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Lully em um país diferente

Era uma vez uma menina que se chamava Lully.


Lully morava com seus pais em uma aldeia africana e vivia muito feliz com sua
família e amigos, porém o pai de Lully recebeu uma proposta de emprego na Alemanha
e Lully teve que se mudar para outro país.
No primeiro dia de aula Lully ficou muito nervosa pois iria conhecer seus novos
amigos, mas ao mesmo tempo estava muito feliz porque é sempre bom fazer novos
amigos. Porém, as coisas não saíram bem do jeito que Lully imaginou. Não bastasse ela
mal saber falar a língua deles, seus novos colegas não foram muito receptivos. Eles
achavam ela muito esquisita.
Lully tinha a pele escura...escura como a noite. Seus olhos eram claros, de um castanho
quase amarelo e os cabelos? Os cabelos eram estranhos. Era composto por duas cores e
tinha partes lisas e partes onduladas.
Para eles Lully realmente não parecia uma menina normal, ela gostava de assoviar, de
usar lenços no cabelo, jogar futebol e comer frutas e verduras. Lully era diferente de
qualquer criança que eles já haviam conhecido.
Começaram então a rir de Lully, a deixá-la de lado nas brincadeiras, a colocar
apelidos e tudo isso deixou Lully muito triste.
Aquela menina sorridente e alegre de antes já não existia mais. Sempre que seus
pais perguntavam sobre a escola, ela desconversava e não contava nada, afinal ela não
queria preocupá-los.
Seu passatempo quando estava em casa era ficar olhando pela janela, observando
seu Nonô, o vizinho da frente, um senhor muito simpático que todos os dias acenava
para ela quando ia cuidar do seu jardim.
Lully começou a notar que seu Nonô abria vários saquinhos de sementes e
misturava antes de jogar na terra preparada e ia regando até as plantinhas começarem a
crescer.
Lully ficou muito curiosa e resolveu atravessar a rua e conversar com seu simpático
vizinho. Chegou meio tímida e arranhou um bom dia em alemão. Para sua sorte, seu
Nono falava muito bem inglês que era uma das línguas que Lully sabia falar
fluentemente e começaram ali uma bela amizade.
Lully perguntou para o seu Nonô porque ele misturava as sementes, se ele não
preferia plantar elas separadas e assim teria um jardim mais organizado.
E ele respondeu: minhas flores não merecem isso, eu as misturo para que todas
sejam especiais do mesmo jeito, elas são de cores, tamanhos e formatos diferentes e
assim fica tudo lindo e colorido. E se alguém gosta de rosas, para chegar perto delas,
também vai chegar perto das margaridas e dos cravos, dos crisântemos, das violetas e
assim nenhuma delas se sentirá sozinha.
Nessa hora Lully deu um suspiro e seu Nonô quis saber o que estava acontecendo.
Lully disse: eu me sinto muito sozinha, não tenho amigos, todos riem de mim, me
acham estranha, dizem que sou diferente. Não está sendo nada fácil. Seu Nonô parou
imediatamente e disse: oooo minha linda, a beleza está na diferença, que graça teria se
todos fossemos iguais? Cada um é especial do jeitinho que foi criado e
todos...todos...sem distinção, devem ser respeitados, não deixe seus colegas
entristecerem seu coraçãozinho, não aceite o que eles dizem como verdade porque eles
ainda não entendem a importância que cada diferença tem. Mostre a eles o seu valor.
Vou te dar um conselho:
Chegue em casa e se olhe no espelho, veja como você é linda e procure em você
coisas que você gosta. E sempre se lembre dessas coisas que você gosta.
Naquela tarde Lully se sentiu muito melhor após fazer o que seu Nonô lhe disse. O
espelho agora era seu amigo novamente.
Mas a frase “mostre a eles o seu VALOR” ficou ecoando na cabeça de Lully. Como
ela poderia fazer isso? Como ela poderia fazê-los aceitar a diversidade, ela não
precisava mais da aprovação deles depois da conversa com seu Nonô, mas ela não
queria deixar que seguissem machucando outras crianças com suas palavras.
Na semana seguinte, a professora de Lully pediu que a classe fizesse uma redação,
e o tema da redação era: O QUE EU GOSTO EM MIM. Quando Lully ouviu o tema
ficou muito feliz, pois ela sabia exatamente o que gostava nela e se pôs a escrever.
No dia da entrega da redação, a professora pediu que as crianças lessem para a
turma o que haviam escrito. Ela foi a primeira a levantar a mão para ler.
Eis a redação de Lully:

O que eu gosto em mim

Ao me olhar no espelho percebo que sou um pouco diferente dos meus amigos, mas
ainda assim gosto do que vejo.
Eu gosto da minha pele que tem cor de chocolate e meus lindos olhos que parecem
ter saído de um delicioso pote de mel.
Gosto dos meus cabelos porque não são de uma só cor e nem são lisos e nem
crespos. Enquanto vejo pessoas fazendo luzes e mechas para colorir seus fios, ou vejo
as mulheres por horas no salão para deixar os cabelos lisos ou cacheados eu posso ter
tudo num cabelo só.
Eu gosto de assoviar e isso deixa minha boca mais bonita, vejo uma forma de
coração, e assoviar me deixa alegre, pois me lembra os pássaros. Também posso me
lembrar das canções que cantávamos na aldeia e que aqui nesse novo país não tem.
Gosto de ser livre para jogar futebol quando não quero brincar de boneca e fico
um pouco triste quando me chamam de menino porque gosto de futebol. Na aldeia onde
eu morava, nós jogávamos todos juntos e era muito divertido. Corríamos descalços
atrás da bola até a noite chegar de mansinho.
Gosto de comer frutas e verduras e isso deixa meus amigos chateados porque querem
que eu goste de pizza e batata frita, mas na aldeia cada família plantava suas verduras
e frutas e trocávamos entre nós e era muito saboroso e divertido. Fazíamos amigos com
facilidade e ninguém ficava sozinho. Eu gosto do meu nome que foi dado por meu avô
e acho que não poderia me chamar Ana ou Maria...porque eu tenho cara de Lully.
Mas de todas as coisas que eu gosto em mim, a coisa que eu mais gosto é que eu
acho bom ter amigos diferentes de mim e não vejo problemas nisso. Aprendi a respeitar
cada um como é e aprendi que cada pessoa é especial do jeitinho que foi criada e que
ninguém deveria ter que ficar sozinho só porque não é “igual”. Eu procuro enxergar o
melhor em cada pessoa e isso deixa meus olhos ainda mais belos.
Isso é o que gosto em mim.

Quando Lully acabou de ler, seus amigos saíram todos correndo e deram um forte
abraço nela, porque perceberam o quão bobos tinham sido colocando apelidos e
excluindo Lully das brincadeiras.

A partir desse dia eles se tornaram amigos de verdade e criaram um grupo


chamado: Divertidamente Diferentes, onde qualquer pessoa era bem vinda.

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