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A Conquista Divina - A. W. Tozer
A Conquista Divina - A. W. Tozer
Eternidade cuja
desconfiança com
respeito à terra os há
constrangido a procurar
em Deus uma mais
permanente realidade,
ofereço-lhes esta
pequena obra em
humilde dedicatória.
A. W TOZER
A CONQUISTA DIVINA
^Z 3 Z^
A CONQUISTA DIVINA
© 1978 pelo Lowell Tozer. Publicado com autorização do Christian
Publications
Printed in Spain
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10.
O Contínuo Eterno
Em palavra ou em poder
O mistério da chamada
Vitória através da derrota
O Esquecido
A iluminação do Espírito
O Espírito como poder
O Espírito Santo como fogo
por que o mundo não pode receber
A vida cheia do Espírito
INTRODUÇÃO
WILLIAM CULBERTSON,
Presidente Instituto Bíblico Moody
PREFÁCIO
Creio que posso chegar à sã conclusão de que o mundo, por meio desta
cansativa declaração, viu-se livre de uma imensa quantidade de livros carentes
de valor que de outro modo teriam sido escritos. E com isso temos uma grande
dívida contraída com o sábio velho rei, sim, maior do que imaginamos. Mas, se
muitos dos livros já escritos foram importantes para refrear, sequer um pouco, a
produção de outros livros de pouca qualidade, não poderiam, também, ter
servido de ajuda para impedir a edição de alguns que seriamente pudessem ter
contido uma mensagem autêntica para a humanidade? Não, não acredito.
O único livro que deveria ser escrito é o que brota do coração, impelido pela
pressão do interior. Quando uma obra assim é gerada dentro do homem é
quase seguro que será escrita. O homem que tem assim o peso de uma
mensagem não retrocederá diante de nenhuma destas considerações de
saturação. Para ele, este livro não só é imperativo, mas também será
inevitável.
Este pequeno livro sobre o caminho espiritual não foi «feito» em nenhum
sentido mecânico. Nasceu e brotou de uma necessidade interior. Há o risco de
me misturar com uma companhia duvidosa, posso reivindicar para mim mesmo
o testemunho do Eliú filho de Baraquel o buzita, da família de RAM: «Porque
estou cheio de palavras, e me apressa o espírito dentro de mim.» E seu temor
de que se não falasse se romperia qual odre novo carente de respiradouro me
é coisa bem conhecida. A vista da igreja languideciente a meu redor e as
operações de um novo poder espiritual em meu seio me impuseram uma
pressão impossível de resistir. Tanto se este livro alcança a um amplo público
como se não, tem, entretanto, que ser escrito, embora não seja por outra razão
a não ser para dar alívio a um peso insuportável em meu coração.
Não tenho pretensão para nada parecido a uma erudição irrepreensível. Não
sou uma autoridade quanto ao ensinamento de ninguém. Nunca pretendi sê-lo.
Tomo minha ajuda onde a encontro, e me ponho de coração a pastar ali onde a
erva é mais verde. Só ponho uma condição: meu professor tem que conhecer
Deus, como disse Carlyle, «mais que de ouvidas», e Cristo deve ser tudo em
tudo para ele. Se alguém só pode me oferecer uma doutrina correta, com toda
segurança me escaparei na primeira oportunidade para procurar a companhia
de alguém que tenha visto por si mesmo a formosura do rosto daquele que é a
rosa do Sarom e o lírio dos vales. Este homem poderá me ajudar, e ninguém
mais.
Ao arguir assim, poderá se dizer que estou errado, mas como Blake
escreveu em certa ocasião, «se estou errado, o estou em boa companhia»,
porque acaso não é outra forma de dizer: «O espírito é o que dá vida; a carne
não aproveita para nada»? O essencial de uma vida Interior correta era o peso
do ensinamento de Cristo, e indubitavelmente foi uma das principais causa de
sua rejeição por parte daqueles notórios externalistas, os fariseus. Paulo
pregou também continuamente a doutrina de Cristo morando no crente, e a
história revelará que a Igreja ganhou ou perdeu poder exatamente assim que
se moveu para ou se afastou da interioridade de sua fé.
Devo dizer algo sobre o uso que dei da palavra religião nestas páginas. Sei
o quanto descuidadamente foi empregada por parte de muitos, e quantas
definições esta palavra recebeu das mãos de filósofos e psicólogos. A fim de
clarificar seu sentido tanto quanto me seja possível, permita-me dizer que a
palavra religião, tal como a emprego aqui, significa a totalidade da obra de
Deus no homem e a totalidade da resposta do homem a esta obra interior.
Refiro-me ao poder de Deus operando na alma tal como o indivíduo o conhece
e experimenta. Mas esta palavra tem também outras áreas de significado. Em
algumas ocasiões significará doutrina, em outras a fé cristã ou o cristianismo
em sua acepção mais ampla. É uma boa palavra, e é escritural. Tentarei
empregá-la com cuidado, mas invoco a complacência do leitor para perdoar a
falta se a encontrar com uma maior frequência do que gostaria.
É impossível viajar para o sul sem dar as costas ao norte. Não se pode
plantar sem ter arado, nem prosseguir adiante até que se eliminaram os
obstáculos que impedem o caminhar. Por isso, é de esperar que se encontre
aqui algo de gentil crítica. Considerei meu dever me opor a tudo o que se
levanta no caminho do progresso espiritual, e apenas se for possível opor-se
sem ferir os sentimentos de alguém. Quanto mais acariciado for o engano,
quanto mais perigoso e mais difícil é sempre de corrigi-lo.
Não deixe isto de lado como mais outro mero poema. A diferença entre uma
grande vida cristã e uma vida de qualquer outro tipo reside na qualidade de
nossos conceitos religiosos, e as ideias expressas nestas seis linhas podem
ser como se estivéssemos na escada de Jacó nos levando a uma ideia mais
sadia e satisfatória de Deus.
Ali onde a fé foi original, ali onde resultou real, teve invariavelmente sobre si
um sentido do Deus presente. As Sagradas Escrituras possuem em um
elevado grau este sentimento de um encontro real com uma Pessoa real. Os
homens e as mulheres da Bíblia falaram com Deus. Falaram com Ele e O
ouviram falar em palavras que podiam compreender. Mantiveram com Ele uma
conversação de pessoa a pessoa, e há nas palavras deles uma sensação de
uma realidade resplandecente.
Nossos pais nos contaram isso, e nossos mesmos corações confirmam quão
maravilhosa é esta sensação de Alguém presente. Torna a religião invulnerável
ao ataque da crítica. Dá segurança à mente em direção ao colapso frente ao
ataque do inimigo. Os que adoram ao Deus que está presente podem ignorar
as objeções dos homens incrédulos. Sua experiência é auto-verificadora e não
precisa nem de defesa nem de demonstração. O que eles veem e ouvem
vence ardorosamente suas dúvidas e confirma a segurança deles mais à frente
do poder dos argumentos para destruir.
Alguns que desejam ser mestres da Palavra, mas que não sabem o que
dizem nem o que afirmam, insistem na fé “nua” como a única maneira de
conhecer as coisas espirituais. Com isso se referem a uma convicção da
habilidade da Palavra de Deus (convicção que, deve-se observar, os demônios
compartilham com eles). Mas o homem que foi ensinado, por pouco que seja,
pelo Espírito da Verdade, se rebelará diante esta perversão. Sua linguagem
será: «Vejo-O e ouço-O. Que mais tenho que ver com os ídolos?» Porque não
pode amar a um Deus que não é mais que uma mera dedução de um texto.
Desejará conhecer Deus com uma percepção vital que vai além das palavras, e
viver na intimidade da comunhão pessoal. «Procurar Deus meramente em
livros e em escritos é procurar dentre os mortos ao que vive; e é em vão que
em muitas ocasiões procuramos Deus neles, onde Sua verdade está, muitas
vezes, não somente encerrada como enterrada. Ele é discernido muito melhor
por um toque intelectual proveniente Dele. Devemos ver com nossos olhos, e
ouvir com nossos ouvidos, e nossas mãos têm que tocar o verbo da vida.»
Nada pode suplantar a experiência do toque de Deus na alma e a sensação de
Alguém presente. A verdadeira fé, na verdade, contém esta consciência,
porque a verdadeira fé não é nunca a operação da razão sobre os textos. Onde
há verdadeira fé, o conhecimento de Deus será dado como um ato da
consciência totalmente além das conclusões da lógica.
Seja o que for que vá além disso, a verdadeira experiência cristã tem
sempre que incluir um encontro genuíno com Deus. Sem isto, a religião é só
uma sombra, um reflexo da realidade, uma cópia modificada de um original que
uma vez alguém desfrutou e de quem ouvimos. Não pode ser outra coisa a não
ser uma grande tragédia na vida de qualquer pessoa viver em uma igreja da
infância até a velhice e não conhecer nada mais real que algum Deus sintético
composto de teologia e de lógica, mas sem olhos para ver, nem ouvidos para
ouvir, nem coração para amar.
A redenção não é uma obra estranha que Deus volta-se para executá-la em
um dado momento; trata-se, melhor, de sua mesma obra levada a cabo em um
novo campo: o campo da catástrofe humana. A regeneração de uma alma
crente é só uma recapitulação de toda sua obra levada a cabo no momento da
criação. É difícil perder de vista o paralelismo entre a criação que se descreve
no Antigo Testamento e a regeneração que se descreve no Novo. Como, por
exemplo, poderia descrever-se melhor a condição de uma alma perdida que
com as palavras de «sem forma e vazia», e com trevas «sobre a superfície do
abismo»? E como poderiam expressá-los intensos desejos do coração da alma
por esta alma perdida melhor do que dizendo «e o Espírito de Deus se movia
sobre a superfície das águas»? E de que outra fonte poderia proceder a luz
sobre aquela alma amortalhada pelo pecado se Deus não houvesse dito «Haja
luz»? Pela sua palavra a luz ilumina, e o homem perdido se levanta para beber
da vida eterna e seguir a Luz do mundo. Assim como a ordem e a fertilidade
vieram em continuação disto na antiga criação, assim a ordem moral e o fruto
espiritual seguirão contínuos na experiência humana. E sabemos que Deus é o
mesmo e que seus anos não acabarão. Ele sempre atuará como Ele mesmo
presente ali onde for encontrado operando e seja qual for a obra que esteja
fazendo.
Ao salvar aos homens Deus está simplesmente voltando a fazer (ou melhor
continuando) a mesma obra criadora tal qual no começo do mundo. Para Ele,
cada alma redimida é um mundo ao qual volta a levar a cabo sua prazerosa
obra de antigamente.
Em palavra ou em poder
Não digo que a religião sem poder não cause mudança alguma na vida das
pessoas; só que não faz nenhuma diferença fundamental. A água pode mudar
de líquido a vapor, de vapor a neve, e voltar a ser líquida, e seguir sendo
fundamentalmente a mesma. Assim, a religião impotente pode levar a homem
através de muitas mudanças superficiais, e deixá-lo exatamente como era
antes. Aí é precisamente onde está o laço. As mudanças são só de forma, e
não de natureza. Por trás das atividades do homem irreligioso e do homem que
recebeu o evangelho sem o poder subjazem os mesmos motivos. Um ego não
abençoado se encontra no fundo de ambas as vidas, consistindo a diferença
em que o religioso aprendeu melhor a disfarçar seu vício. Seus pecados são
refinados e menos ofensivos que antes que adotasse a religião, mas o homem
mesmo não é melhor aos olhos de Deus. Pode na realidade ser pior, porque
Deus sempre aborrece a artificialidade e a falsa pretensão. O egoísmo segue
palpitando como o motor no centro da vida daquele homem. Certo, pode
aprender a redirecionar seus impulsos egoístas, mas seu mal é que o eu segue
vivendo sem repreensão e inclusive insuspeitado nas profundidades de seu
coração. É vítima de uma religião sem poder.
A pessoa que recebeu a Palavra sem o poder deu uma forma formosa para
seu ramo, mas segue sendo um ramo espinhoso, e nunca pode dar o fruto da
nova vida. Não se recolhem uvas dos espinheiros nem figos dos abrolhos. Mas
podem encontrar-se homens deste tipo como líderes na Igreja, e sua influência
e seu voto pode ir muito longe em determinar o que é o que a religião será em
sua geração.
A maior parte dos cristãos está de acordo com as ideias aqui expressas,
mas o abismo entre a teoria e a prática é tão profundo que aterroriza. Porque
com muita frequência se prega e aceita o evangelho sem poder, e a mudança
radical que exige a verdade nunca se leva a cabo. Pode haver, e certamente
há, mudança de algum tipo; pode-se levar a cabo um trato intelectual e
emocional com a verdade, mas seja o que for que acontecer, não é suficiente,
não é suficientemente profundo, não é bastante radical. A «criatura» muda,
mas não é «nova». E precisamente aí está a tragédia de tudo isso. O
evangelho trata a respeito de uma nova vida, de uma vida celestial, para um
novo nível do ser, e não é até que se chegou a este renascimento que se
operou uma obra de salvação dentro da alma.
Sempre que a Palavra vem sem poder, perde-se de vista seu conteúdo
essencial. Porque na verdade divina há uma nota imperiosa, há no evangelho
uma urgência, uma finalidade que não será ouvida ou sentida exceto mediante
a capacitação do Espírito. Temos que manter constantemente em mente que o
evangelho não é meramente uma boa nova, mas também um julgamento sobre
cada um dos que o ouvem. A mensagem da cruz é verdadeiramente uma boa
nova para o arrependido, mas para os que «não obedecem o evangelho»
suporta uma advertência. O ministério do Espírito ao mundo impenitente é falar
de pecado, de justiça e de julgamento. Para os pecadores que querem deixar
de ser pecadores voluntariosos e chegar a ser filhos obedientes de Deus, a
mensagem do evangelho é de paz sem condições, mas por sua mesma
natureza é também o árbitro dos destinos futuros dos homens.
Quero ser leal para com todos, e encontrar todo o bem que possa nas
crenças religiosas de cada um, mas os efeitos daninhos deste credo de
fé/magia são maiores do que poderia imaginar-se alguém que não se enfrentou
com eles. Está pregando hoje em dia a grandes assembleias que o único
requisito essencial para o céu é ser mau, e que um impedimento certo para o
favor de Deus é ser bom. Faz-se referência à mesma palavra justiça com um
frio escárnio, e ao homem moral olha-o com comiseração. «Um cristão», dizem
estes mestres, «não é moralmente melhor que um pecador, sendo a única
diferença que aceitou a Jesus, e que, portanto, tem um Salvador.» Espero que
não soe cínico perguntar: "Um salvador do que?" Se não o for do pecado e da
má conduta e da velha vida caída, então, do que? E se a resposta é: Das
consequências dos pecados passados e do julgamento vindouro,
prosseguimos sem ficar satisfeitos. É a absolvição dos delitos passados tudo o
que distingue um cristão de um pecador? Pode alguém chegar a ser um crente
em Cristo e não ser melhor do que era antes? Não oferece o evangelho nada
mais que um hábil Advogado para conseguir que uns pecadores culpados
saiam soltos no dia do Julgamento?
Acredito que a verdade em todo este assunto não é nem muito profunda
nem muito difícil de descobrir. A justiça própria é uma barreira efetiva ao favor
de Deus porque leva o pecador a apoiar-se em seus próprios méritos e o exclui
da imputação da justiça de Cristo. E é necessário ser um pecador confesso e
conscientemente perdido para o ato da recepção da salvação por meio de
nosso Senhor Jesus Cristo. Isto o admitimos alegremente e o proclamamos
constantemente, mas eis aqui a verdade que foi passada por cima em nossos
dias: Um pecador não pode entrar no reino de Deus. As passagens bíblicas
que declaram isto são muitas e muito conhecidas para que se precise repeti-las
aqui, mas o cético poderia consultar Gálatas 5:19-21 e Apocalipse 21:8. Como,
então, pode alguém salvar-se? O pecador arrependido se encontra com Cristo,
e depois deste encontro salvador já não é mais pecador. O poder do evangelho
o transforma, muda a base de sua vida do eu a Cristo, guia-o em uma nova
direção e faz dele uma nova criação. O estado moral do arrependido que vai a
Cristo não afeta o resultado, porque a obra de Cristo varre tanto seu bem como
seu mau e o transforma em outro homem. O pecador que se volta não é salvo
por um transação judicial além de uma mudança moral correspondente. A
salvação deve incluir uma mudança de posição judicial, mas o que é passado
por cima pela maior parte dos pregadores é que também inclui uma mudança
real na vida da pessoa. E por isso significa mais que uma mudança superficial:
referimos a uma transformação tão profunda como as raízes de sua vida
humana. Se não chegar a esta profundidade, não é suficientemente profunda.
É angustiante que uma verdade tão formosa tenha sido pervertida até tal
ponto. Mas a perversão é o preço que pagamos pelo descuido em enfatizar o
conteúdo moral da verdade: é a maldição que segue à ortodoxia racional,
quando apagou ou recusou ao Espírito da Verdade.
Ao manter que a fé no evangelho efetua uma mudança do motivo de viver
do eu a Deus estou só afirmando a sóbria realidade. Toda pessoa com
inteligência moral deve ser consciente da maldição que lhe aflige interiormente;
tem que ser consciente daquilo que chamamos ego, e que na Bíblia aparece
como carne ou o eu, mas que é, seja qual for o nome que lhe demos, um amo
cruel e um inimigo mortífero. Faraó nunca regeu tão tiranicamente sobre Israel
como este inimigo oculto exerce sua tirania sobre os filhos e as filhas dos
homens. As palavras de Deus a Moisés a respeito de Israel em sua servidão
bem poderiam servir para nos descrever a todos: «Bem vi a aflição de meu
povo que está no Egito, e ouvi o clamor que lhe arrancam seus opressores:
pois conheci suas angústias.» E quando, como o afirma tão meigamente o
Credo Niceno, nosso Senhor Jesus «por nós os homens, e para nossa
salvação veio do céu, e foi encarnado pelo Espírito Santo na Virgem Maria, e
foi crucificado também por nós sob o Pôncio Pilatos, e sofreu e foi sepultado, e
ao terceiro dia ressuscitou outra vez conforme as Escrituras, e subiu ao céu, e
se sentou à mão direita do Pai», por o que foi? Para declarar tecnicamente que
estamos livres e nos deixar em nossa escravidão? Jamais. Não disse Deus a
Moisés: «desci para libertá-los da mão dos egípcios, e tirá-los para uma terra
boa e larga, a terra que flui leite e mel... e irá você... ao rei do Egito, e lhe
dirá: ...Deixa meu povo ir»? Para os cativos humanos do pecado Deus não
dispôs nada menos que a plena libertação. A mensagem cristã retamente
entendida significa isto: O Deus que pela palavra do evangelho proclama livres
aos homens, os faz realmente livres mediante o poder do evangelho. Aceitar
menos que isto é conhecer o evangelho só em palavra, sem seu poder.
Aqueles aos quais a Palavra vem em poder conhecem esta libertação, esta
migração interior da alma da escravidão à liberdade, esta libertação da
escravidão moral. Conhecem, por experiência, uma mudança radical em sua
posição, um verdadeiro passo ao outro lado, e são conscientes sobre outro
chão, sob outro céu, e respiram outro ar. Os motivos de suas vidas mudaram, e
seus impulsos interiores foram renovados.
Que são aqueles antigos impulsos que antes tinham obrigado à obediência a
golpe de látego? Que mais são a não ser mesquinhos capatazes, servos
daquele grande capataz, o Eu, que estão diante dele para fazer sua vontade?
Nomeá-los a todos exigiria um livro por si mesmo, mas observaremos a um
como tipo ou amostra do resto. É o desejo de ser aceito socialmente. Não é
mau em si mesmo, e poderia ser perfeitamente inocente se vivêssemos em um
mundo sem pecado; mas porquanto a raça dos homens tem caído de Deus e
se uniu a seus inimigos, ser amigo do mundo é ser colaborador dos maus e
inimigo de Deus. Mas o desejo de agradar aos homens se encontra por trás de
todos os atos sociais das mais elevadas civilizações até aos níveis mais baixos
nos quais se encontra a vida humana. Ninguém pode escapar a isso. O
proscrito que recusa as normas da sociedade e o filósofo que se levanta em
pensamento sobre suas maneiras comuns podem parecer ter escapado ao
laço, mas na realidade só reduziram o círculo daqueles aos quais querem
agradar. O proscrito tem a seus companheiros, diante os quais trata de brilhar:
o filósofo tem seu pequeno círculo de pensadores cuja aprovação lhe é
necessária para sua felicidade. Para ambos, o motivo permanece íntegro em
sua raiz. Cada um obtém sua paz do pensamento de que goza da estima de
seus iguais, embora cada um interprete a questão a partir do seu próprio ponto
de vista.
Cada um olha seu companheiro porque não tem a ninguém mais a quem
olhar. Davi podia dizer: «A quem tenho eu nos céus a não ser a ti? Estando
contigo, nada me deleita já na terra»: mas os filhos deste mundo não têm a
Deus, a não ser só a seus semelhantes, e caminham sustentando-se uns aos
outros, e se olham uns aos outros para sentir-se seguros, como crianças
assustadas. Mas sua esperança será roubada, porque são como um grupo de
homens onde nenhum deles sabe pilotar um avião, e que de repente se
encontram voando sem piloto, e começam a olhar uns aos outros para que o
outro os leve a uma aterrissagem segura. Sua esperança desesperada, mas
equivocada, não poderá salvá-los do desastre que há de seguir
necessariamente.
Tendo como temos este desejo de agradar aos homens tão profundamente
enraizado, como podemos desarraigá-lo e mudar nosso impulso vital de
agradar aos homens para agradar a Deus? Bem, ninguém pode fazê-lo
sozinho, nem com a ajuda de outros, nem com educação nem instrução, nem
mediante nenhum outro método conhecido sob o sol. Pelo que se precisa é de
um investimento da natureza (o fato de que seja uma natureza caída não a faz
menos poderosa), e este investimento tem que ser um ato sobrenatural. Este
ato o executa o Espírito por meio do poder do evangelho quando se recebe
com fé viva. Logo Ele desagrada o velho com o novo. Logo invade a vida como
a luz do sol invade uma paisagem e joga fora os velhos motivos como a luz
joga fora as trevas do céu.
É esta total mudança em sua fonte de prazer que tem feito invencíveis aos
crentes. Assim é como os Santos e os mártires se podiam manter,
abandonados por todos os amigos terrestres, e morrer por Cristo e sob o
recuso universal da humanidade. Quando, a fim de lhe intimidar, os juízes de
Atanásio lhe advertiram que todo mundo estava contra ele, ele se atreveu a
replicar: « Então está Atanásio contra o mundo!» Este clamor percorreu os
séculos, e hoje em dia pode nos lembrar que o evangelho tem o poder de
libertar os homens da tirania da aprovação social. De libertá-los para fazer a
vontade de Deus.
O mistério da chamada
1 Corintios 1:1-2
Paulo explica aqui seu apostolado: é por uma chamada eficaz, não por seu
próprio desejo, vontade ou decisão e esta chamada é uma coisa divina, livre,
sem influências e totalmente fora das mãos do homem. A resposta procede do
homem, mas jamais a chamada. Esta vem de Deus somente.
Há dois mundos opostos entre si, dominados por duas vontades: a vontade
do homem e a de Deus respectivamente. O velho mundo da natureza caída é o
mundo da vontade humana. Ali o homem é rei, e sua vontade decide os
acontecimentos. Até ali onde pode fazê-lo em sua debilidade, decide quem, o
que, quando e onde. Fixa os valores: o que deve ser estimado, o que deve ser
desprezado, o que deve ser recebido e o que deve ser recusado. Sua vontade
passa por tudo. «determinei que», «Decidi». «Decreto que», «Cumpra-se».
Estas palavras se ouvem de contínuo, brotando dos lábios de homens
pequeninos. Enquanto se regozijam imaginando seu «direito de autodetermi-
nação», e com que risível vaidade se gabam da «vontade soberana»! Não
sabem, ou recusam considerar, que suas vidas passa tão rapidamente como
um dia, que logo se desvanecerão e não serão mais.
Por profundo que seja o mistério, e por muitos paradoxos que envolva,
segue sendo certo que os homens são santificados não segundo sua própria
vontade, mas sim pelo chamado soberano. Não tirou Deus de nossas mãos a
eleição última com palavras como as que seguem? «O espírito é o que dá vida;
a carne não aproveita para nada... Tudo o que o Pai me dá, virá para mim...
Ninguém pode vir para mim, se o Pai que me enviou não lhe atrair... Ninguém
pode vir para mim, se não lhe foi dado do Pai... deste-lhe poder sobre toda
carne, para que dê vida eterna a todos os que lhe deste... Deus, que me tinha
separado do ventre de minha mãe, e me chamou por sua graça, teve a bem
revelar a seu Filho em mim.»
Deus nos tem feito à sua semelhança, e uma marca desta semelhança é
nosso livre arbítrio. Ouvimos Deus dizer «O que queira, venha.» Sabemos por
amarga experiência o mal de uma vontade não rendida e a bem-aventurança
ou o terror que pendem da eleição humana. Mas por trás de tudo isto e
precedendo-o temos o direito soberano de Deus de chamar os Santos e de
determinar os destinos humanos. A eleição mestre é Dele, e a eleição
secundária é a nossa. A salvação é deste nosso lado uma eleição, e do lado
divino é um afeto, um aprisionamento, uma conquista da parte do Deus
Altíssimo. Nossa "aceitação" ou "decisão" são reações e não ações. O direito
da determinação deve sempre permanecer em Deus.
«No mesmo instante», declara o humilhado rei, «minha razão foi devolvida».
Toda esta passagem é propensa a ser passado por cima, sendo que aparece
em um dos livros menos populares da Bíblia, mas não é extremamente
significativo que a humildade e a prudência voltassem juntas? «Agora, pois, eu,
Nabucodonosor, elogio, engrandeço e glorifico ao Rei do céu, porque todas
suas obras são verdadeiras, e seus caminhos justos; e ele pode humilhar aos
que andam com soberba». O orgulho do rei foi uma espécie de loucura que ao
final o levou aos campos a morar com os animais. Enquanto se via a si mesmo
grande e a Deus pequeno, estava louco; a prudência lhe voltou só quando
começou a ver Deus como tudo e a si mesmo como nada.
iefa
A EXPERIÊNCIA DOS homens que andaram com Deus nos tempos antigos
concorda em ensinar que o Senhor não pode abençoar plenamente a ninguém
até que primeiro o tenha vencido. O grau de bênção de que goza qualquer
pessoa se corresponderá exatamente com a plenitude da vitória de Deus sobre
ele. Este é um princípio muito descuidado da doutrina cristã, não entendido por
muitos neste tempo de segurança no homem mesmo, e, entretanto, é de vital
importância para todos nós. Este princípio espiritual está bem ilustrado no livro
de Gênesis.
Jacó era o astucioso asedor de talões cuja mesma fortaleza foi uma
debilidade quase fatal. Durante dois terços de toda sua vida tinha levado em
sua natureza algo duro e indomado. Nem sua gloriosa visão no deserto nem
sua prolongada e amarga disciplina em Farão tinham quebrantado sua ruidosa
natureza. Esteve no vale de Jaboque no momento do ocaso, um ardiloso e
inteligente velho professor de uma psicologia aplicada aprendida a golpes. E a
imagem que apresentava não era muito atrativa. Era um copo quebrado
durante o processo de fabricação. Sua esperança estava em sua própria
derrota. Isto não sabia ao cair o dia, mas o aprendeu antes que saísse o sol
outra vez. Toda a noite resistiu a Deus até que, com bondade. Deus tocou o
encaixe da coxa e obteve a vitória sobre ele. Foi só depois de ter descido a
uma humilhante derrota que começou a sentir o gozo de ser liberto de sua
própria maligna força, o deleite da conquista que Deus tinha feito dele. Então
pediu clamorosamente a bênção, e recusou soltar o anjo até que foi dada.
Tinha sido uma longa luta, mas para Deus (e isso por razões só por Ele
conhecidas) Jacó havia valido a pena. Agora se tinha convertido em outro
homem; o teimoso e voluntarioso rebelde se transformou em um digno e
manso amigo de Deus. Havia certamente «prevalecido», mas por meio de
debilidade, não de fortaleza.
Uma vez no passado o Senhor disse que tinha chegado diante Dele o fim de
toda carne, e os anos não trouxeram mitigação alguma a aquela sentença. «Os
que estão na carne não podem agradar a Deus... O ânimo carnal é inimizade
contra Deus; porque não está sujeito à lei de Deus, nem à verdade o pode
estar... porque o ânimo camal é morte» (Romanos 8. V.M.). Com palavras
assim Deus perpetuou a antiga sentença de condenação. Seja que o
admitamos ou não, o açoite da morte está sobre nós, e será uma sabedoria
salvadora aprender a confiar não em nós mesmos, a não ser naquele que
levanta os mortos. Porque icómo ousamos pôr a confiança em um pouco tão
fugaz, tão passageiro, como a vida humana?
Foi salvar ao Jacó de uma esperança enganosa que Deus se enfrentou com
ele aquela noite nas ribeiras daquele Rio. Para salvar o de sua confiança em si
mesmo, foi necessário a Deus conquistá-lo, lutar para lhe arrebatar o controle
de si mesmo, tomar em sua mão seu grande poder, e reger com um cetro de
amor. Charles Wesley, o doce cantor da Inglaterra, e com uma percepção
espiritual estranha inclusive entre cristãos acostumados, pôs em boca do Jacó
o que concebeu como sua oração ao lutar com Deus no vau do Jaboc:
Bem poderíamos orar a Deus que nos invada e nos conquiste, porque até
que assim não seja permanecemos em perigo de mil inimigos. Levamos dentro
de nós a semente de nossa própria desintegração. Nossa imprudência moral
nos põe sempre em perigo de uma autodestruição acidental ou insensata. A
fortaleza de nossa carne é um perigo sempre presente para nossas almas. A
liberação nos pode vir só por meio da derrota de nossa vida antiga. A
segurança e a paz vêm só detrás ter sido levados a força sobre nossos joelhos.
Deus nos resgata nos quebrantando, rompendo nossa força e varrendo nossa
resistência. Logo invade nossas naturezas com aquela antiga vida eterna que é
desde o começo. Assim é que nos conquista, e mediante esta conquista
benigna nos salva para se.
Com este segredo aberto que espera um fácil descobrimento, ipor que
quase em todas nossas atividades trabalhamos em uma direção oposta a isto?
<LPor o que edificamos nosso Igrejas sobre carne humana? <LPor o que
pomos tantas esperanças no qual o Senhor já faz muito repudiou, e
menosprezamos aquelas coisas que o Senhor tem em tanta estima? Porque
ensenamos aos homens a que não morram em Cristo, mas sim vivam na força
de sua moribunda dignidade. Gabamo-nos não em nossas debilidades a não
ser em nossa fortaleza. Valores que Cristo declarou falsos são gastos de volta
ao favor evangélico e promovidos como a mesma vida e substância do
caminho cristão. iCuán anhelantemente procuramos a aprovação deste ou
aquele homem de reputação no mundo! iCuan vergonhosamente exploramos à
celebridade convertida! Tudo serve para tirar o vituperio da escuridão de
nossas líderes famintos de publicidade: atletas famosos, congressistas,
viajantes trotamundos, ricos industriais; diante dos tais nos inclinamos com
obsequiosos sorrisos e os honramos em nossas reuniões públicas e na
imprensa religiosa. Assim glorificamos a homens para melhorar a posição da
Igreja de Deus, e se faz depender a glória do Príncipe da Vida da fama fugaz
de um homem que morrerá.
Paulo viu estas coisas sob uma luz 'diferente que a daqueles dos que se
queixa Jacóo. «A cruz... pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu
para o mundo», dizia ele. A cruz onde Jesus morreu converteu também na cruz
onde seu apóstolo morreu. A perda, o recuso, a vergonha, pertencem tanto a
Cristo como aos que seriamente são Dele. A cruz que os salva também lhes dá
morte, e tudo o que não chegue a isto é uma falsa fé, não absolutamente uma
fé genuína. Mas iqué vamos dizer quando a grande maioria de nossas líderes
evangélicos não caminham como homens crucificados, mas sim como aqueles
que aceitam o mundo em todo seu valor, rechaçando só seus elementos mais
ásperos? iCómo vamos vemos diante Daquele que foi crucificado e morto
quando vemos seus seguidores aceitos e elogiados? E entretanto pregam a
cruz e protestam veementemente que são verdadeiros crentes. <LHay acaso
duas cruzes? <LY se referia Paulo a uma coisa, e eles a outra? Temo-me que
seja assim, que haja duas cruzes, a velha e a nova.
Pode que haja alguns bem dispostos seguidores que se tornem atrás porque
não podem aceitar a morbidez que a ideia da cruz parece conotar. Amam o sol
e encontram muito duro pensar em viver sempre nas sombras. Não querem
morar com a morte nem viver para sempre em uma atmosfera de morte. E seu
instinto é são. A Igreja tem feito muito das cenas de leito de morte, de claustros
e de funerais. O murcho aroma das Igrejas, o passo lento e solene do ministro,
a quietude apagada dos adoradores e o fato de que muitos entram em uma
igreja só para apresentar seus últimos respeitos aos mortos, tudo isso anade
ao conceito de que a religião é algo que deve ser temido, e, como uma
operação de alta cirurgia, suportada só porque estamos apanhados em uma
crise e não ousamos evitá-la. Tudo isto não é a religião da cruz; trata-se mas
bem de uma áspera paródia dela. À cristandade de claustro, embora não está
nem de longe relacionada com a doutrina da cruz, lhe pode entretanto atribuir-
se o em parte a aparição da nova e alegre cruz de hoje. Os homens desejam a
vida, mas quando lhes diz que a vida vem por meio da cruz não podem
compreender como pode ser, porque aprenderam a associar com a cruz
imagens familiares como lápides, corredores pouco iluminados e hera. Por isso
rechaçam a verdadeira mensagem da cruz, e com aquela mensagem
rechaçam a única esperança de vida que conhecem os filhos dos homens.
A verdade é que Deus nunca teve a intenção de que seus filhos vivam
sempre tendidos sobre uma cruz. Cristo mesmo suportou a cruz por só seis
horas. Quando a cruz teve feito sua obra, entrou a vida e exerceu seu domínio.
«Pelo qual Deus também lhe exaltou até o supremo, e lhe outorgou o nome
que é sobre tudo nome.» Seu gozosa ressurreição seguiu de perto a sua
penosa crucificação. Mas a primeira tinha que vir antes da segunda. A vida que
se detém e não chega à cruz é algo só fugaz e condenado, sentenciada a que
ao final seja irrecuperável. Aquela vida que vai à cruz e se perde ali para
levantar-se de novo com Cristo é up tesouro divino e imortal. Sobre ela a morte
já não tem mais poder. Tudo o que rehúse trazer sua velha vida à cruz está só
tentando enganar à morte, e não importa o muito que lute contra ela, está,
contudo, sentenciado a perder sua vida ao final. O homem que toma sua cruz e
segue a Cristo logo verá que sua direção o leva a apartar do sepulcro. A morte
está detrás dele. e
diante seu se estende uma vida gozosa e crescente. Seus dias estarão
marcados, em adiante, não por uma lobreguez eclesiástica, nem pelo claustro,
ou os tons ocos, as roupagens negras (que são tão somente as mortalhas de
uma igreja morta), mas sim por um «gozo inefável e glorificado».
A verdadeira fé tem que significar sempre mais que uma aceitação passiva.
Não ousará significar nada menos que a rendição de nossa vida no Adão, já
condenada, a um misericordioso fim na cruz. Isto é, aceitamos a Justa
sentença de Deus contra nossa malvada carne, e admitimos seu direito a lhe
pôr fim a sua odiosa carreira. Consideramo-nos como tendo sido crucificados
com Cristo e como tendo sido ressuscitados a uma vida nova. Ali onde existe
esta fé. Deus sempre obrará em linha com nossa aceitação. Logo começa a
conquista divina de nossas vidas. E Deus a leva a cabo mediante uma eficaz
apreensão, uma penetrante invasão de nossas naturezas, mas conduzida em
amor. Quando Ele afligiu nossa resistência, ata-nos com cordas de amor e atrai
a se. Ali, «desfalecidos diante seu encanto», jazemos conquistados e damos a
Deus as obrigado uma e outra vez pela bendita conquista. Ali, com nossa
prudência moral recuperada, levantamos os olhos e benzemos ao Deus Muito
alto. Logo saímos em fé a alcançar aquilo para o qual fomos primeiro
alcançados Por Deus.
«Eu te elogio, OH Pai. Senhor do céu e da terra, porque ocultou estas coisas
a sábios e entendidos, e as revelaste a ninos. Sim, Pai, porque assim foi de
seu agrado.»
O Esquecido
Mas por culpado que seja a ação da liberal de negar a Deidade de Cristo, os
que nos apreciamos de nossa ortodoxia não devemos deixar que nossa
indignação cegue a nossas próprias faltas. Certamente, não se trata de um
momento oportuno para autofelicitarnos, porque também nós, em anos
recentes, cometemos um custoso engano em religião, e é um engano que tem
um estreito paralelo com o da liberal. Nosso engano (<Seremo-lo francos e o
chamaremos pecado?) foi descuidar a doutrina do Espírito até o ponto de que
virtualmente lhe negamos seu posto na Deidade. Esta negação não teve lugar
mediante uma declaração doutrinal expressa, porque nos temos obstinado de
uma maneira suficientemente forte à posição bíblica em tudo o que concerne a
nossas
A ideia do Espírito sustentada pelo membro meio da igreja é tão vaga que é
quase inexistente. Quando pensa nele absolutamente, inclina a pensar em uma
substância nebulosa como um hálito invisível que se diz que está presente nas
Igrejas e que se encontra sobre as pessoas boas na hora de sua morte.
Francamente, não acredita em nada assim, mas quer acreditar algo, e não
sentindo-se capacitado para a tarefa de examinar toda a verdade à luz da
Escritura, contemporiza
Agora bem, icómo deveríamos pensar sobre o Espírito? Uma resposta plena
bem poderia ocupar uma dúzia de volúmenes. Como muito só podemos
senalar à «unção cheia de graça do alto» e esperar que o mesmo desejo do
leitor lhe proveja o necessário estímulo que o apresse a conhecer a terceira
bem-aventurada Pessoa por si mesmo.
«Esta é a vida eterna: que lhe conheçam ti, o único Deus verdadeiro, e ao
Jesucristo, a quem enviaste.» Só temos que introduzir um pequeno troco neste
versículo para poder ver quão imensa é a diferença respeito a conhecer a
respeito de, e conhecer: «Esta é a vida eterna: que conheçam a respeito de ti,
o único Deus verdadeiro, e ao Jesucristo, a quem enviaste.» Este pequeno
troco é causa da grande diferencia entre a vida e a morte, porque alcança à
mesma raiz do versículo, e troca sua teologia de uma maneira radical e vital.
Apesar de tudo isto, não queremos subestimar a importância do mero
conhecer a respeito de. Seu valor reside em sua capacidade de suscitar em
nós o desejo de conhecer experimentalmente. Assim, o conhecimento por
descrição pode conduzir ao conhecimento experimental. Pode conduzir, digo,
mas não necessariamente. Assim, não ousaremos chegar à conclusão de que
pelo fato de aprender sobre o Espírito, por esta mesma razão o conheçamos.
lhe conhecer vem só de um encontro pessoal com o mesmo Espírito Santo.
O problema metafísico aqui envolto não pode ser nem evitado nem
resolvido. iCómo pode uma personalidade entrar em outra? A resposta candida
seria simplesmente que não sabemos, mas se pode chegar a uma
aproximação a seu entendimento mediante uma singela analogia tirada dos
antigos escritores devocionales de faz vários séculos. Pomos uma parte de
ferro em um fogo, e avivamos os carvões. Ao princípio temos duas substâncias
distintas, ferro e fogo. Quando pomos o ferro no fogo obtemos que o ferro seja
penetrado pelo fogo. Logo o fogo começa a penetrar no ferro, e não só temos o
ferro no fogo mas também também o fogo no ferro. São duas substâncias
distintas, mas se misturaram e interpenetrado de tal maneira que as duas
coisas se transformaram em uma sozinha.
iCómo pensaremos sobre o Espírito Santo? A Bíblia declara que Ele é Deus.
Toda qualidade que lhe pertence ao Deus Onipotente lhe é livremente
atribuída. Tudo o que Deus é se declara do Espírito. O Espírito de Deus é um
con/ e igual a Deus, assim como o Espírito do homem é igual a/ e um com o
homem. Isto é tão plenamente ensenado nas Escrituras que podemos, sem
prejudicar o argumento, omitir a formalidade de dar os textos de prova. O leitor
mais casual das Escrituras o terá descoberto por si mesmo.
A igreja histórica, quando formulou sua «regra de fé», escreveu abertamente
em sua confissão sua crença na Deidade do Espírito Santo. O Credo dos
Apóstolos dá testemunho da fé no Pai e no Filho e no Espírito Santo, e não
estabelece diferença entre os três. Os Pais que redigiram o Credo Niceno
atestaram, em uma passagem de grande beleza, a respeito de sua fé na
deidade do Espírito:
«Há uma Pessoa do Pai, outra do Filho, e outra do Espírito Santo. Mas a
Deidade do Pai, do Filho, e do Espírito Santo é toda uma: igual a Glória;
coeterna a Majestade. E nesta Trindade ninguém é anterior, nem depois de
outro: ninguém é maior, nem menor que outro. Mas sim todas as três Pessoas
são coeternas junto, e coiguales. Assim em todas as coisas, como se há dito
antes: a Unidade em Trindade, e a Trindade em Unidade, deve ser adorada.»
IDE Amor a Fonte! iVerdadero Deus, Você, Quem através de eternos deus
Do Pai e do Filho procedeste Em seu increado Ser!
iOh Luz! iOh Amor! Seu IOh o mesmo Deus! Não ouso meus olhos mais fixar
Em seus atributos maravilhosos
Nosso melhor arrependimento com respeito a nosso descuido será não lhe
descuidar mais. Comecemos a pensar nele como Um que deve ser adorado e
obedecido. Abramos de par em par todas as portas, e lhe convidemos a entrar.
Rendamos a Ele todas as estadias no templo de nossos corações, e insistamos
em que entre e tome posesión^ como Senhor e Dôo em sua própria morada. E
recordemos que Ele é atraído ao doce Nome do Jesus como as abelhas o são
a doce fragrância das flores. Ali onde Cristo receba honra, o Espírito se sentirá
acolhido; ali onde Cristo seja glorificado, Ele se moverá livremente, agradado e
em sua morada.
A iluminacion do Espiritu
Respondeu João e disse: Um homem não pode receber nada, se não lhe
deu que céu.
Juan 3:27
Possivelmente isto não tivesse significado para seus leitores nada mais que
o fato de que os pensamentos de Deus, embora similares aos nossos, eram
mais sublimes, e que seus caminhos muito sublime por cima dos nossos, como
corresponde aos caminhos daquele cuja sabedoria é infinita e cujo poder não
conhece limites. Agora João nos diz claramente que os pensamentos de Deus
não só são quantitativamente maiores, mas também qualitativamente são
totalmente diferentes dos nossos. Os pensamentos de Deus pertencem ao
mundo do espírito, os do homem ao mundo do intelecto, e enquanto que o
espírito pode incluir o intelecto, o Intelecto humano Jamais pode abranger ao
espírito. Os pensamentos do homem não podem
Deus fez ao homem a sua imagem, e pôs nele um órgão por meio do qual
poderia conhecer coisas espirituais. Quando o homem pecou, aquele órgão
morreu. «Mortos em pecado» é uma descrição não do corpo nem tampouco do
intelecto, mas sim do órgão conhecedor de Deus na alma humana. Agora os
homens se vêem obrigados a depender de um órgão distinto e inferior, e que é
além totalmente inadequado para este propósito. Refiro-me, naturalmente, à
mente como o assento de suas capacidades de raciocínio e de compreensão.
«Um homem não pode receber nada.» Esta é o peso da Bíblia. Pensem o
que pensem os homens da razão humana. Deus tem uma pobre opinião dela. «
iDónde está o sábio? iDónde está o letrado? <LNo converteu Deus a sabedoria
do mundo em necedad?» A razão humana é um bom instrumento e é útil dentro
de seu campo. É um dom de Deus, e Deus não duvida em apelar a ela, como
quando clama ao Israel: «Venham logo..., e estejamos a conta.» A
incapacidade da razão humana como
órgão de conhecimento divino surge não de sua debilidade mas sim de sua
falta de idoneidade para tal função, em apóie a suas próprias características.
Não foi dada como órgão mediante o que conhecer deus.
«Se não lhe deu que céu.» Aqui temos a outra parte da verdade; há
esperança para todos, porque estas palavras significam certamente que existe
o dom do conhecimento, dom que vem do céu. Cristo ensenó a seus discípulos
a que esperassem a vinda do Espírito de verdade, que os ensenaría todas as
coisas. Explicou o conhecimento do Pedro a respeito de que Ele era o Cristo
como uma revelação direta do Pai no céu. E em uma de suas orações, disse:
«Elogio-te. Pai. Senhor do céu e da terra, porque ocultou estas coisas aos
sábios e aos entendidos, e as revelou aos ninos.» Pelos sábios e os
entendidos» nosso Senhor se referia não aos filósofos gregos, a não ser aos
estudiosos judeus da Bíblia, e aos professores da Lei.
Esta ideia básica, a incapacidade da razão humana como instrumento do
conhecimento de Deus, foi plenamente desenvolvida nas epístolas do Paulo. O
apóstolo exclui com toda franqueza toda faculdade natural como instrumento
para o descobrimento da verdade divina, e nos arroja impotentes em mãos do
Espírito que obra em nós. «Coisas que o olho não
viu, nem o ouvido ouviu, nem subiram ao coração do homem, são as que
Deus preparou para os que lhe amam. Mas Deus nos revelou isso por meio do
Espírito; porque o Espírito todo o escudrina, até as profundidades de Deus.
Porque iquién dos homens sabe as coisas do homem, a não ser o espírito do
homem que está nele? Assim tampouco ninguém conhece as coisas de Deus,
a não ser o Espírito de Deus. E nós não recebemos o espírito do mundo, a não
ser o Espírito que provém de Deus, para que saibamos o que Deus nos
outorgou gratuitamente.»
Este velho teólogo sustentava que era absolutamente necessária uma vida
pura para um verdadeiro entendimento da verdade espiritual. «Há», diz ele,
«uma doçura interior e uma delícia na verdade divina, que nenhuma mente
sensual pode saborear nem
gozar: este é aquele homem "natural" que não saboreia as coisas de Deus...
a divindade não é tanto recebida por um engenho sutil como por um sentido
desencardido».
Os velhos crentes judeus dos tempos precristianos que nos deram os livros
(pouco conhecidos pelos modernos protestantes) da Sabedoria do Salomón e
de Eclesiástico, acreditavam que é impossível para um coração impuro
conhecer a verdade divina. «Porque em uma alma maliciosa não entrará a
sabedoria; nem morará no corpo sujeito a pecado. Porque o santo espírito de
disciplina fugirá do engano, e se separará de pensamentos carentes de
entendimento, e não permanecerá quando entre a injustiça.»
Estes livros, junto com nosso bem conhecido livro de Provérbios, ensinam
que o verdadeiro conhecimento espiritual é resultado
de uma visitação de sabedoria celestial, uma espécie de batismo dei Espírito
de verdade que vem a homens temerosos de Deus. Esta sabedoria está
sempre associada com a retidão e a humildade, e Jamais se encontra além da
piedade e da verdadeira vida em santidade.
ALGUNS BONS CRISTÃOS têm lido mal este texto e deram é obvio que
Cristo disse a seus discípulos que foram receber o Espírito Santo e poder, e
que o poder viria depois da chegada do Espírito. Uma leitura superficial do
texto da tradução de Reina-valera poderia conduzir a esta conclusão, mas a
verdade é que Cristo não ensenó a respeito da vinda do Espírito Santo e poder,
mas sim da vinda do Espírito Santo como poder. O poder e o Espírito são o
mesmo.
Exposta diante tal e poderosa provisão como a que vimos, vê-se que o
cristianismo ético (se é que me permite empregar este término) não é
cristianismo absolutamente. iUna copia infantil dos «Ideais» de Cristo, um
lastimoso esforço para levar a cabo as ensenanzas do Sermão do Monte! Tudo
isto é um mero escarcéu infantil e não é a fé de Cristo e do Novo Testamento.
Agora bem, icómo opera este poder? Em seu aspecto mais puro é uma força
não mediada aplicada diretamente pelo Espírito de Deus ao espírito do homem.
O lutador obtém seus fins mediante a pressão de seu corpo físico sobre o
corpo físico de seu oponente, o professor mediante a pressão de suas ideias
sobre a mente do estudante, o moralista mediante a pressão do dever sobre a
consciência do discípulo. E o Espírito Santo efectúa sua bendita operação
mediante o contato direto com o espírito humano.
Suponho que minha sugestão não receberá muita atenção séria, mas eu
gostaria de sugerir que os cristãos crentes na Bíblia anunciássemos uma
moratória na atividade religiosa a fim de pôr em ordem nossas casas em
preparação à vinda de um aflato do alto. Tão camal é o corpo de cristãos que
compõe a asa conservadora da Igreja, tão assombrosamente irreverentes som
nossos serviços públicos em algumas fracione, tão degradados estão nossos
gostos religiosos em outros, que dificilmente pode ter sido mais necessária a
necessidade de poder em nenhum outro tempo na história. Acredito que
obteríamos grande proveito se declararáramos um período de silêncio e de
autoexamen durante o que cada um de nós se olhasse seriamente em seu
próprio coração e tratasse de cumprir todas as condições para um verdadeiro
batismo de poder do alto.
De uma coisa podemos estar seguros: de que para nosso profundo apuro
não há padre além de uma visitação, melhor ainda, de uma invasão de poder
do alto. Só o mesmo Espírito nos pode mostrar o que está mal conosco, e só o
Espírito pode prescrever a cura. Só o Espírito nos pode salvar da irrealidade
entumecedora de uma cristandade sem o Espírito. Só o Espírito nos pode
apresentar ao Pai e ao Filho. Só a operação Interna do poder do
Espírito pode
Feitos 2:3, RV
Ao cristão meio da atualidade todo isto pode lhe soar a extrano, se não
totalmente condizente à confusão, porque o aspecto do pensamento religioso
de nossos tempos é decididamente ateológico. Podemos viver uma vida inteira
e morrer sem haver sentido nossas mentes desafiadas pelo doce mistério da
Deidade se é que temos que depender das Igrejas para que façam o desafio.
Estão muito ocupadas Jogando com sombras e «ajustando-se» a uma e a
outra coisa para que possam acontecer-se muito tempo pensando a respeito
de Deus. Bom seria, portanto, considerar durante algo mais de tempo a
inescrutabilidad divina.
Em seu Ser essencial Deus é singular no único sentido desta palavra. Isto é,
não há nada como Ele em todo o universo. O que Ele é não pode ser
concebido pela mente porque Ele é «totalmente outro» a nada que nós
tenhamos podido experimentar antes. A mente não tem dado algum com o que
começar. Ninguém entreteve um pensamento do que se possa dizer que
descreve a Deus em nenhum sentido mais que no mais vago e imperfeito. Ali
onde Deus seja conhecido absolutamente tem que ser o de outra forma que
por nossa razão criada. Novaciano, em um famoso tratado a respeito da
Trindade escrito ao redor de meio o terceiro século, diz: «Em todas nossas
meditações sobre as qualidades dos atributos e conteúdo de Deus, passamos
além de nossa capacidade de concepção
Precisamente porque Deus não nos pode dizer o que Ele é nos diz muito
frequentemente a que se assemelha. Mediante estas figuras de «semelhança»
Ele conduz nossas vacilantes mentes tão perto como é possível a aquela «Luz
inacessível». Através do mais confuso uso do meio do intelecto, a alma é
preparada para o momento em que possa, por meio da operação do Espírito
Santo, conhecer deus tal como Ele é em si mesmo. Deus empregou um
número destas similaridades para insinuar seu ser incompreensível, e a julgar
pelas Escrituras, a gente pensaria que sua semelhança favorita é a do fogo.
Em uma passagem o Espírito diz expressamente: «Porque nosso Deus é um
fogo consumidor.» Isto concorda com sua revelação de si mesmo tal como fica
registrada por toda a
Aquilo que descendeu sobre os discípulos naquele aposento alto era nada
menos que o mesmo Deus. diante os olhos mortais deles Ele se apareceu
como fogo, e <Lno podemos concluir com certeza que aqueles crentes
ensenados pelas Escrituras souberam no ato do que se tratava? O Deus que
lhes tinha aparecido como fogo ao longo de sua larga história estava agora
morando neles como fogo. moveu-se desde fora para o interior de suas vidas.
A Shekiná que tinha ardido sobre o propiciatorio agora ardia sobre suas frentes
como emblema externo do fogo que tinha invadido suas naturezas. Aqui temos
à Deidade dando-se a si mesmo a homens redimidos. Chama-a foi o selo de
uma nova união. Agora eram homens e mulheres do Fogo.
Um dos golpes mais senalados que o inimigo jamais deu contra a vida da
Igreja foi criar nela um temor ao Espírito Santo. Ninguém que se mescle com
os cristãos em nossos tempos negará que exista este temor. Poucos são os
que abram sem freio todo seu coração ao bendito Consolador. foi e é tão mal
compreendido que a mera menção de seu Nome em alguns círculos é
suficiente para atemorizar a mu-chos e conduzi-los a uma atitude de
resistência. A fonte deste temor irrazonable pode ser identificada com
facilidade, mas seria uma tarefa infrutífera fazê-lo aqui. Possivelmente
possamos ajudar a destruir o poder deste temor sobre nós se examinarmos
este fogo que é o símbolo da Pessoa e Presença do Espírito.
O Espírito Santo é deste modo uma chama espiritual. Só Ele pode elevar
nossa adoração a níveis verdadeiramente espirituais. Porque mais valerá que
saibamos de uma vez por todas que nem a moralidade nem a ética, por
sublime que sejam, chegam a ser cristianismo. A fé de Cristo empreende o
levantar a alma a uma comunhão real com Deus, a introduzir em nossas
experiências religiosas um elemento suprarracional tão por cima da mera
bondade como os céus estão sobre a terra. A vinda do Espírito trouxe para o
livro dos Fatos esta mesma qualidade de supramundanalidad, esta misteriosa
elevação de tom que não se encontra em uma intensidade tão elevada nem
sequer nos Evangelhos. A chave do livro dos Fatos é decididamente a maior.
Não há neste livro nenhuma traçado de tristeza de ser criado, nenhuma
frustração permanente, nenhum tremor de incerteza. O aspecto é celestial.
encontra-se aí um espírito de vitória que nunca poderia ser resultado de uma
mera
crença religiosa. O gozo dos primeiros cristãos não era o gozo da lógica que
parte de feitos. Não raciocinaram: «Cristo ressuscitou que os mortos; por isso
devemos estar contentes.» O gozo deles foi um milagre tão grande como a
mesma resu-rrección. Na verdade ambas as coisas estavam e estão
relacionadas organicamente. A sorte moral do Criador tinha vindo a residir nos
peitos de criaturas redimidas, e não podiam deixar de ser felizes.
O Espírito é deste modo uma chama volitiva. Aqui, como em todas partes, a
Imaginária é inadequada para expressar toda a verdade, e a não ser que
tomemos cuidado podemos facilmente
ter uma impressão errônea em apóie a seu emprego. Porque o fogo, tal
como o vemos e conhecemos cada dia, é uma coisa, não uma pessoa, e por
esta razão não tem vontade própria. Mas o Espírito Santo é uma Pessoa,
possuindo os atributos de personalidade dos que a volição é um. Ele, ao entrar
na alma humana, não se vazia de nenhum de seus atributos, nem os rende em
parte nem em tudo à alma em que entra. Recordemos que o Espírito Santo é
Senhor. «Agora bem, o Senhor é o Espírito», disse Mugiu aos corintios. O
Credo Niceno diz: «E acredito no Espírito Santo, o Senhor e Doador da vida»: e
o Credo Atanasiano declara: «Desta mesma maneira o Pai é Senhor, o Filho é
Senhor, e o Espírito Santo é Senhor. E entretanto não são três Senhores, a não
ser um Senhor.» Sejam quais sejam os problemas que isto constitua para o
entendimento, nossa fé deve aceitá-lo e fazer disso parte de nossa crença
inteira a respeito de Deus e do Espírito. Agora bem, logo que será necessário
dizer que o Senhor Soberano Jamais abandonará as prerrogativas de sua
Deidade. Esteja onde esteja. Ele deve prosseguir atuando como Ele é. Quando
entra no CO-razão humano, será ali o que sempre foi: Senhor por seu próprio
direito.
Outra qualidade do Fogo que amora dentro é a emoção. Isto tem que
entender-se à luz do que se há dito antes a respeito da inescrutabilidad divina.
O que Deus é em sua essência singular não pode ser descoberto pela mente
nem pronunciado pelos lábios, mas aquelas qualidades em Deus que podem
ser denominadas racionais, e por isso recebidas pelo intelecto, foram
abertamente expostas nas Sagradas Escrituras. Não nos dizem o que Deus é,
mas nos dizem como é, e a soma destas qualidades constitui uma imagem
mental do Ser Divino visto como de longe e através de um espelho,
oscuramente.
Agora bem, a Bíblia nos ensena que há algo em Deus como a emoção. Ele
experimenta algo que é como nosso amor, algo que é como nossa dor, algo
que é como nosso gozo. E não temos por que temer em seguir com esta
concepção de como é Deus. A fé azeitaria facilmente a inferência de que por
quanto fomos feitos a sua imagem. Ele deve ter qualidades como as nossas.
Mas esta inferência, embora satisfatória para a mente, não é a base de nossa
crença. Deus há dito certas coisas a respeito de si mesmo, e estas nos são
toda a base que necessitamos. «Jehová está em meio de ti, como capitalista
salvador; gozará-se sobre ti com alegria, calará de amor, regozijará-se sobre ti
com cânticos» (Sofonías 3:17). Este é somente um versículo entre milhares
que servem para formar nossa Imagem racional de como é Deus, e nos dizem
claramente que Deus sente algo como nosso amor, como
nosso gozo, e o que Ele sente lhe Neva a atuar de uma maneira muito
semelhante à nossa em uma situação similar: Ele se regozija sobre seus
amado com alegria e cântico.
Aqui temos a emoção em um plano tão sublime como o que possa Jamâs
ver-se, emoção brotando do coração do mesmo Deus. O sentimento, portanto,
não é o filho degenerado da incredulidade, como frequentemente é
apresentado por alguns de nossos professores bíblicos. Nossa capacidade de
sentir é uma das marcas de nossa origem divina. Não temos por que sentimos
envergonhados nem pelas lágrimas nem pela risada. O estóico cristão que
esmagou seus sentimentos tem só duas terceiras partes de homem: repudiou
uma importante terceira parte.
Uma das mais enormes calamidades que o pecado atraiu sobre nós é a
degeneração de nossas emoções normais. Nos reimos de coisas que não são
divertidas; achamos prazer em atos que estân por debaixo de nossa dignidade
humana; e nos regozijamos em objetos que não devessem ter lugar em nossos
afetos. A objeção aos «prazeres pecaminosos», que foi sempre caracteristica
do verdadeiro santo, é no fundo simplesmente um protesto contra a
degradação de nossas emoções humanas. Que, por ejem-plo, permita-se que
o jogo absorva os interesses de homens feitos a imagem de Deus parece uma
horrível perversão de seus nobres poderes; que se precise do álcool para
estimular a sensação de prazer parece como uma espécie de prostituição; que
os homens se tenham que dirigir ao teatro de fatura humana para desfrutar
parece uma afronta ao Deus que nos situou em meio de um universo
carregado de sublime ação
O Espiritu Santo querria pôr um harpa eólica na janela de nossas almas para
que os ventos do céu toquem uma suave melodia para um acompanamiento
musical da mais humilde tarefa que sejamos chamados a efetuar. O amor
espiritual de Cristo harâ uma música constante dentro de nossos corações, e
nos habilitarâ para regozijamos inclusive em meio de nossas dores.
A FÉ CRISTÃ, apoiada no Novo Testamento, ensena uma total antítese
entre a Igreja e o mundo. observei isto brevemente em um capítulo anterior,
mas a questão é de tal importância para a alma indagadora que acredito que
devo entrar em tudo isso a maior abundância.
É tão somente um lugar comum dizer que o problema que temos entre nós
hoje em dia é que tentamos cobrir um abismo entre dois pólos opostos, o
mundo e a Igreja, e que celebramos um matrimônio ilícito para o que não há
sanção bíblica. Em realidade não é possível uma verdadeira união entre o
mundo e a Igreja. Quando a Igreja se une ao mundo deixa de ser a verdadeira
Igreja e se converte em uma coisa lastimosa e híbrida, objeto de um
menosprezo cheio de escárnio para o mundo, e uma abominação para o
Senhor.
diferencia entre o servo e o Úbere: «Mas assim como então o que tinha
nascido segundo a carne perseguia ao que tinha nascido segundo o Espírito,
assim também agora» (Gálatas 4:29).
Assim por todo o Novo Testamento está marcada uma linha de separação
entre a Igreja e o mundo. Não há terreno neutro. O Senhor não reconhece
nenhum «acordo de estar em desacordo» de modo que os seguidores do
Cordeiro possam adotar as maneiras do mundo e caminhar pelo caminho do
mundo. A sima estabelecida entre o cristão e o mundo é tão grande como a
que separava ao rico e ao Lázaro. Y. além disso, trata-se da mesma sima,
aquela que divide entre o mundo dos redimidos e o mundo dos cansados.
Sei muito bem -e sou profundamente consciente- o ofensiva que deve ser
uma ensenanza assim para a grande grei de mundanos que dá voltas pelo redil
tradicional. Não tenho esperanças de escapar da acusação de fanatismo e
intolerância que indubitavelmente farão recair sobre mim os confusos
religiãoistas que tentam fazer-se ovelhas por associação. Mas mais valerá que
confrontemos a dura realidade de que ninguém se converte em cristão por
Juntar-se com pessoas da igreja, nem por contato religioso, nem por educação
religiosa; voltam-se cristãos só pela invasão de sua natureza pelo Espírito de
Deus no Novo Nascimento. E quando assim se voltam cristãos são feitos
imediatamente membros de uma nova raça, «linhagem escolhida, real
sacerdócio, nação Santa, povo adquirido para posse de Deus... os que em
outro tempo não foram povo, mas que agora são povo de Deus: que em outro
tempo não tinham alcançado misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia*
(1 Pedro 2:9-10).
Nos versículos mencionados não se teve nenhum desejo de citar fora de
contexto nem de centrar a atenção sobre uma cara da verdade para tirar a de
outra. A ensenanza destas passagens é absolutamente a da verdade do Novo
Testamento. É como se puséssemos uma vasilha dentro do mar. Quando a
tirássemos, não seria toda a água do oceano, mas seria uma verdadeira
amostra e concordaria perfeitamente com o resto.
Por isso a mim respeita, temo a qualquer tipo de movimento religioso entre
quão cristãos não leve a arrependimento e que resulte em uma definida
separação do crente do mundo. Sinto suspeitas a respeito de qualquer esforço
organizado de avivamiento que se veja obrigado a diluir as estritas condições
do Reino. Não importa quão atrativo possa parecer o movimento: se não se
apoiar na retidão e se alimenta na humildade, não é de Deus. Se explorar a
carne, é uma fraude religiosa, e não devesse ter apoio algum por parte de
nenhum cristão temeroso de Deus. Só é de Deus aquilo que honra ao Espírito
e que prospera a gastos do ego humano. «Para que, tal como está escrito: que
se glorifica, glorifique-se no Senhor.»
Efesios 5:18
Quero aqui declarar osadamente que é minha feliz crença que cada cristão
pode ter um copioso derramamento do Espírito Santo em uma medida muito
além da recebida na conversão, e poderia dizer também que muito além da
recebida pelo comum dos crentes ortodoxos na atualidade. É importante que
esclareçamos isto, porque a fé é impossível até que as dúvidas sejam
eliminadas. A um coração que dúvida, Deus não o surpreenderá com uma
efusão do Espírito Santo, nem encherá a ninguém que ponha em tecido de
julgamento a possibilidade de ser cheio.
Antes que alguém possa ser cheio pelo Espírito deve estar seguro que quer
está-lo. E isto se deve tomar a sério. Muitos cristãos querem ser cheios, mas o
desejo deles é de um tipo vago e romântico que apenas se merece ser
chamado desejo. Quase não têm nenhum conhecimento do que lhes custará o
obtê-lo.
maravilhoso, que suas mesmas perdas lhe parecerão lucros, e seus nos
peque dores como prazeres. Mas a carne gemerá sob seu jugo e clamará
contra isso como uma carga muito pesada para ser levada. E te permitirá gozar
do solene privilégio do sofrimento para completar «o que falta das aflições de
Cristo» em sua carne por causa de seu corpo, que é a Igreja. Agora bem, com
estas condições diante ti, isigues querendo estar cheio do Espírito Santo?»
Antes que possamos ser cheios com o Espírito, o desejo de ser cheio deve
ser consumidor. Deve ser naquele momento o maior na vida, um pouco tão
agudo, tão intrusivo, que não deixe lugar a nada mais. O grau de plenitude em
qualquer vida concorda perfeitamente com a intensidade do verdadeiro desejo.
Temos tanto de Deus como realmente queremos. Um grande é-torbo para a
vida cheia do Espírito é a teologia da autocomplacencia, tão extensamente
aceita entre os cristãos evangélicos na atualidade. Segundo este ponto de
vista, um desejo agudo é uma evidência de incredulidade e uma prova do
desconhecimento das Escrituras. Uma refutação suficiente desta postura a dão
a mesma Palavra de Deus e o fato de que sempre fracassa em produzir
verdadeira santidade entre os que a mantêm.
perda. Ninguém Jamais gozou uma cruz, assim como ninguém Jamais
gozou uma forca.
Agora bem, ponhamos em claro nossa teologia a respeito de tudo isto. Não
há em todo este penoso desnudamiento nem o mais remoto conceito de mérito
humano. A «escura noite da alma» não conhece nem um solo tênue raio da
traiçoeira luz da pretensão de Justiça própria. Não é mediante o sofrimento que
ganhamos a unção que desejamos, nem nos faz mais queridos para Deus esta
devastação da alma, nem nos dá favor adicional
O Espírito Santo é uma Pessoa vivente e deveria ser tratado como tal
Pessoa. Jamais devemos pensar nele como uma energia cega nem como uma
força impessoal. Ele escuta e vê e sente quão mesmo qualquer outra pessoa.
Fala e nos ouça falar. Podemos lhe agradar ou lhe ofender ou lhe silenciar
quão mesmo a outra pessoa. Ele responderá a nosso tímido esforço por lhe
conhecer e sempre encontrará a metade do caminho.
Por maravilhosa que seja a experiência de crise de ser cheio com o Espírito,
devêssemos lembrar que se trata só de um meio para algo major: esta coisa
maior é o caminhar toda a vida no Espírito, habitados, dirigidos, ensenados e
energizados por sua poderosa Pessoa. E a continuidade deste andar no
Espírito demanda o cumprimento de certas condições. Estas nos são
estabelecidas nas Sagradas Escrituras, e estão aí para que as vejamos todos.
A vida ocupada pelo Espírito não é uma edição especial «de luxe» do
cristianismo que possa ser desfrutada por uns poucos privilegiados que tenham
a sorte de ser feitos de um material melhor e sensível que o resto. trata-se mas
bem do estado normal de cada pessoa redimida por todo mundo. É «o mistério
que tinha estado oculto dos séculos e gerações passadas, mas que agora foi
manifestado a seu Santos, a quem Deus quis dar a conhecer quais são as
riquezas da glória deste mistério entre os gentis; que é Cristo em vós, a
esperança da glória» (Colosenses 1:26). Faber, em um de seus doces e
reverentes hinos, dirigiu esta doce palavra ao Espírito Santo:
Você um mar sem borda é: É terrível, de grande extension; Mar que pode a
si mesmo contrair-se dentro de mim pequeno coração.