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Carolina Cordeiro Dos Santos, nº6, 11ªA

Se eu fosse uma rocha...


Se eu fosse uma rocha, a primeira coisa que gostaria de fazer seria conhecer a Terra,
viajando através dos rios de Portugal, nos quais confiaria para me guiarem até às paisagens
mais exóticas do nosso país, plantado à beira mar. Poderia ver, testemunhar e até, quem sabe,
repousar naquelas terras de cor avermelhada às quais os humanos chamam de Terra Rossa.
Dizem ser tão vermelha quando as labaredas ardentes que os vulcões guardam, muitas vezes,
durante infindáveis anos, mas que subitamente podem vir à superfície (“quando estão mais
chateados”) sem qualquer aviso prévio por parte do Sr. Vulcão. Já fiz algumas amizades com
alguns vulcões, umas mais simples e amigáveis, enquanto outras mais complicadas, como é o
exemplo do Sr. Villarrica – localizado no Chile (Cordilheira dos Andes), que, com o seu
temperamento complicado, algumas vezes acaba por explodir. Da última vez que estivémos
em contacto, realcei-lhe as preocupações que ouvia da população que, aterrorizada, se
questionava inúmeras vezes: Mas quando é que este irá entrar em erupção? Irá ele
transformar as nossas casas em cinzas? E as nossas ricas plantações, e o nosso gado?! Ora, eu
também lhe colocara as mesmas perguntas pessoalmente, mas a resposta foi desastrosa, com
piroclastos a voar para todo o lado, gases tóxicos que agora consumiam o ar e até mesmo a
visita repentina do meu amigo granito, que mesmo sendo bastante tímido (demora muito
tempo a produzir-se no interior do vulcão), saltava lá de dentro com uma brutalidade
indescrítivel.

Por outro lado, também gostaria de explorar aquelas vastas paisagens calcárias, onde
habita o meu primo – Calcário – que, ao reagir com a chuva, abria fendas na terra, dando
origem às misteriosas grutas subterrâneas, das quais tanto oiço falar. Pensava concentrada
nessas informações que li naqueles estranhos livros, quando, para meu grande susto, caí num
grande poço juntamente com todas as minhas amigas pedras, já bastante clivadas. Com o
embate, levo algum tempo até ajustar a minha visão e veirificar que estava dentro de uma
gruta consumida por estalactites (que brutavam do teto) ou até mesmo de estalagmites, que
fazendo o processo inverso, “nasciam” do chão daquela gruta misteriosa. Limitei-me a seguir a
corrente da água, acabando por sair lentamente daquele “esconderijo” subterrâneo, ainda
embasbacada com as belas paisagens que a Natureza tem capacidade de criar. Mas e eu? Sou
apenas uma rocha cinzenta, comum e desinteressante, à qual a Natureza não atribuiu
nenhuma beldade... Ou pelo menos era o que, no meu ponto de vista, correspondia à
realidade. “Encontrei um!” – Oiço um homem com uma batina branca gritar eufórico enquanto
corria na minha direção. Não demorou muito tempo para me colocar no seu bolso enquanto
Carolina Cordeiro Dos Santos, nº6, 11ªA

eu, ainda confusa, verifiquei não ser a única rocha que compartilhava aquele espaço
compacto: Bem Vindo! – Disse uma rocha com uma tonalidade mais rosada, enquanto eu
admirava a sua beleza.

Passei dias naquele laboratório fechada. Parece que o feitiço se virou contra o
feiticeiro, e afinal aquele que queria conhecer será o mesmo que servirá para novas
descobertas no mundo da Geologia. “Irei analisar este agora” – Diz o homem de batina,
pegando em mim como se eu fosse um diamante e me colocando debaixo da objetiva do
microscópio, que emitia uma luz tão forte, que quase me deixara sem visão. Eu permanecia
parada, não mexendo qualquer “muscúlo” que fosse, evitando atrapalhar o trabalho do
geólogo dedicado. Ele mexia constantemente nas objetivas, no revólver e nas luzes do
aparelho, enquanto escrevia as notas necessárias no seu caderno. O primeiro tópico dizia –
Minerais: -Alumínio; -Ferro; -Magnetita; -Silício; Enquanto que o segundo já falava da minha
cor, afirmando que eu era cinzento-escuro/preto; No terceiro tópico já dizia que eu era
magmática. Ora, dessa forma, teria eu uma relação familiar desconhecida com o meu amigo
Granito? Depois de muito tempo de análise e vários murmúrios chateados por parte do
homem de batina, o mesmo salta da sua cadeira, assustando os seus restantes colegas de
profissão que o olhavam desconfiados. “Já sei, já sei!” – Gritava feliz (parecendo até que tinha
ganho a loteria) correndo em direção aos armários daquele laboratório. Os meus olhos
analisavam atentamente o seu comportamento percebendo que agora as mãos do homem
carregavam uma pequena caixa de etiquetas, já partida e visivelmente degastada, de tanto
uso. Com delicadeza, sou retirada da platina e colocada novamente na mesa, enquanto me é
colocada uma etiqueta, a qual olho com espanto. Seria este o meu nome? Não seria eu apenas
uma pedra? Não... Eu afinal tinha valor e uma beleza que muitos não sabem reconhecer
(inclusive eu mesma). A admiração nos olhos daquele geólogo foi o suficiente para me fazer
perceber o quanto uma simples “pedra” poderia deixar alguém feliz.

Mas sabes tu dizer-me como, afinal, me chamo?

Assinado, com carinho


Sr.Basalto

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