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Universidade Federal do Maranhão - UFMA

Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas – CCET


Curso de Engenharia Civil

Projeto Estrutural – Concepção estrutural

Prof. Dr. Wallace Maia de Souza

São Luís, 2022


SUMÁRIO

1. Introdução

2. Diretrizes básicas da
concepção estrutural

3. Estruturação ou lançamento
dos elementos

4. Pré-dimensionamento

5. Exemplificação
2
Introdução

3
INTRODUÇÃO
O projeto estrutural representa ~30% do custo
total da construção e 100% de sua segurança1

As soluções estruturais consistem em uma


problemática multidisciplinar:

• Arquiteto Compatibilização de projetos


(Fonte: https://conteudo.123projetei.com/)
• Engenheiro estrutural e geotécnico
• Engenheiro de instalações
COMPATIBILIZAÇÃO
DE PROJETOS
• Construtor e Incorporador
(Qualidade de todos os sistemas)
1 - Fonte: www.cimentoitambe.com.br/massa-cinzenta/estrutura-
4
da-obra-e-30-do-custo-e-100-da-seguranca/)
A concepção é o estabelecimento de um arranjo adequado dos elementos estruturais

Visa atender as finalidade do projeto

Atender, quando possível, as condições impostas pela arquitetura

A base do projeto estrutural é o projeto arquitetônico

Croquis de Oscar Niemeyer


(Fonte: laart.art.br/)

INTRODUÇÃO 5
Todo projeto de uma estrutura de concreto armado é um processo iterativo

Somente depois de aprovadas e compatibilizadas as decisões da equipe é que avança-se


para o carregamento definitivo e análise estrutural

É necessário estudar a eficácia nas primeiras fases do projeto, remontando a


CONCEPÇÃO ESTRUTURAL, onde cada projeto estrutural possui a sua peculiaridade

INTRODUÇÃO 6
Diretrizes básicas
da concepção
estrutural

7
DIRETRIZES BÁSICAS DA
CONCEPÇÃO ESTRUTURAL
Na concepção estrutural alguns
aspectos devem ser considerados:

(i) Segurança

(ii) Economia

(iii) Durabilidade

(iv) Funcionalidade

(v) Estética
Viga de transição
(Fonte: suporte.altoqi.com.br) 8
(1) SEGURANÇA

Um correto processo construtivo é aquele que gera conforto e absorve as ações solicitantes

O sistema estrutural deve exibir considerável resistência às ações verticais (pesos próprios e
ações de serviço) e horizontais (vento, desaprumo e efeitos sísmicos)

A geometria dos elementos é definida em função dos esforços solicitantes, e estes vem do
conhecimento da geometria. Eis o motivo do pré-dimensionamento

DIRETRIZES BÁSICAS DA CONCEPÇÃO ESTRUTURAL 9


(2) ECONOMIA

O profissional deve buscar, dentre todas as


possibilidades a estruturação mais econômica

Uma estrutura econômica é proveniente de:

• Padronização de fôrmas (aumento de


produtividade e reaproveitamento)

• Processos construtivos Montagem de elementos pré-moldados


(Fonte: www.tecnosilbr.com.br)
Usar repetições, simplicidade nos detalhes, Evitar o uso de vigas de transição, pois
formas razoáveis e fácil instalação gera maior consumo de material

Caminhamento simples das cargas DIRETRIZES BÁSICAS DA CONCEPÇÃO ESTRUTURAL 10


(3) DURABILIDADE

Criteriosa preocupação com cobrimentos, execução de etapas construtivas e materiais

Atenção relativamente ao detalhamento da armadura em ligações viga-pilar

Usar dimensões dos elementos que não


dificultem o adequado adensamento do concreto

Montagem de elementos pré-moldados Detalhamento ligação viga-pilar


(Fonte: www.mapadaobra.com.br) DIRETRIZES BÁSICAS DA CONCEPÇÃO ESTRUTURAL 11
(4) FUNCIONALIDADE

Deve ser funcional arquitetônica e


estruturalmente

Posicionamento adequado de pilares, não


impedindo a utilização da garagem e
aumentando a quantidade de vagas

Preocupação com a compatibilidade dos projetos


para não reduzir a eficiência dos demais
sistemas e a segurança da estrutura
Colapso no tabuleiro de uma ciclovia no RJ
(Fonte: g1.globo.com)
Deve-se ter em conta a finalidade da edificação

Abrangência de todas as ações atuantes DIRETRIZES BÁSICAS DA CONCEPÇÃO ESTRUTURAL 12


(5) ESTÉTICA

Tentar atender todas as exigências arquitetônicas em termos estéticos

Embutir as vigas e os pilares nas alvenarias, na medida do possível

Antes de atender a estética, a edificação devem ser a mais funcional possível

Palácio do Planalto

DIRETRIZES BÁSICAS DA CONCEPÇÃO ESTRUTURAL 13


Estruturação ou
lançamento dos
elementos

14
ESTRUTURAÇÃO OU
LANÇAMENTO DOS ELEMENTOS

O sistema estrutural (parte resistente do


edifício), em geral, é influenciado por

(i) Imposições arquitetônicas

(ii) Rotinas construtivas

(iii) Infra-estrutura da região

O sistema estrutural é a disposição racional e


adequada dos diversos elementos estruturais
Lançamento estrutural
É dependente da vivência do projetista (Fonte: Freitas et al., 2016) 15
Nesta reunião de elementos, eles devem
trabalhar de forma conjunta para resistir
as ações atuantes e garantir a estabilidade

Os principais sistemas estruturais são:


estruturas de pórticos e estruturas de
núcleo de rigidez ou paredes estruturais

Contraventamento por pórticos


ESTRUTURAÇÃO OU LANÇAMENTO DE ELEMENTOS 16
(Fonte: suporte.altoqi.com.br)
Os pórticos planos são constituídos por vigas e pilares conectados rigidamente

O sistema pode apresentar um núcleo central rígido (pilares paredes das caixas de escadas
ou elevador) ou para o enrijecimento lateral do edifício

Pilares de grandes dimensões


(Fonte: suporte.altoqi.com.br)
ESTRUTURAÇÃO OU LANÇAMENTO DE ELEMENTOS 17
Na construção dos pórticos planos deve avaliar
criteriosamente a orientação das seções dos pilares
em planta

Os sistemas estruturais devem resistir as cargas


verticais e horizontais

Percurso das cargas verticais (o mais direto possível):

• Lajes transmitem para as vigas ou pilares (laje lisa)

• Vigas transmitem para pilares e paredes estruturais

• Pilares e paredes para fundações


Caminho das cargas verticais
(Fonte: Debs, 2007)
ESTRUTURAÇÃO OU LANÇAMENTO DE ELEMENTOS 18
Percurso das cargas horizontais:

• Devem ser absorvidos pelos pórticos e


paredes estruturais e transmitidos para o solo

• Na ação de forças horizontais, as lajes agem


como diafragmas de rigidez infinita no seu
plano e travam o conjunto

Deve-se sempre avaliar a estabilidade global,


sem afetar o dimensionamento e o custo final

Apenas sistemas de núcleo, podem encarecer a


obra, pois os esforços horizontais ficam
Caminho das cargas horizontais
concentrados nestes pilares-paredes
(Fonte: Carneiro e Martins, 2008)
ESTRUTURAÇÃO OU LANÇAMENTO DE ELEMENTOS 19
CRITÉRIOS DE ESTRUTURAÇÃO

Um edifício usualmente é formado por:

• Subsolo: garagem

• Pavimento térreo: áreas sociais

• Pavimento-tipo: apartamento

• Ático: fica no topo dos edifícios, recuado,


para abrigar máquinas, reservatórios etc

O lançamento do elementos deve ser feito em Partes do edifício


harmonia com demais projetos, sendo um (Fonte: Gerson Alva)
processo iterativo ESTRUTURAÇÃO OU LANÇAMENTO DE ELEMENTOS 20
Na compatibilização deve-se ter em conta

• Passagem dos dutos de esgoto e instalações de água

• A disposição dos pilares de garagem compatíveis as áreas de manobras

Evitar, sempre que possível, o uso de vigas de transição

Disposição de pilares com viga de transição ESTRUTURAÇÃO OU LANÇAMENTO DE ELEMENTOS 21


Furos na viga para passagem de tubos
(Fonte: jonatasalexandre.com.br)

Rasgo em um pilar (Fonte: wlopesengenharia.com)


Pilar entrando na região de esquadria
ESTRUTURAÇÃO OU LANÇAMENTO DE ELEMENTOS 22
(Fonte: maisengenharia.altoqi.com.br)
LANÇAMENTO DOS ELEMENTOS

A sequência adequada para a estruturação do edifício, consiste da seguinte ordem:

• Pavimento-tipo: pilares de canto, pilares nas áreas comuns (caixa dágua-


escada e elevadores, pilares extremidade e pilares internos

• Pavimento-tipo: posição das vigas e lajes

• As vigas dependem do tipo de laje adotada

• Tentar sempre formar pórticos a partir da união entre vigas e pilares

• Alinhar as vigas com as alvenarias a fim de suportar a carga das paredes

• Lajes de balanço ESTRUTURAÇÃO OU LANÇAMENTO DE ELEMENTOS 23


LANÇAMENTO DOS ELEMENTOS

ESTRUTURAÇÃO OU LANÇAMENTO DE ELEMENTOS 24


RECOMENDAÇÕES PARA LANÇAMENTO DE
ELEMENTOS ESTRUTURAIS

Recomendações abrangem edifícios de CA


usuais e com pequenas sobrecargas de utilização:

• Pilares devem ser posicionados em encontros


de vigas e nos cantos das construções

• Tentar esconder os pilares (atrás de portas ou


cantos de armários)

• Uso de forro falso ao invés de rebaixamento


de lajes

ESTRUTURAÇÃO OU LANÇAMENTO DE ELEMENTOS 25


DEFINIÇÕES TÉCNICAS

O projetista tomará algumas decisões que


impactarão diretamente na construção:

(i) Método construtivo: tipos de elementos


e técnicas serão usadas na construção

(ii) Definição do fck: CAA, altura do edifício,


velocidade de construção e custo

(iii) Escolha do cobrimento: durabilidade


frente a agressividade do ambiente

(iv) Dimensões das peças: racionalização,


repetitividade e compatibilização Classe de agressividade e cobrimento nominal
(Fonte: ABNT NBR 6118, 2014)
(v) Ações: modelar a situação real ESTRUTURAÇÃO OU LANÇAMENTO DE ELEMENTOS 26
Pré-dimensionamento

Método da área de influência para pilares


(Fonte: www.guiadaengenharia.com/
27
PRÉ-DIMENSIONAMENTO

Para a atividade de pré-dimensionamento não


existe normatização, apenas recomendações

As dimensões dos elementos são definidas a


partir de cálculos e medidas corretas e
normativas

O pré-dimensionamento é feito para:

(i) Lajes

(ii) Vigas Mesmo com o uso de computadores, há a


necessidade das “contas de padaria”
(iii) Pilares 28
1. LAJES

O pré-dimensionamento das lajes consiste em determinação a sua altura

É influenciada pela vinculação dos bordos

Deve-se respeitar os limites mínimos da norma:

• Cobertura não em balanço – 7cm

• Laje de piso não em balanço – 8cm

• Laje em balanço – 10cm Tipos de vinculação dos bordos

• Suporte veículos de peso total  30kN – 10 cm

• Suportem veículos de peso total > 30kN – 12 cm PRÉ-DIMENSIONAMENTO 29


Há 4 situações a serem consideradas:

Bordos apoiados
em vigas e comuns
a outras lajes Bordos apoiados em
(Engastados) vigas e não comuns a
outras lajes (Apoiados)

Parte apoiado/engastado
Bordos não apoiados
2/3 engastado: engastado Bordos apoiados em em vigas (Livres)
Contrário: apoiado vigas e não comuns a
outras lajes (Apoiados) PRÉ-DIMENSIONAMENTO 30
A altura útil das lajes pode ser estimada por:

d est 
 2,5  0,1n  l *
100
l x
l 
*

0,7l y

n – número de bordas engastadas


lx – menor vão
ly – maior vão

Lajes maciças (Fonte: Bastos,2021 )


PRÉ-DIMENSIONAMENTO 31
Lajes maciças
(Fonte: Bastos,2021 )
PRÉ-DIMENSIONAMENTO 32
2. VIGAS

A largura das vigas pode estar condicionada a largura da alvenaria, para embuti-la

Quando não houve imposições, a altura da viga é 10% do vão

Pode ser menor que 10% no caso de pequenas cargas ou restrições mais rígidas

PRÉ-DIMENSIONAMENTO 33
Vigas de pórticos, que resistem a ação
do vento, podem ter maiores alturas

A altura da viga não pode interferir na


altura de esquadrias e portas

Procurar não adotar muitas alturas


diferentes

Respeitar os limites mínimos da norma:

• bw > 12cm

• bw = 10cm (respeitar o adensamento)


para situações excepcionais

PRÉ-DIMENSIONAMENTO 34
3. PILARES

Compreende a determinação das dimensões em planta e no direcionamento

Sempre um adequado alinhamento para a formação de pórticos planos

Deve-se respeitar os limites mínimos da NBR 6118/2014 (Ap > 360 cm²)

PRÉ-DIMENSIONAMENTO 35
Determinação da carga vertical por área de influência

Carga vertical em edifícios usuais  (g + q)  12 kN/m² (por pavimento)

Força normal (estimada) no pilar  Nk = (g + q)  Ai  n


PRÉ-DIMENSIONAMENTO 36
Flexão composta (N,Mx,My) Compressão centrada (N)
(Situação real) (Situação equivalente)

Nd = fnNk
 = 1,3 (pilares internos)
Nd
Ac   = 1,6 (pilares extremidades)
0,85fcd   s 0.002  = 1,8 (pilares de canto)

s0.002 = 21000  0,002 = 42 kN/cm² Nd


Ac 
fcd = fck/1,4 0,85fcd  0,84
 = adotar entre 0,0015 a 0,02
PRÉ-DIMENSIONAMENTO 37
Exemplificação

38
EXEMPLIFICAÇÃO

Pré-dimensionar a planta abaixa ao lado

É uma residência com térreo e dois pavimentos

Ignorar, para o exercício, a existência de


escadas

(Fonte: Moura, 2018)


39
Lançamento dos elementos e dimensões das vigas

Vigas V1,V2,V3,V5
hest = 425/10 = 42,5
hest  40cm

Viga V4
hest = 325/10 = 32,5
hest  30cm

Viga V6,V8
hest = 515/10 = 51,5
hest  50cm

Viga V7
hest  30cm

Viga V9
hest  40cm
Locação dos pilares Dimensões das vigas
EXEMPLIFICAÇÃO 40
Dimensões das lajes

Por simplificação utilizou-se lx/40, e


adotou-se o menor valor normativo
de 8cm, com exceção da laje L5
que apresenta maiores dimensões

Pode-se tentar por outro método, a


partir das vinculações, para
confirmar os valores

EXEMPLIFICAÇÃO 41
Dimensões dos pilares
Pilar intermediário, = 1,3

Dimensão de 14 cm, então n = 1,25

Nd = 1,41,251,3388,8 = 884,5 kN

Adotando fck = 25 MPa

884,5
Ac   375,1cm ²
2,5
0,85  0,84
1,4
Ai = 16,2 m²
Ac = h  b = 14  b
g + q = 24 kN/m²
b = 26,8cm  27 cm
Nk = 2416,2 = 388,8 kN EXEMPLIFICAÇÃO 42
Dimensões dos pilares
Pilar de extremidade, = 1,6

Dimensão de 14 cm, então n = 1,25

Nd = 1,41,251,6228 = 638,4 kN

Adotando fck = 25 MPa

638,4
Ac   271,3cm ²  360cm ²
2,5
0,85  0,84
1,4
Ai = 9,5 m²
Ac = h  b = 14  b
g + q = 24 kN/m²
b = 25,7cm  26 cm
Nk = 249,5 = 228 kN EXEMPLIFICAÇÃO 43
Dimensões dos pilares
Pilar de canto, = 1,8

Dimensão de 14 cm, então n = 1,25

Nd = 1,41,251,8184,8= 582,1 kN

Adotando fck = 25 MPa

582,1
Ac   246,9cm ²  360cm ²
2,5
0,85  0,84
1,4
Ai = 7,7 m²
Ac = h  b = 14  b
g + q = 24 kN/m²
b = 25,7cm  26 cm
Nk = 247,7 = 184,8 kN EXEMPLIFICAÇÃO 44
Dimensões dos pilares

EXEMPLIFICAÇÃO 45

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