áreas rurais comuns ao Terceiro Mundo. Este conceito

[...] parte da premissa deste modelo se basear em três pilares: eficiência


econômica, justiça social e prudência ecológica. O ecodesenvolvimento
coloca-se a décadas ou mesmo séculos adiante. Entende que a satisfação
das necessidades das gerações futuras deve ser garantida, isto é, deve haver
uma solidariedade diacrônica sem que, no entanto, comprometa a

4
De acordo com MILLER; SPOOLMAN (2012, p. 07), os movimentos ambientalistas se caracterizam
como “movimentos sociais dedicados a proteger os sistemas de suporte à vida na Terra”. Desse modo,
de acordo com os autores, o ambientalismo é praticado mais no âmbito político e ético do que no da
ciência.
47

solidariedade sincrônica com a presente geração, já por demais sacrificada


pelas disparidades sociais na atualidade (LAYRARGUES, 1998, p. 08).

Ademais, o termo Desenvolvimento Sustentável logrou êxito conceitual no


mundo quando da publicação do Relatório Brundtland (Word Commission on
Environment and Development) em 1983, quando este defendeu a necessidade de
um crescimento econômico das sociedades humanas em equilíbrio e harmonia com
o meio ambiente ao indicar a necessidade de respeito às suas condições de auto
recuperação e regeneração, ou seja, a ação humana não deve impedir a natureza de
gerar vida.

Este mesmo relatório preconiza a composição de estratégias mundiais para se


efetivar o desenvolvimento sustentável, movimento este sem sucesso inicial. Foi
apenas no Brasil com a ECO-92, Conferência das Nações Unidas para o
Desenvolvimento e Meio Ambiente, que foram detalhadas e estabelecidas de modo
evidente, estratégias para promover o Desenvolvimento Sustentável (DS). A
morosidade e ineficiência, além de inconveniências de concepção aplicadas ao
relatório de 1983 foram alvo de críticas realizadas por vários estudiosos, visto que
este não qualificou nem regulamentou a execução nos diversos segmentos das
práticas humanas no intuito de potencializar o desenvolvimento sustentável.

Visando solucionar o lastro entre a concepção constituídas do DS5 e as ações


dos países na efetivação global das estratégias sugeridas pelas Conferências
realizadas ao longo das décadas do século XX, a ONU, na ocasião do septuagésimo
aniversário da organização em 2015, apresentou a Agenda 2030 com o anúncio de
17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável6 e 169 metas estabelecendo
direcionadores para o desenvolvimento sustentável do ano referência até 2030.

O documento resgata e discute o contexto social, econômico e ambiental como


desafio permanente das sociedades humanas, dos países desenvolvidos e em
desenvolvimento, alertando para a importante interdependência entre as nações no
intuito de parceria e colaboração para a eliminação da violência, pobreza e exclusões.
Além disso, os Chefes de Estado e altos representantes firmaram o compromisso de

5
Desenvolvimento Sustentável.
6
Documento publicado em 2015 com redação atualizada em 13 de outubro do mesmo ano. Versão
traduzida do site https://sustainabledevelopment.un.org/
48

garantir crescimento sustentável, inclusivo e economicamente sustentado,


tangenciando a melhoria da qualidade de vida nas cidades e o cuidado com o meio
ambiente como máxima categórica para as décadas que se seguem.

Importa ainda citar a preocupação ressaltada pelo documento acerca da


urgente necessidade de repensar e desenvolver estratégias globais para a resolução
dos problemas ambientais amplos como: o esgotamento dos recursos naturais,
desertificação, degradação dos solos, escassez de água doce e perda da
diversidade... e suas relações e implicações diretas e indiretas com a precarização
das estruturas urbanas e de acesso aos direitos sociais e humanos em vários
contextos. Nessa conjuntura, o relatório indica íntima relação dos impactos negativos
da degradação sistemática do meio ambiente para a vida humana na sua plenitude
cidadã.

Assim estabelece o documento da ONU no seu Objetivo 3:

Nós resolvemos, entre agora e 2030, acabar com a pobreza e a fome em


todos os lugares; combater as desigualdades dentro e entre os países;
construir sociedades pacíficas, justas e inclusivas; proteger os direitos
humanos e promover a igualdade de gênero e o empoderamento das
mulheres e meninas; assegurar a proteção duradoura do planeta e seus
recursos naturais. Resolvemos também criar condições para uma
crescimento sustentável, inclusivo e economicamente sustentado,
prosperidade compartilhada e trabalho decente para todos, tendo em
conta os diferentes níveis de desenvolvimento e capacidades nacionais (ONU
BRASIL, 2015 – grifo meu).

Ainda no seu preâmbulo, o documento indica a veemente necessidade dos


objetivos formulados do DS e referendados pelos governantes dos países membros,
de governos e instituições formar parcerias para tecer coletivamente e em contextos
locais ações com a finalidade de “erradicar a pobreza em todas as suas formas e
dimensões” (ONU BRASIL, 2015, p. 01). O pressuposto, no documento analisado, é
de um projeto comum de DS mediador, conciliador e propositivo para as pessoas e
nações ao redor do mundo, perpassado pela condição de vida digna de todos os seres
humanos, sem desrespeitar, entretanto, as necessidades ambientais e sua
regeneração.

Esta imperiosa determinação é declarada no seu Objetivo 7, quando a


declaração insiste na configuração de uma sociedade onde todas as pessoas sejam
49

contempladas e cuidadas, tanto quanto a natureza, para possibilitar uma relação


ambiente-humano de caráter resiliente e sustentável. Nesse viés:

Prevemos um mundo livre da pobreza, fome, doença e penúria, onde toda a


vida pode prosperar. Prevemos um mundo livre do medo e da violência. Um
mundo com alfabetização universal. Um mundo com o acesso equitativo e
universal à educação de qualidade em todos os níveis, aos cuidados de
saúde e proteção social, onde o bem-estar físico, mental e social estão
assegurados. Um mundo em que reafirmamos os nossos compromissos
relativos ao direito humano à água potável e ao saneamento e onde há
uma melhor higiene; e onde o alimento é suficiente, seguro, acessível e
nutritivo. Um mundo onde habitats humanos são seguros, resilientes e
sustentáveis, e onde existe acesso universal à energia acessível, confiável e
sustentável (ONU, 2015 – grifo meu).

A efetivação micro das propostas estabelecidas no documento, indica ser as


cidades espaços viáveis de transmutação socioambiental tão importante ao DS, no
sentido da materialização e aplicação de recursos humanos de gestão e solução dos
problemas humanitários, ambientais e sociais citados anteriormente. O documento
indica prioritariamente no Objetivo 11 o propósito de tornar as cidades e os
assentamentos humanos resilientes, seguros, inclusivos e sustentáveis.

Assim, ao apresentar os focos de ação para tal objetivo, destacam-se a criação


e reformulação locais com intuito de converter as cidades em espaços que prezam
pela redução dos impactos negativos causados pela ação antrópica ao meio
ambiente; o salvaguardo do patrimônio cultural e natural; o aumento da urbanização
inclusiva e sustentável e a integração de recursos e redução de desastres com foco
na proteção aos pobres e às pessoas em situação de vulnerabilidade.

Importa salientar, contudo, o foco dado na meta 11.1 do mesmo documento


acerca daquilo que mundialmente se evidencia e, consequentemente, se concretiza
como problemática socioambiental nas cidades, ou seja, a intenção de responder
adequadamente à questão da habitação como valor e bem social e direito de todos.
Assim, o destaque está em “até 2030, garantir o acesso de todos à habitação segura,
adequada e a preço acessível, e aos serviços básicos e à urbanização das favelas”
(ONU, 2015, p. 30).

De acordo com a amplitude propositiva do documento, existe um caráter


urgente e coletivo mundial no sentido de buscar respostas ao provável maior desafio
50

global e, certamente, requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável que


é a garantia do direito ao acesso à habitação segura, inclusiva e resiliente.

A irreverência aos princípios da Sustentabilidade e às propostas compiladas ao


longo da história sobre o Desenvolvimento Sustentável, reverberam negativamente
nas cidades e no seu planejamento urbano, impactando as condições de vida das
pessoas e, por vezes, precarizando espaços com potencial para o lazer ao receberem
interferência descuidada e pouco equilibrada entre meio ambiente e uso do espaço
pelos seres humanos.

Ao passo que a intenção desse estudo é entender diacronicamente as


ocupações irregulares nos fundos de vale no Brasil e ao longo do Córrego Prata em
Umuarama/PR, com base nos critérios de déficit habitacional, cabe, nesse momento,
a recondução do estudo aqui proposto focalizando os referenciais discutidos no
sentido de avançar para uma análise sistemática, no contexto brasileiro, das políticas
habitacionais e o seu déficit, visando, ao considerar os dados e referências
bibliográficas, identificar os motivos das ocupações irregulares e suas consequências
para o meio geofísico urbano e para a vida do cidadão.

4.2 O DÉFICIT HABITACIONAL NO BRASIL E AS OCUPAÇÕES IRREGULARES

Compreender sobre a habitação social no Brasil e as consequências


socioambientais trazidas pela precarização das políticas públicas, além do escasso
investimento na construção e regularização das habitações em espaços de ocupação
no país é de suma importância para a constituição de um plano de ação/intervenção
que visa, no seu cerne, fundamentar-se nas reais necessidades verificadas nas
microrregiões do Brasil e na cidade, recorte dessa pesquisa.

Nessa análise, cabe uma percepção geral sobre como o sistema produtivo
capitalista incorpora e vulgariza discussões e concepções fortemente pautadas na
justiça socioambiental, mas que, por conta de uma ênfase econômica arbitrária,
adequa seus significados sociais aos aspectos limitados do capital. Dias e Tostes
(2009) afirmam que, embora poucas críticas sejam realizadas sobre o sistema
produtivo capitalista e sua cruel consequência ao meio ambiente e a degradação e
contingenciamento da vida humana em sociedade, muito se diz sobre a mudança de
51

referencial de produção como, por exemplo, a substituição das “energias sujas” pelas
limpas.

Tais autores indicam que há íntima relação entre pobreza e a insuficiência das
práticas globais na efetivação dos princípios do DS, exatamente pela sobreposição de
interesses do capital ao cuidado com o meio ambiente e as pessoas. Ou seja, para os
estudiosos, torna-se inconciliável a proposição de garantia do capital e dos interesses
do mercado, em relação ao cuidado e uso consciente dos recursos naturais e a
abreviação do desrespeito aos direitos fundamentais do cidadão como, por exemplo,
a moradia digna. Nessa perspectiva, o próprio relatório sobre o DS de 1983 (Relatório
Brundtland) reafirma e sintetiza tais interesses escusos, pois a proposta de DS
apresentada em Nosso Futuro Comum reforça o capital. Logo o DS tornou-se
instrumento geopolítico interessantíssimo na cooptação do movimento ambientalista
(DIAS; TOSTES, 2009, p. 08).

No Brasil, alguns dos motivos causadores da pobreza, da exclusão e da


depreciação do meio ambiente têm suas raízes em um processo histórico e cultural
que desconsidera o valor social da propriedade, o qual é preconizado pela
Constituição Federal (CF) de 1988. Além disso, houve na esfera nacional, a partir da
década de 1960 e em curto espaço de tempo, grande migração da população do
campo para as cidades, provocando um crescimento desordenado dos espaços
urbanos e, por consequência, contribuindo ainda mais para a geração de inúmeros
problemas sociais, econômicos e ambientais, (CORRÊA; VASQUEZ; VANZELA,
2018).

Sem políticas públicas eficazes, o primeiro entrave à garantia da habitação


social no Brasil é o interesse econômico oscilante, ora com foco nas garantias dos
direitos sociais, ora, no retorno a uma política nacional de submissão do social ao
mercado financeiro, ao capital, com projetos governamentais quase sempre
insuficientes do ponto de vista da gestão política no que toca a habitação social.

A Carta Magna de 19887 traduz claramente o anseio da democracia brasileira


em possibilitar a todos os seus cidadãos direitos fundamentais, tais como: moradia,

7
De acordo com FALLER (2012), as constituições brasileiras, formuladas e reformuladas ao longo da
história, sempre legislaram sobre o direito à propriedade. Contudo, foi somente na Carta Magna de
1934 que houve aplicação legal da função social como princípio garantidor do direito de propriedade.
52

saúde, educação, trabalho, lazer, segurança, previdência e assistência social,


reunidos nas diretrizes de descentralização político-administrativa e de participação
da população (FALLER, 2012), sem, entretanto, prever objetivamente a tangibilidade
de tal exigência nas práticas governamentais nacionais e locais.

A propriedade privada, de acordo com a Carta Magna de 1988, tem valor social
ao mesmo tempo que deve ser gerida e fundamentada em parâmetros municipais de
uso e garantia desse bem, em vista da manutenção dos direitos fundamentais do
cidadão, os quais têm a habitação digna como elemento primordial. Para Faller (2012,
p. 05),

[...] os direitos e garantias fundamentais são cláusulas pétreas e conforme


parágrafo 4º, do artigo 60, não podendo ser deliberado por Emenda
Constitucional, que tende a abolir os direitos e garantias individuais [...]. A
função social da propriedade é retomada no Título VII, mais precisamente no
inciso III do artigo 170, ao estabelecer os princípios norteadores da atividade
econômica e financeira, cujo objetivo é assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social.

Nesse sentido, o Plano Diretor é um instrumento obrigatório para o


ordenamento do uso do solo e para o desenvolvimento pleno das cidades com mais
de vinte mil habitantes e tem o propósito de referenciar sua função social, a saber,
possibilitar o bem-estar a todos os moradores da cidade. O parágrafo 2º do Artigo 182
da CF indica “que a propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor”.

Importa destacar esse aspecto da função social da propriedade e a influência


do mercado financeiro nas tendências que cercam, no Brasil, o desenvolvimento
urbano e as macro políticas de Estado, pois, construir habitações não significa
resolver um dos mais graves problemas sociais das cidades, que é o déficit
habitacional. Isto é posto no sentido de evidenciar-se, enquanto estatística nacional,
de acordo com a Fundação João Pinheiro (2017), que existem cerca de 7,9 milhões
de imóveis vazios no Brasil, o que supera a necessidade do país em sanar, com
habitação digna, o déficit de 7,7 milhões de moradias.
53

O Gráfico 02 é ilustrativo nesse tema, pois, possibilita identificar com base


nos dados da Abrainc e FGV (2019)8, o histórico de insucesso da gestão pública
nacional na necessária retração do déficit habitacional desde 2007. Os dados indicam
que ano após ano, de 2007 a 2017, embora com sensível diminuição em alguns
momentos, houve crescimento do déficit habitacional em 7%, caracterizado
principalmente pelo critério da inadequação da moradia.

Gráfico 02: Histórico do crescimento do Déficit Habitacional no Brasil

FONTE: Abrainc/FGV

Assim, se o déficit habitacional é entendido como condição da moradia na


qual existe um não aumento do estoque de habitação9, bem como sua não reposição,
cumpre citar e expor brevemente, os critérios que perfazem aquilo que se considera
sobre o que se denomina como déficit habitacional. De acordo com a Fundação João
Pinheiro (2019), os quatro critérios utilizados para a composição do déficit
habitacional, são:

a) habitações precárias: composto por dois subcomponentes, os


domicílios rústicos, os quais não possuem paredes de alvenaria ou
madeira aparelhada e os domicílios improvisados, que são lugares sem
fins residenciais e servem como moradia.

b) coabitação familiar: também está dividido em dois subcomponentes,


os cômodos alugados, pois mascaram a verdadeira situação de

8
Pela não existência de dados, o quadro desconsidera informações do ano de 2010.
9
Dados e estudos recentes (Fundação João Pinheiro, 2018) apontam que o acesso ao estoque
habitacional no Brasil é o mais grave problema social aplicado ao déficit habitacional. Maior, inclusive,
que o não aumento do estoque em algumas regiões do Brasil.
54

coabitação, e as moradias com famílias secundárias que almejam um


novo domicílio.

c) ônus excessivo com aluguel urbano: engloba as famílias urbanas


com renda de até três salários mínimos e que comprometem 30% ou
mais de sua renda com o aluguel do domicílio.

d) adensamento excessivo de moradores em domicílios alugados:


correspondem aos domicílios alugados com média de mais de três
moradores por dormitório.

Esses critérios10 orientarão esta pesquisa como direcionadores para a


verificação das condições existentes, nas ocupações de fundos de vale, a fim de
contemplar o objetivo específico deste capítulo, a saber: entender como se deu, ao
longo do tempo, as ocupações irregulares nos fundos de vale no Brasil e ao longo do
Córrego Prata em Umuarama/PR, com base nos critérios de déficit habitacional.

Diante disso, vale ressaltar ser o déficit habitacional no Brasil uma das
principais causas das ocupações irregulares em fundo de vale, tendo em vista a
gravidade das condições socioeconômicas e de não acesso aos bens sociais que
acometem parcela significativa da população brasileira. Assim, o conceito aceito como
parâmetro nesta investigação acerca do déficit habitacional, está ligado

[...] diretamente às deficiências do estoque de moradias. Engloba aquelas


sem condições de serem habitadas em razão da precariedade das
construções ou do desgaste da estrutura física e que por isso devem ser
repostas. Inclui ainda a necessidade de incremento do estoque, em função
da coabitação familiar forçada (famílias que pretendem constituir um domicilio
unifamiliar), dos moradores de baixa renda com dificuldades de pagar aluguel
nas áreas urbanas e dos que vivem em casas e apartamentos alugados com
grande densidade. Inclui-se ainda nessa rubrica a moradia em imóveis e
locais com fins não residenciais. O déficit habitacional pode ser entendido,
portanto, como déficit por reposição de estoque e déficit por incremento
de estoque (Fundação João Pinheiro, p. 20, 2018 – grifo meu).

Com base na realidade do déficit habitacional, assim como nas questões


econômicas, sociais, culturais e políticas do Brasil, é comum deparar-se com pessoas

10
Importa indicar que o foco desse estudo não é explorar exaustivamente os critérios citados, mas sim,
articulá-los, na medida em que essa pesquisa avança, para uma melhor compreensão sobre as causas
das ocupações irregulares no Brasil e na cidade de Umuarama.
55

e, às vezes, famílias inteiras, pouco favorecidas economicamente que constroem ou


improvisam seus abrigos, transformando-os assim em favelas, assentamentos ou
cortiços. Conforme abordagem realizada por Souza (1988), a autoconstrução é a
alternativa encontrada por parte da população que, em algum momento, encontra-se
excluída de todas as alternativas habitacionais e que, por isso, buscam um local para
construir seu abrigo, geralmente instalando-se nas periferias.

Estas autoconstruções, na maioria das vezes, são realizadas em locais


inadequados ou impróprios para tal finalidade, utilizando-se de áreas de preservação
ou encostas, sem levar em consideração os riscos ambientais e a integridade física
dos seus moradores. A ocorrência dos assentamentos clandestinos faz com que
estas ocupações sobrecarreguem toda a infraestrutura e serviços de uma cidade,
gerando a necessidade de maior empenho financeiro e de planejamento urbano por
parte das prefeituras. O problema se aprofunda na complexidade das relações
econômicas e culturais presentes entre as classes sociais no país. De acordo com
Maricato (2001, p. 72):

Construir um espaço de participação social, que dê voz aos que nunca a


tiveram, que faça emergir os diferentes interesses sociais (para que a elite
tome contato com algo que nunca admitiu: o contraponto) é uma tarefa difícil
em um país de tradição autoritária como o Brasil, mas altamente
transformadora.

Nessa esteira teórica, para Rodrigues (2004) o problema dos assentamentos e


ocupações irregulares agravam-se, também, com a expansão não densificada das
cidades, que vê no seu espraiamento11 a segregação socioespacial, afastando uma
grande parcela da população do centro urbano consolidado. A segregação urbana, de
acordo com Maricato (2003), é o principal fator de exclusão social e pode ser
considerado como um indutor da desigualdade social, diante da dificuldade de acesso
aos serviços e infraestrutura dos meios urbanos, como transporte, saneamento,
saúde, educação, drenagem, abastecimento, emprego formal, entre outros.

11
Conceito/termo que se refere a um “espalhamento” horizontal do uso e ocupação do solo nas
cidades. De modo amplo, estabelece o distanciamento de parcela dos moradores das cidades do centro
consolidado onde estão os equipamentos públicos e o acesso aos serviços de saúde, educação,
transporte, etc. A opção urbanística pelo espraiamento leva à constituição de bairros-dormitório e, no
caso da tentativa de resolução das ocupações em fundo de vale, provoca uma maior segregação da
população que reside nesses espaços. Tal temática será explorada sobremaneira nos capítulos
seguintes.
56

Além disto, a descontinuidade dos investimentos – consequência da má


gestão ou da falta de interesse político em relação a questão da habitação social no
Brasil – faz com que se formem lacunas na promoção dos instrumentos urbanos de
solução da questão habitacional, gerando conflitos entre a modernização, exclusão e
desigualdade, principalmente para o público que reside nas áreas de ocupação, as
quais sobrevivem em média, com até três salários mínimos.

O desequilíbrio da ocupação do solo urbano recebe interferência das


especulações imobiliárias, fazendo com que se estabeleçam grande volume de
espaços livres não urbanizados em áreas densamente edificadas por ocupações e
assentamentos irregulares. Assim, quando se trata de novos loteamentos, o processo
de regularização da infraestrutura fora da malha urbana gera um elevado custo de
investimentos para estender esses serviços e que geralmente não são eficientes
(BONDUKI, 1996).

Como já é notório, a falta de ação adequada do poder público em favor da


diminuição do déficit habitacional produz o que pode ser chamado de ocupações
irregulares. De acordo com a definição elaborada pela COHAPAR (2016), ocupações
irregulares são os assentamentos realizados à margem da legislação urbanística,
ambiental, civil, penal e registrária, em que se abrem ruas e demarcam lotes sem
qualquer controle do Poder Público.

Os assentamentos, assim constituídos, não obedecem a qualquer


planejamento urbanístico e são carentes de infraestrutura, o que compromete a
qualidade de vida dos cidadãos e do meio ambiente, além de desestruturar e desafiar
o Plano Diretor na reconfiguração local em relação ao uso inadequado e insustentável
do solo nas regiões urbanas.

As ocupações irregulares, desse modo, são caracterizadas por


assentamentos urbanos efetuados sobre áreas de propriedade de terceiros, sejam
elas públicas ou privadas, bem como aqueles providos pelos legítimos proprietários
das áreas sem a necessária observância dos parâmetros urbanísticos e
procedimentos legais estabelecidos pelas leis de parcelamento e uso do solo e da
legislação florestal vigente. Com base nessas premissas, observa-se que o
crescimento acentuado nas áreas periféricas se encontra afastado dos equipamentos
57

públicos e infraestrutura adequadas, que são oferecidas nos núcleos centrais pela
gestão municipal (RODRIGUES, 2004).

Com base nisso, e visando a edificação verticalizada do objetivo geral dessa


pesquisa, o tópico seguinte consistirá numa maior compreensão acerca dos prejuízos
socioambientais provocados pelas ocupações irregulares em fundos de vale e suas
marcas permanentes de insustentabilidade ambiental e social no espaço urbano.

Ao mesmo tempo, o foco será na síntese de algumas alternativas projetadas


e constituídas em cidades brasileiras, com base em pesquisas ambientais urbanas,
no sentido de responder temporariamente aos desafios verificados no espaço, lócus
de pesquisa deste estudo, para referenciar a propositura de um projeto de
recuperação das margens do Córrego Prata em Umuarama-PR, considerando o
amplo espectro social, ambiental e antrópico envolvido na problemática discutida e
analisada nesta investigação.

4.3 DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS URBANOS A ALGUMAS ALTERNATIVAS


RESOLUTIVAS

Como já apresentado largamente neste estudo, são muitos os problemas


urbanos relacionados ao mau uso e parcelamento do solo; incluindo o
comprometimento dos cursos d’ água; das ocupações irregulares em fundos de vale
e de algumas práticas políticas e socioambientais incoerentes com a constituição de
cidades sustentáveis. Diante disso, e como este tópico converge para o entendimento
dos principais fatores ambientalmente negativos no que tange às ocupações
irregulares em fundo de vale, cumpre destacar que os maiores problemas urbanos
relacionados a esta condição socioambiental dentro das cidades, são aqueles

referentes ao saneamento ambiental que atingem as cidades brasileiras: o


aumento da demanda por água, a vazão de águas, e da quantidade de
resíduos sólidos urbanos, além da vazão do escoamento superficial. Como
resultado tem-se uma degradação maior dos recursos e o crescimento
progressivo de problemas para a população (LAROCCA; CARDOSO; DE
ANGELIS, 2017, p. 57).

Parte significativa dos graves problemas urbanos das cidades brasileiras


associadas às ocupações em fundo de vale, orbitam situações que comprometem a
permeabilidade do solo, ligam-se aos riscos de tragédias envolvendo vidas humanas
por conta do uso de encostas e morros para habitação, além do desconforto causados
58

pelo calor intenso, alusivo às “ilhas de calor”, fundamentalmente vinculado ao


desequilíbrio térmico e, obviamente, aos prejuízos ligados à falta de cuidado com a
flora urbana.

De acordo com a lei 2.651/2012, que rege os princípios legais das Áreas de
Preservação Permanente próximas aos cursos d’água, no seu Art. 40 determina que

I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente,


excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura
mínima de:
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de
largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50
(cinquenta) metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a
200 (duzentos) metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200
(duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura
superior a 600 (seiscentos) metros.

Ou seja, além dos prejuízos sociais, habitacionais, econômicos e ecológicos,


os riscos de contaminação dos cursos d’ água são constantes, pois as ocupações
irregulares por serem estabelecidas à margem da legislação, compromete a qualidade
hídrica do Córrego.

A Figura 03, a seguir, caracteriza graficamente a legislação vigente.

Figura 03: Ilustração da Legislação Ambiental

Fonte: https://www.produtorsouzacruz.com.br/noticias/matas-ciliares-protetoras-dos-cursos-de-agua
59

Assim, mitigar tais problemas pressupõe compreender a dinâmica urbana na


sua organicidade natural e artificial – isto é, tanto da perspectiva social, como
econômica e cultural – e, ao mesmo tempo, prover uma maior harmonia entre os
espaços de convivência humana e ecológica.

Em estudo realizado pelos pesquisadores Larocca, Cardoso e De Angelis


(2017), sobre as consequências e impactos negativos do uso imobiliário das margens
do Lago Igapó 2 em Londrina – PR, fica evidente que vários distúrbios ambientais
presentes na região analisada, permeiam dicotomias de um projeto político urbano
preocupado com crescimento econômico, mas que prescinde da questão ambiental
local e do zelo pela moradia digna dos seus cidadãos. Os prejuízos ambientais
identificados nesse estudo perpassam desde a impermeabilização do solo urbano,
tendo como consequência enchentes e inundações, até doenças de veiculação
hídrica.

Desta maneira, esse mesmo estudo aponta que após um longo período de
degradação excessiva das margens do Lago Igapó 2, um projeto de revitalização do
espaço natural efetivado parcialmente entre 1969-1973, com a retirada dos curtumes
e do desvio do tráfego pesado de caminhões da região, houve a restauração da área
verde e do acesso mais democrático da população londrinense à região do lago, que
passou a ser utilizado, portanto, como espaço de lazer e de uso coletivo. Além disso,
a revitalização dessa região objetivava também a “restauração da mata atlântica
subtropical com espécies nativas” (LAROCCA; CARDOSO; DE ANGELIS, 2017, p.
63), algo que, de modo circunscrito, ocorreu em pontos mais afastados das margens
do lago, onde há poucas avenidas de movimento intenso.

Ainda nessa perspectiva, Castro (2007) apresenta referenciais sobre a


habitabilidade urbana12, como alternativa para as pesquisas sobre ocupações
irregulares nas cidades, bem como, possível contribuição e solução para as políticas
de gestão pública, na convergência de ações para a promoção de cidades
sustentáveis, inclusivas e equânimes.

12
De acordo com a autora desse estudo, entende-se por Habitabilidade Urbana a habitação com
“sentido amplo no contexto da cidade, da população atendida plenamente pelos serviços urbanos de
infraestrutura e equipamentos urbanos, inclusão territorial e pertencimento a um espaço saudável”
(CASTRO, 2007, p. 75).
60

No seu estudo, Castro (2007) apresenta pressupostos de uma metodologia


reparadora, oportuna à gestão política e ambiental dos espaços urbanos, que sofrem
com as ocupações irregulares, propondo articulação e interdependência entre esferas
de convívio e campos do conhecimento humano como saúde, meio ambiente e
práticas sustentáveis na gestão da cidade. Desse modo,

para que ocorra a sustentabilidade, é necessária a inter-relação entre


condição socioambiental e a acessibilidade; nas ocupações irregulares, é
imprescindível que os gestores urbanos utilizem o planejamento, a gestão
urbana, e, como referencial padrão, os conceitos de Habitabilidade Urbana,
em conjunto com indicadores urbanos e modelo de habitabilidade urbana,
para construção de cenários futuros, com intuito de possibilitar as tomadas
de decisões e resolução dos problemas e dificuldades a serem enfrentadas
nas cidades (CASTRO, 2007, p. 76).

As tipologias, portanto, que permeiam a administração e reequilíbrio, tanto


social quanto ambiental das áreas de uso irregular, devem pautar-se na delimitação
de exigências mínimas para que as moradias sejam adequadas à dignidade das
pessoas, do cuidado com o meio ambiente presente no espaço de vivência coletiva,
da qualificação do padrão de convívio harmônico entre pessoas, ambiente e habitação
saudável e, também, na consideração de que “a habitabilidade é interdependente da
acessibilidade urbana dos serviços, equipamentos e infraestrutura, direito ao espaço,
estrutura social e cultural (CASTRO, 2007, p. 77).

A proposta de Castro (2007) lança luzes a perspectiva de um projeto de


recuperação do meio ambiente degradado por ocupações irregulares, ponderando
aspectos ampliados acerca do direito das pessoas à cidade formal e aos
equipamentos necessários para uma vida digna e cidadã.
Nesse sentido, é possível verificar que, se por um lado, as ocupações de áreas
irregulares em fundo de vale acabam por materializar condições sociais de exclusão,
por outro, evidencia ser essa situação muito mais complexa do que somente aquela
relacionada a retirada das famílias que ocupam esses espaços, pois, ao
desconsiderar a possibilidade de habitação saudável e sustentável para todos os
citadinos, mesmo com recuperação total da área degradada, a exclusão forçará
pessoas a utilizarem esses locais como única alternativa de habitação.

A questão da habitação social no Brasil, no entanto, ilustra e comprova o


grande equívoco de uma gestão urbana que generaliza práticas e técnicas e, por
61

vezes, desconsidera peculiaridades locais e a condição de exclusão dos que vivem


com sua cidadania restrita. Estar sem lugar no mundo – em estado social, físico e
urbano de efemeridade existencial e habitacional, por isso, sem pertencimento local,
sofrendo com privação de acesso à estrutura básica dentro da cidade, acaba por
promover um permanente loop de exclusão que levará novas famílias a se colocarem
em situação de risco provendo suas necessidades com habitações irregulares.

Com base nisso, importa destacar que a legislação13 nacional parametriza e


indica práticas de gestão para a manutenção e cuidado com o meio ambiente local,
além de conceber fundamentos essenciais na consolidação do Plano Diretor, no
intuito de sanar problemas relacionados à exclusão social de pessoas em condição
de moradia em habitação precária ou em exclusão temporária por habitação em fundo
de vale. Uma alternativa viável de prevenção e cuidado com o meio ambiente local é
a possibilidade de institucionalização das APPs em espaços urbanos.

O Ministério do Meio Ambiente, em seu sítio na internet, aponta princípios para


formalização das APPs (Áreas de Preservação Permanente), destacando a
importância dessas áreas como referência política e de gestão urbana para a proteção
da fauna e flora, além de especificar a importância das diversas funções e serviços
ambientais dispensados pela APP no espaço urbano. A ênfase, nesse sentido,
concorre para

● a proteção do solo prevenindo a ocorrência de desastres associados


ao uso e ocupação inadequados de encostas e topos de morro;
● a proteção dos corpos d’ água, evitando enchentes, poluição das
águas e assoreamento dos rios;
● a manutenção da permeabilidade do solo e do regime hídrico,
prevenindo contra inundações e enxurradas, colaborando com a recarga de
aquíferos e evitando o comprometimento do abastecimento público de água
em qualidade e em quantidade;
● a função ecológica de refúgio para a fauna e de corredores
ecológicos que facilitam o fluxo gênico de fauna e flora, especialmente
entre áreas verdes situadas no perímetro urbano e nas suas proximidades,
● a atenuação de desequilíbrios climáticos intra-urbanos, tais como o
excesso de aridez, o desconforto térmico e ambiental e o efeito "ilha de calor"
(BRASIL, 2020 – grifo do autor).

13
De acordo com BORGES (2006, p. 25), “o principal instrumento legal para disciplinar o uso e a
ocupação do solo em áreas de fundo de vale no Brasil é o Código Florestal”. Afirma ainda que, em suas
muitas versões e atualizações, o Código estabelece os fins “econômicos e de proteção ambiental,
justamente no sentido de conciliar essas esferas através do manejo florestal sustentável, da instituição
de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e da Reserva Legal”.
62

Tais direcionadores inspiram possibilidades resolutivas para o problema das


ocupações irregulares em fundo de vale, bem como, indicam o caminho para uma
gestão preventiva da complexa problemática relativa às ocupações irregulares em
fundo de vale no Brasil. A relevância dessa verificação encontra fundamento no fato
de que as ocupações identificadas ao longo do Córrego Prata, em Umuarama-PR,
compartilham de algumas características já verificadas em estudos anteriores e nas
pesquisas de caso até aqui referenciadas.

O processo de antropização da região às margens do Córrego Prata assevera


a condição de exclusão social permanente e provisória das famílias que vivem nessa
condição habitacional, pois, como em outras regiões do país, são vítimas de um
crescimento urbano desordenado e do déficit habitacional que acentua a precarização
das habitações irregulares e precárias. Além disso, essas pessoas são desprovidas
de bens sociais (por exemplo: educação, lazer, infraestrutura básica e transporte),
condição esta, que acentua uma circunstância cidadã limítrofe, quase inexistente
(CASTRO, 2007, p. 85).

Com isso, as alternativas viáveis para a recuperação e regeneração do meio


ambiente às margens do Córrego Prata, deveriam considerar e prever, como hipótese
desta pesquisa, a flexibilização da Lei de Uso e Ocupação do Solo. Tal alternativa visa
evitar a remoção e o espraiamento das famílias ali estabelecidas, buscando, por meio
da constituição de um parque linear a indução do convívio social entre as várias
camadas sociais que compõem a sociedade umuaramense, provocando assim, uma
coexistência mais harmônica entre meio ambiente e os seres humanos, também
pertencentes a este local.

Nessa perspectiva, o Plano Diretor Municipal (PDM) da cidade de Umuarama,


estabelecido pela Lei Complementar nº 445, de 07 de maio de 2018, indica, no seu
art. 31 a necessidade de promover e garantir medidas para a adequação de espaços
para estabelecimento de moradias de valor social, preeminentemente acerca da
criação de estoques para suprir estas demandas. Assim são foco diretivos da política
de habitação de interesse social no município de Umuarama-PR:
I - promover política adequada à habitação de interesse social;

II - criar/reservar estoques de áreas urbanas para implantação de programas


63

habitacionais de interesse social respeitando zonas especiais de interesse


social (ZEIS) demarcadas na Lei de Uso e Ocupação do Solo;

bem como,
III - promover a toda população moradia digna, ou seja, com qualidade
construtiva, com custo justo, provida de infraestrutura, com acesso a fonte de
trabalho e aos serviços públicos básicos de educação, saúde, cultura e
segurança.

Assim, ao finalizar este capítulo, o qual tem por escopo estabelecer as bases
referenciais para essa pesquisa de cunho bibliográfico e empírico, destacou-se os
estudos e sistematizações nos campos da geografia urbana e da sustentabilidade,
contemplados nos eixos teóricos do déficit habitacional no Brasil, das ocupações
irregulares e dos aspectos socioeconômicos e de infraestrutura pertinentes às
observações e proposições de soluções para o espaço físico investigado.

Além disso, ao buscar, como objetivo específico, entender como se deu, ao


longo do tempo, as ocupações irregulares nos fundos de vale no Brasil e ao longo do
Córrego Prata em Umuarama/PR, com base nos critérios de déficit habitacional, foi
possível também identificar movimentos globais e regionais na busca por parametrizar
estratégias e projetos no sentido de solidificar práticas urbanas de gestão,
investimento e políticas ambientais no intuito de unir esforços para a remodelagem e
criação de cidades inclusivas, sustentáveis e ambientalmente responsáveis,
indicadores estes fundamentais na composição de uma alternativa viável para a
situação das ocupações irregulares às margens do Córrego Prata em Umuarama-PR.
64

5 AS OCUPAÇÕES IRREGULARES EM FUNDO DE VALE NO MUNICÍPIO DE


UMUARAMA/PR

Ao longo da pesquisa até aqui realizada, aprofundou-se os aspectos históricos,


ambientais, sociais e culturais da intrincada problemática nacional sobre as
ocupações irregulares em fundo de vale. Para tanto, constituiu-se um referencial
analítico capaz de verificar as nuances de (in)sustentabilidade das práticas públicas
acerca da garantia de habitação adequada e saudável para a população urbana,
pautando o cuidado da flora e fauna como um indicador essencial à habitabilidade
urbana. Diante disso, alguns casos foram estudados, com base na literatura científica
estabelecida, no intuito de referenciar uma alternativa de viabilidade propositiva para
o caso peculiar desse estudo.

Assim, com o escopo de concretizar a hipótese dessa pesquisa, cabe


reconduzir ao seu objetivo, dando ênfase, neste capítulo, às ocupações irregulares de
fundo de vale no município de Umuarama-PR e mais especificamente, ao lócus dessa
investigação, a saber, as margens do Córrego Prata.

Segundo Hulsmeyer e Macedo (2014), Umuarama, cidade localizada na


Mesorregião Noroeste do Estado do Paraná, teve seu planejamento e implantação
estabelecidos em meados dos anos de 1950. Seu planejamento urbano considerou,
na época, a existência de três pequenas bacias de córregos que nascem nos
arredores da cidade, como referência para o seu Planejamento Paisagístico, conforme
apresentado na figura 04.

A estratégia original de implantação visava, assim, evitar conflitos com as áreas


de fundo de vale e a preservação paisagística desses espaços naturais de maneira
harmônica na cidade que nascia. Contudo, algumas dissociações realizadas ao longo
do seu processo de expansão urbana, como por exemplo, a “separação do rio da sua
bacia hidrográfica”, pela gestão urbana, fragilizou os componentes físicos dos cursos
d’ água, produzindo, com o crescimento da cidade “novas formas de ocupação que,
apesar das restrições da legislação ambiental, degradaram as áreas de preservação
permanente por sofreram impactos de forma acentuada” (HULSMEYER; MACEDO,
2014, p. 05).
65

Figura 04: Bacias Urbanas na Região de Umuarama-PR

FONTE: HULSMEYER e MACEDO 2014, p. 06

Esses mesmos pesquisadores, em outro estudo, sintetizam a tipologia do solo


de Umuarama, indicando ser este bastante suscetível à erosão, o que exigiria da
gestão pública municipal uma legislação rigorosa acerca da ocupação de fundo de
vale, pois o processo depreciativo do solo se dá de modo mais intenso e rápido. Ou
seja,

Umuarama possui os solos da zona urbana do tipo latossolo vermelho


distrófico nos espigões e argissolo vermelho amarelo eutrófico nos fundos
de vale. O argilossolo é altamente erodível, e as áreas de fundo de vale
são bastante susceptíveis à erosão, voçorocas e assoreamento com
extrema facilidade. Devido a esta fragilidade do solo, a legislação municipal
deveria ser ainda mais restritiva com a ocupação urbana dos seus fundos
de vale (HULSMEYER; MACEDO, 2007, p. 51).

No Plano Diretor do município, estabelecido em 2014, foi instituída a chamada


Zona de Ocupação Controlada – ZOC. Esse aparato legal considerava as áreas de
fundos de vale, “área de risco ambiental, pela predominância de solos altamente
erodíveis e impróprios para a ocupação” (HULSMEYER; MACEDO, 2007, p. 53).
Desse modo, a área de restrição de uso do solo compreendia uma faixa de oitenta
metros, pois referenciava-se, a partir da experiência de maior cheia de todos os rios
no espaço urbano.
66

Cabe ressaltar, que a lei que defendia esse distanciamento para a ocupação
do solo em áreas de fundo de vale, foi substituída em 2011, prevalecendo aquilo que
estabelece a Legislação Florestal, isto é, a redução para trinta metros, a partir da
cota maior de cheia, fragilizando sistematicamente a condição de preservação das
margens dos rios urbanos em Umuarama, além de, indiretamente, facilitar as
ocupações irregulares em fundo de vale.

5.1 CONTEXTO HISTÓRICO DO SURGIMENTO DAS OCUPAÇÕES


IRREGULARES EM UMUARAMA-PR

Com base na conjuntura conceitual, histórica e legal destacada até aqui,


importa afunilar a análise realizada tendo por foco as ocupações irregulares em fundo
de vale no município de Umuarama/PR, intuito deste capítulo.

De acordo com a Fundação João Pinheiro (2014) e o Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatística (IBGE, 2016), a população do município de Umuarama – PR
está em constante crescimento. Com base em dados de 2016, Umuarama teve um
crescimento populacional que alcançou 108.218 habitantes. Houve aumento
comparativo com 2014 de 899 pessoas. Desse modo, em cinco anos a cidade obteve
um crescimento populacional de 7.542 pessoas, o que equivale a uma média de
7,49% no período de 2010 a 2015.

Concomitante a isso, cresce também seu déficit habitacional, o qual superlota


a periferia de forma preocupante. Conforme os dados do Sistema Cadastral Municipal
- Umuarama (2017), o déficit habitacional é de 9.049 famílias inscritas até o mês de
abril/2017, famílias estas inseridas em fila de espera aguardando a tão sonhada casa
própria. A ocupação existente às margens do Córrego Prata, localizada em
Umuarama, é um exemplo comum do que também ocorre em grande parte das
cidades brasileiras. Pessoas de baixa renda ocupam essas áreas de proteção
permanente (APP) e próximo à cursos d’água, que são pouco atrativos para
empreendimentos imobiliários e fazem destes locais seus lares. Muitas delas
construídas de maneira precária, as edificações não proporcionam uma vida digna
aos seus habitantes.
67

Ainda nessa linha e a exemplo do que ocorre na cidade de Umuarama, Arantes,


Vainer e Maricato (2000), ressaltam ser a localização dos assentamentos irregulares
correlacionados com o caminho da rede hídrica nas cidades. Áreas como beira de
córregos, rios e reservatórios, encostas íngremes, fundos de vale, áreas alagáveis
necessitam de uma legislação específica por serem ambientalmente frágeis, bem
como, um papel ativo dos agentes fiscalizadores para garantir a proteção dessas
áreas.

Estas áreas, por isso, não são interessantes ao mercado imobiliário, e são as
que “sobram” para servir de moradia para a população segregada. Há uma série de
transtornos graves causados pelo confinamento dos córregos por meio das
ocupações, desde a proliferação de doenças por falta de medidas de saneamento
básico, até enchentes devido ao entupimento constante do curso d’água por resíduos
lançados indevidamente.

No ano de 2010, de acordo com dados da COHAPAR (2016) existiam


dezessete (17) pontos de loteamentos irregulares no município de Umuarama, sendo
que em 2016, após um processo de regularização, ainda restam sete (7) pontos em
comparação aos loteamentos apresentados em 2010, no entanto surgiram dois (2)
novos pontos de ocupação conforme demostrado no Quadro 02.

QUADRO 02 - Análise comparativa dos loteamentos irregulares no município de Umuarama-PR

Identificação Loteamento Clandestino ou irregular existentes no Pesquisa do Pesquisa do


PEHIS-PR Município de Umuarama PR Ano 2010 Ano 2016

L1 Tarumã X ᴏ

L2 Dom Pedro II X ᴏ

L4 Mutirão do Alvorada X ᴏ
L5 São Caetano (Rua I) X X
L6 Sam Remo X ᴏ
L7 Parque Laranjeiras X X
L8 Industrial X ᴏ
L9 Jardim Iguaçu/Tangará/Indaiá X X
L10 Dom Bosco X X
L11 7 Alqueires - Pq. Das Jabuticabeiras X X
L12 Portelinha - Pq. Das Jabuticabeiras X ᴏ
L13 Jardim Social X X
L14 Canelinha X ᴏ
68

L15 Jardim Social X ᴏ

L16 Jardim Iguaçu X ᴏ


L17 Jardim Petrópolis X X
L18 Dom Bosco X ᴏ
L19 Jardim Aliança X
L20 Jardim Paraíso X

Legenda 2010 2016


X Loteamentos clandestinos existentes 18 9
ᴏ Loteamentos regularizados 0 10
X Novos Loteamentos 0 2
Fonte: COHAPAR, 2016. Adaptada pelo Autor, 2019.

Ao analisar as informações disponibilizadas no Quadro 02, é possível


identificar que entre o período de 2010 e 2016 houve uma acentuada diminuição dos
loteamentos clandestinos e irregulares existentes neste município. Porém, com o
surgimento de novas ocupações em 2016, as ocupações denominadas 14 como Jardim
Aliança e Jardim Paraíso, indicam assim a falta de controle no planejamento urbano
da cidade.

TABELA 05: Tempo de existência e quantificação de domicílios em fundos de vale.

FONTE: COHAPAR, 2016. Adaptada pelo Autor, 2019.

14
Os nomes estabelecidos para esses espaços ocupados são, na sua maioria, escolhidos e
popularizados pelos próprios moradores.
69

A Tabela 05 possibilita uma leitura das ocupações irregulares presentes no


município de Umuarama, seu tempo de existência e a quantidade de domicílios
nesses locais. Quando observada a conjuntura da presença destes loteamentos, é
possível identificar que a permanência destes variam entre 0,3 a 3,7 décadas,
reafirmando assim a carência do planejamento urbano.

Já na Figura 05, observa-se que os projetos habitacionais implantados em


Umuarama, na sua maioria, encontram-se em bairros periféricos (Sonho Meu 1 e
Sonho Meu 2).

Figura 05 - Identificação dos terrenos clandestinos, irregulares e regularizados em relação aos


projetos consolidados no município de Umuarama –PR

FONTE: PDM (2018). Modificado pelo Autor, 2021.

Um exemplo claro da inserção periférica das ocupações irregulares, está


identificado na mesma figura com os projetos recentes, os quais referem-se ao
70

conjunto habitacional Sonho Meu, fase um e dois. Interpreta-se que, como a


população que ali reside está isolada do centro, podem ter dificuldades em acessar
serviços oferecidos pela estrutura da cidade por seu distanciamento de áreas com
maior centralidade, pois para existir uma melhor condição de vida se faz necessário o
desenvolvimento humano que se dá pela educação, saúde, cultura, renda e demais
condicionantes fundamentais oferecidas em sua maioria, em áreas mais próximas ao
centro.

Diante disso, é possível afirmar ser o planejamento do uso e ordenamento do


solo, fundamentais para a constituição de cidades sustentáveis. Tão importante
quanto, é evidenciar que no bojo desse dilema socioambiental está também o
problema das condições contingentes de grande parcela da população não
contemplada pelos direitos fundamentais previsto pela legislação vigente, dentre eles,
o da moradia digna e segura. Tal problemática torna-se foco no tópico seguinte, na
medida em que busca, ao entender e mapear possibilidades resolutivas para o meio
ambiente e para as pessoas que vivem nesses espaços de ocupações irregulares,
visualizar projetos e parâmetros locais e globais acerca de possíveis soluções para as
pessoas e para o meio ambiente prejudicados pela falta de estrutura e planejamento
urbano em vista do desenvolvimento sustentável da cidade. Os quais deverão seguir
os indicadores de sustentabilidade da 15 NBR ISO 37120.

5.2 CARACTERIZAÇÃO DAS OCUPAÇÕES IRREGULARES ÀS MARGENS DO


CÓRREGO PRATA NO MUNICÍPIO DE UMUARAMA-PR

Tendo em vista o aprofundamento e alargamento da análise realizada nesse


estudo acerca das ocupações irregulares em fundo de vale, esse tópico tem por
objetivo ilustrar de maneira prática e empírica, os aspectos que caracterizam as
ocupações irregulares em fundo de vale na cidade de Umuarama - PR, considerando
as margens do Córrego Prata como recorte de estudo.

15As cidades brasileiras agora contam com indicadores de sustentabilidade definidos por norma
técnica. A NBR ISO 37120 – Desenvolvimento sustentável de comunidades – Indicadores para
serviços urbanos e qualidade de vida – foi publicada em janeiro de 2017. Ela aborda, além de dados
ambientais, questões sociais e econômicas. A norma é a primeira no país a tratar especificamente
de municípios sustentáveis.
71

Se a sistematização desenvolvida nos tópicos anteriores teve como


centralidade a contextualização, referenciação e teorização sobre o tema das
ocupações irregulares na sua composição macro e micro, o item que segue busca
abordar o objeto de estudo dessa dissertação a partir de uma compreensão empírica.

Por isso, ao conceber este capítulo e tópico, busca-se compor uma análise de
caráter empírica ao Objetivo Específico 2, proposto no início desse estudo, a saber,
caracterizar as ocupações irregulares em fundo de vale no município de Umuarama-
PR, mais especificamente no lócus desta investigação, isto é, nas margens do
Córrego Prata, utilizando para isso, referenciais bibliográficos e levantamento de
dados in loco.

Para tanto, a força motora do avanço desse objetivo está, como citado
anteriormente, na necessária identificação e caracterização dos espaços de
ocupações irregulares em Umuarama, ao longo do Córrego Prata, pois, por meio de
pesquisa in loco, os dados e referenciais teórico ganham significado a partir da
especificidade do caso estudado. Assim, com o intuito de fazer tal caracterização,
importa articular e propor exame sobre os traços urbanos e legais que, por vezes,
tornam as condições de moradia digna inviáveis, aprofundando ainda mais o problema
socioambiental em várias cidades do Brasil, como bem identificado, também, em
Umuarama.

Além disso, serão apresentadas figuras16 que ilustram, pelo olhar do


pesquisador, as nuances socioambientais que particularizam o objeto de estudo.
Assim, objetiva-se uma contribuição atual acerca da condição e situação real das
ocupações irregulares em Umuarama – PR, principalmente aquelas localizadas às
margens do Córrego Prata.

5.2.1 O Locus da Pesquisa: Caracterizando o Espaço de Estudo

A falta de acesso à moradia adequada e digna no Brasil continua sendo, no


século XXI, um grande problema social que acarreta outro problema, o ambiental. O
local de recorte desse estudo ilustra bem esta imensa contradição nacional, pois, se

16
As figuras ilustrarão a situação, os aspectos e as características sociais e ambientais da região,
recorte de estudo. As capturas foram realizadas pelo autor desta pesquisa. Os detalhes do itinerário do
trabalho in loco estão descritos no capítulo da Metodologia.
72

no Brasil o cálculo é de 7,9 milhões de imóveis vazios (Fundação João Pinheiro, 2017),
em Umuarama, de acordo com dados da COHAPAR de 2019 17, referentes a 2015,
existe um Déficit Habitacional de 6 mil moradias.

Em estudo realizado em 2003, Silva e Rezende destacavam que em


Umuarama, com base em dados da Secretaria do Bem-Estar Social, havia cerca de
“1.000 a 1.200 moradias localizadas em áreas de invasão, sendo que,
aproximadamente 600 a 750 encontram-se em áreas de risco, próximo a córregos e
áreas de encosta” (p. 184, 2003). Mesmo com baixo nível de analfabetismo entre os
jovens, a vida em moradias precárias, força a população mais economicamente
vulnerável, a buscar alternativas de moradias em espaço de risco.

São entre 3 a 8 o número de habitantes por moradia. Moradias que não


ocupam área de risco, mas estão localizadas em áreas de invasão,
apresentam menor precariedade. Existem casas de alvenarias e de outros
materiais, algumas possuindo fossa com acesso a água e energia, porém
pavimentação e drenagem insatisfatórias. O índice de doenças é alto nessas
áreas, devido a presença de lixo, entulho e água contaminada por dejetos
domésticos (SILVA; REZENDE, 2003, p. 185).

Considerar o aspecto social, legal, de políticas públicas e suas consequências


acerca da questão ambiental torna-se imprescindível para a compreensão das
condições de oportunidade, acesso aos equipamentos públicos e a degradação
causada pelas ocupações irregulares, no sentido de visualizar e propor passos para
a mitigação do problema identificado.

Diante disso, é no município de Umuarama-PR, que está sendo desenvolvida


esta pesquisa, tendo como local final de estudo o fundo de vale localizado às margens
do Córrego Prata, conforme demonstrado na Figura 06.

Figura 06 - Recorte do local de estudo - Córrego Prata

Fonte: Google Earth (2020); modificado pelo Autor (2020).

17Site COHAPAR – Companhia de Habitação do Paraná. http://www.cohapar.pr.gov.br/Noticia/O-


BEM-DITO-Umuarama-tem-deficit-de-6-mil-habitacoes-diz-Cohapar Acesso em: 20 de julho de 2020.
73

De acordo com o Plano Diretor do Município de Umuarama – PR, (Prefeitura


Municipal de Umuarama, 2018), especificamente no Anexo VIII da Lei de uso e
ocupação do solo, a região do Córrego Prata, objeto desse estudo, encontra-se
predominantemente na Zona Residencial 3 – ZR3, conforme representado na figura
07.

Figura 07 – Zoneamento as margens do Córrego Prata

Umuarama (2018); modificado pelo autor (2020).

O fundo de vale às margens do Córrego Prata, apresentado na Figura 08,


recebe influência direta e indireta dos loteamentos identificados como: Parque
Industrial II; Jardim Alvorada; Cohapar; Parque São Caetano; Jardim Maranata;
Jardim Graciosa, Conjunto Residencial Porto Belo e Parque das Laranjeiras.

Figura 08 - Recorte do local de estudo - Região do Córrego Prata.

Fonte: Google Earth (2020); modificado pelo Autor (2020).


74

A falta de adequação das moradias irregulares existentes nas adjacências do


local de estudo, afetam consideravelmente a qualidade ambiental local, fazendo com
que o uso do solo proposto para aqueles determinados espaços seja
comprometido. Desta maneira, a região carece de estudos que objetivem a
regularização da urbanização e readequação (revitalização) das condições sociais,
ambientais e econômicas, atendendo assim o tripé da sustentabilidade.

5.2.2 Caraterização do Entorno do Local de Estudo

Ao iniciar o levantamento fotográfico, priorizou-se a ponte que é a convergência


entre os Córregos Pinhalzinho e Prata (local da pesquisa), pois esta é uma das
principais vias de acesso ao Parque Laranjeiras conforme demonstrado na Figura 09.

Figura 09 - Levantamento fotográfico – Acesso ao Parque Laranjeiras

Fonte: Google Earth (2020); adaptado pelo autor; Pesquisa de Campo (2020).

A partir dessa posição, a pesquisa e observação seguiu o curso contrário ao


fluxo do córrego até a cabeceira de sua nascente. Neste percurso foram analisados
critérios quanto à degradação do meio ambiente, identificada pela erosão da margem
do córrego, assoreamento e poluição advindos das casas construídas próximas ao
córrego.
Ao iniciar o levantamento fotográfico nesse ponto, buscou-se analisar o local
de forma decrescente em relação ao fluxo do córrego, para melhor verificação dos
75

prejuízos ambientais causados pelo depósito de poluentes que afetam diretamente a


região no seu aspecto ambiental.
As imagens apresentadas na Figura 09, trazem um referencial quanto à
situação e degradação das margens do córrego, algo que fica bastante evidente
somente ao transitar e se aproximar da borda da ponte de convergência dos córregos
Pinhalzinho e Prata. Na medida em que há uma aproximação da via de acesso às
margens do Córrego Prata, é possível observar um grande descaso quanto aos
critérios de proteção ao meio ambiente conforme apresentado na Figura 10.
São graves os riscos relacionados ao depósito de resíduos sólidos a céu
aberto, principalmente quando este local se refere às margens de rios e córregos,
pois, acentuam problemas urbanos e de saúde pública. Evidencia-se assim o
desrespeito, falta de cuidado e a falta de consciência ambiental, por parte da
população, pois tais práticas degradam o meio ambiente, além destas, fica perceptível
a ausência de ação da esfera pública, pois não há mitigação eficaz desses problemas.

Figura 10 - Levantamento fotográfico – Margens do Córrego Prata

Fonte: Google Earth (2020); adaptado pelo autor; Pesquisa de Campo (2020).

Outro aspecto destacado e verificado no entorno do espaço da pesquisa é o


despejo da água pluvial diretamente no córrego, via sulcos escavados nas suas
margens, o que arrasta resíduos que são depositados nele. Além disso, outra
agressão ao meio ambiente local é o escoamento dos esgotos das casas construídas
em ambas as margens do córrego, sem qualquer tratamento.
76

No processo de captura das imagens, uma moradora18 local, curiosa com a


ação do pesquisador, explicou que mora na ocupação irregular nos fundos do Vale do
Parque Laranjeiras há 16 anos. Verifica-se que na casa na qual ela reside, o cano de
esgoto leva os rejeitos diretamente ao córrego (como evidencia a Figura 11). Ao ser
questionada sobre o tempo que ali vive e como funciona a questão do esgotamento
sanitário, a proprietária do imóvel respondeu:

(...) estou residindo aqui há uns 16 anos, mas a ocupação deve ter
aproximadamente uns 40. E sobre o esgotamento, vai direto para o rio, nós
não temos acesso ao esgoto, mesmo passando próximo a residência
(RELATO DA MORADORA LOCAL).

Figura 11 - Levantamento fotográfico – Fundos de uma residência

Fonte: Google Earth (2020); adaptado pelo autor; Pesquisa de Campo (2020).

Ao empreender uma análise breve do entorno do lócus da pesquisa, a


investigação segue no intuito de abarcar o foco central dessa proposta, isto é,
caracterizar a situação socioambiental das ocupações irregulares em fundo de vale
do Córrego Prata.

18
Para evitar exposição e garantir o anonimato, evitou-se, aqui, explicitar o nome e a localização da
residência da moradora da ocupação.
77

5.2.3 Caraterização das Condições Socioambientais do Local de Estudo

Ao avançar na análise do espaço da pesquisa (margem esquerda do córrego),


foi possível mapear as divergências que se sobrepõem ao projeto de regularização de
parcela das ocupações estabelecidas às margens do Córrego Prata, bem como, a
exacerbação de estruturas que descaracterizam o planejamento urbano.
Um exemplo de destaque pode ser explicitado acerca da Rua das Azaleias.
Esta rua foi planejada como a última intervenção realizada pelo Planejamento Urbano
Municipal, ou seja, esta equivale à divisa entre as áreas legais e irregulares existentes
no local. Porém, quando da observação no local, evidencia-se no entorno da Rua das
Azaleias – a qual deveria fazer a separação entre o Parque das Laranjeiras e o fundo
de vale – que não existe a possibilidade de distinguir o que é loteamento regular ou
ocupação clandestina, pois devido ao tempo de existência, o processo morfológico do
local já se o transformou em um núcleo urbano irregular consolidado. Isso é ratificado
na Figura 12 e 13.

Figura 12 - Levantamento fotográfico – Vista da Rua Azaleia, à esquerda situa-se o Parque das
Laranjeiras e à direita a ocupação irregular existente.

Fonte: Google Earth (2020); adaptado pelo autor; Pesquisa de Campo (2020).

Estes núcleos urbanos, da maneira como se encontram, não cumprem o papel


social da propriedade urbana previstas no Estatuto das Cidades (Lei Complementar
10257/2001 – Art. 39), a qual aborda que
78

(...) a propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às


exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no Plano
Diretor, assegurando o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto
à qualidade de vida, à justiça social e ao desenvolvimento das atividades
econômicas, respeitadas as diretrizes previstas nesta Lei.

Assim, ao estudar as características de uma ocupação, importa levar em conta


as diretrizes apresentadas na Lei 13.465, de 11 de julho de 2017 (BRASIL, 2017), que
dispõe sobre a regularização fundiária rural e urbana, no título II, capítulo I. Assim o
Art. 11 desta Lei, considera:

I - núcleo urbano: assentamento humano, com uso e características urbanas,


constituído por unidades imobiliárias de área inferior à fração mínima de
parcelamento prevista na Lei nº 5.868, de 12 de dezembro de 1972 ,
independentemente da propriedade do solo, ainda que situado em área
qualificada ou inscrita como rural;
II - núcleo urbano informal: aquele clandestino, irregular ou no qual não foi
possível realizar, por qualquer modo, a titulação de seus ocupantes, ainda
que atendida a legislação vigente à época de sua implantação ou
regularização;
III - núcleo urbano informal consolidado: aquele de difícil reversão,
considerados o tempo da ocupação, a natureza das edificações, a localização
das vias de circulação e a presença de equipamentos públicos, entre outras
circunstâncias a serem avaliadas pelo Município (BRASIL, 2017).

A mesma lei dispõe sobre a regularização fundiária rural e urbana e em seu


Art. 17, inciso 7º e menciona: “os assentamentos que, em 1º de junho de 2017,
contarem com quinze anos ou mais de criação, deverão ser consolidados em até três
anos” (BRASIL, 2017). De acordo com os dados da COHAPAR (2019), a ocupação
do Parque das Laranjeiras teve início aproximadamente no ano 2.000, isto é, possui
aproximadamente vinte anos de existência.
Ainda na Figura 13, é possível observar a estrutura das vias da região e
verificar a consolidação dos bairros que se constituem e se integram ao contexto
urbano.
79

Figura 13 - Levantamento fotográfico – Vista da Rua das Primaveras sentido a Rua Azaleia, à
direita situa-se o Parque das Laranjeiras e na junção das duas, (aos fundos) a ocupação
clandestina.

Fonte: Google Earth (2020); adaptado pelo autor; Pesquisa de Campo (2020).

Já, na Figura 14, é possível observar a segunda passagem acima do Córrego


Prata, localizada sobre a Rua Pellegrino Mignoni que faz ligação entre o Parque das
Laranjeiras e o Conjunto Residencial Porto Belo. Com o intuito de obter uma visão
mais ampla e completa do objeto de estudo, o foco de análise considerará, também,
ambas as margens do córrego. A Figura 14 demonstra esse foco.

Figura 14 - Levantamento fotográfico – Segunda ponte sobre o Córrego Prata – Passagem à


margem direita do córrego.

Fonte: Google Earth (2020); adaptado pelo autor; Pesquisa de Campo (2020).
80

Na margem direita do Córrego Prata, nos fundos do Conjunto Residencial Porto


Belo, é possível observar indícios de novas construções de alvenaria, localizadas
sobre as margens do lado esquerdo do Córrego (Parque das Laranjeiras). Conforme
demonstrado na Figura 15, com atenção, é possível verificar que o esgotamento
sanitário é liberado diretamente no córrego sem prévios tratamentos.

Figura 15 - Levantamento fotográfico – Ocupações sobre a encosta e canalização do esgoto


diretamente para Córrego

Fonte: Google Earth (2020); adaptado pelo autor; Pesquisa de Campo (2020).
Diante desse quadro socioambiental é pertinente destacar que a existência de
ocupações irregulares em fundos de vale favorece a degradação rápida e, às vezes,
irreversível, do meio ambiente, pois, como não apresentam conjuntos sanitários (fossa
séptica, filtro anaeróbico e sumidouro), a pouca infraestrutura estabelecida faz com
que os moradores dessas localidades descartem, direta e sistematicamente, seus
poluentes no córrego. Além disso, outros fatores levam à degradação ambiental, visto
que vários tipos de resíduos são depositados e passam a ocupar o lugar da vegetação,
onde esta ainda existe, prejudicando ainda mais a saúde do córrego, da mata ciliar e
das pessoas.
Na Figura 16 é possível observar a existência de uma ATI (Academia da
Terceira Idade), assim como um parque infantil. Do lado direito destes equipamentos
está localizado o Conjunto Residencial Porto Belo, área legalmente implantada e, por
isso, suas edificações deveriam atender as normativas de uso e ocupação do solo e
as demais exigências solicitadas no Plano Diretor Municipal. Porém, ao fazer a análise
in loco, não é o que ocorre.
81

Figura 16 - Levantamento fotográfico – Conjunto Residencial Porto Belo

Fonte: Google Earth (2020); adaptado pelo autor; Pesquisa de Campo (2020).

Com base nisso, também pode ser observado na Figura 16, que o sistema de
esgoto é canalizado no lado esquerdo da divisa. Ao se aproximar, constata-se a
existência de um sumidouro no local que é utilizado apenas para descarga sanitária.
Já as demais águas com resíduos (água das pias, tanques e águas pluviais), são
canalizados para fora do imóvel sem a adequada preocupação com o meio ambiente,
e também, com as famílias que utilizam o local para o lazer.
Além dos problemas ambientais observados, os quais são causados pelo
esgotamento sanitário inexistente, pelos poluentes subterrâneos e pelos rejeitos
oriundos de sumidouros instalados de forma errônea, existe uma questão de cultura
local que precisa ser trabalhada e reorientada pela prefeitura, de caráter educativo.
Os moradores da região descartam seus detritos (mobiliários, resíduos da
construção civil, restos de vegetativos, etc.) de forma irregular, afetando ainda mais o
meio ambiente conforme apresentado na Figura 17. Esta constatação não é pontual,
pois, conforme apresentado em várias capturas de imagem, ela acontece ao longo de
todo o trecho analisado.
82

Figura 17 - Levantamento fotográfico – Descarte irregular de resíduos próximo ao Residencial


Porto Belo

Fonte: Google Earth (2020); adaptado pelo autor; Pesquisa de Campo (2020).

A importância de um trabalho educativo e formativo com a população local,


tanto por parte da prefeitura, quanto de outros órgãos públicos e pesquisadores da
área urbana / ambiental, acerca da gravidade do descarte inadequado de rejeitos e
detritos às margens do córrego, como também, no espaço de convívio coletivo,
demonstra-se imprescindível.
Este trabalho com a cultura do cuidado ambiental, precisa passar pela
aproximação dos equipamentos/órgãos públicos e população, no sentido de contribuir
para que as pessoas que vivem nessas regiões se sintam dignas e atendidas nas
suas necessidades básicas. Além disso, a relação afetiva com o espaço de vivência
provoca uma estreita condição psicológica de preservação, o que possibilitaria uma
outra forma dos moradores lidarem com o espaço de vivência deles, readequando
ações relacionadas aos rejeitos depositados de modo impróprio próximos às suas
casas.
Importante destacar também que, ao adentrar na mata para se aproximar do
leito do córrego, foi possível identificar ao longo do trecho analisado, a existência de
várias nascentes de água cristalina, onde o meio ambiente tenta se regenerar. Porém,
a degradação se impõe de modo a dificultar o processo de revitalização natural do
ambiente. Na Figura 18 podem ser observadas algumas das nascentes existentes,
assim como a intervenção do homem, formando um tanque onde possivelmente exista
a criação de peixes, descumprindo normativas do IAP.
83

Figura 18 - Levantamento fotográfico – Nascentes e represa existente no fundo de vale próximo


ao Residencial Porto Belo

Fonte: Autor (2020) - Pesquisa de Campo (2020).

As nascentes são também degradadas e contaminadas por outros materiais


descartados no seu entorno. Como demonstra a Figura 19, embora com menos
quantidade de resíduos, ao se aproximar da cabeceira do córrego é visível tipos
diversos de sólidos presentes e, por conta de rejeitos orgânicos, o local possui um
odor bastante desagradável. A contaminação das nascentes do córrego pode
comprometer todo o curso da água, prejudicando a conservação da biodiversidade, a
qualidade ecológica local e, consequentemente, o equilíbrio ambiental e natural da
água, solo, ar, fauna e flora.

Figura 19 - Levantamento fotográfico – Leito do córrego prata próximo ao Residencial Porto


Belo

Fonte: Google Earth (2020); adaptado pelo autor; Pesquisa de Campo (2020).
84

Ao adentrar uma nova ocupação, a do fundo de vale do Parque São Caetano,


os indicativos de degradação se repetem. Como é possível verificar na Figura 20,
esta ocupação pode ser considerada um bairro consolidado, por isso, as estruturas
habitacionais não oferecem riscos às pessoas que ali residem. Contudo, repete-se
também a degradação do meio ambiente quanto à questão do lixo em excesso e
esgotamento sanitário jogado diretamente no córrego.

Figura 20 - Levantamento fotográfico – Ocupações irregulares no fundo de Vale – Parque São


Caetano

Fonte: Google Earth (2020); adaptado pelo autor; Pesquisa de Campo (2020).

Uma característica da região pesquisada, diz respeito ao fato de que existem


vários “terrenos” demarcados com cercas, sugerindo serem propriedades privadas
legalizadas. Nesse sentido, o espaço cercado ao ser estabelecido em uma
propriedade pública, equivale à condição de ocupação com o agravante de estar
próximo a um bem ambiental que é um córrego e, por isso, área de preservação
ambiental.
É evidente que em um país de tantas desigualdades sociais, o uso de terras
públicas por privados seja comum, principalmente porque com base nos princípios da
Carta Magna promulgada em 1988, a moradia é definida como direito fundamental.
Contudo, no exemplo a seguir, ilustrado pela Figura 21, o ambiente cercado indica
um possível espaço de convívio com bancos na sombra de uma árvore,
aparentemente utilizado como espaço de lazer.
85

Figura 21 - Levantamento fotográfico – Demarcação do solo dentro da APP – Parque São


Caetano

Fonte: Autor (2020) – Pesquisa de Campo (2020).

A falta de infraestrutura identifica, sobremaneira, o espaço analisado. Na


Figura 22 é possível perceber que entre o Mutirão Alvorada e o Parque São Caetano
existe uma passagem que dá acesso ao Parque Industrial II. Porém, só é possível o
trânsito, nesta via, de pedestres, ciclistas e motociclistas, pois a largura da via não
permite acesso a outro tipo de veículo. Quanto às condicionantes ambientais do local,
estas seguem o mesmo padrão do exposto até o momento.

Figura 22 - Levantamento fotográfico – Passagem para pedestres e motocicletas – Acesso ao


Parque Industrial II

Fonte: Autor (2020) - Pesquisa de Campo (2020).


86

Pode-se ver, na Figura 23, que a própria Prefeitura caracteriza a Área de


Preservação Permanente (APP) como “terreno baldio”. Desse modo, ao sugerir que
este espaço não tem proprietário e que, portanto, não há responsáveis pelo mesmo,
cria-se uma percepção coletiva de não haver limites nem controle de uso e de
exploração. De acordo com o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, as
características de “baldio” podem ser definidas como: “terreno que não é cultivado,
que não é edificado ou do qual não se conhece o proprietário”. Neste caso, sabe-se
que esta parcela do solo urbano corresponde a uma APP e, por isso, tem valor
socioambiental e deve ser protegido pelo município.

Figura 23 - Levantamento fotográfico – Primeiras imagens ao chegar no local da pesquisa

Fonte: Autor (2020) Pesquisa de Campo (2020).


Ao avançar na pesquisa, após mil metros (aproximadamente), chegou-se aos
fundos do Mutirão Alvorada. Desde o início dessa investigação empírica, pode-se
dizer que de todos pontos observados, esta região é a que apresenta maior
degradação ao meio ambiente. Nesse local não existem ocupações irregulares,
contudo, há muitas demarcações de terrenos separados por alambrados e vários tipos
de materiais abandonados.
Observa-se que existe um aterro estabelecido recentemente dentro da APP,
porém, ainda sem vestígios de construções. Este bairro foi o que mais apresentou
resíduos espalhados e de grande variedade, no espaço analisado. Ainda acerca da
questão ambiental, o leito do córrego também apresentou uma coloração diferenciada
(marrom escuro). Estes aspectos podem ser verificados na Figura 24.
87

Figura 24 - Levantamento fotográfico – Fundo de Vale fazendo divisa com o Mutirão Alvorada.

Fonte: Google Earth (2020); adaptado pelo autor; Pesquisa de Campo (2020).

Ainda sobre o Mutirão Alvorada, na Figura 25 é facilmente observada a


existência de esgoto doméstico proveniente de cozinhas das casas existentes no
local. É possível identificar restos de alimentos percorrendo a sarjeta até chegar nas
galerias de águas pluviais, as quais são canalizadas até o córrego.

Figura 25 - Levantamento fotográfico – Esgoto a céu aberto - Mutirão Alvorada

Fonte: Autor (2020) - Pesquisa de Campo (2020).


88

Sobre o sistema de drenagem do córrego que passa sob a Avenida Ângelo


Moreira da Fonseca, próximo ao trevo de acesso à cidade pela Rodovia 323, verifica-
se uma ocupação irregular (Figura 26), bem no alinhamento da zona industrial. Como
havia barreiras físicas, não foi possível acessar o local. Importa indicar a necessária
atuação e fiscalização dos órgãos competentes na área, pois, outras frentes de
ocupação podem estar se formando na região. Nesta mesma figura, na imagem à
direita, aparece em evidência a situação do córrego neste local.

Figura 26 - Levantamento fotográfico – Fundo de Vale às margens da Av. Ângelo Moreira da


Fonseca

Fonte: Google Earth (2020); adaptado pelo autor; Pesquisa de Campo (2020).

Ainda em pesquisa nessa região e em interações espontâneas com moradores,


alguns relataram que existe um evento esporádico que atinge o córrego denominado
pelos locais de “água azul”. O nome é dado porque, por vezes, a água do córrego
tinge-se de azul anil, além de também exalar um odor desagradável na região. A
pesquisa, desse modo, foi redirecionada momentaneamente para identificar, no
entorno, quais os possíveis motivos para esse fenômeno.
Desta maneira foi realizada uma análise mais minuciosa sobre os serviços
existentes no setor industrial local, na tentativa de identificar o que poderia estar
causando este evento. Conforme observado e ilustrado na Figura 27, existe uma
fábrica de tinturaria de roupas (jeans) que, após o tratamento da água, libera os
resíduos no córrego, alterando a tonalidade da água devido ao volume descartado 19.

19
Importante enfatizar que, por não ser o objeto específico desse estudo, não foram analisadas as
características e tipos de tratamentos realizados por esta indústria.
89

Figura 27 - Levantamento fotográfico – Parque Industrial II – Tinturaria às Margens da Rodovia


323

Fonte: Google Earth (2020); adaptado pelo autor; Pesquisa de Campo (2020).

Nos fundos do Jardim Monte Carlo até onde se vê, não existem ocupações
irregulares, porém há várias tubulações clandestinas que ligam os esgotos de imóveis
da região diretamente ao córrego, conforme fica evidente na Figura 28.

Figura 28 - Levantamento fotográfico – Fundo de Vale fazendo divisa com Jardim Monte Carlo

Fonte: Google Earth (2020); adaptado pelo autor; Pesquisa de Campo (2020).

Por outro lado, no fundo de vale que faz divisa com o Jardim Monte Carlo, na
lateral da Rodovia 323, as construções avançam tanto sobre o córrego que o terreno
já não suporta e se torna extremamente frágil. Ao observar a imagem central da
Figura 29, fica evidente a falta de cuidado, respeito e zelo pelo meio ambiente, além
das construções colocarem em risco, também, a vida das pessoas que habitam
nessas moradias.

Figura 29 - Levantamento fotográfico – Fundo de Vale fazendo divisa com Jardim Monte Carlo
– Lateral com Rodovia 323

Fonte: Google Earth (2020); adaptado pelo autor; Pesquisa de Campo (2020).
90

Após um longo percurso, a pesquisa encontra a cabeceira do Córrego Prata,


último espaço a ser investigado. Este local deveria estar protegido, como define a
legislação. Entretanto, como se observa na Figura 30, os aterros seguem
aumentando e colocando em risco a vida do rio e da sua ecologia local, já tão
degradada pela ausência de respeito, tanto das pessoas que, às vezes, por falta de
opção, e às vezes, por interesses escusos, destroem e exploram as margens do
córrego e as suas águas. Ademais, o próprio poder público se exime parcialmente de
fiscalizar e proporcionar condições dignas às pessoas que ali estão, garantindo
consequentemente, maior cuidado aos bens socioambientais da região.

Figura 30 - Levantamento fotográfico – Aterro sendo realizado próximo a cabeceira da Nascente


do Córrego Prata.

Fonte: Google Earth (2020); adaptado pelo autor; Pesquisa de Campo (2020).

Ao concluir a pesquisa in loco, torna-se possível categorizar a situação das


margens do Córrego Prata e seu entorno, como uma área predominantemente
degradada. Tal consideração encontra fundamentação na observação e registro dos
diversos problemas verificados no espaço da pesquisa, com base nas características
do tipo de ocupação (irregular) presente e as consequências e prejuízos provocados
ao meio ambiente da área analisada.
Contudo, são muitos os problemas, alavancados no lócus da pesquisa e que
estão articulados à questão ambiental, cerne da pesquisa realizada aqui, a saber: os
problemas de infraestrutura (carência de equipamentos públicos, saneamento básico,
suporte e garantia da limpeza pública, fiscalização das empresas locais...); de
fiscalização e controle da gestão municipal das APPs; moradias vulneráveis e
condições sociais precárias das pessoas que vivem nesses espaços; a insegurança
direta à vida, com riscos de desabamentos, bem como, o risco de contaminações por
91

doenças provenientes da má gestão ambiental e de resíduos depositados a céu aberto


na região.
Além disso, existem interesses econômicos que orbitam a apropriação de
terras públicas por pessoas que não necessariamente estão em condição de
suscetibilidade social.
Assim, nesta pesquisa, ao propor e realizar um diagnóstico em campo, com
foco na caracterização detalhada das consequências negativas ao meio ambiente
provocadas pelas ocupações irregulares e estabelecidas nos fundos de vales,
abarcando o Córrego Prata, objetivou-se oferecer subsídios teóricos, documentais e
fotográficos para possíveis intervenções da gestão municipal, acerca de futuros
estudos de regularização das moradias e revitalização do meio ambiente local. Nesse
sentido, importou mapear aspectos que, pela via da gestão pública e em parceria com
instituições educacionais e de pesquisa científica, possam formular ações para
fortalecer relações afetivas, sustentáveis e saudáveis entre os moradores da região e
o meio ambiente local.
Por fim, se o objetivo desse tópico era caracterizar as ocupações irregulares
em fundo de vale no município de Umuarama-PR, mais especificamente no lócus
dessa investigação, isto é, nas margens do Córrego Prata, utilizando para isso,
referenciais bibliográficos e levantamento de dados in loco, no capítulo seguinte, o
escopo é apontar alternativas viáveis, com base nos dados e elementos alavancados
na pesquisa de campo, para compor um quadro de alternativas no tocante a
constituição de direcionadores para uma proposta de intervenção sustentável para a
região do Córrego Prata, as quais, estão representadas na Tabela 04 – Loteamentos
Clandestinos e Irregulares às margens do córrego Prata (pág 32).
92

6 CIDADES SUSTENTÁVEIS: PROPOSIÇÕES PARA A CONSOLIDAÇÃO DE


SOLUÇÕES URBANAS NO LÓCUS DA PESQUISA

O tópico que se segue apreende sentido, no conjunto dessa análise, quando


da propositura de possíveis soluções identificadas nas investigações e estudos
sistematizados acerca da condição ambiental e social que causam, ou são causadas,
pelas ocupações irregulares em espaços urbanos contemporâneos.

É, nesse sentido, que o foco desse capítulo está na articulação dinâmica entre
indicadores firmados nos referenciais das Nações Unidas para a Agenda 2030, nos
dados alavancados in loco, às margens do Córrego Prata e nos elementos extraídos
da literatura e dos documentos oficiais municipais, estaduais e federais que versam
sobre o tema da sustentabilidade, do déficit habitacional e de estratégias bem-
sucedidas de realocação e recuperação de áreas degradada em fundo de vales.

Os dados, ao serem considerados à luz da pesquisa empírica e do contexto


específico da região pesquisada, possibilitou integrar referenciais práticos e legais
para corroborar com a necessidade de fundamentar e desenvolver o Objetivo
Específico 3 projetado no início deste estudo, isto é, propor soluções sustentáveis
para as ocupações irregulares às margens do Córrego Prata em Umuarama –
PR, com base em pesquisa bibliográfica e de campo, considerando os
identificadores para Cidades Sustentáveis.

A configuração de cidades sustentáveis, tanto como opção, quanto como


necessidade para resolução de problemas socioambientais, atualmente transborda o
debate acadêmico e se constitui como alternativa social, ambiental, econômica,
cultural e existencial para além da qualificação da vida urbana, mas também, para a
manutenção e garantia de sobrevivência da natureza e da vida animal, dentre elas a
vida humana.

A concepção de cidade sustentável, nesse sentido, converge para uma


grande pluralidade conceitual e, ao mesmo tempo, prática. Em sentido amplo, a ideia
de cidade sustentável atualmente emerge como uma “crítica frontal às formas de
crescimento extensivas e aos efeitos perversos das aglomerações urbanas mais
93

recentes” (GUERRA, 2010, p. 69), que degradam e precarizam a vida dos seus
citadinos e dos espaços naturais colocando-os em crise, ao passo que também visa
garantir recursos naturais de qualidade para o bem de todos aqueles que convivem
em uma comunidade humana e ecológica.

Diante disso, com base em pesquisa bibliográfica e com foco no levantamento


do Estado da Arte / Estado do Conhecimento acerca das alternativas sistematizadas
nos estudos empíricos e na literatura, no que tange à regularização e resolução dos
espaços urbanos de ocupação irregular, diversos autores (MORETTI, 2005; ONU
BRASIL, 2015; RIBEIRO, 2017, entre outros) concordam ser a proteção e uso racional
dos recursos hídricos medidas importantíssimas para o desenvolvimento sustentável
da cidade.

As ocupações irregulares em fundos de vale – espaços estes caracterizados


por serem pontos mais baixos do relevo, por onde escoam as águas das chuvas –
produzem impactos ambientais severos, como a contaminação dos mananciais por
receberem esgoto não tratado; desenvolvimento e aceleração do processo erosivo
pela ausência da mata ciliar; mudança do microclima local, alterando o habitat propício
para desenvolvimento da flora e fauna local, etc.

Moretti (2005) afirma que nesses casos há uma dualidade resolutiva frente a
esses problemas e que pode, também, ser sintetizada em uma pergunta geradora:
como intervir, restaurar a mata ciliar e minimizar os impactos ambientais e ao
mesmo tempo fornecer moradias de boa qualidade para a população? Para o
autor, é essencial a flexibilização da legislação, com um específico planejamento
territorial, para que sejam viáveis as estratégias de reaproximação do cidadão com os
cursos d’água.

Levando em consideração a Agenda 2030 e seus dezessete objetivos, é


oportuno destacar, no contexto dessa investigação, o objetivo décimo primeiro
(ODS11), pois, este, parte da premissa necessária à constituição de cidades e
assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. Este objetivo
vai ao encontro dessa problemática e propõe soluções para regularização e
urbanização de favelas, assentamentos irregulares ou clandestinos (ONU BRASIL,
2015).
94

São vários os focos de atuação da ONU sobre essa temática. Nesse estudo
importa ressaltar os seguintes direcionadores da Agenda 2030:

11.1 Até 2030, garantir o acesso de todos à habitação segura, adequada e a


preço acessível, e aos serviços básicos e urbanizar as favelas [...].
11.3 Até 2030, aumentar a urbanização inclusiva e sustentável, e as
capacidades para o planejamento e gestão de assentamentos humanos
participativos, integrados e sustentáveis, em todos os países.
11.4 Fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio cultural e
natural do mundo.
11.5 Até 2030, reduzir significativamente o número de mortes e o número de
pessoas afetadas por catástrofes e substancialmente diminuir as perdas
econômicas diretas causadas por elas em relação ao produto interno bruto
global, incluindo os desastres relacionados à água, com o foco em proteger
os pobres e as pessoas em situação de Vulnerabilidade.
11.6 Até 2030, reduzir o impacto ambiental negativo per capita das cidades,
inclusive prestando especial atenção à qualidade do ar, gestão de resíduos
municipais e outros.
11.7 Até 2030, proporcionar o acesso universal a espaços públicos
seguros, inclusivos, acessíveis e verdes, particularmente para as
mulheres e crianças, pessoas idosas e pessoas com deficiência.
11.a Apoiar relações econômicas, sociais e ambientais positivas entre
áreas urbanas, periurbanas e rurais, reforçando o planejamento nacional e
regional de desenvolvimento;
11.b Até 2030, aumentar substancialmente o número de cidades e
assentamentos humanos adotando e implementando políticas e planos
integrados para a inclusão, a eficiência dos recursos, mitigação e adaptação
às mudanças climáticas, a resiliência a desastres; e desenvolver e
implementar, de acordo com o Marco de Sendai para a Redução do Risco de
Desastres 2015-2030, o gerenciamento holístico do risco de 30 desastres em
todos os níveis;
11.c Apoiar os países menos desenvolvidos, inclusive por meio de
assistência técnica e financeira, para construções sustentáveis e resilientes,
utilizando materiais locais.

Os desafios que impregnam as proposições da Agenda 2030 são audaciosos


e exigentes do ponto de vista da gestão global dos recursos, espaços e pessoas,
principalmente em relação aos menos favorecidos – pobres, crianças, mulheres e
idosos. Portanto, a proposta de adequação e regularização de loteamentos
clandestinos e irregulares existentes (estratégias 11.3 e 11.6) no contexto urbano das
cidades, parece ser um problema insolúvel, visto que por décadas tais práticas poluem
e degradam o meio ambiente (destruição das matas ciliares, poluição dos cursos
d’água, fragilização dos espaços verdes nas cidades), ao mesmo tempo que torna
frágil a vida humana nesses espaços, mesmo que nas suas adjacências existam
infraestruturas preparadas para atender as necessidades sanitárias sem custos
desnecessários com novas obras.
95

Nesse sentido, a necessária superação da dualidade citada anteriormente


passa pela promoção e substanciação de uma cidade sustentável pautada em uma
gestão referenciada em:

● Moradias dignas e adequadas ambientalmente;


● Interrupção da produção de poluentes que afetam o meio natural;
● Revitalização da malha ocupada irregularmente;
● Inserção de um parque linear proporcionando microclima local;
● Valorização imobiliária da região evitando especulação imobiliária (GUERRA,
2010).

Estas alternativas e proposições devem oferecer as condicionantes de


segurança, habitabilidade e sustentabilidade, a fim de atender às necessidades de
seus usuários com o intuito de promover o afeto e apropriação do espaço construído
por seus moradores. Desta maneira a reinserção urbana devolve o direito à cidade.
Cabe, contudo, a clareza de que os desafios de planejar do zero uma cidade
sustentável são diferentes de, no modelo urbano contemporâneo, recompor práticas
gestacionais em cidades já estruturadas e não pensadas para serem sustentáveis
nem social, nem ambientalmente.

De acordo com Travasso e Schult (2013), existe uma estratégia ambiental e


social para os espaços urbanos que necessitam de regularização, a saber, a
composição de áreas verdes ao longo dos cursos d’água. Para os pesquisadores,
essa estratégia exerce uma dupla função, pois ao mesmo tempo que garante espaços
de lazer à população local, evita a ocupação descontrolada da região e, em casos de
inundações esporádicas em áreas específicas, exerce o trabalho de contenção. Os
caminhos ou corredores verdes20 podem contribuir potencialmente “para a construção
de cidades onde se viva melhor, possibilitando o contato entre a população e a
natureza e fazendo uma ponte entre os processos sociais e naturais” (TRAVASSO;
SCHULT, 2013, p. 295).

20
De acordo com TRAVASSO; SCHULT, 2013, são vários os conceitos relacionados ao modelo de
recuperação ambiental às margens dos cursos d’água – fundos de vale presentes. Os mais utilizados
são: caminhos verdes; corredores verdes; infraestrutura verde e, o mais comum na literatura nacional,
parque linear, opção conceitual também dessa investigação.
96

Contudo, tais qualificações na modelagem urbanística em vista da


sustentabilidade socioambiental dependem de um aprofundamento do diálogo entre
as Leis de Zoneamento, Plano Diretor e Legislação Ambiental, principalmente no que
se refere ao licenciamento de empreendimentos, uma vez que é comum um
distanciamento legislativo e administrativo entre os licenciamentos urbanístico e
ambiental. Pois, se faz

[...] indispensável buscar a aplicação efetiva do ordenamento jurídico,


especialmente no que se refere à implementação dos instrumentos de
cumprimento da função social da propriedade. É importante, nesse sentido,
inserir o ensino do direito urbanístico nas faculdades brasileiras para formar
os diversos operadores do direito (promotores, juízes, defensores públicos,
procuradores municipais, cartórios etc.), bem como promover a
sensibilização sobre os temas relacionados à política urbana no âmbito do
Poder Judiciário (BRASIL, 2016, p. 74).

Nesse rol de possibilidades e alternativas globais acerca da constituição e


remodelamento das cidades com vistas à sustentabilidade, destaca-se que a Nova
Agenda Urbana assinada na Habitat III21, traz, de acordo com estudiosos, amplas
oportunidades para consolidar perspectivas mais unificadas de planejamentos
urbanos que promovam o desenvolvimento sustentável ambiental e social. Algumas
projeções se colocam no horizonte como, por exemplo, conceber, sem receitas
prontas, propostas de planejamento urbano focado numa política triangular, isto é, de
boa governança, planejamento diretivo e democrático e de desenhos urbanos
palpáveis e convergentes nas dimensões sociais, culturais, econômicas e ambientais.

6.1 POSSIBILIDADE RESOLUTIVA SUSTENTÁVEL PARA AS OCUPAÇÕES


IRREGULARES EM FUNDO DE VALE ÀS MARGENS DO CÓRREGO PRATA

O tópico que segue visa a constituir uma síntese dos aspectos teóricos,
documentais e investigativos in loco do problema estabelecido nesta pesquisa, a
saber: quais alternativas de moradia e reparação ambiental são viáveis para a
recuperação das margens do Córrego Prata em Umuarama – PR, em vista da
mitigação dos prejuízos ambientais causados pelas ocupações irregulares em fundo
de vale?

21
Relatório Brasileiro para o Habitat III, 2016. Disponível:
http://habitat3.org/wp-content/uploads/National-Report-LAC-Brazil-Portuguese.pdf
97

Ao compor e capilarizar os aspectos econômicos, sociais e ambientais


relacionados aos diversos problemas urbanos que têm causas e efeitos complexos, a
respeito das ocupações irregulares em fundo de vales realizados ao longo dessa
inquirição, foi possível propor como hipótese, para a mitigação dos problemas
socioambientais ligados às ocupações irregulares na região do Córrego Prata em
Umuarama – PR, a flexibilização da legislação que estabelecem critérios para o solo
urbano.

Tal proposição se configura com base na compreensão de que os problemas


urbanos tecidos em ambientes social e ecologicamente precários exigem, da gestão
municipal, criatividade e inovação para propor e consolidar estratégias de ação local
que articulem a solução dos problemas vigentes, bem como, prever para desarticular
problemas de cunho social e de degradação ambiental prováveis em regiões de
vulnerabilidade ecológica e humana.

De acordo com a Rede do IPEA (2014), Projeto de Governança Metropolitana


no Brasil, as restrições legais e a inflexibilidade dos planejamentos urbanos,
constituem empecilho ambiental e social na concretização de uma governança
criativa, democrática e dinâmica do uso do solo urbano. Além disso, a ineficiência dos
órgãos municipais de controle e fiscalização, contribui para tornar as áreas de
proteção ambiental, como os fundos de vale, espaços atrativos de ocupação por
pessoas que sofrem com a falta de recursos e estrutura habitacional minimamente
adequada (IPEA, 2014).

Ou seja, a

[...] ineficácia e a inadequação dos instrumentos de planejamento e gestão


urbana podem contribuir para o estabelecimento de padrões irregulares e
informais de ocupação e urbanização, em especial dos segmentos mais
pobres da população. Em alguns casos, ao propiciarem a supervalorização
de imóveis em algumas áreas, podem incentivar – por omissão ou
inadequação – um grande contingente da população pobre a ter apenas
acesso a formas irregulares de ocupação e habitação. O acesso à habitação
é, nesses termos, afetado pelo ambiente regulador, institucional e normativo.
A habitação resultante desse processo é, em geral, não autorizada e de
baixos custo e padrão de qualidade. Situa-se em áreas restritivas à ocupação,
geralmente não atendidas por serviços e infraestrutura urbana (IPEA, 2014).

Assim, ao indicar ser a flexibilização da legislação uma alternativa viável ao


projeto de recuperação do solo na região pesquisada, com a necessária realocação
de famílias estabelecidas no local, considera-se que os
98

[...] sistemas de planejamento de gestão do uso do solo devem ser dinâmicos


e capazes de assimilar processos sociais e econômicos urbanos, permitindo
o atendimento das demandas habitacionais e de desenvolvimento urbano,
visando evitar graves disfunções nas cidades. Tais disfunções se manifestam
negativamente na cidadania, nos aspectos econômicos, socioambientais e
físico-territoriais, tornando ineficazes os instrumentos de gestão do uso do
solo como orientadores do desenvolvimento urbano e penalizando a
população pobre que vive em assentamentos insatisfatórios, à margem das
normas, nas favelas, nos loteamentos clandestinos e nas moradias precárias
de aluguel (IPEA, 2014).

Diante disso, importa resgatar o Indicador 11.7 da ONU para a Agenda 2030,
que destaca a necessidade urgente de “proporcionar o acesso universal a espaços
públicos seguros, inclusivos, acessíveis e verdes, particularmente para as mulheres e
crianças, pessoas idosas e pessoas com deficiência”, no sentido de avançar e
apresentar os passos definidos para o produto desta dissertação, a saber: apresentar
uma alternativa viável para a recuperação ambiental e realocação das famílias
estabelecidas em ocupação irregular em fundo de vale, na região do Córrego
Prata.

Desse modo, com base na conjuntura contextual, econômica, ambiental e


social da região, foco da pesquisa, evidencia-se como proposta resolutiva viável:

a) a identificação de um espaço livre – área disponível – na região em que


estas famílias já estão domiciliadas, garantindo o distanciamento mínimo,
legalmente definido, para preservação e cuidado com a fauna e a flora
local – simbioticamente ligada ao fundo de vale;

b) o mapeamento dos equipamentos públicos na região (postos de saúde,


escolas, comércios, estrutura de transporte público...), com o intuito de
garantir o direito à moradia de qualidade e digna nas dimensões da vida
social e econômica;

c) propor a criação de um parque linear na região, objeto de recuperação


ambiental, tendo em vista que, de acordo com as análises feitas neste
estudo, espaços de preservação permanente, acabam sendo apropriados
indevidamente quando não há um objetivo definido (como área de lazer,
por exemplo) e promovido pela gestão municipal. Ademais, esta estratégia
99

tem o potencial de reaproximação da população com o espaço natural e


garantia de um microclima local.

O processo de reestabelecimento ambiental da região degradada pela ação


antrópica, por meio da criação de um parque linear, exige um plano local permanente
de intervenção, revitalização e monitoramento que pode envolver as diversas esferas
dos poderes públicos e também do capital privado, pois articula interesses
econômicos e sociais; ambientais e habitacionais, além de ser uma estratégia de
qualificação de convívio social, por propiciar um ambiente saudável e propositivo para
as relações e interações entre pessoas de classes sociais, gerações e de
características culturais/estéticas plurais.

Além disso, o parque linear oferece condições para o controle do processo


erosivo do solo, pois a recomposição topográfica é essencial para que a recuperação
da paisagem, da vegetação nativa e da fauna da região seja eficiente e permanente.
Além do mais, por proporcionar a permeabilidade do solo, a vazão da água pluvial e
a preservação da biodiversidade local, tal política pode tornar-se uma tendência
socioambiental bastante significativa se ordenada para a articulação do tripé da
sustentabilidade em coerência com as políticas internacionais para cidades
sustentáveis.

Soares (2014) discute esta tipologia ambiental denominada no Brasil de


parques lineares como greenway22. Esta proposta urbanística e ambiental engloba
uma gama de práticas socioambientais e econômicas dos setores da sociedade civil
com o escopo de constituir espaços verdes, pressupondo serem os espaços urbanos
interativos e interdependentes com a natureza. Tais intervenções, ao redor do mundo,
recebem o nome de corredores verdes ou infraestruturas verdes.

É, nesse sentido, que ao propor a criação de um parque linear às margens do


Córrego Prata, em Umuarama, coloca-se em evidência a importância do espaço
público, de convívio e recreação, onde seres humanos e elementos bióticos e

22
De acordo com Soares (2014), este termo surge nos Estado Unidos da América na década de 1990,
através de um movimento chamado Greenway Movement. “A literatura sobre o tema destaca os
criadores do movimento e o papel dos governantes da época como fatores imperativos dessa
experiência, especialmente naquele país”.
100

abióticos possam interagir para realização conjunta de uma existência em


retroalimentação e reconexão com os cursos d’ água e com a natureza local.

Assim, o parque linear soma sua potencialidade “natural de fertilidade e fluxos


favorecendo a circulação das formas de vida nas cidades. E, à parte a poética da
interpretação, contribui para uma melhor qualidade das práticas de sociabilidade, da
circulação, da vida” (SOARES, p. 32, 2014).

Os evidentes benefícios na aplicação dos parques lineares perpassam


também a importante reapropriação, pelos citadinos, do espaço público municipal,
evitando a reocupação dessas regiões de maneira prejudicial ao meio ambiente e,
também, perigosa às pessoas que se aventuram, por falta de melhores alternativas,
no estabelecimento de moradias nos fundos de vale.

Por isso, esses corredores verdes,

[...] por sua linearidade, potencializam os fluxos de pessoas, ciclistas,


avifauna e de vida na cidade. Os fundos de vale têm declividade mais suave
e, em conjunto, formam a rede hídrica que, sob essa ótica, constitui um
grande potencial de mobilidade associada à circulação não motorizada. Essa
rede de possíveis áreas verdes traz contribuições naturais da vegetação na
cidade, como sequestro de carbono, contribuindo para uma melhor qualidade
do ar. Com os parques lineares, há mais sombra e umidade do ar, o que leva
à redução das ilhas de calor e maior permeabilidade do solo, possibilitando a
percolação – passagem mais rápida – das águas pluviais. A cidade ganha
espaços verdes públicos que favorecem o exercício da esfera pública, do
encontro, da sociabilidade, da contemplação, da qualidade de vida urbana
(SOARES, p. 92, 2014).

Por fim, no tópico seguinte, serão apresentados os elementos finais


constituidores do produto desta dissertação, isto é, a síntese articuladora entre o
sistema de espaços livres na região de pesquisa para a realocação das famílias
de uma região delimitada do espaço de estudo e a verificação dos equipamentos
públicos existentes na região escolhida, configurando, assim, uma visão ampla e
propositiva para possíveis ações de recuperação ambiental e qualificação das
habitações dos moradores dessas localidades.

6.2 EM BUSCA DE UMA CIDADE SUSTENTÁVEL

O escopo da configuração proposta, como citado anteriormente, visa


estabelecer os recortes da pesquisa empírica e oferecer dados qualitativos para a
101

mitigação do problema socioambiental já amplamente discutido nessa dissertação. A


partir dos dados explicitados na Tabela 04, que expõem os loteamentos clandestinos
e irregulares, foi necessário considerar as condições legais das áreas estudadas para,
a seguir, constituir um mapeamento para evidenciar os espaços/áreas enquadradas
nos critérios de realocação habitacional.
Diante disso, o primeiro passo foi realizar o Mapeamento do Espaço Livre na
região. A área de estudo, compreendida por um raio de raio de 600 metros (Figura
31), abrange a Zona Residencial 3 (ZR3), ao passo que as ocupações de risco estão
distribuídas no Parque das Laranjeiras (63 famílias) e no Parque San Gaetano (27
moradias). Com um total de 90 famílias, como mostra as Figuras 31 e 32.
A realocação das famílias que vivem nessas regiões e estão em vulnerabilidade
habitacional, sofrem também com a falta de acesso à infraestrutura básica dos
equipamentos públicos. A busca por espaços livres locais, visa um processo
adequado, na perspectiva da garantia do direito à habitação, às famílias estabelecidas
nessas regiões, tendo em vista que a realocação amenizará a precariedade a que
estão expostas.
No que se refere ao Mutirão Alvorada, trata-se de um assentamento irregular
já consolidado próximo ao fundo de vale do córrego Prata, não havendo a
necessidade de recolocação das moradias, somente adequação documental e/ou
infraestrutural com base nos aspectos legislativos em relação ao loteamento.

Assim, com base na verificação de lotes disponíveis e de propriedade da


Prefeitura de Municipal de Umuarama, foram escolhidos cinco terrenos que
favorecessem a reinserção dessas pessoas à malha urbana legal. As escolhas
ocorreram com base na menor distância possível para acesso, dos futuros habitantes,
aos serviços essenciais (transporte urbano, unidades de saúde, creches...).
102

Figura 31 – Identificação das ocupações irregulares e dos terrenos públicos escolhidos

Fonte: SNAZZY MAPS; GOOGLE MAPS. Adaptado pelo autor, 2021

A partir dessas considerações identifica-se, na Figura 31, a identificação dos


pontos de interesses e as respectivas distâncias (a pé e de bicicleta)23 em relação aos
terrenos propostos.
Na Figura 32, tem-se uma síntese dos terrenos públicos escolhidos e seus
dados pré-existentes, em uma área total de 5.096,14 m². Diante disso, as habitações
poderão ser distribuídas nesses lotes para que ocorra, posteriormente, a recuperação
arbórea do córrego Prata, com a implementação de equipamentos sociais para a
promoção da qualidade paisagística agregada a diversos usos, valorizando o bairro
como um todo.

23
Trajeto obtido pela plataforma Google Maps a partir do perímetro do terreno, levando em conta o
modo de deslocamento e o menor tempo para os referidos percursos.
103

Figura 32 – Dados pré-existentes dos terrenos públicos disponíveis

Fonte: PMU-Umuarama. GOOGLE MAPS (2017). Infográfico elaborado pelo autor, 2021

Mesmo sendo os terrenos públicos a opção mais viável para a realocação dos
moradores das áreas irregulares, há também a alternativa visualizada a partir dos
terrenos locais de propriedade privada, como ilustra a Figura 33.

Nas imediações do córrego Prata, ao identificar as áreas de propriedade


privada (Figura 33), verificou-se serem estas capazes de atender toda a demanda
prevista, considerando a proximidade com as moradias irregulares (marcadas em
vermelho) e os serviços existentes na região.
104

Figura 33 – Identificação das ocupações irregulares e dos terrenos alternativos (propriedade


privada)

Fonte: SNAZZY MAPS (2021); GOOGLE MAPS (2017). Adaptado pelo autor, 2021

Em vista disso, foram definidos dois terrenos particulares para uma provável
aquisição pelo município, em uma área total de 40.215 m², podendo, pela metragem
quadrada, além de atender à realocação dos habitantes das áreas degradadas,
atender também às famílias cadastradas nos programas habitacionais à espera do
benefício da casa própria, de forma a atenuar o déficit habitacional presente na cidade
de Umuarama.

Vale ressaltar, que os terrenos particulares demarcados para essa finalidade,


necessitam de adequação à legislação quanto ao uso e ocupação do solo para
conceder a implantação de um empreendimento de moradias sociais.
105

Figura 34 – Identificação dos serviços nas proximidades das ocupações irregulares e terrenos

Fonte: SNAZZY MAPS (2021); GOOGLE MAPS (2017). Adaptado pelo autor, 2021

De modo geral, os terrenos escolhidos (públicos ou particulares) estão


inseridos no mesmo meio urbano, com a finalidade de beneficiar a população
realocada na questão da mobilidade urbana, ou seja, a facilidade de acesso aos
serviços de saúde, educação, lazer e comércio sem depender de transporte público
ou grandes deslocamentos, conforme visto na Figura 34.

Diante da viabilidade para a realocação das moradias irregulares às margens


do córrego Prata, vê-se a importância da Recuperação da Área de Preservação
Permanente (APP) com o aumento da massa arbórea do local, colaborando para a
conectividade dos fragmentos naturais e a manutenção dos processos ecológicos. A
Figura 35, a seguir, indica os espaços passíveis de recuperação ambiental a partir da
realocação das famílias em situação de vulnerabilidade.
106

Figura 35 – Demarcação da massa vegetativa no córrego Prata

Fonte: SNAZZY MAPS (2021); GOOGLE EARTH (2017). Adaptado pelo autor, 2021

Por fim, a inserção de um parque linear no Córrego Prata torna-se relevante no


âmbito ambiental e paisagístico, como instrumento de planejamento e gestão das
áreas degradadas, criando infraestruturas verdes alternativas que beneficiam a
comunidade com corredores naturais, greenways, espaços recreativos e trilhas
ecológicas para ciclismo e caminhadas, assim como a educação ambiental. Tal
solução transforma os espaços livres, por vezes abandonados e ocupados
ilegalmente, em espaços arborizados que contribui para a melhoria do entorno em
relação aos aspectos ambientais, sociais e econômicos, atendendo assim ao tripé da
sustentabilidade.
107

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao concluir esta pesquisa, evidencia-se como produto desta a apresentação


de uma alternativa viável para a recuperação ambiental e realocação das
famílias estabelecidas em ocupação irregular em fundo de vale, na região do
Córrego Prata.

A importante pavimentação inicial, com aprofundamento necessário, crítico e


indagador, por meio do referencial da sustentabilidade, de um tema que converge
elementos/aspectos sociais, ambientais, culturais, econômicos, científicos e aqueles
relacionados às políticas públicas, foi imprescindível. Ao arquitetar uma investigação
contextualizada a partir da conjuntura socioambiental das ocupações irregulares em
fundo de vale, foi possível constituir proposições para a mitigação de problemas que
assolam uma gama significativa das cidades brasileiras.

Por estes motivos, esta pesquisa não teve por objetivo contemplar todas as
vertentes de análise provenientes dessas áreas de estudo, mas sim, oferecer
subsídios teóricos e de campo – tendo por objeto de estudo o conjunto de espaços
em situação de ocupação irregular às margens do Córrego Prata em Umuarama, PR
– no sentido de proporcionar a outros pesquisadores a oportunidade de continuar e/ou
aprofundar tal estudo no campo da geografia urbana e sustentabilidade.

O movimento cambiante entre os campos citados e sua conjunção com os


princípios da sustentabilidade foi estruturado com base na seguinte pergunta
geradora: quais alternativas de moradia e reparação ambiental são viáveis para
a recuperação das margens do Córrego Prata em Umuarama – PR, em vista da
mitigação dos prejuízos ambientais causados pelas ocupações irregulares em
fundo de vale? Isto é, o pressuposto condicionado à perspectiva investigativa dessa
temática, perpassou pela viabilidade de reconfiguração de espaços urbanos
sustentáveis, aportados em documentos e bibliografia atualizadas, no sentido de
compor uma amplitude de direcionadores importantes na convergência entre uma
cidade sustentável em todos os âmbitos da vida citadina.

Com isso, ao desenvolver a síntese da pesquisa com base nesse fundamento


problematizador, foi possível identificar, diante do levantamento na literatura
108

específica e das condições locais – inquirição in loco – a possibilidade de composição


de lugares sustentáveis, tanto social, como ambientalmente.

Assim, diante da ênfase estabelecida, identificou-se sucesso estratégico,


referendado pela literatura discutida acerca das ocupações irregulares em fundo de
vale, quando as políticas públicas no campo habitacional e ambiental, estabeleceram
práticas de gestão que visam transbordar às tão comuns incoerências e contradições
existentes entre o princípio da habitabilidade e o comprometimento do meio ambiente
urbano.

Se o objetivo geral deste estudo buscou realizar um diagnóstico das


ocupações irregulares e apresentar uma proposta sustentável ao lócus da
pesquisa, a fim de propor adequações dos loteamentos clandestinos existentes
em fundos de vale situados na região do Córrego Prata, em Umuarama, no
estado do Paraná, tal diagnóstico elucidou um quadro histórico no âmbito nacional e
local, com proposições de reconfiguração de políticas de reaproximação dos
moradores da cidade com os curso d’ água, com o escopo de promover o afeto destes
aos espaços de uso coletivo e de proteção da fauna e flora urbana.

Com isso, o produto dessa investigação resulta na configuração de proposta


resolutiva para ações aplicáveis, não somente à área pesquisada, mas também, ao
espaço investigado às margens do Córrego Prata. As categorias e identificadores
sustentáveis alavancados pelos estudos e referenciais bibliográficos dos relatos
presentes na literatura, focalizam a possibilidade de um redesenho socioambiental
local acometido por profunda degradação ambiental.

Diante disso, importa ressaltar os aspectos centrais discutidos ao longo dessa


pesquisa, com o intuito de caracterizar os focos conclusivos expressos na
configuração final desse estudo. Os tópicos sintetizadores trazem, a seguir, focos e
relações desenvolvidas na pesquisa – bibliográfica e empírica – como processo
necessário para a inteligibilidade do estudo aqui materializado.

Assim,

(i) tanto na pesquisa bibliográfica, quanto na pesquisa de campo, há


indícios de que parte significativa dos graves problemas urbanos das
109

cidades brasileiras estão relacionados às ocupações em fundo de vale;


pela precariedade das políticas públicas acerca da habitação social e
pelo déficit habitacional e pela desatenção e negligência de órgãos
públicos e privados no que tange à legislação ambiental e urbana,
principalmente em relação a empreendimentos de interesses
econômicos. Consequentemente, tais problemas orbitam o
comprometimento e impermeabilidade do solo, trazendo riscos que
envolvem vidas humanas e desequilíbrio térmico atinente às “ilhas de
calor”;

(ii) especificamente na pesquisa de campo, verifica-se que o processo de


antropização da região às margens do Córrego Prata tem, na exclusão
social, seu caráter mais nefasto, tendo em vista a provisoriedade de
sobrevivência em que as famílias estão submetidas, acerca da condição
habitacional e sanitária. Embora seja tal situação algo comum às
famílias de outras cidades do Brasil, as que habitam às margens do
Córrego Prata também são vítimas de um crescimento urbano
desordenado e do déficit habitacional que assevera a precarização das
habitações irregulares;

(iii) evidenciou-se que, no contexto pesquisado, esses grupos humanos são


assolados pelo não acesso a bens sociais fundamentais para uma vida
digna. Isto porque, quanto maior é a precariedade econômica da região,
maior e mais perceptível é a degradação ambiental e o distanciamento
dos equipamentos públicos essenciais, algo bastante claro nos registros
fotográficos destacados ao longo da pesquisa;

(iv) assim, como alternativa mitigadora, o estudo destaca a necessidade de


uma ação pública e privada, estabelecida e avolumada por meio do
pressuposto de uma metodologia reparadora, social e ambientalmente.
A importante prática interdependente entre esferas de convívio e
campos do conhecimento humano como saúde, meio ambiente e
práticas sustentáveis na gestão da cidade, podem trazer significativos
110

resultados na reversão dos problemas alavancados na pesquisa


realizada.

(v) essa prática mitigadora perpassa pela realocação das famílias que
vivem nas ocupações irregulares, em espaço público – áreas
disponíveis – com infraestrutura básica necessária para acolher e
oferecer moradia e vida digna às pessoas, visto que estas necessitam
da intervenção do poder público municipal para ter uma sobrevivência
mais adequada à sua condição humana;

(vi) ao realizar um mapeamento detalhado do sistema de espaço livre na


região, identificou-se a possibilidade de realocação dessas famílias em
localidade próxima ao Córrego Prata. Tal localidade apresenta
infraestrutura suficiente para garantir às famílias um recomeço digno
com o apoio importante dos equipamentos públicos.

(vii) por fim, com foco na recuperação do ambiente degradado propõe-se a


criação de um parque linear, visando o reestabelecimento da vegetação
nativa, da fauna e flora local; da qualificação do microclima na região;
da qualificação da vazão de água; da melhoria estética do espaço em
questão e da promoção de um espaço público de convívio e
reaproximação das pessoas com o meio ambiente evitando, assim, que
a extensão de área recuperada seja ocupada novamente, oferecendo
assim apropriação devida do espaço público da APP.

Assim, ao concluir essa pesquisa, evidencia-se a inseparabilidade acerca da


importante compreensão dos espaços urbanos na sua complexidade dimensional, o
que significa valorizar como referencial socioambiental ações políticas e econômicas
pautadas na reaproximação e não dicotomização da cidade natural com a cidade
construída.

Tal pressuposto, ao ser alavancado pela pesquisa realizada e corroborado


pelos dados empíricos e bibliográficos, mostram que ao se realizar políticas locais de
cuidado com o ambiente urbano, de respeito aos espaços protegidos e de ações
111

sérias, consistentes e permanentes de políticas habitacionais sustentáveis, pode-se


possibilitar uma inter-relação apropriada às demandas da cidade, dinâmica na sua
existência.

Ao propor, no início deste trabalho o problema de pesquisa que versou sobre


quais alternativas de moradia e reparação ambiental são viáveis para a recuperação
das margens do Córrego Prata em Umuarama – PR, objetiva-se uma contribuição
acadêmica e prática; empírica, social e sustentável para a compreensão da cidade de
Umuarama – PR, no sentido de visualizar caminhos para amenizar os problemas
socioambientais causados pelas ocupações em fundo de vale na região do Córrego
Prata.

Desse modo, foi possível apresentar e mapear elementos no campo da


sustentabilidade, capazes de revelar serem estes espaços passíveis de recuperação,
inclusive com qualificação ambiental suficiente para o uso público dessas regiões na
configuração de áreas de lazer e convívio. Além disso, a realocação das famílias
envolvidas pode se dar de maneira regional, como alternativa para evitar o
espraiamente habitacional e o distanciamento destas dos equipamentos públicos
básicos.

Com isso, como visto em vários exemplos nesta pesquisa, a valorização


desses espaços, por conta da recuperação da área verde local, oportuniza maiores
investimentos e, em alguns casos, valorização econômica da região, fatores que
contribuem na constituição de uma cidade mais inclusiva, equitativa e sustentável.
112

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