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ARQUEOLOGIA
RIO DE JANEIRO
2022
INTRODUÇÃO
AS REFORMAS DE SÓLON
Dentro das reformas de Sólon, temos a criação da Bulé e da Eclésia. A Bulé era
um conselho de magistrados, escolhidos por sorteio, que se reuniam para organizar as
leis que seriam votadas na Eclésia. Os magistrados que faziam parte da Bulé recebiam o
nome de pritanes2 e obtinham o pagamento de seis óbolos3 diários. Posteriormente,
veremos algumas reformas importantes na Bulé feitas por Clístenes. Já a Eclésia era a
assembleia de cidadãos atenienses e tinha o poder de decidir se as leis feitas na Bulé
seriam impostas ou não, ou seja, a Eclésia tinha um poder deliberativo muito parecido
1
Timocrata é um agente social importante em uma Timocracia. A Timocracia é um sistema de governo
em que apenas os ricos governam.
2
Pritanes era um magistrado de um demo. Os pritanes formavam o Conselho dos Quinhentos em
Atenas.
3
Óbolo era uma unidade de massa usada na Grécia Antiga e correspondia a cerca de 0,5 gramas. Esta
medida de peso era utilizada para medir a quantidade de metais preciosos em uma moeda. Por este
motivo, o óbolo acabou se tornando uma moeda de valor baixo, quase insignificante, já que o óbolo
correspondia à sexta parte de uma dracma, pesando 0,5 gramas de prata. Este “salário” da Bulé era mais
simbólico do que efetivo na vida de um pritane.
com o Congresso e com o Senado na atual democracia ocidental. No livro Origins of
Democracy in Ancient Greece, dos autores Kurt A. Raaflaub, Josiah Ober, Robert W.
Wallace, Paul Cartledge e Cynthia Farrar, podemos ler como a Bulé e a Eclésia
funcionavam:
Sólon, também, encerrou a prática de escravidão por dívidas, algo que ampliou o
número de cidadãos atenienses, já que diminuiu o número de escravos que perdiam sua
cidadania e humanidade e passavam a ser “coisas”. Outra parte fundamental da Reforma
de Sólon foi o indulto das dívidas pendentes da época que beneficiou os devedores
atenienses. Entretanto, mesmo que as Reformas de Sólon sejam mais democráticas do
que o regime timocrata anterior, Sólon não formulou sozinho a Democracia Ateniense
stricto sensu, já que o legislador helênico manteve o voto censitário, excluindo os mais
pobres das questões políticas e sociais de Atenas. O livro Grécia e Roma, de Pedro
Paulo Funari, explica como se deram as Reformas de Sólon:
4
To mention only the most obvious elements, the assembly (ekklesia) met at least forty times a year.
For some of these meetings, items on the agenda were prescribed (44–46). The presidents of the
assembly and council were selected by lot and essentially could not serve for more than one day (44).
The democratic “council of 500” (boule)—to be distinguished from the Areopagus council composed of
former magistrates (archons) who were life-long members—was selected by lot; its five hundred
members, limited to two (nonsuccessive) years of service, represented, according to a sophisticated
formula, the population of numerous districts in Attica.
cidadãos pobres e acabou com o sistema de escravidão por endividamento,
segundo o qual os atenienses pobres deviam pagar suas dívidas com o trabalho
escravo. Sólon conferiu mais poderes à assembleia popular dos cidadãos
(Eclésia) e vinculou os direitos políticos às fortunas e não mais aos privilégios
de sangue ou às ligações familiares. Se, por um lado, somente os cidadãos mais
ricos podiam se tornar arcontes, por outro, todos os cidadãos passaram a ter
direito de participar da Eclésia. Sólon instituiu também um novo conselho, a
Bulé, e um tribunal popular (mais tarde, no século v a.C., estas instituições, que
no começo não eram tão importantes, irão se sobrepor ao poder dos arcontes e
do aerópago) fazendo com que Atenas caminhasse mais alguns passos em
direção à futura democracia. (FUNARI, 2002, p. 33-34)
Sem dúvida, era necessário entregar ao povo, como fez Sólon, a nomeação e a
censura dos magistrados, sem o que ele seria escravo e, conseqüentemente,
inimigo do Estado. Mas Sólon quis ao mesmo tempo que os magistrados
fossem escolhidos dentre os nobres e os ricos: aqueles que possuíssem
quinhentos medinos de renda`, os que podiam alimentar um par de bois, ou
zeugitas, e enfim os cavaleiros, que formavam a terceira classe. A quarta
classe, composta de trabalhadores manuais, não tinha acesso a nenhuma
magistratura. (ARISTÓTELES, 2001, p. 205)
AS REFORMAS DE CLÍSTENES
A exclusão dos mais pobres pelo voto censitário trouxe instabilidade em Atenas.
Esta crise política na pólis grega só foi resolvida por Clístenes e por suas reformas, que
foram baseadas nas Reformas de Sólon.
Podemos afirmar que Clístenes pretendia romper com o antigo sistema baseado
na origem regional ou familiar, tornando-se cidadão do demos todo indivíduo
que residia naquela circunscrição, assumindo um o nome do demos a que
pertencia, sendo este um novo fator de identificação. (GONÇALVES, 2005,
p.20-21)
A principal mudança nas Reformas de Clístenes, que mais se diferenciou em
relação às Reformas de Sólon, foi o fim do voto censitário, portanto, a partir das
Reformas de Clístenes, qualquer homem livre, nascido em Atenas, filho de pais
atenienses, poderia participar da vida pública ateniense. Nas Reformas Políticas de
Clístenes, a democracia era direta, ou seja, todos os considerados cidadãos tinham o
direito de participar da Eclésia e todos os cidadãos podiam tomar decisões importantes
na pólis, caso participassem das assembleias. Entretanto, a democracia ateniense não era
praticada por mulheres, já que não eram consideradas cidadãs da cidade-estado, e,
também, entendia-se que somente nascidos de mães e pais atenienses eram cidadãos.
Menores de dezoito anos também não eram considerados membros ativos na
democracia ateniense. Funari nos mostra como funcionava a democracia em Atenas:
Atenas, portanto, se torna para os cidadãos da Ática o que Marc Augé chama de
Lugar-Identitário, ou seja, o demo na Ática é o conjunto de possibilidades, prescrições e
proibições que se formam graças ao contexto social e espacial. Neste entendimento,
todos são regidos pelas leis de Atenas, já que todos são atenienses. Vejamos o que diz
Augé sobre isto:
Esses lugares têm pelo menos três características comuns. Eles se pretendem
(pretendem-nos) identitários, relacionais e históricos. O projeto da casa, as
regras da residência, os guardiões da aldeia, os altares, as praças públicas, o
recorte das terras correspondem para cada um a um conjunto de possibilidades,
prescrições e proibições cujo conteúdo é, ao mesmo tempo, espacial e social.
Nascer é nascer num lugar, ser designado à residência. Nesse sentido, o lugar
de nascimento é constitutivo da identidade individual e acontece, na África, de
a criança nascida por acidente fora da aldeia receber um nome particular
emprestado de um elemento da paisagem que a viu nascer. (AUGÉ, 1994, p.36)
Portanto, para entender a questão da cidadania ateniense, é importante
compreender como os helênicos da Ática se relacionavam de forma espacial e
relacional, como dito por Marc Augé. Os povos da Ática não se viam como gregos ou
pertencentes de uma família, mas cidadãos de seu demo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIA
ARISTÓTELES. Política. Trad. Torrieri Guimarães. São Paulo: Editora Martin Claret,
2001.
BARROS, Gilda Naécia Maciel de. Sólon de Atenas: A cidadania antiga. 2.ed. – São
Paulo, Universidade de São Paulo, 2020.
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma - 2 cd. São Paulo, Contexto, 2002.
RAAFLAUB; Kurt A.; OBER Josiah; WALLACE, Robert W.; CARTLEDGE, Paul;
FARRAR, Cynthia. Origins of Democracy in Ancient Greece. Berkeley, University of
California Press, 2007.