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Carlos Marcelo Martins Ferreira

Mestre e Doutor em Dermatologia pela Universidade Federal do


Rio de Janeiro. UFRJ
Pós-Doutorado no Melanoma Center, University of California ,
San Francisco , EUA

Carlos Barcaui
Mestre em Dermatologia pela Universidade Federal de São Paulo ,
UNIFESP /EPM ; Doutor em Dermatologia pela Universidade de São Paulo , USP
Professor-Associado do IDPA. Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro

Juan Pineiro·Maceira
• Professor-Associado do Departamento de Patologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ ; Dermatopatologista do
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho , UFRJ
Mestre em Anatomia Patológica e Doutor em Dermatologia pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ
Pós-Doutorado em Dermatopatologia , Armed Forces of
lnstitute of Pathology, Washington D.C., EUA

'
Sumário

1 Introdução, 1 6 Dermatoscopia de Lesões


Juan Pifleiro-Maceira Pigmentadas em Sítios Anatõmicos
Carlos Marcelo Martins Ferreira Peculiares - Região Palmoplantar;
Carlos Barcaui Face; Região Genital, Mamilar e
Mucosas; Aparelho Ungueal, 51
Juan Pifleiro-Maceira
2 Histórico - Evolução da Colaboração de: Sérgio Henrique Hirata
Dermatoscopia , 5
Carlos Marcelo Martins Ferreira
Carlos Barcaui
Juan Pifleiro-Maceira
7 Abordagem Dermatoscópica para
as Lesões Pigmentadas e Métodos
Analíticos , 67
3 Princípios Básicos da Carlos Barcaui
Dermatoscopia , 9 Carlos Marcelo Martins Ferreira
Carlos Marcelo Martins Ferreira Juan Pifleiro-Maceira
Carlos Barcaui
Juan Pifleiro-Maceira
8 Lesões Melanocíticas
Benignas, 79
4 Correlação Clinicodermatoscópica e
Carlos Marcelo Martins Ferreira
Histopatológica, 17
Carlos Barcaui
Juan Pifleiro-Maceira Juan Pifleiro-Maceira
Carlos Marcelo Martins Ferreira
Carlos Barcaui

9 Mapeamento Corporal
5 Critérios Dermatoscópicos, 33 Total , Acompanhamento das
Carlos Barcaui Lesões Melanocíticas e Laudo
Carlos Marcelo Martins Ferreira Dermatoscópico, 123
Juan Pifleiro-Maceira Francisco Macedo Paschoal

xi
e arJoma , 1 29 12 Outras Dermatoses de Interesse
arcelo M artins Ferreira Dermatoscópico, 189
3a aui Carlos Barcaui
::J -e1
ro-Maceira Colaboracão de: Gustavo Novaes
Martins Ferreira

s ões Pigm entadas Não


13 Dermatoscopia das Alopecias, 199
Bruna Duque Estrada Pinto
e a ocfticas, 177
Leonardo Spagnol Abraham
-as Barcaui
Celso Tavares Sodré
-:os arcelo M artins Ferreira
::J - e1
ro-Maceira Índice Remissivo , 217

xii
CAPÍTULO 1 Introdução

A dermatoscopia (microscopia de superfície in


vivo, microscopia de epiluminescência, dias-
copia com óleo de imersão, dermoscopia) é méto-
no acompanhamento de determinados pacientes e
no esclarecimento de algumas dificuldades diag-
nósticas específicas.s-s
do não invasivo auxiliar no exame clínico que, de A simplicidade é um dos grandes atrativos da
forma direta, permite ao médico avaliar lesões pig- dermatoscopia: o óleo é colocado sobre a lesão e o
mentadas da pele e definir se são de natureza me- dermatoscópio é então pressionado sobre ela e fo-
lanocítica ou não.1 As lesões melanocíticas podem cado. Com isso, a epiderme não pigmentada torna-
ainda ser avaliadas como benignas, suspeitas ou al- -se essencialmente "invisível" e permite perceber as
tamente suspeitas, possibilitando maior confiança estruturas pigmentadas subjacentes. O resultado é
na decisão pelo acompanhamento clínico especia- a caracterização de mais de 100 aspectos morfoló-
lizado ou pelo encaminhamento para sua retirada gicos nas lesões pigmentadas, facilitando seu diag-
cirúrgica. nóstico. Cada aspecto morfológico terá especifici-
Este método diagnóstico permite o reconhe- dade e sensibilidade determinadas para um diag-
cimento de estruturas morfológicas que não são nóstico em particular. Por exemplo, o aspecto de
observadas a olho nu e acrescenta nova dimensão véu azul-esbranquiçado tem especificidade de 97%
ao exame clínico. O uso de um sistema de magnifi- e sensibilidade de 51% para o diagnóstico de mela-
cação da luz incidente, geralmente com óleo na in- noma invasivo, ou seja, 51% desses melanomas têm
terface pele-microscópio para eliminar a dispersão véu azul-esbranquiçado, enquanto apenas 3% das
da luz que ocorre na camada córnea da pele, torna lesões que não são melanomas apresentam esse as-
a epiderme translúcida e permite uma observação pecto. O teste dermatoscópico das 3 cores, descrito
detalhada das estruturas pigmentadas da epiderme, em 2002 por MacK.ie et af.9 para a rápida prioriza-
da junção dermoepidérmica e da derme superior, ção de pacientes com vistas à biópsia excisional de
incluindo o tamanho e a forma dos vasos do plexo lesões com diagnóstico diferencial entre melanoma
superficial. 2•3 O desenvolvimento de dermatoscó- e nevo melanocítico, apresentou, segundo os auto-
pios manuais de baixo custo com aumento fixo de res, sensibilidade de 92% e especificidade de 51%.
10x (Episcope, Welch Allyn Inc.; Dermatoscope, O treinamento na interpretação dos achados
Heine Ltd) no final da década de 1980, em con- dermatoscópicos de lesões pigmentadas cutâneas
trapartida aos instrumentos iniciais que permitiam e sua correlação com os aspectos clínicos e histo-
ampla gama de aumentos, mas eram muito caros e patológicos delas é fundamental para aumentar a
volumosos, possibilitou a utilização atual da der- eficiência no diagnóstico de lesões pigmentadas
matoscopia em grande escala nos ambulatórios e cutâneas, tanto melanocíticas como não melano-
consultórios médicos.4 Já a dermatoscopia digital e cíticas. Tal distinção dentro do grupo de lesões
a microscopia confocal in v ivo vêm ganhando cada pigmentadas da pele é de grande utilidade prática
vez mais aceitação como métodos de grande valor na rotina do exame dermatológico, pois representa

1
Introdução

uma parcela importante do atendimento dermato- observações clínica e dermatoscópica facilita essa
lógico e é responsável por porcentual significativo indicação. 22
das cirurgias dermatológicas. Esta obra visa divulgar a experiência de um gru-
Além disso, com o emprego da dermatoscopia, po de dermatologistas e dermatopatologistas brasi-
as lesões melanocíticas podem ser subdivididas em leiros com a aplicação clínica da dermatoscopia,
benignas, suspeitas ou altamente suspeitas de malig- enfatizando a importância do conhecimento de
nidade, de acordo com 4 principais métodos analí- seus fundamentos básicos e da correlação histo-
ticos de diagnóstico, possibilitando maior confiança patológica para o seu aprendizado adequado, e de-
na decisão pelo acompanhamento clínico ou pelo monstrando que a aproximação entre diferentes ti-
encaminhamento para a sua retirada cirúrgica. É um pos de microscopia (dermatoscopia, histopatologia
procedimento, portanto, que ajuda a definir critérios e microscopia confocal) pode resultar em grande
para a excisão dessas lesões, com o potencial de redu- benefício para a avaliação de pacientes com lesões
zir o número de cirurgias desnecessárias. pigmentadas cutâneas.
O melanoma cutâneo corresponde atualmente
a cerca de 2% de todos os tumores malignos da pele
• REFERÊNCIAS
e a sua detecção precoce é de grande importância
1. Cohen D, Sangueza O, Fass E, Stiller M. In vivo
para reduzir os índices de mortalidade por essa do- cutaneous surface microscopy: revised nomenclature.
ença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes Intj D ermato/ 1993;32:257-8.
acometidos. Nesse contexto, recursos como a der- 2. MacK.ie R. An aid to the preoperative assesment
matoscopia são valiosos, pois vários estudos, em paí- of pigmented lesions o f the skin. Br J D ermatol
ses como a Austrália, onde o melanoma tem grande 1971;85:232-8.
3. Fritsch P, Pechlaner R. Differentiation ofbenign
incidência e significativa mortalidade, demon tra-
from malignant melanocytic lesion using incident
ram até 39% de incremento na sensibilidade para light microscopy. In: Ackerman A. (ed.). Pathology
o diagnóstico de melanoma, quando tanto médicos ofmalignant me/anoma. New York, Masson,
generalistas como especialistas são submetidos a 1981;301-12.
programas educativos de treinamento formal nes- 4. Braun-Falco O, Stolz W, Bilek P et al.
sa técnica diagnóstica. 10-13 Esse método permite Das Dermatoskop: eine Vereinfachung der
Aufuchtrnikroskopie von pigmentierten
reconhecer in vivo lesões cutâneas pigmentadas
Hautveranderungen. Hautarzt 1990;41:131-6.
malignas mais fácil e precocemente que quando o 5. Altamura D, Avramidis M, Menzies SW. Assessment
exame clínico é feito isoladamente, 14·15 e há estudos of the optimal interval for and sensitivity of
indicando sua utilidade na avaliação pré-operatória short-term sequential digital dermoscopy
da espessura do melanoma, 16 assim como na deli- monitoring for the diagnosis of melanoma.Arch
mitação das margens cirúrgicas 17 e na orientação de D ermato/2008; 144( 4):502-6.
6. Braun RP, Gaide O , Le Gal FA, et al.
biópsias incisionais. 18 Alguns autores recomendam
Follow-up of melanoma lesions. R ev Med Suisse
também o exame dermatoscópico de lesões insus- 2007;3(109):1119-23.
peitas com a intenção de diagnosticar o chamado 7. Scope A, Gill M, Benvenuto-Andrade C et al.
°
"melanoma incógnito". 19·2 Contudo, a dermatos- Correlation of dermoscopy with in vivo reflectance
copia não elimina completamente a possibilidade confocal microscopy of streaks in melanocytic lesions.
de algum erro, 21 ou seja, não há 100% de acurácia Arch Dermatol. 2007;143(6):727-34.
8. Branzan AL, Landthaler M, Szeimies RM. In vivo
diagnóstica, e ela não substitui o diagnóstico his-
confocal scanning laser microscopy in dermatology.
topatológico. 16 A dermatoscopia não deve ser usa- Lasers Med Sei 2007;22(2):73-82.
da como critério isolado para a recomendação da 9. MacK.ie RM, Fleming C, McMahon AD,Jarrett
excisão ou não de uma lesão, mas a integração das P. The use of the dermatoscope to identify early

2
Introdução

melanoma using the three colour test. Br j Dermatol 16. Carli P, De Giorgi V, Soyer HP, Stante M, Mannone
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3
CAPÍTULO 2 H istórico - Evolução da
Dermatoscopia

P ode-se considerar que a história da dermatos-


copia teve seu início há 3 séculos, em 1663,
quando capilares do leito ungueal foram pela pri-
que a microscopia de superfície aumentava em até
84% a eficiência no diagnóstico das lesões pigmen-
tadas, ressaltando a importância de sua utilização
meira vez observados in vivo com um microscópio, no período pré-operatório. 4•9
por Christophorus Kolhaus. 1•3 Fritsch e Pechlaner, em 1980, enfatizaram a
Hueter analisou vasos da mucosa oral com um importância da diferenciação entre lesões cutâneas
microscópio ( Cheilangioscopie) em 1879 e U nna benignas e malignas baseando-se em vários aspec-
utilizou pela primeira vez óleo de imersão e uma tos da rede pigmentada. 10
lâmina de vidro, sobre a superfície da pele, para Em 1987, Pehamberger introduziu a análise
torná-la mais transparente, empregando o termo dos padrões das lesões pigmentadas, a partir de um
diascopia (diaskopie) ao estudar o lúpus vulgar em estudo de 3.000 casos em um período de 4 anos,
1893. 2 •3 incluindo coloração, pigmentação e bordas, descre-
A primeira descrição da técnica em dermato- vendo, entre outros aspectos, a rede pigmentada,
logia e a utilização do termo dermatoscopia foram os glóbulos castanhos e escuros, além das áreas de
feitas por Johann Saphier, estudando capilares da despigmentação. O microscópio utilizado nesses
pele normal e patológica, na Universidade de Mu- estudos era binocular, equipado com objetivas de
nique, em 1920. 2· 5 91 mm, semelhante a um colposcópio, montado
Hilnselmann utilizou pela primeira vez o col- em um braço articulado e equipado com máquina
poscópio para examinar úlceras cutâneas e tumo- fotográfica. 11
res, em 1933.3•6 Goldman experimentou, a partir de Em 1989, Soyer correlacionou os critérios der-
1947, vários tipos de microscópios para estudar "a matoscópicos, descritos por Fritsch e Pechlaner e por
superfície e a profundeza da pele viva", enumeran- Pehamberger, com achados histopatológicos. No
do procedimentos técnicos e efetuando estudos de mesmo ano, com o lançamento do dermatoscópio
nevos pigmentados, em 1951. 7 Esses estudos ini- portátil, que proporcionava aumento de 10x, desen-
ciais de microscopia de superfície da pele, efetuados volvido por Stolz e colaboradores, na Universidade
por Hinselmann e Goldman, 6· 8 somente puderam de Munique, o método passou a ser amplamente
expandir-se satisfatoriamente a partir da utilização difundidoY·13 O aparelho Delta 10 Dermatoscope
regular do óleo de imersão na interface. (Braun-Falco, Bilek, Stolz), produzido pela Heine
Em 1958, Goldman relatou a utilização de um Optotechnik, Alemanha, consiste em um instru-
microscópio portátil para microscopia de superfície. mento semelhante a um otoscópio, pode ser uti-
Em 1971, Rona MacKie demonstrou que a utiliza- lizado de rotina em consultórios, proporcionando
ção de uma fina camada de óleo de oliva aplicada um aumento aproximado da lesão de 10x. Outros
sobre a lesão tornava-a mais translúcida, facilitando modelos semelhantes surgiram em seguida, como o
o exame. No mesmo trabalho, a autora demonstrou episcópio da Welch Allyn. 6

5
Histórico - Evolução da Dermatoscopia

Em novembro de 1989 foi realizada em grega colegas de 110 países e, em novembro de


Hamburgo, Alemanha, a primeira Conferên- 2009, realizou seu segundo congresso mundial
cia de Consenso sobre microscopia de superfí- em Barcelona.
cie da pele, do Comitê de Morfologia Analítica Zalaudek, Argenziano, Soyer e colaboradores
de Arbeitsgemeinschaft, organizada por Stolz e relataram em 2006 o método denominado three-
S molle. 3 •14 -point cheklist (lista de procedimentos de 3 pontos:
Kreusch e Rassner publicaram em 1991 assimetria, rede atípica e estruturas azul-esbranqui-
o primeiro atlas colorido de dermatoscopia çadas), que se revelou reprodutível e de alta sensi-
na literatura, intitulado Auflichtmikroskopie der bilidade, bastante útil para o diagnóstico de lesões
Hautkrankheiten. 3•15 Desde então, muitos outros pigmentadas, nas mãos de participantes não expe-
encontros têm sido realizados e uma quantidade rientes em dermatoscopia, em um estudo aberto na
crescente de trabalhos está sendo publicada sobre internet. 22
o tema. O método algorítmico do CASH (colar, ar-
Stolz e colaboradores introduziram a regra do chiteture, symmetry, homogeneity) foi publicado por
ABCD da dermatoscopia em 1994 e, em 1998, Ar- Henning e colaboradores em 2007, com sensibili-
genziano et ai. apresentaram um novo método algo- dade de 98% e especificidade de 68% para o diag-
ritmo, prático e simplificado, denominado regra dos nóstico de melanoma, sendo utilizado para distin-
sete pontos, com o objetivo de auxiliar principalmen- guir melanoma de nevos melanodticos. 23
te observadores menos experientes no diagnóstico Além das lesões pigmentadas, que impulsio-
precoce do melanoma. 16- 18 naram o desenvolvimento da dermatoscopia até
Kittler e colaboradores acrescentaram em 1999 os dias atuais, expande-se de forma progressiva a
o fator E, correspondente às transformações mor- observação das lesões não pigmentadas, especial-
fológicas das lesões pigmentadas como extensão da mente dos padrões vasculares, tanto de tumores
regra do ABCD da dermatoscopia. 19 quanto de dermatoses não neoplásicas como a pso-
Em 2000, o Net Consensus Meeting on Der- ríase, também no estudo das alopecias e novamente
moscopy procurou padronizar a nomenclatura na capilaroscopia do leito ungueal, caracterizan-
dermatoscópica e os métodos analíticos vigentes, do uma volta às origens, à luz dos conhecimentos
restultando na publicação de um atlas que se en- atuais. 24- 27
contra disponível no si te http://www.dermoscopy. Sem dúvida, o advento do dermatoscópio por-
org tátil foi o ponto de partida que proporcionou uso
Rona MacK.ie e colaboradores apresentaram, rotineiro e, consequentemente, um ritmo acelerado
em 2002, o teste das 3 cores, com a utilização do ao desenvolvimento da dermatoscopia, com au-
dermatoscópio manual em ambulatório, para o mento sensível das publicações e o surgimento de
diagnóstico rápido e precoce do melanoma. 20 novos e modernos aparelhos, como os dermatoscó-
Em 2003, foi publicado o resultado do Vir- pios de luz polarizada, os videodermatoscópios, os
tual Consensus Net Meeting on Dermoscopy, no dermatoscópios digitais, e com a teledermatosco-
qual 108 lesões foram avaliadas via internet por pia, proporcionando troca de informações e colabo-
40 dermatoscopistas experientes, demonstrando rando para um significativo aumento na eficiência
concordância entre os examinadores, abrindo do diagnóstico clínico das lesões pigmentadas. 28•29
uma nova perspectiva para o diagnóstico e o tra- Ressaltamos ainda o advento da microscopia con-
tamento das lesões pigmentadas. 21 Ainda naquele focal a laser, método não invasivo que, como mi-
ano foi fundada a International Dermoscopy So- croscopia de superfície, correlaciona-se com a der-
ciety (www.dermoscopy-ids .org), que hoje con- matoscopia. 30

6
Histórico- Evolução da Dermatoscopia

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7
,
CAPITULO 3 Princípios Básicos da
Dermatoscopia

• PRINCÍPIOS DE FÍSICA A cor da melanina dependerá da sua quanti-


ÓPTICA CUTÂNEA dade ou densidade e de seu nível de localização,
Propagação, reflexão e refração são fenômenos indo do negro quando na camada córnea, passando
ou propriedades associadas à luz. por tonalidades de castanho nas camadas mais in-
O!rando um raio luminoso incide sobre uma su- feriores da epiderme até o azul ou cinza-azulado
perfície lisa ou polida, o ângulo de reflexão será igual na derme (Fig. 3.2). Esta mudança de coloração
ao de incidência. Em uma superfície irregular, não
muito lisa, o feixe refletido irá espalhar-se em várias
direções, ocorrendo difusão ou reflexão difusa.
Ao atravessar meios de densidades diferentes,
uma parcela da luz sofre reflexão, enquanto a outra
sofre refração (modificação da forma ou da direção
de uma onda, que, passando através de uma inter-
face que separa 2 meios, tem, em cada um deles,
velocidades diferentes de propagação). 1
Ao incidir sobre a pele, a luz é refletida em
várias direções pelas ondulações e disposição das
células do estrato córneo, ocorrendo dispersão e
pouca penetração. O!ranto maior a irregularidade
da superfície da pele, maior a reflexão da luz, com
alternâncias de sombreamento e, portanto, maior a
Fig. 3 .1 D A. Representação esquemática da reflexão
distorção da imagem obtida.2
da luz sobre a camada córnea . B. Penetração da luz
Utilizando-se simplesmente uma placa de vi- através da camada córnea com utilização do líquido de
dro em contato direto com a superfície da pele, a interface.
reflexão diminui e pode-se obter uma imagem
melhor, que se tornará mais nítida aplicando-se
um fluido na interface que umedeça as lamelas da
camada córnea e, ao mesmo tempo, ocupe os es-
paços ou pequenas reentrâncias, conferindo maior
uniformidade ao meio. 3•4 Dessa forma, tornando-se
translúcida a camada córnea, a distância focal do
instrumento estará localizada no interior da epi-
derme, sendo possível observar estruturas localiza- Fig . 3.2 D Representação esquemática das cores do
das até na derme superior ou papilar (Fig. 3.1). pigmento melânico nas diversas camadas da pele .
Princípios Básicos da Dermatoscopia

deve-se ao fato de que os 7 comprimentos de onda


que constituem as cores componentes da luz branca
possuem velocidades de propagação diferente . Os
maiore comprimentos de onda, mais próximos do
vermelho, propagam-se com menor velocidade e
po suem menor capacidade de penetração, enquan-
to os menores comprimentos de onda, na faixa do
azul ao violeta, penetram mai profundamente. 1•4•5
A epiderme clara, normal, com pouca quantida-
de de melanina, possui coloração amarelo-clara à
dermatoscopia, sendo que a tonalidade aumenta
em caso de acantose e hipercerato e, em direção
ao castanho ou ao marrom. O vermelho pode ser Fig. 3 .3 D Oermatoscópio de luz halógena (Episcópio-
Welch
encontrado de forma difusa por vasodilatação (eri-
tema) ou hemorragia (o sangue extravasado pode
ser vermelho ou vermelho-escuro, e os coágulos, contato e uma lâmpada de iluminação halógena, si-
vermelho-escuros ou pretos). tuada em ângulo de 20° para minimizar a reflexão
É importante definirmos os conceitos de luz da luz, alimentada por baterias ou sistema recarre-
halógena e polarizada. A luz halógena é gerada gável, localizados no cabo (Fi.g. 3.3).
por lâmpadas incandescentes, que contêm em seu Exi tem aparelhos dermatoscópicos que emi-
interior, além dos átomos de tungstênio das lâm- tem luz polarizada através de LEDs para a obten-
padas comuns, um gás do grupo halógeno. Esses ção de imagens. Esses instrumentos têm a vanta-
gases causam uma reação cíclica, fazendo com que gem, com relação ao dermatoscópios convencio-
o tungstênio consumido se deposite novamente no nais, de dispensar o contato direto com a pele, não
filamento da lâmpada. havendo necessidade do uso de fluido de interface.
A luz polarizada, porém, é uma radiação ele- Isso facilita a dermatoscopia de áreas como mucosa
tromagnética que se propaga em apenas um plano. oral ou bordas das pálpebras. Porém, es es apare-
Pode ser obtida se um feixe de luz comum atra- lho ainda apresentam um custo superior aos que
vessar um objeto polarizador. Ao contrário da luz utilizam luz halógena. Devemos também ressaltar
comum, a luz polarizada propaga-se em apenas um que a maioria dos algoritmos dermatoscópico foi
plano e não se reflete em todas as direções. desenvolvida através de análises de imagens obtidas
pelos dermatoscópios de luz halógena. As imagens
dos dermatoscópios de luz polarizada podem apre-
• EQUIPAMENTOS sentar alguma diferença na visualização de cores,
Aparelhos ópticos convencionais estrutura e padrões dermatoscópicos quando com-
Dermatoscópio manual paradas com as dos instrumentos de luz halógena
Trata-se de um instrumento leve, portátil e de (Fig. 3.4A e B).
fácil manuseio, que oferece o aumento padrão de Em 2007, Benvenuto-Andrade e colaboradores
lOx, existindo atualmente vários modelos, de di- apresentaram um estudo no qual 90 pacientes com
ferentes marcas. Os modelos tradicionais, do tipo le ões cutâneas foram avaliados e suas imagens ob-
Heine Dermato cope Delta 10 e epi cópio Welch tidas por meio de 3 modelos de dermato cópio: de
Allyn, são semelhantes a um otoscópio, constituí- luz halógena, de luz polarizada de contato e de luz
dos por cabeça e cabo. A cabeça pos ui a lente de polarizada sem contato. As imagens foram analisa-

10
Princíp ios Básicos da Dermatoscopia

Fig . 3 .5 o Videodermatoscópio .

Alguns aparelhos podem ainda oferecer programas


de auxílio diagnóstico mediante processamento de
, Fig . 3.4 o Dermatoscópio de luz polarizada (Dermlite imagem com análise gráfica. 8
11 PROHR 3Gen(!)). Os aumentos obtidos podem chegar a 40x ou
mais, entretanto, a resolução de cerca de 640 x 480
das por 3 dermatologistas com experiência em der- pixels, em geral, é inferior àquela do dermatoscópio
matoscopia, que constataram moderada a excelente digital. Embora aumentos maiores que 30x pos-
concordância na análise de cores, com exceção do sam impressionar os que se iniciam na prática da
véu azul-esbranquiçado e da cor vermelha. Na aná- dermatoscopia, situam-se fora dos padrões em que
lise dos padrões dermatoscópicos, a concordância foi a maioria dos trabalhos científicos foi e tem sido
excelente e a avaliação das estruturas dermatoscópi- desenvolvida (Fig. 3.5).
cas apresentou concordância variando de regular a Sua utilização é de grande valia em ambientes
excelente, com exceção dos pseudocistos.6 acadêmicos, em que vários examinadores podem
Os diferentes tipos de dermatoscópios apre- observar a mesma lesão simultaneamente.
sentam características que se complementam na
análise das lesões cutâneas. Mais estudos são ne- Dermatoscopia digital
cessários para melhor avaliação do impacto dessas Fundamentos - a imagem digital
diferenças nos diagnósticos dermatológicos.
O desenvolvimento da dermatoscopia acar-
retou um aumento cada vez maior de informações
Videodermatoscópio que devem ser incorporadas ao conhecimento clíni-
É um instrumento constituído basicamente de co, tendo o objetivo de chegar-se ao diagnóstico. A
uma microcâmera montada em um dispositivo ma- necessidade de armazenar as imagens de forma que
nual ligada por um cabo flexível a um sistema de ví- pudessem ser comparadas e analisadas encontrou no
deo, podendo-se arquivar ou imprimir as imagens. desenvolvimento da informática o caminho ideal.

11
Princíp ios Básicos da Dermatoscopia

Em 1987, Cascinelli et ai. publicaram, pela pri- ou monitoramento das lesões a intervalos regula-
meira vez, os resultados de um estudo com imagem res, com grande precisão. Torna-se necessário, en-
digital para o diagnóstico do melanoma. Os pionei- tretanto, que o aparelho seja adequadamente cali-
ros da dermatoscopia digital iniciaram utilizando brado, de forma que as cores não sofram alterações
uma máquina fotográfica conectada a uma objetiva ocasionadas por diferenças às vezes discretas de
macro com flash circular, captando as imagens em iluminação ou temperatura, não compensadas pelo
filme diapositivo, escaneado com uma câmera de computador. Esses ajustes, ou procedimentos de
televisão em cores e depois digitalizado, obtendo, calibragem, consistem em um balanceamento entre
dessa forma, uma resolução aproximada de 34 p i- o preto, o branco e o sombreamento, para os quais
xelslmm (512 x 640 pixefs).9- 11 alguns aparelhos utilizam um cartão de cores.4 •7
Atualmente, as câmeras digitais consistem em
um corpo semelhante ao de uma máquina foto- Documentação fotográfica
gráfica convencional, com um conjunto de lentes
Atualmente, as máquinas digitais estão cada vez
e um dispositivo denominado CCD (charge cou-
mais acessíveis, existindo várias opções, sendo que a
pled device), que ocupa o lugar do filme. O CCD
partir de 2 megapixefs as imagens certamente terão
é um chip de silicone constituído por numerosos
resolução mais que satisfatória. Entretanto, essas
elementos individuais ou pixefs que reagem à luz
máquinas digitais convencionais necessitam de um
como os grãos de um filme tradicional. Em vez de
adaptador para captar a imagem dermatoscópica, e
uma reação química, esses elementos, uma vezes-
a dificuldade pode existir no fato de que nem sem-
timulados pela luz, emitem impulsos elétricos que
pre pode-se saber o aumento exato no qual se está
são enviados ao circuito computadorizado da câ-
trabalhando com alguns adaptadores. Dessa forma,
mera e traduzidos em dados binários. A qualidade
ao obter-se a fotografia, esse aumento não estará
da imagem obtida por determinada câmera digital
padronizado, ficando na dependência do zoam da
é, então, diretamente relacionada com a quantidade
câmera, o que poderá interferir na interpretação
de elementos sensíveis à luz (pixefs) que ela possui,
dos achados dermatoscópicos principalmente para
o que se chama resolução.
aqueles menos experientes (Fig. 3.6).
Um filme diapositivo colorido de 35 mm
As fotografias para documentação dermatos-
normal possui uma quantidade de grãos que cor-
cópica também podem ser efetuadas utilizando-se
responde aproximadamente a uma densidade de
2.500 linhas por polegada ou 4.096 x 2.736 pixefs
por imagem emoldurada (11.206.656 pixefs). Esta
é uma resolução altíssima, considerando-se que o
mínimo necessário para que o olho humano reco-
nheça detalhes relevantes de uma imagem seria de
cerca de 768 x 512 pixefs (393 .216 pixefs). O!Ian-
to maior a quantidade ou a densidade de pixels de
uma imagem, maior espaço ela ocupará no sistema
de armazenamento de dados do "computador. Con-
sidera-se que uma câmera com resolução igual ou
superior a 1.024 x 768 pixefs (786.432) possa pro-
porcionar uma imagem de qualidade satisfatória. 12
O sistema digital permite o armazenamento Fig . 3 .6 O Máquina fotográfica digital Sony Cybershot
das imagens com a possibilidade de comparação acoplada ao dermatoscópio de luz polarizada .

12
Princípios Básicos da Dermatoscopia

departamento de dermatologia da Universidade de


Graz, Áustria. A concordância de diagnóstico foi
de 90% (60 de 66 casos). O número de telediagnós-
ticos corretos foi menor do que dos diagnósticos
clínicos diretos, mas a diferença não foi estatistica-
mente significativa. A eficiência dos telediagnósti-
cos não foi diretamente relacionada com a qualida-
de das imagens, mas com o nível de dificuldade de
diagnóstico.
Em 2003, Argenziano e colaboradores de-
Fig . 3 . 7 D Dermaphoto- Heine.
senvolveram um estudo via internet para avaliar a
reprodutibilidade e a validade dos algoritmos der-
o sistema Dermaphoto (Heine) (Fig. 3.7) acoplado
matoscópicos. Foram avaliadas 108 imagens dele-
a uma câmera convencional e filme colorido para
sões dermatoscópicas por 40 dermatologistas com
diapositivo ou papel. Este conjunto, associado ao
dermatoscópio manual, modelos Heine ou Welch experiência em dermatoscopia. Os observadores
Allyn, constitui ainda hoje uma opção econômica e apresentaram grande concordância no diagnóstico
eficiente, exigindo apenas organização no arquiva- das lesões, porém a análise dos critérios dermatos-
mento das fotografias que, em papel ou diapositivos, cópicos revelou significativa divergência. 16
poderão ser digitalizadas a posteriori. O aumento Esses estudos revelam que a teledermatolo-
obtido com o sistema Dermaphoto é o mesmo do gia e a teledermatoscopia podem atingir eficiência
dermatoscópio manual convencional, de 10x. semelhante à de um exame clínico direto quando
efetuadas por dermatologistas com experiência em
dermatoscopia.
Teledermatoscopia
Os primeiros trabalhos de telemedicina em der-
matologia foram efetuados por Perednia e Brown, Metodologia semiótica
em 1995. Kvedar et ai. relataram, em 1997, que Exame dermatoscópico
imagens digitais poderiam substituir o exame físico O exame dermatoscópico deve ser realizado
dermatológico em cerca de 83% dos casos. 13 com calma, estando o paciente e o examinador em
Em 1998, Provost e colaboradores relataram posição adequada e confortável. Ressaltamos que
que havia uma elevada concordância clínica e der- ele deve ser sempre realizado após o exame clínico
matoscópica no diagnóstico de nevos melanocíti- e não durante, por ser um ato complementar.
cos e melanomas incipientes entre 4 examinadores A não ser que o dermatoscópio utilizado seja
que avaliaram imagens digitalizadas e transmitidas com luz polarizada, haverá a necessidade de utilizar
em arquivos de compressão. 14 fluido na interface, que poderá ser óleo de derma-
Piccolo e colaboradores realizaram um traba- toscopia, óleo mineral, óleo de oliva, glicerina, gel
lho em 1997 15 no qual 66 lesões pigmentadas fo- de ultrassonografia ou de eletrocardiografia, ou ain-
ram examinadas clinicamente em L'Aquila, Itália, da gel desinfetante (álcool-gel).
sendo as imagens clínicas e dermatoscópicas cap- Não deve ser utilizado o óleo de imersão roti-
turadas em uma câmera de alta resolução (768 x neiramente utilizado em microscopia, devido à sua
576 pixels), convertidas em um arquivo de formato toxicidade em potencial ao ser humano, por con-
Joint Photographic Expert Group (JPEG) e envia- ter compostos como a parafina clorada e o dibutil
das via correio eletrônico (e-mail) para avaliação no ftalato Y

13
Princípios Básicos da Dermatoscopia

Damos preferência ao óleo mineral ou gel de- salentes para que possam ser colocadas em solu-
sinfetante (álcool-gel). O último pode ser de espe- ções desinfetantes.
cial utilidade, devido à sua consistência, podendo Lesões manipuladas pelo paciente ou infecta-
preencher pequenos espaços e reentrâncias das le- das secundariamente devem ser tratadas e limpas,
sões, uniformizando o meio, evitando, assim, que para que possam ser submetidas a um segundo exa-
tenhamos que comprimir demasiadamente a lesão me clínico e dermatoscópico, sem a interferência
(como no caso do óleo), alterando sua coloração, desses fatores (Fig. 3.10).
pela vitrocompressão, o que dificultaria a obser-
vação de estruturas vasculares (Fig. 3.8) . Deve-se
evitar a compressão exagerada da lesão com o apa-
relho, pois, além do motivo supracitado, torna o
exame mais desconfortável para o paciente.
Diante de lesões exsulceradas, ulceradas ou
exsudativas, após limpeza suave e umidificação
com soro fisiológico, podemos cobri-la com pelí-
cula de PVC, para evitar a contaminação da len-
te do dermatoscópio (Fig. 3. 9), recurso que pode
ser utilizado no exame das lesões genitais, quando
podemos ainda envolver a cabeça do dermatos-
cópio com a película, de forma a evitar possíveis
dobras. Em ambos os casos, óleo mineral ou gel
podem também ser utilizados, como nas lesões ul-
ceradas, entre a lente e a película, para melhorar a
transparência e evitar dobras ao movimentar-se o
aparelho. Devem-se utilizar sempre lentes sobres-

Fig. 3.8 O A. Lesão névica globosa, de coloração cas- Fig . 3 .9 o A. Lesão exulcerada no dorso do nariz. B.
tanha. no sulco nasolabial direito . B. Exame dermatos- Colocação do filme de PVC após limpeza com soro fi-
cópico da mesma lesão com álcool-gel na interface pre- siológico . C. Exame dermatoscópico evidenciando te-
enchendo os espaços, mantendo-se a nitidez dos vasos langiectasias e ninhos ovoides característicos do carci-
capilares sem excessiva compressão da lesão (10x). noma basocelular (10x).

14
Princípios Básicos da Dermatoscopia

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,
CAPITULO 4 Correlação
Clinicodermatoscópica e
Histopatológica

A histopatologia convencional (exame micros-


cópico de cortes histológicos corados pelo
método da hematoxilina-eosina) fornece critérios
servação na histopatologia é paralelo à superfície
cutânea, enquanto na dermatoscopia, à semelhança
do exame clinicodermatológico, o ângulo de obser-
bem definidos para o diagnóstico das lesões pig- vação é perpendicular à superfície da pele. Dessa
mentadas da pele, melanocíticas ou não melanocí- forma, o dermatopatologista não pode ver ao mi-
ticas. Por isso, é um bom método para correlacio- croscópio óptico a extensão horizontal da lesão, que
nar os achados da dermatoscopia (microscopia de é evidente no exame dermatoscópico, pois o cam-
superfície in vivo), que podem ser mais facilmente po microscópico é necessariamente segmentar. Por
padronizados ao se conseguir um melhor entendi- esse motivo, potencialmente, o melanoma pode não
mento de sua correspondência histopatológica. Em ser diagnosticado histopatologicamente se a cliva-
contrapartida, a validade do diagnóstico histopato- gem não for representativa e não houver indicação
lógico, especialmente em casos de difícil avaliação, da suspeita clínica, uma vez que áreas periféricas de
pode ser comprovada quando a imagem dermatos- alguns melanomas, principalmente lesões iniciais,
cópica da lesão for analisada em conjunto com o podem apresentar apenas alterações sugestivas de
quadro histopatológico, buscando-se a correspon- nevos melanocíticos de padrão lentiginoso, tipo
dência entre cada estrutura dermatoscópica obser- nevos de Clark. 1 Padrões dermatoscópicos especí-
vada e o seu paralelo histopatológico. 1 A precisão ficos podem, então, ser úteis na indicação de áreas
do diagnóstico microscópico pode ser significativa- de maior suspeição e que consequentemente devem
mente aumentada pela correlação clinicopatológica obrigatoriamente ser analisadas histopatologica-
e dermatoscópica; com a tecnologia atual da foto- mente (Fig. 4.1). 5
grafia digital e da "rede" (internet) é possível fazer Outra diferença importante é que, enquanto
em pouco tempo e com baixo custo a transferência a histopatologia define aspectos citológicos (pleo-
de imagens entre dermatologistas e dermatopato- morfismo nuclear, anaplasia, nucléolos, mitoses) e
logistas plenamente adequada para esse fim. 2•3 É de distribuição/organização dos grupamentos celu-
consenso que em lesões melanocíticas com altera- lares proliferados, com a presença de pigmento sen-
ções histopatológicas controversas, lesões conside- do detectada de maneira ancilar, a dermatoscopia
radas de diagnóstico difícil, haverá uma previsível vai evidenciar predominantemente os grupamentos
discrepância diagnóstica entre dermatoscopistas celulares mais pigmentados (por conterem melani-
experientes e vice-versa. A presença de estruturas na ou hemoglobina) e suas variações de cor e tona-
de regressão bem definidas na dermatoscopia tam- lidade (preto, marrom-escuro, marrom-claro, azul,
bém é considerada preditiva de dificuldades histo- cinza, branco, vermelho), dependendo da quanti-
patológicas. 4 dade de pigmento e de sua profundidade na pele. Por
A principal diferença/dificuldade nessa cor- fim, enquanto a histopatologia permite observar os
relação/correspondência é que o ângulo de ob- grupamentos celulares proliferados na epiderme, na

17
Correlação Clinicodermatoscópica e Histopatológ ica

Fig. 4 .1 O Áreas de maior suspeição e que consequentemente devem obrigatoriamente ser analisadas histopa-
tologicamente podem ser assinaladas na dermatoscopia e marcadas na peça cirúrgica com "micropunch" +-)
(melanoma, nívellll) .

derme e também na hipoderme, a dermatoscopia mos, então, à dermatoscopia correspondente, um


somente permite a definição daqueles localizados padrão de múltiplos componentes (Fig. 4.2) (Ta-
até a porção superior da derme reticular. bela 4.1), ou seja, diversas estruturas presentes na
Como mencionamos, a pigmentação obser- área da neoplasia, aspecto muito valorizado para o
vada à dermatoscopia decorre primariamente da diagnóstico das lesões melanocíticas malignas. Ao
melanina e da hemoglobina da rede vascular. Esta contrário, uma única cor ou um aspecto estrutural
é vista como vermelho no eritema difuso, nas te- monomórfico raramente, ou praticamente nunca,
langiectasias e nas lacunas dos hemangiomas, em ocorre no melanoma.
que também pode mostrar-se vermelho-azulada. A A rede pigmentar, estrutura dermatoscópica
tonalidade da melanina observada à dermatoscopia que é muito tênue e quase imperceptível na pele
depende de sua profundidade na pele. Na camada normal, aparece nitidamente nas lesões melanocí-
córnea, aparece preta; na junção dermoepidérmica, ticas, devido à superposição do pigmento melâni-
mostra-se marrom; e na derme é vista como cin- co contido nas células melanocíticas, que tendem
za ou azul (Figs. 3.2 e 5.1). Essa melanina é evi- a agrupar-se nos cones interpapílares nesses casos,
denciada na histopatologia em melanócitos e seus e torna-se atípica ou alargada nas lesões malignas,
derivados {células melanocíticas névicas e células devido ao exagerado número de células pigmenta-
do melanoma), em ceratinócitos da epiderme, em das anaplásicas que ocupam os cones interpapíla-
macrófagos da derme (melanófagos) ou sequestra- res e mesmo as papilas dérmicas nessas situações
da em células de alguns tumores, como o carcinoma (Figs. 4.3 e 4.4) . A proliferação celular maligna é
basocelular, e na ceratose seborreica. irregular e assimétrica, ao contrário da distribuição
A histopatologia demonstra que, em campos simétrica e uniforme/homogênea do crescimento
micro cópicos próximos, podem existir grupamen- celular benigno, a pectos que vão ser percebidos
tos celulares e padrões de resposta inflamatória di- igualmente à óptica perpendicular (dermatoscopia)
ver os, principalmente nas lesões com maior índice e à horizontal (histopatologia). O aspecto da trama
de proliferação celular ou com maior agres ividade da rede pigmentar é determinado, portanto, pelo
biológica, como acontece nos melanomas, e tere- tamanho e pela configuração dos cones interpapíla-

18
Correlação C li n icodermatoscópica e Histopatológica

Fig. 4.2 o Padrão de múltiplos componentes- campos microscópicos próximos revelam padrões de proliferação
celular muito diferentes. A- extensa ocupação da derme por células de melanoma ; 8 - resposta inflamatória e
hiperplasia vascular sugestiva de fenômeno de regressão parcial (melanoma , nível IV).

Fig. 4.3 O Rede pigmentar- proliferação de células melanocíticas pigmentadas na face lateral de cones interpa-
pilares alongados, mais acentuada no centro da lesão e com diminuição progressiva na periferia ("esmaecimento ")
(lentigo simples) .

res, tornando-se evidente na hiperplasia lentiginosa ção de células pigmentadas adjacentes, sejam elas
(alongamento dos cones interpapilares) associada à melanócitos ou ceratinócitos. Trata-se de padrão
hiperpigmentação da camada basal da epiderme. 6•7 inespecífico que será observado com frequência
O padrão denominado pseudorrede é ob- nessa região anatômica em ceratoses seborreicas,
servado em diversas lesões pigmentadas na face e ceratoses actínicas pigmentadas (Fig. 4.5), lentigos
corresponde, à histopatologia, a óstios de estruturas solares, melanomas in situ e ceratoses benignas li-
anexiais, em especial folículos pilosos e glândulas quenoides. 6
sudoríparas, muito próximos uns dos outros, con- No nevo de Spitz pigmentado, os cones inter-
tendo ceratina, não comprometidos pela prolifera- papilares muito alongados e ocupados por células

19
Correlação Cl in icodermatoscóp ica e H istopato lógica

Tabela 4.1 o Correspondência histopatológica das estruturas dermatoscópicas

Estrutura . . I Definição I Correspondência histopatológica


dermatoscop1ca
Padrão com Diversas estruturas presentes Grupamentos celulares e padrões de resposta
multicomponentes lado a lado inflamatória diversos

Rede pigmentar Rede de linhas marrons Cones interpapilares pigmentados


delimitando furos mais claros
Pseudorrede Furos da rede alargados e Óstios anexiais hiperceratóticos em epiderme
pigmentar levemente amarelados sobre retificada
pigmentação difusa
Rede negativa Trama da rede mais clara em Cones interpapilares alongados, pouco
comparação com os orifícios da pigmentados, e papilas dérmicas ocupadas por
rede células muito pigmentadas
Área amorfa J Pigmentação que impede o Melanina em vários níveis da epiderme e/ ou
(pigmentação difusa) reconhecimento de outras da derme
estruturas
Áreas hipopigmentadas Áreas de pigmentação mais clara Melanina , focalmente , em menor quantidade

Área azul homogênea Área de pigmentação azulada de Densa proliferação intradérmica de células
aspecto homogêneo melanocíticas fusiformes intensamente
pigmentadas
Pontos e glóbulos Estruturas esféricas, ovais ou Coleções de melanina no estrato córneo;
redondas , de tamanho variável ninhos de melanócitos pigmentados na junção
dermoepidérmica e/ ou na derme papilar; ou
agrupados de melanófagos na derme papilar
Estrias radiadas Estrias pretas/marrons em Proliferação de células pigmentadas dispostas
disposição radial na borda da radialmente na junção dermoepidérmica/
lesão derme papilar

Pseudópodes Projeções bulbosas diretamente Ninhos de células pigmentadas dispostos


conectadas ao corpo da lesão ou radialmente na junção dermoepidérmica/
à rede pigmentar derme papilar
Véu azul-esbranquiçado Pigmentação difusa Ortoceratose compacta e hipergranulose sobre
azul-esbranquiçada área de grande conteúdo de melanina
Placa branca central Área branca , redonda ou oval , no Área de hiperceratose, retificação da epiderme e
centro de lesão pigmentada ausência de pigmento melãnico na camada basal
Estruturas de regressão Zonas de tonalidade cinza e/ou Fibrose e melanócitos ou melanófagos na
(áreas azul-acinzentadas azul e áreas despigmentadas, derme papilar alargada ou na derme reticular
e áreas brancas) brancas ou rosa-pálidas superior
Pseudocistos córneos Áreas esféricas Globos córneos intraepidérmicos sem
e pseudocomedões amarelo-esbranquiçadas ou conexão com a superfície (pseudocistos)
castanho-escuras ou com abertura na superfície epidérmica
(pseudocomedões)
Estruturas papilares Prolongamentos globosos Acantose e papilomatose, ou projeções
exofíticas separados por criptas digitiformes da derme papilar
irregulares
Estruturas "em folha", I Áreas ou escuras Massas de células basaloides pigmentadas
áreas rad1adas , mnhos com ramificações ou brotamentos
ovo ides
(continua}

20
Correlação C li n icodermatoscópica e H istopatológ ica

Tabela 4 .1 D Correspondência histopatológica das estruturas dermatoscópicas (Continuação)

Estrutura I Definição I Correspondência histopatológica


dermatoscópica

Estruturas romboidais Obliteração de aberturas Proliferação de células melanocíticas com


foliculares numerosas e próximas discreta atipia na epiderme e no infundíbulo
entre si (na face) folicular

Padrão anular-granular Múltiplos grânulos acinzentados Acúmulo de células (melanocíticas ou não),


ocupando os espaços entre as contendo pigmento melânico ao redor de
aberturas foliculares aberturas foliculares na face , sem obstruí-las

Lagos Áreas bem definidas Espaços vasculares dilatados na derme


azul-avermelhados azul-avermelhadas superior
Padrão vascular Estruturas vermelhas globulares, Capilares neoformados, ectasiados
puntiformes ou lineares

Fig. 4 .4 D Rede pigmentar irregular- proliferação de células melanocíticas pigmentadas dispostas em ninhos de
tamanhos e formas variados , ocasionando espessamento irregular dos cones interpapilares, com zonas de fusão
entre eles (nevo de Clark) .

Fig. 4.5 D Pseudorrede- observada em diversas lesões pigmentadas na face , corresponde na histopatologia a
óstios de estruturas anexiais, em especial folículos pilosos e glândulas sudoríparas, muito próximos uns dos ou-
tros, contendo ceratina, não comprometidos pela proliferação de células pigmentadas, neste caso ceratinócitos
atípicos (ceratose actínica pigmentada] .

21
Correlação Clinicodermatoscópica e Histopatológica

com pouca densidade de pigmento vão produzir A hiperpigmentação superposta de muitas cé-
uma imagem negativa da rede pigmentar, com lulas (melanócitos, ceratinócitos, células névicas,
áreas mais claras na trama da rede, em comparação células de melanoma ou melanófagos) em todos os
com os orifícios da rede que aparecem mais escu- níveis da epiderme ou da derme superior ocasiona-
ros devido à presença dos ninhos intradérmicos de rá uma pigmentação difusa regular ou irregular, que
células de aspecto epitelioide e/ou fusiforme con- aparecerá como área amorfa, ou seja, em definição
tendo pigmento melânico (Fig. 4.6). Contudo, por estrutural, à dermatoscopia. O aspecto de fundo
outros mecanismos, esse mesmo padrão pode ser pigmentado uniforme, comum a efélides e lentigos
observado em melanomas e nevos de Clark, e por- solares, resulta da hiperpigmentação da camada
tanto não tem valor diagnóstico se analisado isola- basal da epiderme, sem alongamento (efélides) ou
damente. com alongamento dos cones interpapilares (lenti-
Os nevos displásicos foram inicialmente des- go solar), neste caso resultando em rede pigmentar
critos por Wallace Clark no contexto da síndrome associada, interrompida e periférica, corresponden-
do nevo displásico familiar; posteriormente, foi te à formação de pequenos brotamentos epiteliais
proposto que lesões semelhantes que ocorrem fora irregulares e hiperpigmentados na camada basal
da síndrome fossem denominadas nevos atípicos. da epiderme, por proliferação predominante de
Mais recentemente, Bernard Ackerman e colabo- ceratinócitos, com número variável de melanócitos
radores propuseram uma nomenclatura eponími- (Fig. 4.7). Áreas de hipopigmentação obviamente
ca para essas lesões, justificada por uma boa cor- correspondem a um foco de menor concentração
relação clinicopatológica. 8 Foi a que escolhemos de pigmento melânico, em comparação com a pele
adotar neste trabalho e, por isso, os nevos ditos ou lesão adjacente.
displásicos serão aqui referidos como nevos de A área azul homogênea, imagem dermatoscópi-
Clark, ao lado dos nevos de Unna (nevos papilo- ca característica do nevo azul, é constituída por densa
matosos) e dos nevos de Miescher (lesões papulo- proliferação intradérrnica de células melanodticas fu-
sas, frequentes na face). siformes intensamente pigmentadas (Fig. 4.8).

'

Fig . 4 .6 o Rede pigmentar negativa- porção central com áreas mais claras na trama da rede em comparação
com os orifícios da rede que aparecem mais escuros devido à presença dos ninhos intradérmicos de células de
aspecto epitelioide e/ou fusiforme contendo pigmento melânico (nevo de Spitz pigmentado) .

22
Correlação Clinicodermatoscópica e Histopatológica

Fig. 4. 7 D Área amorfa e rede pigmentar focal e irregular associada - hiperpigmentação da camada basal de epider-
me muito delgada com alongamento dos cones interpapilares, resultando em rede pigmentar associada, interrompi-
da, periférica, correspondente à formação de pequenos brotamentos epiteliais irregulares e hiperpigmentados, por
proliferação predominante de ceratinócitos, com número variável de melanócitos. Na dermatoscopia, esse aspecto é
observado apenas na periferia da lesão, já que na porção central predominam áreas amorfas (lentigo solar).

Fig. 4.8 O Área azul homogênea- densa proliferação intradérmica de células melanocíticas fusiformes intensa-
mente pigmentadas (nevo azul) .

Os pontos e glóbulos, que diferem apenas malignas estão presentes no centro, mas, também, e
quanto ao tamanho, representam grupamentos bem muito nitidamente, na periferia, ou ainda em distri-
definidos de células que contêm grande quantidade buição totalmente irregular (Fig. 4.10), indicando o
de pigmento (melanócitos ou melanófagos) na ca- crescimento expansivo da lesão e contribuindo para
mada córnea, no estrato de Malpighi, na junção o aspecto de transição abrupta para a pele normal
dermoepidérmica ou na derme papilar, ou ainda (borda abrupta). A coloração dos pontos e glóbu-
grumos de melanina no estrato córneo. Nas lesões los varia de acordo com sua profundidade. Qyando
benignas (Fig. 4.9), tendem a ser mais proeminen- situados na camada córnea, apresentam coloração
tes na porção central, enquanto na proliferações enegrecida e, quando localizados na interface der-

23
Correlação Clinicodermatoscóp ica e H istopatológica

Fig. 4.9 o Pontos e glóbulos- coleções de células melanocíticas pigmentadas dispostas em ninhos de tamanhos
e formas variados na junção dermoepidérmica (nevo melanocítico juncional) .

Fig. 4.1 O O Pontos e glóbulos em distribuição irregular sobre área amorfa também irregular - ninhos de células
melanocíticas de tamanho e forma heterogêneos, ocupando em alguns pontos toda a espessura da epiderme
(melanoma , tipo de disseminação superficial).

me da papilar com a reticular, são cinza-azulados; los à superfície cutânea (Fig. 4.12) . Em geral, estão
no espaço intermediário, assumem diferentes to- presentes em melanomas de nível li. Estrias/pseu-
nalidades acastanhadas. Os glóbulos vermelhos dópodes periféricos com distribuição relativamente
leito os corresponderiam a ninhos de melanócitos uniforme em toda a circunferência da lesão (padrão
desprovidos de pigmento, localizados na derme ao em "explosão de estrelas") caracterizam o nevo de
lado de neoproliferação vascular (é critério sutil, Reed, lesão com alto índice de proliferação de célu-
dito específico para melanomas, porém presente las melanocíticas em crescimento radial expansivo,
apenas ocasionalmente) (Fig. 4.11). 9 organizadas em ninhos alongados muito pigmen-
As estrias radiadas e os pseudópodes, que tados, predominando na periferia (Fig. 4.13). As
possuem características dermatoscópicas diferentes estrias também são vistas à microscopia confocal
e são, portanto, consideradas estruturas distintas, in vivo como agregados confluentes de células bri-
correspondem à histopatologia a um aspecto único lhantes e mal definidas envolvendo as papilas dér-
- ninhos alongados de células melanocíticas, apre- micas, sem contudo permitir a diferenciação entre
sentando predomínio do seu eixo horizontal sobre as estrias de um melanoma e as de um nevo mela-
o vertical, ocupando a junção dermoepidérmica e nocítico. 10
projetando-se de um cone interpapilar para outro A hiperceratose pode ocorrer como fenômeno
sobre o espaço papilar, formando túbulos parale- secundário tanto em lesões benignas como malig-

24
Correlação Clinicodermatoscópica e Histopatológica

Fig. 4 .11 D Glóbulos vermelho-leitosos na periferia de melanona nodular Clark IV. Breslow 1,5 mm .

Fig. 4 .12 D Estrias periféricas - proliferação de células melanocíticas pigmentadas dispostas de forma confluen-
te , em arranjo tubular. conectando vários cones interpapilares na periferia da lesão (melanoma in situ] .

Fig. 4 .13 o Estrias e pseudópodos periféricos regulares - ninhos proeminentes de células melanocíticas hiper-
pigmentadas predominando na periferia da lesão e indicando crescimento radial expansivo (nevo de Reed) .

25
Correlação Clinicodermatoscópica e Histopatológica

nas, e o aumento de ceratina sobre a lesão vai con- uma zona periférica de acantose com alongamento
ferir-lhe uma tonalidade branca ou amarelo-pálida e hiperpigmentação dos cones interpapilares (rede
quando observada ao dermatoscópio. O véu azul- periférica), ob ervada em muitos dermatofibromas
-esbranquiçado representa uma epiderme acantó- (Fig. 4.15).
tica com ortoceratose compacta e hipergranulose Os critérios histológicos sugestivos de re-
variável recobrindo uma área de grande conteúdo gressão nas lesões melanocíticas são a presença
de melanina na derme superior (p. ex., ninhos con- de fibrose e de acúmulos focais de melanófagos
fluentes de melanócitos pigmentados) (Fig. 4.14) na derme papilar. A primeira vai aparecer branca
e, à microscopia confocal, nota-se desorganização à dermatoscopia, e a segunda, azul. A combina-
das papilas dérmicas com presença de células bri- ção das 2 vai representar áreas azul-acinzentadas,
lhantes correspondendo a melanófagos. 11 Já a placa pontos cinza-azulados múltiplos (peppering) ou
branca central corresponde a uma área central de simplesmente estruturas de regressão (Figs. 4.16
hiperceratose e retificação da epiderme, com au- e 4.17). Essas imagens, contudo, não são exclusivas
sência de pigmento melânico, em contraste com de melanomas, uma vez que reação inflamatória

Fig . 4 .14 O Véu azul-esbranquiçado (porção central) - epiderme acantótica com ortoceratose e paraceratose
recobrindo uma área de proliferação confluente de melanócitos pigmentados na epiderme e na derme superior
(melanoma. tipo de disseminação superficial. nível li) .

Fig . 4 .15 O Placa branca central- área de hiperceratose , retificação da epiderme e ausência de pigmento me-
lânico na camada basal, contrastando com a periferia onde se observa hiperpigmentação com alongamento dos
cones interpapilares (rede periférica) (dermatofibroma).

26
Correlação Clinicodermatoscópica e Histopatológica

Fig. 4.16 D Estruturas de regressão- área branca ocupando parte de lesão pigmentada de coloração heterogê-
nea e assimétrica que na histopatologia corresponde à zona de transição da proliferação m elanocítica atípica (à
esquerda na foto) para a área predominantemente inflamatória com melanófagos no infiltrado dérmico (melanoma
com área de aspecto histopatológico sugestivo de fenômeno de regressão parcial) .

Fig. 4.17 D Pontos cinza-azulados múltiplos (peppering) - correspondendo a numerosos acúmulos focais de
melanófagos na derme superior em área desprovida de proliferação melanocítica significativa . Neste campo mi-
croscópico notam-se também ninhos esparsos de células de melanoma na junção dermoepidérmica (mel anoma
com área de aspecto histopatológico sugestivo de fenômeno de regressão parcial) .

densa na derme papilar com melanófagos de per- são variantes do mesmo fenômeno - acúmulo in-
meio associada à hiperplasia epidérmica lentigino- traepidérmico de ceratina em grandes espaços (ar-
sa também pode ser observada em nevos de Clark, redondados/ cistos, cuneiformes/fissuras ou túneis,
ceratoses liquenoides benignas e ceratoses actínicas côncavos/crateras). São comumente observados em
liquenoides, produzindo aspectos dermatoscópicos ceratoses seborreicas e nevos melanocíticos, com-
semelhantes.6•12 postos ou intradérmicos, com superfície papiloma-
Pseudocistos e pseudocomedões são redon- tosa (nevos de Unna) (Figs. 4.18 e 4.19). O padrão
dos, fissuras são fendas confluentes e ramificadas, e dito cerebriforme (giros e sulcos) corresponde a
criptas correspondem a espaços crateriformes. To- papilomas e pode ser observado por exemplo em
dos têm um substrato histopatológico comum, pois ceratoses seborreicas e nevos sebáceos (Fig. 4.20).

27

-
Correlação Clinicodermatoscópica e H istopatológica

Fig. 4 .18 O Pseudocistos e pseudocomedões - globos córneos int r aepidérmicos sem conexão com a superfície
(pseudocistos) ou com abertura na superfície epidér mica (pseudocomedões).

Fig. 4.19 O Pseudocistos e pseudocomedões - podem ser observados em nevas melanocíticos, compostos ou
intradérmicos, com superfície papilomatosa (nevas de Unna) .

Fig. 4.20 O Relevo anfractuoso da epiderme, com reentrâncias preenchidas por hiperceratose e debris celula-
res , em lesão papilomatosa de nevo sebáceo .

28
Correlação Cl inicodermatoscópica e H istopato lóg ica

As estruturas "em folha", as áreas radiadas e os As estruturas romboidais resultam da obli-


ninhos ovoides, característicos dos carcinomas base- teração das aberturas foliculares por pigmentação
celulares pigmentados e que são representados à histo- acentuada, em regiões anatômicas onde elas são
patologia pelos maciços de células epiteliais basaloides muito numerosas, como na face, em decorrência da
de formatos variados que ocupam a derme (Fig. 4.21), proliferação desordenada de células melanocíticas
não devem ser confundidos com os pseudópodes, pois, com discreta atipia citológica, como é observado no
ao contrário destes, nunca têm origem a partir de uma melanoma in situ tipo lentigo maligno (Fig. 4.22) .
rede pigmentar e, em geral, também não estão relacio- O padrão anular-granuloso representa gran-
nadas com um tumor pigmentado confluente. de acúmulo de células (melanocíticas ou não), con-

Fig. 4.21 D Ninhos ovoides e áreas radiadas - proliferação de maciços de células basaloides com formatos va-
riados , contendo pigmento melânico , na derme superior (carcinoma basocelular) .

Fig . 4.22 D Estruturas romboidais - obliteração das aberturas foliculares por pigmentação acentuada , em re-
giões anatômicas onde elas são muito numerosas, como na face , decorrente da proliferação de células mela-
nocíticas com discreta atipia citológica , que ocupam as camadas inferiores da epiderme e o epitélio infundibular
(melanoma in situ, tipo lentigo maligno) .

29
Correlação Clinicodermatoscópica e Histopatológica

tendo pigmento melânico, dispostas ao redor de enquanto o padrão vascular puntiforme corres-
aberturas foliculares na pele da face, sem obstruí- penderia à neovascularização na derme reticular
las (Fig. 4.23). Na maioria dos casos, esse padrão superior 13 (Fig. 4.24). Padrões vasculares atípicos
favorece o diagnóstico de melanoma tipo lentigo são de grande importância para o reconhecimen-
maligno. to de melanomas hipomelanóticos. 14 Carcinomas
Os diferentes padrões vasculares distinguí- basocelulares não pigmentados também podem
veis à dermatoscopia vão corresponder histopa- ser reconhecidos à dermatoscopia, por seu padrão
tologicamente a uma vascularização aumentada vascular e de estroma conjuntivo.15 Já os lagos
e anômala (neovascularização) na derme superior. vermelhos correspondem a espaços vasculares di-
Foi sugerido que um padrão vascular linear se latados presentes na derme superior em heman-
correlaciona com angiogênese na derme papilar, giomas e angioceratomas (Fig. 4.25).

Fig. 4 .23 D Padrão anular granuloso- grande acúmulo de melanófagos ao redor de aberturas foliculares na pele
da face sem obstruí-las ("derrame pigmentar" em área adjacente a melanoma nível IV) .

Fig. 4 .24 D Padrão vascular atípico- rede vascular aumentada e anômala (neovascularização) na derme supe-
rior (área com aspecto sugestivo de regressão parcial em melanoma).

30
Correlação Clinicodermatoscópica e H istopatológica

Fig . 4.25 D Lagos vermelhos - correspondem a espaços vasculares dilatados presentes na derme superior
(hemangioma) .

• REFERÊNCIAS 8. Piii.eiro-MaceiraJ, Magalhães ROC. Comparação


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31

...
CAPÍTULO 5 Critérios
Der matoscóp icos

O aumento de lOx obtido com o uso do der-


matoscópio permite o reconhecimento de
estruturas morfológicas não visíveis a olho nu. O
O reconhecimento da cor branca à dermatos-
copia pode ser indicativo apenas de uma área de
hipopigmentação, porém sua maior importância se
reconhecimento dessas estruturas pelo examina- dá quando presente em lesões melanocíticas indi-
dor e o entendimento de sua representatividade
histopatológica são condições fundamentais para
a utilização da dermatoscopia no diagnóstico de
lesões pigmentadas l-6. Essas estruturas morfológi-
cas, que representam os critérios dermatoscópicos,
podem ser comparadas às letras do alfabeto. Sem
conhecê-las, torna-se impossível escrever as pala-
vras .

• CORES
As principais cores observadas ao dermatoscó-
pio são basicamente compostas por 2 pigmentos:
melanina e hemoglobina. Independentemente do Fig . 5 .1 D Representação esquemática das diversas
tipo celular (ceratinócito, melanócito, célula névica, tonalidades de cor da melanina de acordo com a sua
profundidade na pele.
células de melanoma, melanófagos, extracelular) no
qual a melanina estiver contida, o principal fator
que determinará sua tonalidade é a sua profundida-
de. mais superficial, mais enegrecida. Con-
forme o aumento de sua profundidade, ela assume
uma tonalidade marrom-escura, marrom-clara,
cinza e azul (derme reticular) (Figs. 5.1 e 5.2).
A coloração vermelha conferida pela hemoglo-
bina adquire importância tanto na identificação de
lesões vasculares, por exemplo os angiomas (lagos
vermelhos), como também na determinação do pa-
drão vascular de diversas lesões, dentre elas o eri-
tema visto nos nevas displásicos, as telangiectasias
Fig . 5 .2 D Melanoma extensivo superficial exibindo as
arboriformes dos carcinomas basocelulares, os vasos cores marrom-claro, marrom-escuro, vermelha , preta
atípicos do melanoma e outros (Figs. 5.3 e 5.4). e cinza-azulada .

33
Critérios Oermatoscópicos

cando área de regressão. Geralmente, a área mais


esbranquiçada é de aspecto irregular, cicatricial e
mais clara que a pele sã circunjacente (Fig. 5.5).
Áreas de hiperceratose e pseudocistos geral-
mente apresentam-se com coloração amarelada
(Fig. 5.6).
De maneira geral, as lesões benignas tendem a
apresentar uma ou poucas cores, e as maligna ten-
dem a ser multicoloridas, com mais de 3 cores.

• REDE PIGMENTADA
Fig . 5 .3 o Angioma rubi exibindo lagos venosos de to- É formada pela presença de pigmento na ca-
nalidade vinhosa. mada basal da epiderme, contido nos melanóci-
tos ou ceratinócitos basais. As cristas epidérmicas,
observadas verticalmente, produzem áreas de pig-
mentação densa, enquanto as áreas sobre as papilas
possuem relativamente menor quantidade de pig-
mento, formando os "furos" da rede, como os fa-
vos ou os alvéolos de uma colmeia. Portanto, sua
aparência é determinada pelo tamanho e pela con-
figuração das cristas interpapilares. Observada ao
dermatoscópio, a pele normal, principalmente nas
pessoas morenas, pode ter o aspecto de uma tênue
rede pigmentada. A rede pigmentada propriamente
dita, descrita nas lesões melanocíticas, nada mais é
,..-""]
que a exacerbação de um fenômeno normal. Cons-
Fig. 5 .4 O Carcinoma basocelular. Notam-se eritema titui a principal característica, porém não exclusiva,
periférico e telangiectasias arboriformes.

Fig. 5 .5 o Nota-se extensa área branca cicatricial que Fig. 5 .6 O Ceratose seborreica exibindo extensa área
representa a fibrose decorrente do processo de re- amorfa de coloração amarelada e diversos pseudocis-
gressão tumoral. Melanoma extensivo superficial. tos e pseudocomedões.

34
Critérios Dermatoscópicos

das lesões melanocíticas. Apesar disso, sua ausência


não exclui lesão melanocítica, haja vista que apenas
50% dos melanomas apresentam rede pigmenta-
da. Também pode ser observada em algumas le-
sões não melanocíticas, como o dermatofibroma, o
mamilo acessório e a ceratose seborreica. Podemos
classificá-la em típica ou atípica (Fig. 5.7).
• Rede pigmentar típica- rede estreita de colora-
ção marrom-clara ou marrom-escura, de forma-
to regular, distribuída de maneira uniforme por
toda a lesão, geralmente esmaecendo na periferia.
É vista nos lentigos, nevos melanocíticos e nevos
Fig. 5 .9 O Rede pigmentada atípica em lentigo sim-
de Clark (Fig. 5.8). ples.

• Rede pigmentar atípica - rede alargada, cujas


linhas geralmente estão espessadas, de coloração
preta, marrom ou cinza, com formato irregular,
distribuída de maneira não uniforme pela lesão
e geralmente terminando na periferia de forma
abrupta. É um critério dermatoscópico indica-
tivo de melanoma. Corresponde à proliferação
acentuada e anárquica de células hiperpigmen-
tadas que ocupam e alteram a morfologia dos
cones interpapilares (Fig. 5.9).

Fig . 5 .7 O Representação esquemática da rede pig- Rede pigmentada da região acral


mentada na pele formada pela maior quantidade de
pigmento nas cristas interpapilares. Devido às características anatômicas pecu-
liares, a lesões melanocíticas situadas na região
palmoplantar exibem um padrão de pigmentação
linear em arranjo paralelo que obedece à distribui-
ção dos dermatoglifos - padrão em sulcos parale-
los e cristas paralelas. 7 O padrão paralelo sulcado
é o encontrado mais frequentemente, e o padrão
em cristas paralelas é o indicativo de melanoma. 8
Por vezes, conexões perpendiculares são observa-
das formando o padrão trabecular ou "em treliça",
mais encontrado em áreas de transição entre regi-
ões submetidas à pressão e regiões não submetidas
à pressão (face lateral dos pés e das mãos). 9 Em
áreas submetidas a maior pressão, frequentemente
Fig . 5 .8 O Rede pigmentada regular em nevo melano- a pigmentação encontra-se distribuída em arranjo
cítico juncional. transversal aos dermatoglifos, chamado padrão fi-

35
Critérios Dermatoscópicos

brilar. Assim como as lesões situadas na face, as si-


tuadas na região palmoplantar serão discutidas em
maior detalhe no Cap. 6 (Figs. 5.10-5.13).

Rede pigmentada negativa ou invertida


Representa a imagem exatamente oposta à
rede pigmentada convencional. A trama da rede é
de coloração branca e os furos da rede são mais es-
curos. Histopatologicamente, correlaciona-se com
as cristas interpapilares hipomelanóticas alonga-
das ao lado de ninhos de células pigmentadas que
ocupam as papilas dérmicas. É encontrada princi-
Fig . 5 .12 D Nevo melanocítico acral em área subme-
tida à pressão . Padrão fibrilar.

Fig. 5 .1 O D Nevo melanocítico acral em área não


submetida à pressão (cavo plantar). Padrão paralelo
sulcado . Fig . 5 .13 D Melanoma acral. Padrão em cristas pa-
ralelas.

palmente nos nevas de Spitz, mas também pode


ser vista nos melanomas e nevas melanocíticos
benignos (Fig. 5.14).

Pseudorrede pigmentada
Na face, devido à ausência de cristas inter-
papilares e à presença de diversos infundíbulos
foliculares, podemos observar uma pigmentação
difusa da epiderme e da derme papilar denomina-
da pseudorrede, que pode ser observada em lesões
Fig . 5 .11 D Nevo melanocítico acral em área de tran- melanocíticas e não melanocíticas. À dermatos-
sição. Padrão trabecular ou em treliça . copia, apresenta-se como uma trama de formato

36
Critérios Oermatoscópicos

vermelha ou cinza-azulada. Representam agrega-


dos de melanócitos pigmentados, melanófagos ou
melanina livre na camada córnea, na epiderme, na
junção dermoepidérmica ou na derme papilar. De
acordo com seu formato e distribuição pela lesão,
podem ser classificados em regulares ou irregula-
res. Para fins de classificação, pontos são estruturas
<0,1 mm e glóbulos são >0,1 mm. São encontrados
em lesões pigmentadas melanocítica benignas e
no melanoma. Caracteristicamente, nas lesões me-
lanocíticas os glóbulos estão agrupados. os nevas
melanocíticos, são regulares em tamanho e distri-
Fig. 5.14 O Nevo melanocítico composto exibindo buição e, geralmente, mais encontrado no centro
glóbulos agregados angulados. Em meio aos glóbulos , da lesão. O contrário ocorre nos nevas de Clark e
nota-se uma trama esbranquiçada que caracteriza a
rede pigmentada invertida . no melanoma. Em algun nevas de Clark e no nevo
de Spitz pigmentado, podem ser encontrados múl-
tiplos glóbulos pigmentados periférico em várias
camadas ou níveis. A presença de pontos pretos
periféricos irregulares é indicativa de melanoma
(Figs. 5.16-5.18).
Os glóbulos vermelhos leitosos são estruturas
ovai bem delimitadas de coloração vermelho-lei-
tosa que representam ninhos de melanócitos pouco
pigmentados na derme e tornam-se evidentes de-
..,... vida ao aumento de vascularização observado nes-
sas áreas. São eventualmente vistos em melanomas
(Fig. 5.19).

Fig. 5.15 O Lentigo solar situado na face . Pigmen-


tação de coloração acastanhada ao redor das aber-
turas foliculares , sem obstruí-las , e bordas em "roído
de traça" .

ovalado e tamanho uniforme, correspondendo às


aberturas dos ó tios foliculares. Assim como as le-
sões situadas na região palmoplantar, as situadas
na face serão discutidas em maior detalhe no Cap.
6 (Fig. 5.15).

Pontos e glóbulos
Fig. 5.16 O Nevo melanocítico congênito. Pontos e
São estruturas ovais, arredondadas ou angula- glóbulos angulados distribuídos regularmente por toda
das, de tamanho variável e coloração preta, marrom, a lesão .

37
Cr itérios Dermatoscóp icos

Ftg. 5 17 O Nevo melanocítico composto . Pontos e


glóbulos arredondados. Fig. 5 .20 o Múltiplos pontos cinza-azulados em área
de regressão extensa de melanoma extensivo superfi-
cial. Notam-se , também , estrias periféricas, eritema e
ulceração.

A presença de múltiplos pontos cinza-azula-


dos é indicativa de queda de pigmento melânico a
partir da camada basal. Podem ser encontrados em
diversas condições inflamatórias, como no líquen
plano, no lúpus eritematoso e na ceratose actínica
liquenoide. Entretanto, sua maior importância se
dá quando presentes em lesões melanocíticas, prin-
cipalmente no melanoma, o que sugere regressão.
De acordo com Braun, regressão é um termo histo-
Fig 5 18 O Nevo de Reed exibindo glóbulos periféri- patológico e não dermatoscópico. Portanto, a pre-
cos distribuídos de maneira regular por toda a borda sença de múltiplos pontos cinza-azulados não deve
da lesão .
ser interpretada como sinônimo de regressão, uma
vez que essas estruturas também são encontradas
caso ocorra incontinência pigmentar, quando então
ele propõe o termo granularidade. 10 Lesões mela-
nocíticas que apresentem granularidade têm uma
probabilidade 106 vezes maior de ser um melano-
ma (Fig. 5.20).

• ESTRIAS [RADIADAS,
RAMIFICADASl
São estruturas lineares, de espessura variável,
de coloração marrom-enegrecida, que não apresen-
c:::l tam relação com a rede pigmentada. Podem estar
Ftg. 5.19 O Melanoma nodular. Glóbulos vermelho-
distribuídas de forma regular ou irregular em toda
cinza-azulados e acastanhados. a lesão, mas geralmente são mais aparentes quando

38
Critérios Oermatoscópicos

situadas na periferia. Histopatologicamente, re-


presentam ninhos de melanócitos juncionais que,
agregados, assumem uma conformação linear-tu-
bular com relação à superfície da pele.
As estrias são exclusivas das lesões pigmentadas
melanocíticas, tanto benignas quanto malignas. No
melanoma, em geral, estão distribuídas de maneira
irregular e podem apresentar projeções nodulares
na periferia, os chamados pseudópodes. No nevo de
Reed, estão distribuídas por toda a lesão em arranjo
radial, o que caracteriza o padrão de "explosão de
estrelas" (Figs. 5.21-5.23).
Fig. 5 .23 O Melanoma extensivo superficial Clark 11 ,
Breslow O, 20 mm. Notam-se área amorfa enegrecida
e estrias periféricas.

Algumas lesões pigmentadas não melanocíti-


cas papilomatosas, como as ceratoses seborreicas,
podem apresentar estruturas semelhantes às estrias
(pseudoestrias) devido ao acúmulo de pigmento na
epiderme entre os sulcos da lesão.

• PSEUDÓPODES
São projeções nodulares encontradas nas
margens da lesão, diretamente conectadas ao cor-
Fig. 5.21 O Melanoma extensivo superficial. Em meio po tumoral através de estrias radiadas. Possuem a
às áreas amorfas enegrecidas, observam-se estrias mesma representatividade histológica das estrias,
radiadas e pseudópodes .
o que indica o crescimento radial da lesão (Figs.
5.21-5.23). 11

• ÁREAS AMORFAS
(ÁREAS SEM
ESTRUTURA OU
HOMOGÊNEAS)
São áreas sombreadas de coloração variável,
marrom, cinza ou preta, nas quais não é possível o
reconhecimento de qualquer outro critério derma-
toscópico. Podem ser classificadas em: localizadas
regulares, localizadas irregulares, difusas regulares
ou difusas irregulares. Histopatologicamente, são
resultantes da ocupação da epiderme ou da derme
Fig . 5 .22 o Nevo de Reed caracterizado pela distribui-
ção homogênea de estrias periféricas e pseudópodes. papilar pelo pigmento melânico ou devido ao fato
Padrão em "explosão de estrelas". de as cristas interpapilares serem curtas. Olrando

39
Critérios Dermatoscópicos

Fig . 5 . 24 o Nevo azul. Área amorfa homogênea cin- Fig . 5 .25 o Áreas de hipopigmentação focal em nevo
za-azulada em toda a lesão . melanocítico .

regulares, sugerem lesão benigna; quando irregula-


res, sugerem malignidade (Figs. 5.21, 5.23 e 5.24) .

• ÁREA AZUL
HOMOGÊNEA
Área amorfa homogênea bem delimitada de co-
loração azul-acinzentada na qual não são observados
outros elementos estruturais como rede, glóbulos/
pontos ou estrias. É a principal característica derma-
toscópica do nevo azul, mas também pode ser vista
em hemangiomas, carcinomas basocelulares e me- Fig. 5 .26 o Véu azul-esbranquiçado(*) em melanoma
tástases intradérmicas de melanoma (Fig. 5.24). nodular (10x).

compacta e hipergranulose focal, geralmente sobre


• HIPOPIGMENTAÇÃO uma área rica em pigmento melánico, como ninhos
Área hipopigmentada difusa ou localizada confluentes de melanócitos na derme papilar. É uma
vista em uma lesão pigmentada. Pode ser focal ou estrutura exclusivamente observada no melanoma e
multifocal. Representa área epidérmica e/ou dér- nos nevos de Spitz/Reed (Figs. 5.26 e 5.27).
mica com menor quantidade de melanina. Seu sig-
nificado diagnóstico é limitado. Pode ser vista nos
• ESTRUTURAS DE
nevos de Clark e nos melanomas (Fig. 5.25).
REGRESSÃO - ÁREAS
BRANCAS CICATRICIAIS
• VÉU CINZA-AZULADO E MÚLTIPLOS PONTOS
Pigmentação opaca difusa, com aspecto de "fun- CINZA-AZULADOS
do de garrafa", de cor cinza-azulada ou azul-esbran- (PEPPERINGJ
quiçada, associada a alteração da rede pigmentar, Representam o fenômeno de regressão histo-
pontos/glóbulos e/ou estrias. Histopatologicamente, lógica observado em algumas lesões melanocíti-
representa acantose epidérmica com ortocerato e cas. As áreas brancas cicatriciais são áreas delimi-

40
Critérios Oermatoscópicos

Fig. 5.27 O Periferia de melanoma extensivo super-


ficial. Notam-se pseudópodes, múltiplos pontos cinza- Fig . 5.29 O Área branca cicatricial e múltiplos pontos
-azulados e extenso véu cinza-azulado . cinza-azulados [peppering) em melanoma extensivo su-
perficial.

do véu azul-esbranquiçado (Figs. 5.5, 5.20, 5.28


e 5.29).
As estruturas de regressão são achados mui-
to sugestivos de melanoma, mas também podem
ocorrer no nevo de Clark. Os múltiplos pontos cin-
za-azulados também podem ser vistos em outras
dermatoses que apresentam queda de pigmento
melânico para a derme, como, por exemplo, o eri-
tema pigmentar fixo, o lúpus eritematoso, o líquen
plano e a ceratose actínica liquenoide.

• ESTRUTURAS
Fig . 5.28 O Múltiplos pontos cinza-azulados [peppe- CRISÁLIDA-SÍMILES
ring) em melanoma do tipo lentiginoso na face.
São estruturas lineares octogonais brancas
reluzentes, semelhantes às crisálidas (envoltório
tadas de coloração branca, que correspondem his- da ninfa da borboleta) , que representam bandas
topatologicamente à fibrose. Os múltiplos pontos de colágeno birrefringente . São observadas ape-
cinza-azulados ou peppering correspondem a uma nas com o dermatoscópio de luz polarizada (a
área difusa pequena ou salpicada de coloração cin- luz polarizada não é recomendável para o exa-
za-azulada ou cinza e representam histopatologi- me de estrutura que e tejam situadas entre
camente melanófagos na derme papilar. Como 0,06-0,1 mm de profundidade). Podem ser vis-
a fibrose e a presença de melanófagos na derme tas em diversas le õe , como carcinoma basoce-
podem ocorrer em uma mesma lesão, a combi- lular dermatofibroma e lesões melanocíticas. No
nação de áreas brancas cicatriciais com múltiplos carcinoma basocelular, são mais encontradas no
pontos cinza-azulados também pode ocorrer em tipo e clerosante. Quando presentes em uma
uma mesma lesão. Tal combinação pode tornar-se, lesão melanocítica, são sugestivas de melanoma
do ponto de vista dermatoscópico, indistinguível (Fig. 5.30).

41
Critérios Dermatoscópicos

Fig. 5 . 30 D Carcinoma basocelular pigmentado. Es- Fig. 5 .32 D Carcinoma basocelular. Grandes ninhos
truturas crisálida-símiles que representam bandas de ovoides e pseudocistos.
colágeno birrefringentes distribuídas em formato oc-
togonal , observadas ao dermatoscópio de luz polari-
zada .
• PSEUDOCOMEDÕES OU
PSEUDOABERTURAS
FOLICULARES
Estruturas arredondadas, ovais ou de formato
irregular (criptas) de coloração marrom-amarelada
ou marrom-enegrecida. Representam as rolhas cór-
neas que alcançam a superfície cutânea. Por vezes,
podem estar entremeadas por fendas confluentes e
ramificadas, denominadas fissuras ou criptas. De-
vido à presença de melanina e bactérias, assumem
uma coloração acastanhada. São encontradas nas
ceratoses seborreicas e nos nevos intradérmicos pa-
pilomatosos (Figs. 5.31 e 5.33).

Fig. 5 .31 D Ceratose seborreica caracterizada pela • GIROS E SULCOS


ausência de critérios para lesão melanocítica e por
múltiplos pseudocistos e pseudocomedões .
PADRÃO
CEREBRIFORME
Caracteristicamente, são encontrados em al-
• PSEUDOCISTOS gumas ceratoses seborreicas mais espessas que não
Estruturas arredondadas ou ovais de coloração apresentam pseudocistos nem pseudocomedões
branco-amarelada, com superfície lisa e brilhante (Fig. 5.34).
e de tamanho variável (0,1-1 mm). Representam
acúmulos de ceratina intraepidérmica, vistos prin- • ESTRUTURAS
cipalmente em ceratoses seborreicas. Eventual- EM FORMATO DE
mente, também podem estar presentes em nevos IMPRESSÃO DIGITAL
melanocíticos, carcinomas basocelulares e melano- Pequenas cristas em disposição paralela, en-
mas (Figs. 5.6, 5.31 e 5.32). contradas em lesões finas de lentigos solares, que

42
Critérios Dermatoscóp icos

Fig. 5.33 O Ceratose seborreica exibindo múltiplos Fig. 5.35 o Estruturas em impressão digital e bordas
pseudocomedões. em "roído de traça" e do tipo "geleia" em lentigo solarI
ceratose seborreica .

Fig. 5.34 O Ceratose seborreica com aspecto cere- Fig. 5 .36 o Nevo melanocítico intradérmico exibindo
briforme formado por giros e sulcos. estruturas papilares exofít icas cinza-azuladas .

eventualmente evoluem para ceratoses seborreicas • BORDAS


do tipo reticulado (Fig. 5.35).
Como na clínica, a análise dermatoscópica das
bordas é de suma importância. Além da presença de
• ESTRUTURAS critérios específicos como os pseudópodes/estrias e
PAPILARES EXOFÍTICAS pontos, que por si sós já podem indicar malignida-
Estruturas de formato globoso, geralmente cir- de, devemos estar atentos para o seu formato e a
cundadas por pseudocomedões irregulares ou crip- interrupção abrupta. Nas lesões benignas, as bordas
tas irregulares. Correspondem às projeções digiti- tendem a ser regulares e a apresentar uma diminui-
formes que refletem a papilomatose e a acentuada ção gradativa de sua pigmentação. Contrariamente,
acantose observadas nas ceratoses seborreicas e nos no melanoma as bordas tendem a ser irregulares e a
nevos intradérmicos papilomatosos. Raramente são apresentar interrupção abrupta, o que indica o cres-
observadas no melanoma (Fig. 5.36). cimento radial do tumor.

43
Critérios Dermatoscópicos

·.·

Fig. 5 .38 O Carcinoma basocelular no qual se obser-


vam grandes ninhos ovoides, múltiplos pontos cinza-
azulados e telangiectasia arboriforme .
Fig . 5 .37 O Lentigo solar exibindo bordas em "roído
de traça".

A borda em "roído de traça" e a "em geleia" são


caracteristicamente encontradas em lentigos solares/
ceratoses seborreicas planas (Fi.gs. 5.15, 5.35 e 5.37).

• NINHOS OVOIDES/
ESTRUTURAS "EM
FOLHA.,
Estruturas nodulares, bem delimitadas, de co-
loração marrom-acinzentada ou cinza-enegrecida,
de tamanho variável, que tendem a crescer em dire-
ção à pele normal, formando estruturas semelhantes Fig. 5 .39 O Carcinoma basocelular. Diversas estrutu-
ras em folha distribuídas de maneira irregular por toda
ao formato dos dedos da mão ou da folha do bordo
a lesão .
(mapple leaj), as chamadas estruturas em folha. Po-
dem ser diferenciados dos glóbulos encontrados nas
lesões melanocíticas devido ao seu arranjo irregular.
Correspondem às massas de células basaloides na
derme papilar superior. São caracteristicamente en-
contrados em carcinomas basocelulares (Fi.gs. 5.32,
5.38-5.40).

• ESTRUTURAS EM RAIO
DE RODA
São estruturas com formato semelhante ao de
uma margarida, de coloração acastanhada, ene-
grecida ou cinza-azulada, encontradas em alguns
carcinomas basocelulares pigmentados. São quase Fig. 5 .40 O Carcinoma basocelular apresentando ni-
nhos ovoides, telangiectasias arboriformes e área de
exclusivamente encontradas nos carcinomas baso- ulceração .

44
Critérios Dermatoscópicos

Fig. 5 .41 D Carcinoma basocelular. Estruturas em


raio de roda na periferia .
Fig. 5.42 O Oermatofibroma. Placa branca central e
rede pigmentada periférica .
celulares. Também representam as massas de célu-
las basaloides tumorais (Fig. 5.41).
conhecimento dessas estruturas é de grande auxilio
no diagnóstico, principalmente de lesões hipopig-
• ULCERAÇÃO
mentadas e/ou pequenas. O padrão vascular é o úni-
Tem importância na avaliação de lesões tumo-
co critério dermatoscópico que pode ser utilizado
rais e é indicativa de malignidade. Nos carcinomas
para o diagnóstico de melanomas verdadeiramente
basocelulares, tende a ocorrer mais precocemente
amelanóticos .U O aumento de 10x obtido com o
que nos melanomas. C2.1Iando encontrada em lesões
dermatoscópio manual é suficiente para o reconhe-
que não apresentam critérios para lesão melanocíti-
cimento da maioria dessas estruturas. Porém, au-
ca, é altamente indicativa do carcinoma basocelular
mentos acima de 30x permitem o reconhecimento
(Fig. 5.40).
de vasos sanguíneos com até 0,01 mm de diâmetro
(Tabela 5.1). O examinador deve estar atento para
• PLACA BRANCA não aplicar muita pressão com o aparelho, a fim de
CENTRAL evitar o colabamento dos vasos a serem identifica-
Área bem delimitada, de formato oval, arre- dos. Como líquido de interface, devemos dar pre-
dondado ou irregular, de coloração esbranquiçada, ferência ao uso de substâncias com alta viscosidade,
situada no centro de uma lesão pigmentada acas- como o gel de ultrassom (Fig. 5.43).
tanhada. Eventualmente, estruturas semelhantes
a glóbulos acastanhados podem ser vistas na sua Telangiectasias arboriformes
parte central e representam estruturas anulares
São vasos muito superficiais, o que os torna
remanescentes da derme papilar. Ocorre devido a
muito nítidos - de cor vermelho-vivo, cujo tronco
uma diminuição da pigmentação melânica na parte
principal possui uma espessura (0,2 mm) maior do
central dos dermatofibromas, sendo um achado ex-
que suas ramificações (até 10 11m). São encontrados
clusivo desse tipo de tumor (Fig. 5.42).
quase exclusivamente nos carcinomas basocelula-
res, com valor preditivo positivo (VPP) de 94,1 %.
• PADRÕES VASCULARES Uma característica desses vasos é que geralmente
Diversas estruturas vasculares distintas podem atravessam todo o corpo tumoral (Figs. 5.4, 5.38,
ser observadas com o uso do dermatoscópio. O re- 5.40 e 5.44).

45
Critérios Dermatoscóp icos

Tabela 5 .1 O Representação esquemática dos padrões vasculares dermatoscópicos mais frequentes

Telangiectasias O tronco principal possui Carcinoma basocelular [VPP


arboriformes uma espessura (0, 2 de 94,1%)
mm) maior do que suas
ramificações (até 1 O

Vasos "em coroa" Não atravessam todo o Hiperplasia sebácea


tumor e estão distribuídos em
grupamentos na periferia da
lesão com diâmetro uniforme

Vasos em Diãmetro <!:0, 1 mm, com Nevas melanocíticos


"vírgula" formato arciforme intradérmicos ou compostos

Vasos
puntiformes
Pontos avermelhados,
medindo 0 ,01-0,02 mm de
diâmetro
Lesões melanocíticas [VPP
de 900/o], principalmente
nevo de Spitz. Eventualmente
em lesões ceratinocíticas

-:---
-.....

.-..---
• •••

. ·--·:.
Vasos "em Alças capilares alongadas Lesões melanocíticas e
grampo" com diâmetro uniforme ceratinocíticas (envoltos por
I (0,01-0,03 mm) I halo claro)
Vasos lineares Vasos paralelos à superfície Melanomas espessos
irregulares cutânea e de formato e raramente nos nevas
irregular melanocíticos
Glóbulos Estruturas ovais bem Melanomas espessos
vermelho-leitosos delimitadas de coloração
vermelho-leitosa

Padrão vascular Associação de 2 ou mais Melanoma (principalmente


atípico padrões vasculares em uma lineares irregulares e
mesma lesão puntiformes)

Vasos Grupamentos de vasos Doença de Bowen,


glomerulares enovelados que lembram o acantoma de células claras
agrupados aspecto do glomérulo renal e melanoma

Vasos em espiral I Vasos tortuosos em torno do I Melanoma desmoplásico ,


ou saca-rolhas próprio eixo nodular e metástase
cutânea de melanoma

Lagos vermelhos Áreas arredondadas ou I Angiomas rubis e


ovais, bem delimitadas, angioceratomas
de coloração vermelha ,
vermelho-azulada ou
vermelho-enegrecida

Eritema Vermelhidão difusa na qual lnespecífico . Em lesões


não são identificados vasos melanocíticas. deve
levantar a suspeita de nevo
displásico, de Spitz ou
I melanoma

46
Critérios Dermatoscópicos

Vasos "em coroa"


São vistos exclusivamente na hiperplasia se-
bácea. Diferentemente das telangiectasias arbori-
formes, esses vasos não atravessam todo o tumor e
estão distribuídos em grupamentos na periferia da
lesão, com diâmetro uniforme (Fig. 5.45).

Vasos em "vírgula"
São estruturas vasculares com diâmetro
;:::0,1 mm, de formato arciforme, em geral encontra-
das distribuídas irregularmente nos nevas melano-
cíticos intradérmicos ou compostos (Fig. 5.46).

Fig. 5 .43 O Nevo melanocítico displásico . A. Res-


quícios de rede pigmentada e intenso eritema . B. A
mesma lesão examinada exercendo a compressão dos Fig. 5 .45 O Vasos "em coroa" encontrados na hiper-
vasos . plasia sebácea . Estão dispostos ao redor das estrutu-
ras amareladas e não cruzam o corpo tumoral.

Fig. 5.44 O Telangiectasias arboriformes em carcino-


ma basocelular. Os vasos atravessam todo o tumor. O Fig. 5 .46 O Vasos em vírgula distribuídos de maneira
tronco vascular inicial é mais grosso que suas termi- irregular em toda a lesão de um nevo melanocítico com-
nações. posto . Notam-se , também, diversos pseudocistos.

47
Critérios Dermatoscóp icos

Vasos puntiformes
São vistos como pontos avermelhados, medin-
do O,Ol -ü,02 mm de diâmetro, principalmente em
lesões de linhagem celular melanocítica, com VPP
de 90%. É o padrão vascular mais encontrado no
nevo de Sptiz. Eventualmente, também pode ser
observado em lesões ceratinocíticas (Fig. 5.47) .

Vasos "em grampo"


São encontrados em tumores espessos melano-
cíticos e ceratinocíticos. Representam alças capila-
res alongadas e possuem diâmetro uniforme (0,01- Fig. 5.48 O Ceratose seborreica exibindo pseudoco-
0,03 mm). N os melanomas e nos nevos de Spitz, medões e vasos em grampo de cabelo .
geralmente são tortuosos e de diâmetro maior. Nas
lesões ceratinocíticas, estão caracteristicamente en-
voltos por um halo claro (Figs. 5.48 e 5.49).

Vasos lineares irregulares


Vasos paralelos à superfície cutânea e de for-
mato irregular. São relativamente comuns no me-
lanoma, especialmente naqueles com espessura
>0, 75 mm . Raramente são vistos nos nevos me-
lanocíticos. Em conjunto com os vasos puntifor-
mes, representam o padrão vascular atípico mais
frequentemente encontrado no melanoma amela-
nótico (Fig. 5.50).
Fig. 5.49 O Vasos em grampo de cabelo exuberan-
tes , envoltos por halo claro , na periferia de um cera-
toacantoma .

Fig. 5.47 O Vasos puntiformes distribuídos de manei- Fig. 5.50 O Vasos lineares irregulares encontrados
ra uniforme por toda a lesão. Nevo de Spitz. no componente amelanótico de melanoma nodular.

48
Critérios Dermatoscópicos

Glóbulos vermelho-leitosos
São estruturas ovais bem delimitadas de co-
loração vermelho-leitosa. Representam ninhos de
melanócitos pouco pigmentados na derme, que se
tornam evidentes devido ao aumento de vascula-
rização observado nessas áreas. São caracteristica-
mente encontrados nos melanomas (Fig. 5.19).

Padrão vascular atípico


É a associação de 2 ou mais padrões vasculares
em uma mesma lesão. Nos melanomas, a associação
mais frequentemente encontrada é a de vasos linea- Fig. 5 .52 O Grupamentos de vasos glomerulares vis-
res irregulares e vasos puntiformes (Fig. 5.51). tos na doença de Bowen .

Vasos glomerulares agrupados


Grupamentos de vasos enovelados que lem-
bram o aspecto do glomérulo renal. São mais fa-
cilmente identificáveis com aumentos superiores a
30x. Representam o padrão vascular mais frequen-
temente encontrado na doença de Bowen. Também
podem ser encontrados no acantoma de células cla-
ras, na poroma écrino e no melanoma. No acanto-
ma de células claras, em geral, estão distribuídos de
maneira linear, lembrando o aspecto de um "cordão
de pérolas" (Fig. 5.52).
/
Fig . 5.53 O Vasos em espiral observados em um nevo
melanocítico intradérmico .

Vasos em espiral ou saca-rolhas


São vasos tortuosos em torno do próprio eixo,
mais encontrados no melanoma desmoplásico, no
nodular e na metástase cutânea de melanoma (Fig.
5.53).

Eritema
Pode ser encontrado em lesões melanocíticas e
não melanocíticas. Pode ser secundário a exposição
Fig . 5 .51 O Melanoma hipomelanótico exibindo pa-
drão vascular atípico (vasos puntiformes e lineares ir-
solar, traumatismos ou reação inflamatória de cor-
regulares) . rente de fenômeno imunológico. C2.!Iando encon-

49
Critérios Dermatoscópicos

Fig. 5 .54 D Nevo melanocítico composto displásico. Fig. 5 .55 D Lagos vermelhos em agioma rubi delimi-
Nota-se eritema difuso por toda a lesão . tados por traves fibrosas brancas.

trado em uma lesão melanocítica, deve levantar a dermoscopy( epiluminescence microscopy). Am f


suspeita de nevo displásico, de Spitz ou melanoma D ermatopatho/ 1993; 15:297-305.
(Fig. 5.54). 5. Argenziano G , oyer HP, De Giorgi V et al.
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Dermoscopy of pigmented skin lesions: results of
Áreas arredondadas ou ovais, bem delimita-
a consensus net meeting via internet.]AmAcad
das, de coloração vermelha, vermelho-azulada ou D ermato/ 2003;48:679-93.
vermelho-enegrecida. Correspondem às dilatações 7. Akasu R, Sugiyama H , Araki M et al. Dermatoscopic
vasculares vistas na derme superior em angiomas and videomicroscopic features of melanocyticplantar
e angioceratomas. Podem assumir uma tonalida- nevi.Am] D ermatopathol 1996; 18:10-18.
de mais enegrecida, de acordo com a presença de 8. Oguchi S, Saida T, Koganehira Y et al.
Characteristic epiluminescent microscopic features
trombose no interior do vaso. Variantes dessas es-
of early malignant melanoma on glabrous skin. A
truturas podem ser vistas em hematomas subun- videomicroscopic analysis. Arch D ermato/ 1998,
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2. Bahmer FA, Fritsch P, K.reuschJ et al. Terminology melanoma. Br f D ermato/2007.
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3. K.reusch J, Koch F. Aufl.ichtmikroskopische microscopy.Arch D ermatol 1995; 131:463-440.
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4. Yadav S, Vossaert KA, Kopf AW et al. Hypomonalotic Melanoma.Arch D ermato/2008;
Histopathologic correlates of structures seen on 144(9): 1120-7.

50
CAPITULO 6 Dermatoscopia de Lesões
Pigmentadas em Sítios
Anatômicos Peculiares

• REGIÃO derrnatoglifos, típicos de cada indivíduo segundo


PALMOPLANTAR a herança genética, e compostos de sulcos e cristas
As lesões pigmentadas acrais representam com (Figs. 6.1 e 6.2). A abertura dos duetos écrinos está
frequência um desafio diagnóstico, e a derrnatosco- sempre localizada na superfície das cristas, em um
pia, ao possibilitar o reconhecimento de padrões de padrão repetitivo muito bem observado à derrna-
benignidade, permite evitar urna biópsia que pode toscopia. À histologia, nota-se que as cristas têm
ser muito dolorosa. Já no caso do rnelanorna acral, correspondência com os chamados cones interpa-
a derrnatoscopia também pode revelar achados va- pilares intermediários, onde penetram os duetos
liosos para confirmar a suspeita diagnóstica e ainda das glândulas écrinas, enquanto aos sulcos corres-
orientar o melhor ponto para obter a amostra para pondero os cones interpapilares ditos limitantes e
exame histopatológico. Estima-se que o melanorna que não apresentam relação com estruturas ductais
lentiginoso acral represente 10% do total de rnela- écrinas. Por motivos ainda desconhecidos, nas le-
nornas cutâneos, sendo o tipo mais frequentemente sões rnelanocíticas benignas nessa localização, os
observado em pacientes de ascendência asiática ou ninhos de células melanocíticas tendem a situar-se
africana. predominantemente nos cone limitantes e, conse-
É característico da pele palmoplantar urna quenternente, a pigmentação rnelânica nesses ca os
camada córnea espessa e compacta contendo os é vista à derrnatoscopia nos sulcos e não interfe-

Camada ...,.1111---
córnea

11---
Epiderme ....

1---
Derme .....

Fig. 6.1 D Representação es-


quemática da histopatologia de
um nevo melanocítico acral. Os
ninhos celulares localizam-se
nos cones interpapilares limi- Cone Cones Glândula Cone
tantes. em relação com os sul- lnterpapilar lnterpapilares Écrina lnterpapilar
cos digitais na camada córnea . Intermediário Umitantes Intermediário

51
uermatoscop1a de Lesões Pigmentadas em Sítios Anatômicos Peculiares

Fig . 6 .2 O Representação esquemática da histopato-


logia de um melanoma acrolentiginoso . A proliferação
celular é disseminada na epiderme, com frequência
ocupando os cones interpapilares intermediários, de-
terminando a localização do pigmento melãnico prefe-
rencialmente nas cristas digitais, com barramento das
aberturas dos duetos écrinos .

re nas aberturas dos duetos écrinos. No melano- B


ma lentiginoso acral, a proliferação celular é muito
mais disseminada e com frequência ocupa os cones
intermediários, ocasionando à dermato copia a lo-
calização preferencial da pigmentação nas cri tas e
o barramento das aberturas écrinas.
À dermatoscopia, portanto, essa variação no
padrão dos cones interpapilares da pele glabra (pal-
mas e plantas) determina uma rede pigmentar dife-
rente e peculiar à qual foi aplicada uma terminolo-
gia variada. O padrão em sulcos paralelos é o mais
frequente (Fig. 6.3), mas em geral também são en- Fig . 6 .3 o A. Mácula pigmentada de limites irregula-
contrados nos nevas melanodticos os padrões em res na região calcânea. B. Padrão paralelo sulcado.
Nevo melanocítico acral (1 Ox). C. Os ninhos de células
treliça (Fig. 6.4), globular (Fig. 6.5), fibrilar (Fig.
melanocíticas ocorrem quase exclusivamente nas ex-
6.6) e reticular. São descritos ainda os padrões ho- tremidades dos cones interpapilares, correspondendo
mogêneo, não típico e de transição ou combinado 1 aos sulcos dos dermatoglifos. Contudo, a intensa pig-
mentação melânica estende-se a boa parte dos cerati-
(Tabela 6.1). O padrão em sulcos paralelos é o que nócitos adjacentes, inclusive na camada córnea. Nevo
mais frequentemente apresenta alterações no se- melanocítico juncional (HE, 40x).
guimento com dermatoscopia digital, em especial
em pacientes com menos de 15 anos de idade. Já o córnea espessa, e não a melanina da camada basal
padrão homogêneo pode ser indicativo de lesão né- da epiderme, são as principais responsáveis pelos
vica em involução. 2 Em nevas acrais de tipo congê- padrões dermatoscópicos dos nevas melanocíticos
nito, pode- e observar um padrão azul homogêneo acrais, 4 que podem ser explicados pelas caracterís-
que obriga ao diagnóstico diferencial com nevo azul ticas anatômicas e histopatológicas singulares da
e metásta e de melanoma. 3 Deve-se ter em mente pele acral: os padrões em sulcos paralelos e fibrilar
que as coluna de melanina depositadas na camada são observados nas porções da região plantar, onde

52
Oermatoscopia de Lesões P igmentadas em S ítios Anatôm icos Pecu li ares

c
Fig. 6 .5 o A. Lesão maculosa de pigmentação hete-
rogênea e bordas mal delimitadas no quinto pododátilo
esquerdo . B. Numerosos pontos e glóbulos com ten-
dência à distribuição linear em arranjo paralelo ( 1Ox].
C. Numerosos ninhos de células melanocíticas ao lon-
c go da junção dermoepidérmica . Presença de compo-
nente névico focal na derme papilar. Nevo melanocítico
Fig . 6 .4 o A. Lesão maculosa castanho-escura na re- composto (HE, 40x).
gião plantar direita . B. Padrão paralelo em grade ou
em treliça . À disposição paralela predominante da dis-
tribuição do pigmento somam-se estruturas pigmenta- padrão em treliça está frequentemente presente em
das transversais . Notar os pequenos pontos brancos, lesões do arco plantar. 5
que representam os acrossiríngeos. Nevo melanocítico
(10x]. C. Numerosos ninhos de células melanocíticas O padrão mais sugestivo de melanoma acral é
presentes nos cones interpapilares e nas papilas dér- aquele em cristas paralelas (Fig. 6.7), que pode ser
micas. Pigmentação melânica observada também na identificado, inclusive, em fases muito iniciais do me-
camada córnea em arranjo colunar. Nevo melanocítico
composto (HE, 1OOx]. lanoma e, à histopatologia, exibe apenas hiperplasia
melanocítica atípica intraepitelial, sem critérios bem
os dermatoglifos são paralelos e regulares, e não são definidos para melanoma in situ.6 Nessa fase muito
observados no arco plantar. O padrão fibrilar tende inicial do desenvolvimento, o achado do padrão em
a ser observado nas regiões com maior pressão do cristas paralelas vem sendo corroborado pela detec-
peso corpóreo e onde a histopatologia revela orien- ção da amplificação do gene da ciclina Dl median-
tação oblíqua ou inclinada da camada córnea; já o te hibridização fluorescente in situ como indicador

53
Dermatoscopia de Lesões P igmentadas em Sítios Anatôm icos Peculiares

Tabela 6 .1 O Padrões dermatoscópicos de lesões


melanocíticas palmoplantares benignas

Padrão Definição
dermatoscópico
Padrão em sulcos Pigmentação
paralelos predominantemente nos
sulcos dos dermatoglifos
em orientação paralela
Padrão em treliça Somam-se à pigmentação
nos sulcos linhas que
cruzam as cristas de um
sulco a outro
Padrão globular Semelhante ao de lesões
melanocíticas em outras
localizações

Padrão fibrilar Linhas delicadas que


cruzam vários sulcos e
cristas de forma oblíqua
Padrão reticular Semelhante ao de outras
localizações (observado
no arco plantar, onde
há escassa pressão e
B dermatoglifos pouco
evidentes)
Padrão homogêneo Pigmentação marrom sem
linhas ou outras estruturas
Padrão atípico Não corresponde a nenhum
dos padrões anteriores
Padrão de transição Associação de uma rede
ou combinado castanho/preta a um
padrão de sulcos paralelos
ou em treliça na zona de
transição entre a pele vaiar
. e o dorso de mãos e pés
I
c
Fig . 6 . 6 o A. Lesão papulosa de coloração acastanha- bela 6.2). Progressivamente, os acrossiríngeos (ori-
da na face lateral interna da região calcânea . 8 . Pa- flcios das glândulas écrinas na epiderme, numerosos
drão paralelo fibrilar em nevo melanocítico acral. Notar
estruturas puntiformes brancas , correspondendo aos nessa localização anatômica) são obliterados pela
acrossiríngeos (1 Ox]. C. Ninhos de células melanocí- proliferação das células do melanoma que ocupam
ticas intensamente pigmentadas na junção dermoepi-
a epiderme. Nas lesões mais avançadas, o aspecto é
dérmica e na derme papilar, predominando no último
local. Notar acrossiríngeos proeminentes na camada mais heterogêneo, com múltiplas cores e a presença
córnea . Nevo melanocítico composto (HE, 40x). de pontos pretos e pseudópodes proeminentes em
algumas áreas, caracterizando um padrão de multi-
de fase incipiente de melanoma acral precedendo a componentes (Fig. 6.8). Vale lembrar, contudo, que
caracterização histopatológica de um melanoma in na pele volar acral nevos melanocíticos combinados
situ. 7 Contudo, no melanoma in situ, a pigmentação podem exibir um padrão em cristas paralelas, simu-
pode apresentar-se também difusa e irregular (Ta- lando melanoma, à dermatoscopia. 8

54
Dermatoscopia de Lesões Pigmentadas em Sítios Anatômicos Peculiares

Tabela 6.2 o Padrões dermatoscópicos de lesões


melanocíticas palmoplantares malignas

Padrão Definição
dermatoscópico
Padrão em cristas Pigmentação marrom
paralelas predominantemente nas
cristas dos dermatoglifos
em orientação paralela

Padrão de Pigmentação sem


pigmentação difusa nenhuma estrutura e sem
irregular distribuição ao longo dos

- Padrão de
multicomponentes
sulcos ou cristas

Semelhante ao de lesões
melanocíticas de outras
localizações

Estudos na população japonesa, que apresen-


ta alta incidência de nevos melanocíticos palmo-
plantares, descreveram variabilidade de padrões
dermatoscópicos na pele acral correlacionados com
subtipos histopatológicos, além de diferentes as-
pectos observados nos melanomas acrais. 10•11 Nessa
população, em que também se observa alta preva-
lência desse tipo de melanoma, a dermatoscopia é
de grande utilidade na triagem dessas lesões, bus-
cando o diagnóstico precoce do melanoma, o que
levou os pesquisadores locais a desenvolverem um
sistema de rastreamento de lesões acrais com base
na internet. 12
Hematomas subcórneos na pele acral podem
apresentar características clínicas, e mesmo der-
c
matoscópicas, semelhantes às observadas em le-
Fig. 6 . 7 D A. Lesão maculosa enegrecida de limites sões melanocíticas, benignas e malignas, acrais.
bem definidos na região calcânea . B. Padrão em cris-
Na maioria dos casos, contudo, o diagnóstico do
tas paralelas. As cristas dos dermatoglifos encontram-
-se proeminentes e intensamente pigmentadas. Nevo hematoma pode ser evidenciado pela presença, à
melanocítico (1 Ox). C. Distribuição assimétrica de ni- dermatoscopia de uma pigmentação vermelho/
nhos de células melanocíticas intensamente pigmen-
preta homogênea, frequentemente combinada com

- tadas , com formato variado e tendência à confluência


[HE 100x]. a presença de glóbulos satélites. Um teste de es-
carificação positivo pode ser considerado um meio
A diferenciação entre sulcos e cristas é, portanto, diagnóstico adicional. 13
um ponto muito importante para o diagnóstico corre- Há relato isolado de padrão dermatoscópico
to e, quando essa distinção for dificultada, pode utili- exclusivamente benigno em paciente branca de 28
zar-se um teste simples com tinta líquida que tende a anos com um melanoma acral. 14 Nesse caso, foram
ser retida com maior intensidade nos sulcos. 9 aspectos determinantes para desconsiderar a ava-

55
Dermatoscopia de Lesões Pigmentadas em S ítios Anatôm icos Peculiares

de ser malignas), e a presença de glóbulos grandes


(característica inusitada para lesões benignas em
regiões palmoplan tares) .

• FACE
Uma rede pigmentar falsamente alargada (pseu-
dorrede alargada) é variação anatômica característica
das lesões melanocíticas localizadas na face, devi-
do à presença de óstios foliculares muito próximos
e dilatados, assim como de aberturas de glândulas
sudoríparas, que formam os "furos" hipodensos da
rede, arredondados e uniformes.15 Esse aspecto pode
dispor-se sobre um fundo de pigmentação marrom
difusa, uma vez que uma particularidade da pele da
face é a grande atenuação ou praticamente ausência
de cones interpapilares (Fig. 6.9A,B).

Fig. 6 . 8 o A. Melanoma acral. Lesão com vários anos


de evolução assintomática. B. Padrão global multicom-
ponentes. Múltiplos pontos marrons, véu cinza-azula-
do, com área de hipopigmentação de permeio [10x).
C. Agrupamentos irregulares e confluentes de mela-
nócitos atípicos nas camadas inferiores da epiderme,
com progressão de células isoladas para camadas su-
periores e invasão focal da derme papilar. Melanoma
acral [nível 11 de Clark) [HE , 1OOx).

liação dermatoscópica benigna uma história clínica


de aparecimento recente da lesão com crescimento
B
--
Fig. 6 .9 O A. Lesão maculosa enegrecida na região
malar de paciente do sexo masculino com 68 anos de
idade. B. Pseudorrede pigmentada da face . Nota-se
progressivo, o tamanho da lesão, que era de 13 mm
pigmentação de coloração acastanhada distribuída ao
(lesões com mais de 7 mm têm maior probabilidade redor das aberturas foliculares , sem obstruí-las.

66
Dermatoscop ia de Lesões P igmentadas em S ít ios Anatô m icos Pecu li a r es

Esse padrão básico vai se superpor a outros tada. Sua distribuição de forma desigual por toda a
achados dermatoscópicos em diversas lesões de lesão constitui, contudo, um critério adicional para
ocorrência frequente nesse sítio anatômico, como lesão maligna e deve conduzir a uma biópsia da le-
lentigos solares, ceratoses seborreicas reticuladas, são (Fig. 6.11 ).
ceratoses actínicas pigmentadas, nevos de Miescher Ao exame dermatoscópico da face, habitu-
e melanomas in situ, tipo lentigo maligno. 15 Tal su- almente as lesões pigmentadas mostram-se mais
perposição não deve desestimular o uso do derma-
toscópio, pois, devido à natureza sutil dessas lesões,
quanto mais detalhada a análise, maior será a acu-
rácia diagnóstica.
A maioria das lesões cutâneas pigmentadas
(nevos melanocíticos, carcinoma basocelular, cera-
tose seborreica e nevo azul) não será influenciada
por essas características topográficas e, portanto, os
critérios dermato cópicos para o seu diagnóstico
serão o mesmos utilizados em outras regiões ana-
tômicas. O desafio será distinguir entre lentigo solar
e melanoma, tipo lentigo maligno. A caracterização
....... dermatoscópica das lesões melanocíticas malignas
na face dependerá da identificação dos seguintes
critérios principais: 16 acentuação da pigmentação
nas bordas das aberturas foliculares (maior índice
de proliferação celular nes es locais), com pre ença
eventual de pontos/glóbulos cinza-azulados (agre-
gados de melanófagos na derme papilar); assimetria
das aberturas foliculares e formação de figuras em
círculo duplo; e, na fase mais avançada, a confluên-
cia da hiperpigmentação perifolicular originando
estruturas romboidais e a progressiva obliteração
dos ó tios e infundíbulos foliculares pela prolifera-
ção de células neoplásicas (Fig. 6.10).
A presença dos pontos/glóbulos cinza-azula-
dos não é específica de melanoma, tipo lentigo ma-
Fig. 6 .11 O A. Em meio a diversas ceratoses sebor-
ligno, pois também pode ser observada na ceratose reicas , nota-se lesão maculosa de coloração acas-
benigna liquenoide e na ceratose actínica pigmen- tanhada e bordas mal delimitadas. B. Padrão global
de multicomponentes . Nítidas aberturas foliculares
assimétricas, múltiplos pontos marrons e pretos, es-
truturas romboidais e pseudocistos. No polo inferior,
observa-se rede pigmentar típica . Lentigo solar (1 Ox].
C. Vista panorâmica de 3 lesões contíguas : melano-
ma t ipo lentigo maligno (à esquerda) ; lentigo solar (no
Fig. 6.1 O O Representação esquemática do padrão centro) ; ceratose seborreica (à direita] [HE , 40x). D.
de progressão do melanoma tipo lentiginoso na face . Detalhe do melanoma in situ, t ipo lentigo maligno, ca-
Múltiplos pontos cinza-azulados (granularidade), estru- racterizado pela proliferação contínua de melanócitos
turas romboidais e progressiva obliteração das abertu- atípicos ocupando a metade inferior de epiderme reti-
ras foliculares . ficada [HE, 1OOx].

57
Oermatoscopia de Lesões Pigmentadas em Sítios Anatômicos Peculiares

claras que a olho nu. Assim sendo, é critério de tigos, nevo melanocíticos, melanoma), da hiper-
su peição a favor de melanoma, tipo lentigo malig- produção de melanina em hiperplasia melanocíti-
no, quando as lesões mostram-se mais escuras com ca (efélides, hiperpigmentação racial, síndrome de
o dermato cópio ou quando passam a evidenciar Peutz-Jegher) ou ainda de tatuagens por amálgama
estruturas marrom-escuras ou pretas (Fig. 6.12). e erupções fixa medicamentosas. O epitélio das
Embora esse não seja um critério muito específico, muco as é fino e lubrificado de maneira constante,
pode ser útil em certas circunstâncias. as lesões e nele a camadas córnea e granulosa e as glândulas
benignas, a pigmentação, além de mais clara, tende udoríparas e tão ausentes. Assim sendo, a confi-
a ser também mais regular e homogênea, com áreas guração dos critérios dermatoscópicos é distinta da
amarelas opacas nas cerato e seborreicas e zona pele. Nevos melanocíticos em mucosas são pouco
digitiformes marrom-claras no lentigo olar. frequentes e, quando ocorrem em crianças, podem
É curio o que o melanoma, tipo lentigo ma- apresentar um padrão globular predominante (Fig.
ligno, que é uma lesão em fase de cre cimento 6.13A,B).
puramente radial, não apresente estrias ou p eu- Contudo, os aspectos dermatoscópicos da me-
dópodes. Porém, isso pode decorrer do fato de lanose genital e da mucosa oral (máculas melanóti-
que sua principal caracterí tica histopatológica é cas benignas) são ba tante característicos, revelan-
a proliferação de células de melanoma isoladas e a do pigmentação difusa e padrão peculiar de linhas
formação de pequenos grupamentos celulares ir- marrons parcialmente retas e parcialmente curvi-
regulares nas camadas inferiores da epiderme, em línea . Além disso, critérios mais específico para
contraste com os ninhos confluentes intraepidér- melanomas, como rede pigmentar atípica, pontos/
micos observados nos melanomas, tipo de disse- glóbulos irregulares e véu azul-esbranquiçado, não
minação superficial (quando a estrias e os pseu- são observado nessas lesões benignas 17 (Figs. 6.14
dópodes estão presentes). e 6.15).
A dermatoscopia pode ainda er muito útil na O melanoma das mucosas é relativamente
eleção da área a ser biopsiada nessa lesões, o que raro, representando 1-2% de todos os melanomas;
é importante para evitar resultado falsos-negativos pode originar-se de novo ou a partir de lesões pig-
em casos de melanoma, tipo lentigo maligno. E mentadas atípicas e, em geral, ocorre em pacientes
pode vir a tornar-se útil também no futuro para idosos.
o seguimento pó -tratamento do lentigo maligno Na região do mamilo, os lentigos vão mostrar
por métodos alternativos, como a imunoterapia ou concentração do pigmento melânico nos limites
a radioterapia. do tubérculos mamilares, que são revestidos por
epitélio pavimentoso estratificado hiperplasiado
• REGIÕES GENITAL. (Fig. 6.16A,B,C).
MAMILAR E MUCOSA
ORAL
Um problema prático, quando do exame de • APARELHO UNGUEAL
uma melanose vulvar, peniana ou da mucosa oral, O diagnóstico das pigmentações ungueais
é a dificuldade de sua realização com o dermatos- con titui um desafio para o dermatologista. Apre-
cópio convencional, o que pode ser uperado, em entam múltiplas etiologias e, frequentemente, as-
grande parte, com o emprego do dermatoscópio pecto clínico semelhante. Podem er de causas tu-
digital. morais (nevos melanocíticos e melanomas) ou não
As le ões pigmentadas das mucosas podem re- tumorai (origem racial, medicamentosa, hemato-
sultar da proliferação de célula melanocítica (len- ma ). Histologicamente, a pigmentação observada

58
Oermatoscopia de Lesões Pigmentadas em Sítios Anatômicos Pecul iares

Fig. 6.13 o A. Nevo melanocítico no lábio inferior de


pré-escolar. B. Padrão globular exibindo pontos e gló-
bulos dispostos ao longo dos sulcos naturais da mu-
cosa .

A dermatoscopia da lâmina ungueal fornece


dados adicionais que auxiliam na tomada de deci-
Fig. 6.12 O A. Mácula acastanhada na face de pa- sões. O exame dermatoscópico da lâmina ungueal
ciente com pele de aspecto poiquilodérmico. B. A ocu-
pação da epiderme perifolicular pelo pigmento melâni- baseia-se na análise da cor da pigmentação e nas ca-
co delimita as aberturas foliculares (pseudorrede) , que racterísticas das linhas longitudinais observadas
se apresentam assimétricas em grande parte da le-
à dermatoscopia. Estas imagens formam padrões
são , originando a formação de estruturas romboidais .
É nítido o aspecto telangiectásico na pele adjacente distintos: 18
( 1 Ox]. C. Proliferação de células melanocíticas atípicas
ocupando parcialmente a epiderme na vizinhança de 1. Pontos hemorrágicos- caracterizados por pon-
estrutura folicular. Telangiectasias e elastose solar pro- tos ou borrões bem delimitados de coloração
eminentes na derme superior. Melanoma in situ tipo
azul-purpúrica ou marrom, algumas vezes apre-
lentigo maligno (HE, 1 OOx].
sentando padrão linear na margem distai (Fig.
6.17).
pode ser decorrente de hipermelanose (ativação
melanocítica nos casos raciais ou medicamentosos), 2. Fundo marrom - observado na área da banda
hiperplasia melanocítica benigna, nevos melanocí- de pigmentação, varia do marrom-claro ao es-
ticos ou melanomas. curo, com margens laterais bem delimitadas. A

59
Dermatoscopia de Lesões Pigmentadas em Sítios Anatômicos Peculiares

Fig. 6.15 O A. Lesão pigmentada de lábio, com evolu-


ção de aproximadamente 2 anos. B. Pseudorrede de-
terminada pelos sulcos da mucosa labial de coloração
uniforme (10x).

borda pro:ximal corresponde, em muitos casos, à


região adjacente à cutícula e a parte distal rela-
ciona-se com a margem livre da lâmina ungueal
(Fígs. 6.18-23).
3. Fundo cinza- observado na área da banda de
pigmentação, pode variar do cinza claro ao es-
curo. Geralmente está associado à presença de
finas linhas cinza regulares (Fígs. 6.24, 6.25,
6.26).
4. Linhas regulares - geralmente associadas ao
Fig. 6 .14 O A. Lesão pigmentada irregular assintomá-
tica de vulva evoluindo há vários anos com crescimento fundo marrom, apresentam regularidade na co-
lento . B. Pseudorrede alargada regular, determinada loração, espaçamento entre as linhas e espessu-
pelos óstios anexiais, nitidamente preservados , inclu-
sive nas áreas de maior concentração de pigmento
ra. Não se observa alteração no paralelismo das
(1 Ox). C. Acantose e alongamento de cones interpapi- linhas (Fígs. 6.18, 6.19, 6.21, 6.26).
lares, com pigmentação melânica uniformemente dis-
tribuída ao longo da camada basal da epiderme. Mela- 5. Linhas irregulares - geralmente associadas ao
nose vulvar [HE , 1 OOx ). fundo marrom, apresentam variações na colora-

60
Dermatoscopia de Lesões Pigmentadas em Sítios Anatôm icos Pecu liares

ritmo de 2 fases .19 Na primeira fase, a pigmentação


deve ser avaliada com relação à cor. Pigmenta-
ção acinzentada é sugestiva de hipermelanose (ati-
vação melanocítica) (Figs. 6.24-6.26). Pigmenta-
ção marrom é sugestiva de hiperplasia (benigna ou
maligna) . Para este grupo, realiza-se uma segunda
fase, que consiste na avaliação das linhas longitu-
dinais. Linhas regulares sugerem nevo melanocíti-
co (Fig. 6.19) ou hiperplasia melanocítica benigna
(Figs. 6.18 e 6.21); nas irregulares, há possibilidade
de melanoma (Fig. 6.20).
A
A presença de pontos hemorrágicos é associa-
da ao diagnóstico de hematomas subunguais (Fig.
6.17) . Sua presença não afasta o diagnóstico dele-
sões tumorais, nas quais também é possível a pre-
sença de sangramento.
A dermatoscopia também pode ser utilizada
para examinar a borda livre da lâmina ungueaP0
(Figs. 6.21 e 6.26). O procedimento permite ava-
liar se a pigmentação encontra-se na parte supe-
rior ou inferior da lâmina ungueal. A pigmentação
localizada na parte superior da lâmina ungueal
B origina-se da parte proximal da matriz, ao con-
trário da localizada na parte inferior, originada na
porção distal.
A conduta final deve ser tomada após análise
da dermatoscopia da lâmina ungueal, juntamente
com a história e o exame físico. Em casos de dú-
vida, independentemente da idade do paciente, é
possível fazer a dermatoscopia do leito e da matriz
ungueal e a biópsia.
A dermatoscopia do leito e da matriz ungueal é
Fig . 6.16 D A. Lesão maculosa acastanhada no ma-
milo direito de paciente com 41 anos de idade . B. Nota- exame invasivo realizado após a retirada da lâmina
-se pigmentação acastanhada distribuída no epitélio ungueal. 21 •22 O procedimento transforma a análise
que reveste os duetos galactóforos. C. Epitélio pavi-
das pigmentações ungueais similar à avaliação de
mentoso estratificado hiperplasiado da região do ma-
milo. outras lesões cutâneas, ou seja, com o dermatoscó-
pio posicionado diretamente sobre a lesão. Com o
ção, espaçamento entre as linhas e espessura. Em auxilio do dermatoscópio de luz polarizada, pode-
algumas áreas, é possível observar alterações no -se realizar o exame do leito e da matriz ungueal
padrão de paralelismo das linhas (Fig. 6.20). sem utilização do óleo de imersão e sem contato
com o tecido examinado, evitando a contaminação
Com base nesses padrões, a avaliação derma- do campo cirúrgico e preservando as condições de
toscópica da lâmina ungueal pode seguir um algo- assepsia.

61
Dermatoscop ia de Lesões P igmentadas em S ít ios Anatô m icos Pec ul iares

c
Fig. 6.17 O A, C. Apresentação clínica de hematoma subungueal. B, D. Oermatoscopia : "Biood spots".

Fig. 6.18 O A. Apresentação clínica de hiperplasia melanocítica benigna . B. Oermatoscopia: fundo marrom e
linhas longitudinais regulares .

A observação de padrão homogêneo à derma- Oliando se escolhe a biópsia excisional, a der-


toscopia do leito e da matriz sugere lesão benigna matoscopia do leito e da matriz ungueal pode faci-
(Figs. 6.22 e 6.23). Padrão irregular sugere o diag- litar a delimitação das margens cirúrgicas, muitas
nóstico de melanoma. vezes difícil de ser localizada a olho nu. Nos casos

62
___ ..... c o u c::: o em ::::i it1os Anatôm icos Pecu li ares

em que a dermatoscopia do leito e da matriz não biópsia evita a produção de distrofia ungueais, e a
apre enta características suspeitas, pode-se optar lesão pode ser acompanhada posteriormente, por
por não realizar a biópsia. A não realização da meio da dermatoscopia da lâmina ungueal.

Fig. 6 .19 o A. Apresentação clínica de nevo melanocítico. 8 . Dermatoscopia : fundo marrom e linhas longitudi-
nais regulares.

Fig. 6.20 O A. Apresentação clínica de melanoma subungueal. 8. Dermatoscopia : fundo marrom e linhas longi-
tudinais irregulares.

Fig. 6.21 O A. Dermatoscopia de hiperplasia melanocítica benigna : fundo marrom com linhas longitudinais regu-
lares. 8. Dermatoscopia da borda livre da lâmina ungueal : pigmento na parte superior da lâmina ungueal.

63
Dermatoscop ia de Lesões P igmentadas em S ít ios Anatôm icos Pecul iares

Fig. 6.22 O A. Apresentação clínica de nevo mela- Fig. 6.23 o A. Apresentação clínica de hiperplasia
nocítico. B. Dermatoscopia da lâmina ungueal , fundo melanocít ica benigna . B. Oermatoscopia da lâmina un-
marrom e linhas longitudinais regulares . C. Oermatos- gueal , fundo marrom e linhas longitudinais regulares .
copia da matriz: padrão regular com glóbulos, compa- C. Dermatoscopia da matriz: padrão regular compatí-
t ível com lesão benigna . vel com lesão benigna.

64
Dermatoscop ia de Lesões Pigmentadas em S ít ios Anatôm icos Pecul iares

Fig . 6 .24 O A. Apresentação clínica de hipermelanose. B. Dermatoscopia: fundo cinza e linhas longitudinais
regulares .

Fig . 6 .25 O A. Apresentação clínica de hipermelanose . B. Dermatoscopia : fundo cinza e linhas longitudinais
regulares .

Fig . 6 .26 O A. Oermatoscopia de hipermelanose : fundo cinza com linhas longitudinais regulares . B. Dermatos-
copia da borda livre da lâmina ungueal: pigmento na parte inferior e superior da lâmina ungueal.

65
Oermatoscopia de Lesões Pigmentadas em Sítios Anatômicos Peculiares

• REFERÊNCIAS malignant melanoma on glabrous skin. A


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66
CAPÍTULO 7 Abordagem
Dermatoscópica para as
Lesões Pigmentadas e
Métodos Anal ít icos

A o examinarmos uma lesão pigmentada com o


dermatoscópio, a primeira etapa é diferenciar-
mos as lesões melanocíticas das não melanocíticas.
toscópicos que caracterizam uma lesão como mela-
nocítica: rede pigmentada, estrias radiais, glóbulos
agregados, padrão paralelo (região palmoplantar)
Essa diferenciação pode, na maioria das vezes, ser e áreas azuis homogêneas (nevo azul). Caso não
realizada sem grandes dificuldades, uma vez que os consiga caracterizar a lesão como melanocítica, o
critérios das lesões melanocíticas e não melanoci- examinador deverá então iniciar a procura dos cri-
ticas como o carcinoma basocelular, a ceratose se- térios dermatoscópicos que caracterizam cada uma
borreica, o angioma e o dermatofibroma estão bem das seguintes lesões não melanocíticas: ceratose
estabelecidos. A segunda etapa aplica-se às lesões seborreica, carcinoma basocelular, angiomas e der-
melanocíticas, e o objetivo é tentar classificá-las em matofibroma. Se, ao final do exame, o examinador
benignas, suspeitas ou malignas, por meio de um não conseguir enquadrar a lesão em qualquer dos
dos métodos anaüticos (Fig. 7.1). diagnósticos anteriormente mencionados, ela deve
ser considerada, por exclusão, como melanocítica e
• PRIMEIRA ETAPA potencialmente maligna (Fig. 7.2). 1•3

Diferenciação das lesões


melanocíticas das não melanocíticas
É realizada por meio da aplicação do algorit- Critérios para lesão
mo melanocítico de Stolz, no qual o examinador melanocitica

deve procurar sistematicamente os critérios derma-

Critérios para ceratose


seborreica

Lesão pigmentada
l
Critérios para CBC
G+?iH I
Lesão melanocítica
I
Lesão não melanocítica
l
Critérios para angioma
I
&HiH
Métodos analíticos
C. seborreica , CBC, angioma
ou dermatofibroma l
Critérios para
dermatofibroma

Fig . 7 .1 O Abordagem dermatoscópica em 2 etapas Fig. 7 .2 O Primeira etapa : diferenciação das lesões
das lesões cutâneas pigmentadas. pigmentadas melanocíticas e não melanocíticas.

67
Abordagem Dermatoscópica para as Lesões P igmentadas e Métodos Anal íticos

Critérios para lesão melanocítica Critérios para dermatofibroma


• Rede pigmentar • Placa branca central
• Glóbulos agregados • Rede pigmentar periférica fina - representa uma
• Estrias ramificadas exceção em relação aos critérios de lesão mela-
nocítica4
• Padrão paralelo
• Estruturas glóbulo-símile
• Áreas azuis homogêneas

Na ausência de todos os critérios supracitados,


Critérios para ceratose seborreica
a lesão é considerada melanocítica.
• Pseudocistos
• Pseudocomedões • SEGUNDA ETAPA
• Criptas irregulares Classificação das lesões melanocíticas
• Estruturas castanho-claras em forma de impres- em benignas, suspeitas ou malignas-
são digital métodos analíticos
A segunda etapa aplica-se às lesões melanocíti-
• Padrão cerebriforme (giros e sulcos)
cas com o objetivo de classificá-las em benignas, sus-
peitas ou malignas por um dos métodos analíticos.
Uma vez que pseudocistos e pseudocomedões
Conforme podemos observar na Tabela 7.1,
também podem ser encontrados em nevos melano-
todos os métodos analíticos possuem boa sensibi-
cíticos, carcinomas basocelulares e no melanoma é
' lidade para o diagnóstico do melanoma. Contudo,
fundamental a ausência de qualquer outro critério
quanto mais simplificado o método, menor sua es-
que possa caracterizar a lesão como melanocítica.
pecificidade. Como o objetivo primordial da der-
Vale ressaltar, contudo, que 7% das ceratoses sebor-
matoscopia é o diagnóstico precoce do melanoma,
reicas podem apresentar rede pigmentada, princi-
os algoritmos simplificados foram desenvolvidos
palmente as mais superficiais, do tipo reticulado. 4
para que não experts não deixem de diagnosticar o
melanoma, mesmo que isso ocasione baixa espe-
Critérios para carcinoma basocelular
• Ausência de rede pigmentar Tabela 7 .1 O Sensibilidade e especificidade dos méto-
dos analíticos para o diagnóstico do melanoma (dados
• Ninhos ovoides/estruturas em folhas
obtidos nos trabalhos originais dos autores)
• Vasos arboriformes
Método I Sensibilidade I Especificidade
• Glóbulos cinza-azulados irregulares (%) (%)

• Estruturas radiadas Análise de padrões 100 87,7

• Ulceração - também pode ser vista nos melano- Menzies 96 ,3 72,8

mas invasivos e em lesões escoriadas ABCD 96,3 70,4

7 pontos 96,3 72,8


Critérios para angioma
Lista dos 3 pontos 91 71,9
• Lagos vermelhos, vermelho-azulados ou verme-
ABC modificado 90,5 87
lho-enegrecidos
3 cores 92 51
• Áreas homogêneas vermelho-azuladas ou ver-
CASH 98 68
melho-enegrecidas

SB
Abordagem Dermatoscóp ica para as Lesões P igmentadas e Métodos Anal ít icos

cificidade. Para um médico com treinamento es- consideração a presença de estruturas sugestivas de
pecífico em dermatoscopia, comprovadamente, a malignidade como estrias e véu cinza-azulado. Sua
análise de padrões reflete melhor a maneira como sensibilidade para o diagnóstico do melanoma é de
o cérebro trabalha quando está categorizando ima- 100% e a especificidade é de 87, 7%. D e acordo com
gens morfológicas. 5- 6 a literatura, esse parece ser o método ideal para ser
utilizado por um dermatologista com experiência
Análise de padrões em dermatoscopia, pois nos possibilita fazer a cor-
relação clinicodermatoscópica e histopatológica,
A análise de padrões é um método analítico
além de ser o método mais confiável no ensino da
qualitativo descrito em Viena por Pehamberger,
dermatoscopia para médicos residentes.
em 1987. 7 Cada entidade nosológica é analisada
dermatoscopicamente, levando-se em consideração
o seu padrão global e seus critérios locais (Tabelas Regra do ABCD
7.2, 7.3 e 7.4A e B). A análise de padrões seria o É um método semiquantitativo descrito por
equivalente dermatoscópico à descrição micros- Stolz na Alemanha, em 1994. 8 Foi desenvolvido
cópica do laudo histopatológico. O examinador, mediante um cálculo de análise multivariada de 31
após avaliar a lesão como um todo (equivalente critérios dermatoscópicos avaliados em 157 le ões
ao pequeno aumento micro cópico) e os critérios melanocíticas benignas e malignas, com o objetivo
encontrados individualmente (maior aumento mi- de facilitar o diagnóstico precoce do melanoma.
croscópico), chega à sua conclusão diagnóstica. A Consiste na utilização de um sistema de pon-
diferença entre os padrões de crescimento benig- tuação (escore), no qual ão levados em conside-
no e maligno é determinada pelo aspecto global ração 4 parâmetros: assimetria (0-2), interrupção
da lesão e por sua análise detalhada levando em abrupta das bordas (0-8), número de cores (1-6) e

Tabela 7.2 O Padrões globais

Padrão global I Definição I Significado diagnóstico


Reticular Rede pigmentada presente na maior par te da lesão Nevo melanocít ico
Globular Numerosas estruturas ovais ou arred ondadas. de t amanhos Nevo melanocítico
variados e tonalidade acastanhada , cinza ou preta

Pedras de Estruturas em formato de glóbulos grandes. agregados Nevo intr adérmico


calçamento e de certa forma angulados semelhantes às pedr as de
calçamento

Homogêneo Pigmentação acastanhada , cinza-azulada ou Nevo azu l


preta-acinzentada , difusa , na ausência de outros critérios
locais específicos

Explosão de Estrias pigmentadas em arr anjo r adial na periferia da lesão Nevo de Reed/Spitz
estrelas

Paralelo Pigmentação situada na r egião palmoplantar, distribufda Nevo acral/melanoma


ao longo dos sulcos ou das cristas dos dermatoglifos,
ocasionalmente distribuída de maneira transversal a essas
estruturas

Multicomponentes Combinação de 3 ou mais dos padrões acima descritos Melanoma


In específico Lesão pigmentada que não apresenta nenhum dos padrões Possível melanoma
acima descritos

69
Abordagem Dermatoscópica para as Lesões P igmentadas e M é todos Anal ít icos

Tabela 7 . 3 O Critérios locais

Significado diagnóstico
Rede pigmentada Trama reticular de coloração castanho-clara ou escura, com Lesão melanocítica
típica orifícios pequenos e uniformes e finas linhas, distribuída benigna
de maneira mais ou menos regular por toda a lesão e
geralmente afinando na periferia

Rede pigmentada Trama reticular de coloração castanho-clara ou escura, com Melanoma


atípica orifícios irregulares e linhas espessas

Pontos/glóbulos Estruturas de tamanho variado , formato oval ou Se regulares , lesão


arredondado , de coloração castanho-clara , escura ou preta , melanocítica benigna ; se
distribuídas de maneira regular ou irregular pela lesão irregulares, melanoma

Estrias Projeções bulbosas, digitiformes ou retorcidas , de coloração Se regulares , nevo


castanho-clara , escura ou preta , encontradas na borda da melanocítico benigno
lesão . Podem originar-se da rede pigmentada, porém mais (Reed/Spitz); se
frequentemente não o fazem irregulares , melanoma

Véu cinza-azulado Área irregular sem estruturas de pigmentação azul Melanoma


confluente recoberta por um "filme " branco em fundo de
garrafa . A pigmentação não pode ocupar toda a lesão e
clinicamente corresponde à porção elevada da lesão

Estruturas de Despigmentação com aspecto cicatricial e/ou grânulos em Melanoma


regressão formato de pimenta-do-reino , geralmente correspondendo à
porção clinicamente plana da lesão

Hipopigmentação Áreas com menos pigmento que a pigmentação geral da In específico


lesão

Áreas amorfas Áreas sem estruturas , de cor castanho-clara , escura ou Se simétricas, lesão
preta, e distribuição simétrica ou assimétrica na lesão melanocítica benigna ; se
assimétricas, melanoma

Estruturas Vasos em vírgula Nevo intradérmico


vasculares Vasos em grampo de cabelo Se uniformemente
distribuídos, ceratose
seborreica ; se
irregularmente
distribuídos, considerar
melanoma
Vasos puntiformes Melanoma
Vasos lineares irregulares Melanoma
Vasos e/ ou eritema em estruturas de regressão Melanoma

número de estruturas diferenciadas (1-5) presentes o TPD for superior a 5,45 a lesão é considerada
na lesão. A cada parâmetro é atribuído um peso: altamente suspeita de melanoma. Para a análise dos
1,3, 0,1, 0,5 e 0,5, respectivamente. Com a soma 4 parâmetros envolvidos na regra do ABCD, deve-
dos valores obtidos, encontra-se o total da pontua- mos levar em consideração as seguintes definições
ção dermatoscópica (TPD), que pode variar de 1 a (Tabelas 7.5 e 7.6):
8,90. Qyando o TPD estiver entre 1 e 4,75, a lesão • Assimetria- a lesão melanocítica deve ser divi-
é considerada benigna; quando o TPD estiver entre dida em 2 eixos perpendiculares, orientados de
4,8 e 5,45, a lesão é considerada suspeita e quando forma a produzir a menor assimetria possível,

70
Abordagem Dermatoscó p ica para as Lesões P ig m ent adas e Métodos Anal íticos

Tabela 7 .4 O Critérios de sítios anatômicos específicos

..
Pseudorrede típica Trama reticular com furos arredondados de Lesão melanocítica
tamanhos iguais. correspondendo às aberturas benigna
foliculares preexistentes

Estruturas anulares-granulares Múltiplos pontos cinza-azulados ao redor dos Melanoma


óstios foliculares com aparência anular-granular

Pseudorrede cinza Pigmentação acinzentada ao redor dos óstios Melanoma


foliculares , formada pela confluência das
estruturas anulares-granulares

Estruturas romboidais Pigmentação castanho-acinzentada ao redor dos Melanoma


óstios foliculares com aparência romboidal

Aberturas foliculares Pigmentação anular excêntrica ao redor dos Melanoma


Pigmentadas assimétricas óstios foliculares
..... ..
Padrão paralelo sulcado I Pigmentação distribuída ao longo dos sulcos dos Nevo melanocítico acral
rmatoglifos

Padrão trabecular ou em Pigmentação distribuída ao longo dos sulcos Nevo melanocítico acral
treliça com conexões perpendiculares

Padrão fibrilar Numerosos filamentos de pigmento Nevo melanocítico acral


perpendiculares aos dermatoglifos

Padrão em cristas paralelas Pigmentação alinhada ao longo das cristas Melanoma


superficiais

Tabela 7 . 5 O Regra do ABCO

Critério I
(A] Assimetria Em nenhum, 1 ou 2 eixos perpendiculares , levar em conta o
formato . as cores e estruturas

(8] Bordas abruptas Interrupção abrupta do padrão de pigmentação na periferia em 0-8 0 .1


0-8 segmentos
(C] Cor Presença das cores marrom-claro , marrom-escura , preta , 1-6 0 ,5
cinza-azulada , vermelha e branca
-----------------r--
(0) Estruturas Presença de rede pigmentada , estrias (>2) ramificadas . áreas 1-5 0.5
dermatoscópicas amorfas (> 10 %). pontos (>2) e glóbulos (> 1)

Tabela 7 .6 O Avaliação do total da pontuação dermatoscópica (TPO) pela regra do ABCO

1-4,75
4,75- 5.45 Lesão melanocítica suspeita

>5.45 Lesão altamente suspeita de melanoma

71
Abordagem Dermatoscópica para as Lesões P igmentadas e Métodos Anal íticos

devendo-se levar em conta não apenas o forma- • Cor - 6 cores diferentes podem ser avaliadas:
to, mas também a distribuição das cores e da branco, vermelho, marrom-claro, marrom-escu-
estruturas diferenciadas. Se a lesão for simétrica, ro, azul-acinzentado e preto. O branco só deve
a pontuação será O, caso haja assimetria apenas ser levado em consideração caso a área avaliada
em um dos eixos, será igual a 1 e, se for assimé- seja mai clara que a pele normal circunjacente.
trica em ambos os eixos, a pontuação será igual a Cada cor identificada soma 1 ponto. O valor má-
2 (Figs. 7.3 e 7.4). ximo é 6 e o mínimo é 1 (Fig. 7.7).
• Estruturas diferenciadas - devemos levar em
• Bordas - a lesão melanocítica deve ser dividida
consideração apenas as seguintes estruturas: áre-
em 8 eixos e devemos analisar em quantos seg- as amorfas, rede pigmentar, estrias ramificadas,
mentos a interrupção das bordas da lesão se dá pontos e glóbulos. Sendo que as áreas amorfas
de maneira abrupta, sem que haja um esmaeci- devem ter uma área >10% do total da lesão, os
mento do pigmento em direção à periferia (Figs. pontos e as estrias devem ser mais de 2 e os gló-
7.5 e 7.6). bulos mais que 1 (Fig. 7.8).

-
Fig. 7 .3 O Exemplo de lesão simétrica : A= O. Fig. 7 .4 O Exemplo de assimetria nos 2 eixos : A= 2.

Fig . 7 . 5 o Exemplo de lesão com todas as bordas es- Fig. 7 .6 O Exemplo de lesão com todas as bordas
maecidas: B = O. abruptas: B = B.

72
Abordagem Oermatoscópica para as Lesões Pigmentadas e Métodos Analíticos

Fig. 7. 7 O Notar a presença de 5 cores distintas nesta Fig . 7.8 o Observam-se áreas amorfas, pontos,
imagem dermatoscópica: branco, vermelho, castanho- glóbulos e rede pigmentada periférica . A = Z; B = O;
-claro , castanho-escuro e preto. Melanoma com áreas C= 3; O= 4; TPO = 6 , 1 . Lesão melanocítica altamente
de regressão: A= 2 ; B = 4 ; C= 5 ; O= 4 ; TPD = 7 ,5 . suspeita .

Diversas lesões melanocíticas benignas, quando a regra do ABCD foi desenvolvida para que não
submetidas à análise pela regra do ABCD, podem experts não deixem de diagnosticar o melanoma.
apresentar resultado falso-positivo (TPD>5,45). Em 1999, Kittler et al. sugeriram que fos-
São elas: nevos melanocíticos com padrão globular, se acrescentado mais um parâmetro à regra do
nevos melanocíticos com componente papilomato- ABCD, que seria a letra E, referente a alterações
so, lentiginoso ou congênito, nevo de Sptiz / Reed, estruturais, ou seja, de tamanho, formato, cor, san-
nevo agminado, nevo recorrente e lentigo em pin- gramento e ulceração, relatadas pelo paciente. Se
go de tinta (não melanocítico). Stolz, na segunda positivo, acrescenta-se mais 1,2 no final do TPD.
edição de seu Atlas (2002), propõe que essas lesões Se negativo, subtrai-se menos 0,8 do TPD. Com o
que apresentam o que ele curiosamente chamou de acréscimo desse parâmetro, consegue-se aumentar
padrões especiais sejam identificadas pela análise a especificidade do método para 90%. Nossa opi-
de sua homogeneidade, arquitetura, cor e simetria nião é que isso representa uma correlação clinico-
(CASH), antes de aplicarmos a regra do ABCD. 3 dermatoscópica e não exatamente mais um critério
Na verdade, as lesões não são especiais. Elas a ser avaliado no exame dermatoscópico. 9
são o que sempre foram e continuarão sendo. O
erro está em tentar enquadrar todas as lesões me- Método de Menzies para o diagnóstico
lanocíticas com uma diversidade enorme de apre- do melanoma
sentações em uma regra que leva em conta apenas Foi descrito por Menzies et al., na Austrália,
4 critérios . Contudo, sem dúvida, a regra do ABCD em 1996. 10 Apresenta sensibilidade de 92% e espe-
é um excelente método, com grande reprodutibili- cificidade de 71% para o diagnóstico do melanoma.
dade e de grande auxílio, principalmente para os Para que uma lesão melanocítica seja considerada
iniciantes, com sensibilidade de 96,3o/o e especifi- maligna, ela não deve ter quaisquer dos 2 parâme-
cidade de 70,4% para o diagnóstico do melanoma. tros negativos e deve apresentar pelo menos 1 dos 9
Como em todos os algoritmos em dermatoscopia, parâmetros positivos (Tabela 7.7).

73
Abordagem Oermatoscópica para as Lesões Pigmentadas e Métodos Anal íticos

Tabela 7 . 7 O Método de Menzies para o diagnóstico de melanoma

Achadas negativos I Achados positivas


(não podem ser encontrados) (pelo menos 1 tem de ser encontrado)

Simetria de padrão Véu azul-esbranquiçado

Múltiplos pontos marrons (não glóbulos)

Pseudópodes

1 Estrias radiais
Despigmentação tipo cicatricial
Presença de uma única cor
Glóbulos/pontos pretos periféricos

Múltiplas cores (5-6)

Múltiplos pontos azuis/cinza

Rede alargada

Achados negativos ângulo agudo com as margens tumorais ou nas-


(não podem ser encontrados) cem de extensões lineares ou curvilíneas. Qyan-
Simetria de padrão- o padrão encontrado deve do conectados à rede pigmentar, a espessura da
ser simétrico em todo os eixos a partir do centro terminação bulbar tem que ser maior do que a
da lesão. Não requer que a lesão tenha o formato de qualquer parte da rede pigmentar circunja-
simétrico. cente e, pelo menos, o dobro da espessura da
Cor única - leva em consideração as seguintes projeção da rede com a qual ela está conectada.
cores: preto, cinza, azul, marrom-escuro, marrom- 4. Estrias radiais- extensões digitiformes nas mar-
-claro e vermelho. O branco não é considerado. gens da lesão, que nunca e tão distribuídas de
forma simétrica ou regular ao redor da lesão.
Achados positivos 5. Despigmentação tipo cicatricial- áreas brancas
(pelo menos tem que estar presente) irregulares e bem definidas, que não devem ser
1. Véu azul-esbranquiçado - pigmentação azul confundidas com hipo ou despigmentação de-
confluente recoberta por uma camada opaca, vidas à imples perda de melanina.
com aspecto de "fundo de garrafa' de cor es- 6. Pontos/glóbulos pretos periféricos- encontrados
branquiçada. A pigmentação não pode ocupar nas margens ou perto das margens da lesão.
toda a lesão e não pode estar associada a lagos 7. Múltiplas core -são levadas em consideração
vermelhos/azuis. marrom-claro, marrom-escuro, vermelho, preto,
2. Múltiplos pontos marrons - áreas focai com cinza, azul. O branco não é considerado.
múltiplos pontos marrons (não glóbulos). 8. Múltiplos pontos azuis/cinza- focos de pontos
3. Pseudópodes- projeções nodulares encontradas múltiplo azuis ou cinza, frequentemente descri-
nas margens da lesão, diretamente conectadas tos como padrão de "pimenta-do-reino" (peppe-
ao corpo tumoral ou à rede pigmentada. Não ring).
podem ser vistos distribuídos regular ou sime- 9. Rede pigmentada alargada- é uma rede formada
tricamente ao redor da lesão. Qyando conecta- por cordões irregulare de pigmentação acentua-
dos diretamente ao corpo tumoral, formam um da frequentemente com áreas mai densas.

74
Abordagem Dermatoscópica para as L esõe s P igmentad a s e M étodos A nalíticos

Regra dos 7 pontos • Critérios menores (valor = 1 ponto):


D escrita por Argenziano et al, na Itália, em • Estrias irregulares - radiadas/pseudópodes
1998, com o objetivo de simplificar a clássica aná- • Pigmentação irregular
lise de padrões.11 Apresenta como van tagens o fato
• Pontos e/ou glóbulos irregulares
de possuir um número pequeno de estruturas a
• Áreas de regressão
serem identificadas e de ser um método de diag-
nóstico por meio de um sistema de pontuação (es-
core). A capacidade de cada critério de aumentar Lista dos 3 pontos dermatoscópicos
a probabilidade da lesão em questão se tratar de D escrita por Soyer et al, em 2004, com o objetivo
um melanoma foi estipulada mediante um cálculo de difundir a dermatoscopia entre os não experts e rati-
de análise multivariada. Foram atribuídos 2 pontos ficada em estudo multicêntrico conduzido via internet,
aos 3 critérios da regra dos 7 pontos que apresenta- em 2006. Apresenta sensibilidade de 91% e especifici-
ram odds ratio >5 - critérios maiores. E aos outros 4 dade de 71,9% para o diagnóstico do melanoma. Leva
critérios, que apresentaram odds ratio <5, foi atribu- em consideração a identificação de apenas 3 estruturas
ído 1 ponto- critérios menores. A lesão melanocí- dermatoscópicas: assimetria, rede pigmentada atípica,
tica é considerada maligna quando o escore for estruturas azul-esbranquiçadas. A presença de 2 ou 3
e benigna quando o escore for <3. Apresenta sen- critérios indica biópsia (Tabela 7.9).12·13
sibilidade de 95% e especificidade de 75% para o
diagnóstico do melanoma (Tabela 7.8).
Teste das 3 cores
• Critérios maiores (valor = 2 pontos):
MacK.ie et ai., em 2002, relataram a utilização
• Rede pigmentar atípica do dermatoscópio manual, no contexto de um am-
• Véu azul-esbranquiçado bulatório especializado em lesões pigmentadas na
• Padrão vascular atípico Escócia, com a intenção de diferenciar os melanomas

Tabela 7 .8 O Regra dos sete pont os

Critério Definição Pontuação*


Rede pigmentar Rede de coloração preta, marrom ou cinza , com furos irregulares e 2
atípica trama espessa

Véu Área irregular sem estruturas de pigmentação azul confluente recoberta 2


azul-esbranquiçado por um "filme" branco em fundo de garrafa. A pigmentação não pode
ocupar toda a lesão e clinicamente corresponde a porção elevada da lesão

Padrão vascular Vasos lineares irregulares ou puntiformes não encontrados em 2


atípico estruturas de regressão

Estrias irregulares Projeções digitiformes ou bulbosas, marrons ou pretas, irregularmente 1


distribuídas nas bordas da lesão . Podem originar-se da rede
pigmentada , porém mais frequentemente não o fazem

Áreas amorfas Áreas pigmentadas de coloração preta , marrom e/ou cinza , com 1
irregulares distribuição irregular pela lesão

Pontos e glóbulos Estruturas arredondadas de coloração amarronzada , preta ou azul , de 1


irregulares tamanho variado , distribuídas de maneira irregular pela lesão

Estruturas de Áreas brancas de aspecto cicatricial e/ou grânulos [peppering) , 1


regressão geralmente correspondendo à área plana da lesão
*Pontuação 2:3 = lesão maligna: pontuação <3 = lesão ben1gna

75
A bordagem Dermatoscóp ica para as Lesões P igmentadas e Métodos A nalíticos

Tabela 7 .9 D Lista dos 3 pontos dermatoscópicos

Critério I Definição I Pontuação*


Assimetria Assimetria de cores e est r uturas em 1 ou 2 eixos 1
perpendiculares

Rede pigmentada atípica Rede de pigmento com orifícios irregular es e linhas espessas 1

Estruturas azul-esbr anquiçadas Qualquer t ipo de color ação azulada , branca ou ambas 1
• A presença de 2 ou 3 critér1os indica lesão suspeita.

em fase inicial, que necessitam de excisão cirúrgica, de 51% na detecção de melanomas versus nevas
de lesões pigmentadas não melanoma, que podem melanocíticos, reduzindo a excisão deles à metade
ser acompanhadas sem tratamento. 14 A proposta dos e evitando tanto uma sobrecarga de procedimentos
autores era desenvolver um método confiável que cirúrgicos de pequeno porte, como a morbidade dos
identificasse o melanoma pré-operatoriamente, eli- pacientes.
minando um grande número de pequenos procedi-
mentos cirúrgicos, realizados em lesõe benignas, e Cash (cor, arquitetura, simetria e
que nesse contexto impedem que os verdadeiros me- homogeneidade]
lanomas recebam a necessária atenção mais rapida- D escrito por Henning et a!., em 2007, esse
mente. Todos os pacientes estudados apresentavam novo algoritmo norte-americano apresenta de iné-
lesões melanocíticas que, segundo avaliação clínica dito o fa to de levar em consideração a arquitetura
dermatológica, necessitavam de retirada cirúrgica. A da lesão. Como arquitetura entendem- se a unifor-
característica mais forte na identificação de lesões midade e a distribuição da estru turas dermatoscó-
que subsequentemente mostraram ser melanomas picas e das cores (Tabela 7.10).15
ao exame histopatológico foi a presença de 3 ou mais
cores quando observadas à dermatoscopia. A idade Teste dos 1 O segundos
do paciente, as bordas irregulares e o diâmetro avan- Talvez o mais reproduzível dentre todos os
tajado da lesão contribuíram com pouco valor discri- métodos. Na verdade, é uma técnica jocosamente
minatório adicional. Com o emprego desse simples preconizada por Argenziano. "Qyando o exame
teste das 3 cores ao exame dermatoscópico, os autores dermatoscópico de uma lesão pigmentada exceder
conseguiram sensibilidade de 92% e especificidade o tempo de 10 s, opte pela biópsia."

Tabela 7 .10 D CASH

Critérios I Definição I Pontuação*


Cores Presença das cor es marr om-clara , escura . pr eta, vermelha , azul e 1-6
branca

Desordem arquitetura! Uniformidade e distribu ição das estruturas dermatoscópicas e das G-2
cores - ausente/ leve, moderada e acentuada
Simetria A lesão é dividida em 2 eixos per pendiculares , de forma a G-2
apr esentar a menor assimetria possível

Homo/heter ogeneidade Número de estr uturas dermatoscópicas na lesão: rede 1-7


pigmentada, pontos/ glóbulos, áreas amor fas , regressão, estrias ,
véu ci nza-azulado, vasos polimórficos
•A lesão é considerada maligna caso a pontuação seja 2:8.

76
Abordagem Dermatoscópica para as Lesões Pigmentadas e Métodos Analíticos

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77
CAPÍTULO 8 Lesões
Melanocíticas
Beni gnas

• HISTÓRIA NATURAL composto e intradérmico nas proporções de 6,9%,


DOS NEVOS 89,5% e 3,5%, respectivamente, enquanto no grupo
MELANOCÍTICOS etário de 60--70 anos os porcentuais foram de 0%,
As formações melanocíticas benignas, conhe- 8,6% e 91,4%. Winkelman e Rocha, em 1962, ob-
cidas como nevos, são proliferações circunscritas ou servando 1.200 nevos melanocíticos de 7 décadas,
focais de um tipo diferenciado de célula, conhecido encontraram predominância do nevo juncional na
como célula névica, distinguindo-se do melanóci- primeira década, com significativa baixa proporção
to por localizar-se em ninhos ou aglomerados na na segunda década, após a qual se manteve cons-
camada basal da epiderme ou na derme, não tendo tante nas décadas seguintes. A proporção de nevo
dendritos, com exceção dos nevos azuis. Como os composto foi mais alta na segunda década, dimi-
melanócitos, as células névicas são produtoras de nuindo continuamente a seguir. A incidência de
melanina. nevo dérmico evidenciou aumento constante com
O desenvolvimento do nevo melanocítico a idade. Demonstraram, com relação à localiza-
compreende um processo biológico multifatorial ção, que na cabeça e no pescoço predomina o tipo
e heterogênio que envolve um período pré-natal dérmico (85,4%:88,1 %), nas extremidades predo-
e um pós-natal, evoluindo os nevos como hamar- mina o tipo juncional (63,6:8,1 %) e na genitália e
tomas ou como tumores benignos, congênitos ou nas mucosas, o tipo dérmico mais que o juncional
adquiridos. Desta forma, sofrem a influência do (53,8%:7,7%).
tempo e de fatores genéticos ou constitucionais, Estudos realizados por Winkelmann e cola-
biológicos e ambientais. Clinicamente, podem ser boradores em 1962 não sustentaram a hipótese de
planos, papulosos, em domo, sésseis, tuberosos, ver- que nevos juncionais formam o nevo composto e
rucosos, cerebriformes, nodulares, claros, acrômicos finalmente o nevo intradérmico. Observaram nevos
ou pigmentados. 1· 3 intradérmicos em todas as idades, e a quantidade
Após os trabalhos clássicos de Miescher (1937) de nevos juncionais foi constante após as primeiras
e de Traub (1940-41), distinguiram-se os 3 tipos décadas da vida. 3•4
histológicos, a saber: o juncional, o dérmico ou in- A teoria do "Abtropfung' de Unna (1893) seria,
tradérmico e o composto. A denominação "nevo por décadas, a única explicação possível para a pre-
melanocítico" foi introduzida por Shafer em 1955, sença de células névicas na derme.
substituindo "nevo pigmentado". Acreditava-se que Masson (1951) postulava que as células névicas
o tipo juncional fosse o mais propenso à evolução na derme superior seriam originadas dos melanóci-
para melanoma, enquanto o dérmico o menos pro- tos da epiderme e as na derme inferior, das células
penso. Shuhmachers-Brendler, em uma revisão de de Schwann.
1.552 nevos melanocíticos, verificou que, no grupo Cramer (1984) sugeriu o conceito de "Hochstei-
etário de 0--10 anos, incidem os tipos de junção, gerung", segundo o qual os melanócitos migrariam

79
Lesões Melanocfticas Ben ignas

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A 8 C D E F
Fig. 8.1 D A. Abtropfung, Unna 1893. B. Masson, origem dupla 1951 . C. Cramer, Hochsteigerung , 1984. O.
2004 , migração de células pluripotentes da crista neural, durante a vida fetal. E. Krengel 2005 ,
células pluripotentes que permanecem na protuberância bulbar constituem fonte para a proliferação de células
névicas na derme. F. A localização perianexial das células precursoras pluripotentes corrobora a distribuição cefa-
locaudal dos folículos na fase embrionária e dos nevas na idade adulta. (Krengel S. Nevogenesis - New Thoughts
Regarding a Classical Problem. Am J Dermatopatho/2005 ; 27(5):456-65 .)

da derme para a epiderme, a partir de sua origem Embora em determinada lesão possa haver predo-
na crista neural, ou em uma célula pluripotente que minância de um desses padrões sobre os demais,
poderia ser perineural (1991). ocorre com maior frequência uma combinação
Células pluripotentes da crista neural localiza- entre eles.
das na protuberância de folículos pilosos embrioná- O nevos juncionais observados à dermatosco-
rios (Sieber-Blum et ai., 2004) podem representar pia caracterizam-se pela presença de rede pigmen-
fonte para a proliferação de melanócitos na derme, tada regular que esmaece na periferia, pontos e/ou
que, encontrando madura a membrana basal da pequenos glóbulos castanho-escuros de tamanho
epiderme, permaneceriam na derme e ao redor dos uniforme e regularmente dispostos, principalmente
folículos (Krengel, 2005). na área central da lesão. Áreas de concentração do
A distribuição embriológica cefalocaudal dos pigmento, em geral, situam-se no centro da lesão
folículos pilosos corrobora a distribuição dos nevos (Figs. 8.2 a 8.5).
na idade adulta. Os nevos compostos caracterizam-se frequen-
Misago (2000) e Krengel (2005) sugerem que temente pela presença de áreas sem estrutura devi-
as células névicas na derme reticular originam-se do à ocupação dos e paços da rede por aglomerados
de células precursoras dérmicas, considerando que de células na derme, pigmento regularmente dis-
a migração da junção com a epiderme possa ocorrer tribuído, com esmaecimento na periferia, glóbulos
(Fig. 8.1).3,5,6 castanhos uniformes, regularmente distribuídos,
A questão sobre a evolução da população podendo ser numerosos, predominantes, conferin-
das células névicas, se persistem ou regridem, do à lesão o padrão globular. Pode haver presen-
migram para cima ou para baixo, somente pode ça de rede regular e uniforme em algumas áreas e
ser respondida com a utilização de técnicas não também pontos de despigmentação, muitas vezes
invasivas, como a dermatoscopia e a microscopia central (Figs. 8.3 e 8.4).
confocal. 3 Maize e Foster (1979) e Burgdorf (1998) ana-
lisaram alterações histológicas de regressão e as
Nevo juncional, composto e interpretaram como sendo dependentes da idade.
intradérmico Entretanto, os nevos dérmicos, em geral, tornam-se
Os nevos melanocíticos caracterizam-se à clinicamente evidentes mais tarde no decorrer da
dermatoscopia principalmente pela presença de vida, sendo removidos em uma idade mais avan-
rede pigmentada, glóbulos e áreas sem estrutura. çada.3

ao
Lesões Melanocíticas Benignas

c
Fig . 8 .2 o A. Lesão névica plana . de coloração cas-
tanha , com discreto eritema em halo. localizada na
região dorsal. B. Concentração de pigmento na área
central , presença de pontos escuros e pequenos gló- c
bulos, principalmente no centro. esmaecimento do
pigmento na periferia. observando-se uma tênue rede Fig. 8.3 o A. Lesão castanha , papulosa . com halo
pigmentada abaixo e à direita . Nota-se ainda coloração castanho-claro , localizada no quadrante superior es-
avermelhada de permeio, correspondendo ao eritema. querdo do abdomen . em paciente jovem. B. Padrão
As pequenas áreas esbranquiçadas arredondadas cor- globular, com pigmento uniformemente distribuído, es-
respondem aos anexos cutâneos . (x 10). C. Aumento maecendo na periferia . onde observa-se delicada rede
da quantidade de pigmento na epiderme, ninhos conten- pigmentada. (x 10). C. Acantose irregular com alonga-
do células névicas pigmentadas. localizados na junção mento e espaçamento dos cones interpapilares. pre-
derme-epidérmica , nos cones interpapilares, com a pre- sença de ninhos contendo células névicas e aumento
sença de alongamento e alargamento das cristas epi- de pigmento. As papilas dérmicas encontram-se alar-
dérmicas na periferia . Na derme . notam-se um discre- gadas, repletas de células névicas . principalmente no
to infiltrado inflamatório linfocitário e vasos capilares centro da lesão. Nevo melanocítico composto do tipo
ectasiados. Nevo melanocítico juncional (H &E x 100) . nevo de Miescher (H&E x40).

81
Lesões Melanocíticas Benignas

a c

Fig. 8.4 o A. Lesão nev1ca globosa , de coloração Fig. 8 .5 o A. Lesão nev1ca globosa, de superfície
clara, levemente eritematosa, com grandes glóbulos mamilonada . coloração castanha-escura . B. Grandes
delimitados precariamente por fendas e pseudocome- glóbulos, de tamanho uniforme, coloração castanha-
dões, notando-se área de concentração de pigmento -clara azulada, constituindo a parte exofítica da le-
negro e azulado central. Nota-se a presença de pelos são , em cuja base observa-se coloração castanha ,
na lesão, bem como de pequena área castanha escura sem estrutura , com a presença de vasos em forma
excêntrica (x 1 0). B. Secção histopatológica com epi- de pontos e lineares (x1 0) . C. A epiderme adelgaça-
derme adelgada , emitindo cristas alongadas e hiper- da recobre a lesão proeminente, representada pelas
plasiadas, com ninhos juncionais, notando-se grandes
massas de células névicas, muitas delas contendo
rolhas córneas correspondendo a pseudocistos e fen-
pigmento , ocupando toda a derme papilar alargada
das. A derme papilar encontra-se alargada contendo
(porção exofítica) . Na periferia dessa porção exofítica ,
massas compactas de células névicas, com a presen-
os cones são levemente alongados e discretamente
ça de grande quantidade de pigmento na junção com a
epiderme. A proliferação de células melanocíticas né- pigmentados. Nevo melanocítico intradérmico do t ipo
vicas estende-se à derme adventícia perianexial. Nevo nevo de Unna (H&E x40) .
melanocítico composto do tipo nevo congênito (H&E
x40) .

82
Lesões Melanocíticas Benignas

Os nevos intradérmicos apresentam-se em pigmentação também diminui com a idade. Es-


geral com predomínio de áreas sem estrutura, au- tudos recentes indicam que esse aumento ocorre
sência de rede e glóbulos. São frequentemente de principalmente nas áreas expostas ao sol, sendo
coloração castanho-clara uniforme, podendo ser influenciado pela predisposição biológica in di-
marnilonados ou papilomatosos, com o aspecto de vidual. Com relação à evolução para melanoma,
nevo em tartaruga, devido aos grandes glóbulo importa ainda o número de nevos atípicos em
uniformes, constituídos por massas de células na cada indivíduo. 13
derme, entre prolongamentos das cristas epidér- Em 1976, Clark descreveu o nevos atípicos
micas (Fíg. 8.5A, B, C). São pouco vascularizados, (B-K mole syndrome) em pacientes com melanoma
podendo, no entanto, conter algumas telangiecta- familiar. Os nevos melanocíticos atípicos (ou dis-
sias, com vasos curtos, em vírgula, em quantidade plásicos) correspondem aos nevos adquiridos be-
muito menor do que os carcinomas basocelulares nignos com alterações que podem ser encontradas
e os melanomas. 7- 10 também em lesões de melanoma, como assimetria
Bolognia et ai., em 1994, chamaram a atenção morfológica e de coloração, correspondendo à dis-
para o fato de que "pequenos pontos escuros" den- plasia ou à desorganização da arquitetura histoló-
tro de nevos melanocíticos devem ser submetidos a gica.
exame histopatológico para afastar a possibilidade Os nevos de Clark apresentam atipia citoló-
do desenvolvimento de melanomas a partir desses gica variável, porém, em geral, discreta, de células
focos de hiperpigmentação (Fíg. 8.4).u melanocíticas distribuídas na junção dermoepidér-
Braun et ai. descreveram, em 2000, o sinal da mica, associada à alteração da arquitetura habitual
báscula (ou do balanço), que ocorre nos nevos me- dos ninhos juncionais e intradérmicos de células
lanocíticos com componente dérmico (nevo com- melanocíticas névicas. Infiltrado linfoide e fibro-
posto e intradérmico), os quais, tendo consistência plasia estão presentes em maior ou menor grau
macia, podem ser deslocado lateralmente com o na derme superficial. Assim sendo, a semelham-
movimento do dermatoscópio, paralelo à superfície -se morfologicamente, com intensidade variável, a
cutânea. Os nevos juncionais e lentigos não se mo- lesões malignas, embora sejam lesões benignas. É
vimentam, pois não possuem componente dérmico. consenso que originariam melanomas com maior
As ceratoses seborreicas também não se deslocam, frequência do que os nevos melanocíticos ditos
pois seu componente papular, epidérmico, não pode comun . 1.3
se deslocar da superfície da lesão. 12 Esse procedi- Os aspectos dermatoscópicos fundamentais
mento ajuda no diagnóstico diferencial, uma vez dos nevos de Clark são: pigmentação irregular e
que alguns nevos papilomatosos podem apresentar assimétrica, rede irregular, distribuição irregular
pseudocomedões e pseudocistos córneos. de glóbulos, bordas irregulares e esmaecidas (Fíg.
8.6). Apesar do aspecto global de pigmentação
Nevo de Clark (nevo displásico, irregular e as imétrica, não se observam nos ne-
nevo atípico) vo de Clark o principais achados característicos
Os nevos melanocíticos adquiridos comuns dos melanomas: pseudópodes/estrias radiadas
(ou benignos) aparecem após os 6 primeiros me- na periferia das lesões, véu azul-esbranquiçado e
ses de vida, aumentam em número durante a in- pontos marron múltiplos. É a falta desses ele-
fância e a adolescência, atingindo o pico na tercei- mentos estruturais que vai favorecer o diagnós-
ra década da vida e diminuindo gradativamente tico de lesão benigna. Em linguagem simples,
após a quarta década. Nas idades mais avançadas, "vemos muita coi a sem, contudo, ver tudo que é
ocorre uma diminuição no número das lesões e a preciso".

83
Lesões Melanocíticas Benignas

Fig. 8.6 O Exame dermatoscópico de nevo de Clark


evidenciando acentuada concentração de pigmento
na área central da lesão , de forma e distribuição ir-
regulares e assimétricas , com esmaecimento na pe-
riferia, onde se observam , no pala inferior da lesão ,
estrias ramificadas e pequena área de rede pigmen-
tada (x 10) TOP= 5 ,8.

8
Hoffmann-Wellenhof et al. propuseram, em
2001, uma classificação dermatoscópica para esses
nevas, baseada em estudos morfológicos de 829 le-
sões, em 23 pacientes, sendo separados em 6 tipos
dermatoscópicos: reticular, com predomínio da c
rede pigmentada (Fig. 8.7); globular, com numero-
sos glóbulos ou pontos (Fig. 8.8); homogêneo, com Fig. 8. 7 o Nevo Melanocítico Juncional do tipo nevo
de Clark. Padrão reticular. A. Lesão névica papulosa ,
pigmentação castanha homogênea (Fig. 8.9); reti- de coloração eritematosa, com hipercromia central ,
cular-globular, com rede pigmentada e acima de 3 localizada na região dorsal, à esquerda . B. Numerosos
glóbulos ou pontos (Fig. 8.10); reticular-homogê- glóbulos, de tamanho regular, apresentando-se mais hi-
percrômicos e aglomerados no centro da lesão . Nota-
neo, com rede pigmentada e pigmentação homo- -se ainda área amorfa de coloração castanho-escura .
gênea castanha em pelo menos 1/4 da lesão (Fig. Na periferia , observa-se área de eritema, com nume-
8.11), e globular-homogêneo, com pelo menos 3 rosos pequenos pontos vermelhos e padrão vascular
linear (x 10) TPO = 5, 3 . C. À esquerda da foto , cor-
glóbulos ou pontos e pigmentação homogênea em respondendo à parte central da lesão , observa-se epi-
pelo menos 1/4 da lesão (Fig. 8.12). Descreveram, derme retificada sob a qual se nota densa proliferação
de células melanocíticas pigmentadas (área amorfa) .
ainda, o tipo não classificado, com ausência de pa-
No centro, os cones interpapilares são proeminentes
drão específico (Fig. 8.13). A seguir, os nevas de e há ninhos de células melanocíticas de tamanho va-
Clark foram classificados quanto à pigmentação: riável na junção dermoepidérmica e derme papilar. À
direita, alguns ninhos de células melanocíticas também
hiperpigmentação central, área escura no centro podem ser observados. Nevo melanocítico composto ,
da lesão, circundada por área mais clara (Fig. 8.14); tipo nevo de Clark (H&E x40).

B4
Lesões Melanocíticas Benignas

em , r r' 'I '' 'r I' rI, li I I , I, ' rI ,


1
''''I
s'PEc. _ ..... 2 3
A

Fig. 8 .8 O Nevo Melanocítico Composto do tipo nevo /


de Clark. Padrão globular. A. Lesão névica papulosa .
de coloração eritematosa , com hipercromia central ,
localizada na região dorsal , à esquerda . B. Numerosos
glóbulos, de tamanho regular, apresentando-se mais hi- c
percrômicos e aglomerados no centro da lesão. Nota-
-se. ainda, área amorfa de coloração castanho-escura . Fig . 8.9 O Nevo Melanocítico Composto do tipo Nevo
Na periferia , observa-se área de eritema , com nume- de Clark. Padrão homogêneo. A. Lesão névica papulo-
rosos pequenos pontos vermelhos e padrão vascular sa . de coloração castanha, localizada na região supra-
linear (x 1 0) TPD = 5 ,3 . C. À esquerda da foto , cor- escapular esquerda , com discreto eritema . B. Padrão
respondendo à parte central da lesão, observa-se epi- homogêneo, com distribuição irregular de pigmento , de
derme retificada sob a qual se nota densa proliferação coloração castanha , com erítema subjacente mais evi-
de células melanocíticas pigmentadas (área amorfa) . dente na periferia . Notam-se agrupamento de pontos e
No centro, os cones interpapilares são proeminentes pequenos glóbulos no centro da lesão (x1 0) TPD = 4 ,8 .
e há ninhos de células melanocíticas de tamanho va- C. Cones interpapilares alongados e derme papilar
riável na junção dermoepidérmica e derme papilar. À ocupada por densa proliferação melanocítica . As cé-
direita . alguns ninhos de células melanocíticas também lulas mais próximas da epiderme contêm abundante
podem ser observados. Nevo melanocítico composto , pigmento melânico. Nevo melanocítico composto , tipo
tipo nevo de Clark (H&E x40) . nevo de Clark (H&E x40).

as
Lesões Melanocíticas Benignas

c
Fig . 8 .10 o Nevo Melanocítico Composto do tipo nevo c·
de Clark. Padrão reticular-globular. A. Lesão discreta-
mente elevada , de coloração castanha , localizada na Fig. 8 .11 o Nevo Melanocítico Composto do tipo
base do hemitórax esquerdo, região dorsal. B. Glóbu- nevo de Clark. Padrão reticular-homogêneo . A. Lesão
los agrupados na área central , com rede pigmentada pigmentada castanha-escura , papulosa , no
que esmaece na periferia. A distribuição de pigmento , quadrante inferior direito do abdomen . B. Area cen-
de coloração castanha , é regular, com área mais clara tral homogênea , com alguns pontos escuros e a rede
no centro devido à hiperceratose . Notam-se também pigmentada , de coloração castanha-escura regular,
alguns pontos escuros distribuídos ao redor dos gló- esmaece na periferia (x 10) TPD = 4 ,5 . C. Epiderme
bulos (x 1 0) TPD = 5 ,0 . C. À direita , corresponden- adelgaçada com alongamento dos cones interpapilares
do ao centro da lesão , observa-se hiperceratose com e ocupação da junção dermoepidérmica e da derme
formação de pequenas rolhas córneas e acentuado papilar por densa proliferação de células melanocíti-
alongamento dos cones interpapilares em relação com cas névicas. Nevo melanocítico composto , tipo nevo de
proliferações melanocíticas juncional e intradérmica . Clark [H&E x40).
À esquerda , notam-se a persistência do componente
juncional e o desaparecimento do componente intra-
dérmico ("ombro"). Nevo melanocítico composto , t ipo
nevo de Clark [H&E x40).

as
Lesões Melanocíticas Benignas

A c
Fig. 8.12 O Nevo Melanocítico Composto do tipo nevo de Clark. Padrão globular-homogêneo . A. Lesão névica
papulosa, acastanhada , eritematosa , com hipercromia central , localizada na região anterior do tórax . 8. Nume-
rosos glóbulos distribuídos uniformemente e áreas de pigmentação castanha homogênea, eritematosa, em parte
da lesão . A área esbranquiçada periférica é compatível com regressão (x10) TPD = 6 ,6 . C. Na epiderme há
hiperceratose, alongamento e alargamento dos cones interpapilares que albergam ninhos juncionais. A derme pa-
pilar encontra-se alargada e ocupada por grandes ninhos de células névicas contendo pigmento e foco de reação
inflamatória mononuclear. Nevo melanocítico composto , tipo nevo de Clark (H&E x40).

Fig. 8.13 O Nevo Melanocí-


tico padrão não classificado ,
ausência de padrão específi-
co . A. Lesão névica papulosa ,
clara , na região infraescapu-
lar esquerda . 8 . Padrão sem
estrutura , pouca quantidade ti
de pigmento com agrupa-
mento central (x 1 0). B

hiperpigmentação excêntrica periférica, área hi- hiperpigmentação e hipopigmentação multifo-


perpigmentada alcançando uma parte da borda da cal, distribuição fragmentada, irregular, de áreas
lesão (Fi.g. 8.15); hipopigmentação central, área de hiper e hipopigmentação (Fi.g. 8.18). Analisan-
hipopigmentada central circundada por áreas mais do a classificação dermatoscópica de Hofmann-
escuras da lesão (Fi.g. 8.16); hipopigmentação ex- -Wellenhof et al., utilizando a regra do ABCD da
cêntrica periférica, área de hipopigmentação al- dermatoscopia, Stolz e colaboradores demonstra-
cançando uma parte da borda da lesão (Fig. 8 .17); ram que o TPD dessas lesões é variável e que esse

87
Lesões Melanocíticas Ben ignas

índice deve ser o parâmentro para orientar a con- dos nevos melanocíticos adquiridos, acrescentan-
duta a ser adotada.7 do a distribuição de pigmento classificada como
Recentemente, esses mesmos autores e Zalau- uniforme, e as correlacionaram com faixas etárias
dek publicaram essa classificação dermatoscópica de ü-15, 16-30, 31-45, 46-60 e acima de 60 anos,

c Fig. 8 .15 o Nevo Melanocítico Juncional do tipo nevo


de Clark com hiperpigmentação excêntrica periférica .
Fig. 8.14 o Nevo Melanocítico Composto do tipo nevo A. Lesão névica de coloração castanha. bordas irregu-
de Clark com hiperpigmentação central. A. Lesão pa- lares. com pigmentação excêntrica , localizada no tron-
pulosa, castanho-escura , localizada na região dorsal. co . B. Hiperpigmentação excêntrica na borda da lesão .
B. Nota-se área amorfa de pigmento denso na região Rede pigmentada irregular que esmaece na periferia ,
central e rede pigmentada que esmaece na periferia distribuição de pigmento irregular (x10) TPO = 4 ,6 . C.
(x10) TPO = 4 ,5 . C. Cones interpapilares alongados e Proliferação de células melanocíticas pigmentadas de
alargados contendo ninhos confluentes de células me- forma contínua ao longo da junção dermoepidérmica e
lanocíticas hiperpigmentadas. Na derme papilar há rea- confluência entre alguns cones (H&E x40). O. Detalhe
ção inflamatória com melanófagos e ninhos esparsos da distribuição assimétrica da proliferação melanociti-
de células melanocíticas névicas pigmentadas. Nevo ca . Nevo melanocítico juncional do tipo nevo de Clark
melanocítico composto , tipo nevo de Clark (H&E x40) . (H&E x100).

BB
Lesões Melanocíticas Ben ignas

Fig. 8.16 O Nevo Melanocítico padrão de hipopigmen- Fig. 8 .17 O Nevo Melanocítico Juncional do tipo nevo
tação central. A. Lesão névica plana , com área central de Clark com hipopigmentação excêntrica periférica .
hipopigmentada e hiperpigmentação periférica irregu- A. Lesão névica de coloração acastanhada na face an-
lar localizada na região dorsal. B. Área central hipo- terolateral do hemitórax direito. B. Rede pigmentada
pigmentada amorfa , circundada por rede pigmentada uniforme em toda a lesão , concentração de pigmento
proeminente, regular, que esmaece na periferia (x 1 0) excêntrica e áreas de hipocromia na periferia (x 10)
TPO = 3,3 . TPD = 3 ,3 . C. Alongamento irregular dos cones in-
terpapilares com áreas de fusionamento entre eles . A
proliferação melanocitica, assim como a pigmentação
examinando 1.268 nevo melanocíticos em 50 in- melânica , tem distribuição assimétrica na epiderme .
Há reação inflamatória com melanófagos e aumento
divíduos. Verificaram a predominância dos padrões da vascularização na derme papilar. Nevo melanocitico
globulares nas faixas mais jovens e sua diminuição juncional, tipo nevo Clark (H&E x40) .
com o aumento da idade (Fígs. 8.19 e 8.20). Opa-
drão reticular homogêneo aumentou de incidência mais jovens, sem predominância de padrões nas de-
a partir da segunda faixa etária, atingindo o máxi- mais faixas etárias. Esses estudos evidenciaram que
mo após a sexta década (Fíg. 8.21). Qyanto à pig- os nevos melanocíticos representam proliferações
mentação, observaram maior frequência dos padrões melanocíticas cutâneas dinâmicas que evoluem com
uniforme e de hiperpigmentação central nas 2 faixas transformações significativas de acordo com o tem-

89
Lesões Melanocíticas Benignas

Fig. 8 .18 O Nevo Melanocítico Composto do tipo nevo de Clark com hipopigmentação e hiperpigmentação multi-
focal. A. Lesão névica papulosa, de coloração castanha, localizada na região infraescapular esquerda . B. Padrão
global reticular, com áreas de maior concentração de pigmento distribuídas de maneira irregular, entremeadas com
áreas de hipopigmentação (x 10) TPD = 3 ,3 . C. Na epiderme há alongamento e alargamento dos cones interpapila-
res , com ninhos juncionais. À esquerda do corte , as cristas epidérmicas são menores e mais uniformes. Observam-
-se na derme papilar e reticular ninhos de células névicas, principalmente à direita do corte (H&E x40).

po. Um mesmo nevo de padrão globular pode evoluir Zalaudek, Docimo e Argenziano demons-
para reticular e/ou homogêneo (Fi.g. 8.22). Evolução traram ainda que indivíduos com pele do tipo I
do padrão globular para reticular não foi ainda do- possuem predominância de nevas castanho-claros
cumentada. Um exemplo conhecido de transformação com hipopigmentação central, enquanto indiví-
dinâmica é a fileira de glóbulos periféricos, que cons- duos com pele do tipo IV tendem a desenvolver
titui característica dermato cópica de crescimento be- nevas ca tanho-escuros com hiperpigmentação
nigno dos nevas melanocíticos, descrita por Kitler e central (Fig. 8.26). Os nevas em pele dos tipos II e
colaboradores. Esse fenômeno é raramente observado III tendem a possuir tonalidades do castanho-claro
em indivíduos acima dos 20 anos (Fi.g. 8.23). 14- 16 ao castanho-escuro, com pigmentação multifocal. 18
Hofmann-Wellenhof e colaboradores, em 2001, A classificação dos nevas melanocíticos adquiridos
e Zalaudek e colaboradores, em 2006 e 2009, de- é apresentada na Fig. 8.27.
monstraram que a maioria dos indivíduos tende a
possuir um tipo predominante de nevo melanocítico • FATORES GUE
adquirido e que este muda com a idade, representan- INFLUENCIAM O
do um processo dinâmico de evolução. Torna-se, en- DESENVOLVIMENTO
tão, importante que sejam examinadas todas as lesões OU A EVOLUÇÃO DOS
do paciente, para que se possa estabelecer o padrão NEVOS MELANOCÍTICOS
dominante (Fi.g. 8.24). Isso permite que sejam identi- ADGUIRIDOS
ficadas as lesões que se desviam desse padrão (sinal do Modificações, não relacionadas com maligni-
patinho feio ou "ugly duckling sign) (Fi.g. 8.25). 15· 1 dade, muitas vezes de natureza fisiológica, como na

90
Lesões Melanocíticas B enignas

/
... A B
Idade: 2 anos

Idade: 3 anos
D

F
Idade: 9 anos

Fig. 8.19 o Distribuição uniforme de pigmento em jovens.

91
Lesões Melanocíticas Benignas

B
Idade: 18 anos

Idade: 14 anos

Fig. 8 .20 O Distribui-


ção uniforme e padrão
globular em jovens . Idade : 14 anos

92
Lesões Melanocíticas Benignas

A 8
Idade : 22 anos

A
8
Idade : 31 anos

Fig. 8.21 O Padrão reticular homogêneo e reticular a partir da segunda década da vida .

puberdade e na gravidez, ou de natureza iatrogêni- por torção de pedículo. Tais alterações em geral são
ca, como durante administração de corticosteroides temporárias, regredindo no período de 7-10 dias.
e a fototerapia, podem ocorrer com relativa fre- Stanganelli et a/. observaram com maior fre-
quência em nevas melanocíticos (Figs. 8.28 a 8.30). quência rede pigmentada espessa e glóbulos escu-
Podem ainda ocorrer alterações devido a fatores lo- ros em imagens dermatoscópicas de nevas melano-
cais, como doenças bolhosas, exposição solar, foli- cíticos fotografados no verão e no inverno. 38
culite, cistos epidérmicos, cistos foliculares, forma- Hofman-Wellenhof et ai. relataram, em 1997,
ção de abscesso, além de traumatismos localizados que doses suberitematosas de UVB podem ocasio-
que podem ocasionar hemorragias e escoriações, às nar alterações dermatoscópicas em nevas melano-
vezes seguidas de infecção secundária ou trombose cíticos, provavelmente por estimulação dos mela-

93
Lesões Melanocíticas Ben ignas

Idade: 24 anos e 8 meses

Fig. 8 .22 O Evolução das lesões. Padrão globular e reticular globular concomitantes .

Idade: 13 anos

B
Idade: 37 anos

Fig. 8.23 o Fileira de lliil9 I


glóbulos periféricos. D

94
Lesões Melanocíticas Ben ignas

, a b
b

a a

b b

Fig. 8.24 O Padrões que se repetem em um mesmo indivíduo. a. Estrias ramificadas irregulares, rede proemi-
nente , entremeadas por pontos e pequenos glóbulos, área de concentração de pigmento central ou excêntrica.
b. Área amorfa predominante, hipocromia focal múltipla , rede periférica tênue e eritema.

Fig. 8.25 o Sinal do Patinho Feio ("ugly duck/ing sign") : a lesão que se destaca das demais.

95
Lesões Melanocíticas Ben ignas

a b

Fig. 8.26 Cl A. Fototipo claro (I e 11) com tendência à


hipocromia central e a concentrações de pigmento me-
nos intensas. B. Fototipo moreno (111 e IV) com tendên-
cia à concentração de pigmento central e pigmentação
mais densa .

nócitos. Os nevos expostos tornaram-se mais irre-


Critérios morfológicos Distribuição de pigmento
gulares e mais escuros, com aumento de glóbulos e
• Globular • Uniforme
da espessura da rede. 39
• Globular-reticular • Hiperpigmentação
Em nossa casuística brasileira, observamos ati- • Globular-homogêneo Central
pia em nevos melanocíticos expostos ao sol durante • Reticular • Hipopigmentação
as férias de verão, tanto ao exame dermatoscópico Central
• Reticular-homogêneo
quanto à histopatologia (Fig. 8.31). • Hiper/Hipopigmentação
• Homogêneo
Multifocal
• Hiper/Hipopigmentação
Fatores genéticos Periférica

Indivíduos do sexo masculino geralmente de- Fig . 8.27 Cl Classificação dermatoscópica dos nevas
melanocíticos adquir idos.
senvolvem maior número de nevos, independen-
temente de outros fatores; meninas tendem a pos-
suir mais nevos nos membros e rapazes, no tronco;
a quantidade de nevos nas crianças correlaciona-se divíduos de pele clara e cabelo vermelho, tipo I de
muitas vezes com a dos pais; crianças com pele cla- Fitzpatrick, que podem ter menor tendência a de-
ra, cabelos e olhos claros e efélides, com tendência senvolver nevos. O maior número de nevos pode ser
a queimaduras solares, possuem maior tendência a esperado em indivíduos de pele do tipo li com eféli-
maior número de nevos. Há, entretanto, alguns in- des e cujos pais possuem alto número de nevos.

96
Lesões Melanocíticas Benignas

Aos 18 anos Aos 30 anos

c D

Aos 35 anos

Aos 30 anos

G H

Fa

Fig. 8.28 O Evolução dos nevas melanocíticos adquiridos com a idade . A·B , E-F. O grupamento de lesões névicas
observado em (A) e a lesão observada em (8) evoluem em um período de 12 anos com aumento em número de
lesões na área de (A) evidenciada na figura (E) e com aumento da pigmentação e progressão para nevo eczemato-
so na lesão (8) mostrada novamente em (F) com detalhe abaixo (Fa). C-0, G-H . Em cinco anos, a lesão mostrada
em (C) & (0) permanece estável , apenas com diminuição na intensidade da pigmentação, evidenciada em (G) &
(H). O paciente, consciente de sua característica de possuir pele clara e múltiplos nevas atípicos, protege-se de
exposições solares.

Fatores ambientais o aparecimento natural dos nevos, inclusive sua


A exposição ao ultravioleta exerce influência evolução, em sentido bidirecional, inclusive com a
inquestionável, havendo associação entre queima- diminuição de tamanho e até mesmo a regressão de
duras solares, particularmente antes dos 20 anos de algumas lesões (Figs. 8.32 a 8.34). 1·3
idade, bem como entre a exposição moderada nos Outros fatores que influenciam o desenvolvi-
3 primeiros anos de vida e maior número de nevos. mento dos nevos, principalmente na infância e na
Enquanto as alterações provocadas por uma expo- adolescência, são: comprometimento cutâneo por
sição solar esporádica pode regredir em semanas, processos bolhosos: necrólise epidérmica tóxica;
a exposição solar intensa e repetida pode acelerar epidermólise bolhosa juncional, recessiva, distrófi-

97
Lesões Melanocíticas Ben ignas

Aos 18 anos Aos 30 anos Aos 35 anos

A1 81 C1

Fig . 8 .29 o Evolução dos nevas melanocíticos adquiridos com a idade . A, A1, B, 81 e C, C1 . Evolução da
mesma lesão, dos 18 aos 35 anos, a partir do padrão globular reticular para o reticular homogêneo, com clarea-
mento da pigmentação .

ca, simples; penfigoide bolhoso da infância: nevos Em 1948, Sophie Spitz descreveu pela primei-
eruptivos; processos esclerosantes -líquen esclero- ra vez as características das lesões que denominou
so: nevos atípicos; imunossupressão sistêmica- ne- melanomas juvenis: (1) paraceratose e acantose; (2)
vos eruptivos, atípicos e acrais; doenças associadas a presença de células grandes acidofílicas pigmenta-
aumento de hormônios (hormônio do crescimento, das contendo núcleo vesiculoso ou células fusifor-
da tireoide); doença de Addison; gravidez - au- mes; (3) presença de células gigantes mono ou mul-
mento de tamanho e nevos eruptivos. Meses após o tinucleadas, com citoplasma acidofílico redondo ou
período da gravidez, as alterações dos nevos podem oval; (4) figuras de mitose ocasionais; (5) pigmento
regredir. Outras condições são a dermatite atópica, localizado principalmente na superfície da lesão;
em que há diminuição na densidade de nevos, e a (6) infiltrado inflamatório; (7) edema intersticial e
febre pós-operatória, com nevos eruptivos. 1 (8) ectasia vascular. 12·13
Helwig, em 1954, propôs a designação de nevo
Nevo de Spitz e nevo de Reed de células fusiformes, adotada por Kernen e Acker-
Em 1910, Darier e Civatte descreveram o caso man, em 1960, em conjunto com a denominação
de um bebê de 8 meses de idade com um nódu- nevo de células epitelioides. Em 1967, o Pathology
lo vermelho, de crescimento rápido, localizado no Committee of the Qyeensland Melanoma Project,
nariz, que evoluía de forma benigna, mas possuía presidido por McGovern, publicou a nomenclatura
aspectos histopatológicos semelhantes aos do me- e a classificação para nevos e melanomas, recomen-
lanoma.12 dando o nome de nevo de Spitz. Em 1978, Pania-

98
Lesões Melanocíticas Benignas

c o

Fig . 8.30 O Nevo melanocítico intradérmico do tipo nevo congênito em paciente grávida (28& semana) com
crescimento e escurecimento. A, B. Lesão névica pigmentada , globosa , no abdomen de paciente grávida com
história de crescimento (elevação) e escurecimento da lesão desde o segundo trimestre gestacional. C. Glóbulos
de tamanho médio a grande, agrupados, com pigmentação castanha-escura a cinza-azulada, e despigmentados.
Notar pseudocomedões em distribuição irregular (x 10] TPD = 5 ,9 . D. A histopatologia evidencia alongamento e
hiperplasia dos cones interpapilares no centro da lesão, com aumento da quantidade de pigmento na epiderme.
A derme papilar encontra-se alargada e ocupada por massas de células névicas contendo grande quantidade de
pigmento. As células névicas estendem-se difusamente por toda a derme reticular superior e derme adventícia
perianexial. Nevo melanocítico intradérmico, tipo nevo congênito (H&E x40).

go-Pereira, Maize e Ackerman publicaram uma Podem ser reconhecidos 5 padrõe globais der-
classificação histológica do nevo de Spitz, identifi- matoscópicos do nevo de Reed: (1) padrão globu-
cando os tipos composto, dérmico e juncional, sen- loso - o centro pode ser mais claro ou escuro, os
do ainda descrito o tipo desmoplásico. Ll,u glóbulo são uniforme , a lesão pode ter aspecto
O nevo de células fusiformes pigmentado, ou em grão de café; (2) explosão de estrelas - o cen-
nevo de Reed, descrito como variante do nevo tro pode ser claro ou escuro, glóbulos na periferia,
de Spitz, em 1975, por Reed et ai., teve suas ca- na extremidade de estrias radiadas curtas; (3) re-
racterísticas clínicas e histopatológicas analisa- ticular- rede pigmentada regular na periferia; (4)
das em extensa casuística por Sagebiel et ai., em homogêneo- emelhante a um nevo melanocítico
1984.2·13 •14 Apenas essas formas pigmentadas do intradérmico, com áreas sem estrutura, podendo ter
nevo de células fusiformes (ou nevo de Reed) glóbulos centrais ou regularmente distribuídos; (5)
podem ser adequadamente identificadas à der- atípico- associação de áreas sem estrutura, glóbu-
matoscopia. los e estrias ramificadas em seu interior. As estrias

99
Lesões Melanocíticas Benignas

o
Fig. 8.31 O A. Nevo melanocítico composto do tipo congênito após exposição solar. A lesão se destaca das
demais na região dorsal, com eritema em halo e hipercromia. 8 , C. Lesão névica localizada na região inter-
escapulovertebral direita, castanha-escura , com halo de eritema. O paciente relatava exposição solar há dois
meses. D. Observa-se concentração de pigmento na área central da lesão, de forma irregular, com aglomera-
dos de coloração cinza-azulada , glóbulos maiores no centro , bordas de coloração castanha-clara e eritematosa.
com esmaecimento periférico . Há pontos vermelhos e vasos lineares na periferia da lesão. A pele circunjacente
apresenta-se clara com telangiectasias. notando-se. ainda, lesões lentiginosas com rede pigmentada fina (lentigos
solares) (x 10) TPD = 3 ,5 . E. Epiderme parcialmente retificada, com pequeno componente de ninhos juncionais de
células melanocíticas. A derme superior é ocupada de forma difusa por grandes ninhos de células melanocíticas
dérmicas pigmentadas. Nevo melanocítico composto, tipo nevo congênito [H&E x40).

ramificadas devem ser regulares e não devem avan- -acinzentada, amorfa ou esboçando padrão reti-
çar para a pele normal, quando presentes (Figs. 8.35 cular. Nino e colaboradores, em 2009, relataram o
a 8.41).5,15 monitoramento dermatoscópico de 8 casos, a cada
Em 2007, Argenziano e colaboradores relata- 6 meses, até 7 anos, ocorrendo a evolução do pa-
ram o acompanhamento de 2 casos de nevo de Reed drão de explosão de estrelas para o reticular até a
com padrão típico globular de explosão de estrelas, regressão total.
evoluindo com remissão espontânea. Em ambos os Embora o acompanhamento clínico e derma-
casos, ocorreu desaparecimento do padrão globular, toscópico possa representar uma opção de conduta
com diminuição do número e do tamanho dos gló- para muitos autores, principalmente em crianças
bulos, permanecendo uma pigmentação castanho- com lesões estáveis, a remoção cirúrgica tem sido

100
Lesões Melanocíticas Benignas

B c
Idade: 30 anos

D E

Lesão protegida por roupa


Fig. 8.32 O Nevas Melanocíticos no tronco após várias exposições solares e queimadura de 11 grau (com bolhas).
A. Lesões pigmentadas na região dorsal, após exposição solar intensa com queimadura e bolhas (sic). em pa-
ciente feminina de 30 anos de idade . B. Padrão de área amorfa, com distribuição irregular de pigmento, bordas
esmaecidas, assimetria em dois eixos. TPO = 4,1 [x 10). C. Padrão inespecífico , com áreas amorfas irregulares,
de coloração castanha, preta , esbranquiçada, presença de pontos enegrecidos esparsos e véu cinza-azulado
discreto no centro da lesão, assimetria em dois eixos. TPO = 5,7 (x10). D, E. Lesão névica lentiginosa protegida
pela alça da roupa de banho, com aspecto simétrico de rede pigmentada regular.

recomendada, principalmente para as lesões clas- acrômico surge ao redor de uma lesão névica que
ificadas como "atípicas", dadas a incerteza e a di- pode ser de qualquer um dos tipos de nevas descri-
ficuldade no diagnóstico e no acompanhamento tos anteriormente, sendo que reações semelhantes,
desses casos. 19' 24 com halo leucodérmico, podem ocorrer ainda em
torno de melanomas primários ou metastáticos. 3 O
Nevo de Sutton infiltrado inflamatório é denso, da derme reticular
A formação do halo observado clinicamente é até a junção com a epiderme, predominantemen-
um fenômeno decorrente de extensa reação infla- te linfocitário. A lesão névica central pode sofrer
matória que pode ocorrer em uma lesão melanocí- eritema e descamação, evoluindo para a regressão
tica, geralmente acarretando sua regressão ou desa- em um período de meses ou anos, ocorrendo gra-
parecimento. O fenômeno é atribuído a um proces- dualmente a repigmentação do halo acrôrnico. Em
so imune em resposta a antígenos névicos. 1•25 alguns casos de nevo de Sutton, o exame histológi-
O tipo mais comum de formação de halo é re- co pode não evidenciar reação inflamatória. Nesses
presentado pelo nevo de Sutton, no qual um halo casos, em geral, o nevo não sofre regressão. Outras

101
Lesões Melanocfticas Benignas

Fig. 8.33 O Após um ano e oito meses e novas exposições solares, as mesmas lesões 8 & C da figura anterior.
A. Após um ano e oito meses e frequentes exposições solares, a paciente notou sangramento em uma das lesões
da região dorsal. Observa-se a modificação do aspecto das mesmas lesões descritas anteriormente como (A) e
(8 ), respectivamente. B. Padrão reticular homogêneo , com distribuição irregular de pigmento castanho, áreas
esbranquiçadas irregularmente distribuídas, bordas esmaecidas. Assimetria em dois eixos. TPD = 5,1 (x 10).
C. Padrão inespecífico, com áreas amorfas, notando-se área esbranquiçada em toda a periferia , área central
com ulceração, eritema e pigmento castanho iregular, com um único glóbulo castanho , centrado por. TPD = 5 ,1
(x1 0). D, E. A lesão lentiginosa protegida pela roupa persiste sem alterações significativas, com rede pigmentada
regular.

lesões podem apresentar-se sem halo hipocrômico, -se em torno de um nevo, havendo ainda uma for-
apenas com a reação inflamatória exuberante (nevo ma análoga denominada nevo em alvo ou eritema
halo sem halo).26 multiforme nevocêntrico, no qual um anel eritema-
Ao exame dermatoscópico, os nevas de Sutton toso circunda um nevo halo (Flgs. 8.42 e 8.43). 26 •27
podem apresentar-se com padrão homogêneo, cen-
tro reticulado, com pontos ou glóbulos aglomera- Nevo congênito
dos no centro da lesão. Ao redor, observa-se o halo Os nevas melanocíticos congênitos surgem
de despigmentação ou hipocrômico. no nascimento ou nos primeiros meses de vida.
Outros tipos de fenômeno halo podem ser cita- São classificados como pequenos ( <1,5 em), mé-
dos, como o nevo de Meyerson (nevo halo eczema), dios (1,5-20 em) e grandes ou gigantes (>20 em;
no qual um halo eritematoso e descamativo forma- em neonatos, >9 em na cabeça e >6 em no corpo).

102
Lesões Melanocíticas Benignas

c
b B

c E

Fig. 8.34 D As mesmas lesões B&C da figura anterior, após um ano , com exposiçoes solares frequentes. A.
Após mais um ano em relação à imagem anterior e novas exposições solares (sic), as mesmas lesões [B) e [C) na
região dorsal podem ser observadas em aparente estado de evolução com maior assimetria de forma e cores (B)
e de hipopigmentação parcial [C). B. Padrão reticular homogêneo, distribuição irregular de pigmento do castanho
ao preto, áreas hipocrômicas irregularmente distribuídas, assimetria em dois eixos. TPD = 5 ,6 [x 10). C. Padrão
reticular com rede de assimetria e área esbranquiçada irregular central , concentrações irregulares de pigmento
abaixo e à direita , bordas esmaecidas, assimetria em dois eixos. TPD = 5 ,1 (x1 0). D, E. A lesão lentiginosa pro-
tegida pela roupa permanece estável em relação à imagem anterior.

Aumentam de tamanho em proporção ao cresci- vertido, sendo estimado em 1% durante a vida. Os


mento da criança, sofrendo alterações de coloração, melanomas tendem a ocorrer após a puberdade e
do castanho ao preto, de bordas geográficas e irre- iniciam-se na junção da epiderme com a derme, ao
gulares, iniciando-se planos, tornando-se elevados, contrário dos grandes nevas. Fernandes e Machado
desenvolvendo pigmentação moteada, superfície chamam a atenção para a frequente multiplicidade
verrucosa ou bocelada, presença de pelos e nódulos dos nevas melanocíticos congênitos pequenos e do
nas lesões grandes. O ri co de melanoma nos ne- aumento do risco de melanoma, maior para a idade
vas grandes varia de acordo com a literatura entre adulta. 1•28
5-10% durante a vida, com aproximadamente me- Os nevas melanocíticos congênitos compreen-
tade desse risco ocorrendo nos primeiros 5 anos de dem um grupo heterogêneo em termos de aspectos
vida. Para os pequenos e médios, esse risco é contra- clínicos, histopatológicos e de prognóstico. Os cri-

103
Lesões Melanocíticas Benignas

..

Idade: 8 anos Idade: 10 anos , sexo feminino

Fig. 8.36 O Nevo de Reed inflamado . A. Lesão papu-


losa castanha-clara eritematosa , com pequena crosta
Sexo feminino hemática, medindo 8 x 6 milímetros, localizada na re-
gião dorsal em paciente de sexo feminino de 1 O anos
de idade, com crescimento rápido . Nega traumatismo
local. B. Padrão homogêneo com bordas esmaecidas,
esboço de rede alargada na periferia, pontos e glóbu-
los no centro da lesão . Crosta hemática recente no
Fig. 8.35 O A. Lesão papulosa , eritematosa acasta- pala superior e à esquerda tornando a lesão assimétri-
nhada, de aparecimento rápido , há meses, na face ca . Nevo de Reed inflamado . TPD= 4 ,1 [x10).
anterior do antebraço de paciente feminina de 8 anos
de idade . B. Pigmento castanho tênue , com pontos
e glóbulos na periferia da lesão, área amorfa central térios para diagnóstico microcoscópico, indepen-
com eritema e pigmento castanho irregular. Lesão de dentemente do tamanho, sugeridos em 1973 por
forma simétrica com bordas esmaecidas, exceto por Mark e colaboradores, seriam: presença de células
acúmulo de pigmento castanho na periferia no pala su-
perior à direita . TPD= 5 ,1 [x10). C. Proliferação de névicas nos 2/3 inferiores da derme reticular e/ou
células melanocíticas de núcleos fusiformes agrupadas no subcutâneo; disposição das células entre feixes
em ninhos bem definidos na junção dermoepidérmica
do colágeno ou em fileiras e envolvimento de ane-
e em ninhos, predominantemente compactos , na der-
me superior. Observa-se ainda a simetria da lesão , xos, filetes nervosos e vasos. Barnhill e Fleischli
com os ninhos na periferia correspondendo aos gló- (1995) demonstraram correlação direta entre o ta-
bulos periféricos na dermatoscopia. Nevo melanocítico
composto com predomínio de células fusiformes , tipo
manho da lesão e a profundidade de infiltração das
nevo de Reed H&E [x40). células névicas. Walton e colaboradores (1976) de-

104
Lesões Melanocíticas Benignas

Idade: 24 anos , sexo feminino

Fig. 8.37 O A. Lesão papulosa castanha na região umbilical, com crescimento rápido em paciente feminina de
24 anos. B. Padrão globular, com glóbulos menores na periferia , bordas esmaecidas, em distribuição centrífuga ,
configurando a "explosão de estrelas". Observam-se ainda estrias curtas ramificadas, pontos e áreas amorfas
de permeio. além de pseudocistos córneos, preservando-se ainda a simetria da lesão . TPD= 2,5 (x 10). C, D.
Epiderme hiperceratósica com pseudocistos córneos, acantose irregular. alargamento dos cones interpapilares
pela presença de ninhos juncionais contendo células névicas pigmentadas, com retração por artefato e células
fusiformes de tamanho regular. Na derme papilar há um discreto infiltrado linfohistiocitário perivascular H&E
[C x40; D x100).

monstraram que os nevos congênitos pequenos não reram antes da puberdade. 30 Nesse trabalho, os au-
apresentavam todos os critérios referidos. Outros tores relataram que os melanomas ocorreram mais
autores, como Clemmensen e Kroon (1988) e Cri- frequentemente na periferia da lesão.
bier, Santinelli e Grosshans (1999), relataram que Em estudo recente, Fernandes e Machado
nevos melanocíticos adquiridos frequentemente concluíram que os nevos melanocíticos congêni-
possuem aspectos histológicos "congênitos", ocor- tos predominam no tronco. Nos casos estudados
rendo, assim, sobreposição de aspectos clínicos e entre 1994 e 2007, os nevos congênitos pequenos
histopatológicos. 3 •29 e médios mantiveram-se inalterados, enquanto 1
Os fatores que influenciam a evolução dos ne- grande e 2 gigantes sofreram clareamento. Ne-
vos adquiridos não estão descritos para os nevos nhum deles evoluiu para melanoma. Qyando o
congênitos, sejam eles pequenos, médios ou gran- posicionamento dos grupos estudados é invertido,
des. Illig etaf., em 1985, chamaram a atenção para como no artigo de Richardson e colaboradores,
o fato de que nevos melanocíticos pequenos podem que estudaram melanoma congênito e infantil,
ser precursores de melanoma, sendo que a incidên- todos os nevos congênitos são considerados pre-
cia não estava relacionada com a profundidade do cursores de melanoma, independentemente do
nevo e em nenhum dos casos os melanomas ocor- tamanho. 29•31

105
Lesões Melanocíticas Benignas

Fig. 8.39 O A. Lesão papulosa, castanha-escura,


medindo 11 mm. localizada na face anterior da perna
esquerda, de paciente do sexo masculino, de 1O anos
de idade, evoluindo há anos, com crescimento rápi-
do em 6 meses. B. Padrão em explosão de estrelas,
globular, com pseudópodes regularmente distribuídos
na periferia, de tamanho uniforme, observando-se ao
centro da lesão área esbranquiçada entremeada por
glóbulos castanhos, correspondendo à hiperceratose
esboçando rede invertida . Há ainda áreas amorfas
enegrecidas e castanhas . Lesão simétrica . TPD = 3,5
(x10). C. Lesão simétrica, epiderme hiperceratósica
Fig. 8.38 o A, B. Paciente do sexo masculino, dois com acantose irregular. cones interpapilares alargados
anos de idade , apresentando lesão enegrecida na face pela presença de numerosos ninhos juncionais de ta-
dorsal do 5Qquirodáctilo esquerdo. Apresentava cres- manho regular, contendo células névicas repletas de
cimento progressivo desde o nascimento . C. Padrão pigmento, orientadas verticalmente . Na derme há um
homogêneo de pigmentação castanha-escura eviden- escasso infiltrado inflamatório linfohistiocitário perivas-
ciando-se alguns glóbulos e pseudocistos.TPO = 3,3 cular H&E (x40) .
(x10). O, E. Epiderme com hiperceratose, acantose ,
hiperplasia dos cones interpapilares, contendo gran-
des ninhos de células névicas pigmentadas, alguns de- por elementos estruturais pigmentados como rede,
les coalescentes na área central da lesão, constituídos
por células fusiformes predominantemente , sem atipia
pontos e glóbulos. A irregularidade de distribuição
significativa . Nevo de Reed [H&E, O x40 e E x 100). do pigmento, com aglomerados excêntricos, muitas
vezes pode acarretar a suspeita de malignidade e
valores elevados de TPD (falsos-positivos). As le-
Os nevos melanocíticos congênitos carac- sões mais papilomatosas e pigmentadas são mais
terizam-se por apresentar à dermatoscopia uma difíceis de serem avaliadas, necessitando de acom-
riqueza de elementos estruturais em meio a uma panhamento evolutivo, tornando-se importantes a
arquitetura pleomórfica. As lesões maiores em ge- história de lesão congênita e o aspecto clinicomor-
ral po uem um fundo claro, despigmentado ou fológico estável. As lesões globosas podem apre-
hipocrômico, multifocal, sem estrutura, em forma sentar aspecto multiglobular em paralelepípedo ou
de uma rede de malhas largas, devido às aberturas dorso de tartaruga. Lesões hiperceratóticas, ver-
foliculares múltiplas, delimitando ilhas constituídas rucosas ou papilomatosas podem ter aspecto que

'106
Lesões Melanocíticas Benignas

Fig. 8 .40 O A. Lesão papulosa enegrecida na face la-


teral esquerda do tórax. B. Padrão global em explosão
de estrelas . Presença de glóbulos castanho-escuros
distribuídos de forma centrífuga e de véu cinza-azulado .
TPD = 3,5 (x 10). C. Epiderme irregularmente acan-
tótica apresentando proliferação de grandes ninhos
de células melanocíticas pigmentadas, com áreas de
confluência, na junção dermoepidérmica . Presença de
reação inflamatória na derme papilar. Nevo de Reed ,
inflamado [H&E x 100).

lembra ceratoses seborreicas com pseudocistos cór-


Fig. 8 .41 D A. Paciente albino, com vários nevas papu-
neos e fissuras contendo ceratina, em meio a ele- losos, eritematosos, sem pigmento, esparsamente dis-
mentos globosos, de coloração castanho-escura ou tribuídos pelo tronco, apresentando lesão hipercrômica
clara (Figs. 8.44 a 8.48). de evolução mais recente , no flanco direito (seta). B.
Padrão global homogêneo. com hipercromia e coales-
cência de glóbulos no centro da lesão, recobertos por
um véu cinza-azulado . Nota-se padrão vascular de múl-
Nevo azul tiplos pontos vermelhos na periferia da lesão . C. Der-
Os nevos azuis caracterizam-se por sua co- matoscopia de um dos nevas sem pigmento, localizado
no epigastro (seta), para demonstrar o padrão vascular
loração homogênea azul-acinzentada, podendo com múltiplos pontos e linhas curtas [x 10). D. Gran-
apresentar-se como pápulas, máculas ou nódulos, des ninhos de células melanocíticas névicas fusiformes ,
de contornos regulares. Três tipos clínicos podem pigmentadas, coalescentes sob epiderme retificada . Na
periferia da lesão há ninhos intraepidérmicos bem defini-
er encontrados: o nevo azul comum, o nevo azul dos. Nevo melanocítico composto , combinando os tipos
celular e o nevo combinado. Reed e Clark [H&E x40).

107
Lesões Melanocíticas Benignas

Fig. 8 .42 O A. Lesão névica castanha eritematosa, na


face, com halo hipocrômico evoluindo há meses (sic).
Fig. 8.43 O A. Lesão nev1ca papulosa, de coloração
B. Padrão de pseudorrede alargada, característica da
castanha , circundada por halo acrômico, localizada na
pele facial, devido às aberturas foliculares . Coloração
região dorsal. B. Presença de rede pigmentada, com
castanha eritematosa difusa, com pontos e glóbulos
concentração focal irregular de pigmento , pontos e gló-
distribuídos irregularmente, porém mais agrupados no
bulos. As bordas esmaecem na periferia, em continuida-
centro da lesão. A rede esmaece na periferia , em con-
de com área hipocrômica irregular. TPD = 4 ,9 (x10).
tinuidade com o halo hipocrômico. TPD = 2,5 (x 10). C.
Epiderme com vários ninhos juncionais contendo célu-
las névicas pigmentadas. A derme mostra-se ocupada
por um intenso infiltrado inflamatório linfohistiocitário . dos pseudópodes e estrias radiais. Às vezes, podem
Nevo de Sutton (H&E x40) .
ser encontradas áreas esbranquiçadas na superfície
da lesão que correspondem à proliferação fibrosa
O nevo azul comum ocorre frequentemente no entre as células do nevo (6). Algumas lesões podem
dorso das mãos e dos pés em forma de um pequeno ter a superfície irregular, apresentando estruturas
nódulo medindo menos de 10 mm. À histopato- lineares ou pseudoestrias (Figs. 8.49 a 8.50).
logia, observam-se numerosos melanócitos fusifor- Qyando o número de fibroblastos e a quantida-
mes agrupados em feixes entre as fibras do coláge- de de colágeno encontram-se muito aumentados no
no na derme reticular, separados da epiderme por nevo azul, alterando a arquitetura do tecido conjun-
uma faixa de tecido conjuntivo normal.26 tivo e a distribuição dos melanócitos, o termo nevo
Ao exame dermatoscópico, o nevo azul comum azul desmoplásico pode ser utilizado. Os aspectos
apresenta-se como uma área azul homogênea, sem dermatoscópicos seguem os mesmos padrões, com
estrutura, com ausência de rede pigmentada, glóbu- aumento das áreas esbranquiçadas (Fig. 8.51).
los e pontos. As bordas em geral são esmaecidas e O nevo azul celular é geralmente maior do que
regulares. É importante notar que não são observa- o nevo azul comum, em geral medindo mais de

108
Lesões Melanocíticas Benignas

Fig. 8.44 o A. Nevo congênito de tamanho médio (3 x 2 em), coloração castanha, superfície rugosa , pilosa ,
localizado na perna esquerda, em paciente jovem . B. Aspecto em rede hipocrômica de malhas largas, contendo
aberturas foliculares , delimitando ilhotas pigmentadas, com a presença de rede , pontos e glóbulos [x1 0).

A 8

Fig. 8.45 o A. Nevo congênito medindo 1,5 em de diâmetro, localizado na face lateral posterior da perna direita ,
de superfície rugosa, coloração castanha-escura , em paciente de 46 anos, sexo feminino . Lesão presente desde
a infância , estável há vários anos. B. Observa-se padrão de multicomponentes evidenciado pela presença de rede
pigmentada uniforme , esmaecendo na periferia, múltiplos glóbulos de coloração variada do castanho-claro ao
cinza-azulado , pequenos, de tamanho uniforme e distribuídos uniformemente pela lesão, em meio a áreas sem
estrutura , esbranquiçadas , com aberturas foliculares e pseudocomedões. TPO = 5 ,3 [x1 0).

10 mm, chegando a 30 mm ou mais. Sua superfí- O nevo combinado corresponde, em geral, à as-
cie pode ser lisa ou irregular e localiza-se frequen- sociação de aspectos histológicos de nevo azul e de
temente na região das nádegas ou sacrococcigea. 3 nevo melanocítico comum sobreposto. A associação
À histopatologia, notam-se agregados compactos pode ocorrer também com nevos de Clark ou de
de células fusiformes e outras ovoides, ocupando a Spitz. 26 Essas lesões podem simular um melanoma
derme inferior, estendendo-se à hipoderme e po- tanto do ponto de vista clínico como histopatoló-
dendo ser circundadas por áreas fibróticas conten- gico e dermatoscópico, necessitando, muitas vezes,
do melanócitos dendríticos e melanófagos. 26 de exérese cirúrgica ou acompanhamento clínico e
Os achados dermatoscópicos são semelhantes dermatoscópico rigoroso. À dermatoscopia, obser-
aos do nevo azul comum, com a maior frequência va-se um componente azul homogêneo associado
de irregularidades na superfície, ocorrendo às vezes a um componente castanho ou castanho-escuro,
presença de pontos e glóbulos (Figs. 8.52 e 8.53). com presença de rede pigmentada, pontos e gló-

109
Lesõ es Melanocít icas Ben ignas

Fig. 8 .47 o A. Nevo congênito hiperpigmentado no


ombro esquerdo , medindo 1 x 0 ,9 em, estável durante
muitos anos. com crescimento lento. B. Padrão glo-
bular uniforme com aspecto em casco de tartaruga ,
presença de glóbulos maiores no centro e menores
na periferia, de pigmentação cinza-azulada no centro e
castanha nas bordas. TPD = 4,3 [x1 0).

bulos que tendem a agrupar-se no centro da lesão.


Qyando a rede pigmentada é irregular e situa-se
na periferia, a lesão assemelha-se a um melanoma
(Figs. 8.54 a 8.56).
Ferrara e colaboradores avaliaram os aspectos
dermatoscópicos de 52 lesões caracterizadas como
nevos azuis e constataram uma variedade de cores,
Fig. 8.4& O A. Lesão névica em paciente de 26 anos, a partir de padrão homogêneo sem estrutura, do
do sexo feminino, medindo 0 ,9 em , estável há anos, azul ao azul-esbranquiçado, castanho, preto e po-
com leve eritema e aumento da pigmentação após ex- licromático. Correlacionando com a histopatologia,
posição solar. B. Glóbulos pigmentados , de colorações
castanho-clara e escura , de vários tamanhos, com ten- verificaram que a maioria das lesões azuis era de
dência a agruparem-se no centro da lesão. Presença nevas azuis comuns; as azuis esbranquiçadas eram
de pontos enegrecidos, área hipopigmentada e pontos
lesões "hipocrômicas", escleróticas, hipomelanóti-
vermelhos de permeio. As bordas esmaecem na perife-
ria. TPD = 5 ,3 (x 10). C. Epiderme adelgaçada , derme cas ou amelanóticas; todas as le ões negras eram
superior e derme adventícia perianexial ocupadas por nevas azuis "compostos"; a maioria das lesões cas-
densa proliferação de células melanocíticas com nítido
alargamento dos espaços papilares. Nevo melanocítico tanhas eram nevas combinados e a maioria das le-
intradérmico, tipo nevo congênito [H&E x40). sões policromáticas era de nevas penetrantes. 32

110
Lesões Melanocíticas Benignas

Oito meses de idade Cinco anos de idade

Fig. 8.48 O A. Paciente do sexo masculino, aos oito meses de idade, com nevo congênito na região lombossacra
à direita. medindo 15 x 8 ,5 centímetros, notando-se pelo menos três tonalidades de coloração castanha, superfície
aveludada ao toque e uniforme. B. Dermatoscopia da região mediai da lesão, com véu esbranquiçado, óstios folicu-
lares esbranquiçados e uniformes. entremeados por pigmento castanho homogêneo e pigmento castanho-escuro
pontilhado também uniformemente distribuído, com áreas de concentração de pigmento esparsamente distribuídas
(x 10). C. Extremidade superior esquerda, próxima à linha média lombar, com áreas esbranquiçadas mescladas por
áreas de concentração de pigmentos irregulares, entremeadas por óstios foliculares , constituíndo um padrão irre-
gular que se repete no quadrante superior esquerdo do nevo (x 10). D. O mesmo paciente aos cinco anos de idade,
com clareamento do nevo, mantendo-se o mesmo aspecto morfológico e de distribuição de cores, em tonalidades
mais claras . Os mesmos pontos foram novamente examinados à dermatoscopia . E. Area correspondente a B, com
clareamento do pigmento castanho homogêneo e desaparecimento do pigmento pontilhado, permanecendo a con-
centração de pigmento em torno dos óstios foliculares, mantendo-se a uniformidade de padrão na área examinada
(x 10). F. Área correspondente a C, com clareamento uniforme, mantendo-se o mesmo padrão anterior (x10).

Nevo recorrente paradoxalmente, evolui mais lentamente, demoran-


Os nevas recorrentes ou persistentes, também do meses ou anos para que ocorra a recidiva. 26•33 •34
denominados pseudomelanomas, são lesões que po- Ao exame histopatológico, observa-se prolife-
dem assemelhar-se ao melanoma tanto no exame ração melanocítica na camada basal da epiderme,
clínico e dermatoscópico, como na histopatologia. com ou sem atipia nuclear de pequeno grau. Os
Ocorrem como uma área de repigmentação que sur- melanócitos estão dispostos irregularmente em ni-
ge semanas após o procedimento cirúrgico, que nhos e isolados, ocasionalmente estendendo-se às
pode ter sido exérese cirúrgica incompleta, excisão camadas superiores da epiderme, que pode apre-
tangencial ou shaving, exérese a laser, eletrocoagula- sentar-se retificada ou com alongamento de cristas.
ção ou cauterização química. Após o aparecimento Na derme, observam-se, com frequência, células
rápido, o pigmento permanece estável na cicatriz. névicas residuais, fibrose cicatricial e um infiltrado
O contrário ocorre no melanoma recorrente, que inflamatório de discreto a moderado, com a presen-
infiltra a pele normal além dos limites da cicatriz e, ça de melanófagos.

111
Lesões Melanocíticas Benignas

A B

Fig. 8.50 o A. Lesão névica de coloração azulada , no-


dular, localizada no dorso da mão direita . B. Padrão ho-
mogêneo , sem estrutura , de coloração cinza-azulada
uniforme , com duas pequenas áreas hipopigmentadas
B
e bordas esmaecidas . TPD = 2 ,8 (x 10). C. Epiderme
retificada e hiperceratótica sobre área de grande pro-
Fig. 8.49 O A. Lesão névica de coloração azulada liferação intradérmica de melanócitos hiperpigmenta-
localizada na face lateral do baço direito . B. Padrão dos de aspecto dendrítico. Na porção central da lesão,
homogêneo , sem rede, destacando-se duas áreas de as células melanocíticas são dissociadas por colágeno
coloração azul e azul-escuro , justapostas, com bordas hialinizado e capilares perpendiculares da superfície
esmaecidas. TPO = 2,5 (x 10). C. Denso aglomerado cutânea . Nevo azul (H&E x40).
de melanócitos fusiformes e hiperpigmentados, dispos-
tos entre os feixes de colágeno da derme reticular.
A epiderme suprajacente apresenta hiperpigmentação Nevo agminado
da basal , que , por sobreposição, confere tonalidade
mais escura à parte da lesão . Nevo azul (H&E x 100).
Os nevos agminados, ou lentigos agminados,
são definidos como um grupamento circunscri-
A dermatoscopia evidencia pigmentação cas- to de lesões maculosas ou papulosas pigmentadas
tanho-escura ou enegrecida, irregular, no interior confinadas a um segmento corpóreo. Muitas vezes
de uma cicatriz, com rede pigmentar irregular e encontram-se sobre um fundo castanho. O termo
atípica. Pontos negros e estrias irregulares são en- agminado ou eruptivo foi originalmente aplicado
contrados com frequência nos nevos recorrentes. a múltiplos nevos azuis agrupados em uma área
A história clínica de remoção anterior de nevo circunscrita. Outras lesões melanocíticas, além dos
é de suma importância, uma vez que a cicatriz pode lentigos, também podem ser eruptivas, como o nevo
não ser bastante evidente (Fig. 8.57). de Spitz, muitas vezes associado a lentigos.

112
Lesões Melanocíticas Benignas

Fig. 8.51 D A. Lesão papulosa, séssil, castanha-escura com áreas enegrecidas e áreas castanhas-claras , me-
dindo 5 ,5 x 7 milímetros, localizada na região peitoral direita, de paciente do sexo masculino de 19 anos , que
relatava aumento de volume da lesão nos últimos dois anos. O pai teve melanoma . B. No centro da lesão, o pa-
drão azul homogêneo é irregular, notando-se um pseudocomedão central correspondente a óstio folicular, áreas
castanhas-claras na periferia, inúmeros glóbulos de tamanho regular distribuem-se uniformemente por toda a
lesão, mesclando-se com as áreas azuis homogêneas. As bordas são esmaecidas e toda a lesão é recoberta
por véu esbranquiçado . TPD = 6,1 (x 10). C, D. Epiderme hiperqueratótica, com acantose e alargamento das
cores interpapilares espaçadas pelo alargamento das papilas dérmicas. Na derme , há proliferação fibroblástica e
espessamento dos feixes do colágeno , entremeados pelas células névicas melanocíticas fusiformes . A presença
de pigmento é mais evidente na porção superior da lesão. Em (0], a imagem panorãmica da lesão demonstra o
aspecto semelhante ao dermatofibroma. Nevo azul desmoplásico (x40).

Ao exame histopatológico, observa-se prolife- dondada e ao pequeno tamanho, refere-se a mácu-


ração de melanócitos ao longo de cones interpapi- las hiperpigmentadas decorrentes do aumento da
lares alongados. 26 quantidade de melanócitos na epiderme, sem a for-
Ao exame dermatoscópico, nota-se um padrão mação de ninhos. Proliferações lentiginosas podem
de rede difusa e fortemente pigmentada, com acú- ocorrer ainda no componente epidérmico de nevos
mulo de pigmento na área central. Em alguns casos, melanocíticos e melanomas.
observa-se a presença de forma irregular de pontos, Os lentigos simples são considerados uma fase
glóbulos e áreas sem estrutura, conferindo aspecto inicial do desenvolvimento do nevo melanocítico e
atípico 35 •36 (Fig. 8.58). encontram-se presentes frequentemente na infância,
mas podem aparecer em qualquer idade. As cristas
Lentigos epidérmicas encontram-se discreta ou moderada-
O termo lentigo, derivado do latim lenz, que mente alongadas, e a proliferação de melanócitos
significa lente ou lentilha, com alusão à forma arre- na camada basal ocorre de maneira contínua. Há

113
Lesões Melanocíticas Benignas

Fig. 8.52 O A. Lesão nodular, hipercrômica, no dorso do pé esquerdo, com crescimento lento durante vários
anos. B. Padrão homogêneo cinza-azulado , com bordas esmaecidas, notando-se pequenas áreas hipopigmenta-
das na superfície da lesão , bem como pseudocomedôes. A rede pigmentada da pele normal circunjacente torna-
-se evidente na periferia. TPD = 2,0 (x 1 0). C. Na epiderme , há hiperceratose e hipergranulose , com a preser-
vação dos cones interpapilares na periferia da lesão . Na derme reticular, observa-se acentuada proliferação de
células fusiformes melanocíticas entre os feixes do colágeno , formando aglomerados, ocupando toda a extensão
da derme e estendendo-se à hipoderme. Nevo azul celular (H&E x40).

aumento da quantidade de melanina na camada de clavas ou com ramificações e coalescentes. Po-


basal e pode haver melanófagos na derme superior. dem ser intensamente pigmentados, com aspecto
Às vezes, há pigmento também nas camadas supe- reticulado irregular, denominado lentigo em pingo
riores da epiderme. Podem ser castanho-claros ou de tinta, e que aparecem com frequência em in-
escuros, clinicamente semelhantes aos nevos jun- divíduos de pele clara que se submeteram à expo-
cionais. Algumas lesões podem combinar aspectos sição solar intensa. 9•26 •37 Tratamentos fototerápicos,
histopatológicos de nevos juncionais com a presença como os realizados com psoralenos e ultravioleta A
de pequenos ninhos nas cristas epidérmicas, sendo (PUVA), podem induzir o aparecimento de lenti-
denominados "jentigos". 26 gos irregularmente distribuídos. À dermatoscopia,
O exame dermatoscópico dos lentigos simples os lentigos solares do tipo em pingo de tinta apre-
evidencia uma rede pigmentada regular, geralmente sentam malha espessa e irregular, com aparência
com malha mais espessa na área central ou em al- global uniforme. Os lentigos localizados no dorso
gumas áreas onde o acúmulo de células nas cristas das mãos e dos antebraços, bem como na região
epidérmicas é mais acentuado 7•8 (Figs. 8.59 a 8.64). dorsal, evidenciam uma rede pigmentada fina, de-
Os lentigos solares ocorrem em áreas expostas: limitada e regular. Na face, entretanto, devido à
são planos, possuindo frequentemente contornos presença das aberturas foliculares e ao aspecto de
irregulares, caracterizando-se pela proliferação de pseudorrede, tomam aspecto mais grosseiro, com
melanócitos na camada basal de forma não con- interrupção abrupta de bordas, encontrando-se
tínua e por maior alongamento das cristas epidér- muitas vezes associados à forma reticulada de cera-
micas, que podem tornar-se tortuosas, em forma tose seborreica (Fig. 8.65).

114
Lesões Melanocíticas Ben ignas

I Fig. 8.53 O A. Lesão névica desde o nascimento , localizada na região glútea direita , em paciente feminina de 11
anos de idade , com crescimento proporcional ao da criança , medindo 15 mm de diâmetro , com centro elevado
hiperqueratótico. 8 . Padrão azul homogêneo , bem delimitado , com bordas esmaecidas e centro com desenho
irregular, anfractuoso, correspondente à área de hiperqueratose , com discreto véu esbranquiçado . C. Imagem
ultrassonográfica para avaliar a profundidade da lesão, bem delimitada , em forma de sino invertido, ocupando a
derme e estendendo-se ao limite com a hipoderme. D , E e F. Imagens sequenciais da histopatologia para ilus-
trar a extensão em profundidade , com células névicas acentuadamente pigmentadas entre feixes de colágeno
estendendo-se à hipoderme superficial (H&E x40).

A B

Fig. 8.54 o A. Lesão pigmentada , discretamente papulosa, castanh&Bscura, de forma irregular, medindo 5 x 2,5
mm, localizada na região dorsal, em pele actínica. 8 . Áreas amorfas de concentração de pigmento castanho-escuro
ao negro, com estrias ramificadas alargadas irregulares que esmaecem na periferia , área amorfa cinza azulada
excêntrica e glóbulos cinza-azulados de tamanho regular, excêntricos. Assimetria em dois eixos. TPD = 6 , 1.

115
Lesões Melanocíticas Benignas

I
B

Fig. 8 .56 O A. Lesão papulosa , de coloração escura.


enegrecida , medindo 6 x 5 mm , localizada na região
dorsolombar, em paciente do sexo masculino. de 45
anos. B. Áreas amorfas castanhas-claras e esbranqui-
çadas , irregulares, no centro da lesão, circundadas por
áreas amorfas cinza-azuladas irregulares na periferia ,
esmaecidas e áreas enegrecidas. Na área central à es-
querda notam-se glóbulos claros . TPO = 5,6. (x 10) C.
c Epiderme com hiperceratose , acantose irregular com
alargamento e alongamento irregular dos cones inter-
Fig. 8.55 o A. Lesão névica papulosa, clara, com área papilares. aumento de pigmento e atividade juncional.
cinza-azulada excêntrica, localizada na região interes- A imagem panorâmica da lesão ilustra a distribuição
capulovertebral direita . B. Padrão homogêneo cinza- irregular de pigmento na derme, com a proliferação de
-azulado, no polo inferior da lesão. circundado por uma células fusiformes pigmentadas acompanhando a ad-
tênue rede pigmentada , com a presença de glóbulos de ventícia dos anexos e formando acúmulos irregulares.
coloração clara acima e ao lado do componente azul. entre feixes do colágeno. correspondendo às áreas
Essa combinação de padrões pode ocorrer em nevos claras e escuras observadas à dermatoscopia . (x40).
congênitos hiperpigmentados. TPO = 3 ,8 (x10). C. Epi- D. Detalhe da área central da lesão, para evidenciar a
derme com alongamento e hiperpigmentação dos cones atividade juncional e as céluas névicas fusiformes na
interpapilares na porção periférica e extenso componen- derme . Nevo azul composto [x 1 00).
te intradérmico de células melanocíticas névicas hiper-
pigmentadas ocupando a derme reticular superior e mé-
dia e a derme adventícia perivascular. Nevo melanocítico
intradérmico. tipo nevo congênito [H&E x40).

116
Lesões Melanocíticas Benignas

B
lfll ,, 1" /f/11
B c 1

c
D
Fig. 8.58 D A. Lesão névica plana , localizada na face
Fig. 8.57 D A. Paciente do sexo feminino , 23 anos de lateral da coxa esquerda , constituída por aglomerados
idade, com cicatriz no terço médio da face lateral do confluentes de aspecto lentiginoso, coloração casta-
braço esquerdo, decorrente da remoção por "shaving", nha , notando-se área hipercrômica central. B. Ilhas de
de uma lesão névica , há cerca de dois meses (sic), no padrão reticular proeminente com zonas de confluência
interior da qual se observa uma área irregular de e área de concentração de pigmento. Presença de al-
percromia . B. Áreas sem estrutura , com concentração guns pontos na porção central/inferior da lesão. TPD
irregular de pigmento castanho e castanho-escuro , es- = 5 ,1 (x 10). C. Epiderme com aumento de pigmento
trias radiadas e glóbulos, com pequenas áreas hipocrô- que se encontra presente até na camada córnea , alon-
micas entremeadas. TPD = 6 ,6 (x 1 0). C. Epiderme hi- gamento , alargamento e entrelaçamento dos cones
perceratótica e retificada , com proliferação interpapilares, evidentes à direita do corte , correspon-
ca contínua ao longo da camada basal hiperpigmentada . dendo à área central enegrecida da lesão. Á esquerda ,
Não se observa atipia citológica significativa . Na derme notam-se cones interpapilares menos hiperplasiados,
há um infiltrado inflamatório linfohistiocitário moderado, ainda proeminentes , correspondendo ao aspecto pre-
com a presença de melanófagos, além de proliferação dominante da rede pigmentada . Na derme , observam-
fibrosa (x 100). -se melanófagos de permeio a um infiltrado inflamatório
à direita , correspondendo à área central da lesão. Nevo
melanocítico juncional/lentigo ("jentigo") (H &E x 1 00).

117
Lesõ es Melanocíticas Benignas

Fig. 8.60 O A. Lesão pigmentada plana , localizada na


• 8 59 O A . Lesão pigmentada plana , castanha-
face . B. Grande concentração de pigmento alargando
-escura , lentiginosa , em paciente jovem, na região ma-
as malhas da rede, com a presença de orifícios folicu-
mária . B. Padrão reticular, constituído por rede com
lares, característicos da localização facial. Nota-se a
malhas largas, concentração de pigmento na área
presença de pontos escuros. TPO = 4,1 (x 10).
central da lesão, onde observam-se pequenas áreas
de pigmentação cinza-azulada entre as malhas. TPO =
4 ,6 . (x10) C. Corte representando a parte central da
lesão, onde se observa reação inflamatória mononu-
clear com melanófagos. A epiderme exibe cones inter-
papilares proeminentes e hiperpigmentados. Lentigo
simples inflamado (H&E x100).

118
Lesões Melanocíti cas Ben ign as

Fig. 8.61 O A. Lesões lentiginosas localizadas na re-


gião anterior do tórax, há vários anos estáveis, com
discreto aumento de pigmento, entre as quais uma se
B. Padrão global reticular constituído por
rede pigmentada de malhas finas, com concentração
central de pigmento . TPD = 1,5 (x10).

Fig. 8.63 O A. Lesão névica plana , castanha, na re-


gião dorsal de paciente jovem do sexo masculino . B.
Lesão de coloração castanha uniforme, com padrão
de rede pigmentada delicada discretamente alargada
na periferia , com bordas esmaecidas, apresentando
Fig. 8.62 O A. Lesão plana castanha-escura na re- estrias ramificadas de aspecto sinuoso paralelo no
gião dorsal. B. Rede pigmentada uniforme de malhas centro da lesão, com a presença de alguns pontos
regulares , espessas, com interrupção abrupta de pig- aleatoriamente distribuídos e áreas esbranquiçadas
mento nas bordas. TPD = 2 ,8 (x 10). C. Cones inter- correspondentes às aberturas foliculares . TPD = 3 ,8
papilares alongados e hiperpigmentados com focos de (x 1 0) . C. Exuberante alongamento , alargamento e
confluência e ninho isolado de células melanocíticas na entrelaçamento dos cones interpapilares, acentuada-
extremidade de um deles. Presença de melanófagos e mente pigmentados. Na derme, há discreto infiltrado
reação inflamatória na derme papilar. Nevo juncional/ inflamatório linfocitário, com a presença de melanófa-
lentigo ("jentigo") (H&E x100). gos. Lentigo simples (H&E x 100).

119
Lesões Melanocíticas Ben ignas

B Fig. 8.65 D A. Lesão plana de coloração enegreci-


da e bordas irregulares na região dorsal. 8. Nota-se
rede pigmentada irregular, alargada , concentração de
pigmento na área central, formando zona homogênea
escura. Lentigo solar do tipo "em pingo de tinta". TPD
= 4 ,6 [x 1 0). C. Acantose irregular com alargamento e
fusionamento dos cones interpapilares hiperpigmenta-
dos. Na derme , há um discreto infiltrado inflamatório
linfocitário. Lentigo solar [H&E x 1 00) .
c
Fig. 8.64 O A. Lesões hiperpigmentadas planas , con- • REFERÊNCIAS
gênitas, em genitália masculina . Destaque para lesão
do dorso do pênis (--+). 8 . Padrão global reticular. As 1. Schaffer JV. Pigmented lesions in children: when to
listras esbranquiçadas transversais e oblíquas corres- worry. Curr Opin Pediatr 2007; 19:430-40.
pondem às dobras epidérmicas características da re- 2. Elwood M , Aitken JE, English DR. Prevention and
gião . A pele foi distendida no sentido longitudinal para o Screening. In: Balch CM, Houghton A , Sober AJ,
exame dermatoscópico . TPD = 2 ,3 (x1 0) . C. O aspecto Soong S. Cutaneous Melanoma, 4ª ed. 2003 G.!rality
ondulado peculiar da pele desta reg ião anatômica re-
M edical Publishing, Inc. 97-98.
sulta no relevo anfractuoso da superfície da epiderme
que se observa na histopatologia . Notar alongamento 3. Krengel S. Nevogenesis - ew Thoughts Regarding
dos cones interpapilares com hiperpigmentação da ca- a Classical Problem. A m ] D ermatopatho/2005 ;
mada basal. Lentigo simples [H&E x100). 27(5):456-65.

120
CAPÍTULO 9 Mapeamento Corporal Total,
Acompanhamento das
Lesões Melanocíticas e
Laudo Dermatoscópico
Francisco Macedo Paschoal

A tualmente, o seguimento clínico regular repre-


senta a conduta principal nos pacientes porta-
dores de múltiplos nevos melanocíticos, sobretudo
ou mudança do aspecto de uma lesão melanocítica
ser o dado mais específico indicativo de evolução
para a degeneração maligna. Neste contexto, a fo-
quando associado a fatores de risco. 1•2 Melanoma tografia corporal total e a dermatoscopia são re-
diagnosticado em pacientes de alto risco subme- cursos auxiliares atualmente preconizados visando
tidos a seguimento clínico regular são, de regra, à detecção precoce de lesões suspeitas 2 •3 (Figs. 9.1
iniciais (lesão in situ ou com espessura de Breslow e 9.2).
<1 mm). 2 Todavia, a mudança na aparência de um nevo
Lesão pigmentada que apresente forte índice não implica obrigatoriamente transformação ma-
de suspeita no tocante ao diagnóstico do melano- ligna,4 bem como o crescimento do nevo, com au-
ma em decorrência do aspecto clínico ou derma- sência de sinais de ati pia, não significa malignidade.
toscópico deve ser retirada já na primeira avalia- Portanto, se faz necessário diferenciar as mudanças
ção. Indica-se o seguimento clínico para indiví- que ocorrem dentro de um espectro normal (benig-
duos portadores de lesões precursoras de melano- no) ou não (maligno).
ma, ou que apresentem fatores de risco relaciona- Basicamente foram descritos 2 padrões de
dos com o seu desenvolvimento. Tal atitude esta- modificação dermatoscópicas de nevos melano-
ria respaldada no fato de o aumento de tamanho cíticos:5 tipo 1, aumento da intensidade da pig-

'

Fig. 9 .1 o Comparação de fotografias panorâmicas do tronco anterior. Paciente com 22 anos de idade na pri-
meira avaliação. O intervalo de seguimento foi de 20 meses. Notam-se aumento do tamanho de lesão pigmentada
localizada no hipocôndrio direito e o desaparecimento completo de lesão na região supramamária esquerda .

123
Mapeamento Corporal Tota l, Acompanhamento das Lesões Melanocíticas . ..

Fig. 9.2 O Comparação das imagens dermatoscópicas da lesão no hipocôndrio direito assinalada na Fig . 9.1 (au-
mento de 20x). Observam-se alterações dermatoscópicas fortemente significativas (padrão IV) . EDT = 3 ,8 na pri-
meira avaliação e 5 .6 na segunda avaliação . A lesão tornou-se assimétrica nos 2 eixos e ocorreu o aparecimento
de área de tonalidade cinza-escura . Detalhe dos glóbulos periféricos presentes na primeira avaliação . predizendo
a expansão . Diagnóstico histopatológico de nevo melanocít ico atípico .

mentação, sem alteração do tamanho e da arqui- Foi considerada como lesão inalterada do ponto
tetura, possivelmente relacionado com variações de vista dermatoscópico aquela cujo escore der-
sazonais devidas ao estímulo solar; e tipo 2, au- matoscópico manteve-se igual nas 2 avaliações
mento de tamanho e variação na arquitetura, pro- (padrão I) (Fig. 9.3). Qyando ocorreram variações
vavelmente relacionado com a progressão da lesão. no escore, porém dentro da faixa de benignidade,
O padrão de modificação observado à dermatos- foram consideradas como alterações dermatoscó-
copia poderia estar relacionado com a natureza da picas não significativas (padrão li) (Fig. 9.4) . A
lesão pigmentada. A diferença sazonal do aspecto mudança de escore da banda inferior a 4, 7 para
dermatoscópico, principalmente a associada à ex- a intermediária foi considerada como alterações
posição ao sol, pode cursar com alterações mor- dermatoscópicas significativas (padrão lii) (Fig.
fológicas, tipo alargamento e proeminência da 9.5), e as variações de escore com mudança para
rede pigmentar, aumento do número e do tama- a banda superior (>5,4), juntamente com o sur-
nho dos pontos pretos, com di tribuição irregu- gimento de estruturas dermatoscópicas sugestivas
lar e periférica, e despigmentação também peri- de melanoma, foram consideradas como alterações
fé rica.6 A observação de anel periférico form ado dermatoscópicas altamente significativas de mela-
por glóbulos marrons corresponde a um aspecto noma (padrão IV ) (Fig. 9.6). D o total de nevos
dermatoscópico comum dos nevos em expansão. 7 melanocíticos monitorados, 95% apresentaram
Em um estudo observacional, 8 não controlado e padrões I e li de alterações dermatoscópicas, 4,3%
retrospectivo de prontuários e banco de imagens foram classificados como padrão Ili de alterações
digital de 34 pacientes portadores de 460 nevos dermatoscópicas e menos de 1% apresentou alte-
melanocíticos monitorados por um intervalo de rações dermatoscópicas altamente significativas
tempo que variou de 9-94 meses, foram estabe- de melanoma (padrão IV).
lecidos 4 padrões dermatoscópicos de comporta- O s padrões de modificações observados no
mento evolutivo, tendo como referência a regra melanoma inicial 9 são: crescimento foc al asso-
do ABC D dermatoscópico (Nachbar et al., 1994). ciado à mudança na forma e o surgi mento de

124
Mapeamento Corporal Total, Acompanhamento das Lesões Melanocít icas ...

Fig. 9.3 o Lesão melanocítica cujo padrão dermatoscópico manteve-se inalterado durante intervalo de seguimen-
to de 14 meses [padrão 1) . EDT = 3 , 8 . Assimetria em um eixo [A 1) não apresenta interrupção abrupta periférica
da rede pigmentar (BO); observam-se 2 tons de cores (marrom-claro e marrom-escuro- C2) e 3 estruturas (rede
pigmentar. estrias e área amorfa- 03) .

Fig. 9.4 o Lesão melanocítica com alterações não significativas do padrão dermatoscópico (padrão 11) após um
período de seguimento de 34 meses. Destaca-se a presença de pontos periféricos na primeira avaliação (padrão
que sugere nevo em expansão) . EDT = 3 ,3 na primeira avaliação e 3 ,8 na segunda avaliação (aparecimento de
rede pigmentar).

estruturas dermatoscópicas altamente específicas ral total são os principais sinais de alerta a serem
do melanoma (pontos pretos distribuídos irregu- considerados na suspeita diagnóstica do mela-
larmente, pseudópodes, rede pigmentar irregular noma. As vantagens do monitoramento seriam
e proeminente) (Figs. 9.7 e 9.8). Todavia, o me- o aumento da especificidade diagnóstica de me-
lanoma pode vir a manifestar apenas alterações lanomas iniciais e a redução do número de bióp-
estruturais sem crescimento. A evolução derma- sias de lesões benignas. Partindo da suposição de
toscópica não uniforme e o crescimento de uma que todo melanoma irá mudar durante o período
lesão suspeita documentado na fotografia corpo- de monitoramento, a dermatoscopia digital seria

125
Mapeamento Corporal Tota l, Acompanhamento das Lesões Melanocíticas ...

um recurso adjuvante útil na sua detecção. 10 No em diminuição da sensibilidade diagnóstica. 11 A


entanto, tal procedimento apresenta como risco não excisão de uma lesão que apresente carac-
inerente a possibilidade da não remoção do me- terísticas dermatoscópicas duvidosas representa
lanoma em uma primeira avaliação, resultando uma conduta de risco. 12

Fig . 9 .5 o Lesão melanocítica com alterações significativas do padrão dermatoscópico (padrão 111) após um perío-
do de seguimento de 27 meses. Apesar da simetria , nota-se a mudança substancial das estruturas dermatoscó-
picas . EDT = 3 ,3 na primeira avaliação= 3 ,3 e 4,8 na segunda avaliação . Apesar da expansão simétrica quando
comparado ao formato da lesão na primeira avaliação, ocorreu o aparecimento de 1 tom a mais de cor e 2 novas
estruturas (estrias e pontos). Diagnóstico histopatológico de nevo melanocítico atípico .

Fig. 9 .6 O Lesão melanocítica com alterações fortemente significativas do padrão dermatoscópico (padrão IV)
após um período de seguimento de 32 meses. Acentuação da assimetria e aparecimento de estrias ramificadas
(estrutura com alta especificidade para o diagnóstico de nevo melanocítico atípico e melanoma) . EDT = 3 ,8 na
primeira avaliação e 5,6 na segunda avaliação. A lesão tornou-se assimétrica nos 2 eixos, apareceu 1 tom a mais
de cor (marrom-escuro) e 2 novas estruturas (estrias e pontos) . Diagnóstico histopatológico de nevo melanocítico
atípico .

126
Mapeamento Corporal Total, Acompanhamento das Lesões Melanocít icas .. .

Fig. 9 . 7 O Lesão pigmentada localizada no ombro direito. Paciente masculino , 50 anos de idade, portador de
múltiplos nevas, antecedente pessoal de exérese de nevo atípico e antecedente familiar (de primeiro grau)
de melanoma cutâneo . Observa-se crescimento das lesão após 5 anos da primeira avaliação.

Fig. 9 .8 O Seguimento dermatoscópico da lesão da Fig. 9 .7 . Notam-se expansão assimétrica e desenvolvimento


de rede pigmentar invertida na porção central da lesão associado à acentuação da rede pigmentar. Diagnóstico
histopatológico de melanoma in situ.

• LAUDO fototipo, número de nevos, presença de nevos


DERMATOSCÓPICO de maior dimensão, antecedente pessoal ou fa-
miliar de melanoma e história de mudança e
Conforme proposta da Sociedade Internacio-
sintomas das lesões sob investigação.
nal de Dermatoscopia, 13 o laudo dermatoscópico
deve conter informações sobre 10 aspectos classifi- 2. Características clínicas da(s) lesão(ões) pig-
cados em 2 categorias: recomendado e opcional. mentada(s) (recomendado) e localizações.
1. História pregressa e antecedentes pessoais 3. Diferenciação entre lesão melanocítica e não
(recomendado). Dados clínicos como idade, melanocítica- método dos 2 passos (recomen-

1 27
Mapeamento Corporal Total, Acompanhamento das Lesões Melanocíticas ...

dado). Características dermatoscópicas rele- computerized acquisition and surveillance unir with a
vantes de diferenciação entre os dois maiores skin surface microscopic television camera.]AmAcad
Dermato/1996; 35:202-7.
grupos de lesões pigmentadas cutâneas.
4. Salopek TG .lhe dilemma of the dysplastic nevus.
4. Emprego de terminologia definida pelo meeting Dermatol Clin 2002:617-28.
de consenso em dermatoscopia de 2003 (reco- 5. Braun RP, Lemoninier E, Guillod J, Skaria A,
mendado). Salomon D, Saurat JH. Two types o f pattern
modification detected on the follow-up ofbenign
5. Algoritmo de análise utilizado (opcional). melanocytic skin lesions by digitized epiluminescence
Análise de padrões, regra do ABCD derma- microscopy. Melanoma Res 1998; 8(5):431-7.
toscópico, método de Menzies, método dos 7 6. Stanganelli I, Rafanelli S, Bucchi L. Seasonal
prevalence of digital epiluminescence microscopy
pontos etc.
patterns in acquired melanocytic nevi.j Am Acad
6. Equipamento de dermatoscopia utilizado para Dermato/1996; 34:460-4.
o registro das imagens e aumento empregado 7. K.ittler H, Seltenheim M, Dawid M, Pehamberger H.
(recomendado). Frequency and characteristics of enlarging common
melanocytic nevi. Arch Dermato/2000; 136:316-20.
7. Imagens clínicas e dermatoscópicas (recomen- 8. Paschoal FM. Estudo do comportamento evolutivo
dado). dos nevos melanocíticos: análise do crescimento e
das alterações do padrão dermatoscópico. [Tese de
8. Diagnóstico e/ou relatório descritivo, diagnós- Doutorado]. São Paulo: Universidade de São Paulo;
tico diferencial (recomendado). 2004.
9. K.ittler H, Pehamberger H, Wolff K, Binder
9. Recomendação de conduta - biópsia, excisão,
M. Follow-up of melanocytic skin lesions with
seguimento (recomendado). digital epiluminescence microscopy: Patterns of
10. Informações ao patologista que podem auxiliar modifications observed in early melanoma, atypical
nevi, and common nevi.] AmAcad Dermato/2000;
na orientação dos cortes histopatológicos (op-
43:467-76.
cional). 10. Menzies SW, Gutenev A, Avramidis M, Batrac
A, McCarthy WH. Short-term digital surface
microscopic monitoring of atypical or changing
• REFERÊNCIAS
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1. Kanler MH, Mraz-Gernhard S. Primary cutaneous 11. K.ittler H. Use of digital dermoscopy to monitor
malignant melanoma and its precursor lesions: melanocytic lesions: risks and benefits.j Drugs
Diagnostic and therapeutic overview.]Am Acad Dermato/2003; 3:311-13.
D ermato/200 1; 45:260-76. 12. Carli P, De Giorgi V, Giannotti B. Why digital
2. Wang SQ Kopf AW, Koenig K, Polsky D, Nudel follow-up of dermoscopically equivocai pigmented
K, Bart RS. Detection of melanomas in patients lesions should be discouraged. Brf Dermato/2003;
followed up with total cutaneous examinations, total 148:1272-3.
cutaneous photography, and dermoscopy.J AmAcad 13. Malvehy J, Puig S, Argenziano G, Marghoob A
D ermato/2004; 50:15-20. A, Soyer H P. Dermoscopy report: Proposal for
3. Stolz W, Schiffner R, Pillet L, Vogt T, Harms standardization. Results of a consensus meeting of
H, Schindewolft T. Improvement of monitoring the International Dermoscopy Society.] Am Acad
of melanocytic skin lesions with the use of a Dermato/2007; 57:84-95.

128
CAPÍTULO 10 Melanoma

A dermatoscopia aumenta significativamen-


te a eficiência no diagnóstico do melanoma
quando utilizada pelo médico adequadamente trei-
A importância do diagnóstico precoce no prog-
nóstico do melanoma foi enfatizada por Richard
et ai., que estudaram 590 casos, com resultados ava-
nado.1 Os achados dermatoscópicos considerados liados também por MacKie. Estes autores correla-
significativamente associados ao melanoma são: cionaram o tempo de demora para que uma lesão
rede pigmentada proeminente (hiperpigmentada suspeita seja identificada com a espessura da lesão.
e alargada) e irregular, que corresponde a cristas Os resultados conferem evidências concretas para a
epidérmicas hiperpigmentadas, alargadas e irregu- hipótese de que existe um espectro de crescimen-
larmente distribuídas (81 %); bordas da rede irre- to cinético dos melanomas primários, partindo das
gulares e com interrupção abrupta (63%); glóbulos lesões planas ou finas, de crescimento lento, como
castanhos, negros ou azulados, irregularmente dis- o lentigo maligno melanoma, para as lesões mais
tribuídos e de tamanho variado, que correspondem agressivas, de crescimento rápido, que seriam as va-
a acúmulos de pigmento nas diferentes camadas da riantes nodulares. 4•5
epiderme ou na derme (35%); pontos pretos irre- Argenziano et ai. desenvolveram estudos, em
gularmente distribuídos na periferia (26%); estrias 1997, analisando a correlação entre os diferentes
radiadas irregulares e assimetricamente arranjadas,
na periferia, que correspondem a ninhos juncionais
periféricos (25%); pseudópodes (31 %); pigmenta-
ção difusa irregular de coloração castanha, azulada
ou preta, de forma irregular e limites abruptos, que
corresponde a hiperpigmentação em todos os ní-
veis da epiderme e da derme superior (85%); áreas
despigmentadas com aspecto cicatricial, irregulares,
muitas vezes localizadas na periferia, podendo con-
ter em seu interior múltiplos pontos acinzentados
(sinal da pimenta), que correspondem a áreas de
regressão histológica, com incontinência de pig-
Fig. 10.1 O Padrão de multicomponentes, evidencian-
mento da epiderme, fibroplasia e presença de me- do estrias radiadas irregulares na periferia , pseudó-
lanófagos na derme (56%); áreas cinza-azuladas ir- podes, pontos e glóbulos na periferia irregularmente
distribuídos, véu cinza-azulado , múltiplos pontos cinza-
regulares, confluentes, às vezes esbranquiçadas, que
-azulados (sinal de pimenta) , áreas esbranquiçadas
correspondem à presença de melanócitos ou mela- irregularmente distribuídas, pontos e glóbulos verme-
nófagos na derme reticular; padrão vascular atípico, lhos, áreas de eritema , áreas escuras corresponden-
do a crostas hemáticas (x10]. Melanoma tipo de dis-
pontilhado, linear ou globular, que corresponde a seminação superficial (nível de Clark = IV; espessura de
neovascularização (Fig.10.1 e Tabela 10.1).2•3 Breslow = 0 ,80 mm) .

129
Melanoma

Tabela 10.1 o Critérios dermatoscópicos para diagnóstico do melanoma

Melanoma tipo Rede pigmentada proeminente e irregular; bordas Pseudocistos córneos


de disseminação irregulares e abruptas; glóbulos castanhos , negros ou e pseudocomedões em
superficial cinza-azulados de tamanho variado e irregularmente número >3 e distribuídos
distribuídos; pontos pretos irregularmente distribuídos na irregularmente .
periferia ; estrias radiadas irregulares e assimetricamente Grandes áreas amorfas
arranjadas, na periferia ; pseudópodes; pigmentação difusa sem rede e sem estruturas.
irregular de coloração castanha , cinza-azulada ou preta; Corpos ovoides. Estruturas
véu cinza-azulado ou esbranquiçado ; áreas despigmentadas em folhas . Padrão vascular
mais claras que a pele normal , de aspecto cicatricial ramificado arboriforme ou
e irregulares, podendo conter em seu interior pontos telangiectasias. Ulceração .
cinza-azulados (sinal da pimenta); padrão vascular atípico,
pontilhado, linear ou globular.

Melanoma Predominantemente glóbulos de tamanho variado , Pseudocistos córneos em


nodular podendo ser grandes ou pequenos, castanhos , pretos, número >3 .
cinza-azulados , azuis, vermelho-leitosos ou amelanóticos ;
presença de padrão vascular atípico ; esboço de rede
pigmentada na periferia ; por vezes , véu cinza-azulado ou
esbranquiçado ; pode ocorrer ulceração .

Melanoma in Pseudorrede pigmentada irregular da face , de coloração Pseudocistos córneos , áreas


situ tipo lentigo variada do castanho ao negro , com aberturas foliculares castanho-claras semelhantes
maligno irregulares e assimétricas, estruturas romboidais escuras, a impressões digitais , áreas
pontos cinza-azulados ou castanho-escuros distribuídos amarelas opacas.
irregularmente.

Melanoma tipo Mesmo aspecto encontrado no lentigo maligno in sitJJ descrito Pseudocistos córneos , áreas
lentigo maligno acima, acrescido de mais áreas amorfas irregularmente castanho-claras semelhantes
pigmentadas, véu cinza-azulado , glóbulos castanho-escuros e a impressões digitais ou
cinza-azulados, pseudópodes e estrias radiadas na periferia da cerebriformes , criptas ou
lesão, áreas esbranquiçadas de regressão e áreas vermelhcr fendas , áreas amorfas
-leitosas. castanhas , corpos ovoides.

Melanoma acral Padrão em cristas paralelas, obstrução dos óstios das Padrão em sulcos paralelos ou
palmoplantar glândulas écrinas, áreas difusas de hiperpigmentação treliça , simetria da lesão
castanho-escura ou enegrecida , véu cinza-azulado , bordas
abruptas, pontos escuros na periferia de distribuição
irregular, glóbulos irregulares.

Melanoma Aparência de lentigo com rede irregular sobre área de Pseudocistos córneos .
desmoplásico aspecto esbranquiçado , fibroso .

Melanoma Ausência de rede e estruturas pigmentadas com presença Pseudocistos córneos , vasos
amelanótico de vasos puntiformes lineares irregulares ou em grampo em vírgula distribuídos de
de cabelo distribuídos irregularmente na borda da lesão , forma regular, pigmentação
vasos arboriformes curtos , áreas avermelhadas simétrica, múltiplos pontos
e/ou esbranquiçadas , glóbulos vermelhcrleitosos ou marrons.
cinza-azulados irregulares, ulceração.

Melanoma fino Presença de rede pigmentada e ausência de áreas cinza- Pseudocistos córneos , rede
-azuladas e de padrão vascular atípico . Áreas homogêneas pigmentada regular, simetria .
castanho-claras .

Melanoma Pelo menos 1 dos critérios : estrias radiadas , Pseudocistos córneos , rede
pequeno e pseudópodes, véu cinza-azulado ou esbranquiçado, regular, simetria.
micromelanoma rede espessa e irregular, glóbulo cinza-azulado , pontos
vermelhos em fundo vermelhcrleitoso .

130
Melanoma

critérios dermatoscópicos e a espessura da lesão. irregular, conBuente ou difusa, cinza-azulada ou


Demonstraram uma associação significativa entre a branca-azulada) e padrão vascular atípico (linear,
presença de rede pigmentada, estrias radiadas e áreas pontilhado ou globular, irregularmente distribuído,
esbranquiçadas com melanomas finos ( <0, 75 mm), fora de áreas de regressão) que foram correlaciona-
enquanto a presença de áreas cinza-azuladas e pa- dos com o grau de elevação das lesões, determinado
drão vascular atípico estava associada a melanomas pela palpação clínica em planas, palpáveis ou no-
considerados espessos (>0,75 mm). Os mesmos au- dulares (elevadas >5 mm). Áreas cinza-azuladas e
tores, em um segundo estudo, em 1999, combina- padrão vascular atípico foram correlacionados com
ram dados clínicos e critérios dermatoscópicos, ela- a fase de crescimento vertical do tumor, diferen-
borando um algoritmo para a classificação de mela- ciando corretamente os melanomas finos (quando
nomas em lesões finas ou espessas. Estabeleceram ambos os critérios encontravam-se ausentes) dos
faixas de espessura em 3 grupos: <0,76 mm (finos), mais espessos (>0,75 mm) (quando pelo menos 1
entre 0,76-1,5 mm (intermediários) e >1,5 mm dos critérios encontrava-se presente), em 80% dos
(espessos), levando em consideração a presença casos. As frequências encontradas nos melanomas
ou a ausência de 3 critérios dermatoscópicos: rede intermediários e espessos foram muito próximas,
pigmentada, áreas cinza-azuladas (pigmentação impossibilitando separá-los (Fig. 10.2). 6•7

Algoritmo para avaliação da espessura do melanoma


(Argenziano e cols.)
Melanoma
Plano

Fino= 100%

ACAJPVA Ausentes
Fino= 81%

Melanoma Inter.= 19%


Rede Pigmentada
Melanoma Palpável
Palpação Fino = 62 % - - - - t - - ACA ou PVA
Clínica Inter. = 34 % Não indicativo
Esp. = 4%
L Ausênc1a de Rede
Não Indicativo
ACA+ PVA

ACAJPVA Ausentes
M. Fino c/ Nevo Remanescente
(raro)

Melanoma
Nodular
Fino = 6%
Inter. = 44% Diâmetro < 15 mm
Esp. = 50% Não Indicativo
ACA e/ou PVA
Fino= 3%
Fig. 10.2 D ACA =Área Cinza-Azulada ; Melanoma > 0,75 mm = 97%
PVA = Padrão Vascular Atípico . Melano- Diâmetro> 15 mm
ma: Fino= < 0 ,76 mm, Inter.= 0,76 - Fino = 10%
1 ,5 mm (intermediário) , Esp .= >1 ,5 mm Inter. = 20%
(espesso). Esp. = 70%

131
Melanoma

Carli et ai., em 2000, utilizaram o TPD da estudo de 43 pacientes portadores de melanomas


regra do ABCD da dermatoscopia como uma finos ( <1 mm) com metástases e 42 pacientes de
forma simplificada de correlação com a espessu- controle, em que encontraram regressão extensa
ra para melanomas >0, 75 mm. Concluíram que (>50%) em 18 pacientes (42%), sendo que 2 eram
o TPD aumenta em relação direta com a espes- melanomas in situ. 14 Demierre, em 2002, chama a
sura de melanomas entre O, 75-1,5 mm e que ín- atenção para a necessidade de que sejam estabele-
dices de TPD >6,80 detectam melanomas com cidos critérios histológicos para que haja uniformi-
espessura >0, 75 mm, com sensibilidade de 80% dade na definição e na quantificação da regressão, e
e especificidade de 84%. Encontraram uma per- para o fato de que cerca de 20% dos melanomas po-
formance diagnóstica pouco menor para lesões dem apresentar alguma evidência de regressão, rela..:
com espessuras >1 mm. 8 ta da principalmente em melanomas finos ( <1 mm),
A relevância dos métodos de avaliação pré-ope- e esses podem representar, de acordo com grandes
ratória da espessura dos melanomas pela dermatos- bancos de dados, até 39% de todos os tipos de me-
copia reside no estabelecimento de parâmetros para lanomas. Segundo a autora, um aumento significa-
margens adequadas de excisão, bem como na sele- tivo na incidência de melanomas finos tem ocorri-
ção de casos para a cirurgia de linfonodo sentinela do na última década, considerado um prognóstico
mediante um procedimento não invasivo. favorável, com 90% de sobrevida acima de 10 anos,
O significado prognóstico da presença de re- mas que, entretanto, podem apresentar metástases.
gressão em melanomas tem sido objeto de con- Levando-se em conta que a ulceração correlacio-
°
trovérsias há décadas. 9•1 Cooper et ai., em 1985, na-se com a espessura, sendo pouco frequente em
não encontraram valor prognóstico em 48 casos de melanomas finos, a presença de regressão adquire
melanomas finos estudados, chamando a atenção interesse relevante na avaliação do prognóstico
para o fato de que o tipo e a extensão das alterações nesses casos. 15 Kaur et ai., em 2008, estudaram
regressivas não haviam sido adequadamente defini- 44 casos de melanomas finos ( <1 mm) com re-
dos. Sagebiel, no mesmo ano, sugere que o porcen- gressão, sendo todos linfonodos sentinela nega-
tual da superfície da lesão envolvida por regressão tivos, porém não referiram o tamanho da área de
seja quantificado e chama a atenção para o fato de regressão. 16
que os pacientes que apresentavam tumores com O desenvolvimento de vasos neoformados nos
regressão eram mais velhos e os tumores aparen- tumores sólidos está associado ao seu crescimento e
temente possuíam evolução mais prolongada. 11 •12 à sua progressão. 17•18 Kashani-Sabet et ai. relataram,
Ronan et ai., em 1987, identificaram 3 fases dare- em 2002, um estudo de 417 casos de melanoma,
gressão: recente, com infiltrado linfocitário e his- identificando a angiogênese como índice signifi-
tiocitário ao redor de células tumorais e alterações cativo de prognóstico no melanoma, associado ao
degenerativas; intermediária, com infiltrado menos aumento da incidência de recidivas locais, metás-
acentuado, células tumorais ocasionais, presença de tases linfáticas regionais e metástases a distância,
fibroblastos e vasos neoformados; fase tardia, com além da redução do tempo livre de metástases e da
ausência de células tumorais, fibrose acentuada, sobrevida. O significado estatístico da angiogêne-
maior número de vasos e presença ou ausência de se tumoral foi semelhante ao da ulceração, ambos
melanófagos. Esses autores quantificaram as áreas situados em segundo lugar, abaixo da espessura. A
de regressão utilizando técnica morfométrica, en- prevalência de ulceração aumentava proporcional-
contrando correlação entre tumores com 77% de mente com a vascularização (P<00005), que evo-
extensão dessas áreas e aumento na incidência de luiu também com a espessura, sendo mais espessos
metástases. 13 Guitart et ai., em 2002, relataram um os tumores mais vascularizados, desde 1,55 mm de

132
Melanoma

e pessura nos casos com au ência de angiogênese na junção com a epiderme e na derme contendo
até 4,01 mm nos casos de angiogêne e proeminen- pouco pigmento. 2 •3 •20•21
te (P<0,00005). 19 Braun et a/., em 2007, chamaram a atenção
Esses dados vêm ao encontro dos achados de para a pre ença de múltipos pontos cinza-azulado ,
Argenziano, correlacionando a presença de padrão característica dermato cópica denominada granu-
vascular atípico (pontos, linhas, glóbulos vermelho laridade por esses autores. Concluíram que a pre-
leitosos) com melanomas mais espessos. 6 •7 sença de granularidade na periferia, irregularmen-
te distribuída e em as ociação à cores vermelha
e branca, foi estatisticamente significativa para o
• MELANOMA TIPO
diagnóstico de melanoma (p = <0,001). 22
OE DISSEMINAÇÃO
Lipoff et ai., em 2008, relataram que a presen-
SUPERFICIAL
ça de padrão dermatoscópico complexo, descrito
O aspecto clínico do melanoma tipo de dissemi- como sendo a associação de rede e glóbulos, com
nação superficial é bastante variado, podendo iniciar- ou sem a presença de áreas sem e trutura , foi mais
- e como uma tênue mancha acastanhada irregular, frequente em pacientes com melanoma que em
adquirindo tonalidades diferentes, do castanho ao controles (P = 0,003, OR = 2,3), enquanto a pre-
preto, avermelhado ou cinza-azulado. Apresentam ença de ponto foi inversamente associada a esse
com frequência áreas esbranquiçadas. Em geral, são resultado (P = 0,002, OR= 0,5) 23 (Fig . 10.1 e 10.3
di eretamente elevados, palpáveis, com borda arei- a 10.21).
formes irregulares, podendo ocorrer áreas de cresci-
mento vertical, com pápulas, nódulos e ulcerações. • MELANOMA NOOULAR
Dessa forma, à dermatoscopia, o melanoma
Clinicamente, possui aspecto nodular, globoso,
tipo de disseminação superficial caracteriza-se pelo
pediculado ou não. Sua coloração é negra ou aver-
polimorfismo, correspondendo ao padrão de mul- melhada, contudo pode ser amelanótico, podendo
ticomponente e assimetria: rede pigmentada irre- ser facilmente confundido com tumores globosos,
gular e proeminente (pigmento na camada basal da como granuloma piogênico, hemangioma, angio-
epiderme), com áreas de interrupção abrupta; pon- ceratoma, nevo azul, poroma écrino e basocelular
tos pretos na periferia (melanina na camada cór- pigmentado.
nea); glóbulos pretos, castanhos ou cinza-azulados Ao exame dermatoscópico, o glóbulo po-
(ninhos de células pigmentadas na camada córnea, dem ser pequeno ou grandes, castanho , cinza,
na epiderme ou na derme) de tamanhos variado cinza-azulados, azuis, preto , vermelho-leito os ou
e distribuídos aleatoriamente; áreas de coloração amelanóticos. A rede pigmentada torna- e obscu-
densa, hipercrômicas, cinza-azuladas ou pretas, recida pela pigmentação difusa escura e pode ser
irregulares (acúmulo de pigmento nas células da observada somente na periferia, em geral irregu-
epiderme e/ou derme); estrias radiadas e pseudó- lar e proeminente. Pontos pretos podem ser vi to
podes distribuídos de maneira irregular (caracte- na periferia. O!Iando pequenos, de cor uniforme,
rizam a fase de crescimento radial do melanoma), enegrecidos ou às vezes com pouco pigmento, po-
áreas irregulares de regre são, com sinal da pimen- dem ter um TPD baixo, sendo necessária atenção
ta, pontos ou linhas vermelhas. O padrão va cular a detalhes sutis de critérios dermatoscópicos e va-
atípico inclui os glóbulos vermelhos leitosos, o lorizar elementos como glóbulos cinza-azulados ou
vasos puntiformes e os vasos lineares irregulares. vermelho-leitosos e padrão vascular atípico. Áreas
O!Iando presentes, os glóbulos vermelho leitosos de regressão são menos frequentes 2 •3 •20•21 •23 (Fígs.
significam a neova cularização de ma a tumorais 10.22 a 10.26).

133
Melanoma

A A1

Fig. 10.3 O A. Lesão pigmentada plana, castanha , medindo 6 mm no seu maior eixo, localizada na região lom-
bar à esquerda, em paciente de 34 anos, do sexo feminino, com hábito de exposição solar frequente . Há sete
anos, a lesão atual não existia (A 1 ). 8 . Rede pigmentada irregular, com áreas de pigmento escuro na periferia,
áreas claras irregularmente distribuídas, área amorfa excêntrica, com pigmentos castanho-escuro e preto, de
distribuição irregular. Nota-se assimetria em dois eixos (x 1 0) . C. Proliferação melanocítica atípica, confluente nas
camadas inferiores da epiderme e ocupando difusamente os cones interpapilares. Na derme papilar, há neopro-
liferação vascular e pequeno infiltrado inflamatório linfo-histiocitário com melanófagos. Melanoma in situ, tipo de
disseminação superficial. (H&E x 100).

• MELANOMA IN SITU turas foliculares irregulares e pontos cinza-azulados


TIPO LENTIGO MALIGNO ou escuros, múltiplos, distribuídos irregularmente.
O lentigo maligno é uma lesão precursora do Áreas amorfas com pigmentação difusa, áreas es-
melanoma invasivo, podendo ser considerado sinô- branquiçadas irregulares ou de coloração averme-
nimo de melanoma in situ, do tipo lentigo maligno. lhada também podem ocorrer. Não se observam
Sua incidência aumenta com a idade, influenciada pseudópodes e estrias radiadas 20•21 •24 -26 (Figs_ 10.27
pela exposição solar, mais frequente na pele clara, a 10.30)_
principalmente na face e no pescoço. Outras loca- Devido à sua grande variabilidade morfológica,
lizações podem ainda ser envolvidas, como o dorso o diagnóstico dermatoscópico do lentigo maligno
das mãos, os antebraços e as pernas. pode ser difícil, principalmente na sua fase inicial e
À dermatoscopia, os critérios encontrados no na diferenciação com lesões benignas, como o len-
lentigo maligno são: padrão global de multicompo- tigo solar e a ceratose seborreica incipiente. Consi-
nentes, rede pigmentada alargada e irregular, aber- derando essas dificuldades e o fato de que os óstios

134
Melanoma

Fig. 10.4 O A. Lesão pigmentada plana, castanha, irregular, medindo 4 x 7 mm, em paciente do sexo masculino,
de 66 anos de idade, localizada na região escapular esquerda . B . Padrão de múltiplos componentes, notando-se
rede irregular, várias cores , do castanho-claro ao castanho-escuro e preto, com véu cinza-azulado discreto , sobre
área amorfa na parte superior esquerda da lesão e sobre a área amorfa preta no terço inferior da lesão . Áreas
esbranquiçadas irregulares, estrias ramificadas , pontos e glóbulos castanhos e escuros, irregularmente distribuí-
dos [x1 0) . C. Proliferação melanocítica atípica confluente em todas as camadas da epiderme . Na derme papilar,
há moderado infiltrado inflamatório linfo-histiocitário com melanófagos. Melanoma in situ tipo de disseminação
superficial [H&E x1 00).

B c

Fig. 10.5 O A. Lesão pigmentada plana , de cor castanho-escura , localizada na região lombar à esquerda , me-
dindo 7 x 4 mm, em paciente feminina de 67 anos. B . Padrão global multicomponentes, observando-se rede
pigmentada irregular, estrias ramificadas , irregulares, pontos e glóbulos pretos e castanhos irregularmente dis-
tribuídos , área amorfa excêntrica , estendendo-se à periferia da lesão (x1 0). C. Proliferação melanocítica atípica
ocupando a junção dermoepidérmica e a derme papilar. Melanoma tipo de disseminação superficial [nível de Clark
= 11; espessura de Breslow = 0 ,21 mm) . [H&E x40) .

foliculares vão sendo progressivamente ocupados 1. Lesão benigna


com pigmento durante a invasão da porção intra- • áreas semelhantes a impressões digitais cas-
epidérmica dos anexos pela proliferação de mela- tanho-claras (lentigo solar ou ceratose sebor-
nócitos atípicos, Schiffner et ai. desenvolveram um reica);
modelo passo a passo do crescimento progressivo
• pseudocistos córneos (ceratose seborreica);
do lentigo maligno para orientação de diagnóstico
(Fig. 10.31). 27 Foram considerados 2 grupos de fa- • áreas amarelas opacas (ceratose seborreica ini-
tores, um representando lesão benigna e o outro a cial);
lesão maligna (lentigo maligno), cada um contendo • áreas cerebriformes (com sulcos e giros) (len-
4 subgrupos (Fig. 10.31): tigo solar).

135
Melanoma

Fig. 10.6 O A. Lesão pigmentada no pescoço , à direita , medindo 6 x 4 mm , com área acrômica central , em
paciente do sexo masculino, com 55 anos de idade , que relata modificação há seis meses, com "perda" da área
central da lesão. B. Área de pigmentação densa , preta , contendo glóbulos agrupados irregularmente, circun-
dando área esbranquiçada correspondente a fenômeno de regressão parcial [x1 0) . [TPO = 7 ,7) . C. Proliferação
melanocítica atípica nas camadas inferiores da epiderme , distribuídas como células isoladas e formando peque-
nos grupamentos celulares irregulares, um deles estendendo-se para a derme papilar, em que é circundado por
neoproliferação vascular e reação inflamatória mono nuclear com presença de melanófagos [H&E x1 00) . D. Área
correspondente ao fenômeno de regressão parcial, com epiderme hiperceratótica , retificada. Na derme superior,
há extensa reação inflamatória mononuclear com melanófagos de permeio . Melanoma tipo de disseminação su-
perficial, com fenômeno de regressão parcial (nível de Clark = 11 ; espessura de Breslow = 0 ,23 mm) .

Fig. 10.7 O A. Paciente do sexo feminino , 58 anos, com lesão tumoral assimétrica na região interescapular, des-
coberta em exame físico , constituída por uma porção arredondada papulosa , clara eritematosa , e logo abaixo uma
estreita faixa de coloração cinza unindo-se à parte inferior plana , castanho-escura , irregular, medindo 15 x 1O mm.
B. Na parte superior da lesão, observa-se padrão sem estrutura , hipomelanótico , castanhCH::Iaro e eritematoso, e
padrão vascular atípico com pontos e pequenos glóbulos eritematosos. Na zona intermediária , há múltiplos pontos
cinza-azulados, véu branco , em continuidade com área esbranquiçada periférica característica de fenômeno de re-
gressão . Na porção inferior da figura , observa-se padrão vascular atípico, pontos e glóbulos castanhos e vermelhos ,
eritema, zonas homogêneas de concentração de pigmento castanho e estrias ramificadas na periferia (x 10). [TPD
= 7,1 ). C. Na histopatologia , observam-se numerosos ninhos de melanocíticos atípicos na epiderme, com microinva-
são da derme papilar e extensa área de fibroplasia na derme permeada por vasos neoformados tortuosos . Nota-se
ocupação do epitélio anexial pela proliferação melanocítica . [H&E x40). Melanoma tipo de disseminação superficial
(nível de Clark = 11 ; espessura de Breslow = 0 ,25 mm).

136
Melanoma

A •
A

c
Fig . 10.8 O A. Paciente de 70 anos de idade, com
lesão castanha-escura/enegrecida , plana, medindo
25 x 19 mm , localizada junto à fúrcula esternal , as-
sintomática, evoluindo há vários anos [sic). B. Padrão
de múltiplos componentes , com véu esbranquiçado dis-
creto . acentuada variação de cores com a presença
de áreas de concentração de pigmento preto ao casta-
nho-claro. rede pigmentada irregular, estrias ramifica- Fig. 10.9 o A. Lesão pigmentada plana , enegrecida ,
das na periferia, glóbulos irregularmente distribuídos, medindo 5 mm de diâmetro, com bordas irregulares.
áreas esbranquiçadas e de aspecto cicatricial , múlti- evoluindo há cerca de um ano , na região periumbili-
plas e irregulares, áreas cinza-azuladas . Há pequenas cal , a partir do tamanho de um ponto, em paciente do
áreas ou pontos hemorrágicos em área esbranquiçada sexo feminino . de 42 anos de idade. B. Glóbulos cinza-
na região central superior e padrão vascular atípico, na -azulados de variados tamanhos, em meio a fissuras
parte inferior esquerda da figura (x 1 0) . [TPO = 7 ,9) . ou criptas , observando-se a presença de pseudocistos
C. Proliferação melanocítica atípica, hiperpigmentada . córneos e estrias ramificadas na periferia (x 1 0). C.
na epiderme com desorganização da arquitetura dos Proliferação melanocítica com formação de numero-
cones interpapilares. À direita do corte , nota-se área sos ninhos de células atípicas nas camadas inferiores
sugestiva de fenômeno de regressão com retificação da epiderme e estendendo-se à derme papilar. onde
da epiderme e, na derme. presença de melanófagos , também se observam numerosos melanófagos e capi-
fibroplasia e capilares neoformados . Melanoma tipo de lares neoformados ("melanose"). [H&E x100). Melano-
disseminação superficial (nível de Clark = 11 ; espessura ma tipo de disseminação superficial (nível de Clark = 11 ;
de Breslow = 0,23 mm). [H&E x 100). espessura de Breslow = O. 24 mm).

137
Melanoma

A B

Fig . 10.10 o A. Lesão pigmentada irregularmente na região dorsal interescapular, palpável sobre a superfície
cutãnea, em paciente feminina de 57 anos , medindo 13 x 9 mm , com aumento progressivo de tamanho e alte-
ração de coloração observados há cerca de 1 O meses (sic] . B. Padrão de múltiplos componentes, observando-se
exuberantes pseudópodes no pala superior da lesão, distribuição irregular de pigmento com variação de cores do
castanho-claro ao preto, presença de véu cinza-azulado, áreas esbranquiçadas irregulares, sugestivas de fenômeno
de regressão . Notam-se estrias ramificadas , pontos e glóbulos e áreas amorfas irregularmente distribuídos (x 10).
C. Proliferação melanocítica atípica ocupando a epiderme, a derme papilar e estendendo-se focalmente à derme
reticular. Notam-se extensa reação inflamatória mononuclear, grupos de melanófagos e vasos proeminentes e tor-
tuosos . C1 -detalhe de área sugestiva de fenômeno de regressão com adelgamento da epiderme, proliferação me-
lanocítica menos exuberante , fibrose, infiltrado inflamatório e ectasia vascular na derme [H&E- C x 100; C1 x40).
Melanoma tipo de disseminação superficial (nível de Clark = 111 ; espessura de Breslow = 0 ,32 mm).

2. Lesão maligna (lentigo maligno): melanomas e a 1Q-26% dos melanomas da cabeça


• aberturas foliculares assimétricas pigmentadas e do pescoço.
(invasão dos óstios foliculares por melanócitos O aspecto clínico é semelhante ao do tumor
atípicos); in situ, a textura da pele afetada é menos preserva-
da, com áreas discretamente elevadas, palpáveis ou
• estruturas romboidais escuras (proliferação
nodulares, podendo ocorrer áreas descamativas ou
de melanócitos atípicos contendo pigmento
irregulares.
que se estende ao redor dos folículos e coa-
A dermatoscopia evidencia aspecto semelhan-
lesce);
te ao do lentigo maligno, com maior intensidade
• pontos cinza-escuros (melanófagos na derme
e irregularidade. Áreas amorfas de pigmentação
superior);
difusa, áreas de regressão, áreas vermelho-leitosas
• glóbulos cinza-escuros (agregados de melanó- e áreas azul-acinzentadas podem ser encontradas,
fago s na derme superior) Y além de estrias radiadas e pseudópodes na periferia
da lesão 20•21 •24•27 (Figs . 10.32 a 10.36).
• MELANOMA TIPO
LENTIGO MALIGNO • MELANOMA ACRAL
Também denominado lentigo maligno-me- O melanoma acral ou acrolentiginoso, locali-
lanoma, compreende a forma invasiva do lentigo zado nas palmas e plantas, incide mais frequente-
maligno, corresponde a cerca de 4-15% de todos os mente nas raças mais pigmentadas, como a negra, a

138
Melanoma

A B

Fig. 10.11 O A. Paciente de 47 anos, com lesão preta. de centro castanho , elevado, localizada na região supraesc&
pular à direita da linha média . Relata exposição solar abusiva na faixa dos vinte aos trinta anos de vida e modificação do
nevo há cerca de cinco meses, com aparecimento de halo enegrecido (sic). 8 . Área central de pigmentação castanh&
-clara, sem estrutura, com estrias ramificadas irregulares e largas, circundada por intensa concentração de pigmento
de coloração cinz&azulada a preta, com a presença de glóbulos cinza-azulados a castanhos irregularmente distribuídos
e alguns pseudópodes na periferia . As áreas arredondadas claras irregularmente distribuídas representam aberturas
foliculares. No pala inferior da lesão há contiguidade com ceratose seborreica plana, com área castanha-clara sem
estrutura contendo pseudocomedões (x1 0). (TPO = 7,4). C. Notam-se hiperceratose, hiperplasia da epiderme com
ninhos melanocíticos atípicos, hiperpigmentados, invadindo a derme reticular. Not&se o nevo que representa a parte
elevada mais clara da lesão. Á direita, na foto , observ&se o nevo melanocítico intradérmico (porção mais elevada e
menos pigmentada da lesão) em contiguidade com ninhos de melanócitos atípicos na junção dermoepidérmica e na
derme correspondendo ao melanoma (à esquerda na foto) (H&E x40). Melanoma tipo de disseminação superficial
(nivel de Clark = IV; espessura de Breslow = 0,41 mm), associada a nevo melanocítico.

B c

Fig . 10.12 O A. Lesão pigmentada, enegrecida , irregular, papulosa , localizada na região dorsal de paciente do
sexo masculino de 32 anos de idade , com crescimento em cerca de um ano e meio. 8 . Padrão de múltiplos com-
ponentes , rede irregular e alargada , presença de pseudópodes no pala superior da lesão , coloração variada do
castanho ao preto e cinza-azulado , áreas amorfas escuras e esbranquiçada , véu esbranquiçado e cinza-azulado ,
glóbulos irregularmente distribuídos, de tamanho e coloração variada (x 1 0). C. Proliferação melanocítica atípica
ocupando a epiderme e preenchendo toda a derme papilar. À direita , nota-se a ocupação do epitélio parede fo-
licular por células melanocíticas atípicas hiperpigmentadas. Na derme reticular, há pequena reação inflamatória
mononuclear perivascular (H&E x40) .

139
Melanoma

Fig . 10.13 O A. Lesão papulosa , pigmentada irre- Fig . 10.14 O A. Lesão pigmentada papulosa, de colo-
gularmente, com área central mais escura , medindo ração castanho-escura a negra , periumbilical , medindo
10 x 7,5 mm, localizada na região poplítea esquerda , 17 x 14 mm, com vários anos de evolução ("desde a
em paciente feminina de 35 anos. B. Padrão múltiplos infância"), em paciente do sexo masculino de 69 anos.
componentes , com a presença de véu cinza-azulado, B. Véu cinza-azulado , padrão múltiplos componentes ,
pseudópodes, estrias ramificadas periféricas, áreas coloração variada do castanho ao preto e cinza-azulado ,
amorfas de coloração variada do castanho ao preto , rede pigmentada irregular e espessada, múltiplas áreas
glóbulos castanhos , pretos e cinza-azulados, assime- amorfas de coloração variada , área amorfa cinza na pe-
tria em dois eixos (x1 0) . C. Proliferação melanocíti- riferia da lesão, glóbulos pigmentados de variados tama-
ca atípica ocupando a epiderme e preenchendo toda nhos irregularmente distribuídos (x 1 0). C. Proliferação
a derme papilar, onde se observam também extensa melanocítica atípica comprometendo desde a epiderme
reação inflamatória mononuclear e numerosos mela- até a derme reticular. Entre os ninhos de células neoplá-
nófagos (H&E x40) . Melanoma tipo de disseminação sicas há numerosos melanófagos (H&E x40).
superficial (nível de Clark = 111 ; espessura de Breslow =
0,47 mm) .

140

- - -- -
Melanoma

Fig. 10.15 O A. Lesão pigmentada no hemitórax esquerdo que, em cerca de um ano , sofreu "apagamento" na
área central. permanecendo as extremidades papulosas, de coloração castanha-escura e o centro hipocrômico
levemente acinzentado , medindo 24 x 15 mm, em paciente masculino de 30 anos. 8. As extremidades possuem
padrão de múltiplos componentes , com pseudópodes, véu cinza-azulado , áreas amorfas irregulares de concen-
tração de pigmento do castanho ao preto, pontos e glóbulos, presença de sinal da pimenta na periferia interna
que esmaece em direção ao centro da área de regressão que predomina na lesão, ocupando cerca de 60% da
mesma (x 10) . C. Extensa proliferação melanocítica atípica ocupando desde a epiderme até a derme reticular. Em
C1, observa-se a área sugestiva de regressão parcial, com ausência de proliferação melanocítica na epiderme
e fibrose dérmica com neoproliferação vascular, além de infiltrado inflamatório linfo-histiocitário moderado (H&E
x40) .

hispânica e a asiática. Esse tipo de melanoma ain- Ao exame dermatoscópico, nas áreas de cresci-
da não tem sido beneficiado com maiores índices mento radial, observa-se o padrão em cristas para-
de diagnóstico precoce, devido à sua localização, lelas, encontrado em 83% dos melanomas in situ e
o que acarreta demora na procura de atendimento em 94% dos melanomas invasivos, à custa de pro-
médico. 28 -30 liferação melanocítica atípica, contendo pigmento.

141
Melanoma

A B

c
Fig. 10.1 & O A. Paciente do sexo masculino , de 38
anos, com duas lesões tumorais papulosas enegreci-
das, de superfície mamilonada , localizadas na região
peitoral direita , separadas por uma estreita faixa de
pele aparentemente normal , com micropápulas sa-
télites. medindo o conjunto 20 x 15 mm, evoluindo
há cerca de três anos (sic) . B. Padrão multicompo-
nentes, observando-se o véu cinza-azulado recobrin-
do grandes áreas amorfas cinza-azuladas e escuras, Fig. 10.17 O A. Lesão papulosa , castanha, eritema-
glóbulos cinza-azulados . alguns deles com pontos de tosa , com centro elevado castanho-escuro e periferia
erosão , área amorfa central com múltiplos pontos castanha-clara , localizada na região dorsal, à direita da
e glóbulos castanhos , sinal de pimenta e ponto de linha média, em paciente feminina de 13 anos, com
ulceração , áreas esbranquiçadas irregulares [x 1 0) . evolução de dois anos, em relação a uma lesão névica
[TPO = 7 ,9) . C. Ocupação da epiderme hiperplásica preexistente . B. Rede pigmentada alargada na periferia,
e da derme superior por extensa proliferação mela- contendo áreas focais de hipocromia, em algumas de-
nocítica atípica , circundada por grande reação infla- las notando-se a presença de glóbulos castanhos . Véu
matória mononuclear contendo numerosos melanó- cinza-azulado central , sobre área de pigmentação irre-
fagos (H&E x40) . Melanoma tipo de disseminação gular, com pontos e pequenos glóbulos cinza-azulados
superficial (nível de Clark = IV; espessura de 8reslow (x10). C. Proliferação melanocítica com formação de
= 0,83 mm) . ninhos irregulares na epiderme e na derme compos-
tos por células atípicas (H&E x40) . Melanoma tipo de
disseminação superficial (nível de Clark = 111 ; espessura
de Breslow = 0 ,91 mm) associado a nevo melanocítico
composto (não representado na figura) .

Podem ainda ocorrer bordas abruptas, pontos escuros terísticas próprias da pele acral. Observam-se áreas
periféricos e hiperpigmentação difusa. 24•3 1 Nas lesões de regressão, padrão vascular atípico, áreas vermelho-
mais evoluídas, o padrão é polimórfico,como nos mela- -leitosas, áreas hipercrômicas bizarras e glóbulos irre-
nomas tipo de disseminação superficial, com as carac- gularmente distribuídos20.24.3 1 (Fí.gs. 10.37 e 10.38).

142
Melanoma

Fig . 10.18 o A. Paciente masculino de 42 anos, há 10 anos com "mancha nas costas que era escura por inteiro ,
mas há um ano e meio apresentou "manchas brancas no meio" e que "sangram quando coça". Ao exame clínico,
lesão melanocítica assimétrica, medindo 27 x 22 mm, localizada na região interescapular, multicolorida, com área
central plana , castanha com halo hipocrômico circundado por formações periféricas irregulares enegrecidas palpá-
veis sobre a superfície da pele . Notam-se área castanha irregular e ponto cinza-azulado excêntrico (seta]. B. Padrão
de múltiplos componentes , com grandes áreas amorfas castanhas no paio superior à direita contendo glóbulos de
tamanhos irregulares, cinza-azulados . Área esbranquiçada à esquerda e acima com uma formação cinza-azulada
homogênea arredondada , sugerindo micrometástase (seta), em meio à área de regressão . Na parte inferior da
lesão há pseudópodes periféricos, irregularmente distribuídos, áreas amorfas de coloração castanha variável , véu
cinza-azulado e esbranquiçado e glóbulos irregulares cinza-azulados (x10]. C. Proliferação melanocítica na epiderme
com formação de numerosos ninhos de tamanho variado contendo células atípicas hiperpigmentadas. Extenso infil-
trado inflamatório mononuclear com presença de melanófagos (H&E x40) . D. Área de epiderme retificada , infiltrado
inflamatório mononuclear, perivascular, focal , fibrose e capilares neoformados, sugestiva de fenômeno de regressão ,
contendo agrupamento nodular na derme reticular, constituído por células melanocíticas atípicas, medindo 1 ,2 mm
de diâmetro, correspondendo a uma micrometástase (H&E x40]. E. Cortes seriados da área da micrometástase
(0) evidenciam massa tumoral composta de células melanocíticas pigmentadas. Melanoma tipo de disseminação
superficial com micrometástase satélite em área de regressão (nível de Clark = IV; espessura de Breslow = 4 ,9
mm]. (H&E x40].

143
Melanoma

nação racial. Os dedos mais acometidos são o hálux


e o polegar, seguidos pelo indicador. Muitos pa-
cientes portadores de melanomas subungueais são
biopsiados após vários anos de terapia superficial
para o que se imaginava ser paroníquia vegetante,
granuloma piogênico periungueal, verruga ou unha
encravada, agravando o prognóstico.
Levit e colaboradores elaboraram a regra do
ABCDEF para a detecção clínica do melanoma su-
bungueal: A corresponde à idade (age): entre 2G-90
anos, com pico de incidência da quinta à sétima
décadas, mais incidente nas etnias negra, africana
e asiática. B vem de band, uma faixa de pigmento
castanho ou preto, com largura (breadth) mm
e bordas irregulares, apagadas ou borradas. C é de
B
change, alteração: rápido aumento de tamanho ou
crescimento da faixa pigmentada. Ocorre ausência
de resposta ao tratamento instituído. D diz respei-
to ao dedo acometido: polegar > hálux > indicador.
Um único dedo é acometido mais frequentemente
do que múltiplos dedos. D também se refere à domi-
nant hand, a mão dominante. E refere-se a extension,
o pigmento estende-se até a dobra ungueal proximal
(sinal de Hutchinson) ou distal da unha; e F a family
orpersonal history, ou seja, história pessoal ou familiar
Fig. 10.19 D A. Paciente feminina , 22 anos, com de melanoma ou síndrome do nevo displásico. 32
lesão papulosa, preta, medindo 5 mm no seu maior
eixo, no joelho direito, identificada no exame físico . B .
À dermatoscopia, as lesões iniciais com mela-
Observa-se concentração de pigmento nos dois terços noníquia no melanoma subungueal apresentam-se
superiores da lesão , identificando-se de permeio a pre- com desorganização e barramento das linhas ou
sença de glóbulos cinza-azulados, de tamanho variado ,
e estrias radiadas na periferia . No terço inferior, no- estrias paralelas longitudinais, pigmentação irre-
tam-se coloração castanho-clara e pequenos glóbulos gular, por vezes com a presença de pontos escuros
de tamanho uniforme , agrupados , correspondendo ao
e glóbulos. O sinal de Hutchinson pode ser mais
nevo melanocítico (x1 0) . (TPO = 6 ,3) . C. Proliferação
melanocítica com formação de grandes ninhos irregu- bem observado com o dermatoscópio e, embora
lares de células densamente pigmentadas na epider- importante indicador do melanoma subungueal,
me, presença de células hiperpigmentadas atípicas na
derme reticular e infiltrado inflamatório linfocitário de
não é patognomônico, principalmente quando a
intensidade moderada (H&E x100). Avaliação de nível pigmentação é menos intensa, podendo ocorrer em
de Clark e espessura de Breslow prejudicada . processos benignos como os nevos melanocíticos.
Kawabata et ai. ressaltaram em seus estudos, em
• MELANOMA 2001, que a presença de pigmento no hiponíquio,
SUBUNGUEAL observada ao dermatoscópio, contribui para o diag-
O melanoma subungueal ou periungueal é nóstico precoce de melanoma subungueal, com-
considerado raro em caucasianos, mas sua incidên- plementando o sinal de Hutchinson 20•24 •33 •34 (Figs.
cia não é rara no Brasil, tendo em vista a miscige- 10.39 e 10.40).

144
Melanoma

Fig. 10.20 D A. Lesão castanho-escura, assimétrica ,


medindo 11 x 17 mm, com metade inferior mais cla-
ra, de aspecto cicatricial , localizada na região lombar à
direita , referindo o paciente o hábito de "coçar" o local.
Nota-se superfície crostosa e descamativa. B. Padrão
multicomponentes, área esbranquiçada central , irregu-
lar, área menor cinza-azulada à direita , circundada por
padrão vascular atípico, presença de áreas com crostas
hemorrágicas na parte inferior da figura e área amorfa
castanha na periferia , com estrias ramificadas irregula-
res (x 10). [TPD = 7 , 1 ). C. Notam-se proliferação melano-
cítica atípica na epiderme, presença de células pigmen-
tadas fusiformes e outras de núcleo pequeno na derme
reticular (padrão nevoide), e infiltrado inflamatório lin-
focitário (H&E x 100). Melanoma tipo de disseminação
superficial (avaliação de nível de Clark e espessura de
Breslow prejudicada), associado a nevo melanocítico .

• MELANOMA ma desmoplásico e relataram que apenas 3 deles


DESMOPLÁSICO apresentavam os critérios clássicos para lesões me-
Predominantemente no sexo masculino (60%), lanocíticas, e os demais casos foram reconhecidos
a partir da quarta década da vida, esse tipo raro de com base na presença de figuras de regressão (áreas
melanoma ocorre principalmente na cabeça, no esbranquiçadas, semelhantes a cicatrizes e sinal de
pescoço e na região dorsal alta, como pápula, apa- pimenta), múltiplas cores (mais de 4) e padrão vas-
rentando uma pequena cicatriz, ou placa discreta- cular atípico associado a melanoma, ou seja, vasos
mente elevada, cor da pele, por vezes com um com- lineares irregulares e áreas vermelho-leitosas 39- 41
ponente lentiginoso tênue ou ainda amelanótico. (Fig. 10.41).
Pode incidir ainda em associação ao melanoma do
tipo lentigo maligno ou melanoma lentiginoso das
mucosas. 35 -38 • MELANOMA
A dermatoscopia do melanoma desmoplásico AMELANÓTICO
não é característica, mas ao nos depararmos com Sua ocorrência é rara. Cerca de 2% dos mela-
uma lesão papulosa, de aspecto fibroso ou cicati- nomas incide frequentemente em áreas expostas,
cial, na face, no pescoço ou na região dorsal alta, podendo simular lesões benignas como granulomas
em paciente do sexo masculino, encimada por um piogênicos, linfocitomas cutâneos, granulomas anu-
componente lentiginoso de aspecto, por vezes, dis- lares, cicatrizes, nevas intradérrnicos, ceratoses sebor-
creto, irregular, sugerindo um lentigo atípico, esse reicas, verrugas vulgares, ceratoses actínicas, derma-
diagnóstico deverá ser considerado. Esforços deve- tites e verrugas vulgares. Pode ainda simular lesões
rão ser dirigidos no sentido de ser realizada uma como basocelulares, ceratoacantomas, Bowen, carci-
biópsia excisional. Debarbieux et a/. estudaram os noma de células de Merckel, fibroxantomas atípicos
aspectos dermatoscópicos de 6 casos de melano- ou tumores malignos ou benignos. C2.1ralquer tipo de

145
Melanoma

..

Fig. 10.21 O A. Paciente feminina de 49 anos, com lesão evoluindo na região dorsal a partir de uma "pinta" cen-
tral, há anos, expandindo-se de forma centrífuga (sic) , até atingir o tamanho de 56 x 60 mm, com bordas irregu-
lares, formato arredondado, cor variando do castanho ao azul e ao preto , com áreas esbranquiçadas de aspecto
cicatricial (fenômeno de regressão parcial) . B. Na periferia da lesão , verificamos estrias radiadas e numerosos
pseudópodes , pontos e glóbulos castanhos e negros , véu branco com múltiplos pontos cinza-azulados , extensa
área de regressão , padrão vascular atípico com eritema , pontos e glóbulos vermelhos , zonas azuis homogêneas
e áreas de concentração de pigmento escuro (x 10). (TPO = 8 ,9). C. Área central da lesão correspondendo à
porção mais elevada, com a presença de grandes glóbulos negros e castanho-escuros, circundados por área de
regressão com padrão vascular atípico , e sinal de pimenta . Há também zonas azuis homogêneas irregularmente
distribuídas e véu branco . O. Detalhe da porção periférica da lesão ilustrando ninhos celulares fusionados e alon-
gados na junção dermoepidérmica, correspondendo às estrias/pseudópodes. Na derme , observam-se células
atípicas hiperpigmentadas, numerosos melanófagos, infiltrado inflamatório linfo-histiocitário e vasos hiperplasia-
dos. Melanoma tipo de disseminação superficial (avaliação de nível de Clark e espessura de Breslow prejudicada)
(H&E x 100).

melanoma pode ser amelanótico, sendo que mais fre- o padrão vascular atípico, com pequenos pontos
quentemente ocorrem lentigos malignos, melanoma vermelhos, aleatoriamente distribuídos ou agru-
subungueais e desmoplásicos, com cerca de 25% do pados, linhas ou glóbulos vermelhos, em meio a
primeiros e 50% dos segundos amelanótico . Metás- um fundo claro, esbranquiçado ou rosa-averme-
tases amelanóticas com frequência surgem a partir de lhado, difuso. A presença de glóbulos vermelho-
um tumor primário pigmentado. "2· 46 -leitosos, bem como esboço de rede ou resíduos
Devido ao fato de conterem muito pouco ou sutis de pigmento na periferia, pode facilitar o
nenhum pigmento em suas células, os melano- diagnóstico. 47 - 49
mas hipomelanóticos ou amelanóticos não pos- deGiorgi et ai., em 2006, chamaram a atenção
suem as características habituais, descritas ante- para a ausência de rede e outras estruturas pigmen-
riormente, à dermatoscopia. Torna-se evidente tadas e para a presença de vasos puntiformes, li-

146
Melanoma

Fig. 10.22 D A . Paciente do sexo masculino, de 32


anos, com lesão globosa, exofítica, de coloração casta-
nha-escura, superfície descamativa, medindo 1 O mm Fig. 10.23 D A. Paciente do sexo masculino, com
de diâmetro, crescendo a partir de nevo melanocítico lesão nodular de superfície vegetante , com crostas
plano , de coloração castanha , superfície discretamen- hemáticas, medido 20 mm de diâmetro , localizada
te verrucosa, medindo 20 x 14 mm, localizado na face na região occipital/parietal à esquerda da linha mé-
posterior do terço superior da coxa esquerda . Evolução dia, no couro cabeludo, com evolução de dois anos e
em torno de um ano sobre a lesão névica preexistente , crescimento mais rápido nos últimos 4 meses. Gânglio
com sangramentos esporádicos a pequenos traumas cervical palpável na cadeia posterior à esquerda . B. A
(sic) . B. Numerosos glóbulos grandes e pequenos, dermatoscopia revela a presença de múltiplos glóbulos
cinza-azulados, alguns deles vermelho-leitosos, agrupa- cinza-azulados e glóbulos vermelhos , agrupados , com
dos, ocupando quase toda a área da lesão. Notam-se padrão vascular atípico bastante acentuado caracteri-
a presença de ponto de ulceração acima e à direita e zado por vasos lineares, curtos e pontos vermelhos ,
crosta hiperceratótica abaixo e à direita . Há ainda pa- identificados nos glóbulos. Notam-se hemorragia e
drão vascular atípico principalmente na periferia com crosta de sangue coagulado (x10). (TPD= 5,4) .
vasos lineares ou arqueados entre os glóbulos (x1 0).
(TPD = 6,1 ). C. A histopatologia evidencia a presença
de múltiplos glóbulos ou massas de células melanocíti- ABCDEF e a dos 7 pontos em lesões não pigmen-
cas atípicas ocupando toda a derme papilar e reticular, tadas, e lembram que Argenziano et ai., em 2004,
agrupados e confluentes, associados a nevo melanocí-
tico intradérmico do tipo congênito. Melanoma nodular
demonstraram que a presença de vasos puntiformes
(nível de Clark = IV; espessura de Breslow = 3,42 mm). seria altamante indicativa de lesão melanocítica. 51
(H&E x40). Menzies etaf., em 2008,selecionaram 3 catego-
rias de lesões: amelanóticas (ausência de pigmento
neares irregulares e em grampo de cabelo, localiza- melânico indicado pelas cores castanha, castanho-
dos excentricamente nas bordas da lesão, em fundo -escura, azul, cinza ou preta) e 2 subdivisões de le-
esbranquiçado. 50 Os autores relatam ainda a inefi- sões hipomelanóticas- parcialmente pigmentadas
ciência dos métodos algorítmicos como a regra do (pigmento melânico em menos de 25% da área da

147
Melanoma

Fig. 10.24 O A. Paciente de 81 anos, do sexo masculino , com lesão tumoral escura , exofítica, angiomatosa ,
medindo 16 x 12 milímetros, com lesão lentiginosa ao lado , localizada no hemitórax esquerdo , ao lado do mami-
lo, com sangramento ocasional e evolução relatada de meses . B . A lesão lentiginosa associada possui rede pig-
mentada irregular, múltiplos pontos periféricos irregularmente distribuídos , áreas irregulares de concentração
de pigmentos castanho-escuro e preto , pequenos glóbulos castanhos e pretos , estrias ramificadas irregulares e
eritema de permeio . Esta lesão encontra-se interligada à lesão exofítica por uma área esbranquiçada . À direita
e acima observa-se a lesão de aspecto angiomatoso , com grandes glóbulos vermelho-leitosos acima e glóbulos
vermelho-escuros predominantes nesta área , com padrão vascular atípico, incluindo telangiectasias na área
esbranquiçada periférica (x 1 0) . C. Nesta área da lesão observam-se os glóbulos vermelhos leitosos ao centro
e acima , com zonas hemorrágicas e padrão vascular atípico . Na periferia predominam os glóbulos vermelhos
escuros de tamanho variado , alguns deles com tonalidade ligeiramente acastanhada acima à esquerda e abaixo
à direita (x 10). D. Proliferação de células melanocíticas atípicas ocupando a epiderme e a derme com delimi-
tação lateral por colarete epitelial e permeada por numerosos vasos capilares ectasiados . Melanoma nodular
(nível de Clark = IV; espessura de Breslow = 4 ,63 mm) [H&E x40) .

lesão) e levemente coloridas (castanho, azul-claro melanoma: múltiplos microcistos (mais de 3); pig-
ou cinza-claro ocupando mais de 25% da lesão, sem mentação simétrica; vasos em vírgula com distri-
a presença de cores escuras). Estudaram 105 me- buição regular e múltiplos pontos marrons. Foram
lanomas, 170 lesões pigmentadas benignas e 222 considerados fatores positivos a presença de des-
lesões não pigmentadas, estabelecendo um modelo pigmentação, vasos arboriformes pequenos, áreas
para distinguir o melanoma amelanótico das lesões semelhantes a folhas, ulceração, glóbulos cinza-
benignas com pouco ou nenhum pigmento. Foram -azulados distribuídos irregularmente, cor cinza e
considerados fatores de exclusão ou negativos para vasos de grande diâmetro 52 (Figs. 10.42 e 10.43).

148
Melanorna

Fig. 10.25 o A. Lesão nodular globosa, clara , com telangiectasias na superfície lisa , pedículo largo, circundado
parcialmente por pigmento irregular castanho e preto , medindo 15 milímetros de diâmetro , localizada na região
escapular direita , em paciente do sexo masculino, de 80 anos, com evolução de cerca de um ano, sangramento há
9 meses (sic] . B. A tumoração globosa é amelanótica à dermatoscopia , com padrão vascular constituído por vasos
delicados, finos, ramificados e lineares por toda a superfície da lesão. A base pigmentada, em meia-lua, tem padrão
de múltiplos componentes , com rede irregular e áreas amorfas irregulares de concentração de pigmento variando
do castanho ao preto (x 1 0]. C. Formação tumoral pediculada constituída por massa de células predominantemente
epitelioides ou arredondadas, atípicas, de citoplasma eosinofílico, núcleo vesiculoso, nucléolo evidente, com a pre-
sença de poucas figuras de mitose e escassa quantidade de pigmento melânico (H&E x40]. D. Parte superior da
lesão recoberta por epiderme retificada , notando-se a presença de vasos capilares ectasiados de permeio à massa
tu moral de células melanocíticas predominantemente de aspecto epitelioide (H&E x 100].

• MELANOMA FINO, te aquelas que destoam das demais ("ugly duckfing


MELANOMA PEGUENO sign'), deparamo-nos com o desafio do diagnóstico
precoce do melanoma, a partir de um mínimo de in-
E MICROMELANOMA
formações. Aprender a lidar com elas é o exercício da
À medida que utilizamos mais frequentemente arte do diagnóstico em dermatoscopia.
o dermatoscópico, seja o modelo tradicional, manual, Os melanomas finos são frequentemente le-
de aumento de lüx, ou outros modelos digitais, e sões planas com distribuição irregular de pigmento,
o colocamos sobre lesões pequenas, principalmen- sendo muitas vezes confundidos com nevas me-

149
Melanoma

c
Fig. 10.26 O A. Lesão pigmentada nodular ulcerada de fundo granuloso vegetante e bordas bem delimitadas,
localizada no ombro direito de paciente do sexo masculino de 51 anos que trabalhava ao sol. Evolução de pelo
menos um ano , com crescimento progressivo. Gânglio palpável na axila direita. B. Na área central da lesão pre-
dominavam os glóbulos vermelhos-leitosos, observados à direita na figura , de variados tamanhos, recobertos
parcialmente por véu esbranquiçado , com padrão vascular atípico constituído por vasos finos ramificados . Áreas
de hemorragia acima e à direita . Borda pigmentada à esquerda , delimitando a lesâo com interrupção abrupta de
pigmento , presença de véu cinza-azulado e esbranquiçado, áreas amorfas, fendas ou criptas expondo pigmento
preto ou castanho (x 10) . C. Proliferação de células melanocíticas atípicas ocupando a derme em toda a sua ex-
tensão, constituída por células fusiformes e epitelioides, muitas delas contendo pigmento, formando uma massa
compacta , percorrida por vasos capilares ectasiados, mais calibrosos na base da lesâo . Melanoma nodular (nível
de Clark = IV; espessura de Breslow = 5 ,12 mm). (H&E x40).

lanocíticos atípicos adquiridos, constituindo um mais significativo no diagnóstico dos melanomas


desafio para o dermatologista. Anessi, Bono et al finos 53 (Figs. 10.44 a 10.55).
publicaram, em 2007, um estudo de 198 lesões e Melanomas pequenos são considerados aque-
avaliaram a presença e a ausência de 23 aspectos les que medem 5 mm ou menos e, mais recente-
dermatoscópicos e o desempenho de 3 métodos mente, micromelanomas, aqueles com menos de 3
algorítmicos (regra do ABCDEF, regra dos 7 pon- mm de diâmetro. Não se aplica a regra do ABC-
tos e análise dos padrões), chegando à conclusão de DEF dermatoscópico: ocorre queda da sensibilidade
que, para o diagnóstico de melanoma, ocorrem por- de 86-94% para 77% e da especificidade de 79-81%
centuais falsos-negativos da ordem de 21,8% com a para 72%. As lesões pequenas ainda não desenvol-
regra dos 7 pontos, de 15,6% com a do ABCDEF e veram todo o espectro de alterações clínicas e der-
14,6% com a análise dos padrões. Ressaltam ainda matoscópicas características de lesões maiores de
que a presença de áreas homogêneas castanho-ela- nevos ou melanomas. menor a lesão, maior
ras foi o aspecto dermatoscópico estatisticamente a insegurança nos diagnósticos clínico e dermatos-

150
Melanoma

Fig. 10.27 O A. Paciente feminina de 53 anos, com


lesão hipercrômica irregularmente pigmentada, no
dorso do nariz, medindo 2 ,5 mm, com evolução aproxi-
mada de seis meses (sic) . B. Lesão assimétrica, áreas
de concentração de pigmento, de coloração castanha
ao preto , aberturas foliculares assimétricas, presença
de pontos castanhos (x 1 0) . (TPD = 7 ,2) . C. Prolife-
ração melanocítica intraepidérmica , com acentuada
hiperpigmentação, inclusive nas camadas superiores ,
e discreta atipia citológica . Na derme, há presença de
melanófagos, infiltrado inflamatório linfocitário e dege-
neração basofílica do colágeno . Melanoma in situ, tipo Fig. 10.28 O A. Lesão irregular. enegrecida , pla-
lentigo maligno [H&E x 100). na . medindo 4 mm de diâmetro, localizada na região
temporal direita, identificada em exame físico , em
paciente do sexo masculino de 68 anos. quando a
queixa referia-se às ceratoses seborreicas na face . B.
cópico. O método de Menzies pode ser utilizado Observam-se área de coloração preta , com formação
de pseudorrede de malhas largas , devido às abertu-
com boa aplicabilidade em lesões pequenas. 47 Os ras foliculares, próprias da face ; área homogênea de
critérios dermatoscópicos, descritos por Bano e co- concentração de pigmento na extremidade inferior
à esquerda , com obliteração dos óstios foliculares .
laboradores, para melanoma em lesões melanocí- Rede pigmentada fina , contígua, localizada abaixo e
ticas pequenas são: estrias radiadas, pseudópodes, à direita . Nota-se a presença de pseudocistos cór-
véu cinza-azulado, véu esbranquiçado, regressão e neos irregularmente distribuídos (x 1 0) . (TPD = 6 ,8) .
C. À direita na ilustração, observam-se acantose e
eritema, pontos pretos na periferia em presença de papilomatose . hiperpigmentação e pseudocistos cór-
rede pigmentada, rede pigmentada espessa e irregu- neos . correspondendo à ceratose seborreica (x40) .
O. Maior aumento da metade esquerda da imagem
lar, pontos vermelhos em fundo vermelho-leitoso, anterior evidenciando proliferação de melanócitos atí-
considerando-se lesão suspeita a presença de pelo picos , em disposição contínua na camada basal , sem
menos um desses critérios. Acrescentar, por nos- formação de ninhos, e ocupando também o epitélio
anexial. Na derme papilar. há um infiltrado inflama-
sa sugestão, a presença de pelo menos um glóbulo tório linfocitário e ectasia vascular. Melanoma in situ
cinza-azulado e área castanha homogênea. 54 tipo lentigo maligno [H&E x 1 00) .

151
Melanoma

Fig. 10.30 D A . Mácula castanho-escura plana, de


pigmentação irregular, medindo 1 9 x 20 mm, locali-
zada na região malar direita . Evolução longa em pa-
ciente de 81 anos, com hiperpigmentação progressi-
va. B. Observa-se padrão de multicomponentes, com
áreas sem estrutura, de concentração de pigmento,
irregulares , aberturas foliculares assimétricas, com
obliteração de óstios foliculares, presença de estrias
ramificadas, pontos , glóbulos e área esbranquiçada
[x1 0) . [TPO = 8,3) . C. Proliferação de melanócitos atí-
picos nas camadas inferiores da epiderme. Na derme,
há infiltrado inflamatório linfocitário , ectasia vascular e
degeneração basofílica do colágeno. Melanoma in situ
tipo lentigo maligno [H&E x 1 00) .

Fig. 10.29 D A. Mancha lentiginosa enegrecida, de


bordas irregulares e esmaecidas, localizada no lóbulo
auricular esquerdo , medindo 6 milímetros, circundada
• SIMULADORES
por halo irregular de pigmento castanho-claro, em pa- DE MELANOMA E
ciente masculino de 78 anos. Nota-se a pele clara e ac-
tinica. B. Área irregular de concentração de pigmento,
MELANOMA INCÓGNITO
com pseudorrede de malhas largas e obliteração dos Os simuladores de melanoma incluem um gru-
óstios foliculares, formando estruturas romboides [x 1 0).
po heterogêneo de lesões cutâneas melanocíticas e
C. Proliferação de melanócitos atípicos na epiderme ,
formando ninhos interligados, constituídos por células não melanocíticas. Dentre as primeiras, encontram-
claras contendo pigmento e ocupando parcialmente o -se os nevos melanocíticos atípicos, nevos densa-
epitélio do infundíbulo folicular. Na derme, há numerosos
melanófagos, extensa degeneração basofílica do coláge- mente pigmentados, nevos combinados, nevo azul
no e um discreto infiltrado inflamatório [H&E x40). composto, nevo traumatizado, nevos adquiridos

152
Melanoma

Fig. 10.30 O A. Mácula castanho-escura plana , de


pigmentação irregular, medindo 19 x 20 mm , locali-
zada na região malar direita. Evolução longa em pa-
ciente de 81 anos, com hiperpigmentação progressi-
va . B. Observa-se padrão de multicomponentes, com
áreas sem estrutura, de concentração de pigmento ,
irregulares, aberturas foliculares assimétricas, com
obliteração de óstios foliculares , presença de estrias
ramificadas , pontos , glóbulos e área esbranquiçada
(x1 0). (TPO = 8 ,3] . C. Proliferação de melanócitos atí-
picos nas camadas inferiores da epiderme . Na derme,
há infiltrado inflamatório linfocitário, ectasia vascular e
degeneração basofílica do colágeno . Melanoma in situ
t ipo lentigo maligno (H&E x 1 00) .

Fig. 10.29 O A. Mancha lentiginosa enegrecida, de


bordas irregulares e esmaecidas, localizada no lóbulo
auricular esquerdo, medindo 6 milímetros, circundada
• SIMULADORES
por halo irregular de pigmento castanho-claro , em pa- DE MELANOMA E
ciente masculino de 78 anos. Nota-se a pele clara e ac-
MELANOMA INCÓGNITO
tínica . B. Área irregular de concentração de pigmento,
com pseudorrede de malhas largas e obliteração dos Os simuladores de melanoma incluem um gru-
óstios foliculares, formando estruturas romboides (x1 0). po heterogêneo de lesões cutâneas melanocíticas e
C. Proliferação de melanócitos atípicos na epiderme ,
formando ninhos interligados, constituídos por células não melanocíticas. Dentre as primeiras, encontram-
claras contendo pigmento e ocupando parcialmente o -se os nevos melanocíticos atípicos, nevos densa-
epitélio do infundíbulo folicular. Na derme, há numerosos
melanófagos, extensa degeneração basofílica do coláge-
mente pigmentados, nevos combinados, nevo azul
no e um discreto infiltrado inflamatório (H&E x40) . composto, nevo traumatizado, nevos adquiridos

152
Melanoma

Pontos agrupados • Estruturas romboidais • Areas • Areas


Estrias curtas • Células de melanoma homogêneas homogêneas
Primeiros sinais nos foliculos • óstios foliculares • óstios foliculares
de estruturas proliferam e invadem obliterados preservados
romboidais a derme adjacente
• Assimetria das
aberturas foliculares

Fig. 10.31 O Modelo de Progressão de Crescimento do Lentigo Maligno .

Fig. 10.32 O A. Lesão pigmentada. enegrecida, plana, sobre cicatriz de sarcoidose, na face à esquerda, medindo 2
x 5 mm, em paciente feminina de 41 anos. B. Pigmentação cinza-azulada e enegrecida irregular. com óstios foliculares
assimétricos, presença de pontos castanhos e glóbulos cinza-azulados e castanhos. Nota-se ainda padrão vascular
com pontos vermelhos e vasos lineares (x10). [TPO = 7,1 ). C. Proliferação de melanócitos atípicos distribuídos irregu-
larmente na epiderme, no infundíbulo folicular e na derme papilar. Há presença de melanófagos. acentuado infiltrado
inflamatório linfocitário e ectasia vascular. Notar hiperceratose, acantose e hipergranulose sobrepostas à área de
pigmento intradérmico [véu cinza-azulado) (x100). Melanoma tipo lentigo maligno (nível de Clark = 11; espessura de
Breslow = 0,15 mm) (x100).

melanocíticos que podem adquirir abruptamente podemos incluir ceratoses seborreicas pigmentadas,
um halo pigmentado após trauma, nevos modifica- irritadas ou não, melanoacantomas, ceratoses actí-
dos por exposição solar ou alterados por condições nicas pigmentadas, dermatofibroma aneurismático,
hormonais ou quimioterapia. No segundo grupo, tumores anexiais como o poroma ou o porocarcino-

153
Melanoma

A
A

c
Fig. 10.33 D A. Mancha lentiginosa , de pigmentação
castanho-escura e enegrecida . irregular. acometendo a
Fig. 10.34 D A. Mácula irregular. extensa . de co-
borda ciliar da pálpebra inferior e estendendo-se à con-
juntiva do tarso. com evolução de cerca de um ano e loração variando do castanho-claro ao preto. esten-
crescimento progressivo. em paciente feminina de 34 dendo-se da região temporal à zigomática esquerda,
anos. B. Rede pigmentada irregular com estrias rami- com crescimento progressivo ao longo de dois anos,
à esquerda e abaixo na ilustração . Na porção
em paciente do sexo fel'!linino de 77 anos, com pele
med1a, observa-se concentração de pigmento negro ao elastótica, actínica . B. Areas irregulares de concen-
redor e invadindo os óstios foliculares da borda ciliar, tração de pigmentos castanho e preto. entremeadas
com véu cinza-azulado e esbranquiçado . Há eritema à pela pseudorrede da face, com obliteração dos ás-
direita e padrão ramificado e linear na porção superior tios foliculares formando as estruturas romboides,
da figura, eritema difuso e sinal da pimenta em meio a presença de véu cinza-azulado na parte inferior da
pigmento granuloso grosseiro. Padrão global de múlti- figura. numerosos pontos e pequenos glóbulos cas-
plos componentes (x 10). tanhos irregularmente distribuídos por toda a lesão.
Há ainda de permeio áreas hipocrômicas irregulares,
sugestivas de regressão (x1 0). C. Corte histológico
correspondente à parte inferior da lesão, com prolife-
ma, angioceratomas, hemangioma trombosados, ração melanocítica contínua em toda a camada basal
carcinomas basocelulares pigmentados ou verrugas da epiderme. formando numerosos ninhos coalescen-
inflamadas. Embora os critérios dermatoscópicos tes de células atípicas pigmentadas e ocupando toda
a derme papilar. Na derme. há pigmento dentro e fora
tenham sido cuidadosamente descritos para orien- dos macrófagos, ectasia vascular e um moderado in-
tar a diferenciação entre lesões melanocíticas e não filtrado inflamatório, além de acentuada degeneração
basofílica do colágeno . Melanoma tipo lentigo malig-
melanocíticas, alguns aspectos podem parecer con-
no (nível de Clark = 111; espessura de Breslow = 0,25
fusos quando presentes na mesma lesão. De forma mm) . (H&E x100).
inversa, existem melanomas que podem conter ele-

154
Melanoma

A c

Fig. 10.35 D A. Paciente de 81 anos com lesão len-


t iginosa, enegrecida, irregular, na área calva do couro
cabeludo , evoluindo há um ano. com crescimento pro-
gressivo e superfície rugosa , em meio a pele actínica . B.
Nas porções média e superior da figura , observa-se véu
cinza-azulado sobre pigmento castanho-escuro irregular,
com obliteração de óstios foliculares. Aspecto cerebri-
forme constituído por agrupamento de glóbulos cinza-
-azulados claros, de tamanho variado , entremeados por
criptas ou fissuras de coloração castanha . Na parte su-
perior. à esquerda. há ainda uma área amorfa castanha
na periferia, com eritema subjacente . Padrão de múl-
tiplos componentes (x 10). C. Acentuada hiperceratose
e hiperplasia da epiderme. formando túneis córneos.
e proliferação melanocítica de células claras , atípicas,
contendo pigmento, formando grandes ninhos irregula-
res na epiderme e na derme (H&E x40). D. Detalhe da
figura anterior mostrando foliculotropismo e a ocupação
da epiderme por ninhos de células melanocíticas claras ,
contendo pigmento (H&E x100). E. Secção histológica
correspondente à área mais cerebriforme da lesão evi-
denciando o comprometimento da derme reticular por
massas de células melanocíticas claras e acentuada
hiperplasia epidérmica de aspecto verrucoso . Há ainda mentos característicos de lesões não melanocíticas,
um acentuado infiltrado inflamatório e ectasia vascular. como, por exemplo, múltiplos pseudocomedões ou
Melanoma tipo lentigo maligno , assemelhando ceratose
seborreica com foliculotropismo (nível de Clark = IV; es-
pseudocistos, mimetizando lesão benigna55 -62 (Figs.
pessura de Breslow = 0 ,84 mm). (H&E x100). 10.56 a 10.69).

155
Melanoma

Fig . 10.36 D A. Mácula enegrecida lentiginosa, localizada no sulco nasolabial de paciente do sexo feminino de 74
anos, evoluindo durante quatro anos a partir de um lentigo de coloração castanha , com escurecimento e cresci-
mento progressivo , apresentando formação nodular central há cerca de dois meses (sic). B. O véu cinza-azulado
recobre toda a área de concentração de pigmento preto com obliteração intensa dos óstios foliculares, notando-se
os pseudocomedões correspondentes . Na área central , uma massa globosa uniforme, compacta de pigmento pre-
to recoberta por véu cinza-azulado . Na periferia da lesão, à esquerda, observa-se pigmento castanho irregular em
meio a óstios foliculares irregulares, alguns ainda preservados (x 10). C. Neoplasia de aspecto nodular, delimitada
por colarete epidérmico, constituída por massa compacta de células melanociticas atípicas, pigmentadas, com
vasos capilares ectasiados na base [H&E x40) . D, E. Zonas adjacentes a [C) evidenciando a extensa proliferação
melanocitica intraepidérmica , dérmica e também no infundíbulo folicular, correspondendo à imagem dermatoscópi-
ca. Melanoma tipo lentigo maligno, com área de crescimento nodular (nível de Clark = IV; espessura de Breslow =
B mm) . [H&E x40).

• MELANOMA EM melanoma primário não evidente, e encontraram 7


REGRESSÃO TOTAL aspectos dermatoscópicos associados a melanoma
Geralmente, corresponde a áreas de aspecto ci- em regressão total: despigmentação semelhante a
catricial ou com eritema irregular, desprovidas de cicatriz (100%); fundo vinhoso (100%); vasos linea-
pigmento ou com pigmentação granular ou sinal res irregulares (86%); vasos globosos (43%); resídu-
da pimenta, podendo ou não ter rede irregular pe- os de pigmento (86%), que pode ser macular (43%)
riférica. ou de aspecto granular (43%); faixas transversas
Bories e colaboradores, em 2008, relataram um prateadas (43%), observadas apenas com os apare-
estudo em 7 casos de melanoma metastático, com lhos de luz polarizada63 •64 (Fi.gs. 10.70 e 10. 71).

156
Melanoma

o
Fig. 10.37 D A. Lesão pigmentada irregular, na região plantar direita , plana, assintomática, com evolução
de anos (sic). em paciente do sexo masculino , com 68 anos. B. Padrão de múltiplos componentes , com véu
branco , perda do padrão em linhas paralelas, característico da região plantar, acentuada variabilidade de pig-
mentação , do castanho-claro ao negro , com áreas de concentração irregulares , presença de múltiplas áreas
esbranquiçadas de aspecto cicatricial , pontos e glóbulos castanhos, cinza-azulados (x 1 0) . (TPO= 8 ,1 ). C. Hi-
perceratose , hipergranulose e acantose irregular com pigmento melânico difusamente distribuído na camada
córnea . Na junção dermoepidérmica, há extensa proliferação contínua de células melanocíticas hiperpigmenta-
das . Melanoma in situ tipo acrolentiginoso [H&E x40) . D. Detalhe da figura anterior, observando-se o aspecto
dendrítico das células melanociticas proliferadas na junção dermoepidérmica [H&E x400) .

Fig. 10.38 D A. Lesão pigmentada plana , presente há vários anos, em paciente masculino de 40 anos, medindo
5 x 4 mm, apresentando crescimento há cerca de um ano. B. Área de transição entre a pele do dorso do pé e a
plantar, observando-se o padrão de treliça irregular, com áreas irregulares de concentração de pigmento, na peri-
feria, e glóbulos cinza-azulados de tamanho variado no centro e excêntricos. Presença de pseudocistos córneos e
estrias ramificadas (x10) . C. Proliferação de células melanocíticas atípicas na epiderme, como células isoladas e
formando ninhos irregulares, e também na derme papilar, focalmente, em meio a acentuado infiltrado inflamatório ,
melanófagos e ectasia vascular [H&E x40). D. Detalhe da microinvasão dérmica. Os ninhos de células melanocíticas
pigmentadas correlacionam-se com os glóbulos cinza-azulados . Melanoma tipo acrolentiginoso (nível de Clark = 11 ;
espessura de 8reslow =O, 15 mm) . [H&E x100).

157
Melanoma

...--
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B
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Fig. 10.39 O A. Paciente masculino , cor parda, 32 anos, com faixa pigmentada no terceiro dedo da mão esquer-
da, medindo 3 mm de largura, com crescimento progressivo nos últimos 4 meses (sic). Ausência da extensão do
pigmento para a dobra ungueal proximal ou para a extremidade distai do dedo afetado. B. Nota-se barramento das
linhas paralelas longitudinais, coloração castanha-escura , preta e cinza-azulada . Ausência de pigmento na dobra
ungueal proximal (sinal de Hutchinson negativo) (x1 0). C. Proliferação de células melanocíticas atípicas, predomi-
nantemente nas camadas inferiores do leito ungueal e distribuição irregular do pigmento melânico intraepitelial.
Melanoma in situ, subungueal (H&E x 100).

Fig . 10.40 O A. Faixa hiperpigmentada na lâmina ungueal do hálux direito , em paciente de 57 anos do sexo
masculino, com crescimento progressivo, medindo 3 mm de largura . Ausência de pigmento na pele da dobra
ungueal proximal e no hiponíquio. B. Coloração castanha-escura e cinza-azulada , com apagamento das linhas
paralelas longitudinais. Sinal de Hutchinson negativo (x 1O) C. Oermatoscopia peroperatória demonstrando áreas
amorfas de pigmento castanho-claro junto à dobra ungueal proximal (estrelas) e estrias longitudinais paralelas ,
com pigmento castanho de permeio, com a presença de um glóbulo na extremidade de uma das estrias (setas).
A coloração castanha indica pigmento intraepitelial. Melanoma in situ, subungueal (x1 0) . D. Proliferação intraepi-
telial de células melanocíticas atípicas , com distribuição confluente e comprometendo diferentes níveis do leito
ungueal. Melanoma in situ, subungueal (H&E x 100).

158
Melanoma

Fig. 10.41 O A. Lesão papulosa , clara, encimada por


mancha lentiginosa, localizada na face posterior do om-
bro esquerdo, em paciente do sexo masculino de 63
anos. 8. Padrão global reticular irregular, com áreas
de concentração de pigmento castanho-escuro , áreas
esbranquiçadas e presença de pontos (x10]. (TPO =
5,6]. C. Alongamento e alargamento dos cones inter-
papilares, com hiperpigmentação da basal. Ocupação
da derme superior por densa proliferação de células de
núcleos pequenos ovalados , com escassa pigmentação
melânica , em meio a tecido conjuntivo desmoplásico .
Melanoma desmoplásico (H&E x 1 00). . \ -

Fig. 10.42 o A, B. Paciente do sexo masculino , 30 anos de idade , com lesão ulcerada , vegetante , na borda
do terceiro dedo do pé direito evoluindo há oito meses , tratada como paroníquia , com piora progressiva . C.
A dermatoscopia evidencia apenas padrão vascular atípico e ausência de pigmento (x 10) . O. Neoplasia cons-
tituída por células melanocíticas atípicas , de aspecto epitelioide , formando massas irregulares intradérmicas ,
desprovidas de pigmento em meio a vasos sanguíneos ectasiados. Melanoma amelanótico acrolentiginoso (H&E
x100).

159
Melanoma

Fig. 10.43 D A. Lesão em placa eritematosa , clara , in- Fig. 10.44 D A. Lesão pigmentada plana , enegrecida ,
filtrada, com telangiectasias e ulceração central , medin- medindo 3 ,5 mm , com halo claro , em pele com dano
do 1 O x 12 mm, localizada na região parietal à esquer- actínico , na região anterior do tórax, em paciente femi-
da da linha média, com cerca de 6 meses de evolução , nina de 47 anos, com evolução de 6 meses. B. Rede
em paciente feminina de 51 anos. B. Na dermatoscopia pigmentada irregular, pigmento preto irregularmente
não se evidencia presença de pigmento , apenas eritema distribuído por toda a lesão, estendendo-se à periferia ,
difuso por toda a área da lesão com mais de uma tona- estrias ramificadas , pontos e pequenos glóbulos pretos ,
lidade e padrão vascular atípico representado por vasos castanhos e cinza , irregularmente distribuídos na pe-
punctiformes numerosos, irregularmente distribuídos riferia (x 10). C. Proliferação de células melanocíticas
na periferia e no centro da lesão, além de vasos em atípicas na epiderme , principalmente nas camadas in-
grampo de cabelo . Área de ulceração evidente acima e feriores , contínua e com formação esparsa de ninhos
à direita . Notam-se vasos lineares abaixo e à esquerda irregulares. Na derme superior, há melanófagos, neo-
(x10) . Obs.: todos estes elementos dermatoscópicos proliferação vascular e infiltrado inflamatório linfocitário
são indicativos de melanoma , tratando-se de lesões hipo discreto . Melanoma in situ, tipo extensivo superficial
ou amelanótlcas segundo Menzies e colaboradores (51]. [H&E x100].
C. Epiderme delgada, de aspecto necrótico , e derme
ocupada por proliferação de células atípicas, alongadas,
de citoplasma claro , desprovidas de pigmento, além de
capilares ectasiados. Foi detectada imunorreatividade
nas células neoplásicas com HMB-45 . Melanoma ame-
lanótico desmoplásico [H&E x40).

160
Melanoma

Fig. 10.45 O A. Lesão papulosa enegrecida, circundada por halo castanho , medindo 2 ,5 x 5 mm , evoluindo
a partir de uma lesão plana punctiforme , em paciente feminina melanodérmica de 6 anos de idade . Aumentou
progressivamente de tamanho , mas há cerca de dois meses "diminuiu pela metade e espalhou" (sic) . 8 . Véu
cinza-azulado por toda a lesão , interrompido por fendas ou criptas e área amorfa preta na porção central. Estrias
r amificadas irregulares na periferia e alguns pseudocistos córneos . O halo castanho evidencia rede pigmentada
fina , invadida por estrias irregulares principalmente no pala inferior da lesão . Notam-se pelos esparsos (x1 0) . C.
Grande quantidade de pigmento nas camadas espinhosa e córnea em relação à proliferação de células melano-
cíticas atípicas agrupadas em ninhos irregulares e ocupando o infundíbulo folicular. Na derme papilar, há extensa
r eação inflamatória mononuclear com presença de numerosos melanófagos e capilares neoformados, o que
sugere fenômeno de regressão parcial , fase inicial. A correlação deste quadro histopatológico com os achados
dermatoscópicos indica possível microinvasão e impõe a realização de imunoistoquímica para sua melhor carac-
t erização . Melanoma, tipo de disseminação superficial , com provável microinvasão , em associação com nevo
melanocítico juncional [H&E x100).

Fig. 10.46 O A. Lesão pigmentada plana , castanha , de coloração irregular, medindo 4 mm , evoluindo com cres-
cimento no período de um ano, localizada no dorso do pé esquerdo, próximo da borda externa , em paciente femi-
nina de 44 anos. 8 . Rede pigmentada irregular, com estrias ramificadas irregularmente distribuídas , pigmentação
castanha com áreas irregulares de concentração de pigmento e áreas de coloração cinza estendendo-se à borda
da lesão (x 10) . C. Proliferação melanocítica intraepidérmica predominantemente composta de células distribuídas
de forma isolada e comprometendo o acrossiríngio. Na derme , há células melanocíticas agrupadas em ninhos
(nevo melanocítico) e reação inflamatória linfo-histiocitária. Melanoma in situ, tipo de disseminação superficial , em
associação com nevo melanocítico [H&E x 100) .

161
Melanoma

A c

Fig. 10.47 O A. Lesão papulosa preta , medindo 3 ,5 mm, com um ano de evolução , localizada no abdomen à
direita, em paciente feminina de 32 anos. B. Área amorfa de concentração de pigmento preto com tonalidades
cinza-azulada e castanha na periferia, deixando-se perceber glóbulos cinza-azulados periféricos no pala inferior da le-
são (setas) (x 10). C. Transiluminação com flash para observar maiores detalhes obscurecidos pela intensa concen-
tração de pigmento, evidenciando a predominância do padrão globular, com glóbulos cinza-azulados irregularmente
distribuídos na periferia da lesão e também na área central , em meio a áreas amorfas de coloração castanha .
Observa-se ainda eritema periférico (x 1 0]. O. Acantose irregular e proliferação melanocítica discreta na camada
basal da epiderme, com atipia citológica . Na derme , há massas de células grandes contendo muito pigmento , com
nucléolos proeminentes e acentuado infiltrado inflamatório de permeio. Estas massas celulares localizadas nas pa-
pilas dérmicas alargadas correlacionam-se com os glóbulos cinza-azulados periféricos observados à dermatoscopia .
Melanoma tipo animal (nível de Clark = 111; espessura de Breslow = 0 ,50 mm). (H&E x 100).

Fig. 10.48 o A. Lesão pigmentada plana , de forma irregular, semelhante a um coração , com cerca de um ano e
meio de evolução, medindo 3 x 3,5 mm, na região dorsal de paciente masculino de 38 anos. B. Rede pigmentada
irregular e área de concentração de pigmento irregularmente distribuída por toda a lesão, estendendo-se à perife-
ria , com tonalidades castanho-escura, preta e cinza azulada , presença de glóbulos cinza-azulados irregulares, es-
trias ramificadas. Nota-se um discreto véu cinza-azulado no centro e à esquerda da figura (x1 0) . C. Hiperceratose
com pigmentação intracórnea focal , acantose e proliferação intraepidérmica de células melanocíticas atípicas. Na
derme, há extenso infiltrado inflamatório com presença de numerosos melanófagos e neoproliferação vascular. A
correlação dos achados histopatológicos e dermatoscópicos sugere provável microinvasão associada a fenômeno
de regressão parcial , fase inicial , o que pode ser comprovado com imunomarcação celular. Melanoma tipo de
disseminação superficial, com provável microinvasão (H&E x 100].

162
Melanoma

Fig. 10.50 D A . Lesão plana , de coloração cinza-


-azulada, com cerca de 6 meses de evolução, localiza-
da na face lateral do punho de paciente de 39 anos,
medindo 2 x 2 ,5 mm . B. Véu cinza-azulado recobrin-
do grande parte da lesão , percorrida por estrias alar-
gadas e pseudópodes na periferia , irregularmente
distribuídos, notando-se áreas azuis homogêneas de
permeio (x10). C. Hiperceratose , acantose irregular
com pigmento melânico distribuído difusamente pela
Fig. 10.49 D A. Lesão plana , isolada, castanha , pig- epiderme, inclusive na camada córnea . Proliferação de
mentada irregularmente, na região dorsal , em pacien- células melanocíticas atípicas formando ninhos irregu-
te feminina de 62 anos, com evolução de um ano. B. lares na epiderme e na derme papilar. Na derme , há
Rede pigmentada fina irregular, apagada em vários pon- também numerosos melanófagos , conferindo a tonali-
da lesão por áreas amorfas castanhas irregulares. dade cinza-azulada encontrada na dermatoscopia . Me-
Areas amorfas castanho-escuras no centro e excêntri- lanoma tipo de disseminação superficial (nível de Clark
cas , pontos e pequenos glóbulos castanho-escuros no = 11 ; espessura de Breslow = 0 ,25 mm) . (H&E x100).
centro e à pseudocistos córneos esparsos e
eritema difuso. Area amorfa castanha periférica abaixo
e à direita (x1 0). C. Proliferação de células melanocí-
ticas na epiderme e focalmente também na derme pa-
pilar, onde se observa ainda neoproliferação vascular e
pequeno infiltrado inflamatório linfocitário . Melanoma
tipo de disseminação superficial (nível de Clark = 11; es-
pessura de Breslow = 0 ,21 mm . (H&E x100).

163
Melenome

c
Fig. 10.51 o A. Lesão pigmentada plana , castanho-
-escura, medindo 2 mm , que surgiu há cerca de um
ano sobre cicatriz hipocrômica de eletrocoagulação Fig. 10.52 o A. Lesão discretamente papulosa, cas-
antiga, em paciente masculino de 67 anos. 8 . Rede tanha , medindo 2 mm, localizada na região deltoídea
pigmentada irregular, com grande área de concentra- esquerda de paciente feminina de 53 anos. 8 . Rede
ção de pigmento estendendo-se às bordas da lesão , irregular com estrias ramificadas distribuídas irregu-
com a presença de pigmento cinza na borda superior à larmente na periferia, área de concentração de pig-
direita, notando-se pontos castanhos periféricos [x1 0) . mento excêntrica, de tonalidades que variam do preto
C. Proliferação melanocítica contínua nas camadas in- ao cinza, com presença de pequenos glóbulos negros
feriores da epiderme, com formação de agrupamentos e castanhos . Áreas amorfas castanho-claras na peri-
celulares irregulares. Na derme , há ectasia vascular feria, abaixo e à esquerda (x1 0) . C. Proliferação mela-
e melanófagos perivasculares. Melanoma in situ, tipo nocítica contínua na camada basal da epiderme, com
de disseminação superficial sobre cicatriz hipocrômica células atípicas permeando as camadas superiores.
[H&E x100]. Na derme, há presença de células melanocíticas né-
vicas e infiltrado inflamatório linfocitário de permeio.
Melanoma in situ, tipo de disseminação superficial em
associação com nevo melanocítico [H&E x100).

164
Melanorna

Fig. 10.54 O A. Lesão pigmentada plana , enegreci-


da , medindo 2 ,5 mm , localizada na dobra cubital ante-
rior esquerda , em paciente feminina de 36 anos, com
evolução de cerca de 1 O meses. B. Área amorfa irre-
gular de pigmento cinza-azulado, castanho e castanho-
-escuro estendendo-se por toda a lesão, com alguns
Fig. 10.53 O A. Mácula enegrecida , punctiforme , no pequenos glóbulos castanhos na periferia e glóbulos
vértice nasal de paciente de 29 anos, com evolução cinza-azulados excêntricos (x1 0). C. Proliferação de
de 6 meses . B. Nota-se pigmento castanho-escuro , células melanocíticas distribuídas de forma confluente
cinza e preto, circundando o óstio folicular com alguns na epiderme e formando agrupamentos celulares na
pequenos glóbulos castanhos periféricos (setas) (x 10) . derme superior, ao lado de capilares hiperplasiados e
C. Proliferação melanocítica contínua na camada ba- numerosos melanófagos. Melanoma tipo de dissemina-
sal estendendo-se ao infundíbulo folicular. Na derme , ção superficial (nível de Clark = 11 ; espessura de Bres-
há infiltrado inflamatório linfocitário, com presença de low = O, 1 5 mm). (H &E x 100).
melanófagos. Melanoma in situ, tipo de disseminação
superficial (H&E x 100).

165
Melanoma

Fig. 10.56 D Lentigo em cicatriz de queimadura .

/
B

Fig. 10.55 o A. Lesão pigmentada plana , castanha ,


medindo 3 mm , localizada no ombro de paciente mas-
culino de 35 anos, com múltiplos nevas atípicos, en-
contrada durante exame de rotina. B . Padrão de múlti- Fig. 10.57 D Nevo melanocítico recidivado.
plos componentes , com rede pigmentada irregular na
borda à esquerda , predominância de áreas amorfas de
várias tonalidades de coloração castanha ao castanho-
escuro, estrias ramificadas irregulares e discreto véu
esbranquiçado no centro da lesão. pequenos glóbulos
e pontos castanho-escuros e cinza-azulados , área es-
branquiçada na parte inferior da lesão (x 10). C. Hiper-
ceratose , acantose irregular e áreas de adelgaçamento
da epiderme ocupada parcialmente por proliferação de
células melanocíticas atípicas. também presentes na
derme papilar, em meio a extenso infiltrado inflamató-
r io linfo-histiocitário . Melanoma , tipo de disseminação
superficial (nível de Clark = 11 ; espessura de Breslow =
0 ,30 mm). (H&E x40) .

166
Melanoma

Fig. 10.59 O Nevo melanocítico composto e lentigo .


Fig. 10.58 O Nevo azul desmoplásico.

Fig. 10.60 O Ceratose seborreica , variante clonal.

167
Melanoma

F.ag. 10 . 61 o Lentigo solar inflamado .


Fig. 10.63 D Dermatofibroma em área de dermatite
acre.

Fig. 10.62 o Melanoacantoma .

168
Melanoma

Fig. 10.65 o Lentigo atípico do idoso.

Fig. 10.64 O Carcinoma basocelular.

Fig . 10.66 O Ceratose seborreica irritada .

169
Melanoma

Fig. 10.67 o Nevo melanocítico composto atípico .

Fig. 10.68 O Nevo melanocítico após exposição solar


intensa .

170
Melanoma

Fig. 10.69 D Nevo melanocítico juncional, tipo nevo de Reed, inflamado.

A B

Frg. 10.70 o A. Paciente feminina de 68 anos com eritema em halo, em torno de lesão plana, irregularmente pig-
ntada , medindo 6 mm, localizada na face posterior do pescoço. B. Área branca cicatricial central com múltiplos
oontos castanhos, circundada por pigmento castanho-escuro irregular e por acentuado eritema com padrão vas-
lar atípico representado por vasos capilares lineares, ramificados e pontos vermelhos. Padrão predominante de
"egressão, ocupando 800/o da área da lesão (x 1 O) [TPO = 7 , 1) C. Zona periférica da lesão. Epiderme, hipercerató-
e adelgaçada permeada por proliferação de células melanocíticas atípicas. Na derme, há extensa degeneração
asofílica do colágeno , reação inflamatória mononuclear extensa e capilares proeminentes ectasiados e congestos
correspondendo ao padrão vascular atípico (H&E x40). D. Zona central da lesão. Proliferação de células melanocíti-
cas atípicas na epiderme e derme papilar, onde se observam também extensa fibroplasia, neoproliferação vascular
e reação inflamatória mononuclear com melanófagos (aspecto histológico do fenômeno de regressão parcial). Me-
tipo de disseminação superficial (nível de Clark = 11; espessura de Breslow = O, 15 mm) com fenômeno de
regressão ocupando 800/o de sua área [H&E x40) .

171
Melanoma

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173
CAPÍTULO 11 Lesões Pigmentadas Não
Melanocíticas

A ssim como as lesões melanocíticas possuem


critérios dermatoscópicos bem definidos, al-
gumas lesões pigmentadas não melanocíticas, como
assemelhar-se a quase todas as lesões pigmentadas,
inclusive o melanoma (Figs. 11.1-11.6).
Seus critérios clássicos foram muito bem defi-
a ceratose seborreica, o carcinoma basocelular, os nidos no Consensus Net Meeting on Dermoscopy,
angiomas e o dermatofibroma, apresentam estrutu- em 2000 (Tabela 11.1).1-5
ras próprias que são de grande auxílio na sua iden- Se analisarmos de forma individual os princi-
tificação pela dermatoscopia. O reconhecimento pais critérios descritos na Tabela 11.1, veremos que
dessas lesões é fundamental para a realização da também podem ser encontrados em outras lesões
abordagem dermatoscópica em 2 etapas das lesões pigmentadas, tornando o diagnóstico dermatoscó-
pigmentadas. pico de ceratose seborreica um tanto inespecífico.
Vejamos:
• CERATOSE • Ausência de critérios para lesão melanocítica -
SEBORREICA o diagnóstico de ceratose seborreica só pode ser
Devido à sua grande gama de apresentações dado caso nenhum dos critérios para lesão mela-
clinicopatológicas, é o tumor cutâneo considerado nocítica seja identificado. De acordo com Scope
o grande simulador em dermatoscopia, podendo et al., 7-46% das ceratoses seborreicas apresen-

Tabela 11 .1 D Principais critérios dermatoscópicos das ceratoses seborreicas e seu significado

Critérios para ceratose Significado


seborreica
Ausência de critérios para A lesão não deve apresentar nenhum dos critérios de lesão melanocítica
lesão melanocítica (rede pigmentada. estrias ramificadas, glóbulos , padrão paralelo e áreas azuis
homogêneas)

Pseudocistos Estruturas arredondadas ou ovais de coloração branco-amarelada, com


superfície lisa e brilhante e de tamanho variável (0, 1-1 mm). Representam
acúmulos de ceratina intraepidérmica

Pseudocomedões Estruturas arredondadas, ovais ou de formato irregular (criptas) de coloração


marrom-amarelada ou marrom-enegrecida . Representam as rolhas córneas
que alcançam a superfície cutânea

Padrão cerebriforme Aspecto de giros e sulcos semelhante ao do cérebro formado pelas criptas e
fissuras

Estruturas castanho-claras Estruturas de coloração marrom-clara constituída por finas linhas paralelas,
semelhantes à impressão semelhantes a impressões digitais
digital

177
Lesões Pigmentadas Não Melanocíticas

A B

Fig. 11.1 O A. Ceratose seborreica . Lesão nodular exofítica enegrecida, com superfície verrucosa . Diagnóstico
diferencial com nevo intradérmico e melanoma. B. Ceratose seborreica tipo acantótico. Presença dos caracte-
rísticos pseudocistos e pseudocomedões (1 Ox) . C. Ceratose seborreica tipo acantótico . Lesão polipoide compos-
ta de epiderme acantótica contendo ceratinócitos hiperpigmentados de aspecto basaloide e globos córneos
(HE. 40x).

A B

Fig. 11.2 O A. Ceratose seborreica irritada . Lesão verrucosa de coloração marrom-clara, marrom-escura e
preta . B. Ceratose seborreica irritada . Estruturas papilares exofíticas de coloração esbranquiçada com aspecto
cerebriforme, entremeadas por criptas e fissuras contendo material ceratótico e crostas hemáticas (1 Ox). C.
Ceratose seborreica irritada . Hiperceratose com formação de túneis córneos englobando grande acantose de
caráter endofítico, circundada por reação inflamatória e capilares congestos (HE 1OOx).

Fig. 11.3 O A. Ceratose seborreica situada no tronco de paciente do sexo masculino. B. Ausência de critérios
para lesão melanocítica e múltiplos pseudocistos e psudocomedões.

178
Lesões Pigmentadas Não Melanocíticas

Fig. 11 .4 O A. Paciente do sexo feminino com múltiplas ceratoses seborreicas disseminadas pelo tronco.
8. Lesão de tonalidade castanho-amarelada exibindo múltiplos pseudocistos e pseudoaberturas foliculares.

tam estruturas semelhantes à rede pigmentada. 2 Outros aspectos que aumentam a acurácia para
Histopatologicamente, essas estruturas corres- o diagnóstico de ceratose seborreica e que devem
pondero ao formato trabeculado da epiderme ser levados em consideração são (Tabela 11.2):
acantótica de algumas variantes de ceratose se-
• Bordas bem definidas.
borreica. Estruturas semelhantes a glóbulos po-
dem ser encontradas principalmente na variante • Bordas em roído de traça - também são encontradas
clonal de ceratose seborreica. 6 De Giorgi et al. nos lentigos solares. São bem delimitadas e encon-
descreveram a presença de estruturas semelhan- tradas principalmente nas lesões planas.
tes a estrias em 3,2% de 402 ceratoses seborrei-
cas (pseudoestrias). Histopatologicamente, ases-
truturas semelhantes a estrias corresponderiam à Tabela 11 .2 O Critérios que podem ser encontrados
proliferação das células basais nas cristas inter- nas ceratoses seborreicas
papilares vista na cera tose seborreica. 4 Critérios clássicos
• Pseudocistos - representam acúmulos de cera- Ausência de critérios para lesão melanocítica
tina intraepidérmica. Podem estar presentes em Pseudocistos
Pseudocomedões
qualquer lesão tumoral, principalmente nas que
Padrão cerebriforme
apresentarem papilomatose, como, por exemplo,
Estruturas castanhcx:laras semelhantes à
nevas intradérmicos, carcinomas basocelulares e impressão digital
melanomas. Podem estar ausentes em 15% dos
Critérios adicionais
casos.
Bordas bem definidas
• Pseudocomedões - representam as rolhas cór- Bordas em roído de traça (lesões planas)
neas que alcançam a superfície cutânea. Assim Bordas em geleia (lesões planas)
como os pseudocistos, podem estar presentes em Vasos em grampo de cabelo (lesões espessas)
Estruturas papilares exofíticas
qualquer lesão tumoral, principalmente nas que
apresentarem papilomatose, como, por exemplo, Critérios eventuais
nevas intradérmicos, carcinomas basocelulares e Estruturas semelhantes ao véu cinza-azulado
melanomas. Podem estar ausentes em 15% dos Sinal da báscula negativo
Múltiplos pontos cinza-azulados (variante liquenoide)
casos.

179
Lesões Pigmentadas Não Melanocíticas

Fig . 11 .5 O A. Melanoma nodular situado no tronco de paciente do sexo masculino em meio a múltiplas cera-
toses seborreicas. Devido ao aspecto semelhante das lesões, o diagnóstico foi tardio . B. Apesar da ausência de
critérios que caracterizem a lesão como melanocítica , observam-se vasos lineares irregulares distribuídos princi-
palmente na periferia. Melanoma nodular.

Fig . 11 .6 O A. Melanoacantoma . Lesão papulosa enegrecida com bordas irregulares, sob base eritematosa .
Diagnóstico diferencial com melanoma. B. Melanoacantoma . Área amorfa de pigmentação azul-acinzentada e
enegrecida exuberante , mal delimitada , circundada por eritema (1 Ox) . C. Melanoacantoma . Cordões anastomo-
sados de células epidérmicas hiperpigmentadas fazendo protrusão na derme, circundados por reação inflamatória
contendo numerosos melanófagos e capilares ectasiados (HE, 1 OOx) .

• Borda tipo geleia- também encontrada em cera- O sinal da báscula (movimentação lateral da
toses seborreicas planas. O pigmento castanho- lesão quando tracionada com o dermatoscópio) é
-amarelado aparenta estar na superfície da pele, útil para diferenciação entre nevas melanocíticos
lembrando o aspecto de geleia. papilomatosos e ceratoses seborreicas, uma vez que
as ceratoses costumam ser mais sésseis.
• Vasos em grampo de cabelo - correspondem a
Frequentemente nos deparamos com pacientes
alças capilares alongadas e são encontrados prin-
que apresentam múltiplas ceratoses seborreicas. As
cipalmente na periferia da lesão.
lesões melanocíticas nesses pacientes tendem a ser
• Estruturas papilares exofíticas - podem ser en- negligenciadas. A distinção entre a ceratose sebor-
contradas em lesões vegetantes, principalmente reica e o melanoma pode ser ainda mais difícil (Fig.
as que apresentam papilomatose. ll.SA e B).
Eventualmente, algumas ceratoses seborrei- A ceratose liquenoide benigna é uma variante
cas com ortoceratose compacta podem apresentar de ceratose seborreica plana irritada, com aparência
estruturas semelhantes ao véu cinza-azulado (Fig. clínica de placa eritematosa acinzentada levemente
11.6A,B,C). elevada, em geral situada na parte superior do tron-

180
Lesões Pigmentadas Não Melanocíticas

Fig. 11.7 O A. Mácula de limites mal delimitados e coloração acinzentada no ombro de paciente feminina com 45
anos de idade. B. Áreas amorfas branco-avermelhadas e múltiplos pontos cinza-azulados . Ceratose liquenoide.

Fig. 11 .8 O A. Ceratose seborreica clonal. B. Notam-se estruturas castanho-acinzentadas semelhantes aos


ninhos ovoides e que caracterizam essa variante menos frequente de ceratose .

co. Devido à incontinência pigmentar que ocorre ma basocelular é a neoplasia maligna cutânea mais
nessas lesões, o aspecto dermatoscópico é de múlti- frequente. Apesar do seu crescimento lento, com
plos pontos cinza-azulados distribuídos em arranjo células de comportamento biológico pouco agres-
granuloso (Fig. 11. 7). sivo, pode levar à destruição tecidual extensa de
Uma variante menos frequente de ceratose se- áreas nobres, como o nariz, o pavilhão auricular e
borreica é o tipo clonal, caracterizado histopatolo- o globo ocular. Raramente, pode originar metás-
gicamente pela presença de grupamentos celulares tases. Aproximadamente 40% dos pacientes que
ovais em meio à epiderme. Apesar do predomínio de tiveram um CBC desenvolverão outras lesões se-
queratinócitos, esses grupamentos celulares possuem melhantes em um período de 10 anos. Nas varian-
grande quantidade de melanócitos (Fig. 11.8). tes pigmentadas, que representam cerca de 8% dos
casos, seu diagnóstico diferencial com melanoma
pode ser difícil .
• CARCINOMA Segundo Menzies, a dermatoscopia apresenta
BASOCELULAR [CBCl 89% de especificidade e 93% de sensibilidade para
Salvo para os que consideram a ceratose actí- o diagnóstico do carcinoma basocelular. 7 A lesão
nica um carcinoma espinocelular in situ, o carcino- não pode apresentar rede pigmentada e um dos

181
Lesões Pigmentadas Não Melanocíticas

Tabela 11 .3 O Dermatoscopia do carcinoma basoce-


lular

Achados negativos (não podem estar presentes)


Rede pigmentada

Achados positivos (pelo menos 1 tem de estar


presente)
Grandes ninhos ovoides
Ulceração
Múltiplos glóbulos cinza-azulados
A
Estruturas em folha de bordo
Áreas radiadas
Telangiectasias arboriformes

Fig . 11 . 1 O O A . Pequena pá pula enegrecida situada


no tornozelo de paciente do sexo feminino com 31 anos
de idade . B. Notam-se estruturas em folha, múltiplos
A pontos cinza-azulados e ninhos ovoides. Carcinoma ba-
socelular pigmentado .

Outros critérios dermatoscópicos que even-


tualmente podem ser encontrados nos carcinomas
basocelulares são: telangiectasias finas ou calibrosas
homogêneas (não arboriformes), múltiplos pontos
cinza-azulados (melanófagos) e pseudocistos (Fig.
11.12). De maneira geral, o CBC tende a ser me-
nos pigmentado que o melanoma, sendo que apenas
11% dos casos apresentam 5-6 cores, em contraste
B com 35-53% dos melanomas. 8' 10 Nas variantes su-
perficiais (CBC multicêntrico), são descritas áreas
Fig . 11 .9 O A. Lesão papulosa enegrecida na região
escapular. B. Notam-se múltiplos ninhos ovoides e te-
brilhosas branco-avermelhadas e erosões 11 (Fig.
langiectasias arboriformes. Carcinoma basocelular. 11.13).

seguintes achados tem que ser identificado: gran- • ANGIOMA RUBI


des ninhos ovoides, ulceração, múltiplos glóbulos Apresenta padrão lagunar característico. Áreas
cinza-azulados, estruturas em folha de bordo, áreas arredondadas ou ovais, bem delimitadas, de colora-
radiadas e telangiectasias arboriformes (Tabela 11.3 ção vermelha, vermelho-azulada ou vermelho-ene-
e Figs. 11.9-11.11). grecida correspondem às dilatações vasculares vistas

182
Lesões Pigmentadas Não Melanocíticas

Tabela 11 .4 o Critérios dermatoscópicos dos angio-


mas e sua correlação histopatológica

Critério Representação
dermatoscópico
Lagos vermelhos Estruturas arredondadas
ou ovais bem delimitadas,
vermelhas ou vermelho-
-azuladas. Correspondem
histopatologicamente a
dilatações vasculares na
derme média ou superior

Lagos negros Representam a mesma


estrutura que os lagos
vermelhos, porém as
dilatações vasculares
estão parcial ou totalmente
trombosadas

Véu esbranquiçado Áreas amorfas mal definidas


recobertas por uma camada
opaca esbranquiçada
equivalente à hiperceratose
Crostas Pequenas áreas de
hemorrágicas sangramento frequentes 8
nessas lesões

Eritema/ Inflamação da lesão com


Fig . 11 .11 O A. Lesão papulosa perolada , da cor da
eritema periférico pele no sulco nasogeniano de paciente do sexo femini-
extravasamento de hemácias
na derme papilar no com 46 anos de idade. B. Notam-se as clássicas
telangiectasias arboriformes e área amorfa central
pouco pigmentada. Carcinoma basocelular.

na derme superior (Figs.11.14A,B e 11.15A,B). Não


são tão bem delimitadas quanto nos angioceratomas, Clinicamente, o angioceratoma solitário apre-
cujas dilatações vasculares estão situadas logo abaixo senta-se como uma pápula de coloração vermelho-
da epiderme. Podem assumir uma tonalidade mais -azulada ou enegrecida, com superfície ceratótica,
enegrecida, de acordo com a presença de trombose encontrada mais frequentemente nos membros in-
no interior do vasoY Outros padrões globais podem feriores.
ser identificados em lesões angiomatosas, como no Segundo Zaballos et ai., em estudo multicêntri-
caso do granuloma piogênico, que pode apresentar co recente, as estruturas dermatoscópicas de maior
um padrão de multicomponentes, e do angioma ca- importância para o reconhecimento dos angiocera-
vernoso e do lago venoso, que apresentam padrão tomas solitários são: lagos negros (sensibilidade de
homogêneo (Tabela 11.4).13 93,8% e especificidade de 99,1 %), véu esbranqui-
çado, eritema, eritema periférico, lagos vermelhos e
• ANGIOCERATOMA crostas hemorrágicas (Fig. 11.16) .14
Dos 5 tipos descritos, de Fabry, de Mibeli, de
Fordyce, circunscrito e solitário, apenas o último • DERMATOFIBROMA
apresenta interesse do ponto de vista dermatoscó- Lesão cutânea fibrosante dérmica, ou subcu-
pico por ser considerado diagnóstico diferencial de tânea superficial, caracterizada por grande número
melanoma. de fibrócitos, encontrada mais frequentemente nos

1 83
Lesões Pigmentadas Não Melanocíticas

A B
-
c:::::,
Fig. 11 .12 O A. Placa engrecida situada no ombro de paciente com 57 anos de idade e sinais de fotoenvelhe-
cimento . B. Notam-se estruturas em folha na periferia , ninhos ovoides, áreas amorfas e múltiplos pontos cinza-
-azulados. Carcinoma basocelular.

Fig. 11 .13 o A. Pápula eritematosa na região dorsal de paciente do sexo masculino , com 61 anos de idade. B. No-
tam-se áreas brilhosas branco-avermelhadas, telangiectasias finas e erosões. Carcinoma basocelular superficial.

Fig . 11.14 O A. Pápula eritematosa de surgimento recente na coxa de paciente do sexo masculino com 31 anos
de idade . B. Padrão global lagunar. Notam-se lagos avermelhados regulares . Angioma rubi .

184
Lesões Pigmentadas Não Melanocíticas

membros. Clinicamente, apresenta-se como pápu- reticular anular pode ser encontrado na periferia
la, placa ou nódulo de alguns milímetros, de colo- de muitas lesões. Seu achado mais frequente é a
ração variável do amarelo ao marrom-enegrecido, presença de placa branca central circundada por
geralmente assintomática. Caracteristicamente, rede pigmentar fina periférica (Figs. 11.17). Even-
apresenta consistência endurecida e, quando palpa- tualmente (40% dos casos), estruturas semelhan-
do, apresenta uma leve depressão na pele ao redor
do tumor- "sinal da covinha". Faz diagnóstico di-
ferencial com dermatofibrossarcoma protuberante,
nevo melanocítico e melanoma.
Apesar de seu diagnóstico clínico não oferecer
grandes dificuldades, seus aspectos dermatoscópicos
são característicos, e a dermatoscopia pode ser usada
como método auxiliar no seu reconhecimento. 15 - 19
O padrão global geralmente é inespecífico, rara-
mente de multicomponentes. Porém, um padrão
A

Fig. 11 .16 D A . Angioceratoma solitário . Pápula erite-


matoenegrecida bem delimitada no membro inferior
esquerdo . 8 . Angioceratoma . Padrão lagunar, com
alguns lagos vermelhos bem delimitados e outros ene-
grecidos correspondentes à trombose no interior dos
B vasos . Discreto véu esbranquiçado secundário à hiper-
ceratose da lesão [10x). C. Angioceratoma. Camada
Fig. 11.15 D A. Pápula eritematosa na lateral do córnea espessada contendo debris hemáticos, acan-
tronco de paciente do sexo masculino . B. Padrão glo- tose irregular exuberante englobando estruturas vas-
bal lagunar. Notam-se lagos avermelhados regulares. culares ectasiadas e reação inflamatória mononuclear
Angioma rubi . [H&E 40x) .

185
Lesões Pigmentadas Não Melanocíticas

tes a glóbulos acastanhados podem ser vistas na formações anulares remanescentes da derme papi-
sua parte central, o que pode levar o examinador a lar sobre a área acometida. Outro achado que pode
interpretar erroneamente a lesão como melanocí- ser encontrado é um halo avermelhado periférico,
tica.20 À microscopia confocal, demonstrou-se que provavelmente secundário a traumatismo local. O
as estruturas emelhantes a glóbulos representam dermatofibroma representa uma exceção ao algo-
ritmo melanocítico de Stolz por se tratar de uma
lesão não melanocítica que apresenta rede.

• REFERÊNCIAS
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c 9. Carroll DM, Billingsley EM, Helm KF. Diagnosing
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acastanhada, de consistência endurecida . B. Derma- 10. Puspok-Schwarz M, Steiner A, Binder M, Partsch
tofibroma . Placa branca central envolta por uma fina B, Wolff K, Pehamberger H. Statistical evaluation
rede pigmentar periférica [10x) . C. Dermatofibroma .
of epiluminescence microscopy cri teria in the
Epiderme acantótica com área central deprimida em
relação à área de proliferação fusocelular dérmica . differential diagnosis of malignant melanoma and
Notam-se cones interpapilares alongados e hiperpig- pigmented basal cell carcinoma. Melanoma Res 1997
mentados na periferia da lesão [HE , 40x) . Aug; 7(4):307- 11.

186
CAPÍTULO 12 Outras Dermatoses de
Interesse Dermatoscópico

• TUMORES CUTÂNEOS ções ambientais. Podem estar presentes, também,


Hiperplasia sebácea pequenos glóbulos castanhos e pigmentação cinza-
-acastanhada homogênea (Fig.l2.2A,B). H
Apresenta como principal característica derma-
toscópica vasos em formato de coroa, encontrados
de permeio às estruturas de coloração amarelada, que Ceratoacantoma
representam a glândula hiperplasiada. Esses vasos Além de tornar mais evidente a umbilicação
não são arboriformes e não atravessam toda a lesão. central contendo material ceratótico, a dermatos-
O diagnóstico diferencial com carcinoma basocelu- copia evidencia, de forma exuberante, na periferia
lar pode, assim, ser facilitado (Fig. 12.1A, B, C). dessas lesões, a presença de vasos "em grampo" (Fig.
12.3A, B, C).
Doença de Bowen
Apresenta à dermatoscopia um padrão vascular Ceratose actínica pigmentada
de aglomerados de vasos glomerulares distribuídos Qtando a variante pigmentada dessa dermato-
de maneira regular, podendo exibir também vasos se, considerada pré-cancerosa, apresenta crescimen-
puntiformes. Outro padrão encontrado é o de su- to periférico, diferenciá-la de um melanoma do tipo
perfície escamosa, porém sua presença ou ausência lentiginoso in situ pode ser uma tarefa difícil. Nesses
dependem de fatores, como região do corpo afeta- casos, a dermatoscopia pode auxiliar o diagnóstico
da, ceratolíticos utilizados antes do exame e condi- por indicar tratar-se de lesão não melanocítica (au-

A B

Fig. 12.1 D A. Hiperplasia sebácea . Lesão papulosa de formato globoso e coloração amarelada que , devido à
presença de telangiectasias em sua superfície , faz diagnóstico diferencial com carcinoma basocelular. B. Hiperpla-
sia sebácea . Vasos em formato de coroa , de permeio a estruturas de coloração amarelada (1 Ox). C. Hiperplasia
sebácea . Glândulas sebáceas hiperplasiadas margeadas por capilares ectasiados (HE, 40x).

189
Outras Dermatoses de Interesse Oermatoscópico

Fig. 12.2 D A. Doença de Bowen . Lesão em placa eri-


tematoescamosa na perna . B. Doença de Bowen . Sub-
jacente às atipias dos ceratinócitos e à extensa reação
inflamatória subepidérmica, notam-se estruturas vas-
culares proeminentes de formatos variados em meio
ao tecido elastótico (HE, 1OOx) .

sência de pontos, glóbulos, estrias e rede pigmentar).


Geralmente, apresenta-se como uma área amorfa de
coloração castanha-clara a preta, que corresponde à Fig. 12.3 o A. Ceratoacantoma . Lesão hemisférica
com umbilicação central apresentando material cera-
proliferação desordenada dos ceratinócitos contendo
tático . B. Ceratoacantoma . A umbilicação central con-
melanina (Fig. 12.4A, B, C). 4 tendo material ceratótico é mais facilmente distinguida
do restante da lesão . Presença exuberante de vasos
"em grampo" na periferia de toda a lesão (1 Ox]. C. Ce-
Tumores de anexos ratoacantoma . Área de depresssão central preenchida
por material ceratótico , margeada por grande hiper-
Grupo heterogêneo de neoplasias benignas plasia de células escamosas (HE. 1 OOx] . As estruturas
com diferenciação para anexos cutâneos. Podem vasculares proeminentes à dermatoscopia são obscu-
apresentar estruturas dermatoscópicas que simu- recidas à histopatologia pelo exuberante infiltrado infla-
matório dérmico .
lam principalmente o carcinoma basocelular, como
telangiectasias arboriformes, estruturas em folha,
pseudocistos e pseudocomedões (Fig 12.5A, B). 5-6 À dermatoscopia, caracteriza-se por exibir va-
sos puntiformes distribuídos em arranjo linear, se-
Acantoma de células claras melhante a um "cordão de pérolas" ou reticular.7- 9

Clinicamente, apresenta-se como lesão solitá-


ria, elevada, em forma nodular ou em domus, e de Linfangioma circunscrito
margens bem definidas. Sua coloração é, em geral, Faz diagnóstico diferencial com angiomas, an-
avermelhada, podendo variar de rósea a castanha. gioceratomas,linfangioendoteliomas, angiossarcomas,
Seu tamanho varia de 3-20 mm. verrugas, molusco contagioso e hidrocistoma. À der-

190

---
Outras Dermat oses de Interesse Dermatoscópico

Fig. 12.4 D A. Ceratose actínica pigmentada. Lesão papulosa enegrecida mal delimitada no couro cabeludo . Diag-
nóstico diferencial com lesões melanocíticas. B. Ceratose actínica pigmentada . Área amorfa (asterisco) de colora-
ção enegrecida respeitando o contorno dos óstios foliculares e formando as chamadas estruturas romboides. A
coloração enegrecida do pigmento deve-se à presença de melanina na camada córnea (10x). C. Ceratose actínica
pigmentada . Extensa pigmentação melãnica na camada córnea recobrindo área de ocupação da epiderme por cera-
tinócitos atípicos e hiperpigmentados, correspondendo à área amorfa de pigmentação densa [HE , 40x).

A B

Fig. 12.5 D A, B. Hidrocistoma na pálpebra inferior. Á dermatoscopia , observa-se telangiectasia arboriforme


cruzando o tumor, simulando um carcinoma basocelular.

matoscopia, apresenta 2 padrões distintos, o primeiro Fibroepitelioma de Pinkus


com lagos amarelos envoltos por septo claro sem vasos Considerado uma variante rara de carcinoma
sanguíneos, e outro com lagos amarelo-avermelhados basocelular, clinicamente apresenta-se como uma
ou vermelho-enegrecidos contendo sangue. 10 placa bem delimitada da cor da pele ou acastanhada.
Pode ocorrer de forma solitária ou, eventualmente,
Granuloma piogênico (hemangioma como múltiplas lesões. Faz diagnóstico diferencial
capilar lobular) com lesões melanocíticas e não melanocíticas como
Apresenta-se à dermatoscopia como uma área a ceratose seborreica. À dermatoscopia, pode apre-
róseo-avermelhada homogênea (proliferação vas- sentar imagens negativas (em pigmento) de estrutu-
cular), circundada por colarete branco amarelado ras em folha e estruturas radiadas (Fig.12.7A, B) Y
(hiperceratose). Pode apresentar estruturas brancas
lineares em meio às áreas avermelhadas, as quais Xantogranuloma juvenil
representam septos fibrosos que rodeiam os tufos São tumores benignos de células histiocitárias
capilares (Fig. 12.6A,B). 11 que ocorrem principalmente na infância. Seu apa-

191
Outras Dermatoses de Interesse Dermatoscópico

B Fig . 12.7 o A . Fibroepitelioma de Pinkus encontrado


na axila de paciente com 67 anos de idade . B. Observa-
Fig. 12.6 o A. Granuloma piogênico . B. Áreas róseo- -se na periferia (4 horas) estruturas em folha. Ao cen-
-avermelhadas homogêneas (proliferação vascular) cir- tro , encontram-se áreas amorfas e pontos enegreci-
cundadas por colarete branco amarelado (hipercera- dos.
tose) .
nos glóbulos castanpos. O aspecto em arco-ms
recimento é súbito e regridem espontaneamente. tem sido estudado como uma característica pos-
Clinicamente, surgem como pápulas vermelho- sivelmente específica do sarcoma de Kaposi, não
-amareladas, medindo cerca de 1 em de diâmetro. observada em outros tumores vasculares. 16- 17
À dermatoscopia, apresentam um padrão ama-
relo-alaranjado, descrito como aspecto em sol • DOENÇAS
poente. 13 - 15 INFLAMATÓRIAS
Pitiríase rósea
Sarcoma de Kaposi Apesar de na maioria das vezes o diagnóstico
Clinicamente, apresenta-se como máculas ou clínico ser feito sem maiores dificuldades pelo der-
placas azul-enegrecidas ou violáceas, geralmente matologista experiente, quadros com distribuição
afetando as extremidades. À dermatoscopia, reve- e morfologia das lesões atípicas podem requerer
la áreas azul-avermelhadas, regiões evidenciando um exame mais detalhado do ponto de vista mor-
grande variação de cores (aspecto em arco-íris), fológico. Nesses casos, a presença do colarete des-
superfície escamosa em algumas regiões e peque- camativo periférico torna-se um importante da-

192
Outras Dermatoses de Interesse Dermatoscópico

A
A

..

Fig. 12.8 O A. Pitiríase rósea . Lesões eritematosas Fig. 12.9 o A. Psoríase em placa acometendo a
levemente descamativas acometendo o tronco. B. Piti- região dos dígitos. B. Em meio às placas de hiper-
ríase rósea. A escama , encontrada nas bordas (colare- ceratose , notam-se pequenas estruturas puntiformes
te), tende a permanecer ligada à epiderme na periferia avermelhadas que representam capilares dilatados e
e assume um aspecto acortinado na parte interna da tortuosos.
lesão (10x).

do semiótico. Com a dermatoscopia digital, o representam os capilares tortuosos e alongados, lo-


reconhecimento desse sinal é facilitado não so- calizados no interior das estreitas papilas dérmicas
mente pelo aumento proporcionado, mas também psoriáticas 19- 20 (Fig. 12.9A,B).
pela eliminação de outras alterações epidérmicas,
como escoriações. A descamação tende a ocorrer Eritema pigmentar fixo
do centro da lesão para a periferia, e os finos frag-
Com o aumento de 10 vezes obtido com o
mentos das escamas (colarete) permanecem liga-
dermatoscópio manual, as lesões características
dos à epiderme apenas na periferia, conferindo
maculopapulosas eritematoacinzentadas apresen-
um aspecto acortinado (Fig 12.8A,B), diferente
tam múltiplos pontos cinza-azulados, distribuídos
das escamas encontradas, por exemplo, na psoríase
de maneira uniforme e simétrica em toda a su-
gutata e na dermatite nodular. 18
perfície da lesão (Figs. 12.10A, B e 12.11A, B, C).
Esse aspecto corresponde aos melanófagos peri-
Psoríase vasculares na derme papilar, semelhante aos múl-
À dermatoscopia, observam-se glóbulos aver- tiplos pontos cinza-azulados observados nas áreas
melhados, que representam capilares arredondados, de regressão de lesões melanocíticas (''peppering").
e em geral estão distribuídos uniformemente por Os últimos, porém, têm distribuição irregular e
toda a área da lesão. Histologicamente, os glóbulos assimétrica.

193
Outras Dermatoses de Interesse Dermatoscópico

Líquen plano
Em lesões ativas, as características estrias de
Wickham podem ser mais bem evidenciadas à
dermatoscopia. Seu formato (arredondado, li-
near, arboriforme, reticular ou anular) e seu ta-
manho são muito variáveis . Geralmente, vasos
lineares proeminentes (capilares radiais) podem
ser observados nas bordas das estrias21 - 22 (Fig.
12.12A, B).

A
Lúpus discoide ativo
Fig. 12.10 o A. Eritema pigmentar fixo. Mácula eri-
A dermatoscopia facilita a observação dos plugs
tematoviolácea levemente acinzentada na face . B. Eri-
tema pigmentar fixo . Múltiplos pontos cinza-azulados (tampões) foliculares ceratóticos, presentes nas le-
distribuídos de maneira uniforme e simétrica em toda sões ativas de lúpus discoide. Dessa forma, permite
a superfície da lesão (1 Ox).
melhor avaliação da evolução das lesões e de sua
resposta ao tratamento 23 (Figs. 13.25 e 13.26).

.· \

A 8

c
Fig. 12.11 O A. Eritema pigmentar fixo desencadeado
pelo uso de dipirona . Lesão papulosa eritematoviolácea

situada no pescoço . B. Eritema pigmentar fixo . Múlti- Fig. 12.12 O A. Líquen plano . Lesões distribuídas de
plos pontos cinza-azulados distribuídos de maneira uni- maneira simétrica ao longo dos membros. B. A der-
forme e simétrica em toda a superfície da lesão (10x] . matoscopia evidencia com mais clareza as estrias de
C. Eritema pigmentar fixo . Melanófagos ao redor do Wickham . Ao redor das estrias , observam-se vasos
plexo vascular superficial (HE, 1 OOx). em grampo de cabelo e lineares.

194
Outras Dermatoses de Interesse Oermatoscóp ico

hiperceratóticas, a dermatoscopia pode ser útil ao


evidenciar a presença de estruturas papilares exo-
fíticas agrupadas contendo numerosas estruturas
vasculares e vasos trombosados de coloração casta-
nho-enegrecida24 (Fig. 12.13A, B, C).

Molusco contagioso
Apresenta, à dermatoscopia, estrutura amorfa
multilobular central, de coloração amarelo-esbran-
quiçada, envolta por uma coroa de vasos que não
cruzam o centro da lesão. O reconhecimento desse
padrão pode ser de grande auxílio para o diagnós-
tico do molusco contagioso, principalmente em
adultos 25 (Fíg. 12.14A, B).

Escabiose
A dermatoscopia, como método auxiliar no
diagnóstico da escabiose, assume importância prin-
cipalmente em caso atípicos ou de difícil diagnós-

I
(c
Fig . 12.13 O A. Verrugas vulgares agrupadas lem-
brando o aspecto de linfangioma circunscrito. B. Ver-
ruga vulgar. Estruturas papilares exofíticas agrupadas
contendo numerosas estruturas vasculares e alguns
vasos trombosados de coloração castanho-enegrecida
na periferia . Na parte inferior direita da lesão. pode-se
ver um véu branco, que pode ser atribuído à presença
de hiperceratose. C. Verruga vulgar. Papiloma caracte-
rizado por hiperceratose, paraceratose , hipergranulo-
se, acantose e papilomatose (HE, 1OOx) .

• DOENÇAS INFECCIOSAS
E PARASITÁRIAS
(ENTODERMATOS·
COPIA)
Fig. 12.14 O A. Pápulas brilhosas na região pubiana
Verruga vulgar de adolescente do sexo feminino . B. À dermatoscopia ,
evidencia-se estrutura amorfa multilobular central , de
Em casos de dificuldade diagnóstica, por apre- coloração amarelo-esbranquiçada, envolta por uma co-
sentarem aspecto semelhante a lesões vasculares roa de vasos que não cruzam o centro da lesão .

195
Outras Dermatoses de Interesse Dermatoscópico

tico, uma vez que po sibilita a ob ervação in vivo Pediculose


do Sarcoptes scabiei. É importante ressaltar que os A dermatoscopia pode ser usada tanto para
achados dermatoscópicos descritos inicialmente fo- confirmação diagnóstica por possibilitar uma me-
ram obtidos utilizando-se aumentos de 40-70 vezes, lhor identificação dos piolhos e lêndeas, como
o que requer o uso de aparelhos digitais mais sofi - também para controle de tratamento 30- 31 (Fig.
ticados do que o dermatoscópio manual tradicional 12.16).
(aumento de 10 vezes). Entretanto, Dupuy et a!. de-
monstraram que a dermatoscopia convencional apre-
Tinea nigra
senta sensibilidade de 91% e especificidade de 86%
para o diagnóstico de escabiose. Caracteristicamente, Trata-se de uma infecção rungica superficial cau-
podemos ob ervar a presença de pequena estrutura sada pelo Phaeoannelomyces werneckii, que afeta prin-
triangulares enegrecidas, acompanhadas de um pe- cipalmente as palmas, apresentando-se clinicamente
queno segmento linear, encontrado na ba e do triân- como máculas altamente pigmentadas. As lesõe são
gulo, lembrando o aspecto de um avião que deixa sua características, porém a dermatoscopia pode ajudar
esteira de fumaça. A estrutura triangular representa a na diferenciação com lesões melanocíticas, como o
porção pigmentada anterior do ácaro, e o egmento nevo juncional ou o melanoma32 (Fig. 12.17A,B).
linear, o túnel escabiótico preenchido com ovos e fe-
zes parasitários26- 29 (Fig. 12.15A, B). Tungíase
À dermatoscopia, observa-se uma área central
preta, correspondendo ao exoesqueleto do parasita,
um anel pigmentado periférico e diversas estrutu-
ras cinza-azuladas, as quais representam os ovos.
Marazza G et a!. descreveram ainda uma estrutura
dermatoscópica que denominaram "radial crown",
que representa uma zona radial de paraceratose co-
lunar hemorrágica. A identificação desses padrões
dermatoscópicos pode facilitar o diagnóstico da
tungíase. 33 -35

-
Fig. 12.15 o A. Escabiose. Lesões eritematopapulo-
crostosas situadas na região axilar. B. Escabiose. Es-
trutura triangular enegrecida (seta) acompanhada de Fig. 12.16 O Phtirus pubis aderido ao pelo da região
um pequeno segmento linear, lembrando o aspecto de genital. Nota-se no interior do parasita o sangue em
um avião que deixa sua esteira de fumaça (10x) . seu aparelho digestivo (1 Ox).

196
Outras Dermatoses de Interesse Oermatoscópico

8
8

Fig. 12 .17 O A. Tinea nigra palmar. 8. Notam-se es-


Fig. 12 .18 O A. Hematoma subcórneo. Mácula ene-
truturas acastanhadas semelhantes à rede pigmenta-
grecida bem delimitada. Diagnóstico diferencial de
da sem relação com os dermatoglifos.
lesões melanocíticas . B. Hematoma subcórneo . Área
amorfa de coloração enegrecida , levemente averme-
• OUTRAS lhada e pontos vermelhos enegrecidos periféricos, su-
gestivos de trauma ( 1Ox).
Hematoma subcórneo (petéquia do
calcâneo)
• REFERÊNCIAS
Acomete mais frequentemente as regiões pal-
1. Bugati L , Ftlosa G, De Angelis R. The specifi c
moplantares e, em especial, a região calcânea. Ge- dermoscopical cri teria ofBowen's disease. j Eur Acad
ralmente é secundário a traumatismo em pacien- D ermatol Venereo/ 2007; 21 (5): 700-1.
tes envolvidos com atividades esportivas. Apresenta 2. Hu SC, Chiu HH, Chen GS, Ke CL, Cheng T.
resolução espontânea em um período de semanas Dermoscopy as a diagnostic and follow-up tool for
ou meses. Clinicamente, apresenta-se como uma pigmented Bowen's disea e on acral region. D ermato/
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mácula bem delimitada, homogênea, de coloração
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vermelho-enegrecida ou negra e assintomática. À
onpigmented skin tumors. A rch D ermato/ 2005;
dermatoscopia, a pigmentação geralmente apre- 141:532.
senta-se um pouco mais clara, revelando uma tona- 4. Zalaudeck I, Ferrara G, Leinweber B et al. Pitfall in
lidade avermelhada. Na maioria das vezes, o padrão the clinicai and dermoscopic diagnosis of pigmented
global visto é o homogêneo ou globular, porém, em actinic keratosis.j AmAcad Dermato/2005;
alguns casos, o pigmento pode estar distribuído ao 53:1071-4.
5. icolino R, Zalaudek I, Ferrara G, Annese P, Giorgio
longo das cristas, conferindo um aspecto paralelo,
CM, Moscarella E, Sgambato A, Argenziano G .
o que torna ainda mais difícil a diferenciação com Dermoscopy of eccrine poroma. D ermatology 2007;
melanoma acral (Fig. 12.18A, B) . 215(2) :160-3.

197
,
CAPITULO 13 Dermatoscop ia das
Alopec ias

N os últimos anos, a dermatoscopia tem sido


cada vez mais utilizada como ferramenta de
diagnóstico e seguimento do paciente com alope-
A observação das unidades foliculares tam-
bém é de grande valia. ormalmente, visualizamos
2 ou 3 pelos terminais e 1 ou 2 pelos vellus por
cia. Acreditamos que esta técnica seja importante unidade folicular (Fig. 13.1). Rakowska et al. estu-
no diagnóstico das doenças da haste pilosa e do daram o couro cabeludo de 60 mulheres de 19-64
couro cabeludo, além de ser capaz de fornecer indí- anos, sem características clínicas de alopecia, no
cios para um melhor entendimento das doenças em intuito de estabelecer o padrão de normalidade
si. A dermatoscopia tem permitido ainda a visua- da dermatoscopia em pacientes caucasianas. 2 Na
lização de novos sinais clínicos não reconhecíveis região frontal, na occiptial e na temporal, há pre-
a olho nu, todavia há de ser estabelecida a repre- domínio de 2 hastes por unidade folicular, seguido
sentatividade histológica de grande número desses de unidades foliculares com apenas 1 haste (30%).
achados. A maioria dos pelos terminais apresenta espessura
Para o exame do couro cabeludo, os dermatolo- >0,05 mm, enquanto a porcentagem de pelos finos
gistas podem usar um dermatoscópio manual (au- (com menos de 0,03 mm) representa cerca de 10%
mento de 10x) ou um videodermatoscópio equipado dos pelo encontrados. 2
com várias lentes (aumento de 20x a l.OOOx). A der-
matoscopia pode ser realizada nos modos epilumi-
Tabela 13.1 O Padrões dermatoscópicos vistos na
nescente ou não epiluminescente, e álcool ou água dermatoscopia do couro cabeludo
podem ser usados como líquido de interface.
Características interfoliculares
Os achados dermatoscópicos das doenças do
Características vasculares
cabelo e do couro cabeludo, incluindo padrões foli-
Alças capilares simples
culares e não foliculares, bem como características
Alças capilares enoveladas
da haste, podem ser vistos na Tabela 13.1.
Vasos arboriformes
Pontos vermelhos

• COURO CABELUDO Características pigmentares


NORMAL Rede pigmentada em favo de mel
Pontos cinza-azulados
O exame do couro cabeludo normal varia de
Halo marrom (sinal peripilar)
acordo com os fototipos . O exame do paciente cau-
Pontos brancos (em cabeça de alfinete)
casiano revela o couro cabeludo com cor branca
Características foliculares
difusa e frequentemente estruturas vasculares com
aspecto de alças vermelhas simples e finas podem Pontos amarelos
ser vistas. As alças simples representam capilares Tampões córneos
Pontos pretos (pelos cadavéricos)
das papilas dérmicas. 1

199
Dermatoscopia das Alopecias

des foliculares também são comumente vistos (Fig.


13.2) e erão discutidos adiante .

• ALOPECIA
ANDROGÊNICA
A alopecia androgênica (AAG) é a forma de
alopecia mais comum e afeta em torno de 80% dos
homens e 50% das mulheres. Os pacientes apre-
sentam tipicamente uma progressiva diminuição
do diâmetro e de comprimento das hastes nas re-
giões do couro cabeludo dependentes de androgê-
nio (regiões frontal, temporal e do vértice).
Fig. 1 3 .1 D Dermatoscopia do couro cabeludo de pa-
ciente normal caucasiano, em que observamos unida- As características dermatoscópicas ão descri-
des foliculares com 2-3 pelos terminais e 1 ou 2 pelos tas a seguir:
vel/us.

Diversidade do diâmetro dos fios do


cabelo
Em geral, o exame dermatoscópico do couro
cabeludo na AAG é mais representativo se rea-
lizado em 3 ou 4 pontos do couro cabeludo, nas
regiões frontal, frontoparietal, do vértice e tempo-
ral. Para que tenhamos parâmetros de mensuração
de resposta ao tratamento, é sempre interessante
fixar esse pontos, e para isso podemos ter como
referências uma linha imaginária que passa entre
a implantação dos pavilhões auriculares e a linha
mediana de divisão dos fios, na direção da extremi-
Fig. 13.2 D Dermatoscopia do couro cabeludo de pa- dade do nariz. Muitas vezes, é interessante compa-
ciente normal de fototipo V Nota-se a presença da rede rar com os achados da região occipital, em muitos
pigmentar em favo de mel e de pontos brancos em "cabe- casos poupada na alopecia androgênica.
ça de alfinete" distribuídos entre as unidades foliculares .
O processo de miniaturização progressiva dos
folículos e o surgimento de pelos com diferentes
Nas pessoas de pele escura (fototipos V e VI), calibres são facilmente demonstráveis ao exame
uma rede pigmentada (padrão em favo de mel) é dermatoscópico. 3 Uma variação do diâmetro das
normalmente vista no couro cabeludo. A rede con- hastes > 20% tem sido considerada de valor diag-
siste em linhas hipercrômicas, repre entadas pelo nóstico para a alopecia androgênica (Fig. 13.3A, B
maior acúmulo de melanina nas cristas epidérmi- e C), tendo sido estatisticamente correlacionada à
ca , enquanto os "buracos" ou áreas hipocrômicas histologia com a miniaturização do folículo piloso. 3
da trama correspondem ao topo das papilas dérmi- Lacharriere et al propuseram uma escala de gravi-
ca , onde a epiderme é relativamente menor e com dade da AAG baseada nos achados dermatoscópi-
menos quantidade de pigmento. 1 Pequenos pontos cos como a diversidade do diâmetro e a den idade
branco distribuídos regularmente entre as unida- de cabelos. 4

200
Dermatoscopia das Alopecias

Fig. 13.3 o A. Paciente de 43 anos com alopecia an-


drogênica tipo I de Ludwig . 8 . Variação do diâmetro
das hastes >50% na área do vértex e predomínio de
óstios foliculares com apenas 1 fio . C. Região occipital
da mesma paciente com uma variação <20% e óstios
foliculares predominantemente com 2 ou 3 fios .

A videodermatoscopia permite a medição e novo pelo anágeno. A frequência e a duração da


a monitoração da espessura da haste capilar, dife- fase quenógena são maiores em homens e mulheres
rente da dermatoscopia manual. Utilizando maio- com alopecia androgênica do que nos controles, e
res aumentos, é possível identificar os pelos vellus um aumento do número de folículos quenógenos
(menos de 0,03 mm de largura) e ainda calcular a tem sido associado à progressão da AAG nas mu-
relação do pelo terminal com o vellus.5•6•7 lheres.8
É interessante notar que as unidades foliculares Em mulheres com AAG de longa duração, a
na AAG frequentemente apresentam diminuição dermatoscopia frequentemente evidencia pequenas
do número de hastes. Observa-se um aumento do áreas de perda folicular (atriquia focal).
número de unidades com apenas uma haste pilosa
(Fig. 13.3B), ao contrário do predomínio das uni-
dades com 2-4 hastes observadas nos indivíduos Sinais perifoliculares
não acometidos. 2 •7 A presença de um halo marrom ao redor do
Óstios foliculares vazios são frequentemente óstio folicular é vista principalmente em pacien-
vistos. Eles são a expressão da fase quenógena do tes com alta densidade de cabelos e tem sido re-
ciclo folicular, que corresponde ao intervalo entre lacionada com a presença de infiltrado linfocítico
a extrusão do pelo telógeno e a emergência de um superficial perifolicular em pacientes com alopecia

201
Dermatoscopia das Alopec ias

apresentações clínicas pode ocorrer, desde placa


única até a completa perda dos cabelos (alopecia
totalis) ou de todos os pelos do corpo (alopecia uni-
versalis). Embora o sítio mais frequentemente afe-
tado seja o couro cabeludo, nenhum pelo está livre
de ser acometido pela doença.
Seguem-se as características dermatoscópicas.

Pontos amarelos
Os pontos amarelos são característicos, mas
não exclusivos da AA. Na AA estão frequente-
mente presentes como um conjunto de estruturas
Fig. 13.4 O Paciente com alopecia androgênica, apre-
sentando halo marrom perifolicular e evidente variação arredondadas representando os óstios foliculares
de diâmetro das hastes pilosas. dilatados, com ou sem pelos, que variam em tama-
nho e cor, do amarelo ao alaranjado (Fig. 13.5). 1•10•11
androgênica inicial, tanto em homens como em São mais bem visualizados sob a dermatoscopia
mulheres (Fig. 13.4). 8 O signiiicado do infiltrado epiluminescente, embora o modo não epilumi-
inflamatório nesses pacientes não está totalmente nescente forneça uma melhor visão de seu aspecto
estabelecido, mas acredita-se que possa estar asso- protuberante e gorduroso. O desengorduramento
ciado à dermatite seborreica do couro cabeludo. da área afetada com acetona resulta em pontos de
tamanhos reduzidos. 1 A dermatoscopia sem líqui-
Sinais secundários do de interface foi descrita como uma técnica útil
Em pacientes com alopecia androgênica avan- no diagnóstico e no acompanhamento de pacientes
çada, pontos amarelos podem ser observados no com alopecia areata. Com esse método, é possível
couro cabeludo 1 e representam a distensão do in- ver os óstios foliculares deprimidos no interior da
fundíbulo folicular com acúmulo de ceratina e sebo. placa de alopecia areata. 11 Inui et a!. observaram
A diminuição do diâmetro do pelo leva à redução que essa alteração dos óstios correspondia histo-
da drenagem de sebo do couro cabeludo e, portan-
to, à distensão da porção infundibular do folículo
piloso.
Observa-se ainda uma acentuação da rede pig-
mentada (padrão em favo de mel) no couro cabe-
ludo exposto ao sol com a progressão da calvície.
Essa pigmentação é bastante evidente quando se
compara o couro cabeludo da região parietal afe-
tada e fotoexposta com o da região occipital não
comprometido e não fotoexposto nos pacientes
com fototipos I a IV.

• ALOPECIA AREATA
Fig. 13.5 O Placa de alopecia areata. Pontos amare-
Alopecia areata (AA) é uma alopecia não ci- los localizados nos óstios foliculares e distribuídos nas
catricial de caráter autoimune. Uma vasta gama de unidades foliculares com e sem pelo .

202
Derrnatoscopia das Alopecias

logicamente a foüculos pilosos anormais contendo anágenos pode causar a malformação da haste e
cabelos incompletamente diferenciados, denomi- sua consequente fratura antes da emergência na
nados pelos "nanógenos". 11 superfície do couro cabeludo, que são representados
Ross et al. observaram a presença de pontos por pontos pretos no interior dos óstios folicula-
amarelos em cerca de 90% dos pacientes com AA, res, os denominados pelos cadavéricos (Figs. 13.7 e
enquanto Inui et al. observaram a presença desses 13.8).1,9,10
pontos em cerca de 60% dos pacientes asiáticos Qyando as hastes pilosas são fraturadas acima
estudados. 1•10 Nossa impressão é a de que, entre da sua emergência, surgem os pelos em ponto de ex-
pacientes observados no Instituto de Dermatolo- clamação, caracterizados por uma extremidade dis-
gia Prof. Rubem David Azulay, a visualização dos tai fraturada mais larga que a porção proximal. É
pontos amarelos é menos frequente que a relatada
em pacientes europeus e asiáticos. A dificuldade
de visualização pode estar relacionada com os fo-
totipos mais altos (IV e V) de nossos pacientes,
da mesma forma que ocorre com os asiáticos, que
apresentam maior pigmentação do couro cabeludo
(Fig. 13.6). Acreditamos ainda que a frequência de -·
lavagem dos cabelos também possa ser um fator
de influência. 12

Pelos distróficos
A dermatoscopia mostra de forma clara todas
as formas de pelos distróficos, sendo ainda possível
indicar o local de fratura da haste pilosa danificada. Fig. 13.7 O Placa de alopecia areata em atividade,
apresentando pelos distróficos, alguns fraturados aci-
Qyando a alopecia areata está em plena atividade
ma da emergência do couro cabeludo e cadavéricos .
inflamatória, o comprometimento dos foüculos

Fig. 13.6 O Paciente de fototipo V com alopecia area- Fig. 13.8 O Placa de alopecia areata com pelos cada-
ta. Nota-se a dificuldade da visualização do ponto ama- véricos em maior detalhe. As hastes fraturadas antes
relo pelo contraste dele com a rede pigmentada do da emergência do couro cabeludo apresentam aspecto
couro cabeludo. de pontos pretos semelhante aos comedões .

203
Dermatoscopia das Alopecias

interessante notar ainda a progressiva diminuição


da coloração da haste distai com relação ao seg-
mento mais proximal (Fig. 13.9). Esse efeito visu-
al do ponto de exclamação corresponde à evolu-
ção temporal da inflamação peribulbar, que leva à
destruição dos ceratinócitos (levando à haste mais
fina) e também dos melanócitos (levando à haste
mais clara) dessa região.
É interessante ainda a observação feita pelo
Prof José Marcos Pereira do pelo distrófico "em
cotovelo", representado por uma fratura da haste
em ângulo de 90• (Fig. 13.10).
Fig . 13.11 O Placa de alopecia areata com pelo se-
melhante ao moniletrix, devido à variação no calibre
das hastes.

Pelos com zonas mais largas intercaladas com ou-


tras mais finas, de aspecto semelhante ao moniletrix,
podem ser observados devido à variação do calibre das
hastes como resultado do processo inflamatório inter-
mitente que afeta o bulbo desses foliculos (Fig.13 .11).
Um grau variável de hipopigmentação da haste capi-
lar por vezes é a única marca de alopecia areata.
Pelos curtos de repilação, pelos vellus e minia-
turizados são achados comuns nas placas de alope-
Fig. 13.9 D Pelos em "ponto de exclamação" na mar- cia, tanto na fase aguda quanto na crônica, e repre-
gem de uma placa de alopecia areata. Nota-se a di- sentam pelos nanógenos miniaturizados, incapazes
ferença de espessura e coloração da haste proximal
de alcançar etapas mais avançadas da fase anágena,
para a distai.
mantendo o ciclo folicular em estágios iniciais, com
fase anágena muito curta (Figs. 13.11 e 13.12B).U
Recentemente, Inui et a!. avaliaram 300 pa-
cientes com alopecia areata e demonstraram que
os achados dermatoscópicos mais sensíveis para o
diagnóstico de alopecia areata são os pontos ama-
relos e os pelos vellus, enquanto os marcadores mais
específicos para o diagnóstico são os pelos cadavé-
ricos (pontos pretos) e pelos em ponto de exclama-
ção. A presença de pontos pretos, pelos em pontos
de exclamação e pelos vellus foi identificada como
principal indicadora de atividade da doença. Já o
conjunto de pontos pretos, pontos amarelos e aglo-
merados de pelos curtos de repUação foi correlacio-
Fig. 13.1 O O Pelo fraturado após emergência da has-
te , chamado de aspecto em "cotovelo" . nado com a gravidade da doença. 9

204
Oermatoscop ia das Alopecias

te grave perda dos cabelos em poucos meses. O


diagnóstico diferencial com alopecia androgênica e
eflúvio telógeno é muitas vezes difícil, mas a der-
matoscopia provou ser um instrumento importante
neste desafiante diagnóstico.
A seguir, as características dermatoscópicas.

Pontos amarelos
Usando a dermatoscopia epiluminescente, o
couro cabeludo demonstra os pontos amarelos re-
dondos de dimensões variadas distribuídos difusa e
uniformemente. Eles podem afetar até 70% dos fo-
lículos e representam os óstios foliculares, podendo
apresentar ou não pelos emergindo de seu centro
(Fig. 13.12B).14 Na nossa experiência, alguns ca-
sos de alopecia areata incógnita podem apresentar
menor porcentual dessas estruturas, dificultando o
diagnóstico dessa ainda discutível variante da AA.
Biópsias mostram que os pontos amarelos re-
presentam infundíbulos dilatados preenchidos por
células cornificadas e de material sebáceo, como
visto na alopecia areata clássica.

Cabelos curtos de repilação (short


regrowing hair)
Cabelos curtos, miniaturizados e cônicos (2-4
mm de comprimento) são características derma-
Fig. 13.12 o A. Aspecto clínico de uma paciente com toscópicas da alopecia areata incógnita. A associa-
alopecia areata incógnita . A rarefação difusa asseme- ção de pontos amarelos com um grande número
lha-se muito à alopecia androgênica do tipo Ludwig . B.
Dermatoscopia da mesma paciente apresentando múl-
de cabelos curtos de repilação é muito sugestiva de
tiplos pontos amarelos e pelos curtos de repilação . alopecia areata incógnita (Fig. 13.13). Inui et a/. re-
lataram a utilidade da dermatoscopia seca (derma-
toscopia sem imersão em gel) na detecção de mi-
núsculos pelos em um paciente com alopecia areata
• ALOPECIA AREATA difusa, facilitando o diagnóstico diferencial com a
INCÓGNITA alopecia androgênica e o eflúvio telógeno.10
A alopecia areata incógnita foi primeiramente A histopatologia revela elevadas porcentagens
descrita por Rebora em 1987 e caracteriza-se por de cabelos telógenos e/ou pelos miniaturizados. O
início súbito de queda difusa de cabelos telógenos típico infiltrado peribulbar linfocítico pode não es-
na ausência das placas típicas de alopecia areata tar presente. O diagnóstico patológico é sugerido
(Fig. 13.12A). 13 Os pacientes frequentemente se pela presença de um infiltrado linfocítico sutil em
preocupam com a evolução rápida e a consequen- torno de folículos miniaturizados na derme papilar,

205
Oermatoscopia das Alopecias

turas do couro cabeludo (Fig. 13.14), achados con-


siderados indícios de arrancamento em momentos
diferentes. A divisão longitudinal da parte distal da
haste do cabelo (tricoptilose) é frequente e caracte-
rística (Fig. 13.15).

• ALOPECIA TRIANGULAR
CONGÊNITA
A alopecia triangular congênita apresenta-se
geralmente em crianças entre 3-6 anos, como uma
placa triangular ou oval de alopecia, mais frequen-

Fig. 13.13 O Pelos curtos de repilação e múltiplos


pontos amarelos foliculares em paciente com alopecia
areata incógnita . Muitas vezes esses são os únicos
sinais de suspeita- à dermatoscopia .

que se correlacionam com os cabelos curtos de re-


pilação observados à dermatoscopia. 14
Os pelos distrófi.cos (pelos cadavéricos e em
ponto de exclamação) não são comumente vistos
na nossa experiência, porém Tosti et ai. relataram a
presença desses achados em até 30% dos casos de
alopecia areata incógnita. 13

• TRICOTILOMANIA Fig . 13 .14 o Tricotilomania : pelos fraturados a di-


ferentes alturas do couro cabeludo . Muitas vezes , a
Tricotilomania é uma desordem psíquica com- dermatoscopia assemelha-se aos achados da alopecia
pulsiva em que o hábito de puxar os próprios pelos, areata.
do couro cabeludo ou de qualquer outra área cor-
poral, torna-se compulsivo, resultando em placas
de alopecia. É desordem frequentemente vista em
crianças.
Ao exame físico, placas irregulares de perda de
cabelo com borda grosseira típica são observadas.
Dentro das placas, pelos curtos e quebrados são
evidentes.
A dermatoscopia é útil para diagnosticar a do-
ença e demonstrar aos pacientes, que muitas vezes
não admitem o seu hábito, os sinais de arranca-
menta dos próprios fios.
As características dermatoscópicas são pelos
curtos e distorcidos, vistos ao longo da área alopé- Fig . 13 .15 O Paciente negra com tricotilomania . De-
cica, assim como pelos quebrados a diferentes al- talhe da tricoptilose característica da doença .

206
Dermatoscopia das Alopecias

temente localizada na reg1ao frontotemporal da A dermatoscopia é útil no diagnóstico, prin-


linha de implantação dos cabelos. Outras regiões cipalmente quando a alopecia tem localização
do couro cabeludo podem ocasionalmente ser afe- atípica, 15 evidenciando na placa aberturas folicula-
tadas. A área de alopecia triangular, ou em forma res normais e numerosos pelos velfus rodeados por
de lança, contém pelos vellus e tem um típico curso pelos terminais normais no couro cabeludo adja-
estável. A condição pode ser bilateral. cente (Figs.13.16 e 13.17).

• ALOPECIAS
CICATRICIAIS
As alopecias cicatriciais representam a perda
de cabelos devido à destruição dos folículos pilosos.
Histologicamente, o marco dessa variante de alope-
cia é a destruição da porção permanente do folículo
- a protuberância (ou bulge), que possui células-
-tronco capazes de regenerar a porção temporária
do folículo e originar um novo pelo anágeno. Após
a destruição pelo processo inflamatório, o folículo
é substituído por tecido conjuntivo. Clinicamente,
obserya-se o apagamento (atenuação) ou mesmo
desaparecimento dos óstios foliculares dentro da
placa ou da região de alopecia.
As alopecias cicatriciais dividem-se em primá-
rias e secundárias. Nas formas primárias, o folículo
Fig . 13.16 O Paciente com placa de alopecia trian- parece ser o alvo principal do processo inflamatório.
gular congênita apresentando pelos vellus no interior Já nas alopecias cicatriciais secundárias, o folículo é
da placa . destruído em consequência de um processo infla-
matório mais extenso, não dirigido especificamente
a ele. 16
O diagnóstico diferencial das alopecias cicatri-
ciais é difícil e frequentemente é necessário realizar
biópsia do couro cabeludo. O uso de dermatoscopia
do couro cabeludo nesses casos tem se mostrado
útil, uma vez que é possível visualizar e marcar os
sítios de maior atividade de doença para a realiza-
ção de biópsias, bem como sugerir novos achados
que possam diferenciar as várias formas de alope-
cias cicatriciais.

Líquen plano pilar


Fig. 13 .17 O Dermatoscopia da placa de alopecia O líquen plano pilar (LPP) é uma variante fo-
triangular congênita mostrando a transição dos pelos
terminais do couro cabeludo normal para pelos vellus licular do líquen plano, que atinge principalmente
no couro cabeludo acometido . o couro cabeludo. A teoria mais aceita para a pa-

207
Derrnatoscopia das Alopecias

togenia do LPP é que seja uma doença autoimune


que agride especificamente o folículo piloso, em que
linfócitos T têm como alvo antígenos foliculares. 17 É
a causa mais comum de alopecia cicatricial, afetando
mais comumente mulheres de meia-idade. Clinica-
mente, as lesões do couro cabeludo podem ser em
placas únicas ou múltiplas, ou ainda apresentar cres-
cimento periférico irregular, atingindo mais comu-
mente as regiões parietais e o vértice. Sinais e sinto-
mas comumente associados são: aumento da taxa de
queda dos cabelos, prurido, descamação, queimação
e dor no couro cabeludo. A doença apresenta curso
progressivo e o tratamento visa principalmente in- Fig. 13.19 O Paciente caucasiana com liquen plano
pilar, em que se notam o eritema perifolicular difuso e
terromper a progressão da doença.
descamação perifolicular.

Sinais dermatoscópicos
couro cabeludo mais exposto à radiação solar e,
Em todos os tipos de alopecias cicatriciais, o
consequentemente, mesmo pacientes caucasianos
exame do couro cabeludo apresenta graus variáveis
passam a desenvolver a rede nessas áreas. Consi-
de ausência de unidades e óstios foliculares, achado
derando que o LPP afeta principalmente o epitélio
mais bem observado em pacientes que apresentam
folicular e, em geral, poupa a epiderme interfolicu-
rede pigmentar semelhante a favo de mel no couro
lar responsável pela formação da rede, os autores
cabeludo.
acreditam que a presença da rede pigmentar na área
A rede pigmentar está presente no couro ca-
de alopecia seja importante na diferenciação de al-
beludo normal de indivíduos com fototipos IV,
gumas outras causas de alopecias cicatriciais que
V e VI, sendo mais intensamente desenhada em
cursam com desarranjo arquitetura! da epiderme
áreas de alopecia (Fig. 13.18). A alopecia torna o
interfolicular, como o lúpus eritematoso discoide
(ver adiante).
A dermatoscopia das placas de LPP com do-
ença ativa mostra de maneira mais precisa a des-
camação e o eritema perifolicular típicos da do-
ença, muitas vezes já evidentes clinicamente (Fig.
13.18).'7 O eritema perifolicular pode ser obser-
vado na forma de vasos arboriformes ao redor das
unidades foliculares (Fig. 13.19). 1
Pontos brancos de pequeno diâmetro (menos
de 1 mm) podem ser observados no interior da
rede pigmentar das áreas afetadas. Kossard descre-
veu inicialmente a presença dos pontos brancos em
uma paciente negra com LPP, que correspondiam
Fig . 13.18 o Paciente negra com líquen plano pilar. A histologicamente a áreas de hipocromia na epider-
dermatoscopia mostra rede pigmentada , pontos bran-
me acima de tratos fibrosos residuais da derme, re-
cos em "cabeça de alfinete" e intensa descamação pe-
rifolicular. presentantes de folículos pilosos destruídos. 18 Na

208
Dermatoscopia das Alopec ias

experiência dos autores, pontos brancos de diversos


tamanhos podem ser observados no couro cabelu-
do, em indivíduos de fototipos altos, com ou sem
doença no couro cabeludo. 18 Em estudos prelimi-
nares no Instituto de D ermatologia Prof Rubem
David Azulay, observando pacientes com quadros
de líquen plano pilar e alopecia central centrífuga
cicatricial, a marcação dos pontos brancos com mi-
cropunchs de 1 mm correspondeu, à histopatologia,
a duetos de glândulas sudoríparas écrinas. Acredi-
tamos que nossos achados sejam equivalentes aos
que ocorrem nas lesões melanocíticas da região pal-
moplantar de indivíduos melanodérmicos, quando Fig . 13.21 D Corte histológico submetido à técnica
o aumento da intensidade da rede pigmentar torna do micropunch evidenciando o acrossiríngio , o corres-
pondente histológico dos pontos brancos observados à
o acrossiríngio visível, o que não acontece nos pa- dermatoscopia (H&E 1OOx).
cientes caucasianos (Figs.13.20 e 13.21). Entretan-
to, estudos mais completos e com maior casuística
são necessários para a elucidação definitiva do sig-
nificado desses pequenos pontos brancos observa-
do à dermatoscopia do couro cabeludo. Propomos
para ele a denominação "ponto em cabeça de al-
finete", que adquire arranjo em "céu estrelado" no
líquen plano pilar (Fig. 13.22).
Pontos cinza-azulados também podem ser ob-
servados à dermatoscopia de alguns pacientes com
LPP, especialmente nos melanodérmicos. Um ar-
ranjo peculiar dos pontos cinza-azulados ao redor

Fig. 13.22 D Paciente negra com LPP. A dermatosco-


pia mostra descamação perifolicular e muitos pontos
brancos em cabeça de alfinete (pinpoint) em arranjo de
"céu de estrelas".

das unidades foliculares foi descrito pelos autores


em alguns pacientes com LPP, denominado "pa-
drão em alvo" (Fig. 13.23). 19 Histologicamente,
esse pontos representam partículas de melanina li-
vre e melanófagos na derme papilar e reticular ao
redor dos folículos pilosos. O padrão em alvo está
associado a dermatite de interface e incontinência
Fig. 13.20 D Paciente negra com LPP. Observam-se
pontos brancos em cabeça de alfinete distribuídos difu- pigmentar apenas do epitélio folicular, com presen-
samente , em arranjo de "céu de estrelas". ça de melanófagos apenas ao redor das unidades

209
Oermatoscopia das Alopecias

Achados dermatoscópicos
No interior da placa de alopecia, observa-
se acromia importante, distribuída em pequenas
placas ou de forma difusa (Figs. 13.25 e 13.26),
achado bem observado em indivíduos de fototi-
pos mais altos que comumente perdem o padrão
de rede pigmentar observado no couro cabeludo. A
acromia observada nas placas de LED é resultado
da perda do contraste entre o maior conteúdo de
melanina das cristas epidérmicas com relação ao
das papilas dérmicas, devido à atrofia e à retificação

Fig. 13.23 O Paciente negra com LPP. Observa-se


granularidade azul-acinzentada em distribuição perifoli-
cular (padrão em alvo) em toda a área de transição da
alopecia com o couro cabeludo normal.

foliculares, poupando a epiderme interfolicula:, o


que seria um marcador de LPP,já que seu infiltrado
inflamatório é predominantemente perifolicular. 19
Hastes pilosas terminais normais podem ainda
ser vistas comumente dentro das placas de alopecia
de LPP (Fig. 13.20).
Na alopecia fibrosante frontal, variante clínica
do líquen plano pilar que afeta principalmente a li-
Fig . 13.24 O Hiperceratose perifolicular dos pelos
nha de implantação frontoparietal do couro cabe- das sobrancelhas em paciente com alopecia fibrosante
ludo e as sobrancelhas, os achados dermatoscópicos frontal.
mais importantes são a perda das aberturas folicula-
res, escama aderida à base da haste do pelo e eritema
perifolicular, que podem ser visualizados tanto no
couro cabeludo quanto nas sobrancelhas, local co-
mumente afetado nessa desordem (Fig. 13.24).20

Lúpus eritematoso discoide


No lúpus eritematoso discoide (LED) do cou-
ro cabeludo, placas ovaladas (em forma de disco)
únicas ou múltiplas podem ser observadas em as-
sociação a eritema, descamação, atrofia, telangiec-
tasias e tampões córneos foliculares. Apesar de es-
tar classificado no grupo das alopecias cicatriciais,
frequentemente observamos repilação significativa Fig. 13.25 O Placa inicial de LED no couro cabeludo .
Observamos pequena perda de unidades foliculares ,
das lesões do couro cabeludo nos casos em que o tampões córneos foliculares muito exuberantes e pe-
tratamento é instituído precocemente. quenas áreas hipocrômicas.

210
Dermatoscopia das Alopecias

Vasos tortuosos e arboriformes são comumente


observados dentro das placas de LED (Fig. 13.27).
Tosti et al descreveram pontos rosa-averme-
lhados arredondados, com tamanho uniforme, no
interior de algumas placas de LED (Fig. 13.28),
achado encontrado em distribuição regular ao redor
dos óstios foliculares e que corresponde à vasodila-
tação perifolicular secundária ao infiltrado linfocí-
tico do LED. São os chamados pontos vermelhos,
que parecem ser observados em lesões de LED
de início recente e, portanto, com maior potencial de
repilação. 21
Fig . 13.26 o Placa de LED em paciente negra . Gra- Os tampões ceratósicos típicos das lesões de
nularidade azul-acinzentada em padrão salpicado no in- LED são observados na forma de pontos amarelo-
terior da placa, associado a placas brancas, tampões
córneos foliculares e alças capilares tortuosas. -amarronzados no interior de óstios foliculares di-
latados (Fig. 13.25).
Granularidade azul-acinzentada pode ser ob-
servada na forma de pontos esparsos ao longo da
placa de LED, em um padrão denominado "salpi-
cado" (Figs. 13.26 e 13.29).19 De forma equivalen-
te ao que ocorre nas lesões de LPP, esses pontos
representam incontinência pigmentar na derme
papilar, porém com distribuição ao longo de toda
a epiderme, tanto folicular quanto interfolicular,
compatível com a distribuição do infiltrado infla-
matório em faixa do LED. Os autores acreditam
que a descrição dos arranjos "em alvo" e "salpicado"

Fig. 13.27 O Vasos arboriformes na periferia de pla-


ca de LED.

da epiderme interfolicular. 19 Observamos também


que as aberturas dos acrossiríngios dentro da placa
de LED deixam de existir, compatível com a infla-
mação e a destruição das estruturas anexiais pelo
infiltrado inflamatório do LED.
Em alguns casos de LED, pode-se observar
um padrão de rede pigmentar na periferia das pla- Fig. 13.28 O Pontos vermelhos arredondados ao re-
cas de alopecia. dor de óstios foliculares distribuídos em placa de LED.

211
Dermatoscop ia das Alopecias

Achados dermatoscópicos
Geralmente são observados nas áreas com eri-
tema difuso: alças capilares tortuosas e dilatadas, e
vasos arboriformes, são achados típicos, mais bem
visualizados em aumentos de 50x (Fig. 13.30).
Ausência de óstios foliculares no interior da área
alopécica e ainda politriquia ou foliculite em tufos são
característicos, apesar de não específicos (Fig. 13.31).
Escamas perifoliculares exuberantes podem ainda ser
observadas na porção proximal das hastes pilosas.
Lesões pustulosas são frequentemente visua-
lizadas.
Fig. 13.29 O Granularidade azul-acinzentada em pa-
drão salpicado, representando a incontinência pigmen-
tar interfolicular na placa de LED .

dos pontos cinza-azulados são uma característica


interessante na diferenciação dermatoscópica entre
lesões de LPP e LED.19

Foliculite decalvante
Foliculite decalvante (FD) é classificada como
alopecia cicatricial neutrofílica e é responsável por
cerca de 11% dos casos de alopecias cicatriciais.22
A FD acomete preferencialmente homens jovens
e de meia-idade, mais frequentemente de etnia
Fig. 13.30 o Dermatoscopia de placa de FD : emer-
negra. Clinicamente, as lesões manifestam-se gência de várias hastes de um único óstio folicular (po-
como pápulas e pústulas no vértice e na região litriquia) e eritema difuso.
occipital do couro cabeludo que, com a evolução
do processo inflamatório, são seguidas de lesões
confluentes, muitas vezes com exsudato purulen-
to associado. O marco dessa variante de alopecia
cicatricial é a extensa área de fibrose e pústulas
foliculares que se formam no couro cabeludo.
Politriquia - múltiplas hastes emergindo de um
único óstio folicular dilatado - é comumente vista
em consequência da extensão da fibrose dérmica.
Na presença de exsudato purulento, cultura e anti-
biograma são fundamentais para o tratamento do
paciente, e frequentemente o S. aureus pode ser
isolado das lesões de FD, parecendo ter papel im-
portante na gênese e na manutenção do processo Fig. 13.31 O Vasos arboriformes e intensa politriquia
inflamatório. em paciente com FD.

212
Oermatoscopia das Alopecias

Alopecia por tração


Alopecia por tração comumente afeta a borda
frontal e temporal de implantação dos cabelos, mas
também é descrita no vértice do couro cabeludo.
Afeta mais comumente pacientes negras, com his-
tória de uso de acessórios para alisamento ou em-
belezamento dos cabelos crespos, como pranchas
alisantes, rolos e tranças ou mechas para alonga-
mento dos cabelos (megahair).
À dermatoscopia, observamos muitos pelos
miniaturizados no interior da região comprometi-
da e uma grande quantidade de pontos brancos em
"cabeça de alfinete" (Fig. 13.32). Alguns casos po- Fig . 13.33 o Paciente negra com alopecia por tração
e uso de extensores de cabelos por mais de 20 anos.
dem ainda apresentar sinais evidentes de fratura da
haste folicular, como pelos cadavéricos e com fen-
das longitudinais na ponta distal da haste, de forma
semelhante ao que observamos na alopecia areata
e tricotilomania, respectivamente (Figs. 13.33 e
13.34).

Alopecia central centrífuga cicatricial


Com o passar dos anos, a alopecia central cen-
trífuga cicatricial (ACCC) tem recebido vários
nomes, devido à doença ser caracterizada por um
espectro de grau e tipo de inflamação, resultando

Fig. 13.34 o Pelos vellus e um ponto preto devido à


fratura da haste pelo uso de extensores [semelhante a
pelo cadavérico) .

em uma grande variedade clínica (Fig. 13.35). 23 O


quadro clínico manifesta-se frequentemente em
mulheres negras, que desenvolvem doença crôni-
ca e progressiva, com eventual redução espontânea
da inflamação após anos ou décadas. A doença é
centrada predominantemente no topo ou vértice
do couro cabeludo e progride de forma grosseira-
mente simétrica, com atividade da doença ocorren-
Fig. 13.32 o Dermatoscopia da área de transição de do principalmente na zona periférica, circundando
paciente com alopecia por tração demonstrando pelos a zona central de alopecia. A comprovação histo-
terminais em comparação com os miniaturizados e de
menor densidade da região alopécica. Notam-se, ain- patológica dar-se-á na presença de inflamação na
da , muitos pontos brancos em cabeça de alfinete . zona de atividade periférica.

213
Dermatoscop ia das Alopecias

em sua maioria, brancas e apresentavam rarefação


importante da região marginal do couro cabeludo.
Cerca de 40% não apresentavam história de tração
ou uso de métodos de embelezamento dos cabelos
relacionados com tração (extensores, rolos, pias-
tra ou dreadlocks). À histopatologia, observou-se
destruição especificamente da haste folicular, com

Fig . 13.35 O Paciente com quadro de alopecia cica-


tricial da região parietal e do vértice do couro cabelu-
do. típico de ACCC avançada .

Achados dermatoscópicos
Até o momento, não existem achados derma-
Fig . 13.36 o No interior da placa , notamos: perda
toscópicos específicos da ACCC e os achados se- de óstios foliculares, pelos terminais e vellus, além de
guem muitas vezes o padrão de LPP associado ao muitos pontos brancos.
visto na alopecia por tração.
À dermatoscopia, podemos visualizar a ausên-
cia de óstios foliculares associada à permanência
de pelos vellus e terminais no interior da placa de
alopecia, de distribuição irregular (Fi.g. 13.36). Na
periferia da placa, geralmente nota-se área de ativi-
dade da doença, com descamação perifolicular exu-
berante (Fi.g. 13.37) e, em alguns casos, politriquia.
Como a grande maioria de pacientes é de pele
negra, a rede pigmentar é achado frequente. Pon-
tos brancos em cabeça de alfinete podem ser ainda
observados, principalmente nas áreas desnudas do
couro cabeludo (Fi.g. 13.36).

Alopecia cicatricial marginal


Recentemente Goldberg descreveu uma forma
de alopecia da margem do couro cabeludo em pa-
Fig . 13.37 o Na periferia da placa de ACCC, zona
cientes caucasianas, com acometimento das regiões menor de perda de óstios foliculares, intensa hiperce-
temporais, frontal e occipital. 24 As pacientes eram, ratose perifolicular e politriquia .

214
Dermatoscopia das Alopec ias

permanência das glândulas sebáceas intactas, além 11. Whiting DA. Histopathologic features of alopecia
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sidade folicular e perda dos óstios foliculares eram 13. Rebora A. Alopecia areata incognita: a hypothesis.
muito evidentes nas margens do couro cabeludo. Dermatológica. 1897; 174:214-8.
À dermatoscopia, todas as pacientes apresentavam 14. Tosti A, Whiting D , Iorizzo M. The role of scalp
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incognita.f AmAcad Dermato/ 2008; 59:64-67.
foliculares e diminuição do diâmetro dos pelos re-
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