As 3 frases são:
1) O documento resume uma resenha de um livro sobre a história dos iorubás que fornece uma perspectiva diferente do que é encontrado na maioria da literatura acadêmica.
2) O autor do livro, um arqueólogo e historiador, divide a história de 4 mil anos dos iorubás em 8 períodos para fornecer uma análise integrada de como sua cultura se desenvolveu ao longo do tempo em diferentes aspectos.
3) Uma parte importante discute como o "ilé", a unidade
As 3 frases são:
1) O documento resume uma resenha de um livro sobre a história dos iorubás que fornece uma perspectiva diferente do que é encontrado na maioria da literatura acadêmica.
2) O autor do livro, um arqueólogo e historiador, divide a história de 4 mil anos dos iorubás em 8 períodos para fornecer uma análise integrada de como sua cultura se desenvolveu ao longo do tempo em diferentes aspectos.
3) Uma parte importante discute como o "ilé", a unidade
As 3 frases são:
1) O documento resume uma resenha de um livro sobre a história dos iorubás que fornece uma perspectiva diferente do que é encontrado na maioria da literatura acadêmica.
2) O autor do livro, um arqueólogo e historiador, divide a história de 4 mil anos dos iorubás em 8 períodos para fornecer uma análise integrada de como sua cultura se desenvolveu ao longo do tempo em diferentes aspectos.
3) Uma parte importante discute como o "ilé", a unidade
OGUNDIRAN, Akinwumi. The Yorùbá: A New History. Bloomington, Indiana:
Indiana University Press, 2020. 532 p.
O autor deste erudito e estimulante temporal, um corpo crescente de
livro sobre os iorubás declarou, literatura histórica, na sua opinião, durante uma recente discussão promo- “achata […] a história iorubá” vida pela ASWAD – Association e “trata a cultura [iorubá] como for the Study of the Worldwide fossilizada num passado atemporal” African Diaspora (Associação para (p. 3). De fato, tem havido uma o Estudo da Diáspora Africana tendência nos últimos setenta e cinco Mundial), que seu projeto nasceu anos de representar o século XIX, de sua crescente percepção de que o período do encontro missionário os dados históricos, arqueológicos, cristão e colonial europeu, como o antropológicos e culturais relativos “lócus e centro gravitacional da ao tema não se alinhavam com as mudança cultural [iorubá]” (p.3). representações do passado desse O desejo de Ogundiran de corrigir povo em grande parte da literatura esse legado colonial e descolonizar acadêmica.1 Enquanto suas próprias a historiografia africana inspirou-o pesquisas apontam para origens a escrever um grande e importante antigas e complexos processos de livro, pelo qual os leitores podem mudança através de longo horizonte ficar agradecidos. Arqueólogo, antropólogo e 1 The Association for the Study of the historiador cultural por formação, Worldwide African Diaspora (ASWAD), os objetivos do autor eram escrever, “ASWAD Book Series: The Yoruba: A New History”, Facebook . em um volume, um livro que
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fornecesse um “tempo profundo”, o conhecimento dos iorubás, da um “domínio do gênero” e uma história africana e da história do história multidisciplinar dos iorubás, Atlântico. Tampouco os leitores que integrasse, desde sua origem até deixarão de apreciar o texto, prevê meados do século XIX, a análise dos essa resenhista, graças à prosa lúcida processos de mudança econômica, e à narrativa convincente do autor. ambiental, social, política, religiosa A história de tempo profundo e cultural na região da África de Ogundiran começa no passado Ocidental onde habitaram. O projeto Pré-Arcaico (2500-2300 a.C.) – exigiu que o autor investigasse na confluência dos rios Níger e Benué, e interpretasse a interação dos na África Ocidental – do que o autor iorubás com outros povos: vizinhos chama o grupo linguístico e cultural próximos, como Benin, Ìbàrìbá e “proto-ioruboide [proto-Yoruboid]”. Nupe; impérios sudaneses ao norte; Em seguida, descreve, analisa e e atores atlânticos que vieram do interpreta a expansão e transformação outro lado do mar no século XVI. dessa população durante os quatro mil O escopo e a abrangência do livro anos seguintes. Para dominar esse são impressionantes, bem como a longo passado, colocá-lo sob o seu profundidade da análise dos períodos controle e torná-lo compreensível críticos de mudança. Tabelas úteis, para seus leitores, o autor periodiza-o. mapas excelentes e gráficos claros Ele divide os quatro milênios em ajudam o autor a compilar a riqueza oito períodos de diferentes durações, de informações e a apresentá-las de que são definidos por características forma compreensível. Poucos serão que lhes dão coerência interna e os os leitores que vão se debruçar distinguem uns dos outros. Embora sobre o livro sem aprender com ele, a metodologia seja central para as sejam estudantes à procura de uma disciplinas de arqueologia e história, introdução ao conhecimento do povo a busca de Ogundiran por uma periodi- iorubá e seu passado, ou especia- zação nativa, não eurocêntrica, de um listas interessados em um ou outro passado tão longo, é nova e define o período ou assunto. O texto traz seu projeto. O autor introduz e resume muitas contribuições novas para de forma útil o seu esquema temporal
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numa tabela na página 7. A análise das profundo. A tarefa exige que o autor características-chave e dos principais avalie e sintetize muitos e complexos desenvolvimentos em cada um desses conjuntos de literatura secundária e que períodos estrutura o livro. apresente a investigação primária de O texto é multidisciplinar e repre- uma vasta gama de fontes muito senta, em vários sentidos, uma virada diferentes. O conjunto de ferramentas no gênero narrativo. O autor do autor é vasto e finamente aperfei- empenha-se numa análise integral e çoado. Poucos estudiosos poderiam ter integrada dos muitos diferentes tipos de realizado a tarefa a que ele se propôs. comportamento humano – econômico, Como seria de esperar de um social, político, linguístico, religioso, arqueólogo, Ogundiran vê as práticas intelectual, artístico e outros – materiais como fundamentais em que constituíram a cultura iorubá. muitos dos seus oito períodos. Procura a compreensão de como e por Ele enfatiza não só a produção e que eles se moldaram mutuamente em o comércio agrícolas e de artigos diferentes períodos da história iorubá. artesanais, mas também o consumo Ogundiran não faz uma análise abstrata, de bens do cotidiano e de luxo. mas investiga práticas específicas – No que diz respeito ao consumo, tecnológicas, agrícolas, artesanais, o autor tem muito interesse em falar comerciais, domésticas, espirituais, sobre a estética, bem como sobre o governamentais, mitológicas, militares, valor de uso dos objetos materiais. estéticas – e suas transformações. O seu enfoque no consumo enriquece Tradicionalmente, esses vários tipos de a literatura sobre a história econômica atividade humana têm sido estudados da África Ocidental. por diferentes disciplinas acadêmicas, Num Período Formativo com abordagens empíricas e teóricas (250-750 d.C.), porém, foram os próprias. O autor recorre ao melhor avanços na organização sociopolítica, dessas abordagens e se baseia na e não as práticas materiais, que na pesquisa interdisciplinar existente, e as opinião de Ogundiran impulsio- combina para compreender a comple- naram o desenvolvimento iorubá. xidade e a interconectividade da história Durante os seiscentos anos anteriores, cultural iorubá ao longo de um tempo uma seca severa havia ameaçado os
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proto-iorubóides em sua terra natal, doméstica e a hierarquia dentro dela forçando a migração para sul. Depois reconhecerão muitas heranças da ilé de 250 d.C., as chuvas voltaram à mais antiga de Ogundiran. estabilidade e a população cresceu. O autor a considera o “sistema do Nessa altura, grupos de famílias ilé” como um dos quatro pilares que multigeracionais adotaram um tipo vieram definir uma “comunidade de de ilé que provia eficazmente seus prática” iorubá. Ele tomou este conceito membros, e elegeram lideranças para emprestado da antropologia do apren- gerir a administração dos recursos dizado e o usa para evitar a sugestão e dos conflitos sociais. O ingresso de ser um grupo biológico, linguístico no ilé era aberto a forasteiros – ou político delimitado.2 Ao contrário, clientes, cativos, migrantes e outros. o autor vê uma população fluida, Havia esferas complementares e permeável, enredada e multilíngue equilibradas de atividade e autoridade que veio a comungar saberes, mitos, masculina e feminina. Os líderes eram símbolos, crenças e ideias através escolhidos com base em capacidade da interação e do aprendizado num e senioridade. Histórias de origem e tempo profundo. Uma elaboração práticas rituais partilhadas surgiram mais completa do conceito teria dado e proporcionaram novas formas de mais força ao livro. A dualidade de conceber o que significava ser uma gênero se tornaria um segundo pilar pessoa e membro de uma comunidade. da “comunidade de prática”. A reverência aos antepassados, alguns O ilé foi tão bem-sucedida que, dos quais se tornaram divindades durante o Período Formativo Final (orixás), ligava os vivos aos mortos (650-1050 d.C.), cidades incipientes e aos nascituros. O ilé tem sido, povoadas por grupos de parentesco na opinião de Ogundiran, a unidade corporativos de diversas origens primária da organização social iorubá ao longo da maior parte da sua história. 2 Jean Lave e Etienne Wenger, Situated Quem está familiarizado com a biblio- Learning: Legitimate Peripheral Participation, Cambridge: Cambridge grafia sobre a formação posterior das University Press, 1991; Etienne Wenger, Communities of Practice: Learning, cidades, reinos e impérios iorubás, Meaning, and Identity, Cambridge: ou sobre a relação entre a organização Cambridge University Press, 1998.
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desenvolveram-se, criando a neces- Durante o Período Clássico sidade de novos tipos de liderança. (1000-1400 d.C.), as inovações Apareceram figuras centralizadoras no que o autor chama de “capital (ọba-aládé), a que o autor chama intelectual” em Ilé-Ifẹ̀ deram ao “divine kings” em inglês, reis divinos. reino uma posição de vantagem e lhe Eles e os seus associados criaram permitiram estabelecer uma primazia novas instituições políticas e promo- comercial, militar e política entre os veram novas crenças religiosas, rios Níger e Mono. Naquela altura, práticas cerimoniais, ideias filosó- Ilé-Ifẹ̀ chegou a ser vista como o ficas e valores estéticos que se local de origem e ponto de referência amalgamaram e integraram ao ilé para a realeza divina. Algumas das e ao ìlú, unidade de maior escala de inovações importantes eram tecno- organização social e política. O uso lógicas. Mais importante, na opinião de contas vermelhas importadas do do autor, a gente de Ilé-Ifẹ̀ descobriu Sudão Central tornou-se um símbolo como fabricar contas – símbolo de fundamental da autoridade política poder e autoridade em toda a região e e do poder espiritual. Nesta parte que eram anteriormente importadas – do livro, o foco desloca-se para a partir do vidro, utilizando materiais política, governo e as crenças, rituais locais. A popularidade dessas contas e ideias que os sustentam. Ogundiran espalhou-se rapidamente entre as explica claramente as ligações entre elites regionais, e os comerciantes autoridade política e crenças cosmo- de Ifẹ̀ começaram a vendê-las em lógicas, complexos rituais e princípios toda parte. Esse comércio ajudou filosóficos. Ilé-Ifẹ̀ é o melhor exemplo a expandir o comércio de Ifẹ̀ de conhecido de surgimento da díade forma global, enriquecendo a cidade, ìlú-ọba-aládé, que o autor vê como reforçando o seu exército e aumen- um terceiro pilar da comunidade de tando o prestígio dos seus governantes. prática iorubá. Ele salienta, no entanto, As inovações tecnológicas na que havia muitos desses lugares entre manufatura em terracota e bronze 800-1000 d.C. e que um grupo deles contribuíram para transformar a em Èkìtì-Ìgbómìnà influenciou muito representação escultórica de gover- o que aconteceu em Ilé-Ifẹ̀. nantes e antepassados, pela qual o
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reino de Ifẹ̀ é hoje mundialmente comunidades menores a Ilé-Ifẹ̀, famoso. Ogundiran analisa essas como suas filiais (ẹbí). O desenvol- mudanças para iluminar o seu quarto vimento dessa nova consciência, pilar da comunidade de prática argumenta Ogundiran, mascarou a iorubá: a crença na imortalidade da hierarquia dentro da fraternidade ẹbí e alma e na reencarnação dos antepas- facilitou a integração política regional. sados falecidos. Ele explora como Houve ainda inovações religiosas esculturas de distintos antepassados e intelectuais. Por exemplo, os líderes instaladas nos locais de sepultamento de Ifẹ̀ inseriram as crenças locais das casas governantes veneraram os numa ampla cosmologia regional, antepassados em busca de felicidade mas ligeiramente diferente, e reemba- e paz e para assegurar o bem-estar laram a combinação como universal. dos seus descendentes. Cerimônias O autor ilustra esse fenômeno por menos elaboradas, material e ritual- meio de uma discussão sobre os orixás mente, em casas mais humildes de Orumilá (Ifá) e Obatalá para mostrar toda a comunidade de prática promo- como as origens e genealogias das veram o bem-estar de muitos outros divindades de Ifẹ̀ se tornaram um ilé e ìlú. No geral, o artesanato e as modelo para a comunidade iorubá. artes floresceram em Ilé-Ifẹ̀ durante Os orixás relacionados a Ifẹ̀ e as o Período Clássico. Migrantes em tradições orais a eles associadas busca de oportunidade, segurança e espalharam-se por meio de redes um ambiente cosmopolita afluíram econômicas, políticas e sociais. à cidade. Os valores e as práticas Surgiu uma nova visão de mundo associados ao ilé ajudaram a que reforçou a visão de Ifẹ̀ sobre incorporá-los. a integração econômica e política Outras inovações foram ideoló- regional e ajudou a transformar a gicas. Os governantes, sacerdotes e primazia do reino em hegemonia. artistas de Ilé-Ifẹ̀ criaram e difun- Ogundiran argumenta, entusiastica- diram tradições orais que legitimaram mente, que a epistemologia iorubá a primazia do reino por meio da deve ser tratada como uma fonte alegação de que este era a fonte da vital para o estudo do passado desses realeza divina. As tradições ligam povos. Ele emprega as evidências
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epistemológicas de forma mais iorubás. Foi nesse período que completa e convincente na sua análise os iorubás que se aproximavam do do Período Clássico. litoral encontraram pela primeira vez O domínio de Ilé-Ifẹ̀ não durou uma Europa em expansão. muito. Fatores internos e externos Ogundiran marca o seu Período enfraqueceram-no. A superpro- Final (1630-1840 d.C.) na era dução de contas de vidro saturou atlântica, assinalando a importância os mercados e reduziu os preços, que atribui à penetração do capital de modo que seu valor como bens de mercantil europeu e americano consumo de elite declinou. A guerra durante esses anos. Essa parte do civil no interior da capital e a rebelião livro trata de assuntos semelhantes fora dela drenaram os recursos aos que estão no coração do recente econômicos e militares do império. livro de Toby Green, A Fistful of Para agravar a situação, uma terrível Shells, e, enquanto um estudo de crise ecológica – longa e grave seca, caso detalhado de uma única cultura, acompanhada de fome, epidemias faz dele um companheiro valioso. e migrações –, entre cerca de 1400 Ambos os textos enriquecem a e 1570 d.C., levou ao colapso da história global do capitalismo.3 economia regional e ao declínio de O período começou bem, Ilé-Ifẹ̀ e de muitos outros reinos com a recuperação e a regeneração iorubás. O império Ifẹ̀ chegou ao fim. dos reinos iorubás. Velhos reinos Entretanto, os Nupe e outros grupos foram reconstruídos e novos foram armados varriam o sul do Níger e fundados. Nos primeiros anos do pilhavam e saqueavam até altura encontro atlântico, a importação de Èkìtì. A análise de Ogundiran de búzios, usados como moeda, sobre o declínio do Ifẹ̀ é a mais monetizou a economia, incrementou a abrangente e esclarecedora da histo- especialização econômica (particular- riografia iorubá; sua discussão sobre mente na produção têxtil) e expandiu o impacto da crise ecológica acres- centa muita novidade. A narrativa do 3 Toby Green, A Fistful of Shells: West Africa from the Rise of the Slave autor mostra os séculos XV e XVI Trade to the Age of Revolution, Chicago: como uma época terrível para muitos The University of Chicago Press, 2019.
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a atividade mercantil, embora a longo guerras de expansão e, no caso de prazo. Ọ̀yọ́, o reino mais setentrional Ọ̀yọ́, estabelecendo um novo império. da comunidade iorubá, desenvolveu Como havia acontecido anteriormente uma cavalaria, expulsou os saltea- em Ilé-Ifẹ̀, introduziram um novo dores do norte do Níger, que tinham símbolo de autoridade política e poder aterrorizado a sua população, e se militar, o cavalo, e reformularam o tornou o poder econômico e político panteão de Orixás, elevando Ogum, dominante. Contudo, outros reinos deus do ferro e da guerra, à supre- guerreiros surgiram e também tiveram macia. Essas inovações estéticas, capitais com populações grandes, religiosas e ideológicas alteraram a diversas e altamente qualificadas. visão de mundo iorubá e naturalizaram Cidades mercantis desenvolveram-se as conquistas dos reis guerreiros. nas suas fronteiras, onde os povos de Logo o encontro atlântico toda a região, e de além dela, comer- começou a manifestar seus lados mais cializavam, promovendo aquilo que obscuros. As elites locais encorajaram o autor chama integração econômica a monetização dos búzios, mas a depen- subcontinental “em rede”. Ogundiran dência de uma moeda que só podia mostra como as artes – escultura, ser adquirida por meio do comércio arquitetura, música e outras tradições transatlântico – as conchas vinham performáticas – floresceram em Ọ̀yọ́-Ilé das ilhas Maldivas – colocou-as e outras capitais. Em suma, a expansão numa posição de fraqueza. Ogundiran do comércio atlântico inicialmente argumenta que nesse período os aumentou o volume da produção e governantes tinham pouco controle do comércio interno, embora poucas sobre a política fiscal e recursos pessoas fora das elites políticas, limitados quando o valor dos búzios comerciais e militares tivessem os diminuía em relação ao das impor- recursos para consumir os tecidos, tações. Além disso, como os búzios o tabaco, a aguardente e outros bens não eram uma moeda internacional- introduzidos do estrangeiro. mente reconhecida, a única forma de No mesmo período, reis guerreiros os governantes e comerciantes iorubás de sucesso em Ọ̀yọ́-Ilé, Iléṣà e Ìjẹ̀bú os converterem em moeda atlântica redesenhavam o mapa político travando era apreendendo ou comprando
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cativos e comercializando-os. Além disso, a desigualdade Simultaneamente, a cultura iorubá aprofundou-se e se tornou perene estava se tornando cada vez mais durante a era atlântica no império de orientada para mercadorias de Ọ̀yọ́ e em outros estados hegemônicos, exportação e a valorização de bens tais como Iléṣà e Ìjẹ̀bú. Em Ọ̀yọ́, materiais. O consumo de bens impor- o processo se deu em múltiplos tados – têxteis, tabaco, aguardente e contextos: entre o reino e os tribu- búzios – espalhou-se e adquiriu um tários que conquistara e colonizara, novo significado nos marcadores onde os agentes imperiais impuseram de distinção social, bem como na pesados tributos e apresaram homens, sociabilidade centrada nos objetos. mulheres e crianças para o trabalho, Ogundiran documenta tais mudanças para o casamento ou concubinato e no vestuário e no adorno pessoal, para a venda ao comércio atlântico; práticas cerimoniais e rituais e ideias dentro do próprio reino, entre a capital sobre pessoa e autorrealização. e as cidades e aldeias provinciais de Sua discussão sobre a transfor- onde os administradores extraíram mação dos usos e do significado dos impostos, mão de obra e serviços; búzios, fundamentada numa análise e, através dos três domínios (reinos da filosofia iorubá, das tradições tributários, províncias e metrópole), orais e das artes visuais e verbais, extraíam recursos das elites gover- é especialmente rica. A comunidade nantes, militares e comerciais e a iorubá, o autor argumenta, passava a maioria dos outros habitantes. ser definida pelo consumo de bens Por um lado, houve um grande que só podiam ser adquiridos por aumento da posse de escravos nos meio da participação no comércio de estratos superior e médio da sociedade, escravos do Atlântico. Sua análise e o maior número de escravizados mostra como um tipo particular de eram mulheres. O emprego genera- comércio exterior – que constituía lizado de mão de obra escravizada uma parte muito menor, no conjunto pelos ricos e poderosos aumentou da economia, do que a produção e suas vantagens na produção, troca internas – poderia, no entanto, comércio e reprodução e foi essencial ter efeitos profundamente negativos. para a administração imperial
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e organização militar de Ọ̀yọ́ . Produziram, enfim, uma subclasse Por outro lado, as pessoas próximas permanente de súditos e se tornaram do topo da ordem social também uma fonte de profunda insatisfação. desfrutaram de vantagens no recru- A história do declínio e queda tamento de esposas nascidas livres, do império de Ọ̀yọ́ é o episódio fossem para si mesmos, para seus mais conhecido na história de tempo filhos ou seus outros dependentes, profundo dos iorubás na versão o que levaria a uma expansão da de Ogundiran, e isso se deve à poliginia. Essas duas mudanças monumental History of the Yorubas, aconteceram numa altura em que de Samuel Johnson e aos muitos as mulheres, livres e escravizadas, textos subsequentes que lhe serviram carregavam o fardo do aumento da de inspiração.4 Mesmo nesta parte do produção de muitos tipos de merca- livro, o autor acrescenta novas contri- dorias, sendo a mais importante os buições. Às causas geralmente aceitas têxteis, e também dominavam o para o calamitoso colapso do império comércio local e de longa distância. de Ọ̀yh, ele acrescenta uma rebelião A expansão da poliginia, argumenta das classes baixas cujas queixas foram o autor, prejudicou o estatuto das agravadas por uma nova seca e conse- esposas nascidas livres e reduziu a quentes fome e doença. Ele vê a revolta influência das esferas de autoridade de 1817 como uma rebelião de classe matricêntricas, ao mesmo tempo em e não como uma revolução islâmica. que aumentou a das esferas patri- A avaliação de Ogundiran sobre as cêntricas. Em suma, perturbaram a consequências da queda de Ọ̀yọ́ é dualidade iorubá de gênero e levaram consistente com a literatura anterior. ao declínio do estatuto da maioria As guerras que a acompanharam e das mulheres. Essas mudanças inter- seguiram levaram à destruição de conectadas, defende Ogundiran, milhares de cidades e aldeias e ao acentuaram a desigualdade entre deslocamento permanente de milhões os sexos e minaram a mobilidade social ascendente no seio dos grupos 4 Samuel Johnson, The History of the Yorubas: From the Earliest Time to the residenciais, através das gerações Beginning of the British Protectorate, e em todo o império de Ọ̀ yọ́ . Londres: Routledge & Kegan Paul, 1921.
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de pessoas. Um grande número Ogundiran concorda com Eltis que o delas foi vendido para a escravidão impacto dos iorubás nas Américas foi atlântica. A história dos novos Estados forte e desproporcional em relação ao e da cultura política que emergiu em seu número, e apresenta uma percepção meados do século XIX está além provocadora da razão pela qual isso do âmbito do livro. Ela pertence à pode ter acontecido.5 Ogundiran afirma história do encontro missionário que a preservação e adaptação de cristão e imperial europeu, situado valores e comportamentos associados num horizonte de tempo que requer ao ilé no Novo Mundo – abertura a um quadro conceitual diferente. estrangeiros, formas de inserção e The Yorùbá: A New History ênfase na proteção e apoio mútuos – termina com uma breve, mas sugestiva promoveram a coesão social. Esses discussão sobre a diáspora iorubá, valores e comportamentos ajudaram um assunto que pode ser de parti- as pessoas escravizadas de diferentes cular interesse para os leitores da origens, mas com interesses parti- Afro-Ásia. O autor, seguindo David lhados, a forjar comunidades fortes Eltis, estima que cerca de seiscentos enraizadas na família e na religião. mil iorubás chegaram ao Novo Mundo Assim como o ilé no continente tinha entre 1790 e 1867 e cerca de quatro- mobilizado diversos povos para se centos mil antes dessa data, perfazendo desenvolver, também na diáspora os um total em torno de um milhão de iorubás recorreram a essa instituição pessoas. Ao longo da história do para forjar grupos familiares, unidades comércio transatlântico, pequenos domésticas, casas de culto, irmandades números deles desembarcaram numa católicas, grupos de trabalho e outras vasta área geográfica, mas cerca de associações para o bem individual dois terços do total foram levados para e coletivo. Os ilé foram, na opinião apenas três locais – São Domingo/ de Ogundiran, “os centros nervosos Haiti, Bahia e Cuba –, a maioria no século XIX. Apenas na Bahia do 5 David Eltis, “The Diaspora of Yoruba Speakers, 1650-1865: Dimensions and século XIX, no entanto, os iorubás se Implications” in Toyin Falola e Matt D. Childs (orgs.), The Yoruba Diaspora in constituíram como o maior grupo de the Atlantic World (Bloomington: Indiana africanos na população escravizada. University Press, 2004), pp. 30-34.
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de experimentação e adaptação que sua argumentação a discussão sobre permitiram a reconstituição da cultura o Islã, uma religião poderosa e iorubá […] no Novo Mundo” (p. 388). unificadora entre os iorubás e outros Tornaram-se espaços poderosos de africanos no Brasil do século XIX. ajuda mútua, realização e resistência O livro de Ogundiran é um feito coletivas. O uso do iorubá como língua notável e uma importante contri- litúrgica no culto aos orixás teria buição à literatura sobre a história garantido a preservação da língua e da e a cultura dos iorubás. Ter um epistemologia iorubás nas Américas. único texto que narre de forma tão Os pesquisadores vão querer testar abrangente e perspicaz um período essa hipótese provocadora em outros tão longo da história dos iorubás é lugares e períodos. As evidências do muito valioso. O trabalho é simulta- autor vêm principalmente de Cuba neamente um recurso e um guia para do século XIX, não da Bahia ou de outros pesquisadores. Os especia- colônias para onde os iorubás escra- listas podem debater interpretações vizados foram levados anteriormente. de temas ou períodos específicos, Estudos de caso de uma irmandade e mas no futuro poucos poderão ignorar de um terreiro na Bahia que, em certos a periodização de Ogundiran do aspectos, se encaixam no modelo do passado profundo iorubá. autor, envolveram um número signifi- Uma última palavra sobre a cativo de falantes de gbe, alguns com linguagem. O autor tempera seu livro ligações à África Centro-Ocidental.6 com provérbios iorubás e outros Além disso, Ogundiran omite da aforismos, que ele traduz para o inglês. Introduz frequente e delicio- 6 Luís Nicolau Parés, “Milicianos, barbeiros e traficantes numa irmandade samente o ditado iorubá mais preciso católica de africanos minas e jejes para expor ou sintetizar o cerne do (Bahia, 1770-1830)”, Tempo, n. 20 (2014), pp. 1-32 ; Lisa Earl Castillo, que está a discutir. Ele também usa “O terreiro do Gantois: redes sociais e etnografia histórica no século XIX”, um vocabulário bastante contem- Revista de História, n. 176 (2017), porâneo. Termos tão familiares pp. 1-57 ; e Castillo e Parés, “Marcelina da Silva: a Nineteenth- como “crise ecológica”, “vantagem Century Candomblé Priestess in Bahia tecnológica”, “capital intelectual”, (Brazil), Slavery and Abolition, n. 31 (2010), pp. 1-27 . “sistemas econômicos em rede” e
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“desigualdade perene” são centrais tempo, a utilização de terminologia para a sua análise em partes essen- contemporânea para interpretar ciais da obra. Embora o autor não processos antigos levanta questões utilize a expressão “perda de fé no sobre a língua e a tradução entre governo”, ele a insinua na discussão culturas e épocas. Se muito se ganha sobre o império de Ọ̀yọ́. Sua aposta em usar o linguajar contemporâneo na linguagem contemporânea ajudará no primeiro plano, há também algo os leitores do século XXI a se identifi- que se pode perder? Poderá a língua carem com os temas históricos que ele dos falantes de iorubá do passado ser aborda. Torna o seu texto relevante traduzida de outra forma, e o que a para o mundo de hoje. Ao mesmo diferença poderia nos ensinar?