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Resumo: Pedro Malasartes e os paradoxos da malandragem

O Sexto Capítulo inicia explicando que o verdadeiro estudo social se dá através


da elaboração dos dramas sociais e pela invenção dos seus atores.
O autor cita a construção de John Doe personagem americano dos filmes de
Frank Capra dos anos 30 como a idealização do cidadão perfeito, que só funciona
dentro de um universo individualista, cujo centro é a dignificação do padrão igualitário.
A realidade dos super-heróis americanos perpassa essa dicotomia de que por
mais que se tenha uma figura exemplar, ela age através de uma dupla personalidade
sujeita às regras como todos os outros.
No Brasil, o personagem nunca deve ser o homem comum, e sim uma persona
um pouco trágica, cheia de peripécias e desmascaramento. A narrativa tem como base o
conto de enriquecimento e ascensão social violenta e irremediável do herói. Sem família
e só no mundo traz à tona a oposição básica entre casa e rua (ou família e mundo), vive
o mundo da rua que é cruel e exige luta, mas por marca de nascença ou característica
pessoal conserva uma inteligência e nobreza intrínsecas. Essa separação radical entre o
passado e o futuro do personagem na realidade acaba por atar o cumprimento de seu
destino com seu drama pregresso, o qual o autor compara com a realidade do Brasil país
do futuro e da esperança na medida em que é profundamente atado ao passado.
Elenca um triângulo de dramatizações da identidade social do brasileiro,
podendo ser ao mesmo tempo Branco colonizador e civilizador, o Negro que corporifica
a escravidão e exploração de trabalho, e Índio dono original da terra marcado por amor
à liberdade e à natureza:

Ainda propõe classificar as figuras heroicas dentro das mesmas esferas


dramáticas, temos, portanto, a figura do Caxias, do Malandro e do Renunciador:

Finalmente apresenta Pedro Malasartes como ícone de malandro e de todas as


espertezas de que um homem é capaz e partindo da origem para explicar o personagem:
Temos aí a presença das relações de complementaridade entre família pobre e
fazendeiro rico mediada por um contrato de trabalho impessoal e injusto que favorece a
exploração por parte do fazendeiro e configura um ponto chave da narrativa, pois
esvazia João de todo seu peso e força moral (que perde uma tira de couro para o patrão),
tornando-o um mero indivíduo, o que impede sua reclamação, indignação moral e
consequentemente sua vingança, conclui-se que o trabalho puro e simples não pode ser
tomado como mediador perfeito entre riqueza e pobreza.
Paralelamente, a vadiagem e a astúcia podem ser traduzidas com a recusa de
participar socialmente com a força de trabalho, é um modo de usar as regras vigentes na
ordem em proveito próprio, mas sem destruí-las. Retomando o fio da narrativa:

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