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Procuradoria-Geral da República Ação direta de inconstitucionalidade

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Desta maneira, manteve-se o inciso IX do art. 37, na reda-
ção original, quanto à possibilidade de contratação por tem-

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po determinado para atender a necessidade temporária de
excepcional interesse público. Não se consagrou, destarte,
na Emenda Constitucional no 19, o pretendido contrato de
emprego público, eis que não aprovada a nova redação pro-
posta constante do art. 3o do Substitutivo da Comissão Es-
pecial, que foi, em consequência, suprimido do texto. [...].3

Contratação temporária para atender a excepcional interesse


público é o que justifica contratação para funções de natureza
transitória. Não bastar indicar o texto da lei que sua finalidade é
atender necessidade emergencial por excepcional interesse públi-
co. É necessário demonstrar a necessidade e a excepcionalidade do
interesse público.
O próprio contexto fático em que foram editados os atos
normativos impugnados demonstra a inexistência do caráter tran-
sitório da contratação, por ausência de predeterminação de prazos
e da excepcionalidade do serviço, mediante as reiteradas edições
de atos para novas contratações. Isso descaracteriza qualquer su-
posto fundamento de necessidade e excepcionalidade do serviço
público a ser prestado, de modo a justificar a contratação tempo-
rária de servidores.
Desde 2004 o Espírito Santo edita leis complementares para
ocupar “temporariamente” cargos técnicos de natureza transitória,
sem realizar concurso público entre 2004 e 2014. O ente federado
produziu diversas leis complementares, autorizando contratações
supostamente temporárias, ampliando-as e prorrogando-as. São as
Leis Complementares 300, de 16 de novembro de 2004; 340, de
8 de dezembro de 2005; 349, de 27 de dezembro de 2005; 378,
3
STF. MC/ADI 2.135/DF. Referência na nota anterior.

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de 27 de novembro de 2006, 405, de 25 de julho de 2007; 559,

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de 30 de junho de 2010; e 772, de 4 de abril de 2014. Todas pos-
suem a mesma argumentação, que não se sustenta, diante do qua-
dro factual relatado.
A Lei Complementar 300/2004 foi objeto da ADI 3.430/ES,
precisamente sobre a contratação de servidores em caráter tem-
porário, cujo pedido foi julgado procedente pelo STF, por una-
nimidade, com estes fundamentos:
Como se vê, em linhas gerais, a Lei contestada autoriza o
Poder Executivo a celebrar contrato administrativo de pres-
tação de serviço, por doze meses, prorrogável por igual
prazo, com particulares, para atender a “necessidade de ex-
cepcional interesse público” no sistema constituído pela Se-
cretaria de Estado da Saúde – SESA e pelo Instituto Estadual
de Saúde Pública – IESP.
[...]
Dessa forma, não basta que a lei, seja ela federal, estadual,
distrital ou municipal, autorize a contratação de pessoal por
prazo limitado para conformar-se ao texto constitucional, eis
que a excepcionalidade das situações emergenciais afasta a
possibilidade de que elas, de transitórias, se transmudem em
permanentes.
A transitoriedade das contratações de que trata o art. 37, IX,
da CF, com efeito, não se coaduna com o caráter perma-
nente de atividades que constituem a própria essência, a ra-
zão mesma de existir do Estado, qual seja a prestação de ser-
viços essenciais à população, dentre os quais figuram, com
destaque, os serviços de saúde.
[...]
No caso sob análise, o texto normativo capixaba regulou a
contratação temporária de profissionais de saúde, atividade
essencial de índole permanente.
[...]

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Este Tribunal, ademais, também já decidiu, de forma con-
vergente com a doutrina, que, para a contratação temporá-

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ria, é preciso que: a) os casos excepcionais estejam previstos
em lei; b) o prazo de contratação seja pré-determinado; c) a
necessidade seja temporária; e d) o interesse público seja ex-
cepcional.
Patente, pois a inconstitucionalidade da Lei Complementar
300/2004 do Estado do Espírito Santo. Resta, então, anali-
sar os efeitos práticos decorrentes do reconhecimento desse
vício pelo Supremo Tribunal Federal. [...]4

A jurisprudência do STF é pacífica no sentido da possibilida-


de das contratações temporárias pelo poder público, mediante ob-
servância de alguns critérios:

Recurso extraordinário. Repercussão geral reconhecida.


Ação direta de inconstitucionalidade de lei municipal em
face de trecho da Constituição do Estado de Minas Gerais
que repete texto da Constituição Federal. Recurso processa-
do pela Corte Suprema, que dele conheceu. Contratação
temporária por tempo determinado para atendimento a ne-
cessidade temporária de excepcional interesse público. Pre-
visão em lei municipal de atividades ordinárias e regulares.
Definição dos conteúdos jurídicos do art. 37, incisos II e IX,
da Constituição Federal. Descumprimento dos requisitos
constitucionais. Recurso provido. Declarada a inconstituci-
onalidade da norma municipal. Modulação dos efeitos.
1. O assunto corresponde ao Tema no 612 da Gestão
por Temas da Repercussão Geral do portal do STF
na internet e trata, “à luz dos incisos II e IX do art. 37 da
Constituição Federal, [d]a constitucionalidade de lei muni-
cipal que dispõe sobre as hipóteses de contratação temporá-
ria de servidores públicos”.
2. Prevalência da regra da obrigatoriedade do con-
curso público (art. 37, inciso II, CF). As regras que res-
tringem o cumprimento desse dispositivo estão previstas na
4
STF. Plenário. ADI 3.430/ES. Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI.
12/8/2009, unânime. DJe 200, 23 out. 2009.

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Constituição Federal e devem ser interpretadas restritiva-
mente.

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3. O conteúdo jurídico do art. 37, inciso IX, da Cons-
tituição Federal pode ser resumido, ratificando-se,
dessa forma, o entendimento da Corte Suprema de
que, para que se considere válida a contratação tem-
porária, é preciso que: a) os casos excepcionais este-
jam previstos em lei; b) o prazo de contratação seja
predeterminado; c) a necessidade seja temporária; d)
o interesse público seja excepcional; e) a necessidade
de contratação seja indispensável, sendo vedada a
contratação para os serviços ordinários permanentes
do Estado, e que devam estar sob o espectro das con-
tingências normais da Administração.
4. É inconstitucional a lei municipal em comento, eis que a
norma não respeitou a Constituição Federal. A imposição
constitucional da obrigatoriedade do concurso públi-
co é peremptória e tem como objetivo resguardar o cum-
primento de princípios constitucionais, dentre eles, os da
impessoalidade, da igualdade e da eficiência. Deve-se, como
em outras hipóteses de reconhecimento da existência do ví-
cio da inconstitucionalidade, proceder à correção da norma,
a fim de atender ao que dispõe a Constituição Federal. [...]5

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. SERVI-


DOR PÚBLICO: DEFENSOR PÚBLICO: CONTRA-
TAÇÃO TEMPORÁRIA. C.F., art. 37, II e IX. Lei 6.094,
de 2000, do Estado do Espírito Santo: inconstitucionalidade.
I – A regra é a admissão de servidor público mediante con-
curso público. C.F., art. 37, II. As duas exceções à regra são
para os cargos em comissão referidos no inciso II do art. 37,
e a contratação de pessoal por tempo determinado
para atender a necessidade temporária de excepcio-
nal interesse público. CF, art. 37, IX. Nessa hipótese, de-
verão ser atendidas as seguintes condições: a) previ-
são em lei dos cargos; b) tempo determinado; c) ne-
cessidade temporária de interesse público; d) interes-
5
STF. Plenário. RE/RG 658.026/MG. Rel.: Min. DIAS TOFFOLI.
1o/11/2012, un. DJe 13 nov. 2012. Sem destaques no original.

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se público excepcional. II – Lei 6.094/2000, do Estado
do Espírito Santo, que autoriza o Poder Executivo a con-

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tratar, temporariamente, defensores públicos: inconstitucio-
nalidade. III – Ação direta de inconstitucionalidade julgada
procedente.6

Agravo regimental em recurso extraordinário. 2. Direito


Administrativo. Contratação temporária. Direito ao re-
cebimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
3. Contrato por tempo indeterminado e inexistência de
excepcional interesse público. Nulidade do contrato.
4. Efeitos jurídicos: pagamento do saldo salarial e levanta-
mento de FGTS. Precedentes: RE-RG 596.478, red. do
acórdão DIAS TOFFOLI, e RE-RG 705.140, Rel.: Min.
TEORI ZAVASCKI. 5. Aplicabilidade dessa orientação juris-
prudencial aos casos de contratação em caráter temporário
pela Administração Pública. Precedentes. 6. Agravo regi-
mental a que se nega provimento.7

É indispensável que a necessidade na qual se baseie a norma


se configure temporária, que os serviços contratados sejam indis-
pensáveis e urgentes, que o prazo de contratação seja predeter-
minado, que os cargos estejam previstos em lei e que o interesse
público seja excepcional.
Além de os atos impugnados não observarem os parâmetros
estabelecidos pelo STF para legitimidade dessa modalidade de
contratação, as sucessivas publicações de normas nessa direção de-
monstram a perenidade das atividades no Estado do Espírito San-
to, de modo a descaracterizar a contratação dita temporária para
atender à necessidade da administração pública. Os empregos em
6
STF. Plenário. ADI 2.229/ES. Rel.: Min. CARLOS VELLOSO. 9/6/2004,
un. DJ, 25 jun. 2004. Sem destaques no original.
7
STF. Segunda Turma. Agravo regimental no RE 863.125, Rel.: Min.
GILMAR MENDES, DJe, 2/8/2007, un. 6 maio 2015. Sem destaques no
original.

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