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SEMANA

13 O IIO REINADO (1840-1889) – ABOLIÇÃO E FIM DA MONARQUIA



1) ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO

• A abolição da escravidão, no Brasil, era um processo que encontrava várias dificuldades. O Brasil tinha se constituído,
ao longo do tempo, como uma sociedade hierárquica, desigual em direitos e baseada na ideia de privilégios sociais. Além
disso, existiam diversos projetos para a abolição, assim como problemas legais para se encerrar a escravidão no Brasil. A
Constituição imperial de 1824 (no artigo 179) defendia a propriedade privada. O escravo era propriedade do senhor.
Desse modo, de acordo com a lógica senhorial e legal, os senhores deveriam receber uma indenização em caso de perda
ou dano de suas propriedades, ou seja, libertar todos os escravos e não pagar nada aos senhores era ilegal. Outra questão
que emperrava as negociações era a perda (em dinheiro) com o fim do tráfico negreiro, pois o tráfico era taxado
(impostos) e isso representava um ganho de receitas para o império brasileiro;
• No entanto, apesar das dificuldades e dos obstáculos, muitas questões foram se somando ao longo dos anos para que
o fim do tráfico negreiro ocorresse, num primeiro momento, e para que a escravidão fosse abolida, anos depois;
• A pressão inglesa para o fim do tráfico negreiro: um dos primeiros pontos foi a pressão da Inglaterra para que o
Brasil deixasse de fazer o tráfico negreiro. Essa pressão existia desde os tempos de Dom João VI, atravessou o I Reinado, a
Regência e chegava, então, ao II Reinado. São vários os motivos que explicam a pressão dos ingleses: a questão moral dos
abolicionistas ingleses como Pitt e Clarkson; a opção pelo modelo liberal de sociedade; as colônias inglesas (Guiana
Inglesa) na América e, por fim, a presença inglesa na África durante o chamado Neocolonialismo do XIX;
• O Abolicionismo no Brasil: outra importante pressão foi realizada pelo movimento (de quase quarenta anos)
abolicionista brasileiro. A organização de passeatas, jornais, exibições musicais (como as de Carlos Gomes), o
financiamento de quilombos abolicionistas (Jabaquara e Leblon), além do apoio popular, de ex-escravos, e de setores das
elites urbanas, foram de extrema importância para colocar fim ao regime escravista. Abolicionistas como Joaquim
Nabuco, André Rebouças, José do Patrocínio, Rui Barbosa e membros da família real, como a própria Princesa Isabel,
deram força e peso político ao movimento, além da forte participação de escravos e ex-escravos;
• Haitianismo e Embranquecimento do Brasil: a revolta negra no Haiti (1791-1804) deixou marcas profundas no
continente americano. O medo das elites brancas de que a violência negra pudesse eclodir a qualquer momento, fez
acelerar o processo de abolição. É melhor libertar os escravos, antes que eles tomem o poder, assim como foi feito no
Haiti. Esse medo é chamado de Haitianismo. Isso se somava aos projetos raciais do Estado imperial de trazer imigrantes
brancos e europeus para compor biologicamente o futuro da nação, num projeto de embranquecer o Brasil;
• Por isso, a abolição da escravidão no Brasil foi um processo lento, gradual e a partir da aprovação de leis:
• A Lei Barbacena (7.11.1831 - 1a Lei Nacional): esta lei foi criada durante a Regência (1831-1840) e foi chamada de
Lei Para Inglês Ver. Ela proibia o tráfico negreiro para o Brasil, mas praticamente não foi cumprida;
• O Bill Aberdeen (9.08.1845): esta lei inglesa foi criada por George Hamilton Gordon, conde de Aberdeen. De acordo
com esta lei, a Inglaterra se autorizava a aprisionar navios negreiros em quaisquer águas (litoral africano ou litoral
brasileiro). O tráfico negreiro seria considerado pirataria. O traficante de escravos, preso, seria julgado por um tribunal
inglês, e seu navio seria aprisionado pela marinha britânica e ele, o traficante, pagaria o custo da viagem volta dos
escravizados para a África. Esta lei foi uma resposta inglesa contra a Tarifa Alves Branco de 1844;
• A Lei Eusébio de Queiroz (4.09.1831 - 2a Lei Nacional): a lei de 1850 colocou fim ao tráfico negreiro. A partir desta
data poucos escravos entraram no Brasil. Esta lei veio acompanhada do projeto de imigração europeia, da Lei de Terras e,
sobretudo, não puniria os senhores de terra (apenas os traficantes) em caso de tráfico ilegal;
• A Lei do Ventre Livre (28.09.1871 – Lei Rio Branco):a partir desta data os filhos de mãe escrava estariam livres.
No entanto, a Lei do Ventre Livre previa a seguinte situação: até os 8 anos de idade, a criança (chamada de escravo
ingênuo) ficaria com a mãe (mas a mãe era escrava) e trabalharia para o mesmo senhor (não poderia ser vendido) até
completar 21 anos de idade, para compensar os gastos que o senhor teve durante a infância do ingênuo;
• A Lei do Sexagenário (28.09.185 – Lei Saraiva/Cotegipe): a partir desta data os escravos que tivessem 60 anos
(igual ou maiores), estariam livres. No entanto, para compensar prejuízos ao senhor (já que o senhor um dia o comprou e
agora perderia a propriedade deste escravo), o escravo sexagenário trabalharia, para o mesmo senhor, e sem poder ser

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vendido, dos 60 aos 63 anos de idade. Assim, quem pagava a indenização aos senhores eram os próprios escravos,
trabalhando mais tempo para o mesmo senhor. Esta estrutura era semelhante à Lei do Ventre Livre;
• A Lei Áurea (13.05.1888 – A Lei de Ouro ou Emancipação): lei aprovada pelo parlamento brasileiro, assinada pela
princesa Isabel, que estava como regente devido a uma ausência de Dom Pedro II. A princesa, além disso, era abolicionista
e acreditava que a lei pudesse ser popular, pensando, aliás, num possível III Reinado (que nunca ocorreu);

2) O FIM DA MONARQUIA (GOLPE DA REPÚBLICA)



• A crise do II Reinado (1840-1889) foi um processo histórico lento e gradual em que vários fatores estiveram
envolvidos para o desgaste da figura do imperador e do império brasileiro;
• Abolição da Escravidão e Movimento Republicano: durante a aprovação das leis abolicionistas, uma parte da elite
agrária percebe que o Estado brasileiro não tocava na questão das indenizações aos senhores. A cada lei abolicionista
aprovada, a tensão entre os escravocratas e o império aumentava. Os senhores se sentiam traídos, pois percebiam que
não teriam respaldo e muito menos retorno financeiro, do império, em caso de abolição e, portanto, em perda de
propriedades (lembrando que o escravo era visto como propriedade particular do senhor). Assim, em oposição ao
império, formou-se em 1873 o chamado Partido Republicano Paulista, em Itu, interior de São Paulo, região do café;
• No mesmo ano da abolição da escravidão, em 1888, formou-se mais dois partidos republicanos: o Partido
Republicano Mineiro e o Partido Republicano Fluminense. Nesta estrutura, estão as raízes da futura politica do Café com
Leite. Os republicanos se dividiram em dois grupos: os moderados (o Brasil viraria República aos poucos e a partir da
elaboração de leis) e os radicais (o Brasil viraria República de modo mais imediato e a partir de um movimento);
• A Questão Religiosa: foi uma série de atritos que envolveu o Papa Pio IX (1846-1878), alguns bispos brasileiros e o
imperador Dom Pedro II. Os atritos estavam relacionados ao movimento Ultramontano, da Igreja Católica, em que setores
mais conservadores da Igreja queriam restaurar a Igreja medieval e, por isso, se opunham: às teorias científicas, ao
Evolucionismo de Charles Darwin, à Maçonaria, à interferência do Estado nas questões da Igreja, ao Marxismo, ao
movimento espiritualista , ou seja, se opunham a tudo o que era considerado liberal e ameaçador para a estrutura da
Igreja. Em 1848, a Igreja mencionou a separação entre Igreja e Estado. Em 1854, foi criado o dogma da Imaculada
Concepção (sobre a virgindade de Maria) e em 1870, criado o dogma da Infabilidade papal (o Papa não erra). Alguns
bispos brasileiros, em 1874, como Dom Vital de Oliveira (PE) e Dom Macedo Costa (BA) passaram a seguir à risca as
medidas papais, entrando em atrito contra o imperador e contra a Constituição Outorgada de 1824, que previa o
Padroado e o beneplácito (autorização) do imperador em relação às bulas papais em território do império brasileiro;
• A Questão Miliar: após a Guerra do Paraguai (1865-1870), houve o fortalecimento do exército brasileiro como
instituição. O exército aparecia como grupo, como força política, fazendo queixas e exigências, cheio de orgulho e
nacionalismo. Os militares, aliás, chegaram a trabalhar com o conceito de soldado cidadão: o verdadeiro brasileiro é o
militar e o militar é o povo simples. Assim, os militares se colocavam como dignos representantes do povo e, portanto, se
fosse preciso lutar por mudanças e justiça social, o exército assim o faria, pois ele se via como o povo armado. Os militares
tinham queixas específicas contra o império brasileiro: queriam rever a lei das idades mínimas para o avanço na carreira
militar; queriam um espaço na imprensa para publicar artigos; maior participação política; se negavam a capturar
escravos fugidos; criticavam a manutenção da escravidão e passaram a ver a República com bons olhos;
• O Positivismo de Comte: foi uma doutrina filosófica francesa criada por Auguste Comte. A doutrina era baseada na
ideia de Progresso. Este progresso seria obtido através da racionalidade, do método, da eficiência, do estudo, da disciplina
da ordem, do Estado laico e da República forte (assim como os jacobinos franceses). No Brasil, houve o surgimento da
Sociedade Positivista do Rio de Janeiro, fundada por Miguel Lemos e Teixeira Mendes. Importante perceber que os
positivistas associavam o conceito de república, a ordem e a disciplina, à ideia de progresso. Essa associação, de certa
maneira, colocava a monarquia no papel inverso: lugar de atraso e desordem. Não à toa, republicanos e militares terem se
tornado simpáticos ao Positivismo. Desta associação sairá o movimento de derrubada no Império do Brasil;
• Em 15 de Novembro de 1889, os militares, apoiados por positivistas e republicanos radicais, saíram às ruas do Rio de
Janeiro, com cavalos, tiros de canhão e espadas à mão, gritando vivas à República. A família real tinha que deixar o Brasil
em 48 horas. Dom Pedro II foi para a França, vindo a falecer em 1891, em Paris. Esse episódio foi chamado de
Proclamação da República ou de Golpe Republicano. Um Governo Provisório (1889-1891) foi formado pelos militares.

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