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A pesquisa pretende apresentar uma proposta interdisciplinar para o Ensino do Desenho Técnico. Para tanto,
visa estudar as relações entre o Desenho Técnico, a Computação Gráfica e a História da Matemática e da
Arquitetura a fim de pesquisar pontos relevantes que possam contribuir para a reformulação do Ensino de
Desenho Técnico, no sentido de torná-lo atrativo e contextualizado. Busca também desenvolver, por meio da
Computação Gráfica, animações e maquetes eletrônicas para ilustrar os conceitos de Desenho Técnico, com
ênfase nos conteúdos: proporção e escalas, perspectiva e projeção ortogonal. A pesquisa-ação foi escolhida
como metodologia porque tem como fundamento a participação de todos os integrantes da pesquisa e
possibilita estabelecer a reflexão e a avaliação em todas as etapas do processo. O locus da pesquisa é o
Instituto Federal do Espírito Santo e os atores participantes serão alunos e professores do curso técnico em
Eletrotécnica. Como referencial teórico dialoga com a Psicologia Histórico-Cultural, proposta por Vigotski.
Nessa perspectiva, a fim de contribuir com a prática educativa escolar adota a Pedagogia Histórico-Crítica,
elaborada por Saviani, como teoria pedagógica da Psicologia Histórico-Cultural. Os outros referenciais
teóricos desse trabalho são: Argan, Ching e Heydenreich no campo da Arquitetura e Desenho Técnico. Como
trata-se de pesquisa em andamento supõe que a intervenção contribuirá com a proposta interdisciplinar para o
ensino de Desenho Técnico. Desse modo, colaborará também com o aumento do conhecimento técnico,
ampliando a formação profissional do estudante de forma contextualizada.
Introdução
Este artigo intenta apresentar uma pesquisa em andamento no Programa de Pós-graduação
em Educação em Ciências e Matemática (EDUCIMAT) do Instituto Federal do Espírito
Santo. Consiste em uma proposta interdisciplinar para o ensino do Desenho Técnico,
relacionando-o com a Computação Gráfica, com a História da Arquitetura e da
Matemática, em uma tentativa de torná-lo mais atrativo e contextualizado.
Busca utilizar a Computação Gráfica, por meio de maquetes eletrônicas e animações, como
ferramenta que aproxima o Desenho Técnico Instrumental da realidade do estudante. Os
conteúdos elencados para serem trabalhados são: proporção e escalas, perspectiva e
projeções ortogonais.
De modo a apresentar tal pesquisa, esse trabalho será dividido em cinco seções: na
primeira construiremos um histórico do Desenho Técnico. Na segunda dialogaremos com
pesquisas recentes nessa área e na terceira relacionaremos o Desenho Técnico com a
História da Arquitetura e da Matemática. Já na quarta seção apresentaremos as
contribuições da Psicologia Histórico-Cultural e Pedagogia Histórico-Crítica para o ensino
e como essas constituíram aporte teórico para essa pesquisa. Na quinta seção
apresentaremos a metodologia, que se aproxima com os princípios da Pesquisa-ação.
1. O Desenho Técnico
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Instituto Federal do Espírito Santo, jmarques@ifes.edu.br, Orientadora: Drª Priscila Chisté.
O Desenho Técnico é uma ferramenta utilizada no desenvolvimento e na comunicação de
ideias, conceitos e projetos. Para Ribeiro et all (2011) é uma forma de expressão gráfica
que tem por finalidade a representação, a dimensão e o posicionamento dos objetos de
acordo com as necessidades requeridas pela Arquitetura e pelas várias modalidades de
Engenharias. Utiliza linhas, números, símbolos e indicações escritas normalizadas
internacionalmente. É definido como linguagem gráfica universal da Arquitetura e das
Engenharias.
De acordo com Ching (2011), mesmo com o avanço da tecnologia, o desenho manual tem
o potencial de superar o achatamento de uma superfície bidimensional e representar
desenhos tridimensionais da Arquitetura de forma clara, legível e convincente. Para tanto,
é preciso aprender a executar e ler a linguagem gráfica do desenho. O ato de desenhar não
é só uma questão técnica, é também uma ação cognitiva que envolve percepção visual;
avaliação e raciocínio de dimensões; e relacionamentos espaciais.
Os primeiros registros de desenhos em forma de planta, elevação e cortes, ou seja, a
representação de edificações tridimensionais em duas dimensões, aconteceu no
Renascimento, nos tratados de Arquitetura desse período. Observou-se na ocasião a
evolução do conceito de escala, que no caso dos projetos, passou a ser utilizada a escala de
de redução, para que grandes obras pudessem ser representadas em uma pequena superfície
de papel. Nessa época também foi desenvolvida por Brunellesch a perspectiva, o que
possibilitou a execução de projetos complexos, por facilitar a compreensão dos mesmos.
No século XVIII, por intermédio dos trabalhos do matemático francês Gaspard Monge,
surgiu a geometria descritiva. O sistema criado por ele foi publicado em 1795, com o título
“Geometrie Descriptive”, e é a base da linguagem utilizada pelo Desenho Técnico.
Com o advento da Revolução Industrial, ocorreu o fenômeno da estandardização,
padronização da fabricação de mercadorias e a produção em série. Houve a necessidade de
normatizar a geometria descritiva a fim de se criar uma forma única de interpretação de
projetos para atender essas demandas. A comissão técnica da International Organization
for Standardization (ISO) o fez. Esse processo ocorreu por meio do Desenho Técnico, que
ganhou caráter de documento.
Assim, consideramos que o Desenho Técnico seja a aplicação dos princípios da geometria
descritiva. Ele obedece à regras estipuladas mundialmente, deve comunicar uma ideia,
conceito ou projeto de forma única, sem duplo significado ou múltiplas interpretações
(SILVA, 2006).
A seguir, analisaremos pesquisas que estudaram o método tradicional de Desenho Técnico,
a Computação Gráfica e que revisaram ementas e currículo a fim de atender às novas
demandas e anseios dos estudantes, assim como facilitar a aprendizagem e o
desenvolvimento de funções cognitivas importantes.
5. Metodologia
Por objetivar intervenção na realidade a ser pesquisada, o trabalho se aproximará da
pesquisa-ação, na qual os atores envolvidos, serão os discentes e docentes do curso
Técnico em Eletrotécnica, nas modalidades integrado, concomitante e subsequente. O
locus da pesquisa será o Instituto de Educação Tecnológica do Espírito Santo (IFES).
A pesquisa-ação foi escolhida como metodologia de pesquisa porque tem como
fundamento a participação de todos os integrantes da pesquisa no planejamento e na
execução das propostas e possibilita estabelecer a reflexão e a avaliação em todas as etapas
da pesquisa. Os pesquisadores definem os tipos de exigências e a utilização do
conhecimento, a fim de contribuir com a transformação de situações que se configuraram
objeto de estudo (THIOLLENT, 2011).
Há também uma interação constante entre os grupos de estudo formados por pesquisadores
mais experientes (professores) e menos experientes (alunos), promovendo uma troca de
conhecimento recíproca, na qual é possível diagnosticar os anseios dos pesquisadores
atores. Tal prerrogativa é muito importante para se atingir os objetivos do trabalho, que são
reavaliados de acordo com os interesses de todo o grupo. Esse aspecto nos coloca em
diálogo com os pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural de Vigotski.
Nesse sentido, convidaremos alunos e professores do curso técnico em Eletrotécnica a
formarmos um grupo de pesquisa, no qual discutiremos os seus anseios, pontos de vista,
sugestões para a construirmos juntos uma proposta de Ensino do Desenho Técnico. As
opções de técnicas de produção de dados são: diário de bordo, reuniões, atas de reunião,
entrevistas semiestruturadas com professores e alunos, questionários, oficinas etc.
A previsão é que o grupo se reúna uma vez por semana. Em cada reunião seguiremos o
princípio da Psicologia Histórico-Cultural de que por trás da mediação é necessário uma
intencionalidade que se refere a favorecer a apropriação dos conceitos científicos. Para isso
utilizaremos os momentos propostos por Saviani na Pedagogia Histórico-Crítica,
detalhados na didática sugerida por Gasparim, sem esquecer da observação feita por
Martins (2012), de que esses momentos não seguem uma ordem rígida, engessada. A
seguir, uma síntese da didática escolhida:
Tabela 1: Síntese da didática sugerida por Gasparim para a Pedagogia Histórico-Crítica de Saviani.
Conclusão
O Ensino do Desenho Técnico vem exigindo uma remodelação devido ao avanço da
Computação Gráfica e dos programas CAD (Computer Aided Design). Todavia, pelo
contato com trabalhos sobre tema, foi possível concluir que não se trata de uma
“modernização” excluindo sua fase instrumental, visto que essa é fundamental na
aprendizagem e no desenvolvimento da visão espacial, função cognitiva indispensável para
a atuação de profissionais de Arquitetura, de Engenharias e de áreas afins.
Fazendo uma comparação, considerar desnecessário o Ensino do Desenho Técnico
instrumental é semelhante considerar irrelevante que o estudante aprenda a escrever, pois o
desenho técnico é a linguagem do arquiteto, do engenheiro, do técnico em eletrotécnica,
entre outros. Logo, é a forma de expressão e comunicação desses profissionais.
Nesse sentido, ao buscar meios pelos quais os estudantes possam atingir certo grau de
abstração necessário ao desenvolvimento da visão espacial, dialogamos com a Psicologia
Histórico-Cultural, elaborada por Vigotski. A teoria enfatiza a importância da consciência
de que o indivíduo é um ser social, que traz consigo saberes prévios e esses devem ser
considerados e trabalhados, a fim de que se elevem e se transformem em conceitos
científicos. É fundamental então estudar os princípios da Psicologia Histórico-Cultural tais
como a mediação, a Zona de Desenvolvimento Iminente e Atual, a internalização dos
signos e as funções psíquicas, a fim de entendermos o funcionamento do psiquismo
humano e traçarmos estratégias de atuação em sala de aula, na tentativa de contribuir com
uma educação mais abrangente, atrativa e humanizadora. Como teoria pedagógica optamos
pela Pedagogia Histórico-Critica, proposta por Saviani, por dialogar e concordar com os
princípios da Psicologia Histórico-Cultural.
Na metodologia nos aproximamos da Pesquisa-ação, por esta sugerir uma junção entre
teoria e prática e uma participação democrática dos sujeitos da pesquisa, permitindo-os a
atuarem também como pesquisadores, no sentido de uma construção coletiva de uma nova
proposta de Ensino do Desenho Técnico, mais atrativa e emancipadora, que colaborará
também com o aumento do conhecimento técnico, ampliando a formação profissional do
estudante de forma contextualizada.
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