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AGAMEMNON E CLITEMNESTRA [cena 1]

NARRADOR – Aos aqui presentes, vos conto do poder dos Olímpios e de sua imponência sobre
os mortais. De quando lhes tomou a ira ao ver terrível crime sobre a terra.
Depois dos irmãos Atreu e Tiestes assassinarem seu meio-irmão Crísipo, instigados por sua mãe
com medo de que perdessem o trono àquele, foram expulsos de suas terras por seu pai e
acolhidos pelo rei micênico Euristeu. Quando este morreu lhes deixou o trono, e após uma
disputa, Tiestes é banido do reino por seu irmão. Porém, ao descobrir que sua mulher o traia
com seu irmão, Atreu o convidou para um banquete e lhe serviu a maior das ofensas, os
membros de seus próprios filhos. E por este crime, terrível aos olhos dos Olímpios e dos mortais,
foram punidos os Átridas.
Restou desta geração Agamemnon e Menelau, filhos de Atreu, e ainda Egisto, filho de Tietes
com sua filha. De Agamemnon, nasceu Orestes e três mulheres, Electra, Ifigênia e Crisotêmis,
concebidas por Clitemnestra.

Os personagens entram: Agamemnon e Clitemnestra permanecem próximos, com


aquele mais a frente; Orestes se posiciona mais à direita e a frente daqueles; Egisto
se posiciona bem mais atrás e à esquerda de todos.

NARRADOR – Conto agora a desventura de Agamemnon, que por dez anos se ausentou de sua
pátria para lutar na Guerra de Tróia, causada pelo rapto de Helena por Páris, filho do rei Príamo
de Troia. Egisto não se uniu à expedição e preferiu permanecer em Argos para procurar uma
forma de se vingar da Casa de Atreu.

Agamemnon e Clitemnestra se despedem. Aquele, junto de Orestes, sai de cena.


Clitemnestra permanece no palco, mas se afasta para o canto, em direção a saída
de Agamemnon.
Egisto vá à frente do palco , mas fica distante de Clitemnestra, e fala.

EGISTO – Fui informado que Náuplio zarpou em nossa terra. E por insatisfação por não ter seu
filho vingado, vem incitando as solitárias esposas dos áticos ao adultério. Obviamente
Clitemnestra é a mais desejosa à vingança dele. Esta é minha oportunidade de vingar meu pai!

Cli e e a ca i ha a di eçã ad alc , na direção de Egisto, e este


tenta lhe parar, mas ela apenas o olha fixamente por mais que um instante.

EGISTO – Sei que ela odeia seu esposo e que com um pouco de persuasão conseguiria induzi-
la. Mas esse olhar não me passou despercebido. Agamemnon talvez tenha colocado o bardo da
corte como vigia, visto que tem estado sempre próximo dela. Mas nisso não há problema, darei
um jeito. Nem os deuses serão capazes de me impedir.

Egisto se afasta e distancia.


Clitemnestra entra em cena, Egisto vem em sua direção e ela o abraçam.

CLITEMNESTRA – Meu querido, me livraste daqueles olhos que me perseguiam e agora sou
tua. Te livrastes deste numa ilha deserta, portanto, sei que algo tens a planejar. Conta-me e diga
em que posso lhe ser útil.

EGISTO – Sei que poucas razões tens para amar teu esposo Agamemnon. Matou seu primeiro
esposo, Tântalo e o filho recém-nascido em amamentação, e forçou-te ao casamento. Também
te abandonou logo depois de esposar-te para ir a uma guerra que parecia interminável. Por fim,
autorizou o sacrifício da tua querida cria Ifigênia em Áulis. Diga-me se acordas comigo em
planejar a vingança de meu honroso pai e se divides comigo tua cama.

Clitemnestra sinaliza (abaixa a cabeça talvez) indicando complacência. Ambos saem


de cena.

NARRADOR – A grande guerra se finda, e dez anos se passam. Em viagem, Agamemnon


desposa Cassandra, a fracassada profetiza, filha de Príamo, e nela dois filhos nutriu, Teledamo e
Pélope. Enquanto na casa do átrida, Zeus pede a Hermes que avisasse a Egisto de que
abandonasse o planejamento da morte, pois Orestes, abandonado por sua mãe para que não a
atrapalhasse, vingaria seu pai. Entretanto, nem mesmo Hermes foi capaz de dissuadi-lo.

Clitemnestra e Egisto entram em cena.

CLITEMNESTRA – Ó Egisto! Há pouco, soube de algo intolerável que Agamemnon pretende,


trazer a fracassada profetiza Cassandra e as crias que nela produziu, tendo a tomado por sua
esposa. A ira me consome, e sua morte desejo. A desonra, este homem merece. Peço-te que me
permitas planejar sua morte, que lhe cortemos a cabeça quando este estiver em casa.

Clitemnestra e Egisto saem em cena.

NARRADOR – Um banquete foi preparado para as boas-vindas de Agamemnon. Clitemnestra


o recebe, e finge grande felicidade ao vê-lo. O conduz até o banho, onde as escravas o
aguardavam com água quente. Cassandra ficou do lado de fora do palácio, tomada por um
transe profético, e se negou a entrar. Permaneceu de fora, dizendo que sentia o cheiro de
sangue e que a maldição de Tiestes pairava sobre a sala de refeições.
Quando Agamemnon se preparava para sair da banheira, quando fora envolvido com uma
toalha feita de malha especialmente tecida por sua amada Clitemnestra.
A manta o envolveu pelos braços e pescoços enquanto Egisto vingava em nome de seu pai e
Clitemnestra de sua própria honra.

Cli e e a ecebe Aga e c ab aç e fa a da b e a e e a é


que saiam do cenário.
A ba hei a é c l cada e ce a
Agamemnon entra na banheira e se banha.
Agamemnon levanta da banheira e entram Clitemnestra e Egisto discretamente.
Quando Agamemnon está prestes a sair da banheiro, com uma das pernas apenas
de fora, lhe é atirado a manta. E começa a ser golpeado por Egisto e Clitemnestra.
Egisto o golpeia duas vezes com uma espada, Agamemnon cai de costas dentro da
banheira e Clitemnestra puxa sua cabeça pelo cabelo e lhe corta a cabeça.

NARRADOR – E assim tem a prometida desonrosa morte o átrida: com uma rede que lhe foi
atirada sobre a cabeça, tendo um pé ainda na banheira e outro fora, e na casa de banhos
anexa. Nem vestido nem nu, nem na água nem na terra seca, nem em seu palácio nem fora
dele, nem jejuando nem se banqueteando. Esse massacre ocorreu no décimo terceiro dia do
mês de gamélion [janeiro] e, sem temer o castigo divino, Clitemnestra decretou que, em todo
décimo terceiro dia, fosse celebrado um festival mensal com danças e oferendas de ovelhas a
suas divindades guardiãs.
A VINGANÇA DE ORESTES [cena 2]
Agamemnon entra em cena (Hades).

AGAMEMNON – Não foi embarcado nas naus que Posêidon me venceu, depois de ter incitado
uma pródiga rajada de ventos cruéis; nem foram homens hostis a fazer-me mal enterrar firme:
foi Egisto que, desencadeando a minha morte e o meu destino, me matou com ajuda da mulher
detestável (depois de me convidar para sua casa, depois me oferecer um banquete), como quem
mata um boi na manjedoura; e assim morri uma morte lamentável e à minha volta foram de
companheiro chacinados sem piedade, como se fossem porcos de brancos dentes, cuja matança
tem lugar na casa de um homem rico e poderoso por ocasião de uma festa muito nupcial,
banquete ou alegre festim.
Já assisti à chacina de muitos homens, quer tenham sido mortos em isolado ou na violenta
refrega; mas qualquer coração teria sentido compaixão ao ver aquilo, como jazíamos no Palácio
junto às taças e às mesas repletas, e todo o chão estava encharcado de sangue. Dos gritos o mais
terrível foi o da filha de Príamo, Cassandra, morta pela ardilosa Clitemnestra, enquanto se
agarrava a mim; e eu, jazendo no chão, tentava erguer os braços, mas deixei os cair, moribundo,
sobre a espada. A cadela afastou-se e, embora eu estivesse a caminho do Hades, ela não quis
fechar-me as pálpebras nem a boca. Pois é certo que nada há de mais vergonhoso que uma
mulher que põe tais ações no espírito, como o ato ímpio que aquela preparou, causando a morte
de seu legítimo marido. Pois eu pensava que regressava para casa, bem querido para os filhos e
para os meus servos. Ela é que, pensando coisas terríveis, derramou vergonha sobre si própria
e sobre as mulheres vindouras - mesmo sobre aquela que praticar o bem.

Orestes entra em cena.

ORESTES – Criado fui por meus avós. Retirado de minha terra ainda novo, sem saber de notícias
de meu honroso pai, Rei de Micenas, Agamemnon, pois abandonado fui nesta terra pela mulher
que me sustentou em seu ventre. Soube agora por meu velho tutor que meu pai foi morto pela
minha ardilosa progenitora Clitemnestra, juntamente de meu odioso tio e dela amante, Egisto.
Soube ainda que a odiosa mulher despejou o corpo às pressas na terra e não preparou as devidas
libações para que a desonra de meu pai fosse ainda maior, fez ainda com que o povo de Micenas
fosse proibido de participar do funeral.
Disse-me o Oráculo de Delfos que devo fazer libações junto à tumba de meu pai Agamemnon,
que deixasse sobre ela uma mecha de meu cabelo e que, sem a ajuda de lanceiros, aplicasse
astutamente o devido castigo aos assassinos. E que não o fazendo tornar-me-ei um pária da
sociedade, ser-me-á vedada a entrada a todos os altares e templos e me acometerá uma lepra
que me devorará a carne, da qual brotará um bolor branco. Devo agora regressar secretamente
para Micenas e dar fim aos assassinos.

Orestes sai de cena.

NARRADOR – Orestes visita seu pai na tumba, faz a libação muito choroso. Mas também muito
odiento pelos criminosos causadores desta morte. Decide então ir visitar sua casa e pôr em
prática o vingativo plano.

Entram em cena Clitemnestra e Geilissa, do lado de dentro do palácio, aquela


sentada, à frente e esta, mais ao fundo. Orestes, de fora, posiciona-se diante da
porta.
Ao fim da fala do Narrador, Orestes bate à porta.
ORESTES – Honrosa senhora de Micenas, sou eólio da Dáulide, e lhe trago más notícias de
Estrófio. Morto o filho de Agamemnon está. Trago comigo esta urna, nela estão as cinzas de
Orestes. Trago-a desejoso em saber se devo enterrar em sua terra de nascimento ou em Crisa.

CLITEMNESTRA – Eólio da Dáulide peço-te que acompanhe Geilissa, a velha pajem de meu
querido filho, para que o deposite aqui em Micenas.

Geilissa acompanha Orestes até o fundo saindo e rapidamente voltando de cena,


enquanto Clitemnestra sai de cena.
Ao chegar próximo ao templo, Geilissa cai aos pés de Orestes chorosa.

GEILISSA – Oh, meu honroso senhor! Jamais abandonaria a memória de tua face. Os deuses
jamais permitiram isto, pois honroso és por seguir o caminho sábio dos divinos Olímpios.
Regozijo por poder ajudar-te a vingar a memória de teu pai. Permita-me seguir a tua casa e
despreparar teus adversários, pois gota alguma de sangue além do determinado pela Roda da
Fortuna deve ser derramada.

Saem de cena os personagens.


Entram Clitemnestra e Egisto em cena, no palácio. Estão felizes e festejantes.

GEILISSA – Meus senhores, regozijam-se pois o eólio desarmado está. Podem recebe-lo sem
armas, pois este veio em paz portando apenas a boa notícia, a morte do inimigo.

Orestes entra em cena e aproxima-se de Egisto, que o recebe. Com a espada


escondida, Orestes a desembainha e, com um só golpe, corta a cabeça daquele.
Geilissa sai de cena.
Imediatamente, Clitemnestra se prostra ao chão e balbucia, tentando abranda-lo.
Com um só golpe, ele a acerta no coração.
Orestes apresenta-se diante da frente do palco e ergue a manta manchada de
sangue que foi atirada sobre seu pai, durante o assassinato deste.

ORESTES – Em nome de meu pai honro esta casa e esta família. Que os deuses tenham
misericórdia e perdoem meus irmãos e futuras gerações desta casa dos crimes de meus
antecessores.

NARRADOR – Este é o conhecido mito do rei sagrado que morre no solstício de verão, da deusa
que o trai, do herdeiro que o sucede e do filho que o vinga.

FIM

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