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Pró-Reitoria de Graduação
Curso de Licenciatura em Matemática
Trabalho de Conclusão de Curso
Brasília - DF
2012
4
Brasília
2012
3
_____________________________________________________
Prof. MSc. Sinval Braga de Freitas
Orientador
Matemática – UCB
_____________________________________________________
Prof. Dr. Cláudio Manoel Gomes de Sousa
Matemática - UCB
_____________________________________________________
Prof. Esp. Demosthenes Bittencourt Júnior
Matemática – UCB
Brasília
2012
3
Resumo:
O presente trabalho tem por finalidade elucidar alguns dos problemas encontrados no papiro
de Rhind. A análise desses problemas foi feita por meio da organização dos principais
conteúdos e suas respectivas questões. Nessa análise destacam-se o uso de frações unitárias,
as operações de multiplicação e divisão egípcia, resolução de equações lineares pelo método
da falsa posição, área e volume de figuras geométricas, progressões, ideias de
proporcionalidade e tabelas com valores usados nos cálculos pelos egípcios. Todo esse
processo tem o intuito de expor de maneira sucinta como se davam os conhecimentos
matemáticos no antigo Egito, principalmente na resolução de questões do cotidiano do povo.
Com isso, pode-se concluir que mesmo tendo métodos antigos e até mesmo complexos,
alguns algoritmos egípcios são aplicáveis na resolução de problemas atuais.
1. INTRODUÇÃO
2. CONTEXTO HISTÓRICO
papiro que havia sido descoberto no templo mortuário de Ramsés II (terceiro faraó da décima
nona dinastia egípcia). Rhind morreu cinco anos mais tarde e o seu papiro foi adquirido pelo
Museu Britânico de Londres. Em homenagem ao antigo dono esse papiro ficou conhecido
como Papiro de Rhind.
O papiro de Rhind também é conhecido como papiro de Ahmes, escriba que o copiou
em meados de 1650 a.C.. Acredita-se que esse papiro é cópia de um documento datado do
período de 2000 a.C. a 1800 a.C.. Além disso, é possível que algum conhecimento seja
proveniente de estudos do arquiteto Imhotep, que teria sido um dos responsáveis pela
construção da pirâmide do faraó Zoser (7000 a.C.).
3. OPERAÇÕES ARITMÉTICAS
1 6
2 12
3 24
Nesse passo, seria verificado que a próxima duplicação na primeira coluna excederia
7, ou seja, 4 × 2 = 8 > 7 .
Daí, observa-se quais múltiplos da primeira coluna que somados resultam em 7 (nesse
caso, seriam somados 1,2 e 4). Posteriormente, são selecionados os múltiplos de 6 da segunda
coluna que correspondem aos escolhidos anteriormente, somando-os. Com isso, o resultado
escolhido seria expresso da seguinte forma:
7 42
Segundo Katz (2010), não existe registro de como o escriba fazia a duplicação, as
respostas eram apenas escritas. Ele afirma que existe a possibilidade do escriba ter
memorizado ou registrado uma extensa tabuada de multiplicação por 2.
Por exemplo, caso se queira resolver a operação 195 ÷ 13 é necessário considerar o par
(1,13) . Em seguida, utiliza-se o método de duplicações sucessivas em cada elemento do par,
ou seja:
1 13
2 26
4 52
8 104
Nesse ponto não há mais multiplicações a serem feitas, pois se percebe que caso
houvesse outra duplicação na primeira coluna, teríamos 8 × 2 = 16 > 13 .
Com isso, serão escolhidos os múltiplos de 13 que somados resultarão em 195:
\ 1 13
\ 2 26
\ 4 52
\ 8 104
15 195
Porém, os escribas perceberam que existem divisões onde o resultado não é exato.
Nessas situações acentuava-se o uso das frações unitárias, assunto bastante utilizado na
resolução dos problemas do papiro.
O algoritmo para divisão não exata consiste em dobrar o divisor até um número limite
menor que o dividendo, em seguida reduzir à metade o divisor até chegar ao resultado igual a
1. Observe o exemplo:
1 8
2 16 (número limite menor que 19, a partir daí há a redução à metade)
1/2 8
1/4 2
1/8 1
Daí, serão escolhidos valores da segunda coluna que somados resultam no dividendo
(neste caso, 19) e para obter a resposta da divisão os valores correspondentes a cada potência
escolhida são somados. Com isso, tem-se:
\ 2 16
\ 1/4 2
\ 1/8 1
7
2 + 1 / 2 + 1 / 4 19
Portanto, 19 ÷ 8 = 2 + 1 / 2 + 1 / 4 .
Como observação, é importante ressaltar que a metodologia para divisão não exata não
possui um algoritmo padrão devido a grande parte dos algoritmos egípcios terem surgido por
meio de tentativas, acredita-se que existem diversas formas de manipulação de operações.
Além disso, nos problemas do papiro, não se encontra os símbolos aritméticos
utilizados atualmente. Eves (2004) explica como se apresentavam determinadas simbologias
no papiro:
[...] No papiro de Rhind encontram-se símbolos para mais e menos. O primeiro deles
representa um par de pernas caminhando da esquerda para a direita, o sentido
normal da escrita egípcia, e o outro representa um par de pernas caminhando da
direita para a esquerda, em sentido contrário da escrita egípcia. Empregavam-se
também símbolos, ou ideogramas, para igual e para incógnita. (EVES, 2004, p. 74).
Com isso, a partir da análise feita com relação aos métodos aritméticos usados pelos
egípcios, será possível uma melhor compreensão dos problemas que serão dispostos a seguir.
4. OS PROBLEMAS
1
Uma das três formas que os egípcios usavam para escrever, escrita utilizada pela nobreza.
8
Para exemplificar esse processo, tome 3 / 5 (uma fração não unitária). Essa fração era
representada pelos egípcios como a soma de três frações unitárias:
3 1 1 1
= + +
5 3 5 15
Para entender o que o escriba quis informar na tabela acima, tome como exemplo
n = 27 , logo:
2 2 1 1
= = +
n 27 18 54
1 1/10
\ 2 1/5 ( = 2 × 1 / 10 )
4 1 / 3 + 1 / 15 ( = 2× 1 / 5 )
\ 8 2 / 3 + 1 / 10 + 1 / 30 ( = 2 × 1 / 3 + 2 ×1 / 15 )
10 1 / 5 + 2 / 3 + 1 / 10 + 1 / 30
2
Região do Egito Antigo.
10
Solução: cada homem recebe 1/5 de pão. Para resolvê-lo, o escriba multiplica 1/5 por 10.
1 1/5
\ 2 1 / 3 + 1 / 15 ( = 2× 1 / 5 )
4 2 / 3 + 1 / 10 + 1 / 30 ( = 2 × 1 / 3 + 2 ×1 / 15 )
\ 8 1 + 1 / 3 + 1 / 5 + 1 / 15 ( = 2 × 2 / 3 + 2 × 1 / 10 + 2 × 1 / 15 )
10 1 + 2 / 3 + 1 / 5 + 1 / 10 + 1 / 30
1 1 / 2 + 1 / 10
\ 2 1+ 1 / 5 ( = 2 × 1 / 2 + 2 × 1 / 10 )
4 2 + 1 / 3 + 1 / 15 ( = 2 × 1 + 2 ×1 / 5 )
\ 8 4 + 2 / 3 + 1 / 10 + 1 / 30 ( = 2 × 2 + 2 × 1 / 3 + 2 × 1 / 15 )
10 5 + 1 / 5 + 2 / 3 + 1 / 10 + 1 / 30
Katz (2010) faz uma análise sobre solução do problema 3 do papiro de Rhind:
[...] podemos olhar para a resposta do escriba como mais complicada que a nossa de
3/5, mas de certa forma a divisão física é mais fácil de realizar deste modo. Se
dividirmos cinco dos pães ao meio e o sexto em dez partes, e depois dermos a cada
homem um meio e mais um décimo, é evidente que todos têm a mesma porção de
pão. (KATZ, 2010, p. 14)
Quanto às resoluções dos problemas 4,5 e 6 do papiro de Rhind, todas elas se dão de
forma análoga aos vistos anteriormente. No problema 4, o escriba nos mostra a divisão de 7
pães por 10 homens; no problema 5, a divisão de 8 pães por 10 homens e no problema 6, a
divisão de 9 pães por 10 homens.
Diante disso, ao analisar os problemas propostos anteriormente no que diz respeito ao
caráter prático, o entendimento se torna mais fácil e adequado para ser visto por meio dos
conhecimentos atuais.
direta também será utilizado o método dos números vermelhos3. A seguir serão vistos alguns
desses problemas:
Solução: nesse problema, o escriba multiplica cada fração da segunda expressão por cada uma
da primeira:
\ 1 1 / 2 + 1 / 14
\ 1/ 2 1 / 4 + 1 / 28
\ 1/ 4 1 / 8 + 1 / 56
1 + 1/ 2 + 1/ 4 1 / 2 + 1 / 4 + 1 / 8 + 1 / 14 + 1 / 28 + 1 / 56
1 1 1 1
+ + =
14 28 56 8
1 1 1 1 1 1 1 1 1
+ + + = + + = + =1
2 4 8 8 2 4 4 2 2
1 1 / 28
1/ 2 1 / 56
1/ 4 1 / 112
3
Números auxiliares que aparecem no papiro, escritos na cor vermelha.
12
1 / 28 de 28 = 1
1 / 56 de 28 = 1 / 2
1 / 112 de 28 = 1 / 4
Solução: nesse problema, buscando a simplificação das frações que são apresentadas, Ahmes
utiliza 15 como número vermelho. Aplicando, tem-se:
2 / 3 de 15 = 10
1 / 15 de 15 = 1
Daí, somando os dois valores encontrados, temos como resultado 11. Assim, como o
número vermelho 15 excede 11 em 4 unidades, é necessário calcular o número de partes de 15
que resulta em 4, isto é, dividir 4 por 15:
1 15
1 / 10 1 + 1 / 2 (= 15 / 10 = 3 / 2)
\ 1/ 5 3 (= 2 × (1 + 1 / 2))
\ 1 / 15 1
1 / 5 + 1 / 15 4
É interessante ressaltar que essa mudança feita pelos egípcios no procedimento básico
da divisão é vista em outros problemas do papiro.
A resolução desses problemas se dava por meio do “método da falsa posição”, que
consiste em atribuir um falso valor para aha e, em seguida, a incógnita é substituída por esse
suposto valor. O resultado obtido é comparado com o valor pretendido e, por meio de
proporções, encontra-se a resposta correta. Diante disso, serão feitas análises de alguns desses
problemas:
Problema 24: Uma quantidade mais um sétimo dela resultam em 19. Qual a quantidade?
Problema 26: Uma quantidade mais 1/4 dela dá 15. Qual é a quantidade? Na linguagem
matemática atual, esse problema se resumiria em x + x / 4 = 15 .
Solução: Ahmes apresenta a solução da seguinte forma: tome aha igual 4. Substituindo na
expressão obtém-se: 4 + 4 / 4 = 4 + 1 = 5 . Note que para se chegar ao resultado pretendido, ou
seja, 15, é necessário multiplicar o resultado por 3, pois 3 × 5 = 15 . Isso significa que é
necessário dividir o resultado expresso no enunciado do problema pelo resultado encontrado
no passo anterior. Daí tem-se a divisão
15
D : = 3.
5
14
P : (falso valor) × D = 4 × 3 = 12
Os demais problemas (25, 27, 28 e 29) são resolvidos de forma análoga: todos pelo
método da falsa posição.
Já com relação ao grupo do problema 30 ao 38, foi analisado que essas questões são
semelhantes às anteriores, porém, mais complexas com relação ao entendimento e,
provavelmente, esses problemas tiveram o intuito de demonstrar métodos de divisão. A seguir
será apresentado um problema desse tipo:
Problema 34: Uma quantidade, a sua metade e o seu quarto, são adicionados e resultam em
10. Qual é a quantidade?
y y
Em linguagem atual esse problema é exposto da seguinte maneira: y + + = 10 .
2 4
y y 1 1
y+ + = 10 ⇔ y × 1 + + = 10 .
2 4 2 4
1 1
Resolvendo a divisão 10 ÷ 1 + + , tem-se:
2 4
\ 1 1 + 1/ 2 + 1/ 4
2 3 + 1 / 2 (= 2 × (1 + 1 / 2 + 1 / 4))
\ 4 7 (= 2 × (2 + 1 + 1/ 2 ))
\ 1/7 1/4
1 / 4 + 1 / 28 1/2
\ 1 / 2 + 1 / 14 1
5 + 1 / 2 + 1 / 7 + 1 / 14 10
Análise: da terceira para a quarta linha encerra-se o método de duplicações sucessivas. Nesse
caso, o escriba poderia dividir os valores por 7, para encontrar 1 na segunda coluna (condição
de parada). No entanto, se isso ocorresse, não existiriam elementos necessários para ter
resultado final igual 10 na segunda coluna. Daí ele busca 4/7 na primeira coluna, com a
15
finalidade de encerrar o cálculo. A ideia apresentada para encontrar esse valor, foi calcular o
equivalente a 1/7 na quarta linha, 2/7 na quinta e 4/7 na sexta linha (ambos na primeira
coluna). Com isso, encontra-se 1 na segunda coluna e escolhem-se os valores que resultam em
10. Com isso, basta tomar os equivalentes da primeira coluna e encontrar a resposta. Portanto,
a quantidade procurada na questão é 5 + 1 / 2 + 1 / 7 + 1 / 14 = 80 / 14 .
Resolvendo a equação na forma atual, chega-se ao resultado igual a 40/7 que é
equivalente ao valor encontrado, comprovando assim a validade do método egípcio.
Problema 35: Encontre a capacidade de uma pá que exige 3 + 1 / 3 viagens para encher uma
medida hekat.
Solução: Em notação atual o problema seria descrito como (3 + 1 / 3)x = 1 . O escriba propõe a
divisão de 1 por 3 + 1 / 3 :
1 3 + 1/ 3
2 6 + 2/3
3 10
\ 1/10 1/3
\ 1/5 2/3
1 / 5 + 1 / 10 1
Problema 40: Divida 100 pães entre 5 homens de modo que as partes recebidas estejam em
progressão aritmética e que um sétimo da soma das três maiores partes seja igual à soma das
duas partes menores. Qual a diferença5 entre partes encontradas?
4
Hekat: unidade de volume do Egito Antigo, usada para medir grãos, pão e cerveja. Em unidades atuais equivale
a 4,8 litros.
5
A “diferença” citada pelo escriba seria o que atualmente chamamos de razão de uma progressão aritmética.
16
Solução: Na resolução o escriba assume uma diferença comum de 5 + 1 / 2 , sabendo que esse
valor cumpria as condições do problema (a soma dos três maiores termos é sete vezes a soma
dos três menores), resultando na sequência:
23, 17 + 1 / 2 , 12, 6 + 1 / 2 , 1
Acredita-se que ele chegou a esse resultado por meio de tentativas e erro. No entanto,
ao somar os termos da sequência, encontrou 60 ao invés de 100 pães.
Para resolver esse “desencontro”, propõe a divisão de 100 por 60, buscando uma
relação que auxilie a encontrar a resposta correta:
\ 1 60
\ 2/3 40 (= 60 × (2 / 3) )
1+ 2 / 3 100.
Com isso, para chegar à resposta desejada, o escriba multiplica todos os cinco termos
da sequência anteriormente encontrada por 1 + 2 / 3 , resultando em:
38 + 1 / 3 , 29 + 1 / 6 , 20, 10 + 2 / 3 + 1 / 6 , 1 + 2 / 3
4.6 GEOMETRIA
4.6.1 Volumes
Problema 41: Qual o volume de um silo cilíndrico de diâmetro 9 cúbitos6 e altura 10 cúbitos.
Solução: Para resolver esse problema, Ahmes toma π = 256 / 81 . Para encontrar o volume do
silo, deve-se primeiramente calcular a área da base. Dados: d = 9 cúbitos e h = 10 cúbitos.
6
Cúbito: unidade de medida comumente usada pelos egípcios (juntamente com o meh) há 4.000 anos. Consiste
na distância do cotovelo até a ponta do dedo médio do faraó.
17
2 2
d 256 9 256 81
AB = π = × = × = 64 .
2 81 2 81 4
Solução: A resolução indicada por Ahmes ocorre da seguinte maneira: inicialmente retire 1/9
do diâmetro, o que sobra é 8. Multiplique esse valor 8 vezes, daí tem-se como resultado 64.
Portanto a área é 64.
Na verdade, o escriba utiliza um raciocínio equivalente à fórmula
A = (d − d / 9 ) = [(8 / 9 )d ] .
2 2
9 81
Assim, por meio dessa relação, percebe-se que o valor egípcio (implícito) para a
constante π é o equivalente a π = 3,160493... .
7
Setat: unidade de superfície equivalente a um quadrado de cem meh de lado.
8
Jet: unidade básica de comprimento equivalente a cem meh.
18
4.6.3 Triângulos
Com isso, o método usado pelos egípcios para encontrar a área de um triângulo é algo
equivalente à fórmula atual A = (1 / 2 ) ⋅ b ⋅ h .
O problema 47 do papiro de Rhind mostra uma tabela onde o hekat é dividido em 100
partes (ver tabela 3), segundo a tabela presente em Chace (apud GERONIMO, 2011, p. 36):
4.8 TRIGONOMETRIA
9
Ro: unidade que era empregada só para medir grãos. Equivalia a 1/320 hekats.
19
Boyer (1996) destaca que na construção de pirâmides era essencial manter uma
inclinação constante das faces e pode ter sido essa a preocupação a levar os egípcios a
introduzir um novo conceito equivalente ao de cotangente de um ângulo. Daí pode-se inferir
que essa deve ser a principal área onde os egípcios aplicavam conceitos trigonométricos.
A unidade de medida utilizada pelos egípcios em questões sobre pirâmides era o
10
seqt , que em termos matemáticos se dá pelo quociente do afastamento horizontal (medido
em palmos) pelo vertical (medido em cúbitos).
Os problemas 56 a 60 tratam de situações envolvendo medidas de pirâmide. A
aplicação nesses problemas é exposta da seguinte maneira:
Problema 56: Qual é o seqt de uma pirâmide de 250 cúbitos de altura e 360 cúbitos de lado?
Solução: o escriba inicia a resolução do problema dividindo a medida do lado por 2, isto
é, 360 ÷ 2 = 180 cúbitos.
Daí divide-se 180 por 250, tendo como resultado 1 / 2 + 1 / 5 + 1 / 50 cúbitos. Sabendo
que 1 cúbito = 7 palmos, será necessário multiplicar o valor encontrado anteriormente por 7.
Pelo método da multiplicação egípcia, obtém-se 5 + 1 / 25 palmos.
Os problemas 61 e 61B não são problemas propriamente ditos, é provável que eles
tivessem o intuito de descrever regras como referências para outros problemas do papiro. Em
ambos eram descritas tabelas que consistiam em encontrar 2/3, 1/3 e 1/2 de outras frações. A
seguir serão dispostas as tabelas encontradas nessa parte do papiro:
10
Seqt: afastamento horizontal de uma reta oblíqua em relação ao eixo vertical para cada variação de unidade de
altura, isto é, indica a inclinação de uma parede.
20
4.10 PROPORCIONALIDADE
Problema 63: Reparta 700 pães entre quatro pessoas, sendo que as quantidades sejam
distribuídas na proporção 2 / 3: 1 / 2 : 1 / 3 : 1 / 4 .
2 1 1 1 7 4
700 ÷ + + + = 700 ÷ = 700 × = 400 .
3 2 3 4 4 7
Depois disso, basta retirar a quantidade de pães para cada pessoa do valor encontrado:
2
2 / 3 de 400 = 266 + pães.
3
1 / 2 de 400 = 200 pães.
1
1 / 3 de 400 = 133 + pães.
3
1 / 4 de 400 = 100 pães.
Com isso, percebe-se que a resolução do problema é dada de forma clara para o entendimento
atual.
Problema 75: Qual é o número de pães de 30 pesu11 que podem ser feitos a partir da mesma
quantidade de farinha de 155 pães com 20 pesu.
x 155
Em linguagem atual, o problema consiste em resolver a proporção = .
30 20
Solução: O primeiro passo efetuado por Ahmes é a divisão de 155 por 20:
\ 1 20
2 40
\ 4 80
\ 2 40
1 20
\ 1/2 10
\ 1/4 5
11
Pesu: é a medida egípcia para a “consistência” inversa do pão. É expressa como a divisão entre a quantidade
de pães e o número de hekats de cereal.
22
1/20 1
1 1
7+ + 55
2 4
1 1 1 1
7 + + × 30 = 210 + 15 + 7 + = 232 + .
2 4 2 2
Diante dessa resolução, percebe-se que se for utilizada a técnica atual de grandezas
inversamente proporcionais para encontrar o valor pedido, será encontrada a mesma resposta.
O papiro de Rhind apresenta um curioso problema que foge da natureza prática. Boyer
(1996) acredita que esse problema tenha sido aplicado como um enigma ou até mesmo uma
forma de recreação matemática.
Esse problema consiste em somar a quantidade de “elementos” presentes no
enunciado, porém, apresenta uma ideia de uma progressão geométrica de razão 7. Uma
possível tradução do problema dada por Chace (apud GILLINGS, 1982, p. 169) é a seguinte:
Problema 79: Sejam sete casas, cada casa tem sete gatos, cada gato come sete ratos, cada rato
come sete cachos de trigo e cada cacho de trigo tem sete grãos. Quantos são a todo nessa
história?
Casas 7
Gatos 49
Ratos 343
Cachos de trigo 2.401
Grãos de trigo 16.807
Total 19.607
Uma das prováveis associações desse símbolo seria a aplicabilidade dessas frações em
( )
uma série infinita do tipo 1 / 2 + 1 / 4 + ... + 1 / 2 n = 1 . Os egípcios acreditavam que cada fração
representava um sentido e todas juntas representariam a “unidade perfeita”, isto é, 1/2
(olfato), 1/4 (visão), 1/8 (pensamento), 1/16 (audição), 1/32 (paladar) e 1/64 (tato). Além
disso, acredita-se que esse esquema representativo do olho de Hórus no papiro de Rhind tinha
o intuito de ser analisado durante procedimentos matemáticos ou até mesmo em caráter de
crendices (como amuleto).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em vista do que foi exposto sobre a análise dos procedimentos matemáticos presentes
no papiro de Rhind, percebe-se que o papiro foi uma importante descoberta que possibilita o
entendimento da metodologia empregada nos cálculos egípcios e acaba sendo uma rica fonte
da história da matemática egípcia.
Quanto às características dos problemas do papiro, pode-se dizer que apresentam uma
diversidade de técnicas, tabelas de valores comumente utilizados (principalmente no que diz
respeito ao uso de frações unitárias), além de apresentarem diversos conteúdos matemáticos
abrangendo ainda mais o processo de assimilação.
12
Olho de Hórus: é um símbolo proveniente do Egito Antigo que significa proteção, coragem e poder,
relacionado à divindade Hórus. Um dos amuletos mais usados no Egito em todas as épocas. Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Olho_de_H%C3%B3rus.
24
No que diz respeito ao nível dos problemas, foi analisado que existem questões
triviais, ou seja, de fácil entendimento (multiplicação e divisão exata, por exemplo) e questões
mais complexas (divisão não exata, equações lineares e progressão aritmética, por exemplo).
Portanto, a partir das observações feitas nas soluções dos problemas, fica evidente a
eficácia da metodologia egípcia em diversos momentos, no entanto, em alguns conteúdos
matemáticos presentes no papiro, o processo de resolução se torna cansativo e complexo, em
geral pelo método de tentativa e erro, tornando inviável a substituição dos métodos atuais
pelos antigos métodos egípcios.
Com isso, além de proporcionar maior conhecimento com relação à matemática
egípcia, essa pesquisa abre a possibilidade de um estudo posterior, onde o foco poderá ser a
criação de atividades lúdicas para serem aplicadas em sala de aula partindo do conhecimento
adquirido sobre o papiro de Rhind.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOYER, Carl B. Tradução: Elza F. Gomide. História da matemática. 2. ed. São Paulo, SP:
Edgard Blücher, 1996. xv, 496 p.
CONTADOR, Paulo Roberto Martins. Matemática uma breve história. 2. ed. São Paulo,
SP: Editora Livraria da Física, 2006,3v.
GILLINGS, R.J. Mathematics in the time of the pharaohs. 2. ed. Mineola, NY: Dover
Publications Inc.,1982.
KATZ, V.J. História da Matemática. Tradução de: Filipe Duarte/ Ana Sampaio. 1. ed.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.
STEWART, Ian. Incríveis passatempos matemáticos. Tradução de: Diego Alfaro. 1.ed. Rio
de Janeiro: Zahar, 2012.