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O MUSEU DE TUDO
EM QUALQUER PARTE
arte e cultura digital:
inter-ferir e curar
Coleção
O MUSEU DE TUDO
EM QUALQUER PARTE
ARTE E CULTURA DIGITAL:
INTER-FERIR E CURAR
[Ficha Técnica]
Título
O MUSEU DE TUDO EM QUALQUER PARTE
arte e cultura digital: interferir e curar
Autor
Pedro Alves da Veiga
Coordenação Editorial
Mafalda Lalanda
Capa
Grácio Editor | Imagem da capa de Pedro Alves da Veiga
ISBN: 9789899023253
Esta obra foi financiada através do Projeto UIDB/04019/2020 da Fundação para a Ciência
e Tecnologia.
O AUTOR:
Pedro Alves da Veiga é um artista e investigador transdisciplinar, licenciado
em Engenharia Informática pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Uni
versidade Nova de Lisboa, pósgraduado em Estudos Avançados de Média
Arte Digital pela Universidade Aberta e doutorado em MédiaArte Digital
pela Universidade do Algarve e Universidade Aberta. É Professor Auxiliar
Convidado na Universidade Aberta, onde é Subdiretor do Doutoramento
em MédiaArte Digital. Esteve ligado à atividade empresarial durante mais
de duas décadas, e desenvolveu trabalhos premiados de webdesign e mul
timédia. É membro integrado do Centro de Investigação em Artes e Comu
nicação, colaborador do ID+ e partilha regularmente resultados da sua
investigação em conferências e publicações científicas especializadas sobre
o papel social e as influências das economias da atenção e experiência no
ecossistema da médiaarte digital. Desenvolve ainda atividade artística em
assemblage, programação criativa generativa e audiovisuais digitais. Tem
exposto as suas obras, individual e coletivamente, em Portugal, Espanha,
Holanda, Roménia, Rússia, China, Tailândia e Estados Unidos da América.
Tem participado em vários projetos de investigação no cruzamento da arte,
ciência e tecnologia, desenvolvendo o seu trabalho com interesse específico
nas áreas da arte e sociedade, artivismo e hactivismo, curadoria de média
arte digital e metodologias de investigação criativa baseada em arte.
A COLEÇÃO HUMANITAS:
A Humanitas do CIAC – Centro de Investigação em Artes e Comunicação,
em parceria com a Grácio Editor, é uma coleção ensaística de divulgação
dos resultados da investigação produzida neste centro. Pretende oferecer,
através das obras aqui publicadas, o nosso contributo no domínio científico
das Humanidades.
A saudável transversalidade caracterizadora da investigação do CIAC, que
abarca as Artes, a Comunicação e a Cultura, as Letras e a Cultura Digital,
constitui a justificação para a apresentação de uma coleção que acompanhe
esse espírito plural de reflexão. Este reside, no fundo, na capacidade para
abarcar o Homem enquanto ser que se exprime das mais variadas formas.
Celebrar o regresso aos estudos humanísticos, às Humanidades, portanto,
no sentido primordial e lato que os gregos e latinos lhes atribuíram, como
resposta aos constantes reptos que a contemporaneidade nos lança, é o
objetivo da Humanitas.
Deste modo, esta coleção espelha a desejável harmonia entre o estudo das
novas linguagens, dos novos processos e métodos e a solidez de saberes
que prolongam tradições teóricas e críticas. A revisitação de produtos ar
tísticos e culturais do passado, seja para os (re)questionar à luz do para
digma atual, seja para os (re)conhecer enquanto objetos humanísticos sem
tempo estimulará, por sua vez, o pensamento sobre os modos coetâneos
de expressão artística e cultural.
SUMÁRIO
Agradecimento ...................................................................................................13
Prefácio ...............................................................................................................17
Introdução ..........................................................................................................19
I PARTE – ACERVO.............................................................................................25
Médiaarte digital: uma definição.......................................................................27
Ecossistemas de médiaarte digital e seus agentes ............................................31
O ecossistema Português....................................................................................37
Artistas..........................................................................................................37
Associativismo e redes colaborativas em Portugal.......................................41
Ensino e investigação....................................................................................48
Publicações...................................................................................................57
Principais fontes de financiamento ..............................................................57
Festivais ........................................................................................................64
Cidades criativas ...........................................................................................87
II PARTE – METODOLOGIA...............................................................................89
O estudo da médiaarte digital ...........................................................................91
A/R/Cografia – Arte, investigação e comunicação ..............................................95
Comunicação ................................................................................................96
Adequação à médiaarte digital ...................................................................97
O arco ...........................................................................................................98
Etapas da a/r/cografia ................................................................................101
Espaço artístico...........................................................................................106
Conclusão ...................................................................................................109
Conclusão .........................................................................................................243
Bibliografia........................................................................................................251
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Uma captura de ecrã da obra de net.art de Teo Spiller – TeddyBear. ...................
Fonte: Teo Spiller (CC BYSA 4.0).........................................................................20
Figura 2: À esquerda, a visão não linear do arquipélago à superfície, .................................
aparentemente composto de ilhas isoladas. À direita, a visão .............................. 9
do mesmo arquipélago sobreposta ao complexo rizoma de .................................
interdependências e influências subjacente às várias ilhas. ..................................
Fonte: autor e AndréPh. D. Picard (CC BYSA 3.0) .............................................22
Figura 3: A obra de Johannes Theodor Baargeld – Typical Vertical Mess as ........................
Depiction of the Dada Baargeld, de 1920. Fonte: Johannes Theodor ..................
Baargeld, domínio público..................................................................................27
Figura 4: Ivan Sutherland usando o Sketchpad in 1962. Fonte: Sutherland, .......................
I. E. (1964). Sketchpad a manmachine graphical communication ......................
system. Simulation, 2(5), R3, p. 329. .................................................................29
Figura 5: A visão inicial do ecossistema da MAD. Fonte: autor. .......................................36
Figura 6: O mapa do ecossistema de médiaarte digital português, ....................................
disponibilizado online8. Fonte: autor. .................................................................40
Figura 7: FabLab de OnePoint em Paris. Fonte: Anthony Bressy (CC BYSA 2.0) ...............46
Figura 8: A estrutura prevista para o programa Horizonte Europa. .....................................
Fonte: https://ec.europa.eu/info/node/71880. .................................................62
Figura 9: Exterior da Igreja de Santa Maria da Alcáçova, MontemoroVelho, ....................
durante o Festival Forte. Fonte: Gener8ter (CC BYSA 4.0).................................66
Figura 10: Cartazes das edições de 2011, 2014 e 2015. .......................................................
Fonte: Arquivo Ephemera de José Pacheco Pereira. ........................................71
Figura 11: Rádio Manobras Futuras, um dos spinoffs do FuturePlaces. ..............................
Fonte: FuturePlaces..........................................................................................73
Figura 12: Magical Garden, instalação de Kari Kola durante o Festival Lumina ...................
de 2016. Fonte: Bosc d’Anjou (CC BY 2.0).........................................................76
Figura 13: Instalação WIDE/SIDE (2015) de João Martinho Moura no GNRation. ...............
Fonte: João Martinho Moura (CC BYSA 2.0). ...................................................83
Figura 14: A instalação Tuumo, de Rot8ion. Fonte: Rot8ion (CC BYSA 4.0) ......................92
Figura 15: A instalação Alchimia, através de um mecanismo de deteção facial ...................
do observador, capta a sua face (visível no canto superior esquerdo) ................
e misturaa com outras faces através de um algoritmo generativo, ...................
usando uma biblioteca de imagens de rostos com diferentes idades, ................
etnias e géneros. A intenção da obra é de provocar um questionamento ..........
sobre a identidade e a relação com o outro (se eu fosse outro/a). .....................
Fonte: autor. .....................................................................................................93
Figura 16: Acima, o arco azul conecta os pontos de partida (D) e de chegada (A), ..............
através dos pontos intermédios de exploração. Abaixo, retornando ao .............
ponto de partida por uma rota diferente (laranja) e incorporando ....................
mais pontos de exploração ao longo do caminho. Fonte: autor.......................99
Figura 17: Convergência, ilustrada por uma espiral de Fibonacci desenhada ......................
com arcos. Fonte: autor....................................................................................99
PEDRO ALVES DA VEIGA
Figura 18: Divergência aparente, ilustrada por famílias de biarcos, ligando ........................
os pontos A e B. Fonte: Wikimedia commons................................................100
Figura19: O espaço tridimensional a/r/cográfico da intenção / intervenção .......................
e seus eixos. Fonte: autor. ...............................................................................108
Figura 20: A zona vermelha, do conformidade, inépcia e indiferença, ................................
10 e a zona verde, do desafio, mestria e paixão. Fonte: autor. ...........................108
Figura 21: Um ramo do rizoma da a/r/cografia. Fonte: autor.........................................110
Figura 22: Acesso, utilização e criação os três passos subjacentes ....................................
à produção artística. Fonte: Autor. .................................................................113
Figura 23: Anúncio surrealista a camisas. Fonte: Arquivo Ephemera, ..................................
de José Pacheco Pereira. ................................................................................117
Figura 24: Uma artie – uma selfie contendo uma obra de arte. ..........................................
Fonte: Sofia Quintas (foto cedida pela autora)...............................................126
Figura 25: A evolução, ao longo de 40 anos, da utilização dos pronomes I, you ..................
e we, em livros em inglês. Fonte: Google Books Ngram Viewer.....................133
Figura 26: Arte instantânea, criada em menos de 10 segundos com a ................................
blackbox Flowpaper para iPhone. Fonte: autor. .............................................135
Figura 27: Esquema ilustrativo da fragmentação da atenção dos docentes, .......................
e consequente degradação da transmissão de conhecimento ...........................
aos estudantes, atualização de conhecimentos, investigação .............................
e publicação. Fonte: autor. .............................................................................144
Figura 28: Visão parcial da galeria de médiaarte digital, curada pelo autor, ......................
na rede social Pinterest. Fonte: autor.............................................................162
Figura 29: A evolução, desde os bens essenciais às experiências encenadas: .....................
cada patamar é construído sobre o anterior. Fonte: autor.............................167
Figura 30: Os quatro reinos da experiência Fonte: autor................................................170
Figura 31: The Culture Yard, Click Festival 2012, uma experiência de entretenimento. ......
Fonte: Rosa Menkman / Mathias Vejerslev, Flickr (CC BYSA 2.0) ..................171
Figura 32: Graffiti antigentrificação em Évora. Fonte: autor. .........................................177
Figura 33: Qual o real papel do Instagram? Fonte: autor................................................191
Figura 34: Artie remix – Mona et la laitière immortalisent leur voyage chez le cri. .............
Fonte: Travailwiki (CC BYSA 4.0) ....................................................................193
Figura 35: Fotograma do projeto participativo artivista de arte generativa .........................
cinemática SAR Speciesism | Ageism | Racism apresentado ............................
pelo autor no Festival Digital function(2019,»innocence»), em Palma ...............
de Maiorca, Espanha. Fonte: autor.................................................................195
Figura 36: Nanook of the North – anunciado como «a história mais humana .....................
e mais verdadeira das Grandes Neves Brancas». Fonte: Robert J. ......................
Flannery / Pathé Picture, domínio público .....................................................200
Figura 37: Como uma fotografia (real) é tratada em blackboxes de retoque .......................
facial/composição gráfica, destinada principalmente a ser partilhada ...............
nas redes sociais, criando uma (real) imagem social pósfake. ..........................
Em alternativa, um avatar pode também ser personalizado ...............................
para o mesmo efeito. Fonte: autor.................................................................206
O MUSEU DE TUDO EM QUALQUER PARTE. ARTE E CULTURA DIGITAL: INTER-FERIR E CURAR
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dos artefactos digitais são uma fração da globalidade das infraestruturas exposi
tivas, para se perceber que estamos perante uma multiplicação de frações, ou
seja, uma seletividade com três níveis multiplicativos de segregação na fruição da
obra de médiaarte digital.
Este e outros desafios, colocados à MAD, são referidos por Christiane Paul3:
• A dificuldade do público não especializado em entender a estética. Embora 21
a arte contemporânea raramente seja fácil de compreender – e frequente
mente não queira ser compreendida – a arte digital apresenta um novo
conjunto de problemas: a dependência de código, algoritmos e observação
em tempo real muitas vezes exponencia a alienação, tornando assim difícil
um maior envolvimento que conduza à sua devida apreciação estética.
• A sua predominante imaterialidade, que não é um exclusivo da MAD. Mas
ao contrário da performance e da arte conceptual, a MAD ainda não tem
uma aceitação sem reservas no panorama (mercado?) global da arte.
• A associação imediatista dos média digitais com a tecnologia, frequente
mente conduz à sua sobreposição confusa, contribuindo para diluir a obra
no seu suporte. O público ainda está a aprender a responder: as obras tanto
podem ser vistas como entretenimento, como podem ser encaradas como
pertencentes a um museu de ciência, ou a uma galeria. Entender a MAD
como pertencente a um meio (medium) próprio, muitas vezes híbrido, é
ainda um desafio complexo de superar.
• A proliferação de imagens de alta definição e efeitos espetaculares em jogos
e filmes 3D pode contribuir para que as obras de MAD não atinjam as ex
pectativas do público generalista que, na sua busca rápida por novos focos
de atenção, pode optar por ignorar obras artísticas, em função do seu im
pacto lowtech, por comparação com a produção comercial profissional.
• O problema mais grave é, contudo, a obsolescência tecnológica, dado que,
se não forem tomadas as devidas cautelas, ela determina a volatilidade das
próprias obras.
Mesmo assim, e porque próprio título implica uma construção, este livro está
dividido em quatro partes principais:
1. o acervo do Museu de Tudo em Qualquer Parte, em que se identificam os
principais elementos do ecossistema da médiaarte digital,
2. a metodologia sugerida para a criação e análise das obras de médiaarte
digital, 23
3. a análise das várias formas expositivas de que o acervo se pode revestir,
4. e a materialização do museu.