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JOÃO PESSOA - PB
2019
1
JOÃO PESSOA
2019
Catalogação na publicação
Seção de Catalogação e Classificação
UFPB/BC
FOLHA DE APROVAÇÃO DE BANCA
Banca Examinadora
AGRADECIMENTOS
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .................................................................................................................... 14
1 CAPÍTULO 1: Considerações teóricas sobre funções executivas na infância ........ 16
2 CAPÍTULO 2: Desenvolvimento das funções executivas na infância ....................... 38
3 CAPÍTULO 3: Análise multidimensional das funções executivas na infância ................ 69
4 CAPÍTULO 4: Conclusão geral ............................................................................................ 91
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 95
ANEXOS
9
Lista de tabelas
Tabela 1. Modelos explicativos das funções executivas...................................................23
Tabela 2. Distribuição de matrículas por ano escolar no município de João Pessoa, PB
por tipo de escola..............................................................................................................43
Tabela 3. Caracterização da amostra................................................................................45
Tabela 4. Método estatístico utilizado para cada objetivo traçado.................................50
Tabela 5. Estatística descritiva (médias e desvios-padrão) dos grupos de idade (7 a 11
anos).................................................................................................................................51
Tabela 6. Estatística inferencial (MANOVA) da diferença entre os desempenhos dos
grupos de idade................................................................................................................52
Tabela 7. Estatística descritiva (médias e desvios-padrão) dos grupos de sexo...............52
Tabela 8. Estatística inferencial (teste t) da diferença entre os desempenhos dos grupos
de sexo.............................................................................................................................53
Tabela 9. Estatística descritiva (médias e desvios-padrão) dos grupos ano escolar..........53
Tabela 10. Estatística inferencial (MANOVA) da diferença entre os desempenhos dos
grupos de ano escolar.......................................................................................................54
Tabela 11. Estatísticas descritivas da amostra geral.........................................................54
Tabela 12. Dados sumarizados da análise de regressão múltipla para memória de
trabalho............................................................................................................................56
Tabela 13. Coeficientes de análise de regressão para memória de trabalho....................57
Tabela 14. Dados sumarizados da análise de regressão múltipla para flexibilidade
cognitiva..........................................................................................................................57
Tabela 15. Coeficientes de análise de regressão para memória de trabalho......................58
Tabela 16 Dados sumarizados da análise de regressão múltipla para inibição................59
Tabela 17 Coeficientes de análise de regressão para inibição.........................................59
Tabela 18. Modelos estruturais das funções executivas a serem testados (MT: memória
de trabalho, CI: controle inibitório, FC: flexibilidade cognitiva).....................................73
Tabela 19. Distribuição de matrículas por ano escolar no município de João Pessoa, PB
por tipo de escola..............................................................................................................74
Tabela 20. Caracterização da amostra..............................................................................76
Tabela 21. Estatística descritiva (médias e desvios-padrão) dos grupos de idade (7 a 11
anos).................................................................................................................................81
Tabela 22. Índices de análise fatorial confirmatória para amostra geral.........................83
10
Lista de Figuras
Figura 1. Modelo de memória de trabalho de Baddeley, 2000........................................28
Figura 2. Relação entre as variáveis que mensuram as funções executivas.....................55
Figura 3: Modelo Unifatorial...........................................................................................83
Figura 4: Modelo bifatorial FC e CI + MT......................................................................84
Figura 5: Modelo bifatorial CI e FC + MT......................................................................84
Figura 6: Modelo bifatorial MT e FC +CI.......................................................................84
Figura 7: Modelo trifatorial..............................................................................................84
Figura 8: Modelo Fator Geral...........................................................................................85
11
RESUMO
O presente trabalho trata das funções executivas (memória de trabalho, controle inibitório
e flexibilidade cognitiva) na infância, e tem como objetivo principal analisar o
desenvolvimento das funções executivas. Este trabalho foi organizado em três partes, a
saber: 1) Considerações teóricas sobre o tema; 2) Desempenho das FEs nos grupos de
idade; 3) Análise da estrutura de desenvolvimento das FEs. A amostra foi composta por
120 crianças de ambos os sexos, entre 7 e 11 anos, com idade média de 8,96 anos (dp =
1,42). Sendo 47,5% do sexo masculino. As crianças foram distribuídas em cinco grupos,
correspondentes a suas idades, cada grupo com em média 20 crianças. Foram utilizados
os seguintes instrumentos: questionário sociodemográfico, matrizes progressivas de
Raven, teste de atenção por cancelamento, dígitos ordem direta e indireta, teste de cinco
dígitos, teste de trilhas, stroop versão Victória. Foi utilizado o software SPSS para efetuar
as análises descritivas (médias, desvios-padrão, frequências, porcentagens) e análise
inferencial: teste de correlação de Pearson, Manova, Teste t, e regressão múltipla.
Também foi utilizado o Rstudio para execução de análise fatorial confirmatória. Como
resultados principais destaca-se que as crianças mais velhas e de anos escolares mais
avançados apresentam melhores índices de funções executivas. Sendo a variável que
melhor explica o desempenho em funções executivas o ano escolar e a capacidade de
atenção seletiva. Entre 7 e 11 anos observa-se estrutura de desenvolvimento bifatorial.
ABSTRACT
This paper deals with executive functions (working memory, inhibitory control and
cognitive flexibility) in childhood, and its main objective is to analyze the development
of executive functions. This paper was organized in three parts, as follows: 1) Theoretical
considerations on the subject; 2) Performance of EFs in age groups; 3) Analysis of the
development structure of SFs. One sample consisted of 120 children of both sexes,
between 7 and 11 years old, with an average age of 8.96 years (sd = 1.42). Being 47.5%
male. As children were divided into five groups, corresponding to their ages, each group
with an average of 20 children. The following instruments were used: somiodemographic
questionnaire, Raven progressive matrices, cancellation attention test, direct and indirect
order digits, five-digit test, trail test and victorious version. SPSS software was used to
perform descriptive analyzes (means, standard deviations, frequencies, percentages) and
inferential analyzes: Pearson's correlation test, Manova, t-test and dynamic regression. It
was also used or Rstudio to perform confirmatory factor analysis. As the main results are
displayed as older children and older years present the best rates of executive functions.
Being a variable that best explains the performance in executive functions or school year
and the capacity of selective attention. Between 7 and 11 years, a bifactorial
developmental structure is observed.
APRESENTAÇÃO
CAPÍTULO 1.
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE FUNÇÕES EXECUTIVAS NA
INFÂNCIA
17
RESUMO
Dias, Émille Burity. (2019). Considerações teóricas sobre funções executivas na infância.
In: Marcos desenvolvimentais das funções executivas na infância. Tese de Doutorado,
Centro de ciências humanas, letras e artes, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa.
ABSTRACT
Executive functions (FEs) can be used as cognitive skills or processes that collaborate to
identify goals, plan and perform tasks in order to achieve a goal. The literature on FE is
on the rise, as the topic is of significant interest to cognitive neuropsychology, in a review
by Baggeta & Alexander (2016) after 1400 studies between 2000 and 2013. Given the
relevance of the subject in question, this study has as its The objective is to explain,
present, present theoretically or the theme executive functions in childhood, in a concise
review. This mode addresses considerations about: 1. Executive function settings; 2.
Neuropsychology of executive functions; 3. Models of executive functions; 4. Models in
childhood; Diamond model; and 5. Studies in childhood.
INTRODUÇÃO
O estudo acerca das funções executivas tem sido de grande interesse na área da
neuropsicologia cognitiva. Numa extensiva pesquisa na base de dados Psycinfo, Baggeta
& Alexander (2016) constataram 181 estudos sobre a temática em 2013; 1400 estudos
entre 2000 e 2013. Os autores catalogaram cerca de 25 diferentes atributos para as funções
executivas, sendo o mais comum: processo cognitivo de alta ordem. Segundo os autores,
esta variedade de atributos que a literatura menciona confunde, de certo modo, as
definições de funções executivas, culminando na falta de consenso sobre o construto.
Logo, ressalta-se que cerca de oitenta e três referências definem as funções executivas,
sendo os mais citados: Miyake et al (2000) e Friedman & Miyake (2012).
Ademais, não há consenso a respeito dos componentes e processos subjacentes às
funções executivas. Lista-se cerca de trinta e nove diferentes componentes e/ou
processos, sendo os mais comuns mencionados, respectivamente: controle inibitório,
memória de trabalho e flexibilidade cognitiva. Considerando esta variedade, entra-se no
seguinte consenso: o construto das funções executivas é multidimensional. Isto quer dizer
que, este construto é composto por inúmeras habilidades (Elsinger, 1996).
Em revisão (Baggeta & Alexander, 2016), enumera-se quarenta e oito modelos de
funções executivas, sendo os mais citados: Miyake et al (2000), e Diamond (2006, 2013).
Diversos estudos (Hughes et al., 2009; Huizinga, et al., 2006; Brydges, et al., 2014; Shing,
et al, 2010; Xu, et al, 2013) relatam que as funções executivas têm estrutura multifatorial.
Mas alguns pesquisadores postulam que é um construto inicialmente, unitário e com o
avançar do desenvolvimento torna-se multidimensional (Miller, et al, 2012). Entende-se
o desenvolvimento das funções executivas como sendo lento e progressivo,
provavelmente por estar associado a mielinização tardia do córtex pré-frontal, que tem
seu inicio pós-natal, estabelece-se na idade adulta e declina na velhice (Diamond, 2013).
No mais, salienta-se que o funcionamento executivo influencia diversas áreas da
vida do ser humano, como exemplo: aprendizagem, ajustamento e funcionamento do
indivíduo de maneira apropriada a regras e demandas em distintos contextos
(relacionamentos, profissionais, acadêmicos, saúde mental e física, dentre outros),
justificando a importância de seu estudo, e crescente investigação sobre a temática.
No Brasil, as pesquisas sobre esta temática estão sempre coadjuvantes ao estudo
das funções cognitivas gerais, sendo os estudos, na maioria das vezes, com amostras
clínicas (Pureza, et al. 2013).
20
Diante o que fora exposto, este artigo tem o objetivo de explicitar, apresentar,
introduzir teoricamente o tema funções executivas na infância, numa revisão integrativa.
Deste modo, abordará considerações sobre: 1. Definições das funções executivas; 2.
Neuropsicologia das funções executivas; 3. Modelos de funções executivas; 4. Modelos
na infância; Modelo de Diamond; e 5. Estudos na infância.
o lobo frontal a região cerebral que oportunizaria estas funções. Nota-se que a atribuição
da terceira unidade é compatível com habilidades executivas de planejamento,
autorregulação e monitoramento. Habilidades estas, que atualmente são associadas às
funções executivas.
Outro modelo teórico das FEs que se classifica como construto único é a hipótese
do marcador somático, concebido por Damásio (1994). Para este estudioso a escolha
racional é guiada por marcadores somáticos. Em outras palavras: a tomada de decisão
seria orientada por reações emocionais. Quando se toma uma decisão, o resultado produz
uma reação emocional que se bem estabelecida ocorrerá antes das próximas escolhas. Em
síntese, a emoção influencia a tomada de decisão.
A hipótese do marcador somático faz associação entre o córtex órbito frontal, giro
do cíngulo anterior e amígdala, a partir da averiguação de pacientes com lesões no córtex
pré-frontal ventromedial, que apresentam déficits na capacidade de decidir, e na sua
função social, sem agravo cognitivo aparente.
O modelo teórico das FEs proposto por Lezak e colaboradores (2004)
compreendia que o funcionamento executivo consistia em quatro componentes, a saber:
(1) Volição: que trata da capacidade de envolver-se em comportamento intencional,
formular objetivo, iniciar atividades, dedicar-se a uma tarefa por longo período de tempo
e estar motivado. (2) Planejamento: se refere a habilidade de identificar e organizar as
etapas necessárias para atingir um objetivo. Habilidade de memorizar, controlar impulsos
e sustentar atenção. (3) Comportamento com propósito: programar atividades com
coerência com o objetivo que se pretende alcançar. Iniciar e manter-se numa atividade,
flexibilizar o seu curso, inibir comportamentos inadequados. (4) Desempenho efetivo: se
refere às habilidades essenciais para volição, planejamento e comportamento em
constante automonitoramento. Foi Lezak em 1982, o primeiro a utilizar o termo funções
executivas. Até então tem-se Luria utilizando termos como: planejamento,
monitoramento e regulação.
De acordo com Miyake (2000) as funções executivas são compostas por
componentes/fatores. Através de análise fatorial, Miyake (2000,2012) estabelece que as
funções executivas são compostas por fatores independentes como memória de trabalho,
flexibilidade cognitiva e inibição, que se correlacionariam moderadamente. E também
por um fator geral que coordenaria esses fatores tornando ativo o objetivo da tarefa.
24
Modelos na infância
No que se refere a infância, pode-se pontuar duas vertentes que explicam o
desenvolvimento das funções executivas:
1) Os estudos que postulam que as FEs são uma estrutura unificada (Munakata,
2001; Posner e Rothbart, 2007; Zelazo & Frye, 1998; Zelazo & Muller, 2002);
2) Os estudos que postulam que as FEs como uma estrutura de componentes
dissociados (Diamond, 2006 e 2013); e
e FEs; e as relações preditivas entre os dois, nota-se que associações entre FEs e
desempenho acadêmico são significativas, embora geralmente moderadas, e,
notadamente, persistem até o sexto ano ou talvez até mais tarde (Jarvis & Gathercole,
2003).
St. Clair-Thompson e Gathercole (2006) encontraram uma associação entre bom
desempenho em matemática, MT e inibição em crianças de 11 e 12 anos de idade. Os
autores sugerem que as crianças que têm dificuldade em manter informações pertinentes
na MT, ignorando informações irrelevantes e mudando de uma estratégia para outra têm
dificuldade em usar e avaliar estratégias para resolver problemas de matemática.
Diferentes atividades acadêmicas (por exemplo, matemática, leitura e escrita)
parecem envolver diferentes combinações de componentes das FEs. As tentativas de
descobrir a causalidade entre as FEs e o funcionamento da escola foram inconclusivas
(Best et al, 2009). Uma vez que essas relações sejam esclarecidas, intervenções podem
ser desenvolvidas para reforçar os domínios FEs específicos subjacentes a cada
habilidade acadêmica (Fischer & Daley, 2007).
Conforme revisão (Best, et al, 2009) nota-se melhora contínua de todos os
componentes provavelmente até a adolescência, bem como trajetórias de
desenvolvimento um pouco diferentes para cada componente. Embora as formas
rudimentares de cada domínio FEs possam surgir cedo na vida, elas não só se tornam
totalmente funcionais muito mais tarde. Então, durante o envelhecimento, declínios
específicos para FEs surgem.
Em estudo (Brocki & Bohlin, 2004) investigou-se a dimensionalidade
(desinibição, memória de trabalho e fluência) do desenvolvimento do funcionamento
executivo. Em estudo transversal com 92 crianças de 6 a 13 anos (divididas em quatro
grupos). Concluíram, a partir de suas análises que duas estruturas: inibição e memória de
trabalho são prevalentes na faixa etária estudada.
Outra perspectiva (Huizinga, et al. 2006) avaliou as FEs de crianças entre 7 e 11
anos, adolescentes de 15 anos, e jovens adultos com 21 anos. A conclusão principal foi
que nessas faixas etárias predomina estrutura bifatorial das FEs (MT e FC), sendo este
achado consistente com os de Miyake, et al. 2009).
Em contrapartida, ao analisar o desempenho de pré-escolares em FEs, Senn et al
(2004) conclui que MT e CI são medidas correlacionadas, e que FC não se correlaciona
com nenhuma outra medida. Na infância as FEs são dissociadas, mas os componentes são
inter-relacionados em um certo grau.
31
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, diante da significativa falta de consenso sobre o construto das funções
executivas, pode-se definir, de modo geral, como um conjunto de habilidades cognitivas
que atuam de forma colaborativa para atingir um determinado objetivo. Deste modo, ele
é considerado multidimensional. As habilidades cognitivas mais mencionadas pelos
estudos na infância são: memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva.
Ressalta-se, ainda, a importância das funções executivas para diversas áreas da vida,
como acadêmica, profissional, saúde física e mental. Logo, torna-se um construto de
importante relevância para estudos. Principalmente, quando se trata da investigação
acerca de seu desenvolvimento. Conclusões sobre o desenvolvimento das funções
executivas são bastante controversas. Autores (Best et al 2009; Martin & Failows, 2010)
sinalizam que o maior motivo da falta de consenso seria devido à variedade de tarefas e
métodos. Sendo assim, é espera-se a execução de estudos que tenham a intenção de
contribuir para elucidar sobre questões do desenvolvimento da estrutura das funções
executivas em crianças.
32
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37
CAPÍTULO 2
DESENVOLVIMENTO DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS NA INFÂNCIA
38
RESUMO
Dias, Émille Burity. (2019). Desenvolvimento das funções executivas. In: Marcos
desenvolvimentais das funções executivas na infância. Tese de Doutorado, Centro de
ciências humanas, letras e artes, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa.
O presente trabalho trata das funções executivas (memória de trabalho, controle inibitório
e flexibilidade cognitiva) na infância, e tem como objetivo principal analisar o
desenvolvimento das funções executivas. Especificamente este trabalho pretende: 1)
Verificar a correlação entre FEs e idade, desempenho no teste de inteligência e atenção;
2) Comparar o desempenho das FEs nos grupos de idade, sexo e ano escolar; 3) Avaliar
o efeito preditivo da idade, ano escolar e inteligência sobre desempenho das FEs.
Participaram deste estudo: 120 crianças de ambos os sexos, entre 7 e 11 anos, com idade
média de 8,96 anos (dp = 1,42). Sendo 47,5% do sexo masculino. As crianças foram
distribuídas em cinco grupos, correspondentes a suas idades, cada grupo com em média
20 crianças. Foram utilizados os seguintes instrumentos: questionário sóciodemográfico,
matrizes progressivas de Raven, teste de atenção por cancelamento, dígitos ordem direta
e indireta, teste de cinco dígitos, teste de trilhas, stroop versão victória. Foi utilizado o
software SPSS para efetuar as análises descritivas (médias, desvios-padrão, frequências,
porcentagens) e análise inferencial: teste de correlação de Pearson, Manova, Teste t, e
regressão múltipla. Como resultados principais destaca-se que as crianças mais velhas e
de anos escolares mais avançados apresentam melhores índices de funções executivas.
significativa diferença de desempenho em funções executivas entre os grupos de idade e
ano escolar. Sendo a variável que melhor explica o desempenho em funções executivas o
ano escolar e a capacidade de atenção seletiva. Os componentes das funções executivas
estão relacionados de moderadamente.
ABSTRACT
This paper deals with executive functions (working memory, inhibitory control and
cognitive flexibility) in childhood, and its main objective is to analyze the development
of executive functions. Specifically, this paper aims to: 1) Verify the correlation between
EFs and age, intelligence and attention test performance; 2) Compare the performance of
the EFs in the age, sex and school year groups; 3) Evaluate the predictive effect of age,
school year and intelligence on the performance of EFs. Participated in this study: 120
children of both sexes, between 7 and 11 years old, with an average age of 8.96 years (sd
= 1.42). Being 47.5% male. The children were divided into five groups, corresponding to
their ages, each group with an average of 20 children. The following instruments were
used: sociodemographic questionnaire, Raven progressive matrices, cancellation
attention test, direct and indirect order digits, five-digit test, trail test, stroop winning
version. SPSS software was used to perform descriptive analyzes (means, standard
deviations, frequencies, percentages) and inferential analysis: Pearson's correlation test,
Manova, t-test, and multiple regression. As main results, it is noteworthy that older
children and those with more advanced school years have better rates of executive
functions. Significant difference in performance in executive functions between age and
school year groups. Being the variable that best explains the performance in executive
functions the school year and the capacity of selective attention. The components of
executive functions are moderately related.
INTRODUÇÃO
Pode-se definir funções executivas como um termo “guarda-chuva”, tendo em
vista que abrange diferentes processos cognitivos que cooperam para o controle do
pensamento e comportamento com intencionalidade a atingir um objetivo (Zelazo &
Carlson, 2012). É concordância que existem três componentes básicos das funções
executivas: controle inibitório, memória de trabalho e flexibilidade cognitiva (Lehto et al.
2003; Miyake et al. 2000; Diamond, 2006).
O controle inibitório é a capacidade de controlar a atenção, pensamentos,
comportamento e emoções, inibindo estímulos preponderantes externos. É a capacidade
é usar a atenção a atenção seletiva para focar e escolher opções de modo não impulsivo.
A memória de trabalho se refere a capacidade de manter a informação na mente e
manipulá-la por um curto período de tempo. A flexibilidade cognitiva refere-se à
habilidade de mudar de perspectiva para resolver um problema, ajustar-se a demandas,
regras ou prioridades (Diamond, 2013). Outras habilidades mais complexas, também
compõem as funções executivas como planejamento, processamento da informação,
monitoramento de múltiplas tarefas e ações (Dixon et al. 2010, Pureza, 2013).
Devido à complexidade, multidimensionalidade e alto nível de interação com
outras habilidades cognitivas, as FEs têm sido o foco de inúmeros estudos na
neuropsicologia (Pureza, et al. 2013, Viola & Grassi-Oliveira, 2012; Willcutt et al. 2005).
No entanto, observa-se que há uma menor atenção para a análise do desenvolvimento das
FEs em crianças saudáveis (Pureza et al. 2013), sendo o maioria dos estudos conduzidos
em amostras clínicas (Anderson et al. 2010; Johnstone et al. 2007) ou pré-escolares (Blair
et al. 2005; Liebermann et al. 2007).
Sabe-se que o desenvolvimento das FEs é bastante complexo e depende da maturação
das regiões cerebrais frontais, além da sua intercomunicação com outras áreas corticais,
bem como outras estruturas (hipocampo, cerebelo e glanglio basal) (García-Molina et al.
2009; Matute et al. 2008).
Existem três perspectivas que explanam o desenvolvimento das funções
executivas durante a infância, a saber:
Perspectiva 1: Estudos (Munakata, 2001; Posner e Rothbart, 2007; Zelazo & Frye,
1998; Zelazo & Muller, 2002) que confirmam que as FEs são uma única estrutura; há os
estudiosos;
Perspectiva 2: Os estudos (Diamond, 2006 e 2013) que postulam as FEs como uma
estrutura de componentes dissociados;
41
Perspectiva 3: estudos (Huizinga, Dolan, Van der Molen, 2006; Lehto, et al. 2003)
que afirmam que as FEs apresentam uma estrutura unitária, mas com componentes
parcialmente dissociados.
De acordo com Davidson et al (2006) durante os cinco primeiros anos observa-se
desenvolvimento parcial das FEs, sendo identificados três componentes: memória de
trabalho, flexibilidade e inibição. No entanto, a evolução das FEs aparenta ser
progressiva, visto que ao término da adolescência todos os componentes estão
completamente desenvolvidos (Diamond, 2006; Hughes & Graham, 2008; Huizinga, et
al. 2006). Outra característica do desenvolvimento das FEs é o aspecto assimétrico, tendo
em vista que cada componente tem sua própria trajetória de desenvolvimento (Diamond,
2013).
Em estudo com 90 escolares entre 6 e 12 anos Pureza et al (2013) ressalta a
significante influência dos anos escolares para o desempenho das FEs, sendo assim
quanto maior a escolaridade melhor é o desempenho nas tarefas que mensuram FEs. Além
disso observou-se que a flexibilidade cognitiva atinge seu ápice entre 11 e 12 anos de
idade, e a memória de trabalho atinge seu pico entre 6 e 8 anos.
Num estudo correlacional (Towse & Maclachlan, 1999) com 42 escolares entre 8 e
11 anos, analisando a relação entre idade, tempo e acurácia na tarefa, observou-se que as
crianças mais novas (aproximadamente 6 anos) apresentam mais dificuldades nas tarefas
que demandam memória de trabalho do que os mais velhos.
Em estudo com 92 crianças, entre 6 e 13 anos, Brocki & Bohlin (2004)
constataram que fatores biológicos e demográficos influenciam o desempenho das FEs,
havendo significativa diferença no decorrer do desenvolvimento. Bem como observa-se
forte relação entre os componentes inibição e memória de trabalho.
Outros estudos (Davidson et al. 2006; Molina et al. 2009; Huizinga et al. 2006)
concordam que os componentes apresentam desenvolvimento distintos com base na
idade, sendo que o mais significativo desenvolvimento acontece entre o inicio e final da
infância.
Deste modo, o objetivo geral é analisar o desenvolvimento das funções executivas
na infância. Especificamente objetiva-se: 1. Verificar a correlação entre funções
executivas (memória de trabalho, controle inibitório, flexibilidade cognitiva), idade, ano
escolar, inteligência e atenção; 2. Comparar o desempenho das funções executivas
(memória de trabalho, controle inibitório, flexibilidade cognitiva) nos grupos de idade,
42
sexo e ano escolar; 3. Avaliar o efeito preditivo de variáveis idade, atenção, inteligência
e ano escolar sobre desempenho das funções executivas.
MÉTODO
Este estudo apresenta delineamento de levantamento onde analisará a diferença
de desempenho dos componentes das funções executivas e tem como variáveis de
interesse: memória de trabalho, flexibilidade cognitiva e inibição; idade. Variáveis de
controle: sexo, QI, atenção.
Tabela 2
Distribuição de matrículas por ano escolar no município de João Pessoa, PB por
tipo de escola.
Tipo de escola
Ano escolar Pública Particular
1º 3.563 4.627
% do total 13,2
2º 3.707 4.297
% do total 13,7
3º 4.914 4.281
% do total 18,2
4º 4.660 4.126
% do total 17,3
5º 4.546 4.027
% do total 16,8
43
6º 5.582 3.800
% do total 20,7
Total 26.972 25.158
% total 100
A pesquisa foi executada nas escolas públicas da cidade de João Pessoa – PB. Em
ambiente a parte da sala de aula, estruturado com cadeiras, mesa, ventilação e iluminação
adequada.
Amostra
A amostra da pesquisa foi selecionada conforme a técnica de amostragem por
conveniência. O tamanho da amostra foi escolhido de acordo com as indicações de
estudos anteriores. Abaixo estão listados os critérios de elegibilidade da amostra:
Crianças entre 7 e 11 anos e 11 meses;
Ambos os sexos;
Regularmente matriculados;
Assíduos;
sem déficits sensoriais ou físicos não corrigidos;
que não apresente distorção série-idade;
sem laudos neurológicos;
sem indicações de transtornos de aprendizagem;
sem indicações de sintomas de TDAH;
com escore dentro do esperado nos testes de inteligência e atenção.
Instrumentos
Questionário sócio demográfico: Questionário de fácil aplicação, com questões
objetivas de múltipla escolha, de fácil e rápido manejo. Contemplou questões que
possibilitaram caracterizar os participantes, quanto a idade, sexo, dificuldades de
aprendizagem, sintomas para TDAH, além de determinar seu nível socioeconômico. As
questões referentes aos dados sócio demográficos foram aplicadas junto a secretaria da
instituição, enquanto que as questões referente à aprendizagem e TDAH foram aplicadas
com os professores.
Matrizes Progressivas Coloridas de Raven – Escala Especial (MPCR): Aplicada a
faixa etária de 5 a 11 anos. Constituída por três séries de 12 itens: A, Ab e B. Os itens são
distribuídos em ordem crescente de dificuldade, onde a série posterior é mais difícil que
a anterior. Cada série é iniciada com itens fáceis, objetivando introduzir o individuo a um
novo tipo de raciocínio, que será exigido nos itens seguintes. Todos os itens consistem
por uma matriz ou desenho com uma parte em falta, abaixo do mesmo apresenta-se seis
45
alternativas distintas, sendo que apenas uma completa o espaço em branco. O individuo
precisa escolher uma das seis alternativas. A intenção do MPCR é analisar um dos
componentes do fator “g”, a capacidade edutiva relacionada à formação de novos insights
criativos e construto superior (Bandeira, et al, 2004).
Teste de atenção por cancelamento (TAC): Consiste em três matrizes impressas
com diferentes tipos de estímulos. A tarefa é assinalar (cancelar) todos os estímulos iguais
ao estímulo-alvo previamente determinado. A primeira parte do teste avalia atenção
seletiva e consiste em uma prova de cancelamento de figuras numa matriz impressa com
seis tipos de estímulos (cículo, quadrado, triângulo, cruz, estrela e retângulo), num total
de 300 figuras, dispostas de modo aleatório, onde a figura – alvo é indicada na parte
superior da folha.
A segunda parte avalia atenção seletiva num maior grau de dificuldade. A tarefa
é semelhante a primeira parte, no entanto, o estímulo-alvo composto por figuras duplas.
Nesta segunda etapa o individuo deve buscar um par de figuras geométricas. A terceira
parte avalia atenção seletiva com demanda de alternância, sendo necessário mudar o foco
de atenção a cada linha. Pois, o estímulo-alvo muda a cada linha, devendo ser considerada
como alvo a primeira figura de cada linha. O tempo máximo de execução para em cada
parte da tarefa pe de um minuto.
Para cada parte do TAC são computados três escores diferentes, a saber: (1)
número total de acertos – número de estímulos-alvo corretamente cancelados; (2) número
de erros – número de estímulos não alvo incorretamente cancelados; e (3) número de
ausências – número de estímulos alvo que não foram cancelados. Além disso há a
possibilidade de computar o escore total, ou seja, a soma de cada escore obtido em cada
parte do TAC. O teste pode ser aplicado de modo coletivo (Godoy, 2012).
Dígitos ordem direta e inversa: Este teste será retirado do WISC-IV quarta
edição da Escala de Inteligência para Crianças de David Wechsler, que tem por objetivo
avaliar a capacidade intelectual de crianças e adolescentes (6 a 16 anos). Este instrumento
é composto por 15 subtestes. Para esta pesquisa será utilizado o subteste memória de
dígitos na ordem direta e inversa. A ordem direta mede a memória auditiva sequencial. A
memória de dígitos na ordem inversa avalia a capacidade da memória de trabalho. O teste
fornece duas sequências numéricas, de 2 a 8 sequências de dígitos, para cada subteste de
memória (ordem direta e inversa). Será atribuído 0 ponto se o examinando errar ambas as
sequências, 1 ponto se responder corretamente uma das sequências e 2 pontos se acertar
ambas as sequências. Os escores para ordem direta e inversa são somados separadamente.
46
O escore máximo para o subteste na ordem direta é 16 pontos e 16 pontos para a ordem
inversa, somando ao total 32 pontos.
Teste de Cinco Dígitos: (Five Digits Test – FDT, Sedó, 2014) tem objetivo de
avaliar a velocidade do processamento, atenção e funções executivas (controle inibitório
e flexibilidade cognitiva). Trata-se de um instrumento não verbal, de aplicação individual,
que contempla a faixa etária de 6 a 92 anos de idade.
O FDT é uma tarefa numérica dividida em quatro etapas: leitura, contagem,
escolha e alternância. Em suma, as duas primeiras etapas do FDT envolvem
processamento atencional automático e velocidade do processamento. A terceira e quarta
etapa demanda processamento atencional controlado e fluidez verbal, envolvendo
funções executivas (controle inibitório e flexibilidade cognitiva). Para análise do
instrumento computa-se o tempo de reação da tarefa, erros cometidos, bem como os
escores de interferência (subtração do tempo de leitura, do tempo de escolha, e este do
tempo de alternância, dando origem aos escores de inibição e flexibilidade cognitiva)
(Oliveira et al., 2014).
Teste de trilhas (TT): O teste de trilhas parte A e B, avalia a atenção alternada e a
flexibilidade cognitiva. O teste é composto por duas partes. A parte A é composta por
duas folhas, uma para letras e outra para números. Ambas as folhas apresentam 12 letras
ou 12 números de A a M e de 1 a 12), dispostos aleatoriamente. O examinando deve ligar
as letras em ordem alfabética e os números em ordem crescente. A parte B, consiste em
letras e números randomicamente dispostos na folha. O examinando deve ligar os itens
em sequências alfabética e numérica. O instrumento computa 3 escores: (1) corresponde
a sequência, (2) corresponde às conexões e (3) escore total que corresponde à soma dos
outros dois (Montiel & Seabra, 2012).
Stroop versão victória: tem por objetivo avaliar o controle inibitório. É composto
por composto por 3 cartões, tamanho 12 cm x 20 cm (altura x largura), todos com 24
estímulos, nas cores verde, azul, vermelho ou amarelo. Os estímulos ficam dispostos em
4 colunas, com intervalo de 1,5 cm entre elas, e 6 linhas, intervalo de 1 cm (Ribeiro,
2011).
É composto por três cartões com retângulos impressos em cores padrão: verde,
vermelho, azul e amarelo. No primeiro cartão são apresentados retângulos nas cores
verde, azul, vermelho e amarelo. No segundo há palavras “cada, nada, nunca, tudo”
impressas nas cores verde, vermelho, azul e amarelo. O último cartão é composto por
nomes das cores “amarelo, verde, vermelho, azul” impressos em cores diferentes (ex:
47
Procedimentos éticos
Os procedimentos éticos foram baseados nas diretrizes da resolução nº 466/12 do
Conselho Nacional de Saúde/MS e suas Complementares, outorgada em 13 de Junho de
2013. Com finalidade de assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade
científica, ao(s) sujeito(s) da pesquisa e ao Estado, e a Resolução/UFPB/CONSEPE.
Vale salientar que este estudo faz parte de um projeto de pesquisa “guarda-chuva”,
intitulado Funções Executivas na Infância, que foi apreciado e aprovado pelo comitê de
ética do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal da Paraíba sob número de
CAAE 12234619.7.0000.8069.
48
etapa houve um intervalo de 24 horas, para evitar efeitos de fadiga por parte dos
participantes.
Foram treinadas para aplicação três pesquisadoras. Tendo em vista que os
instrumentos utilizados eram em versão “lápis e papel” todo o material (folhas de
resposta, lápis comum, borracha) foram disponibilizados pelos aplicadores.
RESULTADOS
Este estudo tem por objetivo analisar o desenvolvimento das funções executivas
na infância. Deste modo, os resultados serão apresentados brevemente em três etapas:
1.análise do desempenho em funções executivas por grupos de idade; 2. Análise da
relação entre as variáveis estudadas; e 3. Análise do efeito preditivo de variáveis como
idade, ano escolar, inteligência e atenção sobre o desempenho das funções executivas.
Comparação do desempenho das FEs nos grupos de idade, ano escolar e sexo
de inibição (r= -0,44; p<0,001) e flexibilidade (r= -0,58; p<0,001) negativa, porém
moderada e significativa.
A inteligência, mensurada pelo escore de Raven, apresentou relação positiva,
moderada e significativa com as variáveis trilhas (r= 0,50; p<0,001) e digit span (r= 0,50;
p<0,001). Pontua-se relação negativa, significativa e moderada com variáveis inibição
(r= - 0,46; p<0,001) e flexibilidade (r= - 0,55; p<0,001).
Trilhas
-.54
-.46 .49
Flexibilidade
FDT
.74
- .33
Inibição
FDT
-.24
dígitos
stroop
Tabela 12. Dados sumarizados da análise de regressão múltipla para memória de trabalho
Variáveis preditoras Memória de trabalho
R² (ajustado) R²(modificado)
1. Idade 0,19 0,19**
2. Inteligência 0,21 0,19**
3. Ano escolar 0,27 0,25**
4. Atenção 0,28 0,25**
DISCUSSÃO
Os dados serão discutidos em blocos, para facilitar a compreensão do leitor. Estes
blocos corresponderão aos componentes das funções executivas: controle inibitório,
memória de trabalho e flexibilidade cognitiva.
Controle inibitório
O controle inibitório se refere à capacidade de suprimir uma reposta dominante,
automático ou prepotente, envolve controle de interferência, esquecimento direcionado,
controle emocional, e controle motor (Nigg, 2000).
No presente estudo o controle inibitório foi avaliado através de dois testes: Stroop
versão victória e a medida de inibição do FDT. Sumariamente, observou-se que as
crianças de nove anos, do 5º ano e do sexo masculino obtiveram melhores escores no teste
Stroop. Controverso aos resultados obtidos na medida de inibição do FDT, onde foi
constatado que as crianças mais velhas (11 anos) obtiveram melhores resultados do que
as crianças mais novas. Além disso, notou-se que crianças do 6º ano também obtiveram
melhores tempos de reação, assim como os participantes do sexo masculino.
Ressalta-se que que para os grupos de sexo (masculino e feminino) não foram
averiguadas diferenças estatísticas, tanto para Stroop como para medida de inibição do
FDT, assim como em Wright & Diamond (2014). Destaca-se que para as medidas do
Stroop não foram averiguadas diferenças estaticamente significativas para idade ou ano
escolar. Diferente da medida de inibição do FDT, onde foram averiguadas diferenças
significativas para idade e ano escolar. Estes dados sinalizam para um provável
desenvolvimento do controle inibitório entre 7 e 11 anos, haja vista que o desempenho de
crianças de 7 anos é diferente do desempenho de crianças de 11 anos, além do mais
sinaliza para não distinção de desempenhos entre o sexo feminino e masculino. É
importante frisar, a importância da escolaridade, visto que as crianças matriculadas em
séries mais avançadas apresentaram melhores respostas do que aquelas crianças
matriculadas no início do ciclo.
Com relação aos dados obtidos pelo teste de Stroop, questiona-se os motivos pelos
quais eles não condizem aos resultados obtidos na medida de inibição do FDT. Vale
salientar, que há uma diferença importante entre os dois testes: o stroop é formado por
palavras, enquanto que o FDT é formado por números. Todas as crianças avaliadas foram
oriundas de escolas públicas, e apesar de terem sido sinalizadas como sem dificuldades
de aprendizagem por seus professores, nota-se dificuldade para automatizar a leitura,
60
Memória de trabalho
A habilidade de memória de trabalho refere-se a manter um conjunto de
informações na memória e manipulá-la por um breve período de tempo (Diamond, 2013).
No presente estudo a memória de trabalho foi mensurada pelo teste de dígitos ordem
direta e inversa.
Observou-se que o desempenho no teste de dígitos melhorou com o avançar da
idade, crianças de 11 anos obtiveram melhores escores do que as crianças de 7 anos.
Destaca-se que as diferenças entre o desempenho são evidentes entre 7 e 9 anos. Em
estudo Cordeiro et al (2019) com crianças entre 5 e 11 anos, observa-se melhoria da
memória de trabalho em progressão à idade. Em estudo com crianças entre 4 e 15 anos
Gothercole et al. (2004) observaram aumento linear no desempenho de baterias que
avaliam a memória de trabalho, constatando estabilidade no desempenho aos 11 anos.
Alguns estudos (Nelson et al. 2012) afirmam que a capacidade de memória
desenvolve-se desde tenra idade. Bebês entre 9 e 12 meses são capazes de atualizar
informações na sua memória de trabalho (Bell & Cuevas, 2012). A capacidade de
manipulação mental, característica da memória de trabalho é lenta e progressiva de acordo
com o desenvolvimento (Cowan et al. 2011).
Salienta-se que não há variância entre os sexos feminino e masculino, apesar dos
meninos apresentarem melhores médias de acertos, o mesmo pode ser verificado em
Barros et al. (2016) e Alansori & Saliman (2012).
Referente ao ano escolar verifica-se que com o progredir dos anos escolares a
habilidade de memória de trabalho melhora significativamente. Ressalta-se para o fato de
que o ano escolar tem maior efeito preditivo do bom desempenho em memória de
trabalho, do que a idade, no estudo de Cordeiro et al (2019) certifica o mesmo achado.
Estudos de neuroimagem (Scherf, Sweeney e Luna, 2006) indicam que há
mudanças contínuas na ativação cerebral associada a memória de trabalho na infância,
com relação a localização e quantidade. Em crianças, observa-se ativação de áreas pré-
motoras como cerebelo lateral e regiões ventromediais como tálamo e gânglios da base.
Com o avançar da idade observa-se diminuição quantitativa destas áreas, e ativação de
regiões frontais, como a região dorsolateral direita, e cíngulo anterior.
62
Flexibilidade Cognitiva
O componente flexibilidade cognitiva é o mais complexo, e refere-se a capacidade
de alternar estados mentais, regras ou tarefas (Miyake, et al. 2000). Destaca-se a
necessidade de processos de inibição e memória de trabalho para que a flexibilidade
cognitiva aconteça. Logo, a capacidade para inibir seria ativada previamente a capacidade
de alternância, evitando assim erros perseverantes (ou seja, manter-se numa mesma regra)
(Anderson, 2002). Logo subentende –se haver uma forte relação entre estes componentes.
Além da inibição, as tarefas que avaliam flexibilidade demandam memória de trabalho,
solicitando manutenção e atualização de informações. No presente estudo, foi constatado
uma relação moderada entre MT e FC. Em estudo anterior com crianças pré-escolares
(Dias & Minervino, 2016) não foi verificado relação entre os componentes MT e FC.
Provavelmente, devido as diferenças na estrutura das FEs no decorrer da idade.
Nota-se a relação entre CI e FC e destaca-se que para que haja um bom
desempenho em flexibilidade cognitiva é necessário que crianças obtenham êxito na
capacidade de inibição (Garon et al. 2008).
Salienta-se que a habilidade de atenção e o ano escolar influenciam de forma
significativa o desempenho em FC. Este dado sugere que não apenas a idade produz efeito
sobre o desenvolvimento das FEs mas também outros fatores biológicos e sociais.
Observou-se no presente estudo que crianças mais velhas, ou seja, com 11 anos
apresentam melhores níveis de FC do que as crianças mais novas. Esta evidência
corrobora com a literatura (Anderson, 2002; Cepeda, Kramer e Gonzales de Sather, 2001;
Crone, 2007; Crone et al. 2006; Garon et al., 2008; Somsen, 2007). Mas crianças mais
novas também são capazes de mudar com sucesso entre dois conjuntos de respostas
simples (Rennie, Bull, & Diamond, 2004).
63
Considerações Finais
O presente trabalho teve como objetivo principal analisar o desenvolvimento das
funções executivas (memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva)
durante a infância. Logo, foram avaliadas crianças entre sete e onze anos de idade.
Constatou-se que há melhoria de desempenho, nos três componentes das funções
executivas, com a progressão da idade. Sendo assim, verificou-se que crianças de 11 anos
apresentam melhor funcionamento executivo do que as crianças mais novas. O mesmo
observa-se para crianças matriculadas em anos mais avançados. Então, as crianças que
pertencem ao 6º ano têm melhores médias em MT, CI e FC do que aquelas dos anos
iniciais. Neste estudo não foram constatadas evidências para a diferença de desempenho
entre meninos e meninas. Além disso, MT, CI, FC estão correlacionadas num grau de
magnitude moderado. Além de estarem inter-relacionadas, observa-se que há relação das
FEs com a inteligência e a capacidade de atenção. Apesar da idade ser um fator preditivo
importante para as FEs, destaca-se que o ano escolar tem maior efeito sobre as FEs.
.
64
REFERÊNCIAS
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67
CAPÍTULO 3
ANÁLISE MULTIDIMENSIONAL DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS
NA INFÂNCIA
69
RESUMO
Funções executivas é um termo que abrange diversos componentes, dentre eles estão os
mais básicos: memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva. O
objetivo deste estudo é analisar a organização estrutural das funções executivas (CI, MT,
FC) na infância. Parte-se da hipótese de que no início da infância as funções executivas
apresentam uma estrutura unifatorial. Com o avançar do desenvolvimento infantil, a
organização das funções executivas se modifica para uma estrutura bifatorial, ao término
da adolescência a estrutura modifica-se para trifatorial. Participaram deste estudo: 120
crianças de ambos os sexos, entre 7 e 11 anos, com idade média de 8,96 anos (dp = 1,42).
Sendo 47,5% do sexo masculino. As crianças foram distribuídas em cinco grupos,
correspondentes a suas idades, cada grupo com em média 20 crianças. Foram utilizados
os seguintes instrumentos: questionário sóciodemográfico, matrizes progressivas de
Raven, teste de atenção por cancelamento, dígitos ordem direta e indireta, teste de cinco
dígitos, teste de trilhas, stroop versão victória. Foi utilizado o software SPSS para efetuar
as análises descritivas (médias, desvios-padrão, frequências, porcentagens) e análise
inferencial: Manova. Foi utilizado o RStudio para realizar da análise confirmatória
exploratória (AFC). Como resultados principais destaca-se que as crianças mais velhas
apresentam melhores índices de funções executivas. Começa-se a perceber diferenças de
desempenho a partir dos 8 anos. Para a amostra o modelo estrutural de melhor índice foi
bifatorial.
ABSTRACT
Executive functions is a term that covers several components, among which the most
basic are: working memory, inhibitory control and cognitive flexibility. The aim of this
study is to analyze the organization of executive functions (CI, MT, FC) in childhood. It
starts from the hypothesis that in early childhood executive functions will have a one-
factor structure. With or advancing in child development, an organization of executive
functions will change to a two-factor structure, by the end of adolescence the modified to
three-factor structure. Participated in this study: 120 children of both sexes, between 7
and 11 years old, with an average age of 8.96 years (sd = 1.42). Being 47.5% male. As
children were divided into five groups, corresponding to their ages, each group with an
average of 20 children. The following instruments were used: somiodemographic
questionnaire, Raven progressive matrices, cancellation attention test, direct and indirect
order digits, five-digit test, trail test and victorious version. SPSS software was used to
perform descriptive analyzes (media, standard deviations, frequencies, percentages) and
inferential analyzes: Manova. We used either the RStudio to perform exploratory
confirmatory analysis (CFA). As the main results are displayed as older children have the
best rates of executive functions. You start to notice performance differences from the
age of 8. For a sample or structural model of the best index, it was bifactorial.
INTRODUÇÃO
O termo funções executivas (FEs) refere-se ao conjunto de processos mentais
complexos que são primordiais para o sucesso em várias áreas da vida como: manejo da
saúde, desempenho acadêmico, desenvolvimento sócio cognitivo (Diamond, 2013).
Os componentes básicos das FEs são: controle inibitório ou inibição (CI);
memória de trabalho (MT) e flexibilidade cognitiva (FC) (Lehto et al. 2003, Miyake et
al. 2000; Diamond, 2013). A inibição diz respeito ao autocontrole comportamental,
controle de interferências externas (atenção seletiva) e internas (cognitiva). A memória
de trabalho refere-se a capacidade de reter e manipular a informação num determinado
período de tempo. A flexibilidade cognitiva remete-se a capacidade de mudança, alternar
regras, tarefas.
Inúmeros estudos (Leon, et al., 2018; Brydges et al., 2014; Xu et al., 2013; Hughes
et al., 2009, dentre outros) apresentam evidências acerca da estruturação das funções
executivas durante a infância. Percebe-se que há diferenças na estrutura dos componentes
das funções executivas durante a infância. No entanto, não há consenso entre os estudos
sobre o modelo estrutural que predomina para cada idade.
Alguns modelos estruturais já foram analisados (Xu, et al., 2013):
Um único fator: três fatores (MT, CI, FC) indistinguíveis;
De dois fatores:
o CI e FC indistinguíveis e MT distinta
o FC e MT indistinguíveis e CI distinto
o CI e MT indistinguíveis e FC distinto
Três fatores distintos mas correlatos (MT, CI, FC).
Os estudos que analisaram esta questão acerca das FEs não convergem para um
consenso, as evidências são variadas, e nota-se algumas diferenças significativas. De
acordo com Hughes et al (2009), crianças entre 4 e 6 anos apresentam estrutura de
funções executivas unifatorial, ou seja, não são distintas e sim indistinguíveis. A partir
dos sete anos a memória de trabalho e a flexibilidade cognitiva se distinguem, e tal
distinção persiste até a idade adulta (Huizinga, et al, 2006), apresentando assim uma
estrutura bifatorial. Em contrapartida, para St Clair Thompson (2006) e Brydges, et al
(2014), afirmam que a estrutura bifatorial ocorre aos nove anos, sendo distinguíveis os
fatores inibição e memória de trabalho. Observa-se que há progressão de estrutura de
fatores conforme o avançar da idade, havendo a evidência de uma estrutura unifatorial até
os nove anos.
72
Estudos (Shing, et al, 2010; Xu, et al, 2013; Pureza, et al, 2013) concluem que a
estrutura das funções executivas muda de forma gradual no decorrer do desenvolvimento.
Sendo assim, este estudo parte da hipótese que no início da infância as funções
executivas apresentam uma estrutura unifatorial, provavelmente esta organização
permaneça até os nove anos de idade. Com o avançar do desenvolvimento infantil, a
organização das funções executivas se modifica para uma estrutura bifatorial. Espera-se
que na faixa etária correspondente ao final da adolescência a estrutura das funções
executivas seja organizada de forma multifatorial. Deste modo, o objetivo principal deste
trabalho é analisar a organização estrutural das funções executivas (CI, MT, FC) entre
sete e onze anos de idade.
MÉTODO
Tabela 18. Modelos estruturais das funções executivas a serem testados (MT:
memória de trabalho, CI: controle inibitório, FC: flexibilidade cognitiva).
Modelos estruturais das funções executivas (Xu, et al, 2013)
1. Três fatores tores Três componentes distintos, mas correlatos
2. Único fator Três componentes sem distinção.
Dois fatores
3. Fator 1:MT MT distinta; CI e FC não se diferenciam
Fator 2: CI + FC
4. Fator 1: CI CI distinto; FC e MT não se diferenciam
Fator 2: MT FC
5. Fator 1: FC FC distinto, CI e MT não se diferenciam
Fator 2: CI+MT
Tabela 19. Distribuição de matrículas por ano escolar no município de João Pessoa,
PB por tipo de escola.
Tipo de escola
Ano escolar Pública Particular
1º 3.563 4.627
% do total 13,2
2º 3.707 4.297
% do total 13,7
3º 4.914 4.281
% do total 18,2
4º 4.660 4.126
% do total 17,3
5º 4.546 4.027
% do total 16,8
6º 5.582 3.800
% do total 20,7
Total 26.972 25.158
% total 100
Amostra
A amostra da pesquisa será selecionada conforme a técnica de amostragem por
conveniência. O tamanho da amostra fora escolhido de acordo com as indicações de
Comrey & Lee (1992), que classificam pelo menos 200 participantes como razoáveis.
Serão critérios de elegibilidade da amostra:
Crianças entre 7 e 11 anos e 11 meses;
Ambos os sexos;
Regularmente matriculados;
Assíduos;
com déficits sensoriais ou físicos não corrigidos;
que não apresente distorção série-idade;
sem laudos neurológicos;
transtornos de aprendizagem;
sintomas de TDAH;
escore abaixo do esperado nos testes de inteligência e atenção.
A amostra contou com 120 crianças, que foram divididas em cinco grupos de
idade (7 a 11 anos), a média de idade foi 8,96 anos (dp = 1,42). Todos estudantes assíduos
da rede municipal de ensino da cidade de João Pessoa – PB
75
Instrumentos
Questionário sócio demográfico: Questionário de fácil aplicação, com questões
objetivas de múltipla escolha, de fácil e rápido manejo. Conterá questões que
possibilitarão caracterizar os participantes, quanto a idade, sexo, dificuldades de
aprendizagem, sintomas para TDAH, além de determinar seu nível socioeconômico.
Matrizes Progressivas Coloridas de Raven – Escala Especial (MPCR): Aplicada a
faixa etária de 5 a 11 anos. Constituída por três séries de 12 itens: A, Ab e B. Os itens são
distribuídos em ordem crescente de dificuldade, onde a série posterior é mais difícil que
a anterior. Cada série é iniciada com itens fáceis, objetivando introduzir o individuo a um
novo tipo de raciocínio, que será exigido nos itens seguintes. Todos os itens consistem
por uma matriz ou desenho com uma parte em falta, abaixo do mesmo apresenta-se seis
alternativas distintas, sendo que apenas uma completa o espaço em branco. O individuo
precisa escolher uma das seis alternativas. A intenção do MPCR é analisar um dos
76
Teste de Cinco Dígitos: (Five Digits Test – FDT, Sedó, 2014) tem objetivo de
avaliar a velocidade do processamento, atenção e funções executivas (controle inibitório
e flexibilidade cognitiva). Trata-se de um instrumento não verbal, de aplicação individual,
que contempla a faixa etária de 6 a 92 anos de idade.
O FDT é uma tarefa numérica dividida em quatro etapas: leitura, contagem,
escolha e alternância. Em suma, as duas primeiras etapas do FDT envolvem
processamento atencional automático e velocidade do processamento. A terceira e quarta
etapa demanda processamento atencional controlado e fluidez verbal, envolvendo
funções executivas (controle inibitório e flexibilidade cognitiva). Para análise do
instrumento computa-se o tempo de reação da tarefa, erros cometidos, bem como os
escores de interferência (subtração do tempo de leitura, do tempo de escolha, e este do
tempo de alternância, dando origem aos escores de inibição e flexibilidade cognitiva)
(Oliveira et al., 2014).
Teste de trilhas (TT): O teste de trilhas parte A e B, avalia a atenção alternada e a
flexibilidade cognitiva. O teste é composto por duas partes. A parte A é composta por
duas folhas, uma para letras e outra para números. Ambas as folhas apresentam 12 letras
ou 12 números de A a M e de 1 a 12), dispostos aleatoriamente. O examinando deve ligar
as letras em ordem alfabética e os números em ordem crescente. A parte B, consiste em
letras e números randomicamente dispostos na folha. O examinando deve ligar os itens
em sequências alfabética e numérica. O instrumento computa 3 escores: (1) corresponde
a sequência, (2) corresponde às conexões e (3) escore total que corresponde à soma dos
outros dois (Montiel & Seabra, 2012).
Stroop versão victória: tem por objetivo avaliar o controle inibitório. É composto
por composto por 3 cartões, tamanho 12 cm x 20 cm (altura x largura), todos com 24
estímulos, nas cores verde, azul, vermelho ou amarelo. Os estímulos ficam dispostos em
4 colunas, com intervalo de 1,5 cm entre elas, e 6 linhas, intervalo de 1 cm (Ribeiro,
2011).
É composto por três cartões com retângulos impressos em cores padrão: verde,
vermelho, azul e amarelo. No primeiro cartão são apresentados retângulos nas cores
verde, azul, vermelho e amarelo. No segundo há palavras “cada, nada, nunca, tudo”
impressas nas cores verde, vermelho, azul e amarelo. O último cartão é composto por
nomes das cores “amarelo, verde, vermelho, azul” impressos em cores diferentes (ex:
“amarelo”, impresso em azul). A instrução para todos os cartões é a mesma, a criança
deve nomear rapidamente as cores. No primeiro e segundo cartão a criança deve nomear
78
rapidamente as cores dos retângulos e das palavras. No terceiro cartão, onde é observado
o efeito Stroop, a criança deve nomear as cores em que as palavras foram impressas, e
inibir a resposta prepotente de ler o nome das cores.
Durante toda a aplicação se registra o tempo de resposta cada cartão apresentado.
Calcula-se o efeito de interferência subtraindo o tempo de resposta do terceiro cartão pelo
tempo de resposta do segundo cartão (STRAUSS et al., 2006)
Procedimentos éticos
Os procedimentos éticos foram baseados nas diretrizes da resolução nº 466/12 do
Conselho Nacional de Saúde/MS e suas Complementares, outorgada em 13 de Junho de
2013. Com finalidade de assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade
científica, ao(s) sujeito(s) da pesquisa e ao Estado, e a Resolução/UFPB/CONSEPE.
Vale salientar que este estudo faz parte de um projeto de pesquisa “guarda-chuva”,
intitulado Funções Executivas na Infância, que foi apreciado e aprovado pelo comitê de
80
RESULTADOS
As análises post hoc revelaram que não há diferenças entre os pares de grupos
para a tarefa de stroop. Nem mesmo entre os grupos de idade extremos (7 e 11 anos).
Divergente do que é observado na medida de controle inibitório do FDT, onde evidencia-
se diferenças significativas a a partir dos 8 anos. O teste de dígitos não apresenta
diferenças de desempenho a partir dos 9 anos.
DISCUSSÃO
O presente estudo teve como objetivo analisar a organização estrutural das
funções executivas (CI, MT, FC) na infância. Logo, foi administrada uma bateria de
instrumentos que mensuravam memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade
cognitiva, em uma amostra de crianças entre sete e onze anos.
Os resultados da análise fatorial confirmatória indicaram que de forma global os
melhores modelos que caracterizam a estrutura fatorial das FEs em crianças entre 7 e 11
anos é o modelo bifatorial, com os seguintes fatores:
1. Flexiblidade cognitiva
2. Controle inibitório e Memória de trabalho indistinguível (FC e CI +MT).
Os resultados da análise fatorial confirmatória entre as faixas etárias indicaram
que com a progressão da idade que não há diferenças de estrutura das funções executivas
entre as idades, mantendo-se o mesmo achado para a amostra total.
A maioria dos estudos que analisaram a estrutura fatorial das funções executivas
encontraram uma estrutura de dois fatores (Lee, et al. 2013; Huizinga, et al. 2006;
Monette et al 2015). No entanto, a configuração das estruturas bifatoriais encontradas
divergem entre os estudos.
A estrutura bifatorial composta pelos fatores flexibilidade cognitiva e controle
inibitório indistinguível da memória de trabalho (FC e CI + MT) comprovada neste
estudo, é semelhante a outros estudos que analisaram, respectivamente a estrutura das
FEs em crianças de 6 e 7 anos (ven Der vem, et al. 2012); pré-escolares (Monette et al.
2015) e crianças de 11 e 12 anos (St Clair Thompson et al. 2006).
Geralmente a MT e a CI são suporte um do outro e por isto co-ocorrem. A MT é
base para CI visto que para agir em oposição a uma tendência inicial é necessário manter
e articular com as informações na mente, analisando se elas são apropriadas e o que deve
ser inibido. Articulando a memória de trabalho é provável que se diminua a probabilidade
de um erro inibitório (Diamond, 2013).
O controle inibitório também pode ajudar MT: 1) ajudando a impedir confusões
nas representações mentais, suprimindo pensamentos (ou seja, excluindo informações
irrelevantes do espaço de trabalho da MT); 2) resistindo à interferência proativa,
excluindo informações não relevantes do espaço de trabalho com capacidade limitada
(Zacks & Hasher 2006).
No entanto, os resultados referentes à análise fatorial confirmatória deste trabalho
diferem de outros estudos, que apesar de evidenciarem uma estrutura bifatorial divergem
86
quanto aos fatores que emergiram. Alguns estudos verificaram dois fatores: memória de
trabalho e controle inibitório, ao avaliarem crianças entre 6 e 13 anos (Brocki & Bohlin,
2004); pré escolares (Usai et al 2013); e aos 10 anos (Brydges et al 2014).
Outros estudos averiguaram a estrutura bifatorial com os fatores: memória de
trabalho e flexibilidade cognitiva, ao analisar crianças entre 9 e 12 anos (van der Sluis et
al 2007), e entre 7 e 11 anos (Huizinga, et al. 2006).
Demais estudos, constataram estrutura unifatorial das funções executivas durante
a infância, mas para diversas faixas etárias, como Brydges et al 2014 ao analisar crianças
entre 8 e 9 anos, Brydges et al 2012 ao analisar crianças entre 7 e 9 anos, Xu et al 2013
ao analisar crianças entre 7 e 13 anos, e Wiebe et al 2011 ao analisar crianças aos 3 anos.
A estrutura trifatorial, que distingue os fatores memória de trabalho, controle
inibitório e flexibilidade cognitiva, semelhante a encontrada em Miyake, et al (2000) é
verificada ao fim da infância e na adolescência (Xu et al 2013, Lehto et al 2003, Lee et al
2013, Huizinga et al. 2006).
Estudos longitudinais, indicam para uma mudança na estrutura dos fatores durante
a infância. O que revela o desenvolvimento das funções executivas, visto que no inicio
da infância observa-se uma estrutura unifatorial, e ao término da infância estrutura
trifatorial (Lee et al 2013; Xu et al 2013; Brydges et al 2014).
Alguns estudos refletem essas diferenças nos achados científicos devido as tarefas
e métodos utilizados nas investigações. Devido a impureza das tarefas e a variedade de
métodos os resultados seriam diversos e discordantes (van Der Sluis et al 2007; ven Der
ven et al 2012). Outros estudos associam esses achados aos aspectos neurofisiológicos
subjacente as funções executivas (Monette et al 2015).
Sabe-se que o desempenho em FEs está estreitamente associado ao funcionamento
do córtex pré-frontal (CPF), assim como o seu desenvolvimento está diretamente
associado ao desenvolvimento do CPF (Garon, 2008). Após os 11 anos o CPF passa por
mudanças a nível estrutural e funcional. Alguns estudos de neuroimagem demonstraram
que a massa cinzenta no CPF aumenta ao longo da infância obtendo seu tamanho limite
aos 12 anos. Funcionalmente o CPF se ativa a partir de demandas executivas entre 9 e 12
anos (Durston, et al. 2006). Provavelmente, estas mudanças que o CPF sofre estão
relacionadas as mudanças estruturais das FEs, no que diz respeito a separabilidade dos
três componentes básicos (MT, CI, FC).
87
Considerações Finais
Este estudo teve como objetivo analisar a organização estrutural das funções
executivas (CI, MT, FC) em crianças entre 7 e 11 anos. Os resultados da análise fatorial
confirmatória revelaram que o modelo estrutural para esta faixa etária é o bifatorial onde
distingue-se flexibilidade cognitiva e controle inibitório. Ressalta-se que o fator controle
inibitório apresenta-se como indistinguível da memória de trabalho. Revelando deste
modo o suporte mútuo entre CI e FC.
88
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90
CAPÍTULO IV
CONCLUSÃO GERAL
91
têm característica multifatorial, onde além dos componentes básicos, são identificados
outros componentes considerados mais complexos, como raciocínio e planejamento.
Mas diante a diversidade de achados que a literatura com este estudo constata que
crianças de sete a onze anos tem estrutura bifatorial das funções executivas, sendo esta
composta por FC e CI. Onde a memória de trabalho passa a dar suporte à inibição. Além
do mais, o nível de escolaridade da criança tem influência preponderante no
desenvolvimento das FEs. Os estudos que tratam da avaliação estrutural das FEs na
infância consideram a idade. No presente estudo observou-se que a série tem um valor
preditor maior do que idade. Pode ser possível que esta variabilidade de evidências que
culminam numa discordância científica sejam decorrentes diferenças sociais, dentre elas
a escolaridade.
A habilidade de atenção seletiva tem importante influência sobre o desempenho
de FEs, neste estudo este fato foi comprovado. Tendo em vista a importância da
capacidade de atenção sobre as FEs, é possível que ela interfira no seu desenvolvimento
estrutural. Estudos como os de Stedron et al. 2005 demonstram que bom desempenho em
atenção seletiva pode ocasionar melhorias na MT.
Uma limitação importante neste estudo foi a origem da amostra. Os pesquisadores
não obtiveram acesso a escolas particulares. E a coleta de dados precisou limitar-se as
escolas públicas, sendo a maioria dos estudantes advindos de baixo nível socioeconômico
e com certo risco de vulnerabilidade.
Alguns estudos apresentam dados referentes ao nível socioeconômico e o
desenvolvimento das FEs, revelando assim, uma influência negativa do primeiro para
com o segundo, especialmente para memória de trabalho e controle inibitório. A maioria
das crianças que foram avaliadas neste estudo, apesar de consideradas dentro do
desenvolvimento típico, obtiveram certa dificuldade na tarefa de Stroop. Provavelmente
devido ao seu caráter verbal, observado através da utilização de palavras e,
consequentemente, exigir a leitura automatizada.
Os dados que foram apresentados neste estudo são imprescindíveis para
compreensão do desenvolvimento das funções executivas. Principalmente por haver
grande discordância sobre este aspecto das FEs. A partir do entendimento de como este
construto muda durante a infância se é capaz de estabelecer formas de avaliação mais
adequadas.
Observou-se nesse estudo uma limitação significativa dos participantes na tarefa
de Stroop, devido a sua característica verbal. A maioria das crianças, apesar de
93
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99
ANEXOS
Universidade Federal da Paraíba 102
Centro de Educação
E-mail: nesmep.ufpb@gmail.com
Esta pesquisa é sobre Funções executivas na infância e está sendo desenvolvida por
Émille Burity Dias aluna de doutorado do programa de pos graduação em neurociência cognitiva
e comportamento da Universidade Federal da Paraíba, sob a orientação do(a) Prof.(a) Carla
Alexandra Da S. Moita Minervino.
O objetivo do estudo é analisar a relação entre os componentes das funções
executivas (Memória de Trabalho, Controle Inibitório e Flexibilidade Cognitiva. A finalidade
deste trabalho é contribuir para comunidade científica, permitir o acesso, estimular troca de ideias
e opiniões referentes à comunidade acadêmica ou não acadêmica sobre o desenvolvimento das
funções executivas na infância.
Solicitamos a sua colaboração para responder algumas atividades, dentro de 30 minutos,
como também sua autorização para apresentar os resultados deste estudo em eventos da área de
saúde e publicar em revista científica nacional e/ou internacional. Por ocasião da publicação dos
resultados, seu nome será mantido em sigilo absoluto. Informamos que essa pesquisa não
apresenta riscos!
Esclarecemos que sua participação no estudo é voluntária e, portanto, você não é obrigado
(a) a fornecer as informações e/ou colaborar com as atividades solicitadas pelo Pesquisador (a).
Caso decida não participar do estudo, ou resolver a qualquer momento desistir do mesmo, não
sofrerá nenhum dano, nem haverá modificação na assistência que vem recebendo na Instituição
(se for o caso). Os pesquisadores estarão a sua disposição para qualquer esclarecimento que
considere necessário em qualquer etapa da pesquisa.
______________________________________
Assinatura do (a) pesquisador (a)
aconteça. Os pesquisadores tiraram minhas dúvidas e conversaram com os meus pais e/ou
responsáveis. Li e concordo em participar como voluntário da pesquisa descrita acima. Estou
ciente que meu pai e/ou responsável receberá uma via deste documento.
Impressão dactiloscópica
__________________________________
Assinatura do participante (menor de idade)
Caso necessite de maiores informações sobre o presente estudo, favor ligar para o (a) pesquisador (a)
Émille Dias Telefone 83 981621078 ou para o Comitê de Ética do Hospital Universitário Lauro
Wanderley -Endereço: Hospital Universitário Lauro Wanderley-HULW – 2º andar. Cidade Universitária.
Bairro: Castelo Branco – João Pessoa - PB. CEP: 58059-900. E-
mail:comitedeetica.hulw2018@gmail.com - Campus I– Fone: 32160-7964
104
Data da aplicação
Parte 1 (questionário, tac, raven)
Parte 2 (digit span, letras e números, fdt, tt, stroop)
105
Modelo Unifatorial
Modelo trifatorial
107
Modelo bifatorial 1
Modelo bifactor