Você está na página 1de 2

Carla F.

Nascimento

Ensaio Reflexivo V

PERCEPÇÃO AMBIENTAL

▪ Referências:
HARVEY, D. Neoliberalismo como destruição criativa. Revista de Gestão Integrada em
Saúde do Trabalho e Meio Ambiente.
TONKISS, Fran. Austerity urbanism and the makeshift city. City, 17:3,312-324, 2013.
MAZIVIEIRO, Maria Carolina; ALMEIDA, Eneida. Urbanismo Insurgente: ações recentes de
coletivos urbanos ressignificando o espaço público na cidade de São Paulo. Anais do XVII
ENANPUR, São Paulo, 2017.

Os textos permeiam os conceitos e as críticas do movimento neoliberal, seu desenvolvimento e o


seu poder em influenciar nas práticas de política econômica.
Harvey (2007), cita que o neoliberalismo é em primeira instância, uma teoria sobre práticas de
políticas econômicas que afirma que o bem-estar humano pode ser promovido por meio da
maximização das liberdades empresariais dentro de um quadro institucional caracterizado por
direitos de propriedade privada, liberdade individual, mercados livres e livre comércio , onde o
Estado teria o papel de criar e preservar um quadro institucional apropriado para tais práticas. O
neoliberalismo tinha com preceito que as intervenções do Estado no mercado seriam mantidas
em um nível mínimo, de maneira que não fosse possível deter informações que antecipassem os
preços e ainda que fosse influenciado a distorcer intervenções estatais em seu próprio
benefício. Porém, as práticas atuais frequentemente diferem desse modelo. Ou seja, o sistema
neoliberal implicou na destruição e restauração de poderes institucionais, nas relações da força
de trabalho, relações sociais, políticas de bem-estar social, arranjos tecnológicos, modos de
vida, pertencimento a terra, hábitos afetivos, modo de pensar entre outros.
Não há dúvida que os conceitos de liberdade são poderosos e que esses ideais constituíram uma
poderosa força histórica de mudança. Com aspectos teóricos positivos e práticas negativas, o
neoliberalismo nos faz refletir - a que interesses particulares serve o Estado, quando adota uma
posição neoliberal para benefício próprio, em vez de beneficiar a todos?
Tonkiss (2013), nos trouxe algumas reflexões sobre as políticas urbanas de origem neoliberal
implementadas em áreas de urbanismo austero. Descrevendo essas intervenções urbanas como
bons e maus exemplos de argumentos de práticas urbanas alternativas. Bom, porque são
projetos que realizam em formas materiais alguns princípios críticos sobre o valor provisório.
Ruim, pois esses projetos são cúmplices de interesses não revelados e unilaterais.
Hodkinson, Jeffrey, MacFar e Vasudenvan (2012), descrevem que a urbanização de cercamento
é resultado de uma política de austeridade, que visa a privatização do espaço comum ou
público, e da provisão e serviços coletivos, assim como na criminalização ou assédio de vários
atos de comunização – ocupações, assentamentos informais e recursos comuns de serviços
ecossistêmicos, incluindo água, agricultura e combustível.
Portanto, não é nem a lei de propriedade nem a política pública que torna algo comum, mas
sim, a ação social situada nesse recurso em uma determinada época – seja por meio de
ocupações coletivas de espaço, acesso compartilhado a bens ou direitos, recursos e energia.
Conforme Tonkiss, os espaços urbanos podem se tornar comuns – pela prática. Tonkiss apud
Paul Chatterton (2010, 626), cita que o comum urbano é reacional com o efeito da prática, é
tanto um verbo quanto um substantivo (fazer, produzir, participar, mover, compartilhar,
espalhar, aprimorar, inventar, reacender – atais atos constituem pequenos projetos para a
cidade e tornam-se visíveis na apropriação dos espaços físicos: jardins, áreas verde e
loteamentos; nas margens dos rios, nos espaços descompromissados esculpidos pela
infraestrutura; em espaços de abandono, vacância; em espaços compartilhado de encontro e
troca; em mercados informais; ou em ocupações e invasões de espaços proscritos), que
contribuem para o favorecimento de uma infraestrutura de vida comum trazendo autonomia
local, criatividade e coletividade na construção e reconstrução da cidade.
Tonkiss apud Roger Keil (2009, 232), escreve que sujeitos neoliberais de todos os tipos co-
constroem, sustentam e contestam uma realidade social neoliberal agora normalizada.
Propondo, intervenções que funcionam fora de uma lógica progressiva perversa. Ou seja,
praticam o urbanismo crítico que vai contra o neoliberalismo ortodoxo. Sendo esse o urbanismo
de práticas menores, pequenos atos, anti-utopias, mas que criam espaços materiais carregados
de esperança na cidade.
Conforme Mazivieiro e Almeida apud Harver (2003), o neoliberalismo atingiu o Brasil nos anos
1990, o Estado aderiu a receita internacional de governo mínimo, dando espaço à ideologia e às
políticas privatistas, declinando em investimentos em infraestrutura e em políticas sociais. O
neoliberalismo provocou um aumento da concentração de renda da elite, acarretou
transformações no processo produtivo, na gestão e organização do trabalho, no espaço
construído, acentuando os contrastes socioculturais. O resultado foi uma cidade fragmentada
resultando um espaço público desqualificado e abandonado.
No final dos anos 1990, com a nova constituinte novos arranjos participativos retomam a
reconstrução e a ressignificação dos espaços públicos das grandes cidades brasileiras. Há uma
redefinição da luta em favor da democracia e da cidadania através de iniciativas culturais e
políticas distintas.
Para Harvey (2003), na pós-modernidade nada de eterno configura qualquer atividade humana.
Voltados a proposição de caminhos imaginários, sensíveis e dinâmicos para a vida urbana, os
coletivos se apropriam da cidade em oposição ao processo de formulação do território a partir
da projeção do medo e da violência. A retomada das ruas e do espaço aparecem como uma
busca pelo direito à cidade, um apelo para uma cidade mais viva, inclusiva e saudável (GEHL,
2013).
A memória pode ser um instrumento de articulação para compreensão do espaço, o exercício da
memória é um meio de assegurar não só a identidade do indivíduo, mas também sua ligação
com o coletivo atual e histórico, afirmando a ideia de pertencimento, que une indivíduos
distintos - e configura o enraizamento não apenas no tempo, mas também no espaço (RIEGL,
2011). Os escritos de Franco La Cecla (1993), sustentam que a condição de pertencimento, como
experiência de integração, é indissociável da possibilidade de desorientação. Frequentar
assiduamente os espaços habitados permite não apenas familiarizar-se com sua dimensão física,
mas acessar o imaginário cotidiano.
Os artigos nos permitem uma reflexão sobre o que há de obscuro no movimento neoliberal
utópico, um questionamento constante - Para quem esse movimento serve? Quais são os
interesses particulares que permeiam suas ações?
A meu ver, um dos problemas que envolve o movimento, seria a falta transparência nas ações
do Estado, que articulam processos de maneira nebulosa, direcionados a interesses individuais,
algo que me traz uma imensa inquietação, pois muitas das vezes essas manobras são tão
envolventes que não percebemos o que há além do que é visto ou mostrado, acabamos
enganados por ingenuidade...
Mas contudo, atualidade carrega o propósito da reconquista do espaço público por meio da
visão crítica e de ações atuantes perante um sistema articuloso, com o intuito de gerar a esses
espaços soluções que atendam a demanda da população, respeitando a cultura e os projetos já
em andamento.

Você também pode gostar