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FUNGOS AGARICALES (BASIDIOMYCOTA) EM REMANESCENTE DE FLORESTA DO PAMPA GAÚCHO,

SÃO GABRIEL - RS

Jorge Renato Pinheiro Velloso 1

Fernando Augusto Bertazzo da Silva 2

Marina de Souza Falcão 3

Bruna Lucia Laindorf 4

Jair Putzke 5

Fabíola Lucini 6

Resumo:

O Bioma Pampa abrange uma área de aproximadamente 700 mil km², que se estende pelo Brasil, Argentina e Uruguai, sendo
que no território brasileiro se distribui pela metade sul do Rio Grande do Sul, abrangendo 176.496 km², o que corresponde a
64% do território gaúcho. Bem menos conhecidos e estudados, encontram-se nesse bioma, inúmeras espécies de fungos, entre
elas, os representantes da ordem Agaricales, conhecidos popularmente por chapéus de cobra ou cogumelos. Esses fungos
desempenham um importante papel no equilíbrio e manutenção dos campos e matas desse bioma, degradando a matéria
orgânica, e assim, devolvendo seus nutrientes ao solo. Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo realizar um
levantamento das espécies pertencentes à ordem Agaricales (Basidiomycota), encontradas em uma área de floresta nativa do
Pampa, a fim de contribuir com o conhecimento da diversidade desse bioma. O trabalho foi desenvolvido em um fragmento
de mata nativa com área total de 1,5 hectares, situada no município de São Gabriel, Rio Grande do Sul (S 30°21’6,88104" W
54° 17’52,53684", a 107 m de altitude). A área está situada no Bioma Pampa e seu clima é classificado como subtropical
úmido. As coletas foram realizadas quinzenalmente durante os meses de Março a Agosto de 2018. Os exemplares coletados
foram fotografados e armazenados separadamente, a fim de evitar a contaminação por esporos de uma amostra para outra.
Posteriormente, os espécimes foram levados para o laboratório Núcleo de Estudos da Vegetação Antártica, na Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA, campus São Gabriel para análises e anotações das características macroscópicas. Em
laboratório, foram confeccionadas lâminas para visualização das estruturas microscópicas, estas, necessárias para
identificação das espécies, de acordo com literatura especializada. Todo o material coletado foi depositado no Herbário Bruno
Edgar Irgang - HBEI, São Gabriel-RS. Foram identificados 13 gêneros de Agaricales (dois identificados a nível de espécie),
os quais estão distribuídos em 10 famílias: Agaricaceae, Clavariaceae, Hygrophoraceae, Hymenogastraceae, Marasmiaceae,
Mycenaceae, Physalacriaceae, Pluteaceae, Strophariaceae e Tricholomataceae. Embora o estudo seja preliminar, é possível
observar um número razoável de espécies em relação às expedições de coleta, sendo de grande importância devido à escassez
de informações sobre a ecologia destes indivíduos no Bioma Pampa. Assim, torna-se essencial futuros estudos no intuito de
contribuir com a literatura da agaricobiota do Pampa.

Palavras-chave: Diversidade, Pampa, Cogumelos


Modalidade de Participação: Iniciação Científica

FUNGOS AGARICALES (BASIDIOMYCOTA) EM REMANESCENTE DE FLORESTA DO PAMPA GAÚCHO, SÃO


GABRIEL - RS
1 Aluno de graduação. jorgerenatovelloso@gmail.com. Autor principal

2 Aluno de Pós-Graduação. fernandobertazzo@gmail.com. Co-autor

3 Aluno de Graduação. marr.falcao@gmail.com. Co-autor

4 Aluno de Pós-Graduação. brunalaindorf@yahoo.com.br. Co-autor

5 Docente. jairputzke@unipampa.edu.br. Orientador

6 Aluno de Pós-Graduação. fabiolalucini10@gmail.com. Co-orientador

Anais do 10º SALÃO INTERNACIONAL DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO - SIEPE


FUNGOS AGARICALES (BASIDIOMYCOTA) EM REMANESCENTE DE
FLORESTA DO PAMPA GAÚCHO, SÃO GABRIEL ± RS

1 INTRODUÇÃO

O Bioma Pampa abrange uma área de aproximadamente 700 mil km², que se estende
pelo Brasil, Argentina e Uruguai, sendo que no território brasileiro se distribui pela metade
sul do Rio Grande do Sul, abrangendo 176.496 km², o que corresponde a 64% do território
gaúcho (IBGE, 2004) (Figura 1). O Pampa gaúcho é o único bioma brasileiro cuja ocorrência
é restrita a somente um estado e que ainda conserva um total de 41,13% da cobertura vegetal
nativa (original), 23,03% correspondem a formações campestres, 5,19% a formações
florestais e 12,91% a formações de transição, mosaico campo-floresta. Assim, mais de 50%
do Bioma Pampa já sofreu ações antrópicas, sendo constantemente agredido pela expansão de
atividades agropastoris, e introdução de espécies exóticas, levando a uma rápida degradação e
descaracterização das paisagens nativas (HASENACK, 2006).

Figura 1- Mapa do Bioma Pampa na América do Sul.

Fonte: Boldrini et al. 2010.

Por ser um conjunto de ecossistemas antigos, o Pampa apresenta flora e fauna próprias
e grande biodiversidade, ainda pouco conhecida pela ciência. Estima-se a ocorrência de
aproximadamente 3000 espécies de plantas, com grande diversidade de gramíneas (mais de
450 espécies), além de arbustos e cactáceaes. Além disso, a fauna se caracteriza pela riqueza
de indivíduos, com quase 500 espécies de aves, mais de 100 espécies de mamíferos terrestres,
além de inúmeras espécies endêmicas (BRASIL, 2003).
Bem menos conhecidos e estudados, encontram-se nesse bioma, inúmeras espécies de
fungos, entre elas, os representantes da ordem Agaricales, conhecidos popularmente por
chapéus de cobra ou cogumelos, devido ao seu aspecto, geralmente, lembrando um guarda-
chuva ou chapéu (PUTZKE & PUTZKE, 2018). Esses fungos desempenham um importante
papel no equilíbrio e manutenção dos campos e matas desse bioma, degradando a matéria
orgânica, como folhas e troncos, assim, devolvendo seus nutrientes ao solo (PUTZKE &
PUTZKE, 2013). Embora apresentem grande importância na ciclagem de nutrientes, os
fungos Agaricales se destacam por agruparem espécies de importância econômica, como os
cogumelos comestíveis (PUTZKE & PUTZKE 2004).
Assim, o levantamento da micobiota em remanescentes de floresta nativa do Bioma
Pampa é de grande relevância para o conhecimento de sua diversidade. Visto que conhecer as
espécies que o compõem, bem como sua importância, é fundamental para sua preservação.
Diante o exposto, o trabalho teve como objetivo realizar um levantamento das espécies
pertencentes à ordem Agaricales (Basidiomycota), encontradas em uma área de floresta nativa
do Pampa, a fim de contribuir com o conhecimento da diversidade desse bioma.

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2 METODOLOGIA

O trabalho foi desenvolvido em um fragmento de mata nativa com área total de 1,5
hectares, situada no município de São Gabriel, Rio Grande do Sul (S 30° ¶ ´: °
¶ ´ D P GH DOWLWXde) (Figura 2). A área está situada no Bioma Pampa e seu
clima é classificado como subtropical úmido.

Figura 2: Mapa do Rio Grande do Sul, localização do município de São Gabriel,


imagem aérea da área de coleta.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/São_Gabriel_(Rio_Grande_do_Sul); Google earth.

As coletas foram realizadas quinzenalmente durante os meses de Março a Agosto de


2018. Os exemplares coletados foram fotografados e armazenados separadamente, a fim de
evitar a contaminação por esporos de uma amostra para outra. Posteriormente, os espécimes
foram levados para o laboratório Núcleo de Estudos da Vegetação Antártica, na Universidade
Federal do Pampa - UNIPAMPA, campus São Gabriel para análises e anotações das
características macroscópicas. Posteriormente, foram confeccionadas lâminas para
visualização das estruturas microscópicas, tais como esporos, cistídios, trama da lamela e
camada cortical do píleo, estas necessárias para identificação das espécies, de acordo com
literatura especializada. Todo o material coletado foi depositado no Herbário Bruno Edgar
Irgang - HBEI, São Gabriel - RS.

3 RESULTADOS e DISCUSSÃO

Foram identificados 13 gêneros de Agaricales (dois identificados a nível de espécie),


os quais estão distribuídos em 10 famílias: Agaricaceae, Clavariaceae, Hygrophoraceae,
Hymenogastraceae, Marasmiaceae, Mycenaceae, Physalacriaceae, Pluteaceae, Strophariaceae
e Tricholomataceae.
Dentre os gêneros amostrados, Agaricus L.: Fr. Emend Karst, Clavulunopsis Vaill. ex
L., Hygrocybe (Fr.) P.Kumm., Leucoagaricus Locq. ex Singer e Leucopaxillus (Constantin&
L.M. Dufour) Bousier e foram encontrados desenvolvendo-se em solo. Cyptotrama (Berk.)
Redhead & Ginns, Galerina (Fr.) Singer, Mycena (Pers.) Roussel, e Pholiota (Bull.) P.
Kummer desenvolvendo-se em madeira morta. Marasmius (Scop.) Fr. tendo seu
desenvolvimento em serrapilheira. Pluteus (Schaeff.) P. Kummer crescendo em árvore viva.
Lepista (Speg.) Singer se desenvolvendo em esterco. O gênero Coprinus (O.F. Mull.) Gray foi
encontrado crescendo em diferentes substratos (Tabela 1).
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Tabela 1 - Fungos amostrados, em área de mata nativa no município de São Gabriel - RS.

Família Gênero Espécie Substrato


Agaricaceae Agaricus Agaricus sp. 1 Solo
Agaricus Agaricus sp.2 Solo
Agaricus Agaricus sp.3 Solo
Coprinus Coprinus sp. 1 Árvore viva
Coprinus Coprinus sp. 2 Solo
Leucoagaricus Leucoagaricus sp. Solo
Clavariaceae Clavulinopsis Clavulinopsis sp. Solo
Hygrophoraceae Hygrocybe Hygrocybe sp. Solo
Hymenogastraceae Galerina Galerina sp. 1 Madeira morta
Galerina Galerina sp. 2 Madeira morta
Marasmiaceae Marasmius Marasmius sp. Serrapilheira
Mycenaceae Mycena Mycena sp. Madeira morta
Physalacriaceae Cyptotrama C. asprata Madeira morta
Pluteaceae Pluteus Pluteus sp. Árvore viva
Strophariaceae Pholiota Pholiota sp. Madeira morta
Tricholomataceae Lepista L. glabela Esterco
Leucopaxillus Leucopaxillus sp. Solo
Fonte: Velloso et al., 2018.

Em levantamento realizado por SILVA & PUTZKE (2018) em área de Bioma Pampa,
os autores registraram a ocorrência dos gêneros Leucoagaricus e Marasmius como os mais
representativos, estes identificados no presente trabalho. ALVES et al. (2010) efetuaram um
levantamento de espécies pertencentes à ordem Agaricales, citando os gêneros Agaricus e
Cyptotrama para o município de São Gabriel, os quais estão igualmente citados neste
trabalho. Com o intuito de descrever novas espécies de Agaricales para o Bioma Pampa,
OLIVEIRA et al. (2012) registraram a ocorrência de 7 gêneros, sendo estes, Agaricus,
Gymnopilus, Hygrophorus, Lepiota, Leucoagaricus, Leucocoprinus e Macrolepiota.
De acordo com (PUTZKE & PUTZKE, 2013), os gêneros identificados neste estudo
são descritos para o Rio Grande do Sul. PUTZKE & PUTZKE (2018) destacam a carência de
pesquisas envolvendo fungos Agaricales no Bioma Pampa, necessitando assim, uma maior
atenção de micólogos para a área.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora o estudo seja preliminar, é possível observar um número razoável de espécies


em relação às expedições de coleta, sendo de grande importância devido à escassez de
informações sobre a ecologia destes indivíduos no Bioma Pampa. Assim, torna-se essencial
futuros estudos no intuito de contribuir com a literatura da agaricobiota do Pampa.

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REFERÊNCIAS

ALVES1, G. C.; VICTORIA, F. C.; ALBUQUERQUE, M. P.; PEREIRA, A. B. PRIMEIRO


RELATO DE FUNGOS AGARICALES NO MUNICÍPIO DE SÃO GABRIEL, RS,
BRASIL. Caderno de Pesquisa, série Biologia, v. 24, n. 27, 2010.

BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E DO ABASTECIMENTO.


Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 23 dez 2003.

BOLDRINI, I. I.; FERREIRA, P. M. A.; ANDRADE, B. O.; SCHNEIDER, A. A.;


SERUBAL, R. B.; TREVISAN, R.; FREITAS, E. M. Bioma Pampa: diversidade florística
e fisionômica. Porto Alegre: Palotti, p 64, 2010.

HASENACK, H. (org.) Mapeamento da cobertura vegetal do Bioma Pampa. In:


Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Biodiversidade e Florestas. Sumário Executivo
do mapeamento da cobertura vegetal dos biomas brasileiros. Brasília: MMA/SBF. 2006.

IBGE. Mapa da vegetação do Brasil e mapa dos biomas do Brasil. Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, 2004. Disponível em: www.ibge. gov.br (acesso em 05/07/2018).

OLIVEIRA, E. D. de; PEREIRA, A. B.; ALVES, G. C.; ALBUQUERQUE, M. P.;


VICTORIA, F. C. Novas ocorrências de Agaricales do Bioma Pampa Riograndense, São
Gabriel, RS. 2012.

PUTZKE, J.; PUTZKE, M. T. L. Os Reinos dos Fungos. 2ªed. vol. 1. EDUNISC, Santa Cruz
do Sul, p 605, 2004.

PUTZKE, J.; PUTZKE, M. T. Os reinos dos Fungos. 3. Ed., 665 p., EDUNISC, Santa Cruz
do Sul, 2013.

PUTZKE, J.; PUTZKE, M. T. L. Cogumelos (Fungos Agaricales l. s.) no Brasil. p 558,


LupaGraf, Santa Cruz do Sul, 2018.

SILVA, FERNANDO A. B.; PUTZKE, J. Composição das comunidades de Fungos


Agaricales (Basidiomycota) em Reserva Ecológica do Sul do Brasil. In: 69º CONGRESSO
NACIONAL DE BOTÂNICA E XII ENCONTRO DE BOTÂNICOS DO CENTRO-OESTE.
ANAIS 69º CNBOT. Cuiabá, Mato Grosso, 2018.

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