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APLICADA
Introdução
Atualmente, por meio de pesquisas e da disponibilidade de novos me-
dicamentos no mercado, sabemos que as plantas medicinais envolvem
muitos outros aspectos importantes, e não só receitas caseiras ou co-
nhecimento popular. Por isso, o conhecimento sobre a biodiversidade e
a utilização de certas espécies vegetais para o tratamento de doenças é
fundamental para melhor aproveitarmos todo o potencial dos vegetais
na busca da prevenção e da promoção da saúde.
Como se sabe, o Brasil é o país que detém a maior parte de toda a
biodiversidade do nosso planeta e, como consequência, é a maior fonte
de espécies vegetais, ou seja, de raízes, caules, folhas, flores, frutos e
sementes ricas em matérias-primas com elevado potencial para o de-
senvolvimento de produtos médicos e farmacêuticos. Além disso, muitas
pessoas ainda utilizam partes das plantas, como as folhas, por exemplo,
para preparar um chá ou algum outro remédio caseiro.
Neste capítulo você vai estudar as principais partes das plantas me-
dicinais. Vai ler sobre algumas das indicações terapêuticas das partes das
plantas medicinais, suas respectivas funções anatômicas e sua relação
com a produção de princípios ativos e processos fisiológicos essenciais,
como a fotossíntese, por exemplo.
2 Anatomia interna e externa das plantas
1. Por meio dos caules, folhas e raízes a planta pode capturar, com efici-
ência, os recursos escassos, tanto acima quanto abaixo do solo.
2. As plantas podem responder a estímulos ambientais durante o seu cres-
cimento e desenvolvimento para explorar as oportunidades do ambiente
ao seu redor, como, por exemplo, estender suas raízes em direção a um
suprimento de água ou seus ramos em direção aos raios de sol.
Figura 1. Estrutura básica das angiospermas, com seus principais órgãos vegetativos
(assexuados), organizados em sistema de raízes e sistema aéreo.
Fonte: Sadava et al. (2019, documento on-line).
4 Anatomia interna e externa das plantas
Raiz
A raiz é um dos três principais órgãos vegetativos que compõem um vegetal e
o primeiro a se desenvolver (logo após a germinação da semente). De acordo
com Monteiro e Brandeli (2017) e Stein et al. (2018), a raiz tem importantes
funções no desenvolvimento de uma planta: é responsável por sua nutrição,
incluindo o suporte mecânico, a absorção de água e sais minerais e a condução
de matéria orgânica até o caule, além da reserva dos nutrientes essenciais à
vida do vegetal.
Além das principais funções de fixação e absorção de água e minerais, a
raiz pode assumir outras funções secundárias importantes para o desenvol-
vimento das plantas, como, por exemplo (MONTEIRO; BRANDELI, 2017;
STEIN et al., 2018):
reserva energética;
exclusão de substâncias tóxicas;
transporte de água, outros nutrientes e produtos da fotossíntese;
trocas gasosas com a atmosfera do solo;
síntese de reguladores de crescimento, como citocianina e gliberdina;
assimilação e incorporação de nutrientes, como nitrogênio e fósforo.
Em geral, as raízes são formadas por tecidos distintos e, por isso, são
classificadas como raízes primárias e raízes laterais. A raiz primária típica é
delimitada por uma epiderme, sob a qual fica o córtex, que tem uma ou várias
camadas e é delimitado internamente por uma endoderme. Em seguida, há o
pecíolo, com o sistema vascular na parte central (MONTEIRO; BRANDELI,
2017; STEIN et al., 2018)
Dependendo da função que uma raiz exerce, ela pode ser classificada
da seguinte maneira (MONTEIRO; BRANDELI, 2017; STEIN et al., 2018):
Algumas raízes não são raízes propriamente ditas, e sim rizomas, que são
considerados um tipo de caule subterrâneo que pode ter partes aéreas e cresce
horizontalmente. Além disso, os rizomas acumulam substâncias nutritivas e
possuem gemas laterais, ao contrário das raízes. Eles são importantes como
órgãos de reprodução vegetativa ou assexuada de diversas plantas (MON-
TEIRO; BRANDELI, 2017; STEIN et al., 2018).
Existem rizomas que são verdadeiras fontes medicinais e que, inclusive,
podem enriquecer ou diversificar a alimentação humana. Existem muitos relatos
de que elas eliminam dores e inflamações e reduzem os níveis de gordura no
sangue, além de terem poderes antioxidantes. Alguns exemplos de rizomas
com potencial medicinal são: gengibre, cúrcuma; zedoária, galanga e pacová.
Outro exemplo de raiz medicinal é a raiz-vermelha (Ceanothus americanus),
também conhecida como “arbusto-lilás”, que pertence à família Rhamnaceae
e possui várias indicações, como tratamento de amigdalite, bronquite, febre e
asma (MONTEIRO; BRANDELI, 2017; STEIN et al., 2018).
Anatomia interna e externa das plantas 7
Existe uma adaptação associativa curiosa das raízes conhecida como micorrizas.
Essa associação simbiótica entre raízes e fungos do solo é benéfica para ambos os
organismos, já que, nessa ocasião, as hifas do fungo funcionam como uma extensão
das raízes, atuando na absorção de água e de nutrientes, em especial o fósforo. Entre
os principais hospedeiros desses fungos, podemos destacar o algodão, o gergelim, a
mamona, o sisal e o amendoim. Esse tipo de associação vem sendo também utilizada
para a recuperação de áreas degradadas, onde o solo é pobre em nutrientes (STEIN
et al., 2018).
Caule
O caule é o órgão central da planta, um verdadeiro eixo de sustentação que,
além de servir como estrutura de inserção, serve de ligação entre as diferentes
partes da planta (raízes, folhas, flores e frutos), exercendo várias funções im-
portantes para a sua sobrevivência, como a condução de água e sais minerais
das raízes para as folhas e de matéria orgânica das folhas para as raízes.
Além da condução de substâncias importantes para as plantas, o caule
desempenha outras funções, listadas a seguir (MONTEIRO; BRANDELI,
2017; STEIN et al., 2018):
epiderme;
hipoderme;
córtex;
endoderme;
tecido vascular e de sustentação;
tecido fundamental central ou medula.
Folha
As folhas são estruturas laterais que crescem sobre os caules, a partir dos
primórdios foliares, e desempenham funções primordiais para o desenvol-
vimento das plantas, por meio de processos fisiológicos, como os listados a
seguir (MONTEIRO; BRANDELI, 2017; STEIN et al., 2018):
A folha pode ser simples, contendo uma única lâmina, ou composta, com
a divisão do limbo em folíolos. Ela é constituída de limbo, bainha, estípula e
pecíolo, que une a folha ao caule, e possui uma distribuição alternada, composta
ou verticulada (Figura 5). Em algumas espécies, muitas vezes a folha assume
a forma de espinho para proteger a planta (JUDD et al., 2009).
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unifoliada (limoeiro);
bifoliada (pata-de-vaca);
trifoliada (morango);
palmada (ipê amarelo);
pinada (jacarandá);
bipinada ( flamboyant).
De acordo com Stein et al. (2018), outro modo de classificar as folhas é com
relação à sua disposição no caule, o que é denominado filotaxia. Na Figura 6
é possível observar os principais arranjos: alternada, oposta, verticilada e
fasciculada.
Outro bom exemplo do uso de folhas com potencial medicinal é o sumo da folha
da babosa (Aloe vera), que pode ser usado como xampu anticaspa, no combate à
queda de cabelos e para a higiene de hemorroidas, eczemas e úlceras (MONTEIRO;
BRANDELI, 2017).
Flor
A flor, provavelmente, é a parte mais importante das plantas. Morfologica-
mente, a flor consiste em um ramo curto de crescimento determinado, com
entrenós curtos e folhas extremamente modificadas. É o local onde acontece
a reprodução sexuada das angiospermas, com o posterior desenvolvimento
de frutas e sementes. Assim, podemos dizer que a flor é o órgão responsável
pela perpetuação das espécies vegetais e, de forma indireta, por meio dos
seus frutos, de várias outras espécies animais (MONTEIRO; BRANDELI,
2017; STEIN et al., 2018).
Em geral, a flor é bastante atrativa, com cores vibrantes e fragrâncias
exóticas, com o objetivo específico de aproximar polinizadores e/ou afastar
predadores. Assim, quando uma planta floresce, significa que ela está apta
a se reproduzir e toda sua energia está direcionada para essa atividade vital.
Nas plantas, o androceu é o órgão reprodutor masculino, formado por um
conjunto de estames. Já o gineceu é o órgão reprodutor feminino, composto
por folhas modificadas, denominadas pistilos ou carpelos (MONTEIRO;
BRANDELI, 2017; STEIN et al., 2018).
Anatomia interna e externa das plantas 15
Para a maioria das pessoas, as flores chamam atenção devido a três carac-
terísticas marcantes: o tamanho, a cor e o perfume. Na Figura 7 e no Quadro 1
podemos observar que muitas partes das flores são folhas modificadas, que,
durante o desenvolvimento dos vegetais superiores, adaptaram-se para exercer
funções específicas para a reprodução (JUDD et al., 2009).
Fruto
Do ponto de vista botânico, os frutos são estruturas presentes apenas em
plantas angiospermas. Após a polinização, o grão de pólen germina dentro do
carpelo e, por meio de um tubo polínico, chega ao ovário, local onde ocorrerá a
fecundação. A seguir, de acordo com Monteiro e Brandeli (2017) e Stein et al.
(2018), o óvulo forma uma semente e o ovário se desenvolve até formar o
seu fruto.
Dessa forma, podemos dizer que os frutos consistem em ovários fecun-
dados, cuja função principal é proteger as sementes enquanto amadurecem.
Assim, quando os frutos secam e se abrem durante a maturação, eles podem
simplesmente liberar suas sementes sobre o solo ou expeli-las de forma explo-
siva para que alcancem grandes distâncias e assim otimizar a sua dispersão
no meio ambiente.
Para Monteiro e Brandeli (2017) e Sadava et al. (2019), os serem humanos
e outros animais, quando se alimentas de frutas, também colaboram de forma
indireta para a dispersão das sementes e perpetuação as espécies. Inclusive,
algumas plantas podem ser prejudicadas com relação à dispersão de suas
sementes quando a população de alguma espécie animal se reduz ou entra
em extinção.
Em geral, os frutos carnosos, bastante hidratados e suculentos, como
o abacate, dependem de certos mamíferos para transportar suas sementes
para outro local. Já alguns frutos espinhosos ou providos de pelos podem ser
transportados a longas distâncias na superfície externa de alguns animais
(MONTEIRO; BRANDELI, 2017; SADAVA et al., 2019).
De modo geral, a estrutura dos frutos é constituída por semente e pericarpo.
Este último, considerado como a parede do fruto, é formado por três camadas
bem definidas, listadas a seguir (STEIN et al., 2017):
Semente
A semente de uma planta consiste em um óvulo desenvolvido (maduro) após a
fecundação da flor, o qual apresenta uma camada de células mortas (tegumento),
parcialmente rígido, com a função de proteger. Além disso, possui um embrião
inativo e uma reserva alimentar chamada de endosperma (ou albúmen), que a
envolve. Será o desenvolvimento desse embrião que dará origem a uma nova
planta, por isso a semente é a parte da planta responsável pela preservação e
perpetuação das espécies vegetais (MONTEIRO; BRANDELI, 2017; STEIN
et al., 2018).
As sementes contêm reservas de alimento para garantir que o vegetal
possa germinar e se desenvolver até estar apto a realizar a fotossíntese. Du-
rante a germinação, algumas sementes se dividem em duas, como o feijão
(dicotiledônea), por exemplo, enquanto outras se mantêm inteiras, como as
sementes do milho (monocotiledônea) (MONTEIRO; BRANDELI, 2017;
STEIN et al., 2018).
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