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Texto 4:

Ambrósio Fernandes Brandão: Diálogos das grandezas do Brasil, escrita na segunda


metade do século XVI
Sítio: http://web.educom.pt/~pr2002/Livros/dialogos.pdf

Alviano: E qual é a razão por que meteu Sua Majestade mais cabedal na povoação e
conquista desta capitania da Paraíba que costumava meter nas demais?
Brandônio: Foi por respeito do seu bom porto, no qual costumavam os piratas franceses
ir a reparar suas naus, e ainda a carregar de pau do Brasil, que comutavam por resgate
com o gentio Petiguar, e com ele e mais prezas que tomavam pela costa, tornavam a
fazer sua navegação para França em notável prejuízo de todo o Estado do Brasil; e tudo
se atalhou com Sua Majestade se fazer senhor do seu porto e barra que, por ser com
muita força defendida dos Piratas franceses confederados com o gentio Petiguar, senhor
de todo o sertão, belicosíssimo e inclinado a guerras, custou muito trabalho e despesa
fazê-los reduzir à nossa amizade, e desviá-los da que tinham com os franceses, sendo
forçado aos nossos, para se haver de conseguir este efeito, fazerem muitas entradas com
mão armada, pelo sertão a dentro, principalmente a uma serra, que chamam de
Copaoba, onde estava o gentio junto em muita quantidade, por ser fertilíssimo, e como
tal se afirma dela produzira muito trigo, vinho, e outras frutas de nossa Espanha.
Alviano: Qual é a razão por que se não aproveitam os nossos dessa serra, que dizeis ser
tão abundante?

Brandônio: Não o fizeram até agora, por estar um pouco desviada para o sertão e o
gentio que nela habitava andar desinquieto; mas já agora tem mandado Sua Majestade
que se povoe, elegendo para efeito da dita povoação Duarte Gomes da Silveira, com
título de capitão-mar da mesma serra, onde assistem já, na doutrina dos índios,
religiosos da ordem do patriarca S. Bento, com muito fruto de suas almas, e a um
homem amigo meu de crédito ouvi afirmar, com outros mais, haver-se achado, nos
tempos atrasados, na mesma serra, uma novidade e estranheza que me causou espanto.
Alviano: Pois não me encubrais o que vos disse esse homem haver achado nessa serra.

Brandônio: Relatou-me por coisa verdadeira que, andando Feliciano Coelho de


Carvalho, capitão-mor que foi da dita capitania pela mesma serra, fazendo guerra ao
gentio Petiguar, aos 29 dias do mês de dezembro do ano de 1598, se achara junto a um
rio chamado Arasoagipe, que, por ir então seco, demonstrava somente alguns poços de
água, que o calor do verão não tinha ainda gastado, e que alguns soldados, que foram
por ele abaixo, toparam nas suas fraldas, com uma cova, da banda do poente, composta
de três pedras, que estavam conjuntas umas com outras, capaz de se poderem recolher
dentro quinze homens; a qual cova tinha de alto, para a banda do nascente, de sete a oito
palmos, e da banda do poente, treze até quatorze palmos; e ali por toda a redondeza que
fazia na face da pedra se achavam umas molduras, que demonstravam, na sua
composição, serem feitas artificialmente. Primeiramente à banda do poente desta cova,
na face mais alta dela, estavam cinqüenta mossas todas conjuntas, que tomavam
princípio debaixo para cima de um tamanho, que semelhavam, no modo com que
estavam arrumadas o em que se pinta por retábulos o rosário de Nossa Senhora; e no

cabo destas mossas se formava uma moldura de rosa desta maneira: . E é de


advertir que os mais dos caracteres, que se demonstravam nesta cova, se arrumavam da
banda do poente, aonde da parte direita das cinqüenta mossas, em um cotovelo que a
pedra fazia, se demonstravam outras trinta e seis mossas, como as demais; das quais
nove delas corriam do comprido para cima, e as outras tomavam através contra a mão
esquerda, em cima delas todas estava outra rosa, como a primeira que tenho pintada: e
logo, um pouco mais abaixo, estava outra semelhante rosa, e junto dela um sinal que
parecia caveira de defunto, e logo, contra a mão esquerda, se formavam doze mossas
semelhantes às demais e no alto delas, que era conjunto às cinqüenta primeira, pareciam
uns sinais ao modo de caveiras, e da banda direita do cotovelo estava uma cruz e logo,
para a banda esquerda, na face da pedra, se demonstravam, em seis partes, cinqüenta
mossas.

Em uma das partes estavam uma rosa mal clara, porque parecia estar gastada de tempo,
e logo adiante estavam outras nove mossas semelhantes à primeiras, e, por toda a
redondeza da cova se viam pintadas outras seis rosas, e na pedra, que se assentava em
meio das duas, estavam vinte e cinco sinais ou caracteres que abaixo debuxarei,
divididos em três partes, com mais três rosas, que os acompanhavam. O que de tudo era
mais de consideração, era o estar entre duas pedras muito grandes, uma que botava a
borda sobre as outras arcadamente, com estarem tão juntas, que por nenhuma parte
davam lugar a se poder meter por elas o braço. E na pedra de mais baixo da cova
pareciam doze mossas da própria maneira das que temos mostrado, e no meio delas se

formava um circulo redondo desta qualidade . Com mais uma rosa, pintada
perfeitamente; e é de notar que todas as rosas eram de uma mesma maneira, exceto uma
que tinha doze folhas com a do meio. E pela redondeza desta cova estavam as molduras
que tenho dito, ou caracteres que se formavam na maneira seguinte:
Estes caracteres todos nos deram debuxados na forma que aqui vo-los demonstro.

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