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A IMPORTÂNCIA DA ADUBAÇÃO POTÁSSICA NA CULTURA DA UVA

Luis Eduardo Pontes Stefanelli1*, Renato Nunes Costa2, Diego Arcanjo do Nascimento3, Ramon De
Marchi Garcia4, Lucas Campos Ferreira5
1
Mestrando em Agronomia – Pós-graduação em Proteção de Plantas – UNESP- Botucatu- SP
*email: agronomiastefanelli@hotmail.com
2
Doutorando em Agronomia- Pós-graduação em Agricultura – UNESP – Botucatu-SP
3
Doutorando em Ciência Florestal – UNESP – Botucatu- SP
4
Graduando em Engenharia Agronômica- UNESP- Botucatu-SP
5
Engenheiro Agrônomo – Companhia Agrícola São José – Rio Claro-SP

RESUMO

A nutrição de plantas adequada é fundamental para o produtor obter o máximo potencial


produtivo da cultura. Este segmento estuda as relações solo-planta de forma a otimizar as
técnicas de manejo do solo e adubação para fornecer a quantidade adequada de nutrientes
para as plantas, proporcionando melhores índices de produtividade das culturas. No ramo
da horticultura, muitas vezes as culturas perenes, como é o caso da uva, Vitis vinifera L.
esta situação não é diferente, pois altas produtividades necessitam de adubação correta.
Dentre os macronutrientes essenciais para esta planta podemos citar o potássio, a
deficiência deste nutriente pode gerar sintomas como necrose das folhas, acidez dos
frutos, atrasar a maturação entre outros. Diante deste cenário, esta revisão tem como
objetivo abordar a relevância da adubação potássica na cultura da uva.

Palavras-chave: Vitis vinifera. Adubação. Potássio

ABSTRACT

THE IMPORTANCE OF POTASSIC FERTILIZATION IN THE CULTURE OF THE


GRAPE

Adequate plant nutrition is essential for the producer to obtain the maximum productive
potential of the crop. This segment studies soil-plant relationships in order to optimize
soil management and fertilization techniques to provide the appropriate amount of
nutrients to the plants, providing better crop productivity indexes. In the field of
horticulture, perennial crops, such as the grape, Vitis vinifera L., are no different, since
high yields require correct fertilization. Among the macronutrients essential for this plant
we can mention potassium, the deficiency of this nutrient can generate symptoms such as
leaf necrosis, fruit acidity, delay maturation among others. Given this scenario, this
review aims to address the relevance of potassium fertilization in grape growing.

Keywords: Vitis vinífera. Fertilizing. Potassium.

1. INTRODUÇÃO
Na planta, o potássio (K) desempenha diversas funções fisiológicas como
manutenção do potencial osmótico, ativador enzimáticos em diferentes reações de
sínteses de substâncias e proteínas, além do transporte de substâncias através dos vasos
do floema. Quando o K é absorvido pela planta, o mesmo não é incorporado em outros
compostos, mas sim, transportado na forma de íon das raízes para outros órgãos em
crescimento com demanda pelo nutriente. Após absorvido, movimenta-se via xilema e
também floema. Em plantas jovens de videiras, o impacto da adubação potássica sobre
crescimento de ramos e/ou diâmetro de caule causam efeitos sobre diversas reações
fisiológicas que estimulam o crescimento vegetativo. A sua deficiência, no entanto, pode
influenciar negativamente no desenvolvimento da planta. Dentre as plantas que podem
ter seu ciclo alterado pela falta deste nutriente podemos citar a videira (Vitis vinifera L.)
que é composta por várias cultivares, além de ser considerada uma das culturas mais
antigas do mundo (VELOSO et al., 2010).
Em videiras adultas, o K é um dos nutrientes mais absorvidos e exportado em
grande quantidade pelos frutos, desta forma existe a grande exigência nutricional deste
elemento. Diante deste cenário esta revisão tem por objetivo elucidar os aspectos
relevantes de se realizar uma adubação potássica na cultura da uva.

2. ADUBAÇÃO POTÁSSICA

2.1 O potássio e suas implicações


Depois do nitrogênio, o potássio é o segundo nutriente requerido em maior
quantidade pelos vegetais, e com grande mobilidade nos tecidos vegetais em qualquer
concentração, seja dentro da célula, no tecido vegetal ou xilema e floema (CALONEGO
et al., 2005). Dentre suas funções, destaca-se a na regulação da turgidez do tecido,
portanto, quando maior a quantidade na célula, mais água será acumulada e
consequentemente maior transpiração, criando condições favoráveis para reações
fotossintéticas e outros processos metabólicos (FERNANDES et al., 2013).
Este nutriente é responsável por atuar na síntese de carboidratos, proteínas,
adenosina trifosfato (ATP), regulação osmótica, abertura e fechamento de estômatos,
resistência da planta a pragas e doenças, ativação de diversos sistemas enzimáticos
associados a fotossíntese e respiração (FAGAN et al., 2015).
Na cultura da videira, o potássio é o mais utilizado em maior quantidade
(TECCHIO; TERRA; MAIA, 2012; CIOTTA et al., 2016), absorvido na forma de íon K+
e mais requerido durante de lignificação dos ramos e na maturação dos frutos. Esse
elemento é responsável também pela diferenciação das gemas, germinação do grão de
pólen, auxiliar no aroma das uvas, favorecer o sabor, elevar o teor de açúcar e vitaminas
C e B1 (TECCHIO; TERRA; MAIA, 2012).
A adubação da videira merece uma atenção especial, pois apresenta sensibilidade
em relação ao desequilíbrio nutricional entre o K, Ca e Mg (DALBÓ et al., 2015). A
aplicação de fertilizantes à base de potássio é essencial para o pré-plantio e a manutenção
do ciclo de produção (CIOTTA et al., 2016). Fertilizantes potássicos nas videiras podem
aumentar a forma trocável do potássio, afetando o teor de açúcar (sólido solúveis totais-
SST), pH, valores totais de acidez titulável (ATT), polifenóis e antocianinas
(BOONTERM & SILAPAPUN, 2013). Na falta do potássio os primeiros sintomas são
nas folhas mais velhas, causando amarelecimento, posterior necrose e enrolamento nas
bordas foliares, ocorre também a interferência na síntese proteica, elevando os
aminoácidos livres e retardando a maturação, produzindo dessa forma cachos pequenos,
duros, verdes e ácidos (MPELASOKA et al., 2003). As características genéticas das
plantas influenciam na absorção de nutrientes, especialmente em relação ao K e Mg, como
exemplo, os porta-enxertos SO4 e o 44-53 M apresentam teores altos de acúmulo de
potássio, diferente da videira ‘Isabel’ em pé franco, apresentando baixa capacidade de
acumulo de K (DALBÓ et al., 2015). Contudo, ainda não se sabe ao certo qual o efeito e
as consequências da relação entre a absorção de K, o porta-enxerto e a variedade copa
(KODUR, 2011).

2.2 Cloreto de Potássio e Sulfato de Potássio

O sulfato de potássio pode ser encontrado naturalmente na natureza, no entanto é


obtido industrialmente a partir da reação de cloreto de potássio com ácido sulfúrico. Este
fertilizante apresenta de 50 a 52% de potássio (K2O) e 17 a 18% de enxofre (S), solúveis
em água (MALAVOLTA et al., 2002).
As vantagens de se utilizar o K2SO4 (sulfato de potássio) como forma de adubo
potássico corresponde ao fornecimento a cultura dois nutrientes ao mesmo tempo, o
potássio e o enxofre, a relevância da sua utilização se dá por possuir menor índice salino
entre os fertilizantes potássicos comumente utilizados e pode ser utilizado principalmente
nos casos de espécies vegetais que possuem alta sensibilidade ao cloro já que não contem
o íon em sua composição e ainda, pode ser mais vantajoso quando o potássio precisa ser
aplicado tardiamente.
A videira possui média tolerância à salinidade e ao cloreto, podendo-se dizer ainda
que a deficiência de enxofre, na pratica não é facilmente observada. Seriam estas as razões
pela qual o sulfato de potássio ainda é pouco utilizado para adubação de videiras. Porém
a maioria dos estudos realizados em áreas de produção de uva na Alemanha, Áustria,
Suíça, França, Portugal África do Sul e Austrália trazem resultados que indicam que o
uso do sulfato de potássio como fertilizante, incrementa o crescimento da planta, aumenta
a produção de cachos, induz um aumento nos teores de açúcar, cores mais vibrantes e
uma melhora nos teores de tanino e ácido ascórbico (KÄMPFER & ZEHLER, 1967).
O enxofre em sua forma de ser absorvido da solução do solo pelas raízes das
plantas é altamente oxidado, o sulfato (SO4 -2). Das raízes então, o sulfato é transportado
para a parte aérea das plantas via xilema, com pouquíssimo movimento do S no sentido
contrário, o que indica que o elemento é pouco distribuído na planta como um todo. Neste
contexto torna-se relevante o uso do sulfato de potássio como adubo, já que também irá
colaborar para um incremento de doses de enxofre.
O KCl (cloreto de potássio) é obtido através do processamento da rocha silvinita
que vai desde a extração da rocha diretamente da mina com posterior britagem até o
empoamento que é seguido da estocagem, expedição e depois enviado ao cliente
(YAMADA & ROBERTS, 2005). Apresenta de 60 a 62% de potássio (K2O) solúvel em
água. Pode se apresentar na cor branca ou rosada (avermelhada) (MALAVOLTA E. et
al., 2002).
É um dos adubos mais importantes para o desenvolvimento da planta, gerando
resistência contra pragas, estiagem prolongada e geada, proporcionando crescimento
normal e sadio. Esse fertilizante responde por 95% da produção mundial, sendo o Brasil
o terceiro maior consumidor de potássio, ficando atrás dos Estados Unidos e China
(YAMADA E ROBERTS, 2005). O cloreto de potássio pode prejudicar plantas
indiretamente, devido ao efeito salino do KCl sobre as raízes. Por esse fertilizante ser o
mais consumido comercialmente, para suprir a necessidade de potássio das plantas, a
concentração de cloro existente no fertilizante, em altas dosagens, pode afetar o
desenvolvimento e a distribuição das raízes, consequentemente também a absorção de
água e nutrientes já que há uma diminuição do potencial osmótico próximo a rizosfera,
prejudicando o caminhamento dos íons até as raízes. O crescimento das plantas então
torna-se deficiente devido ao efeito toxicidade do Cl (MEURER, 2006).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A adubação potássica em videiras é muito relevante, desta forma os produtores devem
estar atentos para que não ocorra deficiência deste nutriente na planta. A escolha da fonte
de potássio e qualidade do adubo utilizado também é fundamental e de grande
importância para o sucesso do processo produtivo.
4 REFERÊNCIAS

BOONTERM, V.; SILAPAPUN, A. Effects of nitrogen potassium fertilizers and clusters per vine on yeld
and anthocyanin content in 'Cabernet Sauvignon' grape. Acta Horticulturae, v.984, p.435-442, 2013.
CALONEGO, J. C.; SIMONETI FOLONI, J. S.; ROSOLEM, C. A. Lixiviação de potássio da palha de
plantas de cobertura em diferentes estádios de senescência após a dessecação química. Revista Brasileira
de Ciência do Solo, v. 29, n. 1. p. 99-108, 2005.
CIOTTA, M. N.; CERETTA, C. A.; SILVA L.; FERREIRA, P.A.A.; SAUTTER, C.K; COUTO R.R.;
BRUNETTO, G. Produção e composição do mosto de viníferas' Cabernet Sauvignon cultivadas em solo
arenoso com teores crescentes de potássio. Ciência Rural [online], 2016.
DALBO, M. A.; BETTONI, J.C.; GARDIN, J. P. P. & BASSO, C. Produtividade e qualidade de uvas da
cv. Isabel (Vitis labrusca L.) submetidas à adubação potássica. Revista Brasileira Fruticultura. [online].
2015, vol.37, n.3
FAGAN, E. B.; ONO, E. O.; RODRIGUES, J. D.; CHALFUN JÚNIOR, A.; DOURADO NETO, D.;
Fisiologia Vegetal: Reguladores Vegetais. Organização Andrei Editora Ltda, São Paulo, 2015.
FERNANDES, D. A.; AZEVEDO, L.P.; COSTA, R.B. Efeito de diferentes concentrações de nitrogênio e
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KÄMPFER M.; ZEHLER E. The importance of the sulphate fertilizers for raising the yield and improving
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1967.
KODUR, S. Effects of juice pH and potassium on juice and wine quality, and regulation of potassium in
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MALAVOLTA, E.; GOMES, F. P.; ALCARDE, J. C. Adubos e adubações. São Paulo: Nobel, 2002. 200p
MEURER, E. J. Potássio. In: FERNANDES, M. S. (ed.) Nutrição mineral de plantas. Viçosa: Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo, p.281-298, 2006.
MPELASOKA, B.S.; SCHACHTMAN, D. P.; TREEBY, M. T. & THOMAS, M. R. A review of potassium
nutrition in grapevines with special emphasis on berry accumulation. Australian Journal of Grape and
Wine Research v.9, p.154-168, 2003.
TECCHIO, M.A.; TERRA, M.M.; MAIA, J.D.G. Nutrição, calagem e adubação da videira Niágara. p.137-
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VELOSO, M. M.; ALMANDANIM, M. C.; BALEIRAS-COUTO, M.; PEREIRA, H. S.; CARNEIRO, L.
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YAMADA, T.; ROBERTS, T. L. Potássio na agricultura brasileira. Piracicaba: Associação Brasileira da
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