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PASTA DE ENXOFRE: UMA ALTERNATIVA NO TRATAMENTO DA SARNA

AURICULAR EM COELHOS

Adriani da Silva Carneiro Lopes1; Sonia Maria de Brito Marques Quirino2

1. Aluna do Curso Técnico em Agroecologia, CTUR/UFRRJ


2. Orientadora e Professora de Pequenos Animais, CTUR/UFRRJ.

1 Introdução
As terapias alternativas como a fitoterapia, homeopatia e acupuntura não são novas,
porém, foram abandonadas e desvalorizadas pela ciência, principalmente por
desconhecimento do seu modo de ação, nem sempre exemplificados pelas leis científicas
vigentes. Atualmente, ganharam novo espaço e apresentam-se como opções coerentes e
viáveis no tratamento de animais de produção agroecológica, sendo a acupuntura a menos
comum, A fitoterapia e a homeopatia, são bastante aplicadas nos sistemas de produção
orgânica e de base agroecológica (SALES, 2005).
Dentro da pecuária alternativa é muito comum encontrarmos dificuldades,
principalmente, para realizar o tratamento de doenças nos animais de produção. Isso, porque a
Instrução Normativa nº 46/2011 do MAPA, ressalta que o tratamento de tais doenças, em
sistema de produção orgânica deve ser realizado por meio de terapias alternativas e devem
evitar-se o uso de alopáticos (produtos industriais), obtendo exceção os casos onde o animal
corre risco de vida, como observado nos artigos 59 e 63:
Art. 59. É proibido o uso de produtos quimiossintéticos artificiais, hormônios, bem
como qualquer produto proveniente de organismos geneticamente modificados, à
exceção das vacinas obrigatórias.
Parágrafo único. Os tratamentos hormonais e quimiossintéticos artificiais somente
serão permitidos para fins terapêuticos e, no caso de seu uso, deverão ser respeitadas
as disposições previstas no art. 63 deste Regulamento Técnico.
Art. 63. No caso de doenças ou ferimentos em que o uso das substâncias permitidas
no Anexo II deste Regulamento Técnico não estejam surtindo efeito e o animal
esteja em sofrimento ou risco de morte, excepcionalmente poderão ser utilizados
produtos quimiossintéticos artificiais.
§ 1º Quando se fizer uso de produtos quimiossintéticos artificiais, o período de
carência a ser respeitado para que os produtos e subprodutos dos animais tratados
possam voltar a ter o reconhecimento como orgânicos deverá ser duas vezes o
período de carência estipulado na bula do produto e, em qualquer caso, ser no
mínimo de 96 horas.
§ 2º A utilização de produtos quimiossintéticos artificiais deverá ser sempre
informada ao OAC ou OCS, no prazo estabelecido por eles, que avaliarão a
pertinência de sua excepcionalidade e justificativa.
§ 3º Cada animal só poderá ser tratado com medicamentos não permitidos para uso
na produção orgânica por, no máximo, duas vezes no período de um ano.
§ 4º Se houver necessidade de se efetuar um número maior de tratamentos, do que o
estipulado no § 3º deste artigo, o animal deverá ser retirado do sistema orgânico.
§ 5º Durante o tratamento e no período de carência, o animal deverá ser identificado
e alojado em ambiente isolado do contato com os outros animais, obedecendo à
densidade estabelecida por este regulamento para cada espécie animal, sendo que
ele, seus produtos, subprodutos e dejetos não poderão ser vendidos ou utilizados
como orgânicos. (BRASIL, 2011).
Tendo-se em vista todos esses procedimentos, através de observações, no setor de
cunicultura do Colégio Técnico da UFRRJ (CTUR), percebeu-se a ocorrência de sarna
auricular (Sarcoptes scabiei), onde o tratamento realizado é com sarnicida comercial, apesar
de os princípios filosóficos da instituição ser de base agroecológica.

2 Objetivo geral
Avaliar a utilização da pasta de enxofre no tratamento da sarna auricular em coelhos, criados
no sistema agroecológico.

2.1 Objetivos específicos


 Realizar levantamento dos principais produtos alternativos e comerciais, no controle
da sarna auricular.
 Testar a ação medicamentosa da pasta de enxofre no tratamento.
 Promover a iniciação científica, aos alunos do curso técnico em agroecologia.

3 Metodologia
O trabalho foi realizado no setor de cunicultura do CTUR/UFRRJ. Foram tratados
quatro animais, sendo dois machos e duas fêmeas, infestados naturalmente com a sarna
auricular.
Metade dos animais, um casal, foi tratada com medicação químico-sintética usual, ou
seja, sarnicida comercial e o outro foram tratados com a pasta de enxofre.
Para o preparo da pasta de enxofre foi utilizada uma receita da cultura popular,
composta por: banha de porco e enxofre em pó, na concentração de 20% (100g de banha para
20g de enxofre).
Os animais passaram por um processo de higienização, tendo suas crostas umedecidas,
retiradas com auxílio de pinça (esterilizadas) e após, aplicado o medicamento alternativo e o
comercial.

4 Resultados e Discussão
Com a aplicação dos dois tipos de medicamentos, se observou, em ambos os
tratamentos, a regressão e completa regeneração das lesões, com algumas diferenças ao longo
do processo.
Os animais tratados com pasta de enxofre (Figura 1) demonstraram melhora no estado
clínico mais rápido (três dias), além de apresentarem uma melhor regeneração dos tecidos, e
ocorrendo uma hidratação na pele da região, facilitando a limpeza da área para aplicações
subsequentes.
Os animais tratados com o sarnicida comercial (Figura 2), a melhora ocorreu em um
período médio de seis dias, e a pele dos animais apresentou ressecamento, dificultando a
limpeza para novas aplicações (tabela 1).

Tabela 1- Evolução do tratamento.


Sexo Nº Tratamento Estado Clínica anterior Estado clínico após o
ao tratamento tratamento
Fêmea 12 Pasta de Enxofre Orelha E inflamada e Houve resposta
com crostas, D com significativa, com
crostas. redução da inflamação.
Melhora com 3 dias de
tratamento
Macho 21 Pasta de Enxofre Orelhas E e D com Obteve-se alta
crostas secas. regeneração dos pelos.
Melhora com 2 dias de
tratamento.
Fêmea 29 Sarnicida Orelha D com princípio No dia seguinte ao
Comercial de inflamação e E com tratamento a orelha
crostas. permaneceu encrostada
e com inflamação,
ainda intensa.
Melhoras com 6 dias
Macho 09 Sarnicida Orelhas E e D com O animal apresentou
Comercial crostas, com princípio inflamação, mesmo
de inflamação em após o início do
ambas. tratamento. Melhora
com 5 dias de
tratamento

Figura 1 - Antes e após a aplicação da pasta de enxofre.

Figura 2 - Antes e após a aplicação do sarnicida comercial.

5 Conclusão
O uso da pasta de enxofre no tratamento de sarna auricular em coelhos apresentou-se
como sendo a mais eficiente, nas condições estudadas. Assim, conclui-se que é possível
recomendar seu uso para a produção agroecológica deste animal.

6 Referências Bibliográficas
BRASIL, MINISTERIA DE AGRICULTURA, ABASTECIMENTO E PESCA. Instrução
Normativa n.º 46/2011. Disponível em:
http://www.ibd.com.br/Media/arquivo_digital/949e7fda-d8d4-45da-949d-2e923a90f4d2.pdf.
Acessado em 25/09/2012.
COPIJN, A; SCHAUMANN, W; CASTELLIZ, K. Práticas Terapêuticas. 2ª edição,
Botucatu: IBD, 1996.
PAIVA, A. F. de. É bom conhecer o cultivo de plantas medicinais. Fortaleza, EMATER -
CE, 1995. (Informações Técnicas, 56).
PEREIRA, W. H. Práticas Alternativas para a Produção Agropecuária. Agroecologia,
EMATER-MG;
SALES, M. N. G. Criação de Galinhas em Sistemas Agroecológicos. Vitória: INCAPER,
2005.

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