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O absolutismo francês vigorou na França entre os séculos XVI e XVIII – período
conhecimento como o Antigo Regime. O ápice do absolutismo francês ocorreu
durante o reinado de Luís XIV, o “Rei Sol”, que personificou as características do
Absolutismo – modelo de governo onde o poder do rei era absoluto, não sendo
regulado de nenhuma forma.
O Estado Nacional francês foi ampliado e consolidado a partir do fim da Guerra dos
Cem Anos, quando a Coroa conseguiu estabelecer sua autoridade efetiva sobre alguns
grandes feudos, como é o caso da Borgonha.
O poder dos reis crescia paralelamente à formação territorial. Os soberanos da
Dinastia Valois (Luiz XII 1498-1515; Francisco I 1515-1547; Henrique II 1547-1559),
com o apoio de largos setores da burguesia, impuseram o reconhecimento de seu poder
absoluto, justificado pela doutrina da origem divina de poder real, não convocando os
Estados Gerais, escolhendo só funcionários, dirigindo a justiça e fazendo executar as
Duas Leis. Após a Concordata de Bolonha (1516), o próprio clero ficou subordinado à
autoridade do rei, já que competia, daí para frente, ao soberano nomear os chefes
eclesiásticos da França.
No nível econômico, o mercantilismo era de base metalista: a saída de metais
preciosos da França era simplesmente proibida. A dominância da burguesia mercantil,
ligada ao comércio mediterrâneo, impedia a ocorrência de um grande apoio estatal à
expansão francesa no Atlântico.
Além dos impostos, um dos recursos da Coroa era a venda de ofícios de finanças e da
Justiça, sendo que, aos poucos, esses cargos foram sendo transformados em funções
hereditárias.
O poder real era limitado pela sobrevivência de costumes e privilégios da nobreza,
pelas dificuldades das comunicações e pela relativa independência dos cargos
hereditários da burocracia.
No plano da política externa, o período foi marcado pelas guerras na Itália contra os
Habsburgos, (Carlos V e Felipe II), que contribuíram para reforçar o nacionalismo
francês; e, por uma aliança com o Império Turco Otomano (1535), cujos objetivos
eram a conquista de um apoio contra Carlos V e o recebimento de privilégios para o
comércio francês no Império Turco.
Durante o reinado de Francisco I e Henrique II, a doutrina Calvinista foi propagada na
França, conseguindo logo um grande número de seguidores que eram denominados
huguenotes.
À medida que a doutrina calvinista justificava as práticas econômicas capitalistas,
como o comércio e a usura, base mobiliária da riqueza da burguesia, podemos
entender que a maior parte da burguesia se tornou praticante do calvinismo. O
calvinismo também serviu para que uma parte da nobreza justificasse o seu interesse
em confiscar terras da Igreja e, assim, poder superar sua ruína econômica e tentar
realizar o projeto de restabelecer sua autonomia política através do enfraquecimento
do Estado centralizado, que tinha na Igreja um de seus alicerces. Em meados do século
XVI, a França, política e ideologicamente, era dividida em:
católicos ou papistas, cujo líder era o Duque de Guise.
calvinistas ou huguenotes, liderados por Henrique Navarra, um membro da família dos
Bourbons.
Cada uma dessas facções tinha como objetivo o estabelecimento de seu controle sobre
o governo nacional francês. A luta entre elas, conhecida pelo nome de Guerra de
Religião, desenvolveu-se durante o reinado dos três últimos Valois e o seu significado
maior foi o enfraquecimento efetivo do estado francês.
Durante o reinado de Francisco II (1559-1560), os católicos mantiveram total
ascendência sobre a Coroa, mas os huguenotes fortaleceram-se com a adesão de
muitos nobres insatisfeitos com a Paz de Cateau-Cambrésis (1559) assinada por
Henrique II com a Espanha e que assegurou aos Habsburgos o controle do Reino de
Nápoles, dos Países Baixos e de alguns outros territórios de menor importância.
Tentando a conciliação entre as duas facções, com a finalidade de evitar a tutela dos
grandes nobres católicos sobre seu filho e, consequentemente, o enfraquecimento do
poder real, Catarina de Médicis, rainha-mãe e regente do trono, fez publicar o édito de
Tolerância de 1562, que concedia aos huguenotes liberdade de culto fora das cidades.
No mesmo ano, os católicos realizaram o massacre de Vassy, chacina de um sem
número de huguenotes, durante a celebração de um culto. Esse fato deu início à Guerra
Civil que se estenderia até 1598 e ao longo da qual ocorreram intervenções
estrangeiras: alguns príncipes alemães e o governo inglês de Elizabeth em apoio aos
huguenotes; o governo espanhol de Felipe II em apoio aos católicos.
A guerra transcorreu em território francês e foi recheada de massacres. No reinado de
Carlos IX (1560-1574), os huguenotes chegaram a possuir grande influência sobre o
rei, especialmente através de um de seus líderes, o Almirante Coligny, que era
ministro do Rei.
Essa ascensão motivou, em 1572, o Massacre da Noite de São Bartolomeu: milhares
de huguenotes foram mortos em Paris, onde estavam concentrados com o objetivo de
assistir ao casamento de seu líder, Henrique de Navarra, com a irmã do rei Carlos IX.
Os católicos agiram motivados pelo temor de um golpe de Estado huguenote.
Henrique III (1574-1589) aproximou-se dos huguenotes com o intuito de fortalecer-se
e poder se opor aos católicos que pretendiam depô-lo com o apoio de Felipe II de
Espanha, que pretendia o trono francês para sua filha. Henrique III promoveu o
assassinato do líder católico, o Duque de Guise, em 1588, e, não tendo descendentes,
designou Henrique de Navarra como futuro rei. Em 1589, foi a vez de Henrique III ser
assassinado.
O líder huguenote tornou-se Henrique IV (1589-1610) e foi o primeiro soberano da
Dinastia Bourbon. Henrique IV derrotou a Santa Liga (nome dado à organização da
força católica), mas diante da resistência de Paris, da presença de tropas espanholas,
do esgotamento geral, da ruína econômica, da sublevação de camponeses e
objetivando obter o apoio da Igreja, o rei converteu-se ao catolicismo, em 1593,
entrando em Paris e sendo sagrado rei em 1594. Os espanhóis foram expulsos da
França e a revolta dos camponeses foi contida através da diminuição de alguns
impostos e outras concessões menores.
A guerra civil terminou definitivamente com a promulgação, em 1598, do édito de
Nantes, que determinou a liberdade de culto e a igualdade política entre católicos e
huguenotes. Como garantia, os huguenotes conservaram o controle de mais de cem
praças fortes, dentre as quais La Rochelle era a mais importante, nas quais eles
impunham suas leis e seu poder e, dessa forma, quase chegaram a constituir um Estado
autônomo dentro da França.
O fim da Guerra Civil criou uma nova conjuntura, favorável à reafirmação do poder
monárquico baseado no direito divino e à reativação da economia. Henrique IV e seus
ministros, principalmente o Duque de Sully, realizaram uma política econômica,
visando diminuir as importações e evitar a saída de metais preciosos através do
incremento da produção de objetos de luxo, principalmente a seda. A nobreza rural foi
autorizada a exportar trigo, pantanais foram drenados, estradas foram restauradas,
enfim, foi realizado um grande esforço no sentido da reconstrução da economia da
França.
O grande comércio marítimo, no entanto, não pôde crescer em larga escala em função
do fracasso da criação de uma Companhia das Índias. Em compensação, em 1608,
verificou-se a fundação de Quebec no estuário do Rio São Lourenço, no Canadá.
Para sustento do Estado, as finanças foram alimentadas pela elevação de vários
impostos, pela obtenção de diversos empréstimos junto à burguesia e mediante a
venda de cargos tornados hereditários através do pagamento de uma garantia anual. Os
burgueses que ocupavam altos cargos receberam títulos de nobreza, constituindo-se
assim uma "nobreza de toga".
Essas medidas, aos poucos, foram provocando sérios descontentamentos, inclusive da
nobreza tradicional ("a nobreza de espada"). Henrique IV era considerado por muitos
católicos como tirano e usurpador. Vários atentados foram perpetrados contra o rei.
Um deles provocou a expulsão dos jesuítas (1594-1603), acusados de apoiarem o
regicídio. O apoio de Henrique IV aos holandeses contra a Espanha e aos protestantes
alemães contra o Imperador Habsburgo católico ampliou o descontentamento dos
católicos franceses. Em 1610, Henrique IV foi assassinado por Ravaillac, um fanático
católico.
A menoridade de Luiz XIII justificou a regência da rainha-mãe, Maria de Médicis,
grandemente influenciada por Concini, um nobre italiano. A nobreza francesa criticou
a regente, aproveitando para retomar sua plena autonomia através da troca do seu
apoio à regência por pensões e cargos políticos.
Os huguenotes temiam a reaproximação com o Estado líder da Contrarreforma, a
Espanha, em função do casamento de Luiz XIII com a espanhola Ana Tereza da
Áustria. A burguesia em geral temia o esgotamento das finanças estatais.
A tentativa de resolver esses problemas mediante a convocação dos Estados Gerais,
em 1614, fracassou. Em 1617, a regência de Maria de Médicis teve fim através de um
golpe de Estado liderado por Luynes. O novo governo teve de reprimir uma revolta da
grande nobreza e uma de huguenotes.
A consolidação do poder real absolutista foi realizada sob a liderança do Cardeal
Richelieu, chefe do Conselho de Ministros de 1624 e 1642, cuja política pode ser
resumida nos seguintes termos:
afirmação do absolutismo de direito divino.
realização de ativa política econômica.
estabelecimento da hegemonia francesa no continente.
Para afirmar o absolutismo de direito divino, Richelieu empreendeu uma intensa luta
contra os huguenotes, diminuindo seu poder através da conquista de inúmeras praças-
fortes, inclusive La Rochelle, que foi tomada em 1628.
Cardeal Richelieu
Em 1629, foi promulgado o édito da Graça de Alais, que manteve o édito de Nantes,
anistiou os huguenotes, mas proibiu-os de possuírem praças-fortes.
No mesmo sentido de consolidar o absolutismo, Richelieu concedeu cargos militares à
nobreza, proibiu os duelos, esmagou conspirações da nobreza e revoltas camponesas,
reforçou o exército e a marinha, passou a controlar diretamente as províncias através
da nomeação dos intendentes que fiscalizavam os governadores, interveio no clero
submetendo-o efetivamente à Coroa.
Com o objetivo de ativar a economia, Richelieu promoveu o desenvolvimento da
marinha mercante, facilitou a criação de manufaturas e companhias de comércio,
incrementou os esforços colonizadores no Canadá e promoveu a instalação francesa
nas Antilhas, Guiana, Senegal e Madagascar.
A política externa de Richelieu foi mostrada por dois objetivos: estabelecer a
hegemonia francesa no continente e conquistar as "fronteiras naturais" da França, ou
seja, o rio Reno e os Pirineus. A consecução dessa política só seria possível mediante a
luta contra os Habsburgos. Para tanto, Richelieu promoveu a aliança da França com os
príncipes alemães contra o Imperador católico Fernando II, na Guerra dos Trinta Anos
(1618-1648).
A intervenção nessa guerra aconteceu inicialmente apenas no nível diplomático, mas,
a partir de 1635, deu-se também no nível bélico. Os Habsburgos foram derrotados e
forçados a assinar, em 1648, o Tratado de Westfália, que determinou:
o fim das guerras de religião na Alemanha através da presença da autonomia feudal dos
príncipes.
a Alemanha foi dividida em duzentos e noventa e seis Estados e vários domínios dos
"cavaleiros imperiais".
a França obteve a Alsácia e a Suécia, parte da Pomerânia.
foram reconhecidas as independências da Holanda, Portugal e da Confederação Helvética.
a França foi conduzida à condição de árbitro da Europa.
Richelieu só deixou seu cargo com sua morte, em 1642. No ano seguinte, Luiz XIII
também morreu.
A maioridade de Luiz XIV (1643-1715) determinou a regência de Ana da Áustria, na
qual a figura dominante foi o Cardeal Mazarino. Ao longo desse período regencial,
verificamos um relativo enfraquecimento do poder real em consequência das
chamadas Revoltas de Fronda.
A ocorrência das Revoltas de Frondas foi determinada basicamente em função dos
seguintes fatores:
grande crise econômica provocada pelas más colheitas que geraram fomes, epidemias,
desemprego, declínio da renda da nobreza e da burguesia, fato que era agravado pelas
sucessivas altas nos impostos.
as tentativas da nobreza no sentido de eliminar o poder absoluto, sobretudo a nobreza
provincial.
a oposição burguesa e camponesa aos aumentos nos impostos para a manutenção do
esforço de guerra (a guerra dos Trinta Anos) e para a manutenção da corte.
a tentativa da nobreza de Toga no sentido de ampliar a sua influência no aparelho estatal.
influência da Revolução Puritana na Inglaterra quando o Parlamento inglês derrubou o
absolutismo Stuart.
Aproveitando-se da menoridade do rei, da impopularidade do Cardeal Mazarino, que
era italiano, e do fato do exército estar entrando na Alemanha, os líderes da nobreza de
Toga, membros do Parlamento de Paris (um órgão judiciário), iniciaram, em 1648, a
rebelião conhecida como Fronda Parlamentar, que foi esmagada no ano seguinte.
Cardeal Mazarin
Logo em seguida começou a rebelião da nobreza, a Fronda dos Príncipes, que se
estenderia de 1649 a 1653.
O esmagamento das revoltas de Fronda foi possível em função do temor da burguesia
diante da sublevação popular e das exigências de caráter feudal da nobreza; e o fim da
guerra dos Trinta Anos permitiu que Mazarino fizesse uso das tropas regulares do
exército contra os revoltosos.
A Fronda dos Príncipes foi a última rebelião na França contra o absolutismo, até as
vésperas da Revolução em 1789.
Após a morte de Mazarino, em 1661, Luiz XVI passou a exercer o poder
pessoalmente; ele foi a maior expressão do absolutismo de direito divino.
A Corte, mais do que nunca, foi utilizada como instrumento político do domínio do rei
sobre a nobreza, que preenchia cargos no ampliado aparelho burocrático do Estado,
recebia pensões e outros favores e tinha uma vida faustosa, cujo principal símbolo foi
a construção do Palácio de Versalhes.
A administração do Estado era feita através de um enorme conjunto de organismos,
dentro dos quais destacavam-se os ministros, o Conselho de Estado e o Conselho das
Finanças. As províncias foram ampliadas em detrimento dos governadores. As cidades
eram governadas pelos magistrados reis.
O rei exercia também o seu poder despótico, intervindo na Justiça por meio das
"ordens de detenção" (Lettres de cache) e controlando diretamente a política secreta.
Seu despotismo também foi expresso pela força da Igreja Católica, que era controlada
pelo Estado, e pelas perseguições aos huguenotes, cujos direitos foram acumulados
pela revogação do édito de Nantes através do édito de Fontainebleau, de 1685.
Milhares de huguenotes, na sua maioria burgueses, fugiram da França para a Holanda,
Inglaterra, Suíça e Alemanha.