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VALORIZAÇÃO DA

CADEIA PRODUTIVA

Li
DO LÍTIO
Alternativas sustentáveis para
extração de lítio do espodumênio

Leonardo Leandro dos Santos


Lindiane Bieseki
Luiz Carlos Bertolino
Manuela Silva Martins de Oliveira
Rubens Maribondo
Sibele Berenice Castellã Pergher
Victor Matheus Joaquim Salgado Campos
Werlem Holanda dos Santos
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José Daniel Diniz Melo
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Coordenador Editorial
José Correia Torres Neto
Gestão do Fluxo de Revisão
Edineide Marques
SOBRE OS AUTORES

Leonardo Leandro dos Santos


Químico Industrial pela UFPB (2011), Mestre em Ciência e
Engenharia de Materiais pela UFPB (2014) e Doutor em Ciência
e Engenharia de Materiais pela UFRN com estágio doutoral
na UPV/ITQ na Espanha (2018). Possui experiência nas áreas
de Química e de Engenharia de Materiais, com expertise em
métodos de química teórica e modelagem molecular, síntese de
materiais porosos avançados, processos de adsorção e catálise,
hidrogenação de CO2, processamento de materiais cerâmicos,
extração de lítio, pirometalurgia, compósitos zeólita/metal e
revalorização de resíduos industriais.

Lindiane Bieseki
Possui graduação em Química com licenciatura pela URI-Campus
Erechim (2005), mestrado e doutorado em Ciência e Engenharia
de Materiais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
– UFRN (2012 e 2016). Atualmente é pesquisadora visitante no
LABPEMOL (UFRN). Atua principalmente nos seguintes tópicos:
tratamentos ácidos e pilarização de argilas, síntese de zeólitas,
com ênfase em sua obtenção através de fontes naturais e resíduos
contendo silício e alumínio em suas composições.

Luiz Carlos Bertolino


Possui graduação e mestrado em Geologia pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro - UFRJ (1990 e 1994), doutorado em
Engenharia de Materiais e de Processos Químicos e Metalúrgicos
pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro –
PUC-RJ (2000) e pós-doutorado na Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa (2014). Atualmente é Tecnologista Sênior
do Centro de Tecnologia Mineral (CETEM-MCTIC), Professor
Adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Manuela Silva Martins de Oliveira


Possui graduação em Química do Petróleo pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte - UFRN (2013), capacitação
em Fluidos de Perfuração, Completação e Estimulação pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2014) e mestrado
em Química também pela mesma universidade (UFRN – 2016).
Atualmente cursa Química Licenciatura (UFRN), além do douto-
rado em Química (UFRN).

Rubens Maribondo do Nascimento


Possui graduação em Engenharia Mecânica pela UFRN (1995),
mestrado em Engenharia Mecânica pela UFSC (1997) e doutorado
em Ciência e Engenharia de Materiais pela UFSC com estágio
doutoral na RWTH-Aachen na Alemanha (2001). Atualmente é
professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Tem experiência na área de Engenharia Mecânica e de Engenharia
de Materiais e Metalúrgica, com ênfase em Uniões Metal Cerâmica,
atuando principalmente nos seguintes temas: uniões, metalurgia
do pó, cerâmica, compósitos e células a combustível.

Sibele Pergher
Engenheira Química (UFRGS- 1990). Mestre em Engenharia
Química (UEM- 1993), Doutora em Química (UPV/ITQ- Espanha
– 1997). Trabalhou na UFRGS (1998 – 2001) e URI - Erechim (2001-
2010). Atualmente, é professora e pesquisadora (desde 2010) da
UFRN. É diretora da Sociedade Brasileira de Catálise - SBCat,
faz parte da Comissão de Síntese da IZA, representa o Brasil na
FISOCAT e IACS. É coordenadora e fundadora do LABPEMOL.
Suas linhas de pesquisa são: síntese de catalisadores, zeólitas,
argilas, materiais mesoporosos, materiais lamelares, pilari-
zados e deslaminados, processos de adsorção e catálise.

Victor Matheus Joaquim Salgado Campos


Graduado em Geologia pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro- UERJ (2018). É vinculado ao Centro de Tecnologia
Mineral (CETEM-MCTIC) desde 2013, onde foi bolsista de
iniciação científica e estagiário. Atualmente, é aluno de
mestrado no Programa de Pós-graduação em Geologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.

Werlem Holanda dos Santos.


Possui graduação em Geologia pela Universidade do Estado do
Rio de Janeiro- UERJ (2011), mestrado e doutorado em Análise
de Bacias e Faixas Móveis pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro - UERJ (2014 e 2018). Atualmente, é Professor Adjunto
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12

1.1 VISÃO HISTÓRICA 14

1.2 FONTES E USOS 18

1.3 PANORAMA DA INDÚSTRIA DE LÍTIO NO BRASIL 24

1.4 TECNOLOGIA MINERAL NACIONAL 28

2 GEOQUÍMICA E MINERALOGIA 41

2.1 INTRODUÇÃO 41

2.2. MINERALOGIA 42
a) Espodumênio 43

b) Petalita 44

c) Lepidolita 45

d) Ambligonita 46

2.3. TIPOS DE DEPÓSITOS 46


a) Depósitos de lítio em pegmatitos 48

b) Depósitos de lítio em salmouras 52


3 RECURSOS E PRODUÇÃO 59

4 NOVAS PRÁTICAS 78

4.1 EXTRAÇÃO DO LÍTIO E REAPROVEITAMENTO 78


DO RESÍDUO
a) Síntese da zeólita de topologia LTA 79

b) Síntese da zeólita de topologia MOR 83

c) Síntese da zeólita de topologia EDI 90

4.2 ROTAS DE EXTRAÇÃO DO LÍTIO COM OBTENÇÃO 95


DE COPRODUTO(S) ZEOLÍTICO(S)
a) Coproduto zeolítico de topologia LTA 101

b) Coprodutos zeolíticos de topologias FAU (LTX e LTY) ou Na-MOR 114

c) Coproduto zeolítico de topologia MFI (ZSM-5) 133

5 TENDÊNCIAS E PESQUISAS FUTURAS 159

5.1 TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS E DESAFIOS


DE INOVAÇÃO 160

5.2 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL 164


APRESENTAÇÃO

Durante séculos, os metais serviram fielmente à humanidade


em diversos aspectos, contribuindo em desvendar alguns misté-
rios da natureza, na constituição de máquinas e instalações
poderosas. O mundo dos metais é amplo e versátil, ancorado
na gama de propriedades que eles possuem.
A história de alguns de seus representantes, notada-
mente cobre, ferro, chumbo, mercúrio, ouro, prata e estanho
remonta a milhares de anos atrás. Outros foram descobertos
em apenas algumas décadas recentes. O lítio é um dos mais
interessantes elementos que constituem pegmatitos de amplo
uso industrial, também encontrado em depósitos de salmouras.
Diversos pegmatitos, que contêm lítio, possuem concentrados
de diferentes minerais (isto é, são altamente zonados) de até
13 regiões maciças distintas, entre elas, 6 diferentes zonas
minerais de lítio; as demais zonas contêm outros elementos
raros, como tântalo, nióbio, estanho, tungstênio, césio e rubídio.
A formação dessas zonas características de lítio resultam,
presumidamente, de um magma lentamente resfriado com
impurezas sólidas, que permitem a cristalização inicial dos
compostos menos solúveis (silicatos de ferro e manganês),
favorecendo a nucleação de porções fundidas do tipo granítico,
contendo os silicatos de lítio mais solúveis e de baixo ponto
de fusão, bem como quaisquer metais raros que estiverem
presentes em baixas concentrações.
A maioria dos minerais oriundos dos pegmatitos de lítio
pode ser facilmente separada por técnicas de mineração seletiva
e de usinagem mineral convencional, muitas vezes permitindo
a recuperação de vários produtos, tornando a mineração e a
purificação de concentrados minerais de lítio relativamente
baratos, contribuindo para o uso direto em aplicações práticas:
cerâmicas, formulações de vidro e na produção de alumínio.
Ademais, o tamanho pequeno de seus íons, muitas vezes, favo-
rece o encaixe na estrutura molecular de outros compostos,
diminuindo, assim, o ponto de fusão no vidro e outros materiais
cerâmicos, barateando-os, aumentando sua resistência e redu-
zindo o coeficiente de expansão térmica (melhora a estabilidade
frente gradientes de temperatura).
A eletronegatividade do lítio é relativamente pequena,
o que lhe permite, ao reagir com outros elementos para
a formação de compostos, maior vazão elétrica por unidade
de massa e, portanto, preferível em baterias convencionais e
recarregáveis. Esse recurso reduz a sobretensão nas células
de alumínio (reduzindo os custos), fazendo de seu cátion
(Li+) o mais importante na constituição de graxas de alto
desempenho. Compostos orgânicos à base de lítio produzem
catalisadores ativos, e o carbonato ou acetato são drogas
psiquiátricas poderosas. Também possui uma ampla variedade
de outras aplicações.
No que diz respeito a este livro, ele revisa a geologia,
a mineração, o processamento, os usos, as estatísticas do
mercado nacional e internacional, os dados químicos e as
propriedades físicas que envolvem o lítio. Foi elaborado a partir
da pesquisa para o desenvolvimento e a inovação em tecnolo-
gias aplicadas ao beneficiamento e à recuperação de minerais
litiníferos brasileiro, incluindo prospecção e pesquisa mineral,
lavra, beneficiamento e aproveitamento de rejeitos com foco na
produção de compostos de lítio de alta pureza, especialmente
carbonato de lítio.
O principal objetivo é apresentar possibilidades e
alternativas de mecanismos para extração de lítio a partir do
espodumênio, desde o reaproveitamento do resíduo formado,
em especial na transformação em peneiras moleculares, até o
desenvolvimento de rotas ambientalmente amigáveis, que possi-
bilitem a formação de coprodutos de topologias e propriedades
zeolíticas, por meio de novas práticas, tendências tecnológicas
e desafios em pesquisas nos campos da ciência e engenharia. Se
hoje conseguimos carregar nossos portáteis em poucas horas e
os usar ao longo de todo o dia, é por causa das baterias de íons
de lítio: é difícil lembrar de como era a vida sem elas. É por isso
que o Nobel de Química de 2019 foi dado aos três cientistas que
ajudaram a desenvolvê-las, a saber: S. Whittingham, A. Yoshino
e J. Goodenough.
São 203 anos em 2020 desde que o lítio, o primeiro do grupo
de metais da tabela periódica de Mendeleev, foi descoberto.
Em todo esse tempo, não perdeu sua importância e ainda está
“no auge da vida”. A ideia se estende além da disponibilidade
de commodities minerais não renováveis e inclui os efeitos
ambientais e sociais no desenvolvimento de alternativas para
o mercado nacional de extração do lítio. Enorme como seu papel
na tecnologia, os autores não acreditam que eles mesmos saibam
tudo sobre o lítio e preveem um grande futuro ainda por vir.

Os Autores
1 INTRODUÇÃO

A família dos metais alcalinos inclui, em oposição ao sódio e ao


potássio que são abundantes, quatro de seus membros como
elementos raros, entre eles, o lítio, o mais leve da tabela perió-
dica (GARRETT, 2004). Não encontrado naturalmente na forma
livre, o lítio está distribuído na crosta terrestre na ordem de
0,004%, geralmente associado a silicatos de alumínio, potássio,
sódio e ferro, encontrado em mais de 130 espécies minerais,
localizadas em cerca de 1 mil depósitos espalhados pelo mundo,
associados a pegmatitos graníticos, além de salmouras (KESLER
et al., 2012; JIANKANG et al., 2015).
A esse respeito, a Tabela 1 apresenta as propriedades do
lítio, as diferentes possibilidades de ocorrência, os teores de
óxidos (teórico e típico) presentes nos pegmatitos de origem, e
os elementos a que se pode associar, que permitem agregar valor
comercial e uma grande diversidade de aplicações (VIKSTROM;
DAVIDSSON; HÖÖK, 2013; MUNK et al., 2016).

Tabela 1 – Minerais de lítio significativos.

Densidade % Li2O
Nome Fórmula Mohs
(g.cm-3) TMT
1 2
TTM
Ambligonita (Li,Na)AlPO4(F,OH) 3,0 5,8 7,4 5,0
Cookeita LiAl4(AlSi3O10)(OH)8 2,6-2,7 2,5-3,5 2,9 –
Espodumênio LiAlSi2O6 3,0 7,1 8,0 2,9-7,7
Eucripitita LiAlSiO4 2,6 6,5 11,8 4,5-6,5
Lepidolita K(Li,Al)3(Si,Al)4O10(OH,F)2 2,7-3,0 2,6 7,7 3,0-4,1
INTRODUÇÃO

Montebrasita LiAl(PO4)(OH,F) 3,0 5,5-6,0 10,2 7,5-9,5


Petalita LiAlSi4O10 2,0-2,5 6,5 4,5 3,0-4,7
LiAlSi2O6 ou
Virgilita 2,4 5,5-6,0 4,1 –
γ-espodumênio
Zinnwaldita KLiFeAl(AlSi3)O10(OH,F)2 2,9-3,1 3,5-4,0 3,4 0,4-0,8
1
TMT: Teor Máximo Teórico; 2TTM: Teor Típico em Minérios.
Fonte: Garrett (2004).

A produção e a cotação de lítio têm crescido na última


década, registrando um aumento na produção proveniente de
salmouras e de concentrados minerais para uso direto, bem
como na produção de carbonato e hidróxido do metal (SWAIN,
2017). Já a cotação da tonelada de LCE (Lithium Carbonate
Equivalent) sofreu um decréscimo a partir de 2009, devido à
conjuntura financeira global pouco favorável, estabilizando
seu mercado com a recuperação de valores em cerca de US$
6.000,00 a.m. a partir do segundo semestre de 2011 (TALBOT,
2011; GRUBER et al., 2011).
Atualmente, a América do Sul pode ser considerada a
“Arábia Saudita” do lítio. Estima-se que a Argentina, a Bolívia
e o Chile detenham juntos 60% dos recursos e reservas mine-
rais existentes em salares situados numa região conhecida
como Plateau de Puna e/ou Triângulo do lítio: Chile, no salar
de Atacama (SQM e Rockwood: 1.800 ppm Li; produção de
LCE: 50.000 tpa); Bolívia, no salar Uyuni (Comibol: 420 ppm
Li); e Argentina, nos salares Salinas Grande (Orocobre: 1.409
ppm Li), Olaroz-Cauchari (Orocobre: 800 ppm Li), de Hombre
Muerto (FMC: 744 ppm Li; produção de LCE: 15.500 tpa) e de
Rincon (Admiralty Resources: 408 ppm Li) (KORINEK; KIM, 2011;
MAZUMDARU, 2017; BRAGA, 2018).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 13


INTRODUÇÃO

Entretanto, nem só a partir das salinas extrai-se o lítio,


visto que vários países ibero-americanos (Brasil e Portugal)
possuem reservas e minas desse minério a partir de pegmatitos
(MARTIN et al., 2017). Nesse processo, um rápido avanço e uma
recuperação consistente na indústria de lítio foram confirmados
entre 2013 e 2018, uma vez que as tecnologias de bateria de
Li-íon, consumidas em uma série de usos finais, impulsionaram
o crescimento da demanda, por meio de novas operações que
fornecem suprimentos adicionais de matéria-prima. Em 2017, as
baterias recarregáveis representaram mais de 43% da demanda
total de lítio (LITHIUM…, 2016).
O uso crescente de baterias Li-íon em aplicações automo-
tivas, tanto para veículos híbridos quanto totalmente elétricos,
fez com que a indústria automotiva se tornasse a maior influen-
ciadora na indústria de lítio nos últimos anos: a demanda por
esse metal para aplicações automotivas alcançou mais de 134
kt LCE (55%) em 2017, endossando para mais do que o dobro
até o final da década (SWAIN, 2017; COSTA, 2018). Embora as
baterias recarregáveis tenham recebido atenção significativa
na atual década, as aplicações industriais de produtos de lítio,
como vidro, cerâmica e graxas, continuam demonstrando um
crescimento estável (LITHIUM…, 2016).

1.1 Visão histórica

O lítio, alusivo à sua origem mineral, foi descoberto na


Suécia, em 1817, pelo químico Johan A. Arfwedson, ao examinar
o mineral petalita, cuja descoberta é atribuída ao mineralogista
brasileiro José Bonifácio de Andrada e Silva, na década de 1790

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 14


INTRODUÇÃO

(MAUTHNER, 2011). Em 1818, Gmeliu observou que sais de lítio


formavam uma cor vermelha em contato com a chama. Davy,
no ano seguinte, isolou o metal a partir do óxido de lítio. Por sua
vez, Bunsen e Mathiessen foram os primeiros a isolar o metal
a partir do cloreto de lítio, através da eletrólise (DINIZ FILHO,
1978). Somente em 1854, foram isolados os primeiros compostos
na Alemanha, enquanto que na França, em 1886, iniciava-se a
exploração de ambligonita, o que garantiu liderança comercial
até o final do século XIX, quando então os Estados Unidos da
América passaram a dominar o mercado internacional de explo-
ração e comercialização de minérios de lítio (ROMEIRO, 1998).
A primeira exploração comercial de minérios de lítio nos
EUA, foi em 1898 e, em 1901, a Maywood Chemícal Works iniciou
a produção de químicos à base de lítio no país (ZANER, 1995).
Entretanto, o fato que contribuiu enormemente para o cres-
cimento do mercado de lítio foi o desenvolvimento, durante a
Primeira Guerra Mundial, na Alemanha, de uma liga Li-Pb, deno-
minada Bahn-metal, em substituição ao estanho, como material
antifricção (ZANER, 1995; DIAS, 2015). Desde então, a tecnologia
tem aprimorado o uso de ligas de lítio. A liga Li-Mg, contendo
não mais de 50% de magnésio, é mais leve que a água. Todavia, é
instável, oxidando prontamente em exposição ao ar. Desse modo,
os cientistas vêm trabalhando na tecnologia de produção de ligas
com durabilidade em serviço (VENET͡ SKIĬ, 1981).
A Metallgesellschaft (Alemanha), em 1923, foi a primeira
produtora de lítio metálico em escala industrial. Já a Foote
Mineral Co. (EUA) só começou a sua produção de manufaturados
a partir de 1930, possuindo como insumo o espodumênio. Mais
tarde, em 1936, a American Potash and Chemical Corporation iniciou
a recuperação de fosfato de lítio-sódio como subproduto do
aproveitamento de salmouras (NORTON; SCHLEGEL, 1955).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 15


INTRODUÇÃO

Em 1942, surgiu a Metalloy Corporation, designada para a


produção de graxas à base de lítio para motores de aeronaves e
similares durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1946, a Lithium
Corporation of America (LITHCOA), que incorporou a Metalloy,
desenvolveu o processo ácido, mais eficiente que o alcalino, para
extração de lítio e produção de Li2CO3 a partir do espodumênio.
Durante a guerra, a produção máxima dos EUA atingiu 400 t/
ano LCE (LANDOLT, 1957).
Somente em 1955, a LITHCOA inaugura sua usina de
químicos à base de lítio, sendo o espodumênio sua principal
matéria-prima. Após a guerra, a demanda de hidróxido de lítio
aumenta consideravelmente, por meio da United States Atomic
Energy Comission – USAEC, destinado ao uso militar (bombas
termonucleares). A produção anual atingiu 2.000 t/ano equi-
valentes em lítio (MAUTHNER, 2011).
Em 1960, com a interrupção das compras pela USAEC,
a produção sofre uma queda de 20%. A partir daí, a partir
de uma série de associações, incorporações, fusões, compras
e vendas de ativos não ligados à indústria do lítio, em nível
nacional e mundial, em conjunto com uma intensa atividade
em desenvolvimento de pesquisa para novos produtos, a Foote
e a LITHCOA transformam-se nos maiores produtores mundiais
da atualidade: Cyprus Foote Mineral Company e FMC Corporation
Lithium Division, respectivamente (MAUTHNER, 2011).
Um breve histórico dos principais eventos associados ao
lítio é detalhado na Tabela 2.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 16


INTRODUÇÃO

Tabela 2 – Lítio: visão histórica.

Ano Principais eventos Ref.


José Bonifácio: descoberta dos minerais de lítio petalita e
1790’s (ANDRADA, 1963).
espodumênio.
1854 Alemanha: 1ª manipulação de compostos de lítio. (ROMEIRO, 1998).
1886 França: exploração de ambligonita. (ROMEIRO, 1998).
Foote Mineral Co.: produção de carbonato de lítio via processo (NORTON e
1930
alcalino, a partir do espodumênio. SCHLEGEL, 1955).
A graxa de lítio tem seu primeiro grande uso durante a (JEPPSON, et. al,
1942
Segunda Guerra Mundial. 1978).
LITHCOA: desenvolvimento do processo ácido para
1946 (LANDOLT, 1957).
produção de carbonato de lítio.
Cyprus Foote/Chemettal (Chile) e FMC/Lithium Division
(Argentina): produção de lítio a partir de salmouras;
1986 Carolina do Norte (EUA): encerramento das atividades de (MAH, et. al, 1999).
exploração do espodumênio, devido aos altos custos de
processamento, frente ao de salmouras.
SQM: recuperação de LiCl de salmouras e produção de (VARELA, et. al,
1997
carbonato e hidróxido de lítio. 2003).
Síntese de zeólita LTA a partir de resíduo sílico-aluminoso
2013 (BIESEKI, et. al, 2013)
gerado na extração do lítio.
Novos projetos com base em minerais de lítio (portáteis,
2015 EVs e ferramentas), visam produzir carbonato de lítio grau (ROSOLEM, 2016)
bateria (99,95% Li2CO3).
A participação de lítio no mercado global foi de 244 kt LCE
2016 (LITHIUM…, 2016).
(projeção para ~400 kt LCE em 2019);
Síntese de zeólitas mordenita e edingtonita a partir de (OLIVEIRA, 2017.a;
2017
resíduo silicoaluminoso gerado na extração do lítio. OLIVEIRA, 2017.b)
Nemaska Lithium e Reed Resources Ltd: processos ácidos para
minério de espodumênio (inovações); (GARCIA, 2018);
2018 Desenvolvimento de rotas para extração de lítio (carbonato (SANTOS, 2018.a;
de lítio), com obtenção simultânea de zeólitas (LTA, FAU, SANTOS, 2018.b).
MOR, MFI e LTT), ao invés de resíduo silicoaluminoso .
Fonte: Autoria própria.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 17


INTRODUÇÃO

1.2 Fontes e usos

Os pegmatitos contribuem com 26% dos recursos globais


conhecidos de lítio, a maior parte advinda do espodumênio
(GRUBER et al., 2011). As principais fontes de lítio são depósitos
de evaporitos oriundos de salmouras, representando cerca de
69% dos recursos globais de lítio, com a produção concentrada
em minas continentais da América do Sul (Chile, Argentina e
Bolívia) devido aos baixos custos de exploração, em comparação
com rochas pegmatíticas (PUEYO; CHONG; AYORA, 2017).
Embora o lítio ocorra em diferentes minerais, as prin-
cipais fontes de exploração comercial são o espodumênio e a
petalita (GRUBER et al., 2011), os quais ocorrem nos pegmatitos
graníticos, em estágio primário, tanto no Brasil como em outros
depósitos da África e dos Estados Unidos. Em geral, esses dois
minerais excluem-se na natureza: o primeiro, mais denso,
aparece a maiores temperaturas e pressões, enquanto a segunda
ocorre em sistemas formados a maiores temperaturas, porém,
sob pressões menores (MESHRAM; PANDEY; MANKHAND, 2014).
No cenário nacional, as principais fontes de lítio estão
distribuídas nos Estados de Minas Gerais, Ceará, Rio Grande do
Norte e Paraíba, geralmente associados a pegmatitos e rochas
máficas (BRAGA; FRANÇA, 2011). Minas Gerais possui reservas
de espodumênio, ambligonita, lepidolita e petalita, localizadas
no vale do rio Jequitinhonha (região nordeste do Estado). As
reservas localizadas no Ceará são de ambligonita, no município
de Solonópole; e de lepidolita, no município de Quixeramobim. No
Rio Grande do Norte e na Paraíba, o lítio é encontrado associado
à ambligonita e micas, localizados na província pegmatítica da
Borborema (CORNEJO; BARTORELLI, 2010).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 18


INTRODUÇÃO

O consumo de lítio no Brasil, há muitos anos, ocorre


primordialmente sob as formas de concentrado mineral e de
compostos de lítio. Em relação ao consumo de concentrados
minerais, as empresas consumidoras que produzem vidros,
cerâmicas especiais e esmaltes para vitrificação (fritas)
submetem os concentrados apenas à calcinação e moagem.
Os minerais mais utilizados para esse fim são o espodumênio,
a lepidolita e a petalita (BRAGA; FRANÇA, 2011).
Segundo Warner (2015), o lítio pode ser comercializado e
utilizado sob três formas básicas: como minério/concentrado,
como metal ou na forma de composto químico, conforme apre-
sentado na Tabela 3 (WARNER, 2015).

Tabela 3 – Aplicações das três formas comerciais do lítio.

Fonte Usos
Ambligonita Compostos químicos, esmaltes;

Minérios/ Espodumênio Cerâmica, vidros, compostos químicos;


Concentrados Lepidolita Vidros, cerâmica;
Petalita Cerâmica, polidores, esmaltes, vidros;
Desoxidação, desgaseificação, ligas, compostos orgânicos, borracha,
Metal suplementos de vitaminas e minerais, energia nuclear, baterias;
Brometo Absorção de CO2, refrigeração;
Butil-Lítio Polimerização, produtos farmacêuticos, síntese orgânica;
Cerâmica, compostos químicos, fundentes, produtos
Carbonato
farmacêuticos, cubas de eletrólise de Al;
Químicos Lítio metálico, fundente, fibras sintéticas,
Cloreto
traçadores, desumidificação;

Porcelanas, esmaltes, polidores, soldas de elevada


Fluoreto
resistência, ótica;
Hidróxido Graxas, sais de Li, absorção de CO2.
Fonte: Warner (2015).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 19


INTRODUÇÃO

A alta reatividade do lítio, seu baixo ponto de fusão e a


baixa massa molar de seus compostos fazem-no um excelente
desgaseificador e desoxidante na metalurgia ferrosa e não ferrosa
(MARTIN et al., 2017). Na produção de alumínio, o lítio é usado
como catalisador no processo. Nesse caso, a adição de compostos
de lítio ao banho eletrólito aumenta o rendimento de uma célula
eletrolítica de alumínio, ao mesmo tempo que é possível reduzir
a temperatura do banho e o consumo de eletricidade. Ademais,
ligas de Li-Mg e Al-Mg-Li são utilizadas tanto para fins civis como
militares (SUN et al., 2014; SONG et al., 2009).
Na indústria cerâmica, os produtos à base de lítio são
utilizados nas formas carbonato e óxido, facilitando o espa-
lhamento de esmalte e vernizes, baixando a viscosidade dos
silicatos fundidos e elevando a dureza de superfícies esmaltadas
(VICHI et al., 2016). Na produção de vitrocerâmicas, utiliza-se
o óxido de lítio, possibilitando maior tenacidade que o vidro
comum, maior resistência que alguns aços, tornando-se mais
leves que o alumínio (LIEN et al., 2015). Em determinados
processos, utiliza-se o próprio mineral de lítio (ambligonita),
na produção de esmaltes; da lepidolita, de qualidades fluidifi-
cantes, em substituição ao feldspato na produção de porcelana;
e do espodumênio, na indústria de vidro, além de fluoreto de
lítio, metaborato de lítio decahidratado, silicato e sulfato de
lítio (MARTIN et al., 2017).
A incorporação de lítio na polimerização, na produção
de polímeros, é acentuada como iniciador de reações, nas quais
as fases orgânicas dos compostos de lítio são consumidas no
processo. Em alguns processos, atua apenas como catalisador.
Na indústria têxtil, alguns compostos de lítio são usados para
branquear ou tingir tecidos (AMANCHUKWU et al., 2015).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 20


INTRODUÇÃO

Compostos orgânicos de lítio (estearato, palmitato,


entre outros) mantêm suas características físicas (viscosidade,
aderência, vedação) em uma ampla faixa de temperatura (0 °C
até 150 °C), o que possibilita sua utilização na produção de lubri-
ficantes para máquinas. Apresentam ainda uma boa resistência
à água, à oxidação e, se liquefeitas, continuam estáveis após
o resfriamento (AMANCHUKWU et al., 2015). Na indústria de
semicondutores, o hidreto de lítio é usado como catalisador na
produção do gás monosilano, SiH4 (NIDHI et al., 2017).
Na aplicação como constituinte de combustível metálico,
apresenta excelentes perspectivas. O lítio é um dos metais
mais adequados para essa finalidade. Para se ter uma ideia,
a combustão de um quilograma libera 10.270 kcal! Apenas o
berílio tem um poder calorífico maior. Patentes de propelentes
para foguete sólido, contendo 51-68% m/m do metal, são encon-
tradas na literatura (GROGER; GASTEIGER; SUCHSLAND, 2015).
Na farmacologia, o carbonato de lítio é utilizado ampla-
mente para tratamento de psicose maníaco-depressiva, devido a
suas vantagens em relação a outros medicamentos antidepressivos
e tranquilizantes. Além disso, auxilia no tratamento de doenças
reumáticas; no combate à uremia e até mesmo no controle da AIDS
(ALDA, 2015; SHINE et al., 2015; LATENDRE et al., 2006).
O mercado da produção de baterias elétricas é de consi-
derável importância econômica para a indústria do lítio porque
tem mostrado um crescimento sustentável nos últimos anos
(MARTIN et al., 2017). Uma bateria é um dispositivo que trans-
forma energia química em elétrica por meio de uma reação
eletroquímica de oxidação-redução. Nas baterias secundárias
(ou recarregáveis), o mecanismo permite que sejam eletrica-
mente recarregadas a sua condição original (LU et al., 2013).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 21


INTRODUÇÃO

Em 1992, o lítio foi introduzido em baterias secundárias,


permitindo maior durabilidade, essencial para ferramentas portá-
teis, equipamentos eletrônicos e de comunicação e, possivelmente,
como fonte de suprimento de energia para veículos elétricos e para
coração totalmente artificial (MARTIN et al., 2017). As baterias
primárias, por sua vez, são usadas uma vez e então descartadas.
A energia produzida é proveniente de transformações químicas
irreversíveis que ocorrem no seu interior. Elas são usadas princi-
palmente em mouses e teclados sem fio e em uma grande variedade
de outros aparelhos elétricos de pequeno porte (MARTIN et al.,
2017). As baterias primárias são leves e requerem alta densidade de
energia. O lítio metálico é usado nos ânodos porque é leve, fornece
uma alta voltagem, tem uma elevada equivalência eletroquímica e
boa condutividade. As baterias primárias de lítio foram utilizadas
primeiramente em aplicações militares no início da década de 1970
(MARTIN et al., 2017).
Atualmente, após o íon de lítio ser extraído de uma
salmoura no Chile, ele segue uma rota atravessando vários
países, conforme Figura 1, até que o cliente final a use na bateria
de seu carro elétrico, por exemplo.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 22


INTRODUÇÃO

Figura 1 – Produção mundial de células de lítio


Fonte: Adaptado de Pillot (2018).

O trajeto, desde os “Hubs de produção” até os polos de


demanda, percorre aproximadamente 32,5x103 km, através de
(BARANDIARÁN, 2019):

I.  trecho 1, o lítio é enviado do Chile para o Alabama/EUA para


ser refinado em carbonato de lítio;

II.  trecho 2, segue do Alabama/EUA para o porto de Los


Angeles/EUA e depois para o Japão para maior refinamento;

III.  trecho 3, enviado para a Coreia, armazenado em mistura


em pasta NCA (óxido de alumínio de níquel-cobalto);

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 23


INTRODUÇÃO

IV.  trecho 4, segue para Xangai/China;

V.  trecho 5, realiza paradas múltiplas em vários armazéns de


distribuição na área de Shenzhen/China antes de ser incor-
porados em baterias em fábricas locais;

VI.  trecho 6, por fim, a bateria é enviada de volta para Los Angeles/
EUA para ser incorporada em veículos elétricos/híbridos.

1.3 Panorama da indústria de lítio no Brasil

Segundo Braga e França (2013), a indústria de lítio no


Brasil teve início entre as décadas de 1940 e 1950, com a criação
da Orquima Indústria Química, cujo objetivo era o beneficia-
mento de areia monazítica, que possui uma concentração
natural de elementos pesados, rica em urânio (BRAGA; FRANÇA,
2013). Nos anos seguintes, teve início a produção de carbonato
de lítio a partir do processamento de ambligonita. Em 1958,
a partir desse carbonato, iniciou-se a produção de hidróxido
de lítio (cerca de 12-15 t/mês), além de outros produtos, como
cloreto e fluoreto de lítio (BRAGA; FRANÇA; SANTOS, 2010).
Apesar de alguns pegmatitos litiníferos já serem conhe-
cidos desde 1924, somente nesse período foram realizados
os primeiros estudos sistemáticos visando à implantação de
uma indústria extrativa (BRAGA; FRANÇA, 2013). Assim, sob a
coordenação do Departamento Nacional da Produção Mineral
- DNPM e orientação de técnicos norte-americanos foi criado,
em 1942, o Interdepartmental Committee on Scientific and Cultural
Cooperation, com a finalidade de traçar objetivos e metas para

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 24


INTRODUÇÃO

aproveitamento de minerais de lítio (BARCUS; CLAPP, 1955).


Iniciou-se, então, a pesquisa em sincronia com a lavra desses
minerais, culminando com a delimitação dos primeiros pegma-
titos nacionais. O esforço desenvolvido para fornecimento de
metais necessários à vitória dos Aliados durante a Segunda
Guerra Mundial levou à lavra de mais de 400 pegmatitos de
lítio somente no Nordeste brasileiro (MILLER, 2006).
Assim, a extração de minérios de lítio no Brasil passou, quase
que exclusivamente, a depender de atividades garimpeiras, com a
consequente sazonalidade da produção e a baixa produtividade.
Somente em Minas Gerais permaneceu uma atividade mineral com
regular exploração de minérios de lítio, respondendo por quase
toda a produção nacional (BRAGA; FRANÇA, 2013).
No campo do desenvolvimento industrial e tecnológico,
uma das principais razões pelo insucesso no desenvolvimento
da produção de compostos de lítio no Brasil, nas décadas de
1960 e 1980, foi a dificuldade de abastecimento de matéria-
-prima mineral, pela depreciação das instalações industriais
e problemas ambientais encontrados em suas unidades de
processamento (CASADEI, 1994). Investimentos do Governo
Federal brasileiro, na tentativa de desenvolver uma indústria
de sais de lítio autônoma, permitiram, em 1967, a criação do
sistema CNEN-NUCLEBRÁS-NUCLEMON (NOGUEIRA et al., 2009).
Em 1972, a Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN criou
a Companhia Brasileira de Tecnologia Nuclear - CBTN, que
absorveu todas as atividades da Administração da Produção
da Monazita - APM (BORGES, 2018). Posteriormente, em 1974,
essa empresa transforma-se em Empresas Nucleares Brasileiras
S.A - NUCLEBRÁS, em seguida, dando origem a uma subsidiária
que exerceria as atividades de prospecção, pesquisa, produção e
comercialização da monazita e de produção e comercialização

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 25


INTRODUÇÃO

de compostos de lítio, a NUCLEBRÁS de Monazita e Associados


- NUCLEMON (NOGUEIRA; BARBOSA; FILIPONE, 2009).
Como destaques na produção estavam os compostos à
base de lítio: carbonato, hidróxido, cloreto hidratado, fluoreto
e subprodutos como sulfato de sódio (sal de Glauber), aluminato
de sódio e fosfato trissódico. Praticamente toda a produção, com
exceção do hidróxido, era absorvida pelo mercado interno, que
ainda contava com o abastecimento externo, por encontrar-se
em crescimento contínuo e a produção nacional ser bastante
inconstante (BRAGA; FRANÇA, 2013).
A partir de 1979, a produção recuou, devido a, além das
razões já citadas: dificuldade para a obtenção da matéria-prima
ambligonita; falta de capital para investimentos na moderni-
zação e ampliação da planta semi-industrial; e indefinições
políticas. Com o passar dos anos, esses fatores levaram à parali-
sação total das atividades em meados de 1987 (MACHADO, 1989).
No mesmo período, após assinados acordos de trans-
ferência, a Companhia Brasileira de Lítio – CBL foi instalada.
Assim, para implantar seu projeto industrial, a CBL teve de,
inicialmente, resolver o problema da matéria-prima que iria
abastecê-la. Ao contrário da NUCLEMON, ela optou pelo espodu-
mênio, um silicato de lítio que também ocorre em pegmatitos,
mas que é mundialmente consagrado como o principal mineral
para produção de compostos de lítio (MARQUES, 1996). Em
um período de dez anos, a CBL desenvolveu uma tecnologia
própria para, a partir do espodumênio, obter as transformações
químicas dos compostos de lítio, carbonato e hidróxido de lítio,
abastecendo o mercado mundial, ainda que com percentual
próximo a 3% (CBL, 1992-94). Até 1998, o processo de beneficia-
mento do minério era rudimentar, com elevadas perdas e baixo
rendimento. Com isso, inaugura-se o processamento mecânico

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 26


INTRODUÇÃO

para a concentração do espodumênio, encerrando o processo


manual de catação (BRAGA; FRANÇA, 2013).
Em dez anos, ocorreu uma redução na produção de
compostos à base de lítio, com ápice em 2007, face à gradual
diminuição da produção de alumínio primário pela Valesul
(pertencente à Vale Companhia Vale do Rio Doce), culminando
com o encerramento de suas atividades em 2009. Ressalte-se que
a Valesul era a única empresa nacional a utilizar o carbonato
de lítio na produção de alumínio primário (ABIQUIM, 2009).
Atualmente, a Agência Nacional de Mineração - ANM,
criada em 2017 por meio da Lei Nº 13.575/2017, é responsável pela
outorga e fiscalização das concessões minerais no país, exceto
hidrocarbonetos e substâncias nucleares. O órgão assumiu as
funções exercidas pelo Departamento Nacional de Produção
Mineral - DNPM, criado em 1934, vinculado ao Ministério de
Minas e Energia (DNPM, 2018).
O índice apresentado de produção mineral, referente ao
segundo semestre de 2017, mostra um aumento na proporção
da capacidade instalada ocupada para extração de lítio. Essa
expansão proporcionou à CBL um acréscimo de 8.519 t de espo-
dumênio concentrado, com teor médio de 5,3% de Li2O. No geral,
5% de concentrados são disponibilizados para fabricantes de
lubrificantes e cerâmicas, enquanto que 86% são utilizados na
produção de compostos químicos: 65% para hidróxido de lítio
mono-hidratado e 28% para carbonato de lítio seco, entre os
diversos derivados de lítio existentes (DNPM, 2018).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 27


INTRODUÇÃO

1.4 Tecnologia mineral nacional

A disponibilidade de jazidas brasileiras e a necessidade de


desenvolvimento da tecnologia industrial nacional, relativa aos
diferentes produtos do lítio, tornam indispensável capacitar a
indústria de transformação do mineral como um todo, viabilizando
os setores de interesse estratégico direto através do fortalecimento
do mercado como um todo (GARCIA, 2018). Na planta química da
CBL, o espodumênio concentrado passa pelas etapas de secagem e
separação magnética antes de entrar em um forno para ser decrip-
tado, após o que é moído, recebendo ácido sulfúrico para extração
química do lítio (CBL, 2008-12). Em um segundo setor, o mineral
é purificado e concentrado. Nessa fase, são produzidos adjacentes
como o silicato de alumínio (setor de plásticos e tintas), sulfato de
sódio anidro, entre outros. O tratamento dos resíduos oriundos do
processo talvez permita, em longo prazo, a redução dos custos e
maior competitividade nos preços praticados (CBL, 2008-12).
Para a viabilização do desenvolvimento da tecnologia
de extração, considerada estratégica, é imprescindível o apoio
do governo mediante o controle de importações, efetuado pela
CNEN, de modo a direcionar o produto nacional para o mercado
externo. Vale lembrar que, há alguns anos, esse apoio incluiu, por
força de regulamento presidencial, um compromisso por parte
das empresas, com as condições de exploração da mina e de vida
dos trabalhadores, qualidade e preço do produto. A CNEN efetua
um controle efetivo sobre a CBL para aferir o desenvolvimento da
tecnologia e produção do lítio no país (BORGES, 2018).
Relatórios geológicos emitidos pela CNEN mostram que
a CBL (em visitas à mina ao longo da década de 2000) é um
empreendimento estratégico para o setor mineral e de defesa
da nação, com resultados qualitativos em termos de evolução

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 28


INTRODUÇÃO

de produto e atendimento do mercado nacional (GARCIA, 2018).


Ademais, a empresa representa um desenvolvimento social
importantíssimo para a região onde opera, com mina locali-
zada na região de Barreiro, município de Araçuaí/MG, e planta
química de beneficiamento em Divisa Alegre/MG (CBL, 2008-12).
As reservas brasileiras de pegmatitos litiníferos contendo
espodumênio, no Vale do Jequitinhonha/MG, conhecidas há
dezenas de anos, sempre foram consideradas um potencial
de extraordinário valor a ser aproveitado economicamente
pelo país, sendo portadoras de feldspato, minerais de lítio de
diversos tipos, gemas e polucita, entre outros (BRAGA; FRANÇA,
2013). Tal cenário, entretanto, sofreu uma modificação profunda
(upgrade) após a implantação do Projeto Lítio, pela CBL, aplicado
geologicamente à Província Pegmatítica Oriental do Brasil -
PPO, Figura 2, visando à lavra de espodumênio nos pegmatitos
que ocorrem na Mina da Cachoeira, contida tectonicamente no
Orógeno Araçuaí (BRAGA; FRANÇA, 2013).

Figura 2 – Área de atuação do Projeto Lítio - CBL


Fonte: CBL (2008-2012).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 29


INTRODUÇÃO

Estudo recente, realizado pela Companhia de Pesquisa


de Recursos Minerais - CPRM, do Serviço Geológico nacional,
mostra a descoberta de novas reservas de lítio no Vale do
Jequitinhonha. A pesquisa, que teve início em 2012, localizou
45 grandes depósitos de lítio associado a pegmatito, de elevados
potenciais de exploração econômica (PAES, 2016). Desse modo,
o país alcança um potencial para multiplicar por 20 vezes suas
reservas comprovadas. Hoje, o Brasil possui 0,5% das reservas
de lítio do mundo. A estimativa é que até 2022 já responda por
8%, tornando-se o quinto país no ranking de reservas de lítio
(COSTA, 2018).
O valor do metal tende a subir com a demanda. O valor
de mercado total do lítio no mundo deve alcançar US$ 43 bi até
2020, segundo a consultoria americana Market Research (SPEIRS;
CONTESTABILE, 2018).
Em 2018, após quatro anos de estudos e prospecção das
reservas de lítio, a Sigma Mineração (Araçuaí Mineração) inau-
gura sua planta-piloto, que permitirá iniciar os primeiros testes
com minérios de lítio. As próximas etapas serão a instalação da
planta definitiva, até 2020, e, finalmente, a produção para fins
comerciais, prevista para 2022. A planta-piloto terá capacidade
de processamento para 250 t/dia de minério, aproximadamente
(RESENDE, 2018).
O projeto pretende inserir de vez o Brasil na cadeia
mundial de lítio, principalmente devido às oportunidades em
torno da maior produção de carros elétricos nos próximos anos,
que funcionam por meio de baterias, baseadas na cadeia do
lítio, eventualmente construídas em média escala em “Hubs
continentais”, para atender as demandas regionais, seguindo
os passos da indústria automobilística (RESENDE, 2018).
Economicamente, o Brasil seria o candidato natural para sediar

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 30


INTRODUÇÃO

o Hub de lítio na América do Sul. Baterias de veículos elétricos


e de armazenamento de energia são muito grandes para viajar
em escala e atender a demanda global (PAES, 2018). O potencial
de demanda no Brasil é significativo. A demanda é impulsio-
nada pela “eletrificação” da frota global, sendo que pequenas
variações na introdução de VEs terão impactos significativos,
Figura 3 (PAES, 2018).

Figura 3 – Projeção do potencial de demanda de lítio no Brasil: 2016-2026


Fonte: Adaptado de Paes et al. (2016).

O crescimento na demanda foi de 9,0 % a.a., entre 2015


e 2016, ante os 6,4 % a.a., entre 2014 e 2015. As projeções para
2019-2020 sugerem 11,0 % a.a., em média, até 2026, impulsio-
nado, principalmente, pelo aumento maior do que o previsto
nas vendas de VEs, bem como planos mais robustos do governo
e de montadoras em curto e longo prazo (RESENDE, 2018).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 31


INTRODUÇÃO

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VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 37


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VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 40


2 GEOQUÍMICA E MINERALOGIA

2.1 Introdução

O cenário econômico internacional tem despertado um


interesse cada vez maior para descobertas de recursos e
reservas minerais ricas em lítio, uma vez que esse produto é
a matéria-prima essencial para a produção de baterias para
os ascendentes mercados de telefonia móvel, eletrônicos
portáteis e, principalmente, do mercado dos veículos elétricos
e híbridos. Dados da Agência Nacional de Mineração apontam
que o número de requerimentos de pesquisa triplicou entre os
anos de 2016 e 2018.
De olho no crescimento dessa demanda, o Governo
Federal trata a exploração de lítio como elemento-chave da
Divisão de Projetos Especiais e Minerais Estratégicos, vincu-
lada ao Ministério de Minas e Energia. Nesse sentido, o Serviço
Geológico do Brasil-CPRM tem realizado estudos prospectivos
com o intuito de expandir o conhecimento das concentrações
de lítio no Brasil e apresentar aos empresários do setor mineral
áreas potenciais para a descoberta de depósitos desse metal.
Este capítulo irá apresentar ao leitor aspectos relacionados
à gênese dos depósitos onde são encontradas concentrações
econômicas de lítio, bem como a descrição das propriedades
físicas dos principais minerais que possuem o elemento em sua
composição química.
GEOQUÍMICA E MINERALOGIA

2.2 Mineralogia

De acordo com dados da International Mineralogical


Association, atualmente, existem mais de 100 minerais cuja
composição química reconhecidamente apresenta o lítio como
elemento químico. Entretanto, sabe-se que a viabilidade econô-
mica de minerais de lítio aplicados à indústria está restrita
principalmente ao espodumênio e à petalita.
O uso desses minerais no setor industrial tem aplicação
específica na indústria de vidros e cerâmicas. Na Tabela 4 se
encontram os minerais de lítio mais comuns e, a seguir, a descrição
das propriedades físicas e químicas dos 4 minerais principais.

Tabela 4 – Lista e composição química dos minerais de lítio.

Minerais de lítio Fórmula química


Espodumênio* LiAlSi2O6
Petalita* LiAlSi4O10
Lepidolita* (K,Rb)(Li,Al)2(Al,Si)4O10(OH,F)2

Grupo ambligonita-
 
montebrasita (solução sólida)*
Ambligonita LiAlPO4(F>OH)
Montebrasita LiAlPO4(OH>F)
Cookeita LiAl4(AlSi3O10)(OH)8
Elbaita NaLi1.5Al1.5Al6(Si6O18)(BO3)3(OH)4
Eucripitita LiAl(SiO4)
Holmquistita Li2Mg3Al2(Si8O22)(OH)2

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 42


GEOQUÍMICA E MINERALOGIA

Grupo Litiofilita-Trifilita
 
(solução sólida)
Litiofilita Li(Mn>Fe)PO4
Trifilita Li(Fe>Mn)PO4

*Minerais-minério.
Fonte: Bradley et al. (2017) e London (2008).

a) Espodumênio

O espodumênio é um piroxênio de sistema cristalino


monoclínico que apresenta fórmula química representada
por LiAlSi2O6, em que 8% é de Li2O, 27,4% de Al2O3 e 64,6% de
SiO2. O mineral tem dureza relativa entre 6,5 e 7,0 na Escala
de Mohs e densidade em torno de 3,2 g/cm3. Geralmente, seus
cristais apresentam hábito prismático, tabular ou laminar
com uma clivagem perfeita. A cor do mineral pode variar
consideravelmente devido à presença de impurezas na sua
composição química. As variedades mais conhecidas são a rosa/
lilás (kunzita), a verde (hidenita), a amarela, a branca e a cinza.
Seu nome advém do grego “spodumenos”, reduzido a cinzas,
em alusão à cor branca acinzentada de algumas espécies, similar
à cor de cinzas vulcânicas. Foi descrito em 1800 pelo cientista
brasileiro José Bonifácio de Andrada e Silva. Suas variedades
transparentes também podem ser utilizadas como gemas. De
acordo com as condições de temperatura-pressão, o espodumênio
é classificado como do tipo α-espodumênio ou β-espodumênio,
sendo a primeira forma a mais comum (Figura 4).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 43


GEOQUÍMICA E MINERALOGIA

Figura 4 – Diagrama de fases de silicatos de lítio


sob condições de saturação em quartzo.
Fonte: London (2008).

b) Petalita

A petalita (LiAlSi4O10) é um filossilicato pertencente à


família dos aluminossilicatos e apresenta 4,5% de Li2O, 16,54% de
Al2O3 e 78,56% de SiO2. Sua ocorrência está associada à lepidolita
em depósitos pegmatíticos e, em alguns casos, há evidências de
sua alteração para espodumênio (GARRET, 2004; KUNASZ, 2006).
Mineral do sistema monoclínico, seus cristais ocorrem
principalmente com o hábito maciço nas cores branca, cinza e
amarela, brilho vítreo/nacarado, podendo apresentar diafanei-
dade desde transparente até opaca. Destaca-se por sua clivagem
basal perfeita, podendo apresentar localmente fraturas
conchoidais. Na Escala de Mohs, sua dureza relativa é de 6,5 e

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 44


GEOQUÍMICA E MINERALOGIA

densidade média de 2,42 g/cm3. Descoberta no século XIX, seu


nome é derivado do grego “petalon” que em uma tradução livre
para o português significa “folha”, em virtude de uma das suas
principais características: a clivagem basal perfeita.

c) Lepidolita

A lepidolita é um aluminossilicato, pertencente ao grupo


das micas, dentro da solução sólida muscovita-trilitionita-po-
lilitionita, sendo composta por 12,13% de K2O, 7,70% de Li2O,
13,13% de Al2O3, 61,89% de SiO2 e 2,32% de H2O, em que o Li+
e Al3+ ocupam sítios octaédricos e Na+, Rb+, Cs+ podem substi-
tuir o K+. Sua variabilidade, expressada a partir da fórmula
química K2(Li,Al)5,6{Si6-7Al1-2O20}(OH,F)4 está relacionada à sua
complexidade estrutural atribuída a uma mistura de polimorfos
(GARRET, 2004; KUNASZ, 2006).
Como todos os minerais da família das micas, apresenta
uma clivagem perfeita marcando o hábito foliáceo caracterís-
tico dessa família de minerais, porém, também pode ocorrer
sob a forma globular e maciça. Sua dureza relativa está entre
2,5 e 3,0, densidade média 2,84 g/cm3 e costuma apresentar um
brilho variando entre o vítreo e o nacarado. A cor lilás é uma de
suas propriedades diagnósticas, embora possa ocorrer, mesmo
que raramente, em uma faixa entre branco e cinza, variando
entre espécies transparentes e translúcidas.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 45


GEOQUÍMICA E MINERALOGIA

d) Ambligonita

A ambligonita, pertence à família dos fosfatos, tem sua


fórmula química representada por LiAl[PO4][F,OH], onde 5,12% é
de Na2O; 7,40% de Li2O; 33,67% de Al2O3; 46,88% de P2O5; e 1,49%
de H2O. Caracteriza-se como um mineral raro encontrado em
pegmatitos graníticos e associado à lepidolita e ao espodumênio.
A ambligonita faz parte de uma solução sólida com a montebrasita,
que se denomina ambligonita quando o teor de F- excede o de OH-.
Quando o contrário ocorre, é identificada como montebrasita.
Pertence ao sistema triclínico com cristais de hábito
granular, maciço e raramente prismáticos. Possui clivagem
perfeita e fratura conchoidal. Sua dureza na escala de Mohs é
6,0, com densidade relativa de 3,04 g/cm3. Pode apresentar-se
com diferentes cores, as mais comuns são branca, cinza e
amarelo, além de tons azulados/esverdeados. Apresenta brilho
que varia entre vítreo e perláceo.

2.3 Tipos de Depósitos

O lítio é um metal cuja ocorrência é relativamente rara na


crosta terrestre. De acordo com as estimativas apresentadas por
Evans (2014), sua concentração varia entre aproximadamente 17
e 20 ppm na camada mais superficial do planeta Terra. Assim
como os outros metais alcalinos de seu grupo (sódio, potássio,
rubídio e césio), o lítio é quimicamente muito ativo e nunca
ocorre como um elemento puro na natureza, sendo, geralmente,
encontrado associado a compostos de silicatos, fosfatos, fluo-
retos e hidróxidos (KUNASZ, 2006).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 46


GEOQUÍMICA E MINERALOGIA

Os estudos acerca da exploração mineral de lítio apontam


para dois tipos principais de depósitos: as rochas pegmatíticas e
as salmouras. As operações de exploração de lítio nesses dois tipos
de depósitos apresentam vantagens e desvantagens. Em linhas
gerais, a mineração associada às jazidas pegmatíticas apresenta
um custo operacional relativamente mais alto em comparação
com as salmouras, uma vez que se faz necessária a realização de
uma série de operações de mineração, como concentração física,
conversão térmica e reação química até conseguir obter o lítio em
uma forma solúvel. Em contrapartida, nas salmouras, o lítio já se
encontra em uma forma solúvel em água, necessitando apenas de
operações de concentração e purificação. A Figura 5 apresenta
um panorama global da distribuição dos depósitos de lítio.

Figura 5 – Localização dos principais depósitos de


lítio em pegmatitos e salmouras no mundo.

Fonte: Kesler et al. (2012).


Nota: Os retângulos sombreados representam a distribuição
dos salares na América do Sul e na China.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 47


GEOQUÍMICA E MINERALOGIA

a) Depósitos de lítio em pegmatitos

Os pegmatitos são rochas ígneas formadas a partir da


cristalização de líquidos pós-magmáticos. Tais corpos podem
ocorrer sob a forma de lentes, diques, sills, veios e formas
irregulares (CAMERON et al., 1949). A principal característica
dessas rochas está relacionada à textura dos seus minerais,
evidenciada por cristais de escala centimétrica a métrica,
resultado de um lento resfriamento magmático.
Em seu trabalho pioneiro, Landes (1933) dividiu os
corpos pegmatíticos em três grupos: pegmatíticos ácidos (ou
graníticos), intermediários e básicos. Enquanto os pegmatitos
intermediários e básicos raramente apresentam algum inte-
resse econômico, os pegmatitos graníticos representam uma
importante fonte para a ocorrência de metais raros, incluindo
o lítio (LONDON, 2008).
Ocorrências de pegmatitos graníticos são relativamente
comuns em todo o mundo, porém, estima-se que aproximada-
mente 0,1% dessas ocorrências apresenta algum enriquecimento
em metais raros, o que representa um grande desafio na
exploração de lítio nesse tipo de depósito para responder
às demandas futuras (LAZNICKA, 2006). Estima-se que ¼ da
produção mundial de lítio esteja associada com pegmatitos
(NAUMOV; NAUMOVA, 2010). Os pegmatitos podem ser classifi-
cados como do tipo LCT, quando mineralizados em minerais de
lítio, césio e tântalo e como do tipo NYF, quando mineralizados
em minerais de nióbio, ítrio e flúor (ČERNÝ; ERCIT, 2005).
Pegmatitos estão geneticamente associados a granitos,
que podem ou não estar expostos. Nesse caso, os do tipo LCT
são comumente derivados de granitos tipo S ou I de ambiente
orogênico e os classificados como do tipo NYF são originados

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 48


GEOQUÍMICA E MINERALOGIA

de granitos do tipo A de ambientes anorogênicos. A maior parte


dos pegmatitos do tipo LCT é hospedada em rochas metasse-
dimentares e metavulcânicas metamorfizadas em grau xisto
verde a anfibolito (ČERNÝ; ERCIT, 2005) e raramente ocorre
hospedada em granitos e gabros.
Mineralogicamente, os pegmatitos graníticos contêm
k-feldspato, plagioclásio, quartzo, muscovita e biotita como os
componentes principais, e turmalina, granada, apatita, entre
outros como minerais acessórios. Uma variedade de elementos
acessórios como lítio, berílio, tântalo, estanho e o césio podem
ocorrer ou não em concentrações economicamente significa-
tivas (LUZ, 2003).
Embora o lítio ocorra em diferentes espécies minerais,
o espodumênio é notadamente o mineral de lítio mais impor-
tante em depósitos pegmatíticos. Outros minerais de lítio como
ambligonita, petalita, montebrasita e lepidolita raramente se
caracterizam como fontes comerciais de lítio (KESLER et al., 2012).
Em relação à sua mineralogia, pegmatitos podem ser
homogêneos, heterogêneos ou mistos (Figura 6) (JOHNSTON,
1945). A esse respeito, os pegmatitos heterogêneos são divididos
em zonas. Da zona mais externa para a mais interna, a zona
I é composta por camadas centimétricas de muscovita. Já a
zona II possui minerais essenciais como quartzo, feldspatos
e muscovita. A zona III é composta essencialmente por felds-
pato e a zona IV é representada por um núcleo de quartzo. Os
minerais de lítio geralmente estão associados às zonas II e III
(BRADLEY et al., 2017).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 49


GEOQUÍMICA E MINERALOGIA

Figura 6 – Classificação de pegmatitos em relação


a sua distribuição mineralógica.
Fonte: Silva e Dantas (1997).
Nota: Minerais de lítio são encontrados nas zonas 2 e 3.
msc: Muscovita; qtz: quartzo; felds: feldspato.

Os três maiores depósitos de pegmatitos ricos em lítio


do mundo se encontram nos Estados Unidos da América, na
República Democrática do Congo e na Austrália. Nos Estados
Unidos, o depósito pegmatítico está localizado no distrito
de Kings Mountain, na Carolina do Norte e sua identificação
ocorreu ainda no início do século XX. A composição média
modal desses pegmatitos apresenta 20% de espodumênio, 32%
de quartzo, 41% de feldspato e 6% de muscovita. Cerca de 50
outros diferentes minerais representam apenas 1% da compo-
sição média desses pegmatitos, incluindo alguns fosfatos raros
(KESLER et al., 2012).
Na República Democrática do Congo, acredita-se que o
depósito pegmatítico localizado na cidade de Manono apresente

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 50


GEOQUÍMICA E MINERALOGIA

uma reserva de mais de duas toneladas de lítio. A dimensão


desse depósito varia de aproximadamente 5 quilômetros de
comprimento por até 400 metros de largura com teores de
espodumênio na ordem de 10 a 25% (EVANS, 2014).
Atualmente, a maior mina de extração de lítio em
operação no mundo se encontra na cidade de Greenbushes,
no Oeste da Austrália. Dados de 2012 apontam para um valor
médio de 0,6 milhão de toneladas de lítio (INGHAM et al., 2011).
Em geral, o teor de espodumênio nessas rochas pegmatíticas
gira em torno de 26%, podendo atingir valores de até 50% em
algumas zonas mais enriquecidas no minério.
No Brasil, as reservas de lítio exploradas em depósitos
pegmatíticos estão localizadas nos municípios de Araçuaí
e Itinga, no Vale do Jequitinhonha (BRAGA; SAMPAIO, 2008;
FARIELLO, 2010). As operações de extração de lítio são realizadas
pela Companhia Brasileira de Lítio (CBL), visando principal-
mente à produção de cerâmicas enriquecidas nesse metal. Em
2011, a empresa beneficiou mais de 6 mil toneladas de espo-
dumênio com um teor médio em torno de 5% (GARCIA, 2012).
Um estudo realizado pelo Serviço Geológico do Brasil-
CPRM identificou as principais regiões com ocorrências de
minerais de lítio no Brasil. O principal enfoque da pesquisa foi
dado na região do médio rio Jequitinhonha, parte da Província
Pegmatítica Oriental do Brasil, situada no Nordeste de Minas
Gerais, que é reconhecida como a principal área produtora e
detentora das reservas de lítio do Brasil (CPRM, 2016).
De maneira subordinada, foram abordadas as áreas
da Província Pegmatítica da Borborema, nos estados do Rio
Grande do Norte e da Paraíba; na subprovíncia de Solonópole,
localizada no Ceará; na região leste de Minas Gerais; na região
de São João Del Rei, Minas Gerais; no Noroeste do estado do Rio

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 51


GEOQUÍMICA E MINERALOGIA

de Janeiro e sudeste de Minas Gerais; na região de Itambé, no


sul da Bahia; e na região no sul do estado do Tocantins (CPRM,
2016). Os resultados obtidos nesse projeto demonstraram a
potencialidade da área do médio rio Jequitinhonha para uma
expansão considerável de suas reservas atuais de lítio em
pegmatitos graníticos (CPRM, 2016).

b) Depósitos de lítio em salmouras

A maior parte dos depósitos de salmoura de lítio encon-


tra-se em bacias geologicamente recentes e sem conexão
com outros corpos aquosos. Esses corpos contêm evaporitos
lacustres, que são classificados como rochas sedimentares
comumente formadas em ambientes de sedimentação de baixo
aporte de terrígenos, submetidos a um clima seco em que as
taxas de evaporação nos corpos aquosos são elevadas em relação
à precipitação. A alta relação evaporação/precipitação é a prin-
cipal responsável por gerar um enriquecimento de elementos
químicos (Mg, Na, K, Li e B) contidos nos interstícios porosos dos
evaporitos, os quais foram mantidos por um período superior
a um milhão de anos (BRAGA; SAMPAIO, 2008).
Dentre as possíveis origens para o enriquecimento do
lítio nesses tipos de depósitos, destaca-se a possível relação com
o intemperismo em rochas vulcânicas félsicas e com a atividade
geotérmica relacionada a sistemas vulcânicos próximos (IDE;
KUNASZ, 1989; ZHENG; LIU, 2009; LOWENSTEIN; RISACHER,
2009; MUNK et al., 2011; RETTIG; JONES; RISACHER, 1980;
ZHU et al., 1990). A Tabela 5 apresenta a concentração de lítio,
magnésio, potássio e sódio nos principais depósitos evaporíticos

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 52


GEOQUÍMICA E MINERALOGIA

do mundo. A relação Mg/Li é importante, porque quanto mais


elevada essa relação, maior será o consumo de calcário neces-
sário para a remoção do próprio magnésio.

Tabela 5 – Principais salmouras de lítio e suas composições químicas

Salmouras
Li Mg K Na Mg/Li K/Li
de Lítio (%)
Salar do
0,15 0,96 1,80 7,60 6,40 12
Atacama, Chile
Salar de Uyuni,
0,025 0,54 0,62 9,10 21,60 24,80
Bolívia
Salar del
Hombre Muerto, 0,06 0,07 0,60 9,50 1,20 10
Argentina
Silver Peak, EUA 0,02 0,03 1,00 7,50 1,50 50
Great Salt Lake,
0,01 0,80 0,40 7 133 67
EUA
Mar Morto, Israel 0,002 4 0,60 3 2000 300
Água do Mar 0,00002 0,13 0,04 1,80 6500 2000

Fonte: Roskil (2002).

Em geral, a concentração de lítio varia de acordo com


a posição de ocorrência do minério na salmoura. Nas zonas
mais periféricas, são registrados os menores teores do minério,
enquanto que, nas zonas centrais, ele se encontra em maior
concentração (Figura 5).
Os depósitos evaporíticos lacustres mais importantes
estão nos Andes centrais (em uma região conhecida como
Triângulo do lítio) e na China, com depósitos menores no
Oeste dos Estados Unidos e no Norte da África (Figura 5). No
Salar do Atacama, no Chile, as salmouras são encontradas em

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 53


GEOQUÍMICA E MINERALOGIA

concentrações de 0,15% de lítio; no Salar do Uyuni, na Bolívia, a


concentração de lítio é em torno de 0,025%; já em Silver Peak, no
estado de Nevada (EUA), as salmouras apresentam concentração
média de 0,03% desse minério.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 54


GEOQUÍMICA E MINERALOGIA

Referências

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VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 58


3 RECURSOS E PRODUÇÃO

Dados sobre o mercado de lítio baseiam-se em três unidades


distintas: conteúdo em lítio, em óxido de lítio (Li2O) e em
carbonato de lítio (Li2CO3). O conteúdo em óxido de lítio é
particularmente utilizado em indústrias de vidro e cerâmica;
o em carbonato de lítio, por sua vez, é utilizado principalmente
para produtos processados, a maioria dos quais é derivada do
carbonato (GARCIA, 2018).
O tratamento destinado aos pegmatitos que contêm
lítio, abundante em Austrália, Brasil, Canadá, Portugal,
Zimbabwe, Namíbia, China, Mali, EUA e México, normalmente
acompanha britagem, classificação, concentração (DMS,
ore sorting, flotação), calcinação, lixiviação e precipitação
(COSTA, 2018). Quanto ao fornecimento de lítio mundial, esse
processo é dominado por quatro empresas que concentram
¾ da produção mundial, situadas em três países que exercem
86% das reservas de lítio, Figura 7, com principal aplicação em
baterias e armazenamento de energia (21% em 2018, estimado
para 45% em 2021) (COSTA, 2018).
RECURSOS E PRODUÇÃO

Figura 7 – Fornecimento mundial de lítio por produtor e país.


Fonte: Adaptado de Costa (2018).

No Brasil, há duas grandes empresas de mineração rele-


vantes, Araçuaí Mineração (Sigma Mineração) e a Companhia
Brasileira de Lítio (CBL). Os principais minerais processados a
partir dos pegmatitos lavrados são: ortoclásio (40%), quartzo
(20%), espodumênio (20%) e muscovita (10%), ocorrendo, ainda,
em proporções subordinadas, turmalina, albita, berilo, columbi-
ta-tantalita, apatita, ambligonita, cassiterita e diopsídeo (PAES
et al., 2016).
Dados fornecidos pelo Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM) mostram uma capacidade de reserva nacional
de aproximadamente 55 mil t de Li2O contido (pegmatitos LCT:
Lítio-Césio-Tântalo), isto é, aproximadamente 0,5% das reservas
mundiais (desconsiderando a Bolívia). Estima-se, para 2018,
um aumento substancial para 145 mil t de Li2O, devido a novas
reservas lavráveis encontradas, Figura 8 (DNPM, 2018).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 60


RECURSOS E PRODUÇÃO

Figura 8 – Panorama sobre reservas de Li2O no Brasil


*Ano-base 2018: posição até julho/2018, preliminar.
Fonte: Garcia (2018).

O hidróxido e o carbonato de lítio são as principais


formas de compostos em que o lítio é usado industrialmente.
Com base em informações obtidas por meio de empresas
consumidoras de carbonato e o hidróxido de lítio, o preço final
praticado para esses produtos, no mercado brasileiro alcançou,
na última década, valores superiores a 250% em relação ao
praticado no mercado internacional (BRAGA; FRANÇA, 2013).
Quanto às indústrias produtoras de fundentes, graxas e óleos
lubrificantes, dados mostram que o carbonato e o hidróxido de
lítio foram internalizados em suas unidades fabris ao preço de
US$ 26,50/kg (Li2CO3, 2º semestre 2015) e US$ 42,30/kg (LiOH.
H2O, 1º semestre 2016) (PAES et al., 2016).
Existem duas rotas principais para obtenção do hidró-
xido e do carbonato de lítio após a etapa de concentração

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 61


RECURSOS E PRODUÇÃO

mineral: a primeira é o processo alcalino, no qual o concen-


trado de espodumênio é calcinado com cal hidratada, e o
clínquer formado é moído e lixiviado com água, formando
aluminato de lítio e silicato de cálcio (ALMEIDA, 1973).
Na etapa de lixiviação, o excesso de cálcio é hidrolisado.
Posteriormente, o aluminato de lítio reage com o hidróxido
de cálcio, formando hidróxido de lítio solúvel associado a
precipitado de aluminato de cálcio. O hidróxido de lítio,
depois de concentrado, é cristalizado sob a forma de hidróxido
monoidratado de lítio, Figura 9 (ALMEIDA, 1973).

Figura 9 – Processo alcalino de obtenção de hidróxido de lítio.


Fonte: Braga e França (2011).

A segunda rota encontrada é por via ácida. Nela, o


concentrado de espodumênio decriptado (processo pirome-
talúrgico ~1050 °C) é sulfatado com ácido sulfúrico (98% p/p)

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 62


RECURSOS E PRODUÇÃO

em excesso (30%) como agente lixiviante, à temperatura de


250 °C, em fornos sulfatadores. Lixiviado com água, o produto
é precipitado como carbonato de lítio, após reação com agente
redutor de solubilização, normalmente carbonato de sódio,
Figura 10 (ALMEIDA, 1973).

Figura 10 – Processo alcalino de obtenção de carbonato de lítio


Fonte: Braga e França (2011).

a) Tratamento térmico

O espodumênio é um aluminossilicato pouco reativo


e resistente ao ataque químico. Portanto, o concentrado de
espodumênio requer uma etapa específica de tratamento
térmico em fornos calcinadores rotativos para conversão do

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 63


RECURSOS E PRODUÇÃO

alfa-espodumênio em beta-espodumênio, este mais friável


e reativo, portanto, apto a promover reações de troca iônica
quimiosseletiva a partir da expansão estrutural do mineral,
promovida pela decriptação, tornando-a mais acessível aos
reagentes químicos, Equação (A) (LITHIUM…, 2016).

Equação (A).

Esse fenômeno pirometalúrgico de transformação de


fase irreversível ocorre, preferencialmente, em intervalos de
temperatura entre 800 °C-1250 °C. A reatividade do espodu-
mênio está intimamente relacionada com a temperatura e o
tempo de tratamento e, consequentemente, ao tamanho e à
forma de aglomeração das partículas do mineral, Figura 11
(MARGARIDO et al., 2014).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 64


RECURSOS E PRODUÇÃO

Figura 11 – Reatividade do lítio frente: a) ΔT; e (b) tempo de decriptação.


Fonte: CBL (2008-2012).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 65


RECURSOS E PRODUÇÃO

O tempo de exposição do minério ao calor favorece a


sua reatividade quanto à solubilização aquosa por ustulação
em mistura com ácido sulfúrico concentrado, Figura 11 b. Em
casos em que há excesso de temperatura (> 870 °C), aumenta
a probabilidade de fusão parcial nos limites de grão do material,
inibindo a solubilização do lítio nas demais etapas de processa-
mento, Figura 11 a) (MARGARIDO et al., 2014).
As reações a partir de aluminossilicatos de lítio estão
vinculadas, majoritariamente, à sílica (SiO2). Portanto, quando
a saturação em sílica for mantida pelo quartzo, as relações de
estabilidade na morfologia do material serão função apenas da
temperatura (LONDON, 1992).
A reação frente ao calor é um parâmetro usado na
identificação do comportamento do material em refratário ou
fundente, norteado pela formação da porosidade em função
da composição química do material, que, por sua vez, pode
formar fase vítrea ao reagir basicamente com o quartzo em
baixas temperaturas, retendo a porosidade, principalmente em
relação às trincas de contração do material (MORRELL; ASHBEE,
1973). À medida que a temperatura excede, aumenta a tendência
de formação de um líquido de mais viscosidade e redução da
porosidade (comportamento fundente) ou estabilidade dimen-
sional com baixa permeabilidade (comportamento refratário)
(MORRELL; ASHBEE, 1973).
O comportamento térmico pode ser previsto a partir do
ensaio de cone pirométrico. Amostras de aluminossilicatos são
moídas e moldadas na forma de cones de teste, Figura 12, em
distintas proporções de composição, e dispostas em placas cerâ-
micas refratárias para ensaio técnico. Ao atingir temperatura
ambiente, são avaliadas quanto ao seu aspecto visual e a variações
dimensionais entre cones teste e padrão (SOLTAN et al., 2015).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 66


RECURSOS E PRODUÇÃO

Figura 12 – Especificações para cone de ensaio de refratariedade


Fonte: ABNT NBR 528 (2014a).

A taxa de deformação visual no cone implica o grau de


refratariedade da composição, frente às condições térmicas
utilizadas, conforme NBR 528/14. No caso de aluminossilicatos
como o espodumênio, estes são enquadrados nas classes SA-5
e SA-4 de especificação, conforme NBR 10237/14, Tabelas 6 e 7
(ABNT NBR 10237, 2014c).

Tabela 6 – Faixa de composição média de óxidos em


espodumênio dos pegmatitos da Mina da Cachoeira,
em Araçuaí – MG. Dados cedidos pela CBL.

SiO2 Al2O3 Li2O Na2O Fe2O3 K 2O


% 62,9-72,6 18,3-26,5 5,0-8,0 0,1-1,0 0,0-0,7 0,0-0,5
Fonte: CBL (2008-2012).

Tabela 7 – Classificação de materiais refratários silicoaluminoso s.

Classe SA-5 SA-4 SA-3 SA-2 SA-1


% Al2O3 18-20,9 21-26,9 27-34,9 35-39,9 40-44,9
Fonte: ABNT NBR 10237 (2014c).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 67


RECURSOS E PRODUÇÃO

Segundo a NBR 10237/14 (ABNT, 2014c), aluminossili-


catos que excedem o teor de 45% de Al2O3 em base calcinada,
portanto, aluminosa, contêm outros minerais, e estes são ricos
em hidróxido de alumínio livre na forma de gibsita, bohemita,
ou diásporo, favorecendo a refratariedade com início de defor-
mação piroplástica acima do cone orton 15 (1435 °C) (ABNT NBR
10237, 2014c; ABNT NBR 8826, 2014b).

b) Tratamento hidrotérmico.

A mistura calcinada é tratada com ácido sulfúrico. Após


lixiviação aquosa, obtém-se solução rica em sulfato de lítio,
Equação (B) (LITHIUM…, 2016).

Equação (B).

O carbonato de lítio é recuperado após adição de


carbonato de sódio à solução, acompanhado de ajuste no pH,
precipitação e secagem (rota ácida), Equação (C), ou lavagem
úmida, concentração e centrifugação (rota alcalina), Equação
(D) (LITHIUM…, 2016).

Equação (C).

Equação (D).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 68


RECURSOS E PRODUÇÃO

A temperatura de execução do tratamento hidrotérmico


(sulfatação e lixiviação) obedece a um intervalo cujo valor
máximo não alcance a condição de pré-fusão dos reagentes
e produtos, e valor mínimo pela qual não haja formação de
aluminossilicatos isométricos do metal alcalino ou alcalino
terroso. Por exemplo, ao usar carbonato de sódio anidro,
a temperatura máxima não deve ultrapassar a temperatura de
fusão do sal (851 °C) (LABAJOS; RIVES; ULIBARRI, 1992).
As camadas mais internas da rede complexa de átomos
que formam a estrutura do beta-espodumênio são povoadas
por cerca de 20% de todo o lítio disponível. O lítio presente nas
camadas mais externas – portanto, próximas à superfície – estão
mais susceptíveis de ter substituição direta por sódio quando
em contato com Na2CO3, por exemplo, pois está mais livre dos
efeitos de impedimento estérico proporcionado pela estrutura
do beta-espodumênio (OSTERTAG; FISCHER; WILLIAMS, 1968).
A limitação impelida pelo volumoso arranjo estrutural
do carbonato de sódio anidro restringe sua locomoção através
da rede para alcançar o lítio remanescente e promover sua
extração. Assim, convém adicionar à mistura substâncias
promotoras (sais inorgânicos) que possuem volume molecular
menor que o sal de carbonato utilizado (LI; PEACOR, 1968).
Esses promotores não são consumidos ou alterados por meio da
reação; atuam, portanto, de modo a complementar a extração
do lítio, via substituição por sódio. O resultado é cloreto de
lítio que, ao reagir com carbonato de sódio, converte-se em
carbonato de lítio, Figura 13 (LI; PEACOR, 1968).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 69


RECURSOS E PRODUÇÃO

Figura 13 – Proposta de mecanismo de reação


entre Na2CO3, NaCl e beta-espodumênio
Fonte: Autoria própria.

Embora a utilização de determinados promotores (CO2, CaCl2,


MgCl2, MgSO4) possa afetar negativamente sob o efeito reativo do
carbonato de metal alcalino utilizado, são indicados sulfatos e
cloretos de metais alcalinos em razão de favorecer um maior rendi-
mento de extração de lítio em condições relativamente brandas de
temperatura. Um excesso de temperatura pode acarretar reações
colaterais com formação de compostos de lítio difíceis de solubili-
zação, exceto com ácidos minerais fortes (MAURICE; OLIVIER, 1968).
Essas reações colaterais (indesejadas) são evitadas ou limitadas a um
mínimo confortável, ao se reduzir a temperatura do tratamento
hidrotérmico, através da qual o beta-espodumênio, quando tratado
com MxCO3, o aluminossilicato anidro de M (metal alcalino ou
alcalino terroso) corresponda a MxO.Al2O3.4SiO2, e o lítio deslocado
apareça sob a forma de Li2CO3 (STAMP; LANG; WAGER, 2012).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 70


RECURSOS E PRODUÇÃO

Estudos mostram algumas condições ideais de formação


de fluido rico em lítio, facilmente extraível, quando em contato
entre aluminossilicato e MxCO3: intervalo entre 500 °C - 600 °C e
pressão 3-5 kbar. Segundo Averill e Olson (1978), as temperaturas
de homogeneização desses fluidos ocorrem, preferencialmente,
entre 550 °C – 700 °C, em 1,5 kbar, quando beta-espodumênio,
e entre 850 °C – 900 °C, em 4 kbar, quando alfa-espodumênio
(CHEN et al., 2011; KUANG et al., 2018; AVERILL; OSLON, 1978).

c) Bicarbonatação e cristalização

A suspensão formada nas etapas antecedentes deve ser


tratada com agentes capazes de saturar a mistura resultante,
solubilizando os compostos de lítio. Normalmente, quando
realizada, utilizam-se de sais amoníacos, como, por exemplo,
NH4HCO3, com solução arrefecida da etapa anterior, sob tempe-
ratura propícia à solubilização do sal de lítio formado em meio
aquoso, Figura 14 (HAYNES, 2014).

Figura 14 – Solubilidade das espécies Li2CO3 e NH4HCO3 em meio aquoso


Fonte: Adaptado de Haynes (2014).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 71


RECURSOS E PRODUÇÃO

De acordo com a Figura 14, no intervalo de temperatura


25 °C – 40 °C, a solubilização do bicarbonato de lítio formado
favorece a obtenção de carbonato de lítio. Diante de uma maior
concentração da espécie HCO3- em solução, pode-se reduzir o
teor de água empregado na solubilização dos valores de lítio,
Equação (E) (HAYNES, 2014).

Equação (E).

Em seguida, os sólidos são separados da solução por meio


de filtração ou de qualquer outro meio adequado, armazenados
como: (a) resíduo silicoaluminoso de razão molar Si/Al equiva-
lente ao espodumênio de partida, e (b) solução rica em lítio e
carbonato de metal alcalino ou alcalino terroso não dissolvido,
portanto, aquecida para precipitação do lítio na forma de sal
correspondente (DIAZ, 2011). A precipitação do sal de lítio
dissolvido é realizada a uma temperatura próxima da tempe-
ratura de ebulição da solução e, de preferência, sob agitação,
fazendo com que haja volatilização de amônia (quando o agente
de bicarbonatação é à base de amônia) e CO2, complementada
pela cristalização de Li2CO3, Equação (F) (MAURICE, 1964).

Equação (F).

A pasta resultante é filtrada ou centrifugada para separação


entre solução e sal de lítio, e posterior remoção de umidade em
estufa. O licor é parcialmente recirculado, em parte para sulfatação.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 72


RECURSOS E PRODUÇÃO

O uso de autoclaves também é conhecido em processos para


extração de lítio. Chen et al. (2011) relatam um processo de trata-
mento do beta-espodumênio após calcinação de alfa-espodumênio,
por solução de carbonato de sódio em autoclave na proporção
líquido/sólido igual a 4 e Na/Li igual a 1,25, a 225 °C. Após lixi-
viação e secagem, análises de DRX e de composição química do
sólido indicaram a presença de carbonato de lítio e de estrutura
sílico-aluminosa anisométrica, Equação (G) (CHEN et al., 2011).

Equação (G).

No geral, em processos de extração litinífera, observa-se


a formação de resíduos, normalmente à base de aluminossili-
catos complexos de sódio-lítio, que, por sua vez, comprometem
o rendimento de extração devido à demanda de solventes
orgânicos e à base de actinídeos para a extração complementar
do lítio, além de gerar lixívia pobre em lítio, com impurezas
de difícil separação (MESHRAM; PANDEY; MANKHAND, 2014).
A viabilidade do processo de extração para a produção
de compostos químicos à base de lítio dependerá, principal-
mente, do percentual de lítio recuperado, além da possibilidade
de transformação do resíduo em coprodutos de interesse
comercial, por exemplo, zeólitas. Nesse contexto, é essencial
aperfeiçoar as técnicas para a extração de lítio e resíduos
formados (MESHRAM; PANDEY; MANKHAND, 2014). A otimi-
zação do processo de extração de lítio, voltada à obtenção de
zeólitas, deve englobar procedimento contínuo para garantir
zeólitas com alta estabilidade térmica e estrutural, reprodu-
tibilidade e confiabilidade em atividades de catálise e adsorção.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 73


RECURSOS E PRODUÇÃO

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VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 76


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VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 77


4 NOVAS PRÁTICAS

A extração do lítio a partir do beta-espodumênio (8% de Li)


gera uma quantidade significante de resíduos. O resíduo possui
principalmente óxidos/hidróxidos de alumínio e silício, o que
o torna uma matéria-prima para a síntese de aluminossilicatos
cristalinos porosos como as zeólitas, agregando, dessa forma,
valor a esse resíduo e proporcionando a síntese de materiais
com diferentes estruturas e porosidades que podem ser
aplicados numa diversidade de processos de adsorção, sepa-
ração e catálise. A seguir, apresentamos uma série de estudos
relacionados à pesquisa de transformação desse resíduo em
diferentes zeólitas (item 4.1.), e à pesquisa de desenvolvimento
de processos de extração de lítio com simultânea obtenção de
zeólitas, sem a geração de resíduo (item 4.2), isto é, o resíduo
sai na forma de zeólita.

4.1 Extração do lítio e


reaproveitamento do resíduo

Apresentam-se a seguir os estudos de síntese de três


zeólitas diferentes (zeólita A, Mordenita e Edingtonita) empre-
gando o resíduo silicoaluminoso proveniente da extração do
lítio do beta-espodumênio.
NOVAS PRÁTICAS

a) Síntese da Zeólita de Topologia LTA

A zeólita A é um dos materiais frequentemente


obtidos quando se substituem fontes convencionais de
silício e alumínio na síntese de zeólitas. Essa zeólita tem
topologia LTA e primeiramente foi descrita como uma rede
composta de 24 tetraedros (Si,Al)-O₄, que são unidos para
formar anéis de 8 membros nas faces e anéis de 6 membros
(6Mb) distorcidos nos vértices de uma estrutura cúbica com
parâmetro de rede (a₀) = 12,32 Å (Figura 15). Os anéis de 8
membros (8Mb) fornecem acesso a uma grande cavidade
de 11,4 Å de diâmetro que ocupa o centro da célula (REED;
BRECK, 1956).
Posteriormente, a estrutura do tipo LTA (hidratada)
foi descrita a partir da junção de unidades compostas de
construção (GRAMLICH; MEIER, 1971), às quais caixas cubo
octaédricas (cavidade β) ou caixa sodalita são conectadas
por unidades D4R (anéis duplos de 4 membros) (Figura 15).
A cavidade β seria ocupada por 4 moléculas de H2O e a cavi-
dade α, por 20 moléculas de H₂O(GRAMLICH; MEIER, 1971).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 79


NOVAS PRÁTICAS

Figura 15 – Estrutura da LTA.


Fonte: Gramlich e Meier (1971); Reed; Breck (1956). Estruturas
topológicas ilustradas usando o programa VESTA.

A zeólita A apresenta uma reação Si/Al = 1, com fórmula


química sendo expressa na forma: (Na₂O)₄₈[(SiO₂)₉₆(Al₂O₃)₄₈]27H₂O
(GIANNETTO PACE; RENDÓN; FUENTES, 2000). A presença de cátions
em suas cavidades lhe dá a característica de ser um material com
capacidade de troca de cátions. Essa propriedade é muito útil em
processos de adsorção de cátions. Muitos compostos inorgânicos
podem ser extremamente prejudiciais ao meio ambiente assim
como aos seres humanos. Um estudo realizado por Attari et al. (2017)
mostrou a eficiência de zeólita do tipo LTA sintetizada utilizando
cinzas do carvão para a remoção de mercúrio.
Os autores propõem esse material como uma alternativa
de custo mais baixo para o tratamento de efluentes com esse
tipo de contaminante. A estrutura do tipo LTA pode ser usada
também para a adsorção de materiais orgânicos, na mesma

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 80


NOVAS PRÁTICAS

linha de obter um adsorvente de custo mais baixo. Nesse caso,


os autores AL-DAHRI et al., (2018) verificaram que a zeólita com
tipo de estrutura LTA sintetizada a partir das cinzas modifi-
cadas com surfactante pode ser um bom adsorvente para o
corante alaranjado de metila.
A versatilidade desse tipo de estrutura em relação à
aplicação também pode ser observada em patentes cujo uso
é descrito na área de cosméticos. Nesse caso, zeólitas do tipo
4A são preparadas tanto na forma anidra como hidratada e
incorporadas com zinco e titânio para aplicação em absorção
de UV (proteção solar) (GUPTA, 2005).
Em muitos estudos, busca-se a síntese da zeólita A
utilizando resíduos como cinzas do carvão (BIESEKI; PENHA;
PERGHER, 2013; HUI; CHAO, 2006; TANAKA et al., 2006, 2008),
pois sua síntese é relativamente simples, usando em muitos
casos somente o resíduo. A relação Si/Al para a síntese da
zeólita A é ~ 1,0, o que é um dos motivos de usar caulim, que
possui relação Si/Al = 1,0 (CHANDRASEKHAR; PRAMADA, 2008;
CRISTÓBAL et al., 2010; SILVA FILHO et al., 2015) para a sínteses
desse tipo de material. No caso do uso de resíduos obtidos no
processo de extração de Li a partir do beta-espodumênio para
síntese da zeólita A, um dos primeiros trabalhos realizados
foi o estudo de diferentes rotas de síntese baseadas na síntese
tradicional da zeólita A (BIESEKI et al., 2013).
No estudo de Bieseki et al. (2013), um resíduo silicoalu-
minoso foi submetido a diferentes rotas de síntese em que
as relações Si/Al estudadas foram 1,0 e 3,2. Esses valores não
foram escolhidos aleatoriamente e sim porque o valor de 1,0
corresponde à razão Si/Al da síntese padrão da zeólita A; e
o valor de 3,2 à relação Si/Al presente no resíduo. Na Figura
16, são apresentados os resultados da análise de DRX e MEV

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 81


NOVAS PRÁTICAS

do resíduo e dos materiais obtidos, utilizando o processo de


síntese baseado na síntese padrão da zeólita A (BIESEKI et
al., 2013).

Figura 16 – Difratogramas de raios X do produto obtido


via síntese padrão da zeólita A (ZA) e também do resíduo
silicoaluminoso proveniente da extração do lítio do beta-
espodumênio. A micrografia é respectiva à amostra ZA.
Fonte: Bieseki et al. (2013).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 82


NOVAS PRÁTICAS

O mesmo problema relacionado à dissolução dos mate-


riais de partida, que ocorre também quando se usam cinzas do
carvão, apresentou-se como desafio para os autores. No processo
de síntese, o aumento do tempo e da temperatura no processo
de dissolução favoreceu a formação de uma mistura zeólita A e
sodalita, porém, a elevação da temperatura para valores acima de
80 °C não foi favorável à formação da zeólita A. A relação Si/Al no
gel de síntese pela melhor dissolução do material de partida pode
ter ficado mais próxima de 1,0, dessa forma, observou-se uma
maior formação da zeólita A com a zeólita sodalita aparecendo
como impureza.

b) Síntese da Zeólita de Topologia MOR

A mordenita (MOR) é um mineral pertencente à classe dos


tectossilicatos e, nessa classe, pertence ao grupo das zeólitas.
Como em todas as zeólitas, a mordenita é um aluminossilicato,
ou seja, constitui-se basicamente por silício e alumínio em sua
estrutura; entretanto, além desses elementos, pode apresentar
também átomos de sódio, cálcio e potássio.
Sendo uma zeólita natural, é encontrada normalmente
em rochas ígneas vulcânicas, nas quais forma veias e zonas
amigdaloides. Pode aparecer também como um produto
secundário da hidratação do vidro vulcânico. Na natureza,
aparece sempre associada a outros minerais, tais como:
calcita, caulinita e clinoptilolita.
A mordenita foi classificada e descrita como um mineral,
por How, na província de Morden, no Canadá, em 1864
(GOTTARDI; GALLI, 1985), entretanto, a sua primeira versão

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 83


NOVAS PRÁTICAS

sintética foi reportada somente em 1948, por Barrer. A compo-


sição química ideal dessa zeólita é Na₈Al₈Si₄₀O₉₆.nH₂O. Seu
sistema cristalino é ortorrômbico, com parâmetros de célula
unitária nas seguintes dimensões: a = 18,1 Å, b = 20,5 Å e c = 7,5
Å e simetria do grupo espacial Cmcm.
Existe uma tendência comum de que a morfologia das
partículas da mordenita seja caracterizada por cristais em
formato de agulhas ou de formas elipsoidais na direção do
eixo c (TREACY, 1999). Entretanto, diversas formas são possíveis
dependendo da composição do sistema reacional, persistindo
ainda a tendência de os cristais serem mais destacados na
direção do eixo c.
A zeólita mordenita possui uma relação Si/Al ≥ 5,0. Em sua
estrutura existem três conjuntos de canais. Os canais na direção
do eixo c, direção [100] da célula unitária, são os principais
canais da mordenita, cujo poro se abre por um anel de 12MR
(MR = do inglês member ring, usado para descrever a abertura
dos poros, nesse caso, formado por 12 membros, 12 tetraedros
interligados) com diâmetro de 6,5 x 7,0 Å2. Nessa mesma direção
da célula unitária, existem ainda canais paralelos com o poro
formado por anéis de 8MR de diâmetro de 2,6 x 5,7 Å2.
Os canais formados pelas aberturas de 12 MR e 8 MR
são retos e elípticos respectivamente. Há outro tipo de canal
também formado por anéis de 8 MR, sendo, nesse caso, paralelo
ao eixo b, direção [010] da célula unitária, com dimensões de 3,4
x 4,8 Å2. Os anéis conectam os canais paralelos ao eixo c (MEIER,
1961; SHIOKAWA; ITO; ITABASHI, 1989; LOBO, 2003). A Figura 17
apresenta um modelo de representação do sistema de canais
da zeólita mordenita.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 84


NOVAS PRÁTICAS

Figura 17 – Estrutura da Mordenita: a) folhas paralelas (100); b) conexão


entre as folhas (tetraedros 12MRc e 8MRc); c) sistema de canais.
Fonte: Adaptado de Baerlocher, McCusker e Olson (2007).

Em termos de SBUs (Secundary Built Units, unidades


secundárias de construção), o anel S5R (unidade 5-1) é a prin-
cipal unidade da zeólita mordenita. Esses anéis se combinam
a outros de quatro membros S4R originando pequenas cadeias
que, juntas, formam cadeias maiores e sinusoidais. A Figura 18
é uma representação da estrutura ortorrômbica da mordenita
a partir de anéis simples.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 85


NOVAS PRÁTICAS

Figura 18 – Estrutura ortorrômbica da mordenita em perspectiva


Fonte: Adaptado de Baerlocher, McCusker e Olson (2007).

A densidade de rede da mordenita é de 17.0T/1000 Å3. Essa


elevada densidade a torna bem menos susceptível a conversões
em outras estruturas zeolíticas mais estáveis (BAERLOCHER;
MCCUSKER; OLSON, 2007).
O sistema poroso que a mordenita possui permite a
passagem de pequenas moléculas como N₂ e O₂ em todos os
seus poros (difusão tridimensional) e apenas uma difusão de
forma unidimensional de moléculas maiores como as orgânicas
(YUVARAJ; CHANG; YEH, 2004). A estrutura de poros unidi-
mensional impede que uma molécula ultrapasse outra em seus
canais. Dessa maneira, a molécula localizada na entrada do poro
bloqueia a entrada ou a saída de outras moléculas. Devido a
essa difusão unidimensional, o transporte nos poros da zeólita
mordenita é retardado, mais até do que em sistemas de poros
de duas ou três dimensões. A questão da acessibilidade dos seus
microporos é um tema extremamente importante, uma vez que
a zeólita mordenita se torna susceptível à desativação devido

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 86


NOVAS PRÁTICAS

ao bloqueio de seus canais pela deposição de coque formado


durante uma reação catalítica.
Ademais, a mordenita é uma zeólita de grande interesse
industrial devido a sua alta estabilidade térmica e a sua elevada
acidez. O seu bom desempenho catalítico – aliado ao controle
da composição química, ao tamanho de cristal e ao baixo custo
de produção – também tem grande influência em sua aplicabi-
lidade no campo da catálise.
Ela é bastante utilizada na obtenção de gasolinas
(RICHARDSON, 1989) e no craqueamento do gasóleo de vácuo
(LEE; LEE, 1998). Outras aplicações reportadas incluem a sua
utilização na separação por adsorção de mistura de gases ou
líquidos e na catálise em processos como alquilação, reforma,
hidrocraqueamento, hidroisomerização, entre outros. Tem
sido considerada também para aplicações como suporte
de materiais semicondutores e sensores (SOHRABNEZHAD;
POURAHMAD; SADJADI, 2007; REN et al., 2016).

Processo de Síntese com o Resíduo do Espodumênio

A síntese da zeólita LPM-11 (OLIVEIRA; NASCIMENTO;


PERGHER, 2017a) de topologia MOR utilizando o resíduo
silicoaluminoso proveniente da extração do lítio do mineral
β-espodumênio segue basicamente o procedimento para a
síntese da zeólita mordenita descrito na International Zeolite
Association (IZA). Como fonte de silício e alumínio, é utilizado o
resíduo silicoaluminoso, que não recebeu qualquer tratamento
prévio, possuindo, portanto, uma relação Si/Al = 3,3. Além do
resíduo silicoaluminoso, também são utilizados água destilada
e hidróxido de sódio (Sigma Aldrich, 98% NaOH) como agentes

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 87


NOVAS PRÁTICAS

mineralizantes da síntese e sílica aerosil (SiO2). Por se tratar de


um resíduo industrial, há a necessidade de utilização de sílica
aerosil como reagente adicional de silício. A sua função é a de
corrigir a relação Si/Al = 15, desejada para a síntese da zeólita
mordenita seguindo o procedimento descrito na IZA.
Assim como descrito na IZA, inicialmente, uma solução
de hidróxido de sódio 15,9 M é preparada. Essa solução é
mantida em agitação por 30 minutos logo após a adição de
3,05 g de resíduo silicoaluminoso. Findo esse tempo, 72,04 g de
água destilada são adicionados, sendo essa solução mantida em
agitação por mais 20 minutos. Por fim, 7,67 g de sílica aerosil
são adicionados e essa solução permanece em agitação por
mais 30 minutos. O gel de síntese formado é distribuído em
autoclaves de aço inox e cristalizado em estufa no modo estático
à temperatura de 170 °C por 36 horas. O produto obtido após
cristalização é lavado com água destilada até pH 7, filtrado e
seco à temperatura de 60 °C por 24 horas.

Caracterização

Na caracterização de peneiras moleculares, tais como as


zeólitas, a análise por difração de raios X pode ser considerada
como uma das técnicas mais relevantes, pois fornece informações
sobre o tipo de material. Para materiais microporosos, como a
zeólita mordenita (MOR), têm-se reflexões características em alto
ângulo, com análise iniciando em torno de 2θ = 2°, como pode ser
observado na Figura 19.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 88


NOVAS PRÁTICAS

Figura 19 – DRX da zeólita LPM-11 de topologia MOR juntamente


com a mordenita padrão IZA e o resíduo silicoaluminoso.
Fonte: Oliveira, Nascimento e Pergher, (2017a).

Por meio da Figura 19, é possível notar nitidamente


no difratograma da zeólita LPM-11, a presença de reflexões
correspondentes à zeólita mordenita com boa cristalinidade.
Essas informações comprovam que é possível utilizar o resíduo
do processamento da extração do lítio do β-espodumênio para
a sínteses de zeólitas.
A técnica da Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
é utilizada para verificar se a morfologia da superfície dos
cristais da mordenita sintetizada foi alcançada. Além disso,
para identificar a presença de outras fases que possam estar
presentes, é possível obter essa informação também por meio da
difração de raios X. A Figura 20 mostra nitidamente a diferença
morfológica existente entre o resíduo de partida e a zeólita
mordenita sintetizada com o resíduo.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 89


NOVAS PRÁTICAS

Figura 20 – a) Micrografia do resíduo silicoaluminoso e b) zeólita LPM-11.


Fonte: Oliveira, Nascimento e Pergher, (2017a).

Esses resultados só confirmam e reafirmam a possibi-


lidade e a viabilidade de se sintetizarem zeólitas a partir do
resíduo silicoaluminoso do β-espodumênio.

c) Síntese da Zeólita de Topologia EDI

A Edingtonita (EDI) é um mineral pertencente à classe


dos silicatos, que, por sua vez, pertence ao grupo das zeólitas.
Na natureza, esse mineral pode se apresentar nas mais diversas
cores, tais como: branco, cinza, marrom, rosa ou amarelo.
A composição química da edingtonita é BaAl₂Si₃O₁₀.4H₂O.
A maior parte das edingtonitas possui sistema cristalino ortorrôm-
bico com simetria do grupo espacial de P2₁2₁2₁. Entretanto, existem
ainda edingtonitas com sistema cristalino tetragonal com simetria
de grupo especial de P-42₁m, sendo essas normalmente chamadas

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 90


NOVAS PRÁTICAS

de tetraedingtonitas. O parâmetro de célula unitária de estruturas


EDI possui as seguintes dimensões: a = 6,9 Å, b = 6,9 Å e c = 6,4 Å.
A edingtonita é uma zeólita rara que ocorre natural-
mente. Existem apenas dois ou três depósitos conhecidos
no mundo, geralmente encontrados como crescimentos de
pequenos cristais em formato de agulha (até 0,5 mm de compri-
mento) sob minerais de barita ou calcita (GERRARD et al., 2004).
A zeólita Linde Type F é a forma sintética dessa zeólita
edingtonita de ocorrência natural. Sua estrutura consiste na
interconexão de cadeias tetraédricas T₅O₁₀, onde T = Si ou Al. A
Linde Type F é uma zeólita de poro pequeno. Esse tipo de zeólita
é interessante porque possui poros tridimensionais interligados
por aberturas de sistemas de canais de 8 membros, um com
diâmetro de 2,8 x 3,8 Å2 e outro com diâmetro de 2,0 x 3,1 Å2.
Tanto a edingtonita natural quanto a zeólita sintética Linde
F possuem estrutura do tipo EDI (IZA Databases). A Figura 21
apresenta um modelo de representação da estrutura EDI.

Figura 21 – Estrutura da zeólita EDI em perspectiva.


Fonte: Adaptado de Baerlocher, McCusker e Olson (2007).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 91


NOVAS PRÁTICAS

Mesmo sendo uma zeólita de poro pequeno, a zeólita


Linde F com estrutura EDI é utilizada em diversas aplicações.
Novembre, Pace e Gimeno (2014) relatam a utilização desse tipo
de zeólita na limpeza de águas residuais. Em outro trabalho,
relatado por Wajima e Munakata (2012), a zeólita Linde F foi
utilizada para alteração do solo. Por possuir uma alta afinidade
com íons NH₄+, torna-se extremamente útil para a agricultura,
já que esses íons são importantes fertilizantes.

Processo de Síntese com o Resíduo do Espodumênio

A síntese da zeólita LPM-12 (OLIVEIRA; NASCIMENTO;


PERGHER, 2017b; OLIVEIRA; NASCIMENTO; PERGHER, 2018), de
topologia EDI, é baseada no padrão adotado pela IZA (Databases of
Zeolite Strucutures) para a zeólita Linde Tipo F (LTF) com topologia
EDI. Assim como para a síntese da zeólita LPM-11 de topologia
MOR, o resíduo silicoaluminoso proveniente da extração do
lítio do β-espodumênio – sem nenhum tratamento prévio e com
razão Si/Al = 3,3 – é utilizado como fonte alternativa de silício e
alumínio. Além do resíduo, também são utilizados água destilada
e hidróxido de potássio (Vetec, 85% KOH) como agentes minerali-
zantes e triisopropilato de alumínio (Merck, 98% Al). Esse último
é um reagente adicional de alumínio na síntese e sua função é
corrigir a relação Si/Al = 1,5 necessária à obtenção da zeólita
LPM-12 de topologia EDI.
Inicialmente, é preparada uma solução aquosa 8,2 M de
KOH, sendo esta dividida em dois volumes iguais, que podem
ser denominados de V1 e de V2. Ao volume V1 é adicionado
1,04 g de triisopropilato e essa solução é mantida em agitação
por 10 minutos. Ao volume V2 são adicionados 8,8 g do resíduo

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 92


NOVAS PRÁTICAS

e essa solução é mantida em agitação durante 20 minutos. Por


fim, o volume V1 é adicionado ao volume V2 e essa solução
final é mantida em agitação por mais 20 minutos. O gel de
síntese obtido é, então, distribuído em autoclaves de teflon e
cristalizado em estufa no modo estático à temperatura de 95 °C
e 76 horas. O produto final obtido é lavado com água destilada
até pH 7, filtrado e seco à temperatura de 60 °C por 24 horas.

Caracterização

O difratograma de raios X permite verificar se foi possível


obter a estrutura da zeólita Linde-F de topologia EDI. A Figura
22 apresenta o difratograma da zeólita LPM-12 sintetizada, com
o padrão IZA da zeólita LTF (EDI) e o resíduo silicoaluminoso.

Figura 22 – DRX da zeólita LPM-12 de topologia EDI juntamente com


o padrão IZA da zeólita LTF (EDI) e o resíduo silicoaluminoso.
Fonte: Oliveira, Nascimento e Pergher (2017b).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 93


NOVAS PRÁTICAS

Por meio da Figura 22, observa-se claramente a presença


de reflexões correspondentes à zeólita LTF/EDI com boa crista-
linidade e fase pura em tempos inferiores ao mencionado pela
IZA (96 horas), comprovando e evidenciando a possibilidade da
formação dessa zeólita a partir da transformação do resíduo
silicoaluminoso. A Figura 23 apresenta a micrografia da zeólita
LPM-12 sintetizada com topologia EDI. Nota-se uma morfologia
de partículas bem regulares e aglomeradas com forma aparente-
mente prismática, característica de zeólitas com estrutura EDI.

Figura 23 – Micrografia da zeólita LPM-12.


Fonte: Oliveira, Nascimento e Pergher (2017b).

Esses resultados evidenciam a eficiência na utilização de


um resíduo industrial na formação de materiais de maior valor
agregado. A utilização de resíduos na obtenção de produtos de
maior valor agregado é de grande importância, já que indus-
trialmente se busca uma “economia” (custos, tempo, dentre
outros) de um modo geral no procedimento.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 94


NOVAS PRÁTICAS

4.2 Rotas de extração do lítio com


obtenção de coproduto(s) zeolítico(s).

O tratamento destinado ao resíduo, detalhado no tópico


4.1, tem sido direcionado para síntese de zeólitas, em destaque,
zeólita P (tipo GIS), zeólita tipo SOD, cancrinita (tipo CAN),
zeólitas de topologias LTA, MOR e EDI (BIESEKI et al., 2013b;
OLIVEIRA, 2016). Uma estrutura zeolítica não deve ser conside-
rada rígida e inerte, mas sim, sensível, por exemplo, a gradientes
de temperatura e pressão; disponível a modificações sem
colapso cristalino, por exemplo, via troca iônica, tratamento
hidrotérmico ou nitretação; e acessível quando em processos
de adsorção e catálise (LI; YU, 2014).
Uma síntese típica de zeólita pode ser realizada pelo
processo hidrotérmico, podendo ser submetida ao aqueci-
mento convencional ou exposta à radiação de micro-ondas.
Os reagentes utilizados são: uma fonte de silício; uma fonte de
alumínio; um agente mineralizante para zeólitas com necessi-
dade de se obter em escala menor; além de moléculas orgânicas
atuando como agente direcionador de estrutura (LI et al., 2011).
Os cátions metálicos inorgânicos, como Na+ ou K+, têm
papel importante para neutralização da carga da estrutura. As
fontes de sílica são numerosas e incluem sílica coloidal, sílica
amorfa, sílica precipitada e fontes orgânicas de silício. As fontes
de alumínio são aluminato de sódio, boemita, hidróxido de
alumínio, nitrato de alumínio e alumina (CORMA, 1995).
Normalmente, o agente mineralizador é um metal alca-
lino na forma de hidróxido, como por exemplo, o hidróxido
de sódio ou íons fluoreto. O template orgânico é uma espécie
orgânica solúvel em água, como, por exemplo, os sais quater-
nários de amônia (MUMPTON, 1999).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 95


NOVAS PRÁTICAS

Os processos físico-químicos que ocorrem durante a


síntese de zeólitas são bastante sensíveis ao tipo dos reagentes
e à ordem de adição desses materiais. Outros fatores críticos
são: a velocidade de agitação do sistema (homogeneização da
mistura reacional), o envelhecimento do gel, a temperatura e
o tempo de cristalização (SCHWIEGER et al., 2016).
Existem inúmeras reações químicas que ocorrem durante
o processo de cristalização das zeólitas. Além disso, durante a
síntese, as interações entre as espécies orgânicas e inorgânicas
são muito complexas. Assim, fazendo variar a composição da
solução (ou gel de síntese) e as condições operacionais, é possível
sintetizar materiais com características estruturais e compo-
sições diferentes (LI; MOLINER; CORMA, 2018).
A microestrutura desses materiais pode ser descrita a
partir das unidades secundárias de construção (SBU), que são
arranjos de tetraedros ligados de silicatos e aluminatos, em
combinação com unidades básicas de construção (BBU) (BRAGA;
MORGON, 2007). A gaiola de sodalita, ou beta-gaiola, por exemplo,
está entre as principais SBUs, devido ao fato de constituir duas
entre as mais importantes topologias zeolíticas, LTA e FAU, assim
como a própria sodalita, Figura 24 e Tabela 8.
Uma análise topológica das possíveis maneiras de
arranjar tetraedros na formação de zeólitas sugere um número
praticamente ilimitado, mesmo considerando a restrição de
estabilidade estrutural. Aproximadamente, 150 topologias
zeolíticas são encontradas na literatura, considerando os
silicatos, com cerca de 950 diferentes zeólitas conhecidas
atualmente (IZA, 2018; LIU et al., 2018).
Esses materiais também são comumente descritos em
termos de tamanho, geometria e conectividade do volume
poroso, sendo este determinado pelo arranjo estrutural.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 96


NOVAS PRÁTICAS

O tamanho dos canais ou das aberturas de poros que controlam


o acesso molecular aos poros é descrito em termos do tamanho
do anel limitante na formação da gaiola. Zeólitas com canais
ou aberturas planas, constituídas por 8 MR (“8-membered
rings” = anéis de 8 membros), possuem poros com dimensão de
4 Å, portanto, classificadas como microporosas; as de média
porosidade possuem aberturas planas com 10 MR de canais com
até 5,5 Å; as de poros grandes possuem aberturas ou canais de
12 MR (7,5 Å) (TASI et al., 2003). Essas são dimensões aproximadas
e podem variar com a planaridade e a elipticidade dos anéis.
Estruturas com aberturas limitadas por 14 MR são referidas
como sólidos de poros extragrandes, Figura 25.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 97


Figura 24 – Mecanismos de construção das principais zeólitas comerciais
Fonte: Adaptado de Baerlocher, McCusker e Olsen (2007).
NOVAS PRÁTICAS

Tabela 8 – Classificação das principais zeólitas comerciais.

SBU Zeólita
Anéis simples de 6 TO4 (S6R) Sodalita
Anéis duplos de 4 TO4 (D4R) LTA (Na-A)
Anéis duplos de 6 TO4 (D6R) FAU (X, Y)
D6R + unidade CAN + unidade GME OFF+ERI (T)
Unidades pentasil (5TO4) MFI (ZSM-5)
Complexa 5-1 (T8O16) Mordenita

Fonte: Luz (1994).

Figura 25 – Classificação da estrutura de poros.


Fonte: Sing et al. (1985) e Thommes et al. (2015).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 99


NOVAS PRÁTICAS

Como objeto de estudo de pesquisa realizada e


instrumento do presente tópico, a decomposição de beta-espo-
dumênio, na presença de sais de sódio, sob condições específicas
de síntese, resultou na conversão direta para carbonato de lítio
e obtenção simultânea de zeólitas como coproduto, de conside-
rável cristalinidade e fácil recuperação (SANTOS; NASCIMENTO;
PERGHER, 2018a; SANTOS; NASCIMENTO; PERGHER et al., 2018b).
A partir da explanação da metodologia, o beta-espodumênio
foi solubilizado com agente mineralizante e, posteriormente,
tratado com Na2CO3. A etapa de nucleação de cristais zeolíticos
envolveu a mistura de substâncias como fonte de silício ou
alumínio, em meio aquoso alcalino, para obtenção de mistura
reacional de aluminossilicato amorfo, sob regime de tempera-
tura em sistema fechado.
O tempo de solubilização foi um fator importante, pois
envolveu a obtenção de materiais com relação Si/Al próximo a
2: o gel, exposto à hidrotermização, foi submetido a períodos de
envelhecimento superiores aos convencionais, que normalmente
variam entre 3 h e 36 h para formação de coprodutos de topolo-
gias LTA, FAU-X e MOR, por exemplo. A pressão de vapor também
foi analisada, pois interfere no rendimento final de extração do
lítio. Para avaliar seu efeito no rendimento final, em conjunto
com a obtenção de material zeolítico cristalino, o tratamento
hidrotérmico foi conduzido com sistema de refluxo acoplado.
A suspensão formada foi tratada com água arrefecida
do próprio sistema, em quantidade suficiente para saturar a
mistura, esta solubilizada com sal de amônio. Nesse caso, foi
imprescindível a manutenção do sistema sob temperatura
moderada (< 40 °C) a fim de viabilizar a solubilidade do bicar-
bonato de lítio formado devido à maior presença de espécies
[HCO₃–] em solução.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 100


NOVAS PRÁTICAS

O sólido, rico em material zeolítico cristalino, pôde ser


separado da solução via filtração e, em seguida, armazenado;
enquanto que o sobrenadante, rico em lítio e com presença de
carbonato de sódio não consumido, foi aquecido para precipi-
tação do sal de lítio correspondente, com recirculação do licor
às etapas antecedentes para tratamento das espécies remanes-
centes em solução. Alternativamente, o processo que envolve a
extração de lítio, a partir de beta-espodumênio, com obtenção
simultânea de coproduto de topologia MFI, possuiu como ponto
de partida a desaluminização do mineral, seguido de calcinação
com carbonato e cloreto de sódio, além de solubilização com
hidróxido de sódio.
O sólido, rico em cristais de zeólita ZSM-5, foi separado da
solução por centrifugação, armazenado e devidamente tratado
(possibilidade de zeólita ácida-ativa na filtração, e presença de
amônia); enquanto que o sobrenadante, rico em lítio, foi sepa-
rado do carbonato de sódio não consumido e aquecido para
precipitação do sal de lítio correspondente, com recirculação
do licor a estágios antecedentes para tratamento de espécies
remanescentes em solução.
A seguir, apresentamos os principais resultados obtidos
do estudo relacionado à formação de coprodutos zeolíticos, a
partir de rotas desenvolvidas para extração de lítio.

a) Coproduto zeolítico de topologia LTA

A síntese teórica de zeólitas de topologia LTA (Linde Type


A), descrita em International Zeolite Association (IZA), envolve a
reação hidrotérmica de géis de sílica e alumina em meio básico,

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 101


NOVAS PRÁTICAS

entre 70 °C – 100 °C, à pressão atmosférica e com excesso de


água (IZA, 2018). A esse respeito, diversos estudos que envolvem
a síntese de zeólita sódica LTA (NaA) são realizados em condi-
ções de laboratório, na tentativa de reproduzir seu mecanismo
natural de formação cristalina na utilização, por exemplo, como
agente desidratante e meio de separação para parafinas leves e
misturas gasosas (CUNDY; COX, 2003; MALEKPOUR; MILLANI;
KHEIRKHAH, 2008).
A rota desenvolvida para extração de lítio e formação
simultânea de coproduto zeolítico de topologia LTA levou
em consideração:

I.  os parâmetros de solubilização dos sais de sódio, na conversão


de beta-espodumênio em Li2CO3;

II.  os parâmetros de tratamento hidrotérmico;

III.  a taxa de precipitação de Li2CO3 em relação ao rendimento


final e à pureza dos produtos;

IV.  propriedades de mobilidade de cátions da zeólita, confir-


madas pela capacidade de troca catiônica (CTC) na presença
de outros eletrólitos; e

V.  modificações estruturais por meio da troca catiônica por


Na+, NH4+ e Ca2+.

O beta-espodumênio fornecido pela Companhia Brasileira


de Lítio (CBL) tem sua composição química mostrada na Tabela 9
(relação molar Si/Al = 2,6). O teor de lítio no concentrado é limi-
tado, porque o teor máximo de lítio no espodumênio mineral é

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 102


NOVAS PRÁTICAS

de 3,73% Li (BIESEKI et al., 2013a). Todos os reagentes utilizados


foram de grau analítico sem purificação adicional.

Tabela 9 – Análise química do beta-espodumênio (wt%).

Óxido SiO2 Al2O3 Li2O Fe2O3 K 2O Outros


Conteúdo (%) 68,97 22,31 6,43 0,92 0,42 < 0,40

Fonte: Bieseki et al. (2013a).

Na análise por DRX, Figura 26, observa-se a presença de


fases estáveis no beta-espodumênio de partida e, nesse caso,
o pré-tratamento pelo método de extração por fusão alcalina,
por exemplo, foi realizado para dissolver essas fases, a fim de
disponibilizar uma quantidade maior de silício e alumínio.
Nesse processo, a ação de agentes mineralizantes possibilitou
a troca iônica quimiosseletiva entre Li+, de β-LiAlSi2O6 (beta-
-espodumênio), e Na+, de Na2CO3. As espécies Si e Al obtidas a
partir do licor-mãe, após a lixiviação do mineral, são esperadas
na forma dos compostos Na2SiO3 e NaAlO3, respectivamente,
segundo as reações (1) e (2):

7NaOH(aq) + 2LiAlSi2O6(aq) NaAlO3(s) + 3Na2SiO3(s) + LiAlSiO3(aq) + LiOH(aq) + 3H2O


Reação (1).

2LiAlSiO3(aq) + Na2CO3(s) Li2CO3(aq) + 2NaAlSiO3(s)


Reação (2).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 103


NOVAS PRÁTICAS

Figura 26 – DRXs do beta-espodumênio de partida


e após mineralização do mesmo.
Fonte: Bieseki et al. (2013a).

Subsequentemente, estudou-se a dependência do tempo e


da temperatura de solubilização entre beta-espodumênio (Li2O)
e Na2CO3, Figura 27.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 104


NOVAS PRÁTICAS

Figura 27 – Cinética de solubilidade entre beta-espodumênio (Li2O) e Na2CO3.


Fonte: Santos (2018).

De acordo com a Figura 27, a dissolução do lítio ocorre


rapidamente quando há relação mássica Li2O:2Na 2CO3, em
120 minutos, com rendimento de 72%wt Li2O. O percentual de
extração foi independente do tempo quando para tratamento
hidrotérmico superior a 240 min de síntese, exceto para relação
mássica Li2O:2Na2CO3, a 240 °C. Ademais, uma redução na tempe-
ratura (de 180 °C para 120 °C) favoreceu um aumento de 14% no
rendimento de extração (240 min).
A recuperação de Li a partir da solução resultante,
após a precipitação, pode ser realizada por qualquer método
conhecido. Neste estudo, utilizamos a carbonatação: o lítio
foi precipitado a partir de NH4HCO3, segundo a reação (3)
(MESHRAM; PANDEY; MANKHAND, 2014).

LiOH(aq) + NH4HCO3(s) LiHCO3(aq) + NH3(aq) + H2O Li2CO3(s) + H2O + CO2(g) + NH3(g)


Reação (3).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 105


NOVAS PRÁTICAS

Segundo Yi, Yan e Ma (2011), a taxa de dissolução do


Li2CO3, no sistema NH4HCO3-água, é proporcional à pressão
parcial de CO2, em sistema fechado, e inversamente propor-
cional ao aumento da concentração de sólidos e do tamanho
de partículas de Li2CO3 (YI; YAN; MA, 2011). Observamos, na
reação (3), que o CO2 pode ser recuperado aquecendo a solução
de LiHCO3 sob vácuo, com recirculação. Todos os métodos que
podem melhorar a dissolução do CO2 são benéficos ao processo.
A temperatura ambiente é recomendada porque a dissolução
do Li2CO3 diminui com o aumento da temperatura, Tabela 10.

Tabela 10 – Solubilidade de Li2CO3 no sistema NH4HCO3-


água (g/100g H2O) (YI; YAN; MA, 2011).

T/°C 100 80 60 50 25
Solubilidade 0,72 0,85 1,01 1,08 1,27

Fonte: Yi, Yan e Ma (2011).

O lítio foi recuperado como carbonato de lítio, após aque-


cimento da solução, com desprendimento e armazenamento de
H2O e NH3. O carbonato de lítio precipitado (> 80% wt Li2O) foi
recuperado por filtração, lavado e seco em estufa, de acordo
com Tabela 11 e Figura 28.

Tabela 11 – Análise química do Li2CO3.


Conteúdo de impurezas
Pureza (%)
Na Si Mg K Al Outros
95,4 1,83 1,12 0,88 0,53 0,03 0,21

Fonte: Santos (2018).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 106


NOVAS PRÁTICAS

Figura 28 – DRX do Li2CO3 recuperado.


Fonte: Santos (2018).

Selecionando essa condição experimental como ideal


(maior rendimento de extração), uma fonte de Al (aluminato
de sódio) foi adicionada ao licor-mãe a fim de promover
relação molar Si/Al que propiciasse a formação de gel com
núcleos de zeólita de topologia LTA. A Figura 29 apresenta a
análise DRX dos coprodutos formados, relacionada ao período
de tratamento hidrotermal.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 107


NOVAS PRÁTICAS

Figura 29 – DRX dos coprodutos obtidos.


Fonte: Santos (2018).

O coproduto recuperado, após 360 minutos de tratamento


hidrotérmico, não apresentou impurezas relacionadas às fases
sodalita e analcima (2 theta = 13,9°, 19,8°, 28,1° e 31,5°), indicativo
de que houve dissolução das espécies Na2SiO3 e NaAlO3, antes
presentes no licor-mãe. Nos tratamentos com menor duração
(120 minutos e 240 minutos), os coprodutos exibiram reflexões
de baixa intensidade 2theta = 7,02°, 10,13°, 12,21° e 16,44°; isto
é, embora a relação Si/Al tenha sido ajustada, não foi possível
obter zeólita de pureza e cristalinidade comerciais.
Quanto ao acréscimo demasiado de aluminato, isso gerou
excesso de Al, uma vez que o quartzo não foi dissolvido nas
condições iniciais de tratamento. Uma camada de gel formou-se
no suporte, abundante em núcleos aquosos zeolíticos, após o

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 108


NOVAS PRÁTICAS

envelhecimento in situ. Ademais, após período apropriado de


cristalização, as partículas amorfas foram transformadas em
cristais de zeólitas. Esse crescimento por propagação atuou de
modo subsequente ou em paralelo à aglomeração e à densi-
ficação das partículas primárias, como observado quando do
tratamento de 360 minutos.
As temperaturas empregadas nos estágios de tratamento
hidrotérmico (95 °C) e lixiviação com NH4HCO3 (30 °C) foram
importantes para a cristalização do coproduto e a inibição
na formação de fases concorrentes (sodalita ou tipo gismon-
dina, GIS/sódio). A determinação do grau de cristalinidade
do coproduto formado, Tabela 12, avaliou a concentração de
material amorfo, que é um fator importante de desempenho,
uma vez que afeta diretamente sua capacidade de adsorção e
de resistência química.
O cálculo comparou as intensidades DRX (2theta = 7,18°,
10,16°, 12,49°, 16,11°, 21,68°, 23,98°, 27,10° e 34,18°) entre o coproduto
formado e o padrão sintetizado (zeólita LTA, IZA) (BAERLOCHER;
MCCUSKER; OLSON, 2007). A soma das oito intensidades em 2theta
foi usada para obter a cristalinidade das amostras sintetizadas,
de acordo com a Equação (1).

Equação (1)

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 109


NOVAS PRÁTICAS

Tabela 12 – Grau de cristalinidade baseado na


intensidade relativa de picos específicos.

Referência 360 min 240 min 120 min 30 min


Zeólita LTA (IZA) 0,89 0,76 0,56 0,44

Fonte: Santos (2018).

Os picos de um difratograma são afetados pelo tamanho


das partículas. A largura à meia altura (Full Width at Half
Maximum, FWHM) foi inversamente proporcional ao tamanho
do cristalito, Figura 6. Como a área do pico (intensidade inte-
gral) deve ser preservada; e o FWHM, reduzido com o aumento
do tamanho dos cristalitos, o resultado foi um aumento propor-
cional na intensidade do pico para manter a área constante.
Outro fator que pode ter influenciado para a similaridade
entre os difratogramas da Figura 04 e a discrepância do grau de
cristalinidade, observado na Tabela 12, pode estar relacionado
à configuração do difratômetro.
A amostra da Figura 30.a apresenta morfologia cúbica
com facetas esféricas, típica de zeólita LTA, mostrando que
certo equilíbrio entre as taxas de dissolução e cristalização
do material foi atingido em tratamento com duração de 360
minutos. Nos demais casos (Figuras 30.b e 30.c), os cristais
apresentam morfologia irregular, depositada sob cristal de
quartzo, indicando que as condições de síntese foram brandas.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 110


NOVAS PRÁTICAS

Figura 30 – MEV/EDS dos coprodutos obtidos em tratamento


hidrotermal de: a) 360min; b) 240min; c) 30min. d) beta-espodumênio.
Fonte: Santos (2018).

A Tabela 13 apresenta os resultados para CTC, segundo


condições de síntese apresentadas, comparados a zeólitas sinte-
tizadas NaP1 e 4A, com CTC para íon amônio (NH4 +) e íon cálcio
(Ca2+). O resultado da CTC para zeólita NaP1 sintetizada foi de
2,5 meq.g-1, equivalente à literatura (2,5-4,0 meq.g-1) (CARDOSO
et al., 2015).
Os coprodutos formados sob tratamento hidrotermal de
30 minutos, 120 minutos e 360 minutos apresentaram CTCs de
0,3; 0,8 e 2,2 meq.g-1, respectivamente. Maior período de reação
favoreceu a dissolução da matriz vítrea e do quartzo. A CTC da
zeólita 4A sintetizada foi de 4,5 meqCa+2.g-1, pouco abaixo ao
encontrado na literatura (5,4 meq.g-1) (CARDOSO et al., 2015).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 111


NOVAS PRÁTICAS

Os ensaios de CTC apresentaram valores de 2,0, 3,6 e


4,1 meq.g-1 para cálcio, nos períodos de reação de 30, 240 e
360 minutos, respectivamente. Este último valor é bastante
significativo quando comparado diretamente com a zeólita 4A,
confirmando a viabilidade das condições de síntese na obtenção
de coproduto zeolítico em rota para a extração de lítio.
Os valores de CTC indicam que o coproduto zeolítico
de topologia LTA, nomeada LPM-15, obtido após 360 minutos
de tratamento hidrotermal, possui boas características de
adsorção, como uma alternativa para o tratamento de efluentes,
com propriedades físicas equivalentes às zeólitas sintetizadas
em reatores pressurizados sob uma maior temperatura de
reação. Por fim, pode-se concluir que, para períodos maiores
de cristalização, maior a estabilidade estrutural do material
formado e, consequentemente, menor o tamanho de partícula,
resultando em poros e canais com diâmetros menores. O copro-
duto LPM15 possui estrutura homogênea, sendo a zeólita NaP1
a fase exclusiva e o quartzo uma impureza indesejável.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 112


Tabela 13 – Co ndições de síntese para testes de CTC.

Etapas de síntese
Rendimento CTC CTC
Solubilização Tratamento hidrotermal Lixiviação (NH₄+) (Ca2+)
Amostras
β-espod NaOH Na2CO3 1
NaOH NaAlO2 2
tempo NH4HCO3 Li2CO3 Zeólita

g mol.L-1 g mol.L-1 mol.L-1 min mol.L-1 %Li2O 4


% meqNH₄Cl.g-¹ meqCaCl₂.g-¹
1 6,0 0,22 1,6 3,3 30 30 0,16 18 25 0,3 2,0
2 6,0 0,22 1,6 3,3 30 240 0,16 82 42 0,8 3,6
3 (LPM-15) 6,0 0,22 1,6 3,3 30 360 0,16 77 73 2,2 4,1
3
NaP1 – 3,0 – – – 240 – – – 2,5 –
3
4A – 3,0 – – – 240 – – – – 4,5
: licor-mãe recirculado; : 95°C/autoclave; : síntese IZA; : [g(sintetizado) /g(zeólita IZA)].
1 2 3 4

Fonte: Santos (2018).

A respeito da extração de lítio, esta foi fortemente influenciada pelo tempo de reação. As taxas de solu-
bilização e precipitação apresentaram dois comportamentos: (i) até 120 minutos, com taxa de precipitação
NOVAS PRÁTICAS

de Li2CO3 proporcional à temperatura e inversamente propor-


cional à relação mássica Li2O:Na2CO3; e (ii) após 240 minutos,
com o percentual de extração levemente proporcional à relação
mássica Li2O:Na2CO3, após redução da temperatura. Portanto,
a recuperação de Li2CO3 ocorreu em sistema sem calcinação,
com rendimento de extração superior a 80%wt Li2O, após 240
minutos de solubilização. A dissolução ocorreu preferencial-
mente para relação mássica Li2O:4Na2CO3, a 120 °C.
O lítio remanescente da extração possivelmente se
encontra agregado à estrutura da zeólita obtida. Incorporado
durante o mecanismo de nucleação e cristalização da zeólita,
é provável que esteja na forma de cátion de compensação, em
cavidades interconectadas de dimensões moleculares, onde é
permitida a troca iônica com o auxílio desses cátions. Por sua
vez, a troca iônica com cátions inorgânicos pode gerar basici-
dade nas zeólitas (BARTHOMEUF, 2003).

b) Coprodutos zeolíticos de topologias


FAU (LTX e LTY) ou Na-MOR.

A síntese teórica de zeólitas do tipo FAU (Linde Type X),


descrita em International Zeolite Association (IZA), emprega reação
hidrotérmica entre soluções de hidróxido de sódio, alumina e
fonte de silício para formação de gel, conduzido a tratamento
entre 90 oC e 110 oC, com possibilidade de nanocristais a partir
de ajustes nos parâmetros tempo/temperatura de indução.
Além disso, há redução significativa da presença de zeólita
P, tipo GIS, quando cristalizada em estático, entre 8 h e 32 h,
a partir de 85 °C, com aplicação na conversão entre compostos

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 114


NOVAS PRÁTICAS

orgânicos e na alquilação do tolueno (VALTCHEV; RIGOLET;


BOZHILOV, 2007; CHAVES; PASTORE; CARDOSO, 2012).
Na síntese convencional de mordenita (MOR), sem
sementes e utilizando radiação micro-ondas, prepara-se gel de
composição molar Al2O3:30SiO2:6Na2O:780H2O a partir da disso-
lução de hidróxido de sódio em água destilada, sob agitação
magnética, com adição de aluminato de sódio, sob agitação
até a obtenção de uma solução clara, e por fim adição de sílica
gel. A solução é envelhecida por 1 h sob agitação magnética,
em temperatura ambiente (MIGNONI et al., 2008; ZAZERI,
2017). O gel é previamente transferido a um reator de pirex,
conduzido ao reator de micro-ondas, permanecendo entre
8 h e 12 h, com potência e pressão máximas de 300 W e 280 psi,
respectivamente (ZAZERI, 2017). A mordenita existe em duas
formas: quando sintetizada a temperaturas < 260 °C (large-port)
e a temperaturas > 260 °C (small-port), esta última apresenta
menor capacidade de adsorção (LIMA, 2018).
A pesquisa realizada, visando à extração de lítio e à
obtenção de coprodutos zeolíticos de topologias tipo gaiola
(cage-type), FAU-X e FAU-Y, ou tipo canal (channel-type), Na-MOR,
baseou-se no tratamento hidrotérmico a partir do concentrado
de beta-espodumênio (2,98% Li). A metodologia inicial empregou
a dissolução entre beta-espodumênio e NaOH, em meio aquoso,
vertendo a mistura formada em solução composta por Al(OH)3
e Na2CO3. A nova mistura, previamente tratada em autoclave
em modo estático a 90 °C, foi solubilizada com NH4HCO3 em
quantidade suficiente para manutenção do pH em 10.
Na filtração, a solução turva foi separada do sobrena-
dante (saturado com Li2CO3, cerca de 80%wt Li2O) e submetida à
secagem em estufa, overnight. O material recuperado é substan-
cialmente formado por cristais característicos de zeólita FAU-X

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 115


NOVAS PRÁTICAS

(SAR 2,1), nomeada LPM16-X, ou FAU-Y (SAR 4,5), nomeada


LPM16-Y (SANTOS; NASCIMENTO; PERGHER, 2018a).
Para obtenção de coproduto zeolítico de topologia tipo
canal (MOR), o hidróxido de alumínio foi substituído por sílica
aerosil; e o gel formado, tratado em autoclave (modo estático),
a 200 °C. A solução turva obtida da filtração foi separada do
sobrenadante (saturado com Li2CO3, cerca de 70%wt Li2O) e seca
em estufa a 70 °C, overnight. O material recuperado, nomeado
LPM17, é substancialmente formado por cristais caracterís-
ticos de zeólita Na-MOR (SAR 13,6) (SANTOS; NASCIMENTO;
PERGHER, 2018a).
Considerando as diferenças estruturais das zeólitas
possíveis de ser obtidas, channel-type e cage-type, atividades
de adsorção foram investigadas, baseando-se na relação entre
estrutura, cinética e capacidade de adsorção, a fim de combinar
as condições ideais de síntese, sem comprometer a extração de
lítio. Na avaliação do arranjo estrutural, os difratogramas dos
coprodutos obtidos foram comparados aos padrões sintetizados,
Figura 31. Os padrões de difração dos coprodutos LPM16-X e
LPM16-Y são similares à topologia faujasita, com cristalitos tipo
NaX e NaY, respectivamente. Devido apresentarem padrão cris-
talino idêntico (isoestruturais), apenas a LPM16-X é mostrada.
As intensidades dos cristalitos para LPM17 são equivalentes à
zeólita mordenita, embora a relação Si/Al (SAR) resulte dife-
rente (13,6 contra 18).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 116


NOVAS PRÁTICAS

Figura 31 – DRX dos coprodutos formados em rota de extração de lítio.


Fonte: Santos (2018).

Espectros de IV são mostrados na Figura 32. Na região


1400 - 400 cm-1, são identificadas duas classes de vibrações
características em zeólitas: (i) internas, insensíveis a variações
estruturais; e (ii) vibrações relacionadas a ligações externas
entre tetraedros, sensíveis ao arranjo da estrutura (FLANIGEN;
KHATAMI; SZYMANSKI, 1971).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 117


NOVAS PRÁTICAS

Figura 32 – FTIR dos coprodutos obtidos em rota de extração de lítio.


Fonte: Santos (2018).

A banda de estiramento 950 - 1250 cm-1 é sensível à SAR


(relação Si/Al), deslocada para uma frequência menor com
incremento de Al. Os modos de estiramento, a partir do número
de onda mais alto, são atribuídos à LPM17 de SAR 13,6 (1097
cm-1), LPM16-Y de SAR 4,5 (1035 cm-1) e LPM16-X de SAR 2,1 (982
cm-1) (WEITKAMP; PUPPE, 2013).
A presença de anel duplo é interpretada pela banda na
região de 540-585 cm-1, independentemente da SAR. Outras
bandas associadas à topologia da estrutura e atribuídas aos
modos de ligação externa apareceram próximo de 1050 - 1150
cm-1, na região de estiramento assimétrico (WEITKAMP; PUPPE,
2013). Demais vibrações são mostradas na Tabela 14.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 118


NOVAS PRÁTICAS

Tabela 14 – FTIR: Diferentes grupos estruturais

cm-1 Descrição
Estiramento T-O envolvendo movimentos associados
950-1250 a átomos de oxigênio, ou estiramento assimétrico
←OT→←O;
Vibrações de estiramentos simétricos entre pontes de
650-820
ligação – νs “Si-O-Si” e νs “Si-O-Al”;
Vibrações de estiramentos simétricos entre pontes de
562
ligação – νs ‘Si-O-Si” e – δ “O-Si-O”;
Vibrações de flexão entre – δ “O-Si-O”, em antifase, e δ
420-500
“O-Al-O”.

Fonte: Weitkamp e Puppe (2013).

A morfologia dos coprodutos zeolíticos é mostrada na


Figura 33. Para avaliar as propriedades físico-químicas, a
isoterma experimental, obtida para o coproduto tipo canal
(LPM17), Figura 34, segue a isoterma do tipo I. Uma leve
inclinação no final da isoterma significa a presença de área
mesoporosa ou externa (VAN DONK et al., 2003).
As isotermas de adsorção para o coproduto tipo gaiola
(LPM16-X e LPM16-Y) mostram um rápido aumento na quanti-
dade adsorvida, acrescido por uma região longa e quase plana,
sob alta pressão. No entanto, o volume da fase adsorvida está
limitado pelo volume da microporosidade na qual ocorre a
adsorção (AWALA et al., 2015).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 119


NOVAS PRÁTICAS

Figura 33 – MEV das amostras a) beta-espodumênio;


b) LPM16-X; c) LPM16-Y; e d) LPM17.
Fonte: Santos (2018).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 120


NOVAS PRÁTICAS

Figura 34 – Isotermas de adsorção de N2.


Fonte: Santos (2018).

A partir dos dados de isoterma de adsorção e de DRX,


é possível determinar a área de microporos, o volume e o
diâmetro médio de poros, Tabela 15.

Tabela 15 – Propriedades físicas dos coprodutos zeolíticos.

1
CR Área superficial (m2.g-1) Volume de poro (cm3.g-1) 2
DMP
Amostras
(%) BET Microporo Microporo Meso/Macro (nm)

LPM16-X 79 552,4 539,5 0,20 0,022 1,48


LPM16-Y 83 833,1 808,6 0,29 0,026 1,58
LPM17 100 505,1 452,9 0,17 0,070 2,96

CR: cristalinidade relativa; 2DMP: diâmetro médio de poros.


1

Fonte: Santos (2018).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 121


NOVAS PRÁTICAS

A área calculada considerou as áreas de microporo e de


superfície externa que fornecem espaço para adsorção de molé-
culas de gás, confirmando uma área de superfície maior para
zeólitas do tipo gaiola (LPM16-X e LPM16-Y), conforme a litera-
tura: FAU 760 - 885 m2.g-1 (AWALA et al., 2015). A diferença entre
os coprodutos tipo canal (LPM17) apresenta complexo acesso à
área de superfície, devido ao bloqueio de poros, resultando em
baixa quantidade de nitrogênio adsorvido na estrutura. A rede
unidimensional de poros da mordenita encontra mais bloqueios
no interior do poro do que estruturas tridimensionais abertas,
como no caso das faujasitas, vantajosa em termos de área de
superfície e volume de poros, uma vez que fornece mais espaço
para os adsorventes se acumularem e absorverem dentro da
estrutura tipo gaiola (AWALA et al., 2015).
Frente ao coproduto do tipo canal, as estruturas do tipo
gaiola apresentam um diâmetro médio de poro relativamente
menor, justificado pela capacidade das faujasitas de reterem a
sua microporosidade. Altos valores para diâmetro médio dos
poros é resultado da presença de meso e macroporosidade, que
contribuem para o volume total de poros. O diâmetro médio dos
poros considera os tamanhos de microporo e meso-macropo-
rosidade (CAI et al., 2016).
A capacidade de adsorção dos coprodutos é mostrada
na Figura 35. A quantidade adsorvida foi maior para LPM16-X>
LPM16-Y> LPM17, na adsorção de CH4, e LPM16-Y> LPM16-X>
LPM17, para CO2.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 122


NOVAS PRÁTICAS

Figura 35 – Sorção de CH4 e CO2 (323 K, 1 bar).


Fonte: Santos (2018).

As estruturas tipo gaiola demonstraram melhor


desempenho frente às tipo canal. Essa capacidade pode estar
associada à presença de supergaiolas e gaiolas de sodalita que
encapsulam adsorventes no interior da estrutura. No entanto,
a rede de poros que conecta os canais e gaiolas pode afetar a
difusividade dos adsorvatos.
Qualquer deposição dentro do canal pode afetar a difusi-
vidade e a adsorção de moléculas de gás. A adsorção em canal
paralelo (mordenita) é considerada mais rápida comparada para
canal em zig-zag; porém, uma vez que o canal esteja bloqueado,
o adsorvato encontra dificuldade para se difundir ao longo de
canais disponíveis (ROQUE-MALHERBE, 2018).
Esses resultados estão de acordo com García-Perez et
al. (2007), que mostra que estruturas tipo gaiola atuam como
recipientes de armazenamento para moléculas poliatômicas,
de acordo com o tamanho de poro (GARCÍA-PÉREZ et al.,

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 123


NOVAS PRÁTICAS

2007). Os efeitos de tamanho de poro e área superficial dos


coprodutos, frente à capacidade de adsorção de CH4 e CO2 são
mostrados na Figura 36.

Figura 36 – Sorção de CH4 e CO2 em função do


tamanho de poros e área superficial.
Fonte: Santos (2018).

O diâmetro cinético de CH4 e CO2 é 0.38 nm e 0,33 nm,


respectivamente. A presença de poros de dimensões menores
(p.ex., 0,26 x 0,57 nm para mordenita) afeta a difusividade,
consequentemente, a capacidade de sorção dos adsorvatos.
Portanto, espera-se que as moléculas entrem na rede porosa
através de canais preferenciais. A acessibilidade fica restrita
caso o bloqueio dos poros ocorra devido ao colapso da estru-
tura, o que justifica uma adsorção menor para vários tipos de
zeólitas (RABIEE et al., 2015).
As estruturas de topologia faujasítica (LPM16-X e
LPM16-Y) possuem mais capacidade de adsorção do que do tipo
canal (LPM17). Uma vez que os tamanhos de poro e da gaiola na
estrutura faujasítica sejam maiores que das moléculas de gás

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 124


NOVAS PRÁTICAS

(0,74 nm e 1,30 nm, respectivamente), o problema devido ao


bloqueio dos poros não é significativo. Mesmo que as moléculas
de gás sejam adsorvidas na abertura dos poros, outras molé-
culas de gás são difundidas através da abertura e adsorvidas
no lado interno da gaiola (RABIEE et al., 2015).
Além disso, as estruturas zeolíticas são inerentemente
flexíveis e prontamente alteram a simetria ou sofrem distor-
ções em resposta a gradientes de temperatura ou espécies
adsorvidas. Os átomos de Si e O, constituintes da estrutura,
estão termicamente em movimento e isso permite que uma
molécula, levemente maior, passe através da abertura do poro
(ILIC; WETTSTEIN, 2017).
Teoricamente, elevada área específica e volume grande
de poros acarretam alta capacidade de adsorção. Embora a
área de superfície (833 m².g-1) e o volume de poros (0,29 cm³.g-1)
da faujasita obtida LPM16-Y proporcionem alta capacidade de
adsorção, a adsorção da mordenita LPM17, com área específica
relativamente alta (505 m².g-1) e volume de poros (0.17 cm³.g-1),
não obedeceu a essa lógica. Assim, a relação entre área super-
ficial e capacidade de adsorção para os coprodutos tipo gaiola
pode ser ponderada pelo efeito de confinamento das estruturas
dessas zeólitas (DEROUANE; CHANG, 2000).
Derouane e Chang (2000) mostram que os efeitos de
confinamento não são evidentes na adsorção de CO2, embora
os valores de área superficial para coproduto tipo gaiola sejam
superiores ao tipo canal. Essa diferença pode ser atribuída às
propriedades dos adsorvatos, à forte interação entre o sítio ativo
(local de adsorção) e ao momento quadrupolar permanente do
CO2 (bloqueio dos poros), na interrupção da difusão (DEROUANE;
CHANG, 2000).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 125


NOVAS PRÁTICAS

Outros fatores podem influenciar na sorção de CH4 e CO2,


a saber: a abertura e a estrutura da parede dos poros, a inte-
ração entre os átomos da superfície e as moléculas difusoras,
e a maneira como os canais estão conectados. É preferível uma
grande área de superfície, pois a formação da área interna em um
volume limitado origina um grande número de pequenos poros
que permitem que a adsorção aconteça (ILIC; WETTSTEIN, 2017).
Em contrapartida, a presença de grandes cavidades
permite que mais moléculas sejam confinadas dentro das
gaiolas, aumentando a quantidade de adsorvato adsorvido
(RABIEE et al., 2015). A Figura 37 mostra as curvas de sorção,
com base no comportamento de adsorção em função do tempo.

Figura 37 – Curvas de sorção fracional de CH4 e CO2 (323 K, 1 bar)


Fonte: Santos (2018).

A sorção de CH4 nos coprodutos tipo gaiola (LPM16-X


e LPM16-Y) aumentou gradativamente com relação quase
linear. De acordo com Fang et al. (2018), a interação entre CH4
e a estrutura interna de zeólitas sofreu maior influência do

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 126


NOVAS PRÁTICAS

efeito de confinamento do que da presença de sítios ácidos


(FANG et al., 2018).
A sorção de CO2 apresentou um padrão descrito por
curvas convexas para ambos os grupos de coprodutos zeolí-
ticos. A princípio, a taxa de adsorção é relativamente lenta e,
em seguida, aumenta sua taxa até alcançar um ponto em que
a adsorção aumenta lentamente. Isso corresponde à adsorção
nos locais mais fortes em decorrência do momento quadru-
polar de CO2, acompanhado pela adsorção na estrutura mais
externa. Esse fenômeno justifica a adsorção fracionária (q/qm),
que auxilia na identificação das características de adsorção
mais influenciadas pelo arranjo estrutural e propriedades dos
adsorvatos (THANG et al., 2014). Os dados de taxa inicial e tempo
de equilíbrio, na sorção de CH4 e CO2, determinados a partir dos
dados experimentais, são mostrados na Tabela 16, e plotados
nas Figuras 38 e 39, a fim de acompanhar o comportamento das
moléculas em diferentes estruturas zeolíticas e propriedades
físico-químicas, cruciais para o processo de adsorção.

Tabela 16 – Taxa inicial de adsorção, tempo de equilíbrio e capacidade


de adsorção de CH4 e CO2 nos coprodutos tipo gaiola e canal.
1
TIA (mol.sec-1)x106 2
TE (min) 3
CA (mmol.g-1)
Materiais
CH4 CO2 CH4 CO2 CH4 CO2
LPM16-X 1,4 2,8 250 67 10,9 3,1
LPM16-Y 3,5 3,0 65 58 9,4 3,3
LPM17 0,9 0,4 10 13 2,1 0,7
1
TIA: Taxa Inicial de Adsorção; TE: Tempo de
2

Equilíbrio; 3CA: Capacidade Adsortiva.


Fonte: Santos (2018).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 127


NOVAS PRÁTICAS

No estágio inicial de adsorção, Figura 38, as taxas obser-


vadas em LPM16-X e LPM16-Y foram maiores frente LPM17
para ambos os gases. Entre os coprodutos tipo gaiola, LPM16-X
adsorveu mais rapidamente que LPM16-X.

Figura 38 – Efeitos de volume de poros e área de


superfície na taxa de adsorção inicial.
Fonte: Santos (2018).

Uma vez que a área de superfície e a cristalinidade


pouco corroboram na justificativa para essa diferença, a
presença de locais preferenciais de adsorção na superfície
zeolítica é melhor aplicado pois, além dos sítios catiônicos,
quaisquer defeitos podem atuar como sítios preferenciais de
adsorção (THANG et al., 2014).
A adsorção mais lenta do CH4 (tetraédrico), frente CO2
(linear), pode ser atribuída à sua orientação estrutural mole-
cular (THANG et al., 2014). Além disso, uma grande resistência à
difusão (tamanhos equivalentes entre adsorvato e microporo),

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 128


NOVAS PRÁTICAS

taxa de transporte e um longo caminho, afetam a taxa global


de adsorção de gases (THOMMES et al., 2015).
Para moléculas apolares (CH4), a área específica e o
volume de poros podem inf luenciar as taxas iniciais de
adsorção das zeólitas. Geralmente, maior área de superfície e
maior volume de poros levam a altas taxas de adsorção. Isso
é especialmente verdadeiro para zeólitas de estrutura do tipo
gaiola, uma vez que os adsorvatos podem facilmente difun-
dir-se para a parte interna da gaiola e adsorver na superfície
zeolítica (THOMMES et al., 2015).
Quanto ao tempo de equilíbrio, Figura 39, a adsorção de
CO2 levou menos tempo para atingir o equilíbrio, corroborando
a possibilidade de interações entre cátions de sódio e moléculas
de CO2. Tomando as estruturas de faujasita como exemplo, baixa
SAR indica mais sódio, na forma de cátion, no balanceamento
de carga (THANG et al., 2014).

Figura 39 – Efeitos do volume de poros e área de


superfície no tempo de equilíbrio.
Fonte: Santos (2018).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 129


NOVAS PRÁTICAS

Por fim, observou-se que, à medida que o volume da


área superficial e do poro aumentam, CO2 levou mais tempo
para atingir o equilíbrio. Assume-se que, para maior área de
superfície e maior volume de poros, os adsorvatos “saltam” de
um local para outro antes de serem adsorvidos na superfície.
No entanto, relações opostas são observadas em que, o tempo
necessário para atingir o equilíbrio aumenta ao passo que a
área superficial diminui (THANG et al., 2014).
O processo de adsorção, portanto, foi afetado devido
à presença de defeitos nos coprodutos obtidos em rota de
extração de lítio. Um maior tamanho de poro indica a presença
de defeitos, o que resultou em maior tempo de equilíbrio de
adsorção para zeólitas com maior diâmetro médio de poros.
Para coprodutos tipo canal, o equilíbrio foi alcançado em
menos de 50 minutos. De acordo com Roque-Malherbe (2018), a
difusão e a adsorção em zeólitas depende muito do sistema de
rede de poros e da estrutura dos adsorvatos. As grandes inte-
rações entre as moléculas e a rede zeolítica também resultam
em moléculas fortemente adsorvidas dentro dos canais (ROQUE-
MALHERBE, 2018). No processo de adsorção de gases, o número
de moléculas atraídas para uma superfície sólida depende das
condições experimentais (temperatura e pressão), do tipo de
gás e das propriedades superficiais do adsorvente (ROQUE-
MALHERBE, 2018).
Em materiais macroporosos, a interação adsorvato-ad-
sorvato é dominante. No entanto, em microporosos, a interação
adsorvente-adsorvato é mais importante. Os resultados dessa
interação são mostrados nos espectros de IV, Figura 40, nas
bandas assimétricas (3040 - 2970 cm-¹) e simétricas (1380 - 1335
cm-¹) dos adsorvatos, quando das interações entre CH4 e CO2 com

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 130


NOVAS PRÁTICAS

os coprodutos zeolíticos, via forças eletrostáticas C-Na, H-O, Si-C


e O-Na, O-Si, C-O, respectivamente (ROQUE-MALHERBE, 2018).

Figura 40 – FTIR de CH4 adsorvido (293 K, 1 bar).


Fonte: Santos (2018).

O pico em torno de 3020 cm-1 é atribuído à banda assi-


métrica de CH4 adsorvido, como resultado da rotação livre
das moléculas adsorvidas em torno de um único eixo normal
à superfície adsorvente (THOMMES et al., 2015). Os espectros
mostram que as intensidades dos picos dos coprodutos tipo
gaiola (LPM16-X e LPM16-Y) são mais altas e nítidas frente às
do tipo canal (LPM17). A presença de supergaiolas dentro das
estruturas de faujasita (LPM16-X e LPM16-Y) permite mais
liberdade para as moléculas adsorvidas rotacionarem e expe-
rimentarem um campo simétrico das paredes dos poros das
zeólitas (ROQUE-MALHERBE, 2018).
O pico da banda simétrica, em torno de 1365 cm-1, é
atribuído à interação de moléculas adsorvidas localmente, com
indução de um campo elétrico na superfície. Pode-se afirmar

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 131


NOVAS PRÁTICAS

que existe uma interação fraca entre adsorvato-adsorvente na


estrutura do coproduto tipo canal (DEROUANE; CHANG, 2000).
Os picos das bandas assimétricas e simétricas estão
mais nítidos para o espectro de IV quando tipo gaiola, devido
à interação CH4-zeólita ser atribuída ao efeito de confinamento.
Como conclusão, os coprodutos do tipo gaiola (LPM16-X e
LPM16-Y), obtidos em rota de extração de lítio, adsorveram mais
que do tipo canal (LPM17). A presença de defeitos estruturais
(provenientes da metodologia de síntese) proporcionou maior
número de sítios ativos, comprovado pela quantidade de CH4 e
CO2 adsorvidos. Porém, presença de fase amorfa foi decisiva na
baixa adsorção de LPM17.
Além disso, dados termodinâmicos mostram que as
propriedades dos adsorvatos (molécula apolar, CH4; momento
quadrupolar permanente, CO2) afetaram as características
de adsorção. No entanto, a curva de adsorção fracionada de
CH4 provou o efeito da estrutura semelhante a zeólitas do tipo
gaiola, indicando propriedades típicas de um potencial adsor-
vente relacionados ao tipo de estrutura e diâmetro do poro.
A partir dos resultados de cinética, adsorção de CH4
foi fortemente influenciada pela limitação de dados sobre a
adsorção de CO2, sugerindo que o momento quadrupolar possui
maior influência na cinética de adsorção de CO2 relacionado
ao arranjo estrutural das zeólitas. Por fim, o estudo sobre a
interação adsorvato-adsorvente indicou uma forte interação
entre CH4 e o sítio de adsorção (cátion) das zeólitas obtidas, com
maior intensidade para LPM16-Y.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 132


NOVAS PRÁTICAS

c) Coproduto zeolítico de topologia MFI (ZSM-5).

A estrutura da zeólita MFI é formada por unidades de


construção, denominada pentasil. É comum agrupar estruturas
diferentes formadas por essa unidade em uma família que leva
o mesmo nome da unidade de construção. A estrutura possui
duas redes de canais interconectados, uma de canais retos e a
outra sinusoidal ou “zig-zag” (VINACHES et al., 2015). A classe de
zeólitas MFI tipo ZSM-5 apresenta um alto grau percentual de
silício (SAR compreendida entre 15 e infinito) e possui inúmeras
aplicações industriais devido a sua alta seletividade em deter-
minadas reações catalíticas e alto grau de estabilidade térmica
e ácida (GHRIB et al., 2018).
Na metodologia empregada, via síntese hidrotérmica,
uma etapa essencial durante a síntese é o uso de cátions de
tetrapropilamônio (TPA+) atuando como agente direcionador
de estrutura durante a formação dos cristais da zeólita ZSM-5.
Após a etapa de cristalização, o produto final seco é calcinado a
500 °C/4 h para liberação do direcionador de estrutura (TPABr)
(GHRIB et al., 2018).
Assim, apresentaremos os principais resultados de
pesquisa realizada sobre o desenvolvimento de rota para
extração de lítio com obtenção de coproduto zeolítico de
estrutura MFI, sem uso de direcionadores de estrutura
(SANTOS; NASCIMENTO; PERGHER, 2018b). Inicialmente,
beta-espodumênio foi lixiviado com solução concentrada de
HCl, em programa moderado de temperatura e agitação, a fim
de modificar a relação Si/Al do mineral de partida. A solução
foi filtrada com água morna, o licor recirculado (sistema em
refluxo) e a pasta conduzida à secagem (etapa 1, Figura 41).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 133


NOVAS PRÁTICAS

Figura 41 – Rota desenvolvida para extração de lítio


com obtenção de coproduto zeolítico MFI.
Fonte: Santos et al. (2018b).

A relação Si/Al, resultante da reação (4), foi de 30,6


(microanálise EDS e FRX).

Reação (4)

Segundo Kuang et al. (2018), na desaluminização


por remoção, o Al não é substituído por outro elemento.
Promove-se a formação de vacâncias na estrutura, com perda de

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 134


NOVAS PRÁTICAS

cristalinidade e consequente distanciamento entre sucessivos


íons de lítio, desde 2 Å até 7 Å, o que resulta no emparelhamento
das camadas de tetraedros na forma de lâminas, justificando
a morfologia irregular do beta-espodumênio desaluminizado,
Figura 42.b (KUANG et al., 2018).

Figura 42 – Morfologias: a) beta-espodumênio inicial;


b) beta-espodumênio desaluminizado.
Fonte: Santos (2018).

Na etapa 2, Figura 41, o beta-espodumênio desalumini-


zado (SAR 30,6) foi calcinado, em presença de Na 2CO3 e NaCl.
O gráfico (A), Figura 43, relaciona os teores de Na 2CO3 e NaCl,
na calcinação, à recuperação estequiométrica de lítio no
processo (%Li2O).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 135


NOVAS PRÁTICAS

Figura 43 – a) Adição de Na2CO3 e NaCl x percentual de extração


(%Li2O); b) DRX de precipitado sólido (1,2Li2O/xNa2CO3)
Fonte: Santos (2018).

O teor de Li2CO3 está associado ao excesso de sódio no


processo, conforme reação (5) (BARBOSA et al., 2014).

LiAlSi2O3 + NaCl LiCl + NaLiAlSi2O3 + Na2CO3 Li2CO3 + NaCl


Reação (5)

O caráter energeticamente estável do complexo de lítio


formado (NaLiAlSi2O3), associado ao princípio de impedimento
estérico, restringiu o acesso das espécies CO32- (Na 2CO3) às
posições intersticiais. Esse mecanismo dificultou a substituição
do lítio remanescente da estrutura do beta-espodumênio,
justificando baixos rendimentos de extração (< 70%, Figura
43.a), e a formação de óxido de lítio alumínio (LiAlO2), em vez
de hidróxido de lítio, espécie precursora na conversão em
bicarbonato mais solúvel, conforme reação (6) (ROSALES; DEL
CARMEN RUIZ; RODRIGUEZ, 2013).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 136


NOVAS PRÁTICAS

Reação (6)

Para extração do lítio remanescente, sugerimos o emprego


de sais inorgânicos (por exemplo, NaCl, KCl, etc) na mistura subme-
tida à calcinação (etapa 2). O volume molecular menor (frente à
Na2CO3) confere ao sal inorgânico fácil acessibilidade na rede para
substituição do lítio pelo cátion compatível, de modo que o sal não
é consumido ou alterado por meio da reação, conforme reação (5).
Dados de absorção atômica corroboram a Figura 43.a,
mostrando que a adição de até 10% de NaCl em solução de
relação molar Li2O:6Na2CO3 implicou a extração de até 84% de
lítio. É ainda na calcinação que uma parcela do lítio, substituído
na estrutura por sódio, forma um complexo de aluminossilicato
sódio-lítio, com o lítio recuperado na forma de bicarbonato mais
solúvel (LiHCO3), após a adição de NH4HCO3, para precipitação do
sal correspondente, Li2CO3 (etapas 5, 6 e 8). Simultaneamente, o
complexo de aluminossilicato sofre solubilização na presença
de forte agente mineralizante, e o gel formado, previamente
envelhecido, é descarregado em autoclaves para nucleação e
cristalização de zeólita ZSM-5, particularmente sensível às
concentrações de Na+ e OH- (etapas 3, 4 e 7).
A concentração das espécies Na2O (Na+) e H2O (OH-), no
meio reacional (etapa 3), foi avaliada através de uma série de
experimentos utilizando relações molares xNa2O:SiO2:30H2O e
0,19Na2O:SiO2:xH2O. Resultados de DRX e o grau de cristalinidade
relativa (RCD) dos produtos são apresentados nas Figuras 34 e 45,
respectivamente. As amostras obtidas foram designadas como
MR-n, onde n= Na2O/SiO2 (Figura 44.a) ou n= H2O/SiO2 (Figura 44.b).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 137


NOVAS PRÁTICAS

Figura 44 – DRX dos produtos de cada etapa do processo,


em destaque a etapa 3: (a) Na2O/SiO2; e (b) H2O/SiO2.
Fonte: Santos (2018).

De acordo com os dados de DRX da Figura 34.a, quando


baixo teor de Na2O (MR 0,10) em solução, os teores de alcalinidade
e íons Na+ disponíveis foram insuficientes para dissolução de sílica
amorfa em gel e transformação do gel em zeólita ZSM-5, durante

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 138


NOVAS PRÁTICAS

o tratamento hidrotérmico, resultando no maior percentual de


sólido amorfo recuperado (88%, aproximadamente), Figura 45. As
Figuras 45 e 46 mostram a relação entre a cristalinidade relativa,
rendimento do produto sólido e DRX, frente a sua dependência
com o tempo e a temperatura de cristalização durante a etapa
de tratamento hidrotermal (etapa 3).

Figura 45 – Estudo da adição de Na2O/SiO2 e H2O/SiO2 no percentual


de cristalinidade e recuperação de produto sólido.
Fonte: Santos (2018).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 139


NOVAS PRÁTICAS

Figura 46 – MEV dos coprodutos obtidos a partir de


relação molar H2O/SiO2: a) 26; b) 30; e c) 32.
Fonte: Santos (2018).

A presença das fases mordenita e quartzo são observadas


majoritariamente quando a relação molar H2O/SiO2 é igual a 26
(MR 26, Figura 44.b). Na Figura 46.a, a presença de ranhuras na
superfície do cristal está relacionada ao excesso de alcalinidade,
resultante do baixo teor de água no meio reacional, indicando
que: i) uma rápida cristalização ocorreu com o aumento da
viscosidade do meio, comprometendo a despolimerização da
rede de silicato e a homogeneidade do sistema; ii) uma menor
distância entre as espécies em solução contribuíram para nucle-
ação e cristalização de zeólita ZSM-5, com RCD ~80% (Figura 45)
(KANG et al., 2009).
Com o aumento da concentração de Na₂O em solução (MR
0,19), a dissolução de material amorfo aumentou, mostrando
que a concentração de silicatos e íons aluminatos necessários
para a formação de SBU’s 5-1 foi alcançada (RCD de 88,5%),
viabilizando a nucleação. Na obtenção de espécies suficientes
em solução, é necessária normalizar a quantidade de água
utilizada no processo. Como observado nas Figuras 44.a e 45,
a cristalinidade aumenta (RCD ~85%), a partir do incremento
de água (MR 30), com a morfologia do cristal permanecendo
uniforme, visivelmente livre de fases indesejáveis (Figura 46.b).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 140


NOVAS PRÁTICAS

Excesso de NaOH (MR 0,28) elevou a alcalinidade (Na+/


SiO2), confirmada pela presença das fases indesejadas morde-
nita e quartzo, a partir da dissolução de SiO44- no equilíbrio
dos íons de sódio excedentes, retidos no meio reacional devido
à quantidade de Na+ ter ido além da necessária para equilibrar
a carga negativa de zeólita ZSM-5. Quando do excesso de água
(MR>32), houve natural redução na alcalinidade do sistema,
responsável pela diminuição na cristalinidade do material
(Figuras 44.b e 46.c).
A tendência na cristalização, portanto, pode ser expli-
cada fazendo uma analogia entre a estabilidade do complexo do
aluminossilicato e a alcalinidade do meio reacional: quando o
aluminossilicato é exposto a condições de elevada alcalinidade,
torna-se mais solúvel, reduzindo a taxa de transformação para
produto sólido cristalino, formando mordenita que é mais
metaestável que a zeólita ZSM-5, reduzindo, assim, o percentual
de produto sólido recuperado (↓RCD) (GHRIB et al., 2018).
Em contrapartida, quando o aluminossilicato fica exposto
a uma condição de baixa alcalinidade, torna-se menos solúvel e
a cristalização ocorre mais rapidamente, levando à formação
de fase amorfa com alto percentual de produto sólido amorfo.
Nesse caso, o aluminossilicato não tem tempo suficiente para
nuclear cristais de zeólita ZSM-5 (KANG et al., 2009).
Esses resultados mostram a forte influência dos teores de
Na₂O em solução na cristalinidade e morfologia da zeólita ZSM-5,
nomeada LPM18, recuperada na forma sódica (Na-LPM18), etapa
7, e convertida à forma protonada (H-LPM18), via procedimento
de troca iônica através de sucessivas solubilizações da amostra
em solução 1,0 M de NH₄Cl (1 g/100 ml), e posterior decompo-
sição térmica em mufla (400 °C/3 h), para ensaios de adsorção/
dessorção de N₂ e acidez.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 141


NOVAS PRÁTICAS

A partir de difratogramas dos coprodutos obtidos através


de tratamentos hidrotérmicos de 24 h, 27 h e 96 h, foi calculada
a cristalinidade relativa entre as amostras e o tamanho médio
de cristalitos, Tabela 17. O coproduto mais cristalino é admitido
como 100 % cristalino.
Empregando a equação de Scherrer, calculou-se o tamanho
médio dos domínios cristalinos dos coprodutos, que se manteve
em torno de 184 Å, sendo maior para 188,1 Å, para tratamento
com duração de 27 h. Possivelmente, os cristalitos maiores se
deram pela ausência de codirecionadores de estrutura, visto
que atuam para auxiliar na redução do tamanho médio dos
desses elementos.

Tabela 17 – Propriedades físico-químicas dos coprodutos zeolíticos obtidos.

Tratamento Cristalinidade Tamanho de


BET Vmic Vmes
hidrotermal relativa cristalito
(etapa 3) % m².g-1 Å cm³.g-1 cm³.g-1
24h 46,1 126,0 180,5 0,034 0,024
27h 100,0 306,3 188,1 0,126 0,026
96h 66,9 148,2 183,6 0,055 0,033

Fonte: Santos (2018).

As propriedades texturais das amostras foram analisadas


via isotermas de adsorção/dessorção estática de N2, a 77 K, Figura
47. De acordo com a classificação IUPAC, para materiais sólidos
porosos, as isotermas de adsorção e dessorção de N2 dos materiais
analisados são classificadas como uma combinação das isotermas
do tipo I, característico de adsorventes microporosos, com tipo

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 142


NOVAS PRÁTICAS

IV, característico de sólidos mesoporosos com a presença de um


loop de histerese (KIM; YOON; BAE, 2016).

Figura 47 – Isotermas de adsorção N2 para amostras


sintetizadas em 24 h, 27 h e 96 h.
Fonte: Santos (2018).

Todas as amostras apresentaram histerese em pressões


relativas superiores a 0,35 P/Po, atribuída à presença de meso-
poros nas estruturas, de acordo com o volume de poros, Tabela
09 (YU et al., 2013). A amostra com a maior superfície específica
foi também a amostra de maior cristalinidade relativa, o que
indica que a superfície específica tanto é maior quanto mais
cristalina é a estrutura (MOHAMED; ZIDAN; THABET, 2008).
A presença de mesoporos (loop de histerese nas isotermas
de adsorção) é justificada pelo volume de mesoporos, e quanto
maior o volume de mesoporos maior a área externa. A prévia
calcinação das amostras para sua forma protonada inibe o
bloqueio dos poros às moléculas de N2 pelos átomos de sódio,

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 143


NOVAS PRÁTICAS

o que poderia resultar em uma menor adsorção e consequente


menor área específica decorrente da forma sódica da amostra.
Entretanto, para a confirmação dessa hipótese, é necessária
análise química elementar (YU et al., 2013).
A Figura 48 mostra as curvas TG/DTG das amostras
Na-LPM-18, H-LPM-18 e ZSM-5 comercial (SAR 26).

Figura 48 – Curvas TG/DTG de dessorção de


n-butilamina para LPM-18 e ZSM-5 comercial.
Fonte: Santos (2018).

A partir das curvas TG/DTG, foi possível calcular as


propriedades ácidas dos sítios ativos das zeólitas, Tabela 18.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 144


NOVAS PRÁTICAS

Tabela 18 – Propriedades de acidez da dessorção


de n-butilamina para LPM-18.

Concentração de sítios
Dessorção
Amostras ácidos (mmol.g-1)

Δm (%) < 300°C > 300°C Totais


H-ZSM-5 15,4 0,44 1,11 1,55
Na-LPM-18 11,2 0,77 0,64 1,41
H-LPM-18 13,1 0,56 0,87 1,43

Fonte: Santos (2018).

A força ácida dos materiais foi classificada como concen-


tração de sítios ácidos médios (< 300 °C) e fortes (> 300 °C). A
concentração total de sítios ácidos foi proporcional à dessorção
de n-butilamina e definiu a densidade total dos sítios ácidos.
O coproduto zeolítico LPM-18 apresenta comporta-
mento semelhante à H-ZSM-5 comercial, em comparação à
forma protonada para a concentração de sítios ácidos totais.
A zeólita H-ZSM-5 apresentou superior e relevante concen-
tração de sítios ácidos fortes, possivelmente proporcionais à
acidez protônica de Brönsted.
As curvas TG/DTG dos materiais, em sua forma proto-
nada, mostra perfil semelhante nas etapas de perda de massa.
O coproduto H-LPM-18 apresenta concentração de sítios ácidos
fortes relevantes e próxima à comercial. Segundo Kim, Jung e
Park (2010), a concentração de sítios ácidos totais em zeólitas
ZSM-5 é inversamente proporcional à relação SAR (KIM; JUNG;
PARK, 2010). Dessa forma, a concentração total de sítios ácidos
da H-ZSM-5 é maior, pois apresenta SAR 26, comparado ao
coproduto LPM-18, SAR 30.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 145


NOVAS PRÁTICAS

Quanto menor a relação SAR, maior a quantidade de


íons de alumínio na rede cristalina, consequentemente, maior
a quantidade de cátions de compensação ligados aos íons
alumínio e maior a possibilidade de sítios ácidos de Brönsted,
visto que os cátions de compensação podem ser substituídos
isomorficamente por prótons H+ através de troca iônica (GROEN;
MOULIJN; PÉREZ-RAMÍREZ, 2006).
O índice de concentração de acidez total para H-LPM-18 foi
equivalente ao relatado por Engtrakul et al. (2016), para H-zsm-5
(SAR 30), com acidez de 1,35 mmol g-1 (ENGTRAKUL et al., 2016). Por
fim, avaliando a acidez total do coproduto H-LPM-18, puderam-se
evidenciar a densidade e a força dos sítios ácidos, correlacionando
à SAR, segundo a literatura. A totalidade dos resultados obtidos
permite concluir que o coproduto LPM-18 é promissor para
processos de refino e como suporte catalítico, visto que o meio
de obtenção e os parâmetros utilizados amenizam o impacto
ambiental e reduzem os custos de produção.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 146


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SANTOS, L. L.; NASCIMENTO, R. M.; PERGHER, S. B. C.


Processo para obtenção dos materiais LPM-18 e LPM-19,
com topologias zeolíticas MFI e LTT, respectivamente,
como subproduto da extração do lítio a partir do beta-
espodumênio. BR Patent No 10/2018/016339/6. 2018b. 28f.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 155


NOVAS PRÁTICAS

SCHWIEGER, W. et al. Hierarchy concepts: classification


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kaolin waste. Cerâmica, v. 61, n. 360, p. 409–413, 2015.

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VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 156


NOVAS PRÁTICAS

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Applied Chemistry, v. 87, n. 9-10, p. 1051-1069, 2015.

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VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 157


NOVAS PRÁTICAS

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ZAZERI, G. Síntese de zeólita Mordenita (MOR) utilizando


radiação de micro-ondas e sua aplicação como potencial
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(Mestrado em Biofísica molecular) – Universidade
Estadual Paulista, São José do Rio Preto, 2017.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 158


5 TENDÊNCIAS E
PESQUISAS FUTURAS

Devido a sua utilização na área nuclear, as atividades de indus-


trialização, importação e exportação de minérios e minerais de
lítio, produtos químicos orgânicos e inorgânicos, lítio metálico
e ligas de lítio são supervisionadas pela Comissão Nacional
de Energia Nuclear (CNEN), conforme determina o Decreto
Nº 2.413, de 04/12/97, publicado no Diário Oficial da União (DOU),
em 05/12/97 e prorrogado pelo Decreto 5.473 de 21/06/2005 até
31/12/2020 (BORGES, 2018).
O lítio no Brasil encontra-se sob proteção governamental
até 2020. Essa proteção pode estar reprimindo o adensamento
da cadeia produtiva do lítio no Brasil, tanto na sua utilização
primária – como concentrado mineral – quanto na sua aplicação
secundária, como insumo para a produção de baterias de Li-íon
(BRAGA; FRANÇA, 2013).
Estudos recentes mostram um crescimento exponen-
cial sobre a demanda de lítio por parte do mercado interno,
proveniente da importação de baterias de Li-íon primárias
e secundárias (recarregáveis). Propriedades como a elevada
densidade energética, vida útil e redução nos preços da bateria
impulsionarão a demanda pelo produto durante o período
previsto (2016-2026). Esse mercado é superior à produção
nacional (~600 t/ano de LCE) e não tem controle governamental
(RESENDE, 2018; BRAGA; FRANÇA, 2013; PAES, 2018).
A Rede Nacional de Informações sobre Investimentos –
RENAI tem realizado reuniões bilaterais (Brasil/China, Brasil/
TENDÊNCIAS E PESQUISAS FUTURAS

Japão, Brasil/França) objetivando estabelecer parcerias e atrair


investimentos na cadeia produtiva do lítio no Brasil, com foco
na produção de baterias de Li-íon para celulares, notebooks
e veículos elétricos. A grande incógnita é se os insumos e
produtos necessários à produção dessas baterias estariam sob
o regime de anuência prévia da CNEN. Esse regime impacta de
maneira negativa o adensamento e a modernização da cadeia
produtiva nacional (BRAGA; FRANÇA, 2013).
A concorrência no mundo globalizado está aberta, de
modo que os mais ágeis e competentes permanecerão. Além
disso, o mercado mundial de lítio está à espera de novos empre-
endimentos. As tecnologias são mundiais e estão disponíveis,
podendo ser otimizadas ou tropicalizadas.

5.1 Tendências tecnológicas e desafios de inovação

a) Purificação do Li2CO3

O carbonato de lítio produzido no Brasil não tem a pureza


requerida pela indústria de baterias de Li-íon (grau bateria
> 99,50% Li2CO3). O desafio do processo de purificação do Li2CO3
para obtenção do produto com essa especificação envolve várias
etapas de cristalização e recristalização e/ou processamento
com resinas de troca iônica para a obtenção de um produto de
pureza adequada à aplicação.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 160


TENDÊNCIAS E PESQUISAS FUTURAS

b) Obtenção direta de LiOH pela rota alcalina

Como no Brasil, o principal produto de lítio ainda é o


hidróxido de lítio, utilizado na fabricação de graxas e lubri-
ficantes. Uma mudança na rota de processamento poderá
promover a redução dos custos de produção, cujo desafio será
a eliminação definitiva do uso de barrilha e ácido sulfúrico,
substituídos por cal/calcário como principal insumo, com
menor custo (BRAGA; FRANÇA, 2013).

c) Obtenção de lítio a partir da água do mar

Considerando que as concentrações de lítio e sódio na água


do mar são 0,15 e 10.800 ppm, respectivamente, processos de
concentração seletiva por diálise, desenvolvidos por pesquisa-
dores do QST Rokkasho Fusion Institute, Japão, e via troca iônica
por peneiras moleculares, desenvolvidas por pesquisadores do
Institute of Seawater Desalination and Multipurpose Utilization, China,
demonstram que é possível melhorar a eficiência de extração de
Li, recuperando cerca de 36 g de LiCl a partir de 200 m3 de água
do mar (LiCl/Li = 5,8) (HOSHIRO, 2015; LIU et al., 2015).

d) Caracterização das salmouras

Por meio de salinas em atividades nos estados do Rio


Grande do Norte, Rio de Janeiro, Ceará e Piauí, a produção
nacional de sal marinho foi de 5,9 mi t em 2013 (último censo),

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 161


TENDÊNCIAS E PESQUISAS FUTURAS

o equivalente a 2,8% da produção mundial. No processo de


produção de sal marinho, após a cristalização do cloreto de
sódio, uma quantidade significativa de salmoura é devolvida ao
mar, com elevada concentração de íons de potássio, magnésio,
boro, iodo e lítio. A realização de um estudo para caracterização
e recuperação do lítio contido nessas salmouras poderá indicar
uma possibilidade para aproveitamento econômico (COSTA,
2014; BRAGA; FRANÇA, 2013).

e) Aproveitamento integral dos pegmatitos


litiníferos e novas rotas de extração

A produção de lítio a partir de pegmatitos, antes


abandonada, está sendo retomada face ao aumento de preço
e à crescente demanda do mercado mundial, proporcionada
pelo uso crescente das baterias de Li-íon. Novos projetos que
abordam a extração de lítio a partir de minérios são descritos
nos trabalhos de Oliveira, Nascimento e Pergher (2017a e 2017b),
que evidenciam a transformação de resíduo silicoaluminoso,
proveniente do processo de extração de lítio, em zeólitas de
topologias MOR (mordenita) e EDI (Linde Type F), e Santos,
Nascimento e Pergher (2018a e 2018b), que mostram o desen-
volvimento de rotas para extração de lítio, na forma carbonato,
com obtenção simultânea de coprodutos de topologias e
propriedades zeolíticas (LTA, FAU, MOR, MFI e LTT), em vez de
resíduo silicoaluminoso (OLIVEIRA, NASCIMENTO, PERGHER,
2017a; OLIVEIRA, NASCIMENTO, PERGHER, 2017b; SANTOS,
NASCIMENTO, PERGHER, 2018a; SANTOS, NASCIMENTO,
PERGHER, 2018b).

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 162


TENDÊNCIAS E PESQUISAS FUTURAS

A principal aplicação de algumas dessas zeólitas está em


seu emprego como suporte para Ni, na preparação de catali-
sadores heterogêneos para hidrogenação seletiva de CO2, em
que o CO2 a ser mitigado é oriundo de unidades industriais.
Em particular, verifica-se que a hidrogenação do CO2 a metanol
é uma das alternativas mais promissoras de reutilização desse
gás na indústria química.
O processo produtivo de baterias de Li-íon para veículos
elétricos (EV), híbridos (HEV) e plug-in híbrido (PHEV) requer
um carbonato de lítio de alta pureza (> 99,50% Li2CO3), o qual
poderá ser obtido com maior qualidade a partir de minérios
(BRAGA; FRANÇA, 2013). Para a produção de lítio a partir de
minérios ser economicamente viável, é necessário o aprovei-
tamento integral do pegmatito em que o mineral de lítio está
contido, isto é, a recuperação adicional dos demais minerais
industriais contidos na rocha, como quartzo (SiO2), feldspato
(Na(Si,Al)4O8) e micas, além de minerais metálicos, como tanta-
lita e cassiterita.
Portanto, compreendem desafios e sugestões para a
consolidação da cadeia produtiva do lítio no Brasil (BECK, 2018):

I.  programa de ciência e tecnologia para capacitação acadêmica


e de centros de pesquisa na cadeia produtiva de lítio;

II.  programa de pesquisa para fomentar o desenvolvimento


nacional de novas tecnologias de baterias de lítio;

III.  parcerias com fabricantes conceituados no mercado


mundial para transferência de tecnologia, instalação e
suporte de plantas industriais para produção e evolução das
células no Brasil; e

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 163


TENDÊNCIAS E PESQUISAS FUTURAS

IV.  incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento das células, bate-


rias etc. O crescimento exponencial da demanda de baterias
de lítio-íon para uso em armazenamento de energia (grid) e
veículo elétrico não será impactado por falta de matéria-prima:
novas tecnologias estão em contínuo desenvolvimento; o preço
das baterias continuarão em queda; e o mundo é cada vez mais
dependente de baterias.

5.2 Sustentabilidade ambiental

Considerando o cenário nacional e internacional, bem


como o aumento previsto para a demanda de lítio, vislumbra-se
uma oportunidade para o Brasil introduzir ações de sustentabi-
lidade ambiental nos programas de Pesquisa, Desenvolvimento
e Informação (PD&I), no fortalecimento da cadeia produtiva de
lítio no Brasil, a priori:

I.  obtenção direta de LiOH via rota alcalina: redução dos


custos de produção, por eliminação da necessidade de uso
de barrilha (Na2CO3) e ácido sulfúrico (H2SO4);

II.  caracterização das salmouras: quantificar as concentrações


dos sais à base de K, Mg, B, I e Li, remanescentes no rejeito do
processo de produção de NaCl, bem como estudo do fracio-
namento e do aproveitamento econômico desses elementos;

III.  aproveitamento integral dos pegmatitos litiníferos:


espodumênio, quartzo, feldspato, muscovita, entre outros
minerais de interesse econômico.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 164


TENDÊNCIAS E PESQUISAS FUTURAS

Os projetos ora em andamento no Brasil irão refletir a


importância das reservas brasileiras de pegmatitos. O investi-
mento na cadeia de valor do lítio é muito importante para o Brasil.
A maior margem dessa indústria está na produção de compostos
químicos, e o país não tira benefício dessa oportunidade.
A aplicação final do produto é outro fator de compe-
titividade que o Brasil precisa fomentar, mesmo a partir de
parcerias com empresas que detêm hoje esse mercado. É nítido
um relaxamento das estimativas de produção e consumo em
médio prazo. Espera-se que a demanda pelo produto nos setores
de manufatura, energia solar e ferroviário aumente com a cres-
cente necessidade de reposição e armazenamento de energia.
Os veículos híbridos e elétricos testemunharão o cres-
cimento do mercado de LIBs devido à substituição de motores
a combustão por motores elétricos. Além disso, as políticas
governamentais de emissão de GHG (greenhouse gases, gases efeito
estufa) – a fim de salvaguardar o meio ambiente e reduzir as
opções baseadas na degradação ambiental – devem desempenhar
um papel crítico na formação do mercado geral de baterias.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 165


TENDÊNCIAS E PESQUISAS FUTURAS

Referências

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In: SEMINÁRIO SOBRE LÍTIO-BRASIL, 3., 2018, Rio de Janeiro. Anais
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cetem.gov.br/iii-seminario-litio-brasil. Acesso em: 28 ago. 2018.

BORGES, F. L. S. Aspectos Regulatórios do Comércio de Lítio e seus


Derivados. SEMINÁRIO SOBRE LÍTIO-BRASIL, 3., 2018, Rio de Janeiro.
Anais [...]. Rio de Janeiro: CETEM, 2018. Disponível em: http://www.
cetem.gov.br/iii-seminario-litio-brasil. Acesso em: 28 ago. 2018.

BRAGA, P. F. A.; FRANÇA, S. C. A. Lítio: um mineral


estratégico. Rio de Janeiro: CETEM/MCTI, 2013.
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COSTA, J. L. Sal - Sumário mineral. Brasília, DF:


Departamento Nacional de Produção Mineral, 2014.

HOSHINO, T. Innovative lithium recovery technique from


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superconductor. Desalination, v. 359, p. 59-63, 2015.

LIU, L. et al. Lithium extraction from seawater by manganese oxide


ion sieve MnO2· 0.5 H2O. Colloids and Surfaces A Physicochemical
and Engineering Aspects, v. 468, p. 280-284, 2015.

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partir do resíduo silicoaluminoso gerado na extração do lítio
do espodumênio. BR Patent No 10/2017/016712/7. 2017a. 17f.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 166


TENDÊNCIAS E PESQUISAS FUTURAS

OLIVEIRA, M. S. M.; NASCIMENTO, R. M.; PERGHER, S. B. C.


Síntese do material zeolítico LPM-12 de topologia EDI a partir
do resíduo silicoaluminoso gerado na extração do lítio do
espodumênio. BR Patent No 10/2017/016757/7. 2017b. 17f.

PAES, V. J. C. Avaliação do potencial do lítio no brasil: ações,


principais resultados, perspectivas atuais e futuras. In: SEMINÁRIO
SOBRE LÍTIO-BRASIL, 3., 2018, Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio
de Janeiro: CETEM, 2018. Disponível em: http://www.cetem.
gov.br/iii-seminario-litio-brasil. Acesso em: 28 ago. 2018.

RESENDE, I. Projeto de lítio da Sigma mineração (Araçuaí, MG).


In: SEMINÁRIO SOBRE LÍTIO-BRASIL, 3., 2018, Rio de Janeiro. Anais
[...]. Rio de Janeiro: CETEM, 2018. Disponível em: http://www.
cetem.gov.br/iii-seminario-litio-brasil. Acesso em: 28 ago. 2018.

SANTOS, L. L.; NASCIMENTO, R. M.; PERGHER, S. B. C. Processo


para obtenção dos materiais LPM-15, LPM-16 e LPM-17, com
topologias zeolíticas LTA, FAU e MOR, respectivamente,
como subproduto da extração do lítio a partir do beta-
espodumênio. BR Patent No 10/2018/016312/4. 2018a. 30f.

SANTOS, L. L.; NASCIMENTO, R. M.; PERGHER, S. B. C.


Processo para obtenção dos materiais LPM-18 e LPM-19,
com topologias zeolíticas MFI e LTT, respectivamente,
como subproduto da extração do lítio a partir do beta-
espodumênio. BR Patent No 10/2018/016339/6. 2018b. 28f.

VALORIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO LÍTIO 167


Este livro foi produzido pela equipe
editorial da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte.

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